quarta-feira, 10 de junho de 2020

CONFLITOS INTERPESSOAIS



Vivêssemos nós numa ilha absolutamente deserta, não teríamos com que nos comparar e nem noção da posição que ocupamos. Há quem diga então que isso seria benéfico pelo fato de não nos inquietarmos com o que nos falta. Além disso, não experimentaríamos as inconveniências que os relacionamentos nos impõem dia a dia. Aliás, diz-se que o sofrimento neste mundo tem origem justamente no confronto com as pessoas e é comum ouvirmos — e talvez dizermos — “eu não dou trabalho a ninguém”, “as minhas coisas são todas certinhas”, “se eu vivesse sozinho eu não passaria raiva com ninguém”...

Sendo uma lei inexorável o convívio social (ninguém nasce sozinho), é imperativo percebermos a que estamos submetidos e quais os propósitos da Natureza que nos impôs essa vida carnal — se bem é improvável supormos que a vida espiritual seja de isolamento.

Os contratempos entre as pessoas ocorrem primeiramente em razão do livre arbítrio de cada um. A liberdade de pensamento e de ação aliada à inteligência particular de cada indivíduo estabelece o encontro de consciências independentes. Logicamente, por que nem todos pensam sob os mesmos valores, vez ou outra, as opiniões se contradizem e até podem ser tão extremas a ponto de gerar sérios conflitos. Pelo fato de compartilharem um mesmo plano e por muitas vezes a caminhada exigir uma única escolha dentre as variadas proposições, aqueles que foram preteridos podem conservar sentimentos negativos.

A concorrência natural da vida nos convida a uma competição social. Ora, sendo tripulantes de um mesmo navio, obrigatoriamente todos viajamos sob um itinerário único, ainda que dentre nós haja quem deseje mudar a rota. Em algumas situações, podemos descer desse navio e, tomando de um barquinho particular, seguir um rumo diferente. Entretanto, em geral, ou estamos sob o leme de alguém ou em nosso barco conduzimos outras pessoas.

Somos tendenciosos a culpar os outros pelos contratempos sociais a partir de quando não temos domínio sobre as consciências, porque não conseguimos influenciar a todos exatamente segundo os moldes que julgamos acertados para a organização das coisas. Essa injustiça para com os semelhantes se dá pela ignorância de nossa parte em percebermos que a ordem da natureza terrena não pertence a nenhum dos que nela habitam, quer dizer, ninguém dentre nós é o responsável absoluto pelas leis que aqui imperam. Se tivéssemos que culpar alguém este seria a Consciência superior criadora deste mundo — que seria Deus. Mas como não nos sentimos à vontade para condenar a Divindade, somos convidados a pensar sobre o que enxergamos como imperfeição no mundo. Será que ele não é perfeito e que a imperfeição esteja justamente em nós, que não enxergamos a perfeição das coisas?

No jogo de opiniões diversas e a precisão de decisões, somos compelidos a buscar o equilíbrio social, ou seja, o acordo mútuo entre as opiniões — que os gregos intitularam democracia. Mas como os ideais pessoais são por vezes tão discordantes — porque cada qual prejulga possuir a razão das coisas —, cremos viver num plano de ideias incompatíveis, e, por conseguinte, de plena infelicidade, já que não há acordo total. Isto se dá em decorrência de fixarmos nossa vida exclusivamente pelos valores humanos a que estamos submetidos neste orbe. Despertando nossa consciência para a essência superior — da vida espiritual —, teremos alargado o pensamento, potencializando nossa capacidade de melhor elaborar nossas ideias — seja para vivermos melhor o hoje, seja para o amanhã, no plano dos Espíritos.


Louis Neilmoris



Fonte: do livro "O Grande Encontro Filosófico - Autodescobrimento Aplicado"
Ed. Luz Espírita, abril de 2014, digital - www.luzespirita.org.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/c%C3%A9rebro-acho-que-pensamentos-4065092/

CONTATO COM O NOSSO VERDADEIRO SER


Uma das maiores causas de tristeza e de sofrimento é a inabilidade em se comunicar. Muito frequentemente aquilo que tentamos dizer, ou o meio de expressão, distorce o que sentimos e o que queremos significar. O repetido fracasso em comunicar-se pode acumular um terrível sentimento de que não conseguiremos comunicar o que verdadeiramente sentimos e o que queremos dizer. Se sentirmos que o nosso eu verdadeiro está permanentemente isolado dos outros e que nossos mais profundos sentimentos estão impossibilitados de comunicação para além de nós mesmos, então estamos naquele isolamento onde reside toda solidão e medo. Um dos efeitos mais poderosos da meditação é que ela confronta, diretamente, esta amarga sensação de isolamento...

