segunda-feira, 31 de agosto de 2020

MEDITAÇÃO NÃO É TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO


Em face de nossas crises contemporâneas precisamos nos perguntar: por que meditamos? Perguntamos não para debilitar nosso comprometimento, mas para refiná-lo e aprofundá-lo. Nós não estamos em busca de experiências interessantes. Meditação não é tecnologia da informação. Ela trata do conhecimento que redime, a pura consciência, o conhecer, e não meramente estar informado a respeito. A meditação não aumenta nossa base de dados. Na verdade, nos afastamos daquela nossa maneira usual de obtenção de informações na medida em que nos voltamos para um conhecimento que não é quantificável, um conhecimento que unifica em vez de analisar.

A sensação de estarmos sendo tolos ou improdutivos é um sinal positivo de que estamos sendo conduzidos pelo “espírito de sabedoria e de revelação, para poderdes realmente conhecer (a Deus)” (Ef. 1,17). Este conhecimento redentor e re-criativo é a sabedoria que falta ao nosso tempo. Nós podemos reconhecê-lo, e discernir entre ele e suas falsificações, porque ele não reivindica nem ostenta quaisquer pronomes possessivos. Ninguém o reivindica como sendo seu.

Ele é a consciência do Espírito Santo e, portanto, é o útero de toda ação verdadeiramente amorosa. Em face da mais desanimadora tragédia, ele está tão perto de nós quanto nós estamos de nosso verdadeiro eu.


Dom Laurence Freeman, OSB




Fonte: Leitura de Domingo, 30 Agosto 2020
“Letter Four” in THE WEB OF SILENCE (London: DLT, 1996), pp. 42,44-45.
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - www.wccm.com.br
Fonte da Gravura: Instagram

ALGUNS TEMAS E REFLEXÕES SOBRE A EPOPEIA DE GILGAMESH


Considerada a primeira obra literária da História, a Epopeia de Gilgamesh mostra que as questões fundamentais da existência humana – felicidade, amor, sexo, amizade, poder, o sentido da vida, a certeza da morte e as incertezas do destino – acompanham o homem há milhares de anos.

Gilgamesh é o modelo de herói, com virtudes e defeitos humanos, que se arrisca ao novo, desconhecido e extraordinário e, com isso provoca profundas mudanças. A jornada do herói é a da transformação interior.

No início do poema, a exaltação a Gilgamesh diz respeito à pessoa que ele se tornou ao final de sua jornada – “o sábio que viu os mistérios e conheceu coisas secretas”. A arrogância, truculência e luxúria de Gilgamesh são contestadas pelo seu povo. O governante pode tudo? Não, e os habitante de Uruk reclamam aos deuses. Entendem que o líder deveria trabalhar pela harmonia da sociedade (“ser um pastor para seu povo”) e não provocar a discórdia. Clamam por justiça e fim da opressão. Um interessante ponto de partida para refletir sobre a diferença de autocracia e tirania.

Enkidu surge para desafiar Gilgamesh. A criação de Enkidu traz elementos intrigantes. Ele é criado pela deusa Aruru a partir do barro – diferente da tradição hebraico-judaica que se refere a um deus criador masculino. Enkidu, como Adão, vive entre os animais e em harmonia com eles. Quem vai mudar esse cenário é uma mulher, a cortesã sagrada Shamhat. O papel de Shamhat é crucial: ela usa sua beleza e sedução para atrair o selvagem Enkidu e, através de relações sexuais contínuas, ensinar-lhe os fundamentos da vida civilizada, a comer alimentos elaborados, beber vinho, vestir-se e se expressar através da música e do canto. Shamhat cujo nome significa “a alegre”, é quem introduz Enkidu à vida em sociedade. As habilidades sexuais de Shamhat estabelecem a diferença entre o sexo para procriação – impulso próprio dos animais – e a sensualidade artística e sofisticada própria da civilização. Os mesopotâmicos entendiam a prostituição como uma das características básicas da vida urbana e civilizada. Daí entender o papel de Shamhat: apresentar para Enkidu o mundo sedutor mas complexo da cultura humana. Quando Enkidu está morrendo, ele expressa sua raiva contra Shamhat por tê-lo tornado civilizado, culpando-a por trazê-lo para o novo mundo de experiências que o levou à morte. Ele a amaldiçoa. O deus Shamash, o Sol, intervém e lembra a Enkidu que Shamhat o alimentou e o vestiu. Enkidu cede e abençoa-a dizendo que todos os homens a desejarão e lhe oferecerão joias de presente. Depois de deitar-se com Shamhat seis dias e sete noites, Enkidu tentou voltar à sua vida selvagem, mas os animais fugiram dele. Assim como Adão ao provar o fruto do conhecimento oferecido por Eva foi expulso do paraíso, Enkidu não é mais o mesmo depois do aprendizado dado pela mulher. Rompeu-se a conexão do homem selvagem com o mundo natural. Os animais o rejeitaram e ele, então, deve ir para o lugar onde esse conhecimento pode ser usado, a cidade.

