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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

TEMPO DO ADVENTO - REFLEXÃO E PREPARAÇÃO ESPIRITUAL


Tempo do Advento

O tempo do Advento começa quatro domingos antes do Natal.

Os paramentos roxos anunciam que é tempo de preparação.

No coração do silêncio é onde se experimentam as trevas, para preparar a luz que vai chegar.

Buscamos o nascimento de Deus na alma, aguardando os tesouros na pureza e na devoção.

Sem esta preparação interior não estamos em condições de receber o glorioso Filho da Luz, muito menos de compreender a sua mensagem.


Leituras

Romanos 13,11
Irmãos, tenham consciência do tempo em que vivemos e que é hora de acordarmos do sono. Pois a nossa salvação está mais perto de nós agora do que quando cremos.

Marcos 13,33-37
Portanto, procure estar acordado, pois você não sabe quando chegará a hora. É como quem, quando ausente de sua casa, confia a administração dela aos seus servos, indicando a cada um o seu trabalho, e instrui o porteiro a manter uma boa vigilância. Portanto, vigiai porque você não sabe quando o dono da casa chegará: se ao anoitecer, à meia-noite, ao cantar do galo, ou ao amanhecer. Não deixe que ele te encontre dormindo, mesmo que chegue inesperadamente! E o que digo a vocês, digo a todos: Estejam vigilantes!

Tomás 2
Jesus disse: «Quem procura não deve parar de procurar até encontrar. E quando ele descobrir, ele tremerá, e depois do tremor ele se encherá de admiração e reinará sobre o universo.


Comentário

Advento: um tempo de observação e preparação. O Advento não é apenas um tempo de espera passiva, mas um convite ativo para nos prepararmos para receber a Luz do Menino Divino. Quatro semanas antes do Natal, iniciamos este período de recolhimento interior que nos lembra que, para compreender e receber a mensagem de Deus, devemos primeiro estar preparados.


Ciclos Universais e Observação Espiritual

As épocas da Igreja, como o Advento, conectam-nos com os ciclos universais que estão presentes em toda a criação. Quem está habituado a observar reconhece que estes ciclos se repetem em todos os aspectos da vida, desde as estações até aos ritmos da alma. Para quem ainda não desenvolveu este hábito de atenção é convidado a fazê-lo, como diz São Paulo na sua carta aos Romanos: “Tenhamos consciência do tempo em que vivemos”. O Advento chama-nos precisamente a esta observação espiritual, convidando-nos a despertar da nossa letargia, a olhar para dentro e a preparar-nos para o renascimento da Luz de Deus.


Traduções e o significado do Advento

Ao meditarmos nas Escrituras, é importante lembrar que as traduções podem nos oferecer diferentes nuances que enriquecem a nossa compreensão. No Evangelho de Marcos, Jesus nos chama à "vigilância", mas algumas versões traduzem esta palavra como “alerta” ou mesmo “desperto”. Cada tradução acrescenta uma nova dimensão: estar vigilante implica "espera ativa", estar alerta sugere "cautela" e estar acordado convida-nos a "estar atentos". O Advento exige de nós este estado de atenção constante. Quer estejamos iniciando esta busca espiritual, quer a renovemos todos os anos, a chave é estar presentes, abrir-nos aos sinais do caminho que Deus nos mostra.


A busca que choca

A busca de Deus não é algo que se faz pela metade. O Evangelho de Tomé recorda-nos que “quem procura não deve parar de procurar até encontrar. E quando ele encontrar, ele estremecerá.” A verdadeira busca pelo divino nos sacode, nos desafia e nos transforma. Neste sentido, um dos professores que marcou a minha vida – um padre católico romano – disse-me: “Se a Igreja não te faz sentir livre, sai da Igreja”. O verdadeiro Cristianismo não nos acomoda, mas antes nos deixa desconfortáveis ​​em nossa vida mundana. Se o caminho que percorremos não nos abala, não nos liberta e não nos desafia a sermos melhores, talvez devêssemos repensar se estamos no lugar certo.


Preparação e Purificação Interior

O Advento nos lembra que não podemos receber a Luz do Divino Menino sem antes passar por um processo de purificação interior. O manto púrpura que caracteriza este tempo simboliza a preparação e a penitência, convidando-nos a trabalhar a alma e o coração. É no silêncio, na meditação e na busca ativa que nos preparamos para o renascimento espiritual que nos espera no Natal.


O Caminho da Libertação Espiritual

Queridos irmãos, o verdadeiro caminho espiritual deve nos abalar, deve nos tirar da nossa zona de conforto e nos guiar para uma vida mais plena e livre. Este tempo do Advento convida-nos a observar, a procurar e a permanecer vigilantes. Não pare de buscar até encontrar liberdade interior e conexão profunda com Deus. Que este período seja para todos nós uma oportunidade de despertar, de nos preparar e de permitir que a Luz Divina nasça no profundo do nosso ser.


Tau Genesius
Capilla de la Magdalena




Fonte: Iglesia Gnóstica Universal
https://capillamagdalena.org/category/almanaque-gnostico/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/%C3%A1rvore-de-natal-luzes-estrelas-2928142/

domingo, 1 de dezembro de 2024

ADVENTO - A CONTAGEM REGRESSIVA PARA O NATAL


A contagem regressiva para o Natal começa… agora.

Se não apreciássemos que o tempo sagrado existe, a vida seria uma paisagem sombria para navegar. Tornar-se-ia um ciclo tedioso de trabalho-férias-compras-lazer-solução de problemas que geraria um sentimento contínuo de vazio e insatisfação. O tempo sagrado inunda de cor este mundo monocromático; roxo para o Advento. Produz um sentimento de expectativa, uma certeza dentro da incerteza. Gera um entusiasmo pela revelação iminente da realidade que não nos decepcionará.

O tempo sagrado do Advento nos desperta para o fato de que algo ou alguém real está chegando até nós, através da nossa vida terrena. Ao participar do tempo sagrado, aprendemos diretamente todas as coisas valiosas que ele pode nos trazer. Se esperarmos com a dúvida persistente de que talvez nada aconteça, nada poderá impedir que a nossa espera vazia se torne, na verdade, ainda mais solitária. E assim, nos sentiremos sozinhos novamente. Mas se nos sentirmos cada vez menos angustiados pelas posses e apegos, então a espera será recíproca. Quem ou o que quer que esteja caminhando no tempo em nossa direção também aguarda o encontro, o reconhecimento e o abraço que acolherá esse novo que chega. E o evento será maravilhoso.

O Advento nos oferece um tempo sagrado para refletir sobre o quão conscientes estamos vivendo. Em nossa agitada vida diária, mal conseguimos reservar alguns minutos para refletir sobre aspectos mais profundos de nossas vidas. A reflexão começa com o autoquestionamento. Aceitamos plenamente o momento em que nos encontramos? Perdemo-nos fantasiando sobre o passado ou o futuro? Estamos realmente esperando? Estar verdadeiramente no presente significa ser real e saber, com a sabedoria que surge na quietude, que aquilo que esperamos já chegou, já está aqui.

Este tipo de espera é a verdadeira esperança, não aquela que costumamos ter cheia de sonhos e desejos. A verdadeira esperança é a certeza de que o acontecimento final já aconteceu e espera renascer a cada momento, em cada circunstância da nossa vida. Para alcançar este estado, é necessária a repetida – e por vezes insuportável – renúncia às ilusões e a todos os devaneios egoístas. A ilusão constantemente se transforma e reaparece. Portanto, precisamos de uma prática regular e comprometida com a meditação. Se perseverarmos fielmente em nosso compromisso de silêncio duas vezes ao dia durante as próximas semanas, teremos um tempo de Advento bem aproveitado.

Perguntemo-nos: estamos realmente esperando? Ou estamos fugindo da dúvida sobre se algo acontecerá na quietude e no silêncio? Esperar não é pensar em nosso sentimento de separação ou de sermos incompletos. Nem significa acalmar o medo de que nunca seremos inteiros. Esperar significa abandonar todos esses pensamentos e sentimentos obsessivos e sair da órbita do ego medroso. Significa render-se à emoção da plenitude e da beleza emocionante de Cristo que agora se desenvolve em nós e que certamente nascerá no tempo.

O Advento, portanto, é a espera do Amor. Mas, como disse Rumi, “os amantes não se encontram finalmente em algum lugar. Eles estão um no outro, o tempo todo”.