Pela meditação nós a realçamos... não há lugar onde se esconder. Não haverá como nos distrairmos, se estamos meditando. A meditação expõe, como uma dura e essencial verdade, que se você quer ser completamente humano você precisa encarar o fato de que se não podemos comunicar nosso verdadeiro eu aos outros é porque nós mesmos não entramos em contato com o nosso ser. Se nos sentimos isolados daqueles que nos cercam é porque estamos isolados de nós mesmos. Apenas quando soubermos quem somos é que poderemos ser quem somos e poderemos nos comunicar com os outros. À medida que você medita, você entra em contato com o seu verdadeiro e comunicativo ser.

Fazer isto requer uma grande quantidade de trabalho real de perseverança na meditação. A perseverança nos fará perguntar, "O que de fato nos isola do nosso verdadeiro ser?" A meditação nos dá uma resposta simples. Não uma resposta fácil, mas simples: "Nada". Nada nos separa de nosso verdadeiro eu. Nada, exceto a falsa ideia de que alguma coisa se interpõe entre eles. Esta falsa ideia é o que chamamos de ego. [...]

A cada meditação, pela manhã e à tarde, nós nos livramos de outra camada de auto-consciência. Primeiro deixamos para trás todas as ideias. Então, na próxima camada de consciência nos desprendemos da imaginação e deixamos todas as imagens para trás. Quando tivermos feito isto seremos simplesmente nós mesmos, sem camadas e nus. A isto, Jesus chamou de "pobreza de espírito." [...]

É uma bela pobreza de espírito. É um revitalizante caminho a seguir. Se há momentos difíceis, eles não impedem que seja feliz, belo e pacífico. É uma pobreza grandiosa porque nos liberta para vermos a luz de nosso verdadeiro ser e sabermos que somos aquela luz. O mantra nos faz atravessar as camadas do pensamento, da linguagem e da imaginação, até a luminosidade pura da plena consciência. O mantra é muito simples, é como o 'bip' que guia um avião para aterrissar em meio à névoa, pois ao seguir o 'bip' o avião mantém o rumo. É como o cursor na tela do computador que ao mesmo tempo segue e guia a mente. Onde está o cursor também está o operador. O mantra é simplesmente o ponto focal onde brilha a luz do verdadeiro eu.

Ao seguir meditando, podemos não sentir que isto ocorre durante os momentos da meditação, mas não se preocupe e não espere que algo aconteça... Mas, se perseverar, então sua própria vida brilhará, lenta, mas profundamente, com essa luminosidade interior... e saberá que a luz está ali, em tudo.


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: "A Luz do Ser" - Leitura de 01/06/2008
Light Within: The Inner Path Of Meditation (New York: Crossroad, 1989) pp. 85-87.
Tradução de Roldano Giuntoli
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - http://www.wccm.com.br/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/buda-medita%C3%A7%C3%A3o-est%C3%A1tua-religi%C3%A3o-1281249/

É POSSÍVEL REDUZIR O CARMA ?


[...] O carma é purificável através da educação e da meditação. O carma é algo criado por nós, e tudo o que é criado pode ser alterado. Só o que está além da criação - como a natureza absoluta da nossa mente - não pode ser alterado.

Há duas formas de eliminar o carma negativo: uma delas é experienciar as situações da vida sem rejeitá-las, e recebê-las com amor e compaixão, transformando carma negativo em positivo; a outra forma é purificar o carma negativo antes de vivenciá-lo, e ir além do carma, não importando se ele é positivo ou negativo. Esta segunda maneira de abordar a questão é crucial, mas só pode acontecer depois de treinarmos nossa mente através de avançadas técnicas de meditação.

De maneira mais imediata, a melhor coisa a ser feita é transformar carma negativo em carma positivo. Mas precisamos ter em mente que produzir carma positivo não é uma solução absoluta para nosso sofrimento. Porque todo carma, positivo ou negativo, é impermanente. Isso significa que, seja qual for o resultado positivo que você crie, ele também vai mudar, mais cedo ou mais tarde. É um ciclo: o que é positivo se transforma em negativo e o que é negativo, em positivo. A única saída é obter a realização da iluminação e tirar você e sua mente deste sistema cíclico de existência.

Enquanto isso não ocorre, faça seu melhor e crie condições positivas para suas experiências futuras, aceitando o seu carma, vivendo-o da melhor forma possível e o purificando.


Lama Tsering

Entrevista de Lama Tsering concedida ao site Vya Estelar.


Fonte: Chagdud Gonpa - Odsal Ling
Centro de budismo tibetano vajraiana
Fonte da Gravura: Tumblr.com