Na psicologia budista, a palavra "samyojana" refere-se às formações internas, grilhões, ou nós. Por exemplo, quando uma pessoa nos diz alguma coisa grosseira, se não compreendemos por que ela disse aquilo, ficamos irritados; amarra-se um nó dentro de nós.
A falta de compreensão é a base de todos os nós internos. É difícil para nossa mente aceitar que ela própria abriga sentimentos negativos, como raiva, medo e mágoa; assim, de algum modo, ela procura enterrá-los na consciência, em regiões distantes. Criamos mecanismos de defesa bem elaborados para negar sua existência, porém esses sentimentos problemáticos estão sempre tentando vir à tona.
Se praticarmos a atenção plena, conseguiremos adquirir a capacidade de reconhecer um nó no exato momento em que ele se forma dentro de nós e, dessa maneira, encontrar meios de desatá-lo. Formações internas exigem total atenção logo que se instalam, enquanto ainda são nós frouxos, pois assim é mais fácil de desfazê-los. Do contrário vão se tornando cada vez mais apertados e fortes.
O primeiro passo para lidar com formações internas inconscientes é procurar trazê-las à consciência. Meditamos praticando a respiração consciente para ter acesso a elas. Talvez se manifestem como imagens, sentimentos, pensamentos, palavras ou ações. Podemos notar um sentimento de ansiedade e perguntar: "Por que me senti tão desconfortável quando ela me disse aquilo?" Ou: "Por que continuo fazendo isso?" Ou: "Por que odeio tanto aquele personagem do filme?"
Ao nos observarmos de perto, podemos expor uma formação interna e torná-la visível. E, à medida que a luz da nossa atenção plena brilha sobre ela, sua face começa a se revelar. Podemos sentir uma certa resistência para continuar a examiná-la, mas, se desenvolvermos a capacidade de nos mantermos serenamente sentados enquanto observamos nossos sentimentos, a fonte do nó aos poucos se mostrará, dando-nos uma ideia de como desatá-lo.
Ao seguirmos esse tipo de prática, passamos a conhecer nossas formações internas e ficamos em paz.
Thich Nhat Hanh (Monge budista vietnamita)
Fonte: do livro "Ensinamentos sobre o Amor", pp. 82/3, Ed. Sextante, 2005
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal