segunda-feira, 24 de outubro de 2022

O CONHECIMENTO DA INDEPENDÊNCIA DO "EU" EM RELAÇÃO AO CORPO


Alguns aspirantes encontram obstáculos à plena realização do «Eu» (ainda que já tenham começado a compreendê-la), porque confundem a realidade do «Eu» com o sentido do corpo físico. Este obstáculo pode ser removido facilmente por meio da meditação e concentração, e a independência do «Eu» manifesta-se ao Aspirante, num momento de lucidez, refletida sobre o próprio pensamento que lhe serve como objeto de meditação.

O exercício que se dá para este fim é o seguinte: Ponde-vos no estado de meditação e pensai em vós mesmo — no «Eu» real — como sendo independente do corpo e usando o corpo como vossas vestes e vosso instrumento.

Pensai no corpo como sendo uma muda de roupa. Reconhecei que podeis deixar o corpo e, contudo, ser sempre o mesmo «Eu». Imaginai que o estais fazendo, colocando-vos acima do vosso corpo e olhando para ele, que está debaixo. Pensai que o corpo é como uma casca de que podeis sair sem mudança da vossa identidade. Pensai que estais governando e controlando o corpo que ocupais e que dele fazeis o melhor uso possível, tornando-o sadio, forte e vigoroso, mas que ele não passa, entretanto, de uma casca ou um invólucro do vosso verdadeiro «Eu». Pensai no corpo, como sendo composto de átomos e células que se transformam incessantemente, mas que são conservados em união com os outros pela força do vosso Ego, e que podeis aperfeiçoá-los por meio da vontade. Realizai o conhecimento que só habitais o corpo e que o usais para vossa conveniência, da mesma forma como usais uma casa.

Continuando a meditar, ignorai o corpo totalmente e fixai o vosso pensamento no «Eu» real que começais a sentir que sois «vós», e achareis que a vossa identidade — o vosso «Eu» — é algo totalmente distinto do corpo.

Podereis agora dizer «meu corpo» com um novo significado. Bani a ideia de que sois um ser físico e reconhecei que sois superior ao corpo. Esta concepção e este reconhecimento, porém, não vos deverão seduzir a negligenciardes o corpo. Deveis considerar o corpo como um templo do espírito, e cuidar dele, para que seja uma boa morada para o «Eu».

Não vos assusteis se, durante esta meditação, vos sobreviver a sensação de estardes, por alguns instantes, fora do corpo e que a ele voltais depois de concluído o exercício. O Ego* é capaz (no caso do iniciado adiantado) de elevar-se acima dos limites do corpo, mas nunca dissolve a sua conexão em tais ocasiões. O Ego estando assim parcialmente fora do corpo, pode ser comparado a quem abre a janela de um quarto e dela observa o que se passa fora, colocando a cabeça no espaço exterior e retirando-a para o interior quando quer.

Assim como este observador não sai do quarto, — embora sua cabeça se ache fora dele, — também o Ego não saiu, no caso acima mencionado, do corpo, apesar de ter-se elevado parcialmente acima dele. Não aconselhamos ao Aspirante cultivar esta sensação; porém, quando ela vem por si mesma durante a meditação, não vos assusteis.

* O termo "Ego", aqui, neste contexto do autor, significa um "Eu espiritual" que transcende o físico. Também não possui exatamente um significado no contexto da psicologia. (Nota deste blog)



Yogue Ramacharaca




Fonte: do livro "Raja Yoga" - Desenvolvimento Mental pela Força do Pensamento
Brasilia Editora - Porto/Portugal
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/dan%c3%a7a-yoga-medita%c3%a7%c3%a3o-mulher-4052847/

O SENTIDO DE IMORTALIDADE E A SERENIDADE


Um meio de conquistar a serenidade nos é dado no período em que nos encontramos desencarnados. Entre uma encarnação e outra, desenvolvemos o sentido de imortalidade, porque só então nos percebemos no eterno presente e nos reconhecemos como seres imortais. Sem estar no efêmero corpo físico, mas sim em outra realidade temporal e espacial, experimentamos uma vida que nos parece mais ampla e plena.

Nesse período compreendemos também que a transição chamada "morte" é apenas o despojamento dos corpos materiais que usamos em nossa passagem pelo mundo físico. Assim, cientes de que não há morte, o medo vai desaparecendo e a serenidade se instalando.

Quanto mais longo for o intervalo entre as encarnações, mais profundamente se consolida essa nossa percepção da imortalidade. Embora a maior parte dessa percepção vá para o nosso inconsciente quando encarnamos de novo, ela nos dá possibilidade de reingressar na vida material serenos.

Ultimamente o intervalo entre as encarnações não tem sido longo o bastante. Muitas almas imaturas, que seriam beneficiadas por períodos mais longos fora do mundo físico, não usufruem esse tipo de repouso e de restauro por serem logo atraídas de volta ao plano terrestre pela grande densidade energética em que hoje se acha o planeta e muitos dos seus seres. Isso agrava a falta de serenidade que costuma reinar neste mundo. Mas há também as almas evoluídas que renunciam a ficar desencarnadas, na situação privilegiada de níveis de existência harmoniosos, para retornar à Terra e prestar auxílio nesta época de tantas necessidades. Essas almas, entretanto, já se tornaram mais serenas pela vivência do altruísmo e são de grande ajuda para as demais.



Trigueirinho (José Trigueirinho Netto)




Fonte: "A busca da Serenidade"
Com base em palestra de Trigueirinho realizada em junho de 1986.
Associação Irdin Editora - Carmo da Cachoeira/MG
www.irdin.org.br | info@irdin.org.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A RELATIVIDADE DA FELICIDADE E INFELICIDADE


É preciso compreender, de uma vez por todas, que as condições nunca são determinantes. Quando a coletividade é tocada por certos acontecimentos, por exemplo, as mesmas provações não afetam os humanos da mesma maneira. Por quê? Porque eles não as enfrentam com o mesmo estado de consciência. Enquanto uns, que não têm uma compreensão correta, pouco a pouco se tornam azedos, vingativos, ou se deixam esmagar completamente e envenenam a vida das pessoas à sua volta, outros, pelo contrário, reforçam-se, enriquecem-se e, graças às suas experiências, depois podem ajudar os que os cercam com os seus conselhos, a sua atitude, a sua irradiação, as forças que deles emanam. Isto prova bem que as condições não são tudo. Claro que não se pode ignorá-las ou negligenciá-las completamente, mas, para progredirmos, precisamos de saber que muitas coisas na vida só dependem de nós, da nossa maneira de as considerar, e que a felicidade e a infelicidade são estados completamente relativos.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A ARTE DE ACOMPANHAR OUTRA PESSOA


A oração profunda nos ensina a mesma coisa que o anjo da morte: quando o meditador encontra a pobreza de espírito, sua experiência é semelhante à experiência da morte. Pobreza significa olhar para um vazio cujo significado, a princípio, nos escapa. É a dolorosa consciência de que tudo o que sonhamos e esperávamos que durasse para sempre tem uma data de validade oculta. Pobreza de espírito significa reconhecer que não somos autossuficientes e que dependemos para nossa própria existência de uma realidade que não podemos nem nomear.

Mas enquanto lutamos contra o terrível anjo, descobrimos que não é um inimigo, mas um amigo. Um mensageiro do Deus da vida, não da morte. À medida que nossas reações complexas ao mensageiro se desenrolam, encontramos momentos de alegria intensificada no vazio do espaço que é o Espírito. É então que vemos o vazio cheio de potencialidade, uma abundância de vida que começa a existir, um vazio que não pode ser evitado.

Isso às vezes pode ser visto nos olhos de uma pessoa muito doente ou morrendo. Nas profundezas de sua alma, ela está testemunhando a multidão de sentimentos que a atingem e se retiram para atingi-la novamente e se retirar novamente. Mas há momentos em que seus olhos estão cheios de paz e sabedoria que são uma bênção para quem vê. Aqueles a quem você veio consolar te confortam. Aqueles que você pensou que seriam objetos de sua compaixão, inversamente, se tornam aqueles que aliviam as cargas de sua vida.

Existe uma maneira de acompanhar um moribundo sem ter que se sentir desconfortável e inútil. E é apenas ser um parceiro. Estar em contato com nossa própria mortalidade. Lembre-se de que nós mesmos também estamos morrendo. Aprenda com aqueles a quem você serve. Independentemente de quão relutante a pessoa possa ser, ela valorizará nossa empresa. Ser um parceiro fiel e sincero, não abandonar o outro quando nos sentimos retraídos, é a essência da compaixão. É o fruto de se sentir em casa. Acompanhar é viver a verdade de que a solidão não é o isolamento que inicialmente tememos. É a condição de ser simplesmente a pessoa que Deus nos chama a ser: uma pessoa que em sua natureza profunda é amada e é capaz de retribuir o amor.

A arte de acompanhar outra pessoa se desenvolve na oração profunda. Meditar com outra pessoa é encontrar no silêncio uma intimidade e uma amizade espiritual que é inexplicável em outros níveis de relacionamento. As barreiras do medo ou do formalismo desaparecem quando o trabalho do silêncio interior é compartilhado. Estar genuinamente presente (com os moribundos) depende de ter superado nossa autoconsciência e egocentrismo. Essa superação significa buscar aquela ausência de controle que instintivamente evitamos e da qual fugimos. Podemos gostar de observar essa "pobreza de espírito" de uma distância segura e adiar nosso encontro com ela. Gostamos de ler sobre isso e ouvir os outros descrevê-lo.

Mas tudo depende de quando decidimos atravessar pessoalmente a fronteira da pobreza da terra da ilusão para o reino da realidade. Quando fazemos isso, podemos saborear as alegrias do reino de Deus nesta vida.


Trecho de "My Dear Friends" de Laurence Freeman, OSB. Boletim da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã (18 de junho de 1999).



Carla Cooper




Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/buda-budismo-religi%c3%a3o-asi%c3%a1ticos-562033/