O encontro de Enkidu e Gilgamesh é outro momento chave da epopeia. Enkidu é o reflexo do rei: são iguais mas não idênticos. Têm a mesma força física e arrogância, mas diferentes experiências humanas. Enkidu não tem família, afinado com o mundo natural e selvagem. Gilgamesh tem pai e mãe (o poema faz constante menção a Ninsun, mãe do rei e a intérprete de seus sonhos), vive e governa uma grande cidade. Ambos heróis representam a polaridade entre natureza e cultura. Enkidu será o agente das mudanças de Gilgamesh. Inclusive na morte, Enkidu é um ponto de virada na jornada no rei. Enkidu, o selvagem, trará a Gilgamseh a oportunidade de se perceber humano, como todos os outros, e deixar de lado sua arrogância e sua recusa em aceitar o destino humano. A relação fraternal entre eles nasce de suas diferenças sobre as quais se equilibram, complementando-se e compensando que falta ao outro. Talvez esse seja o sentido mais profundo da luta inconclusa entre eles, sem vencedor e  vencido. Eles foram criados para equilibrar um ao outro, compensando o que falta no outro. A amizade de Gilgamesh e Enkidu se constrói na disputa, na escuta, na perda, no ganho, na cooperação, no ciúmes, na vaidade, na lealdade, na coragem, na agressividade e na amorosidade.

A psicologia analítica ou junguiana (iniciada por Carl Gustav Jung) vê Enkidu o irmão-sombra de Gilgamesh, sua “criança interior”, frágil e vulnerável (ou mesmo desprezada e humilhada). Para silenciá-la, o indivíduo desafia-se continuamente a provar sua grandeza, poder e força. Por trás desse comportamento está a sociedade patriarcal, com suas imposições de sucesso e desempenho, seu desprezo pelos semelhantes, pela mulher, pelos animais e pelo meio ambiente. Daí a arrogância, a intolerância, a vaidade desmedida e a intransigência. Há quem veja a relação fraternal entre Enkidu e Gilgamesh similar a de Aquiles e Pátroclo, na Ilíada de Homero, sugerindo um relacionamento romântico, homoafetivo. Não há na epopeia nada evidente que possa sustentar essa hipótese e, talvez, essas análises estejam dizendo mais de nossos parâmetros morais contemporâneos do que sobre os valores e mentalidade da História Antiga do Oriente Próximo.

Após aventuras e perigos, a epopeia aproxima-se de seu grande tema final: a busca da imortalidade. Cabe a uma mulher fornecer a chave do segredo a Gilgamesh: ela fala sobre a planta capaz de dar a eterna juventude a quem a comesse. De posse da planta, Gilgamesh tomado de compaixão (já não é mais o rei arrogante) decide levá-la a Uruk e dividi-la com os anciãos da cidade. Porém, uma serpente come a planta roubando a imortalidade do homem. Impossível não fazer uma analogia com a serpente do Gênesis que tirou a vida eterna de Adão e Eva e levou-os à expulsão do Éden. Chegando a Uruk, Gilgamesh comenta com o barqueiro que o acompanha sobre a beleza e imponência da cidade, feita de tijolos cozidos, com suas muralhas, templos e jardins. Os versos anunciam: “Tudo isso era obra de Gilgamesh, o rei que conheceu os países do mundo. Ele era o sábio, viu os mistérios e conheceu  as coisas secretas. Transmitiu-nos uma história dos dias antes do dilúvio. Fez uma longa jornada, conheceu o cansaço, esgotou-se em trabalhos e, ao regressar, gravou numa pedra toda a história.”

Essa era a imortalidade tão desejada por Gilgamesh: suas obras, a sabedoria alcançada e sua história transmitida às gerações futuras  – enfim, tudo o que realmente fica para a eternidade.


