quinta-feira, 30 de junho de 2022

NOSSA PRIMEIRA PÁTRIA: O MUNDO ESPIRITUAL

O ser humano, tal como hoje o conhecemos, é o resultado de uma longa evolução. Foram precisos milhões de anos para o espírito do homem tomar posse do seu corpo físico, para ele descer às suas células, a fim de as animar, e fazer dele este ser capaz de refletir, de ter sentimentos, de agir. Mas, ao aprender a manifestar-se cada vez mais no plano físico, o homem perdeu o contacto com o mundo divino, ao ponto de agora negar a existência desse mundo, do qual já nem sequer se lembra. É certo que estava nos planos da Inteligência Cósmica que o homem aprendesse a agir na matéria, mas tal aconteceu à custa do lado espiritual e, por isso, ele deve agora restabelecer o contacto com o mundo divino. Aliás, com a chegada da Era do Aquário, começam a aparecer no mundo correntes que vão nessa direção. Por um lado, a técnica e o progresso material assumem uma importância cada vez maior, é certo, mas por outro lado sente-se que os humanos se dirigem – embora ainda desajeitadamente – para a Ciência Iniciática, porque sentem necessidade de retomar o contacto com o mundo invisível, que foi a sua primeira pátria.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

ALÉM DA MOTIVAÇÃO


Uma das coisas básicas que nos interessa é encontrar nosso caminho, não apenas para a harmonia externa de nossas vidas, onde não há conflito ou atrito, mas para a harmonia interior, algo que só podemos descrever com a palavra “paz”. A sensação de paz é a sensação de estar intacto, inteiro, completo. É imensamente maior do que a sensação de estar calmo. É transcendentalmente mais do que a ausência de turbulência. É algo muito mais positivo. É uma sensação de bem-estar extático.

A paz flui em nós quando descobrimos nossa harmonia na dimensão externa como interna. É uma harmonia interior como uma harmonia de que somos capazes através da relação com os outros e da harmonia, por exemplo, que experimentamos na natureza, quando vemos as montanhas num dia claro, ou o mar em toda a sua força. Nesses momentos de revelação de harmonia, surge algo sobre nossa humanidade: um sentimento de unidade com a natureza, consigo mesmo e com os outros. É por isso que meditamos. É triste e perigoso encontrar pessoas que rejeitam esses momentos como se fossem sentimentais ou escapistas. A paz não é uma fuga das lutas da vida. As lutas da vida são honrosamente concluídas.

Quando você começa a meditar, você deve ter uma motivação. Você deve ter um objetivo para começar, um empurrão para iniciar o caminho. Não há melhor incentivo do que alcançar este estado de harmonia interior e exterior. A paz é um objetivo nobre e unificador. Em muitas das escrituras sagradas do Oriente e do Ocidente, esse estado é descrito como um estado de bênção, glória, salvação ou simplesmente vida. O significado é ser totalmente completo, humanamente vivo. Então, sim, aqui está uma motivação para meditar que pode ser boa.

Mas uma vez que você comece a meditar de forma regular diária, logo perceberá que a meditação opera em uma dinâmica diferente. Não é necessário estar constantemente afirmando ou definindo sua motivação ou seu objetivo. Há um impulso direcional na própria meditação que o leva adiante com cada vez menos automotivação ou motivação externa. É muito diferente de qualquer outra atividade em sua vida. Você não visualiza isso da maneira convencional, como se dissesse: "Se eu meditar tantas vezes, vou conseguir isso, ou tal nível de paz, e se eu for particularmente leal, obterei algo mais por isso."

Uma vez que você começa a meditar, descobre que chega a ela com uma quantidade menor de demanda sem procurar uma recompensa. Meditamos simplesmente porque é o caminho mais claro para um senso de totalidade, de unidade, que está além de nosso controle ou posse, e só pode ser desfrutado quando aceitamos a natureza de ser um presente.


Fr. John Main, OSB



Fonte: do livro "O Coração da Criação", Canterbury Press, 2007
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

RUMO AO AUTOCONHECIMENTO


O apelo “Conhece-te a ti mesmo” costuma ser atribuído a Sócrates, mas na verdade essas palavras servem de base a muitos sistemas e escolas ainda mais antigas. O pensamento moderno conhece esse princípio, embora compreenda seu sentido e sua importância de maneira vaga. A típica pessoa educada de hoje, mesmo a que tem interesses filosóficos ou científicos, não percebe que o princípio “Conhece-te a ti mesmo” refere-se à necessidade de conhecermos nossa própria máquina, a "máquina humana", que é mais ou menos a mesma em todas as pessoas. É um apelo, em primeiro lugar, para estudarmos a estrutura, as funções e as leis de nosso organismo. Todas as partes da máquina humana acham-se tão interligadas, cada coisa dependendo de outras, que é completamente impossível estudar qualquer função isolada, sem estudarmos todas as demais. Logo, pelo menos no que diz respeito à máquina humana, precisamos conhecer tudo a fim de conhecer qualquer coisa em nós. E, na verdade, isso é possível. Mas exige tempo e esforço e, acima de tudo, a aplicação do método certo sob orientação adequada.

O princípio “Conhece-te a ti mesmo” é um imperativo rico e profundo. Exige, antes de qualquer coisa, que quem quer se conhecer compreenda seu significado, suas consequências e seus requisitos. De fato nos conhecermos é uma meta imensa, mas muito vaga e distante — bem além de nossa capacidade atual. Assim, em termos estritos, não podemos nem afirmá-la como nossa meta atual. Em vez de nos preocuparmos com o autoconhecimento, temos de nos contentar, no presente, com o autoestudo, aceitando-o como objetivo imediato. Portanto, a meta deve ser começarmos a nos estudar, a nos conhecer, da maneira certa. O autoestudo é o trabalho, o caminho, que acabará levando ao autoconhecimento.

Mas, antes de podermos nos dedicar a um autoestudo, precisamos aprender a estudar, por onde começar e que métodos usar. O principal método de autoestudo é a auto-observação, necessária a fim de se compreender como as diversas funções da máquina humana relacionam-se umas com as outras. Esse método, por sua vez, irá nos permitir compreender como e por que, em ocasiões específicas, tudo está “feito” em nós. Essa noção básica das funções e características da máquina humana é um pré-requisito para se compreender os princípios fundamentais de sua atividade. Sem compreender esses princípios e mantê-los sempre em mente, qualquer tentativa de auto-observação será intrinsecamente falha. Logo, para o verdadeiro autoconhecimento, aquela introspecção à qual as pessoas costumam se dedicar habitualmente no curso da vida é inútil e não leva a lugar algum.

Temos de entender que cada uma de nossas funções psíquicas normais é um modo de obter certo tipo de conhecimento. A mente permite-nos perceber um aspecto das coisas e dos eventos; as emoções, outro aspecto; as sensações, um terceiro. Entretanto, só podemos ter o conhecimento pleno de alguma coisa se a examinarmos simultaneamente com a mente, o sentimento e a sensação. Tal nível de percepção, possível apenas com um tipo diferente de existência, deveria ser a meta de todas as pessoas que almejam o conhecimento verdadeiro.

Em condições normais, vemos o mundo através de um vidro escuro, mas, mesmo que percebamos isso, somos impotentes para mudar essa realidade. Nosso modo de percepção depende do funcionamento de nosso organismo como um todo. Todas as nossas funções estão interligadas, são interdependentes, e todas procuram manter um estado de equilíbrio mútuo. Portanto, ao começarmos a nos estudar, devemos compreender que, se descobrirmos um aspecto do qual não gostamos, não seremos capazes de mudá-lo. Estudar é uma coisa, mudar é outra bem diferente. Mas o estudo é o primeiro passo a fim de se perceber o potencial de mudança no futuro. No começo, devemos compreender que, por um longo tempo, todo o nosso trabalho será dedicado a estudarmos sozinhos.


Georges Ivanovitch Gurdjieff



Fonte: do livro "Em Busca do Ser - o quarto caminho para uma nova consciência"
Tradução de Marcello Borges
São Paulo, Ed. Pensamento, 2017
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal