Vivêssemos nós numa ilha absolutamente deserta, não teríamos com que nos comparar e nem noção da posição que ocupamos. Há quem diga então que isso seria benéfico pelo fato de não nos inquietarmos com o que nos falta. Além disso, não experimentaríamos as inconveniências que os relacionamentos nos impõem dia a dia. Aliás, diz-se que o sofrimento neste mundo tem origem justamente no confronto com as pessoas e é comum ouvirmos — e talvez dizermos — “eu não dou trabalho a ninguém”, “as minhas coisas são todas certinhas”, “se eu vivesse sozinho eu não passaria raiva com ninguém”...
Sendo uma lei inexorável o convívio social (ninguém nasce sozinho), é imperativo percebermos a que estamos submetidos e quais os propósitos da Natureza que nos impôs essa vida carnal — se bem é improvável supormos que a vida espiritual seja de isolamento.
Os contratempos entre as pessoas ocorrem primeiramente em razão do livre arbítrio de cada um. A liberdade de pensamento e de ação aliada à inteligência particular de cada indivíduo estabelece o encontro de consciências independentes. Logicamente, por que nem todos pensam sob os mesmos valores, vez ou outra, as opiniões se contradizem e até podem ser tão extremas a ponto de gerar sérios conflitos. Pelo fato de compartilharem um mesmo plano e por muitas vezes a caminhada exigir uma única escolha dentre as variadas proposições, aqueles que foram preteridos podem conservar sentimentos negativos.
A concorrência natural da vida nos convida a uma competição social. Ora, sendo tripulantes de um mesmo navio, obrigatoriamente todos viajamos sob um itinerário único, ainda que dentre nós haja quem deseje mudar a rota. Em algumas situações, podemos descer desse navio e, tomando de um barquinho particular, seguir um rumo diferente. Entretanto, em geral, ou estamos sob o leme de alguém ou em nosso barco conduzimos outras pessoas.
Somos tendenciosos a culpar os outros pelos contratempos sociais a partir de quando não temos domínio sobre as consciências, porque não conseguimos influenciar a todos exatamente segundo os moldes que julgamos acertados para a organização das coisas. Essa injustiça para com os semelhantes se dá pela ignorância de nossa parte em percebermos que a ordem da natureza terrena não pertence a nenhum dos que nela habitam, quer dizer, ninguém dentre nós é o responsável absoluto pelas leis que aqui imperam. Se tivéssemos que culpar alguém este seria a Consciência superior criadora deste mundo — que seria Deus. Mas como não nos sentimos à vontade para condenar a Divindade, somos convidados a pensar sobre o que enxergamos como imperfeição no mundo. Será que ele não é perfeito e que a imperfeição esteja justamente em nós, que não enxergamos a perfeição das coisas?
No jogo de opiniões diversas e a precisão de decisões, somos compelidos a buscar o equilíbrio social, ou seja, o acordo mútuo entre as opiniões — que os gregos intitularam democracia. Mas como os ideais pessoais são por vezes tão discordantes — porque cada qual prejulga possuir a razão das coisas —, cremos viver num plano de ideias incompatíveis, e, por conseguinte, de plena infelicidade, já que não há acordo total. Isto se dá em decorrência de fixarmos nossa vida exclusivamente pelos valores humanos a que estamos submetidos neste orbe. Despertando nossa consciência para a essência superior — da vida espiritual —, teremos alargado o pensamento, potencializando nossa capacidade de melhor elaborar nossas ideias — seja para vivermos melhor o hoje, seja para o amanhã, no plano dos Espíritos.
Louis Neilmoris
Fonte: do livro "O Grande Encontro Filosófico - Autodescobrimento Aplicado"
Ed. Luz Espírita, abril de 2014, digital - www.luzespirita.org.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/c%C3%A9rebro-acho-que-pensamentos-4065092/