Profa. Joelza Ester Domingues



Fonte: Blog "Ensinar História"
https://ensinarhistoriajoelza.com.br/gilgamesh-a-historia-mais-antiga-do-mundo/



O SURGIMENTO DO HERÓI PESSOAL
Em síntese: Acredita-se que a mais antiga obra da grande literatura que sobreviveu até os dias de hoje é a Epopeia de Gilgamesh. Evoluiu a partir de uma série de poemas sumérios escritos há uns quatro mil anos, e é a história de um rei semidivino mas impiedoso que fica traumatizado pela morte de seu amigo guerreiro e se lança numa busca para descobrir a chave da vida eterna. Matando monstros, encontrando-se com deidades e consultando aos sábios do caminho, Gilgamesh finalmente experimenta uma redenção pessoal que o reconcilia com sua própria mortalidade e volta a seu povo como um rei mais sábio e mais benéfico.

Fonte: Escola Arcana



Fonte da Gravura: https://apaixonadosporhistoria.com.br/img/foto/galeria_1_1126168892.jpg

A EPOPEIA DE GILGAMESH - A PRIMEIRA VERSÃO DO GÊNESIS?


As milhares de placas encontradas nas escavações em Nínive, em 1849, foram levadas para o Museu Britânico, em Londres e ficaram sob a responsabilidade de Henry Rawlinson. Havia pouco tempo que ele decifrara o cuneiforme. Coube a George Smith, auxiliar de Rawlinson no museu e perito na decifração do cuneiforme, fazer a segunda grande descoberta: em 1872, diante de uma plateia de especialistas, ele leu a 11ª. tabuinha que narrava sobre um dilúvio devastador do qual somente um homem sobreviveu. A revelação causou impacto entre especialistas, teólogos e o público leigo. Mais surpresas vieram com a decifração de outras tabuinhas: Araru, a deusa criadora do homem, o mito Enuma elish, o poema da criação, e o mito de Adapa, o homem que recusou a imortalidade – personagem que, para alguns estudiosos, seria o Adão bíblico.

O impacto dessas descobertas desafiavam a erudição literária e bíblica e lançavam para tempos mais longínquos a história da humanidade. A Epopeia de Gilgamesh já circulava por volta de 2.100 a.C., mas era muito anterior a essa data. Diante dessa datação, todas as literaturas ditas, então, como as primeiras da história, mostravam-se bem mais recentes. As narrativas do Pentateuco ou Torá, a parte mais antiga do Velho Testamento, são do I Milênio, e a versão hebraica da Bíblia teria sido redigida entre os séculos VIII e V a.C., principalmente no tempo do rei Josias (640-609 a.C.). Por sua vez, os poemas épicos Ilíada e Odisseia, atribuídos a Homero, remontam aos séculos IX e VIII a.C. Muito já se pesquisou e escreveu sobre a influência da Epopeia de Gilgamesh sobre a escrita do Gênesis chegando a se questionar a veracidade dos textos bíblicos.

Por outro lado, a epopeia que chegou a nós também não é original, mas um compilado de lendas e poemas onde se misturaram  tradições culturais de sumérios, acádios, assírios e babilônicos. Foram encontradas cópias do poema em regiões diversas da antiga Mesopotâmia, da Palestina e da Turquia, e nem todas as versões coincidem. Enfim, tanto a epopeia de Gilgamesh quanto o livro do Gênesis poderiam ter sido influenciados por histórias ainda mais antigas e difundidas no Oriente.

Como lembra Fernand Braudel: “O passado das civilizações nada mais é que a história dos empréstimos que elas fizeram uma às outras ao longo dos séculos…”


Profa. Joelza Ester Domingues



Fonte: Blog "Ensinar"
https://ensinarhistoriajoelza.com.br/gilgamesh-a-historia-mais-antiga-do-mundo/
Fonte da Gravura: https://apaixonadosporhistoria.com.br/img/galeria/galeria_677345565.jpg

A EPOPEIA DE GILGAMESH E A LENDA DO DILÚVIO BÍBLICO


Uma das lendas mais fantásticas dos povos sumérios e que mostram a riqueza de sua literatura foi a Epopeia de Gilgamesh. Possivelmente a obra literária mais antiga já produzida pelos seres humanos, ela é composta por doze cantos com cerca de 300 versos cada um. A lenda conta a história de Gilgamesh, rei sumério e fundador da cidade de Uruk que governou a região por volta do ano 2.700 a.C. Esta epopeia é conhecida graças à descoberta de uma placa de argila escrita em caracteres cuneiformes em ruínas da região mesopotâmica, sendo traduzida por volta de 1890 d.C.

A trajetória de Gilgamesh o mostra como um grande conhecedor das coisas do mundo, inclusive de sua origem e de coisas existentes nas profundezas dos mares. Mas o rei Gilgamesh era despótico e dentre as várias obrigações que impunha a seu povo encontrava-se a construção de uma gigantesca muralha fortificada ao longo da cidade de Uruk. O povo amedrontado com o trabalho imensamente fatigante clamou pela ajuda da deusa Ishtar, que os ouviu e enviou Enkidu. Este, que era protegido da deusa e vivia nas florestas de cedros, deveria desafiar e vencer Gilgamesh em um duelo, matando-o em seguida. Ao chegar ao palácio do rei, iniciou o combate. Entretanto, não houve vitoriosos, sendo que Gilgamesh e Enkidu se tornaram amigos. A amizade os levou a diversas aventuras, destruindo monstros e harmonizando o mundo.

Porém, Ishtar sentiu ciúmes da amizade e tentou seduzir Gilgamesh que, sabendo que aquele que amasse a deusa morreria, não aceitou ser seu amante. A deusa com muita ira pela recusa decidiu matar o amigo de Gilgamesh, Enkidu, infligindo a ele uma doença que o deixou agonizando por doze dias antes de morrer. Com a perda do amigo, Gilgamesh resolveu ir atrás de novas aventuras, o que o levou a encontrar Utnapishtim, um homem imortal que revelou um triste mistério dos deuses: em tempos remotos os deuses haviam decidido submergir a terra de Shuruppak, mas que ele, pela sua devoção, havia recebido ordens de construir uma arca no meio do deserto e abrigar seus familiares, amigos e os quadrúpedes e aves de sua escolha. Utnapishtim assim o fez e, depois de seis dias e seis noites, salvou as pessoas e os animais, conseguindo em troca a imortalidade.

Esse trecho da Epopeia de Gilgamesh é um dos mais conhecidos e influenciou várias lendas na Antiguidade oriental, inclusive a lenda bíblica do dilúvio hebreu, famosa pela arca de Noé. Sendo a produção da Epopeia de Gilgamesh anterior à história bíblica, pode-se perceber a influência que a cultura suméria exerceu sobre os povos da Mesopotâmia e do Oriente Médio.

Gilgamesh ainda tentou conseguir a imortalidade, chegando inclusive a descer ao fundo do mar em busca de uma planta que seria capaz de evitar sua morte. Mas o rei perdeu a planta no caminho e, com medo da morte, já em sua cidade Uruk, evocou seu amigo Enkidu, que lhe contou sobre a vida no mundo das trevas.

A epopeia se tornou famosa no mundo pela sua antiguidade e pela semelhança com a lenda do dilúvio bíblico hebreu.



Fonte: Publicado por Tales dos Santos Pinto em "Mundo Educação"
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/a-epopeia-gilgamesh-diluvio.htm
Fonte da Gravura: https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/as-tabuas-epopeia-gilgamesh-foram-encontradas-na-biblioteca-ninive-construida-mando-assurbanipal-5a211e2b343ae.jpg

REFORMA ÍNTIMA - UMA REFORMA NA NATUREZA HUMANA


[...] Tentar reformas políticas antes de concluir uma reforma na natureza humana é o mesmo que botar vinho novo em odres velhos.

Conseguir que os homens sintam e reconheçam do fundo de seu coração seu real e verdadeiro dever para com todos os seus semelhantes, fará desaparecer, naturalmente, todo o antigo abuso do poder, toda lei iníqua da política nacional, fundamentada no egoísmo humano, social ou político.

Louco é um jardineiro que, desejando extirpar as plantas venenosas de seu canteiro de flores, as corta em vez de arrancá-las pela raiz.

Jamais se pode alcançar uma reforma política duradoura com os mesmos homens egoístas à frente dos assuntos.


Helena Petrovna Blavatsky



Fonte: "La Clave de la Teosofia", Editorial Saros, Buenos Aires, 1954
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/escala-de-peso-igual-bra%C3%A7o-equil%C3%ADbrio-2402966/