sexta-feira, 10 de outubro de 2014

TEMOS A FAMÍLIA QUE NECESSITAMOS PARA EVOLUIR

A família que temos é tal como a fizemos até agora ou tal como dela precisamos para nossa evolução. Nela há um variado tipo de pessoas (afins ou não conosco) e foi formada em função de nossas expiações, de nossa necessidade de aprendizado ou, ainda, de nosso desejo de realizarmos boas obras. 

Tendo em vista a condição moral de nosso planeta, a maioria das almas que se reúnem no mesmo círculo familiar são companheiros necessitados de se reajustarem no clima da fraternidade, gerando dificuldades no convívio e desaguando na imensidão das lutas que retomamos, na experiência com nossos familiares, velhos companheiros do passado. 

As almas se encontram sob variados motivos: resgate, apoio, afeições, desafetos, missão etc., com a finalidade de estreitar o laços que as unem, para aprenderem a conjugar o verbo: AMAR.



Joamar Zanolini Nazareth





Fonte: do livro "Um Desafio Chamado Família"
Fonte da Gravura: Maitreya
Pintura de Nicholas Roerich
http://www.roerich.org/

NÃO TER NADA DO QUE SE ARREPENDER

Milarepa disse: “Minha religião é não ter nada do que se arrepender quando morrer”. Mas a maioria das pessoas não dá nenhuma importância a essa maneira de pensar. Fingimos ser muito calmos e controlados, cheios de palavras doces, para que as pessoas comuns — que não conhecem nossos pensamentos — digam: “Esse é um verdadeiro bodisatva”. Mas é apenas nosso comportamento externo que elas vêem.

A coisa importante a fazer é não realizar qualquer coisa que possamos nos arrepender depois. Portanto, precisamos nos examinar honestamente.

Infelizmente, nosso apego ao ego é tão grosseiro que, mesmo se tivermos sim alguma pequena qualidade, pensamos que somos maravilhosos. Por outro lado, se temos algum grande defeito, nem mesmo percebemos. Há um ditado que diz: “No pico do orgulho, a água das boas qualidades não permanece”.

Então, devemos ser muito meticulosos. Se, após examinarmos completamente a nós mesmos, pudermos colocar as mãos no coração e honestamente pensar: “Minhas ações estão todas corretas”, então isso é um sinal de que estamos ganhando alguma experiência no treinamento da mente.

Devemos então ficar contentes que nossa prática tem ido bem e nos determinar a fazer ainda melhor no futuro, assim como fizeram os bodisatvas de outros tempos.

Com todos os meios devemos gerar antídotos cada vez mais, agindo de modo a estar em paz conosco.




Dilgo Khyentse Rinpoche





Fonte: do livro “Enlightened Courage”, cap. 5 
Tradução de Flavio Shunya
http://bodisatva.com.br/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal




A NOITE NEGRA DA ALMA

No âmbito deste artigo desejo falar de um assunto que é parte de todas as tradições. Refere-se a um dos períodos que todo místico é compelido a vivenciar na senda da Luz. Trata-se da Noite Negra. Não houve um só Avatar, Messias ou Profeta que, de uma forma ou outra, não tenha evocado esse período de grande confusão que todo buscador, num dado momento de sua busca, deve enfrentar e, se possível, superar. Estou certo em dizer "se possível", pois pode acontecer que a Noite Negra nos afaste definitivamente da Luz, pelo menos durante uma encarnação.

Para começar, o que é essa Noite Negra? Posso dizer que, no plano individual, é um ciclo que corresponde a um questionamento do ideal seguido até então. Conforme o caso, esse questionamento pode ter origem numa série de provações que atravessamos, ou numa crise interior sem qualquer ligação com o mundo objetivo.

Uma doença, um acidente, a perda de um ente querido, problemas familiares, problemas profissionais, são alguns elementos que podem abalar a vida mística de um indivíduo e mergulhá-lo nas trevas da dúvida. 

Independentemente dessas provações, também pode acontecer, por razões puramente psicológicas, que o místico se sinta invadido por impulsos interiores negativos que o levem brutalmente a rejeitar os valores em que acredita.

Esteja sua origem nas tribulações terrenas ou num grande sofrimento interior, a Noite Negra costuma se traduzir de uma mesma forma: a chama de nossa fé mística vacila e se apaga por um período, que dura enquanto persistimos em não reacendê-la. Sofremos em todos os planos, mas, mesmo sabendo que somos responsáveis por esse sofrimento, recusamo-nos a sair das areias movediças que, hora após hora, dia após dia, semana após semana, sufocam-nos um pouco mais. Mãos nos são estendidas, mas não queremos vê-las, muito menos pegá-las.