Fr. Laurence Freeman, OSB




Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/velas-natal-advento-luz-1891197/



Para mais detalhes ver:

* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html




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sábado, 2 de dezembro de 2023

TEMPO DO ADVENTO (Parte 2)


(continuação)

Nosso atual Instrutor Mundial se chama MAITREYA, que significa bondade ou compaixão, e assim como o Senhor Buda foi chamado de Senhor da Sabedoria, o Senhor Maitreya é chamado de Senhor do Amor e Compaixão. A grande verdade central sobre a qual Ele dará ênfase será que os males do mundo vêm da falta de amor e de fraternidade; e se o homem aprender a amar e a adotar uma atitude fraterna, todos os males passariam e uma Era de Ouro amanheceria sobre nós. Não imediatamente; não podemos esperar por isso; mas pelo menos os homens começarão a ver por si e a entender que há muito mais a ganhar ao longo dessa linha (de amor e compaixão - NT) do que de acordo com a outra (sabedoria - NT). Podemos ver de que maneira predominantemente essa doutrina foi apresentada em suas vidas anteriores.

Ele apareceu duas vezes: como Krishna nas planícies indianas e como Cristo entre as colinas da Palestina. Na encarnação como Krishna, sua característica sempre foi o amor; o menino Krishna cercou-se de pessoas que sentiam por Ele o mais profundo amor e intensa afeição. Mesmo agora na religião fundada por Ele, a mais comovente devoção e uma maravilhosa atração pelo menino Krishna. Em todo o sul da Índia, muitos milhões de fiéis continuam a adorá-lo e é a essência de sua adoração sentir por Ele o mais profundo afeto e devoção mais comovente e intensa - creio eu - do que qualquer um dos que observei, mesmo nas comunidades monásticas da cristandade.

Ao encarnar-se na Palestina, o amor voltou a ser a característica central em seu ensino. Ele disse: “Este novo mandamento vos dou: que amem-se uns aos outros como eu vos amei." Ele pediu aos discípulos que todos fossem um Nele assim como Ele foi um com o Pai. Seu discípulo mais íntimo, São João, foi quem mais energicamente insistiu nesta ideia: “quem não ama, não conhece a Deus, porque Deus é Amor." São João viveu até uma idade muito avançada (mais de 100 anos) e quando não conseguia mais dar sermões longos devido à sua extrema velhice e fraqueza, foi carregado numa cadeira entre os jovens, e suas palavras sempre foram: “Pequeninos, amem-se uns aos outros”. Assim, dos dois nascimentos anteriores do Grande Instrutor do Mundo, temos uma certa evidência de que a ideia central do amor predominará em Suas manifestações.

Num livrinho intitulado “Aos Pés do Mestre” (1), encontramos alguns ensinamentos dados a um jovem aluno indú (que conheço muito bem) por um dos Mestres de Sabedoria. Esse jovem é um discípulo do Mestre do Mundo. O objetivo do ensino é apresentar da forma mais simples possível as qualidades requeridas para a Iniciação. Não há mistério em relação a essas qualidades, pois elas também são apresentadas em livros pertencentes a diversas religiões e são bem conhecidas por todos aqueles que estudam esses temas. No entanto, as diferentes apresentações dão origem a uma variedade considerável de métodos de ensino e tradução de alguns dos termos técnicos utilizados. Neste pequeno livro ao qual me referi, são apresentadas as qualidades exigidas por alguém que está tão intimamente relacionado com o Instrutor do Mundo, que podemos ter certeza de que é praticamente Sua apresentação. Esse livro, é claro, não contém tudo o que Ele ensinará, mas certamente podemos considerar que não há nada nisso que Ele desaprove. Ao lê-lo, não só menos do que ficar comovidos pelo fato de ser muito penetrado pelo mesmo espírito de Amor. A exigência final e o desejo intenso de união com o Supremo são apresentados no livro como Amor; sobre a base de que o Ser Supremo com o qual o homem deseja se unificar é o próprio Amor; e, portanto, aquele que deseja unir-se a Ele deve primeiro desenvolver dentro de si esse amor. Recomendo fortemente a leitura a todos os membros da nossa Igreja (Católica Liberal - NT). Você descobrirá que é um manual muito útil, pois mostra-nos muito claramente como o nosso modo de vida atual é muito longe de ser aquele elevado ideal de amor.

Penso que ao ler a Bíblia cristã devemos lembrar que a sua linguagem é altamente simbólica. Não quero dizer que todos os autores sabiam exatamente o que isso significava. Eu não acho que eles sabiam. Creio que eles também se sentiram desapontados em muitos casos, porque colocaram nos lábios de Cristo palavras que os representam esperando para retornar em breve. Repetidas vezes Ele é levado a dizer: "Há muitos aqui que não morrerão antes que eu volte", e sabemos que já 2.000 anos se passaram desde então.

