Também se pode encontrar Aleph representado sob outras formas simbólicas: um cordeiro com uma cruz ou ainda uma serpente trespassada por uma flecha. Ambas são a imagem de Aleph, mas também a imagem do homem. Reparai: com o que é que se parece o esqueleto humano só com a coluna vertebral e a cabeça?... Tem a forma de uma serpente. E a flecha são os braços, a linha transversal de Aleph: a flecha que representa um movimento, o sentido no qual se dirige a atividade. Cristo, o Verbo, é precisamente uma cruz viva.
O que significa o cordeiro com a cruz? O cordeiro é a vítima do sacrifício, é o Amor. No começo, antes da criação do mundo, o Cordeiro sacrificou-se para que o mundo pudesse subsistir. Sim, para manter unidos os átomos e as moléculas, era necessária uma força de coesão, e essa força é o amor. Por isso se diz que o Cristo é o Cordeiro que foi imolado no começo do mundo… Encontramos em todos os domínios da vida esta força que permite ao mundo manter-se: é graças a ela que existem e se mantêm todos os corpos químicos, todas as moléculas, mas também todas as coletividades humanas, as famílias, as sociedades, as nações… Sem sacrifício, nada existe. Um conjunto só pode subsistir graças ao sacrifício de cada uma das suas partes. Se acabardes com o sacrifício nas suas múltiplas formas – olhares, palavras, atenção, entreajuda, renúncias –, tudo se desagregará e desaparecerá. Se quereis que uma coisa dure muito tempo, colocai na sua base o Cristo, o amor.
A conclusão prática do que eu acabo de transmitir-vos a respeito da letra Aleph, a primeira letra, é que nunca se deve começar o que quer que seja sem se conhecer as forças que se põe em movimento, pois o essencial é o começo. Desencadear forças e movimentos é sempre fácil, mas é muito difícil dirigi-los, orientá-los e, portanto, dominá-los. Se os políticos estivessem conscientes desta lei, refletiriam mais antes de decidirem certas mudanças. Muitas pessoas desencadearam um movimento revolucionário que julgavam poder dominar, mas acabaram completamente esmagadas por ele! A expressão “aprendiz de feiticeiro” designa precisamente o homem que, por imprudência, desencadeia correntes que, depois, é incapaz de controlar ou orientar.
Quer seja no plano físico, no plano astral ou no plano mental, o vosso poder não está no meio nem no fim, mas no começo. Imaginai que estais numa montanha, junto de um grande rochedo; se o fizerdes tombar ou rolar, ele obedecer-vos-á. Tendes a possibilidade de o deixar no mesmo sítio ou de o fazer rolar pela encosta; se o fizerdes tombar, ele obedecer-vos-á, evidentemente, mas depois acabou-se, perdereis o controlo do seu movimento e ele talvez provoque estragos que não conseguireis evitar. Do mesmo modo, quando sentirdes a cólera crescer dentro de vós, se decidirdes reprimi-la imediatamente, ela não explodirá, mas, se a deixardes explodir, já não conseguireis parar o seu curso. Isto também é verdade em relação a certas ideias que deixais instalarem-se em vós e que acabarão por tornar-se impossíveis de eliminar. Então, estai vigilantes, nunca esqueçais que Tav depende de Aleph, o fim depende do começo. Sede como o mago que, tendo iniciado conscientemente uma operação mágica, consegue chegar ao fim.
Ao dizer «Eu sou Aleph e Tav...», o Cristo indica-nos de que maneira devemos abordar a nossa atividade. O começo é o Céu, o mundo divino, e é começando pelo Céu que devemos descer progressivamente à matéria. Aquele que começa pela matéria para ir em direção ao Céu tem por diante desaires e sofrimentos. Duas pessoas que se amam devem começar por se amar espiritualmente, antes de se amarem fisicamente. Em geral, os homens e as mulheres fazem o contrário: começam por Tav e colocam Aleph no fim! Quando tudo estiver estragado, elas irão amar-se espiritualmente? Em tudo é preciso começar pelo começo, pela cabeça. Quando estudam o alfabeto hebraico, os cabalistas abordam primeiro as três letras mãe – Aleph, Mem e Shin – que criaram, respetivamente, o ar, a água e o fogo; em seguida, as sete letras duplas: Beth, Ghimel, Daleth, Kaf, Pe, Resch e Tav, que criaram os sete planetas; por fim, as doze letras simples: He, Vav, Zain, Heth, Teth, Iud, Lamed, Nun, Samech, Ain, Tsade e Quf, que criaram as doze constelações zodiacais. As vinte e duas letras abrangem, portanto, a totalidade da Criação.
Evidentemente, estas letras são apenas uma expressão material de princípios abstratos. Quando falais ou escreveis, vós combinais, como Deus, as letras e as palavras, e deste modo criais. Podeis criar nos seres a alegria, a confiança, o amor, a luz, ou então a mágoa, a sombra, a doença, o desespero. No segundo caso, não há escrita nem palavra, mas sim rabiscos e uma incoerência. A verdadeira evolução significa aprender a servir-se da palavra, da escrita, das formas e das imagens tendo em vista resultados divinos, ou seja, preparar os elementos do Verbo para criar unicamente o que é bom, belo e justo. Aquele que trabalha conscientemente neste domínio participa na obra de Deus e virá o dia em que será recrutado como obreiro de Deus, pois a Criação ainda não está completa. O Criador continua a trabalhar e necessita de operários que Lhe tragam um pouco de areia, um pouco de gesso. «Apenas isso?», questionareis vós. Sim, e não fiqueis envergonhados, não é certamente a nós que Ele escolherá para desempenhar o papel mais importante, mas, seja a que nível for, participar neste trabalho divino é glorioso. Refleti sobre a vida que Deus vos deu, focai-vos em todas as suas manifestações como n’O próprio Deus e dizei: «Doravante, esforçar-me-ei por só falar e agir com o objetivo de vivificar, apaziguar, esclarecer, reconfortar, encorajar e fortalecer as criaturas.» A partir do momento em que tomais esta decisão, o Verbo começa a encontrar o seu lugar em vós, e apercebeis-vos cada vez mais claramente de que possuís uma multiplicidade de elementos dados por Deus. Ainda não sabeis servir-vos deles, mas, pouco a pouco, sentis que esses elementos começam a obedecer-vos e tornais-vos mais poderosos. Mas também não podeis contentar-vos em pronunciar boas e belas palavras. É preciso levar essas palavras até ao fim, até à sua realização. Então, elas tornar-se-ão “verdades verdadeiramente verídicas”.
Agora, quero contar-vos uma história pessoal. Eu tinha dezessete anos e sentia necessidade de encontrar uma forma, uma figura geométrica que me desse, ao contemplá-la, a harmonia e a paz. Depois de pesquisar durante algum tempo, concentrei-me no círculo; em seguida, tomando como medida o raio desse círculo, dividi a circunferência em seis partes, o que me permitiu traçar seis círculos, e obtive uma rosácea (figura simétrica, terminada em circunferência, e que revela analogia com a rosa). Então, colori os seis círculos com as seis cores do prisma: violeta, azul, verde, amarelo, laranja, vermelho. E contemplei esse desenho, que me mergulhava num estado de êxtase. Era, para mim, o símbolo da perfeição. Ao fim de algum tempo, pareceu-me que ainda faltava alguma coisa. Ao tentar perceber o que era, um impulso misterioso levou-me a escrever por baixo da rosácea o início do Evangelho de S. João: «No começo, era o Verbo, e o Verbo era com Deus e o Verbo era Deus. Ele era no começo com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e nada do que foi feito foi feito sem Ele.» Por que estes versículos? Será que eu tinha uma ligação especial com eles? Sem dúvida, e pensei nisso toda a minha vida. Hoje, sei o porquê, completei assim o meu desenho…
São João revelou os mistérios do Verbo, que dão o poder de agir sobre as forças da Natureza. É este o seu Ensinamento. Se os cristãos se desviaram dele e se contentam em comunicar com o pároco, com o sacristão, é lá com eles. Os cristãos esqueceram os mistérios do Verbo, que contêm todos os segredos do Universo. Recordai-vos das promessas que, nos primeiros capítulos do Apocalipse, são feitas nas Cartas às Igrejas: «Ao que vencer, eu dar-lhe-ei a comer do maná oculto e dar-lhe-ei uma pedra branca; na pedra branca, estará gravado um novo nome, que ninguém conhece a não ser quem a recebe… Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer do fruto da Árvore da Vida, que está no Paraíso de Deus… O que vencer será coberto de vestes brancas… O que vencer, dele farei uma coluna no templo do meu Deus… Ao que vencer, farei com que se sente comigo no meu trono.» Todas estas promessas são uma Iniciação aos mistérios do Verbo.