Não acreditamos mais em nada, nem em Deus, nem no homem, nem no amigo, nem em nós próprios. Deixamo-nos aprisionar pela fatalidade e tornamo-nos o espectador entediado de nós mesmos. Vimo-nos partir à deriva no oceano de nossos temores, angústias e desespero. Nossa própria existência torna-se um fardo que carregamos sem a menor convicção, e no lenho dessa cruz deixamos fenecer a rosa, pois sequer a vemos mais.

Dentre nós, muitos já conhecem esses períodos particularmente sombrios da existência, que são o quinhão que a todos nós cabe, mas que, no caso do místico, assume uma dimensão interior muito mais ampla, pois ele sabe que corresponde a escolhas cujo resultado concerne diretamente sua evolução mística. Ele sente no mais profundo de si mesmo, que eles constituem um questionamento do seu ideal, o oprimem, pois sabe que sairá dele engrandecido ou, ao contrário, diminuído. Isso acontece porque a Noite Negra, tal como se manifesta à vida de um místico, é o resultado de um conflito entre seu Eu objetivo e seu Eu espiritual.

É verdade que ele pode ter a impressão de que não é esse o caso, sobretudo se ela tem origem em provações como as que citei anteriormente. Não obstante, quer ele queira ou não, essa Noite Negra só existe porque ele oscila entre os impulsos de seu ego e as injunções de sua alma, ou seja, entre a ilusão terrena e a Realidade Cósmica.

Tomemos um dos exemplos mais dolorosos para ilustrar o que dizemos: a morte. Muitos místicos já vivenciaram um período de total entrega após a perda de um ente querido. Nessas penosas circunstâncias, eles se sentiram assaltados por um sentimento de injustiça que inevitavelmente os levou a duvidar de suas próprias crenças. Por que seu marido ou sua mulher, seu pai ou sua mãe, seu filho ou sua filha seu irmão ou sua irmã, morreram tão jovens? Por que com tanto sofrimento? Por que naquele momento? Por quê? Deus verdadeiramente existe? Será que o misticismo só serve para dar falsas esperanças, tornar a existência menos amarga, dissimular um Não-Ser, escusar um acaso cego e arbitrário? É claro que quando se deixa a mente enredar nesse tipo de engrenagem de perguntas-respostas, surgem tantos "Por quês" quanto motivos para duvidar.

O Eu objetivo por todos os meios, busca tornar-se o dono da situação, pois seu egoísmo vê em tudo aquilo uma oportunidade de ficar mais satisfeito. Com efeito, quanto mais duvidamos da dimensão espiritual da existência, mais damos importância ao mundo material. Em outras palavras, quanto mais questionamos o DEUS de nosso coração, mais o "diabo" de nossa compreensão se rejubila.

Na abrangência deste artigo, não farei o inventário dos numerosos argumentos, ao mesmo tempo lógicos e místicos, provando que Deus, tal como o concebo, não pode deixar de existir. Se você negasse totalmente sua existência, não estaria lendo este texto. O problema não é tão simples quando nos defrontamos com circunstâncias tão aflitivas como a perda de um ente querido. Como já disse, pode acontecer que coloquemos em dúvida nosso ideal místico, porque a morte é bem verdade, priva-nos de uma presença à qual nosso Eu objetivo foi apegado por muitos anos. Mas se a existência da alma sempre foi para nós uma evidência, se consagramos toda uma vida terrena à evolução de nossa alma, como não reconhecer sua realidade no momento derradeiro em que ela deixa o corpo de alguém que amamos tanto quanto amamos a nós mesmos?

O que é verdadeiro para essa grande tribulação o é para todas as outras que marcam nossa existência, pois nenhuma delas deveria nos abalar a ponto de provocar nosso mergulho na Noite Negra. No entanto, a experiência mostra que não somos invulneráveis e que a adversidade pode obscurecer nossa vida espiritual. Por quê? Porque o fato de sermos adeptos do misticismo não faz de nós necessariamente misticos com uma fé inabalável.

Por outro lado nossa análise das provações que sofremos pode ser imperfeita. Penso em particular naqueles que, sistematicamente, tentam compreender as razões cármicas dos sofrimentos físicos ou morais de que são vítimas em certos momentos da vida. Alguns se sentem invadidos pela dúvida quando sofrem provações que atribuem a um carma negativo, ao se ver injustificado, em vista do bem que tinham a certeza de ter espalhado ao seu redor. No âmbito de minha função no seio da AMORC, eles vêm me ver para dizer que não compreendem por quê, após terem passado tantos anos estudando e praticando o misticismo Rosacruz, conheceram tantas derrotas, tantos infortúnios e dissabores. Desesperados, feridos em seu coração e sua alma eles me contam suas dúvidas e, às vezes, o abandono total de sua afiliação à fraternidade dos Rosacruzes. Contudo, como lhes disse, nunca se deve estabelecer uma relação sistemática entre uma provação e o carma negativo.

Em outras palavras, parece-me fundamental compreender que nem todas as provações sejam quais forem, são necessariamente cármicas. Muitas delas tem caráter puramente evolutivo, e sua única finalidade é testar nossa força interior, pressionando ao mesmo tempo nossa aptidão física e mental para sobrepujá-las. 

Uma analogia pode ajudá-lo a compreender isso. Imagine um aluno que tem horror à Matemática e é arguido por seu professor. Essa arguição é para ele uma provação que ele é obrigado a enfrentar, mas que, no entanto, não está ligada a um mau comportamento de sua parte. Essa provação ocorre simplesmente como um acontecimento normal na vida de qualquer estudante. Seu objetivo é incitar sua reflexão e contribuir para a aquisição de certo tipo de conhecimento. Nesse sentido, embora ele a vivencie como uma provação, ela nada tem de cármica. Imagine agora que esse mesmo aluno seja punido por uma razão justificada e que seu professor, como castigo, mande-o fazer um exercício de Matemática. Neste caso, tratar-se-á efetivamente de uma prova cármica pois será o resultado de uma aplicação de seu livre-arbítrio.

Esse princípio aplica-se às provações que todo ser humano é inevitavelmente levado a enfrentar. Algumas, efetivamente são cármicas, mas outras, muitas outras, não o são. Elas existem porque são uma condição "sine qua non" de evolução e porque é impossível, como seres encarnados que somos, evoluirmos sem termos problemas a resolver e dificuldades a superar.

Assim, parece-me muito importante não sermos vítimas de um misticismo mal compreendido, que tenda a associar toda tribulação a um carma negativo. Se assim fosse, deveríamos admitir que, se Jesus foi crucificado, para usar apenas um exemplo, foi para compensar uma sucessão de más ações! Esse tipo de conclusão devemos admitir, é absurdo e opõe-se ao mais simples bom senso. Portanto, quando surgirem provações em sua vida, em vez de procurar determinar se são ou não cármicas, enfrente-as de um modo responsável, o que quer dizer de maneira mística, com a certeza de que é capaz de superá-las e de que elas contribuirão para uma aceleração de sua evolução.

A Noite Negra, nem sempre segue a provações de caráter cármico ou não. Ela pode seguir a um desequilíbrio psicológico cujas causas estão ligadas, na maioria das vezes, à personalidade do indivíduo. Cada um de nós sabe que não tem o mesmo temperamento, o mesmo caráter e a mesma estrutura emocional de outras pessoas. Alguns são psicologicamente mais frágeis que outros, sendo essa fragilidade muitas vezes responsável por uma desordem cíclica que pode traduzir-se numa rejeição de valores pre-estabelecidos. Esse gênero de desordem passageira se produz com frequência nas pessoas ansiosas ou angustiadas por natureza. Quando elas estão em crise consigo mesmas, não conseguem definir a causa profunda de seu estado e o sofrem de uma forma negativa, visto que não querem fazer um real esforço para sair daquela situação. O pessimismo as invade, a dúvida as assalta e sua fé vacila. No mais das vezes é uma influência externa que as coloca novamente nos trilhos até o próximo período negro que, elas bem o sabem, virá novamente mergulhá-lhas na obscuridade. Mas bastaria que no momento em que se sentissem arrastadas pela corrente de suas próprias angústias se voltassem para o Deus de seu coração para que as nuvens que ocultam o sol interior fossem afastadas. Se, em lugar de se fecharem nos recônditos sombrios de suas ideias negras, elas se abrissem à luz de tudo o que é belo, claro e límpido, compreenderiam a que ponto tinham sido vitimadas pela própria falta de confiança em seu ideal.

Esta observação me leva agora a abordar os motivos místicos que estão na origem da Noite Negra. Seja ela consecutiva à morte de um ente querido, a uma multiplicidade de provações ou a um abandono muito fácil às nossas próprias angústias, só pode ensombrecer a existência de um místico virtude do apego que ele devota ao seu ideal ser muito frágil, superficial ou ilusório.

Do ponto de vista esotérico, a Noite Negra é o reflexo de uma vitória obtida por nosso dragão interior. Por isso a vida de todo místico é marcada tanto por Noites Negras quanto por derrotas sofridas pelo anjo que nele existe. Enquanto o ser não tiver atingido o ponto de evolução que propicia a experiência íntima do Divino, permanece vulnerável em sua busca, e sua vulnerabilidade é proporcional à sua fé mistica. Isso pressupõe que bem poucos de nós podem afirmar que nunca conheceram períodos sombrios em sua vida espiritual ou que não os conhecerão mais. O próprio Mestre Jesus num momento supremo de sua missão clamou: "Pai, por que me abandonastes?" Por uma fração de segundo, esse Iniciado do mais alto grau duvidou. Mas a questão essencial é saber do que ele duvidou e do que nós duvidamos quando a Noite Negra mergulha nossa alma nas trevas do ateísmo. Quando examinamos atentamente esse acontecimento da vida mística de Jesus, tudo leva a pensar que ele não duvidou de Deus, mas de si mesmo e de sua capacidade de permanecer fiel em seu sofrimento. Em nosso nível, é exatamente o contrário que acontece quando duvidamos, porque na maior parte do tempo duvidamos de tudo, menos de nós próprios. Mas é nesse nível que se encontra a chave que nos deve permitir vencer todos os períodos obscuros que possam marcar nossa existência. Nos momentos de desespero, nas provações, na adversidade, nunca devemos perder nossa fé mística; pelo contrário, devemos pensar, falar e agir com uma confiança ainda maior em Deus.

É quando devemos recusar todo compromisso com a dúvida. Nossa única preocupação deve ser a de pedir o auxílio do Cósmico para termos força interior para vencer nossa própria fraqueza, pois é nessa vitória que está a solução de todos os problemas, por mais dramáticos que sejam no plano humano. Isto pressupõe que a prece e a meditação constituem nossos dois maiores aliados para fazer brilhar novamente a Luz quando as circunstâncias tiverem mergulhado nosso Sanctum interior na mais total obscuridade. Um antigo adágio que todos conhecem, enuncia que "é melhor prevenir que remediar". Isto é verdadeiro no plano do corpo e também no da alma. Quando a doença nos assalta, às vezes é tarde demais para vencê-la. Por isso devemos nos esforçar para sempre reunir as condições físicas e psicológicas mais favoráveis à manutenção da saúde, e assim lançarmos nossas bases para uma prevenção eficaz. O que devemos fazer pelo bem de nosso corpo, também devemos fazer pelo bem de nossa alma. Em vez de esperarmos até que as circunstâncias alterem nossa vida espiritual e destruam nossa fé mística, devemos cultivar nosso jardim interior, semeando ali as sementes de um amor incondicional à Causa Suprema.

Muitos místicos se perdem nas Noites Negras que criaram para si mesmos, porque simplesmente esqueceram de cuidar da rosa que tinham prometido amar sempre. Mas os anos passaram e o tempo, conforme o que eles fizeram, levou-os para a Luz ou os afastou dela. Assim é, na verdade, a lei implacável a que submetemos nosso livre-arbítrio. Se não despertamos voluntariamente para a consciência da alma, a consciência do Eu objetivo se fortalecerá e tomará o controle de nossa existência. Este princípio é colocado em evidência na analogia que fiz acima com a rosa do nosso jardim interior, pois cada um de nós sabe que a manutenção de um jardim requer uma atividade constante. Não basta fazermos uma boa semeadura para termos uma boa colheita. Precisamos cuidar das sementes e velar para que ervas daninhas não invadam o canteiro. Isto significa que nada de belo, bom e útil pode ser obtido sem esforço. Por isso a atividade é o movente do bem enquanto que a passividade, e inclusive a omissão, são os agentes do mal.

Este princípio aplica-se com mais força ainda à nossa busca espiritual, porque tem a ver com um mundo intangível e invisível. Desejo dizer com isto que é mais fácil preservarmos nosso corpo dos perigos que o ameaçam do que protegermos nossa alma dos ataques do abandono espiritual. No primeiro caso, a ameaça é perceptível; no segundo ela não o é. Isso explica porque um Rosacruz que começa a atrasar o estudo de suas monografias acaba não as abrindo mais. Também é por essa razão que, quando começa a deixar para mais tarde seus períodos de prece e meditação, cada vez fica mais difícil realizar o trabalho que dele se espera. Tendo a natureza horror ao vazio, disso resulta que o vazio que se criou em sua vida interior é progressivamente preenchido por uma existência cada vez mais dirigida para o exterior. Finalmente, chega o momento em que ele não é mais Rosacruz a não ser no nome, quando então reúne as melhores condições para passar pela experiência de uma Noite Negra decisiva para seu futuro místico. Este exemplo voltado mais para os membros da AMORC pode ser adaptado a muitas atividades da vida diária.

Gostaria de insistir no fato de que, ao contrário do que costumamos pensar, a Noite Negra não é um assunto individual. Ela pode afetar a evolução de toda uma coletividade. Muitos são os países que, no decurso da história, vivenciaram o abandono total de suas instituições religiosas, sociais, econômicas etc. Isso porque a alma coletiva de uma nação é o reflexo dos milhões de almas que a compõem. Assim, quando um grande número de indivíduos, num mesmo momento vivencia um profundo abismo interior, a consciência do conjunto é afetada. Se dou essa explicação, é porque a humanidade está atualmente mergulhada numa Noite Negra que corresponde ao combate que se desenrola em cada ser. Talvez nunca antes o homem tenha estado tão pronto para o advento da espiritualidade. Ele se busca cada vez mais, e no caos total que sacode o mundo, está a ponto de pôr em cheque todos os valores que nas sociedades modernas cavaram o abismo entre seu corpo e sua alma. Mais do que nunca, atualmente o homem sente que o materialismo, apesar de ter contribuído muito para o seu bem-estar físico, afastou-o de uma vida interior a que ele nunca renunciou verdadeiramente.

Ora, todos sabem que é quando nos encontramos mais distanciados do que amamos, que buscamos por todos os meios nos aproximar. Por isso, além das aparências, devemos ver em nossa época atual as condições de uma aproximação sem precedentes entre Deus e sua Criação. A Noite Negra que a humanidade atravessa é, em si mesma, a prova de que o anjo não está morto no coração de cada homem, mas que, ao contrário, ele nunca bateu com tanta força no dragão que nele existe. Nesse sentido, o que vivemos no plano mundial é só um efeito aparente de uma guerra espiritual em que cada um de nós é um combatente. Isto significa que, se a maioria dos homens forem vencedores de si mesmos e encontrarem a Luz, a humanidade terá todas as oportunidades de ver surgir o Áureo Alvorecer a que todos os Iniciados se referiram.

Como é isso que todos nós ardentemente desejamos, nosso dever é auxiliar nossos irmãos humanos a preencher o vazio interior que os torna tão desamparados diante dos ataques cada vez mais repetidos das forças do mal. Como? Sendo nós próprios seres responsáveis, fortes, e acima de tudo místicos, não só no nome, mas na ação. Devemos nos comportar de tal forma que todos que entrem em contato conosco vejam em nós alguém cujo otimismo e serenidade são capazes de vencer qualquer provação. Cada vez que a ocasião surja, devemos orientar as conversas no sentido do misticismo e dar provas de que tudo, absolutamente tudo, pode e deve ser tratado do ponto de vista espiritual.

Em suma, onde estivermos e do jeito que somos, sejamos a chama que ilumina a alma de nossos semelhantes e aqueça seu coração. Em minha opinião, esta é a única maneira de lhes mostrar o caminho que toda a humanidade deve seguir para sair do labirinto tenebroso onde está perdida.

O dever de todos os místicos, e não falo só dos Rosacruzes, é induzir progressivamente uma mudança nas mentalidades, de modo a estabelecer o equilíbrio entre as preocupações materiais e as exigências espirituais.

Toda Noite Negra, seja ela individual ou coletiva, é uma iniciação. Ao final de cada iniciação há uma pequena chama e, quando todas as pequenas luzes se fundirem em uma só, a consciência, individual ou coletiva, vivencia a Iluminação Cósmica. O acesso à Luz Maior então é definitivo e as trevas são banidas para sempre.