A ideia da destruição do mundo é um grande erro. Alguém pode objetar: "Todo o mundo cristão considera isso literalmente, como sabemos que é um erro?" Nesta Igreja Católica Liberal adoramos e seguimos ao Cristo vivente. Não apenas um Cristo de 2.000 anos atrás, mas um Cristo que vive e inspira sua Igreja agora; neste momento, Ele também tem Seus profetas que conhecem e declaram Sua Vontade, e aqueles que sabem nos comunicaram que Ele retornará novamente como havia dito, e que essa Vinda será em breve, considerando o tempo terrestre. Será realmente o início de uma nova era para quem está esperando para recebê-lo. Será uma grande mudança, mas uma mudança moral e mental. Ele nos contou, em sua visita anterior, sobre os sinais que o prenunciarão sua segunda vinda. Se lermos o que está escrito, veremos que a grande guerra foi um desses sinais; e também podemos ver que muito será possível no caminho da reconstrução depois dela, que não teria sido possível fazer isso antes. Que fique claro em nossas mentes que Ele não vem para destruir o mundo, mas para nos ensinar, da mesma forma que o fez isso antes. Ele realmente vem para reinar, mas vem para reinar nossos corações, porque o Seu reino não é deste mundo.

Então, como devemos nos preparar para sua vinda? Majoritariamente através do altruísmo e do serviço aos outros para Ele e em Seu Nome. É necessário que as virtudes da devoção, da perseverança, da determinação e a doçura se desenvolvam em todos nós. Como claramente afirmado na Ordem da Estrela do Oriente, uma Sociedade que existe para preparar o caminho para Sua segunda vinda, para nos ajudar a que nos transformemos a nós mesmos para podermos recebê-lo, e na medida de nossas possibilidades ajudar aos outros a se prepararem também.

Nestes tempos, como é dito que verdadeiramente que Ele pregou, haverá muitos que não darão atenção, muitos que estarão envolvidos em negócios e prazer. Ele citou a lendária história de Noé, na qual os homens continuaram com seu trabalho e entretenimento e não prestaram atenção às profecias, e o dilúvio veio repentinamente e destruiu todos eles. Esta é a lenda do naufrágio da Atlântida, um fato histórico, embora não tenha acontecido exatamente como descrito nas tradições. Diz-se que Cristo falou que assim como aconteceu naquele tempo, assim será quando o Filho do Homem volte novamente. As pessoas estarão completamente ocupadas em suas ocupações e prazeres, sem sequer pensar um pouco Nele, portanto não irão reconhecê-lo, não irão identificá-lo. Deveríamos pelo menos ser mais sábios do que isso, nós que estamos tentando estudar o significado interno de todos essas coisas; deveríamos nos assegurar de que estamos prontos para recebê-lo; e para aqueles que assim preparam-se, tenham certeza de que um tempo maravilhoso e glorioso chegará.

Mal percebemos, talvez, quão estupendo é o privilégio de ter nascido nesta época, ter podido participar (porque todos nós participamos de uma forma ou de outra, espero e acredito) na grande guerra do certo contra o errado, que terminou recentemente (a 1ª Guerra Mundial, na época - NT); e ainda mais do que isso, nós que vivemos agora podemos esperar ver a segunda vinda de Cristo entre nós. E pense no que isso deveria significar para nós, se o reconhecermos.

"Porque Aquele em quem confiamos
Será então visto e conhecido,
E aqueles que o conhecem e o servem
O terão em seus corações."

Conhecerão a verdade e a verdade os libertará, porque em Seu serviço há uma liberdade perfeita. E Ele nos disse que quem servir ao menor dos Seus irmãos, por Ele o faz. Isso deve ser a nossa preparação.

Para nós que conhecemos a proximidade da Sua Vinda, o Advento não é um período de medo, mas de uma lembrança alegre e de maior expectativa também alegre. Nossa atitude está muito bem expressa em um antigo hino:

"Alegra-te, alegra-te! Emanuel, Ele virá até ti, ó Israel."

No período do Advento devemos ter muito presente em nossas mentes a necessidade da qualidade do discernimento para que nos preparemos para a nossa própria Iniciação e também para a Vinda do Senhor. Seria útil refletirmos cuidadosamente como essa grande qualidade pode ser manifestada em nossos esforços para difundir o conhecimento da seguinte e próxima Vinda, e como em nosso trabalho de preparação podemos manifestar a sabedoria da serpente, bem como a inofensividade da pomba. Com estes pensamentos em nossas mentes “podemos muito bem nos alegrar e cantar”, como nos diz o nosso hino, porque “aguardamos com esperança que não possa falhar.” Irmãos, a Vinda do Senhor está próxima; Sim, já está às nossas portas. Já amanheceu; logo o sol nascerá.

"Está vindo! No Oriente que se abre
Arauto radiante que se revela lentamente;
Está vindo! Oh, meu glorioso sacerdote,
Por acaso não ouvimos Teus sinos dourados?"




+ Charles Webster Leadbeater




Fonte: do livro "El Lado Oculto de los Festivales Cristianos"
Igreja Católica Liberal
https://www.catolicaliberal.com.br/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/enfeites-copo-natal-advento-5794746/


Nota:
1- "Aos Pés do Mestre", livro de J. Krishnamurti

TEMPO DO ADVENTO (Parte 1)


Entre nós (Igreja Católica Liberal), assim como nas Igrejas de Roma e da Inglaterra, o Domingo do Advento é o que poderíamos considerar o dia de Ano Novo Eclesiástico. A Santa Igreja Oriental (ou seja, a Igreja da Grécia e Rússia) segue o mesmo costume, mas segue o calendário não revisado e desta forma ele começa todas as suas comemorações doze dias depois de nós.

A primeira grande festa do ano eclesiástico é a do nascimento do Cristo, que corresponde e nos ensina que é a primeira dos grandes Iniciações. Mas a Igreja, na sua sabedoria, providenciou que para cada um dos grandes festivais há um certo período de preparação, e consequentemente, antes da festa de Natal temos o período do Advento, e que tem, sem dúvida, um duplo aspecto, do qual o primeiro é o de ser um momento de preparação para a celebração adequada do Natal.

Não é uma mera figura de linguagem dizer que durante o período do Advento devemos nos preparar para essa festividade. Natal não é apenas um aniversário, uma comemoração do nascimento de Nosso Senhor, é também um período de especial efusão de força espiritual. As grandes festividades como a Páscoa e o Natal, quando todos nos sentimos unidos, aguardando ansiosamente a sua chegada e regozijando-se com isso, são claramente ocasiões para o que comumente chamamos de derramamento da Graça do alto; e para que possamos nos beneficiar plenamente de tal derramamento, é bom aproveitar esse período de ajuste. Receberemos mais se nos prepararmos de forma adequada. Portanto, durante o período do Advento, devemos nos acostumar a pensar diariamente na vinda do Senhor e na Iniciação que isso simboliza.

Os quatro domingos do Advento são dedicados, pelos místicos da Escola Interna do Cristianismo, à contemplação das quatro qualidades necessárias para a primeira Iniciação: Discernimento, Ausência de Desejo, Boa Conduta e Amor; mas nos serviços da Igreja moderna não há nenhum vestígio dessa disposição, com exceção do antigo costume de substituir o rosa pelo violeta como cor para o terceiro domingo. Como é explicado em nossa liturgia (e com mais detalhes em "A Ciência dos Sacramentos" (1)) a Igreja utiliza diferentes gamas de vibração, que são mostrados aos nossos olhos físicos como cores, para ajudar a imprimir na mente da congregação as várias lições que devem ser aprendidas sucessivamente ao longo do ano. Durante os períodos preparatórios (Advento, Quaresma e Vigílias dos Dias Santos) a cor escolhida como mais útil é o roxo, pela sua qualidade actínica (2), penetrante e purificadora. Mais ou menos na metade do Advento e da Quaresma, encontramos um domingo para os quais a cor rosa é prescrita e em razão disso foi sugerido vários argumentos. Devido a certos mal-entendidos curiosos, eles chegaram a considerar esses períodos preparatórios como períodos de penitência e dor, e supos-se que a cor rosa para o domingo foi introduzida como uma espécie de mitigação da pena, um alívio momentâneo em meio às austeridades. Uma teoria mais verdadeira é que, visto que o nosso amor por Deus é a única razão eficaz para tentar a autopurificação, a mudança repentina de cor no meio do período (de cor roxa) pretende nos lembrar daquele profundo e verdadeiro afeto que deve fundamentar e permear todos os nossos esforços, se é que há alguma esperança de seu sucesso permanente. Quanto menos isso fica como um mero lembrete da alegria que devemos ter durante todo o período, pois não é chorando em vão pelos nossos pecados, mas resolvendo seriamente colocá-los de lado, é a maneira que podemos nos preparar para aproveitar ao máximo a festividade gloriosa que se aproxima.

A Igreja Católica sempre reconheceu a dupla natureza do período do Advento, que é uma preparação para a próxima vinda de Cristo, bem como para celebrar Seu nascimento em Sua última vida na Terra. As Igrejas de Roma e da Inglaterra falam desta segunda vinda e ordenam solenemente ao seu povo preparar-se para isso; no entanto, há muito mal-entendido sobre isso. Nas Escrituras Cristãs, esta segunda vinda está enredada com a ideia de fim do mundo, de modo que as pessoas que esperam pela segunda vinda de Cristo geralmente pensam nisso como o fim de toda a ordem que se conhece e, portanto, a maioria a teme. Em sermões e hinos relacionados à vinda, ainda persiste um ar de medo de algo terrível descendo do céu físico, acompanhado por fenômenos meteorológicos terríveis. A atitude geral se vê representada em alguns dos hinos do Advento que essas pessoas cantam:

"Os perversos, com medo de suas culpas, contemplam sua fúria dominadora; buscando piedade permanecem, mas todas as suas lágrimas e suspiros são inúteis."

E eles falam de si mesmos como “lamentando-se profundamente”, “curvando-se em profunda humilhação” etc. Deveria ficar perfeitamente entendido que todos esses tipos de coisas não são apenas estúpidas, mas definitivamente cruéis e blasfemas, e os homens que ensinam tais horríveis desfigurações da verdadeira doutrina cristã, deveriam assumir uma responsabilidade muito séria, porque, sem dúvida, difamar o nosso Divino Pai e degradar a concepção que Ele tem de Seus filhos, é um crime de grande magnitude.

É claro que não existe nada disso entre os verdadeiros místicos, que sempre souberam que Deus é amor e nunca temeram a manifestação de Sua Presença, porque sabem que, quer o vejam ou não, Ele está sempre com eles até o fim dos tempos.

Todo temor a Deus vem de um equívoco. A vinda de Cristo está certamente relacionada com um término; mas não é o fim do mundo, mas o fim de uma era ou dispensação. A palavra grega é AION, (...) e assim como Cristo disse há 2.000 anos que a dispensação da lei judaica havia chegado ao fim - porque Ele havia chegado a instituir uma nova dispensação, a dos Evangelhos - da mesma forma que a dispensação dos Evangelhos chegará ao fim quando Ele vier novamente para criar outra. Ele dará sempre o mesmo ensinamento, o ensinamento DEVE ser sempre o mesmo, porque só existe uma Verdade, embora talvez declarada de uma forma diferente, um pouco mais clara para nós agora, porque aprendemos algo mais. Será representada em alguma nova roupagem, talvez, com uma certa beleza na expressão que será exatamente adequada para nós nos dias atuais; haverá alguma exposição dela que atrairá a atenção de muita gente.

Certamente será igual, porque apareceu em todas as religiões existentes. Os métodos para apresentá-la são muito diferentes, mas todas as religiões estão em absoluto acordo sobre o tipo de vida que exigem dos seus fiéis. Encontramos uma diferença considerável entre o ensino exotérico do Cristianismo, Budismo, Hinduísmo e Islamismo; mas se olharmos os homens santos de qualquer uma dessas religiões e se investigarmos as suas práticas diárias, descobriremos que todos vivem precisamente da mesma maneira, e que todos estão de acordo em relação às virtudes que um homem bom deve possuir e os males que deve evitar. Todas as religiões nos dizem que o homem deve ser caridoso, verdadeiro, gentil, honesto e prestativo para com os necessitados; nos ensinam que um homem de coração duro, ganancioso e cruel, o homem falso e desonesto não terá nenhum progresso ou qualquer chance de sucesso até mudar seu modo de vida. Como pessoas práticas, devemos reconhecer que as coisas\verdadeiramente importantes em qualquer religião, não são as vãs especulações metafísicas sobre assuntos em que ninguém pode realmente saber algo com certeza, pois isso não influencia nosso comportamento; as coisas importantes são os preceitos que afetam nossa vida diária, que nos converte neste ou naquele tipo de homem em nossos relacionamentos com os outros. Estes preceitos são os mesmos em todas as religiões existentes; e eles serão os mesmos no próximo ensinamento, seja ele qual for.

Talvez possamos avançar um pouco mais na previsão do que Ele talvez nos ensinará, porque temos abertas para nós algumas fontes de informação. Uma delas é o estudo dos ensinamentos que Ele deu anteriormente. Os alunos se lembrarão que antes de que este Instrutor do mundo tomasse cargo, ele era exercido pelo Senhor Gautama, a quem os homens o chamam de o Buda. Seu título especial era SENHOR da SABEDORIA. Deixou muitos ensinamentos, mas todos eles centrados na ideia de que o conhecimento significava salvação, que os males do mundo vieram da ignorância e que através da ignorância os homens são levados a desejar, e através do desejo, a todos os tipos de pecados e sofrimentos; mas que se o homem dispersar a ignorância e vier a possuir o perfeito conhecimento, alcançará uma vida perfeita e atitude perfeita em relação a todos os homens e a todas as circunstâncias e assim escaparão da roda do nascimento e morte.

(continua na parte 2)



+ Charles Webster Leadbeater



Fonte: do livro "El Lado Oculto de los Festivales Cristianos"
Igreja Católica Liberal
https://www.catolicaliberal.com.br/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/advento-velas-de-advento-velas-1883840/



Notas:
1- "A Ciência dos Sacramentos", livro de Charles Webster Leadbeater
2- Radiações que provocam uma ação química (raios ultravioleta); influência

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

REFLEXÃO PARA O ADVENTO - MEDITAÇÃO: PRÁTICA QUE SECA A RAIZ DO MAL DENTRO DE NÓS


No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da Traconítide, e Lisânias, tetrarca de Abilena, sob o pontificado de Anás e Caifás, a palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto. Começou a percorrer toda a região do Jordão, pregando um batismo de penitência para remissão dos pecados, como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: "Uma voz clama no deserto: 'Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas. Toda a ravina será preenchida, todo o monte e colina serão abatidos; os caminhos tortuosos ficarão direitos e os escabrosos tornar-se-ão planos. E toda a criatura verá a salvação de Deus.'" (Lc 3:1-6)

Lucas gosta de pôr a história que está contando sobre Jesus no contexto da História do Mundo. Do seu registo sobre a liderança política que estava no poder quando João Batista, um parente de Jesus, começou a sua pregação, sabemos que eles tinham ambos cerca de 30 anos de idade quando emergiram na cena pública.

Uma pequenina parte privada de nós mesmos acredita que nunca crescemos realmente. Apesar da nossa experiência, temos um sentido de contínuo de identidade desde as nossas mais precoces memórias. Mesmo que "eu tenha mudado a ponto de ficar irreconhecível", reconhecemos realmente o "eu" que mudou. E, depois, há as nossas questões, os nossos interesses, problemas, fantasias e medos. Estes podem ser mais bem geridos ou ficar camuflados à medida que amadurecemos, mas são essencialmente inerradicáveis. São instilados tanto pelos nossos genes como pelo ambiente e pelas experiências emocionais dos nossos primeiros anos de vida. Os pontos de viragem da nossa história pessoal, seja o que for que estiver a acontecer no mundo em nosso redor, são a forma como ouvimos o nosso chamamento personalizado e como respondemos.

João Batista é o último dos profetas à moda antiga. Na sua caricatura moderna, ele é engraçado – engraçado por ser estranho, não pelo humor. Era retratado como andando meio nu, com rastas no cabelo, comendo insetos e mel e gritando às pessoas que estão no cais esperando pelo comboio matinal que o fim do mundo vem aí por causa da degenerescência dos tempos. Porém, na sua época, ele era visto de modo diferente. As pessoas acudiam a ele com a mais fundamental de todas as questões éticas: "Então, o que é que havemos de fazer?" A sua resposta era simples: partilhem o que têm, não explorem os outros, não abusem do poder, pratiquem a integridade.


Até aqui, ele é reconhecível. Ainda queremos ouvir o que os profetas do nosso próprio tempo têm para dizer, mesmo que tenhamos dificuldade em distinguir os profetas genuínos dos falsos, as teorias da conspiração da verdade sempre mais rica em nuances. Como é que alguma vez aprenderemos a voltar a confiar? Talvez seja através da outra coisa que ele lhes disse para fazer: arrependermo-nos e pedir perdão dos nossos pecados. E como é que recordamos o que realmente significam o arrependimento e o pecado, sem ficarmos devastados pela culpa ou autoconvencidos por sermos penitentes e convertidos? Talvez lembrando porque é que a Nuvem do Não Saber diz que "este trabalho (da meditação) seca a raiz do pecado dentro de nós".

Há uma certa tristeza e sensação de fim duma era neste jovem intenso, condenado e profético, tocado pela Palavra de Deus e conduzido a pregar no Vale do Jordão. Mas ele é, também, um marginal noutro sentido. Apenas a um passo dele está alguém, de fato um familiar mais novo com outro tipo de carisma, que as pessoas irão um dia dizer que encarna a Palavra de Deus e que conhecer, ainda que um pouquinho, significa ser-se mudado (quase) a ponto de se ficar irreconhecível.



Laurence Freeman, OSB




Fonte: Comunidade Mundial de Meditação Cristã - Portugal
Bonnevaux
www.meditacaocrista.com
Canal Youtube: Meditação Cristã-WCCM Portugal
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Fonte das Gravuras:
https://pixabay.com/pt/photos/vitral-colorido-batismo-adulto-4052419/
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domingo, 5 de dezembro de 2021

REFLEXÃO PARA O ADVENTO - O VERDADEIRO FIM É A LIBERTAÇÃO DO MEDO DO FIM


"Disse Jesus aos Seus discípulos: 'Quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai a cabeça, porque a vossa redenção está próxima. Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados com a devassidão, a embriaguez e as preocupações da vida, e que esse dia não caia sobre vós subitamente, como um laço; pois atingirá todos os que habitam a Terra inteira. Velai, pois, orando continuamente, a fim de terdes força para escapar a tudo o que vai acontecer e aparecerdes firmes diante do Filho do Homem.'"

Para além de tudo o mais, os evangelhos são grandes obras de arte, de fato, são supremas obras de arte espiritual. Como acontece com todas a artes, eles refletem o que os seres humanos como nós sentem e iluminam esses sentimentos com perspetivas transformadoras. Pressentimos que eles nos conhecem ainda antes de nós os lermos. Trazem ao campo da consciência aquilo que normalmente permanece nas terras de fronteira não verbal e do não imaginado. Se os escutarmos com sabedoria, tornam o invisível visível. Mas alcançam isto por meio da interação com a nossa interpretação. Não são mágicos nem nos tratam de forma infantil. Se apenas tomarmos as palavras e as imagens de maneira literal, perdemos a oportunidade de espreitar por trás da tela e, como Daniel, "observar as visões da noite". Usemos as próximas quatro semanas para encontrar estas forças da sabedoria a que chamamos os evangelhos, duma nova forma mais íntima.

Ao iniciarmos o Advento, um tempo reservado pela ancestral sabedoria litúrgica para nos preparar para uma verdadeira celebração do Natal, começamos por ser apresentados a uma série de profecias apocalípticas. Hoje em dia, acostumamo-nos ao que parecem ser mensagens de desgraça e de trevas relativamente às previsões da mudança climática, à corrupção financeira, às guerras e às tragédias sofridas pelas famílias refugiadas, cruelmente usadas como objetos pelos políticos ou pelos traficantes. Mas as palavras de Jesus no evangelho lido no Advento, a descrição do Dia do Juízo, continuam a ser arrepiantes. Muitos cristãos interpretam-nas mal, como se fossem previsões (que são diferentes de profecias), e tomam-nas de forma literal. Fazem-no mesmo apesar do fato de Jesus, falando como o culminar da linhagem de profetas bíblicos, se referir a coisas que acontecem em todas as eras. Vejam só as notícias de hoje.

Talvez a tendência para as tomar ao pé da letra revele o medo daquilo que elas realmente querem dizer. Elas ilustram o sentido de mortalidade de cada ser humano bem como o terror que emana dum mundo de constante mudança, sobre a qual temos muito pouco controle. É mais fácil convencermos a nós mesmos de que o mundo irá emular-se em chamas amanhã do que viver pacificamente com o fato de que qualquer um de nós poderá morrer antes de o dia de hoje terminar.

Porém, estas profecias não são sensacionalistas e não terminam com o instilar de medo. Em vez disso, há uma injunção a que estejamos despertos, alerta, a que rejeitemos a devassidão das distrações prejudiciais, descobrindo a realidade escondida, mas sempre presente, da oração contínua. Olhemos para dentro, não para o céu. Estejamos presentes para o presente que está presente, em vez de imaginarmos o amanhã.

O "Caminho" do Evangelho não é o de viver no medo e a tremer. É reconhecer quando somos manipulados pelo medo, a partir do nosso inconsciente ou a partir dos meios de comunicação, e escolher, em vez disso, o caminho da "libertação". O verdadeiro Fim é a libertação do medo do fim.

Deixem-me sugerir-vos, para cada semana do Advento, uma aptidão a aprender. Esta semana, poderia ser a de guardar o nosso coração e a nossa mente do medo e da sua descendência, de o denunciar e dançar livremente sobre ele.



Laurence Freeman, OSB




Fonte: Comunidade Mundial de Meditação Cristã - Portugal
Bonnevaux
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