Christian Bernard, FRC
Ordem Rosacruz - AMORC





Fonte: https://br.groups.yahoo.com/neo/groups/Estacao_Palavra/conversations/topics
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

ESTADO VIBRATÓRIO E ALIMENTAÇÃO

Evidentemente, é importante escolher alimentos sãos e fazer refeições equilibradas, mas o estado em que se come é ainda mais importante: quando as pessoas não tomam certas precauções, podem envenenar-se com o melhor dos alimentos.

Se comeis num estado de perturbação, de cólera, ou noutros estados negativos, impregnais os alimentos de venenos produzidos por tais estados, e esses venenos vão espalhar-se pelo vosso organismo.

O inverso também é verdadeiro: os alimentos são impregnados pelos bons pensamentos e pelos bons sentimentos que possais ter enquanto comeis e alimentam-vos com a sua quinta-essência.

É normal ficar momentaneamente perturbado e irritado por certos acontecimentos; mas, então, mesmo que seja hora da refeição, antes de comer esperai um pouco até terdes recuperado a paz. Se não puderdes esperar, se as vossas ocupações vos obrigarem a comer mesmo nesse momento, fazei ao menos um esforço para vos concentrardes nos alimentos impregnando-os com o vosso respeito e o vosso reconhecimento: quando eles penetrarem em vós, os sentimentos de que eles se tornarão o suporte transformarão os vossos estados negativos.




Omraam Mikhaël Aïvanhov





Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Monte Kailash
Fotografía de Rosa Sorrosal
http://www.good-will.ch/postcards_es.html

A VIRTUDE NÃO TEM AUTORIDADE - DESTRUIR É CRIAR

Para ser livre, você tem que examinar a autoridade, todo o esqueleto da autoridade, despedaçando toda a coisa suja. E isso requer energia, verdadeira energia física, e também, demanda energia psicológica. Mas a energia é destruída, é gasta quando a pessoa esta em conflito. Assim, quando há a compreensão da totalidade do processo de conflito, há o fim do conflito, há abundância de energia. Então você pode prosseguir, despedaçando a casa que você construiu através de séculos e que não tem absolutamente significado. Você sabe, destruir é criar. Devemos destruir, não os prédios, não o sistema social ou econômico – isto acontece diariamente – mas as defesas psicológicas conscientes e inconscientes, as seguranças que se construiu racionalmente, individualmente, profundamente, e superficialmente. Devemos romper tudo isso para ficar totalmente sem defesas, pois você deve estar indefeso para amar e ter afeição. Então você vê e compreende a ambição, a autoridade, e começa a ver quando a autoridade é necessária e em que nível – a autoridade do policial e não mais. Então não existe autoridade de aprender, nem autoridade de conhecimento, nem autoridade de capacidade, nem autoridade que a função assume e que se torna status. Para compreender toda autoridade – dos gurus, dos Mestres e outros – é preciso uma mente perspicaz, um cérebro claro, não um cérebro turvo, não um cérebro embotado.

Pode a mente estar livre da autoridade, o que significa livre do medo, de modo que não seja mais capaz de seguir? Se puder, isto põe um fim à imitação, que se torna mecânica. Afinal, virtude, ética, não é uma repetição daquilo que é bom. No momento em que se torna mecânico, deixa de ser virtude. A virtude é uma coisa que existe de momento a momento, como a humildade. A humildade não pode ser cultivada, e a mente que não tem humildade é incapaz de aprender. Então a virtude não tem autoridade. A moralidade social não é moralidade de fato; ela é imoral porque admite competição, ganância, ambição, e assim, a sociedade está encorajando a imoralidade. A virtude é uma coisa que transcende a moralidade. Sem virtude não há ordem, e a ordem não existe segundo um padrão, segundo uma fórmula. A mente que segue uma fórmula se disciplinando para ter virtude cria para si mesma os problemas da imoralidade. Uma autoridade externa que a mente objetiva, tirando a lei, como Deus, como moral, e assim por diante, se torna destrutiva quando a mente está buscando compreender o que é a virtude real. Nós temos nossa própria autoridade como experiência, como conhecimento, que vamos tentando seguir. Há esta constante repetição, imitação que todos conhecemos. A autoridade psicológica – não a autoridade da lei, o policial que mantém a ordem – a autoridade psicológica, que cada um tem, se torna destrutiva da virtude porque a virtude é uma coisa que está viva, em movimento. Como você não pode cultivar a humildade, como você não pode cultivar o amor, assim também a virtude não pode ser cultivada; e há grande beleza nisso. A virtude não é mecânica, e sem virtude não há base para o pensar claro.




J. Krishnamurti





Fonte: The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal