terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A ESCRAVIDÃO ESTÁ NA MENTE


Uma bem conhecida sentença em um dos Upanishads, afirma que a mente, por si só, é causa, tanto da escravidão, como da libertação do homem. A maioria das pessoas acreditam que está presa pelas circunstâncias e agem como se fossem vítimas, porque não compreendem as forças e condições existentes em torno delas. O homem primitivo, que observava o relâmpago e o trovão, o desaparecimento do sol e a descida da escuridão sobre a terra e vários outros fenômenos, sentia-os como ameaças e que ele devia apaziguar os deus e, para isso, recorrer a feiticeiros, aprender encantamentos, erigir colunas totêmicas e fazer todo tipo de coisas para afastar o mal que ele acreditava pudesse sobrevir. Os mesmos fenômenos, vistos pelo homem moderno, não geram nele mais o medo, porque o conhecimento o fez compreender as leis e forças operando por detrás dos fenômenos.

Há uma teia de forças na natureza que cria as condições nas quais as pessoas vivem. Elas incluem forças como a gravidade, a eletricidade e o magnetismo. O homem sabe como essas forças funcionam e é capaz de predizer as condições que serão criadas. Pode controlar as circunstâncias em torno dele, alterando e regulando tais leis. O conhecimento habilita-o a mudar as condições e a não considerar a si mesmo como vítima delas. Esta é a posição do homem agora em relação àquela parte do mundo fenomênico que passou a compreender. 

Vôos à Lua e comunicação através de satélites com distantes partes da terra são maneiras de conquistar o ambiente. Mas o conhecimento do homem, mesmo agora, pertence a um campo muito limitado. Os homens brilhantes que podem manipular a natureza e neutralizar as forças de gravidade etc., são também vítimas das circunstâncias no campo psicológico. A ignorância torna-os temerosos e inseguros e tão escravizados pelas forças interiores, quanto o homem primitivo o era em relação às forças externas, físicas. No campo psicológico também, as forças criam as condições e aquele que quiser ser livre e destemido, deve compreender as leis que operam. Uma das três grandes verdades proclamadas no livro “O Idílio do Lótus Branco”, declara: “CADA HOMEM É SEU ABSOLUTO LEGISLADOR, O DISPENSADOR DE GLÓRIA OU ESCURIDÃO PARA SI  MESMO, O DECRETADOR DE SUA VIDA, RECOMPENSA E PUNIÇÃO”.

Em outras palavras, cada homem cria as condições ao seu redor, o seu  carma. A escravidão nada mais é senão a prisão construída pelas forças-cármicas que cada um cria. A escravidão diz-se estar no ciclo de nascimentos e mortes, a compulsão para o sofrer. São modos diferentes de afirmar a mesma coisa. 

A maioria das pessoas acredita que pode escapar das consequências de seus atos, mentais e físicos. Existem algumas que reconhecem, pelo menos teoricamente, que não é possível escapar das consequências das forças que liberam, mas não creem realmente nisso. Se acreditassem no carma, seriam extremamente cuidadosas acerca de tudo o que fazem, o que pensam e sentem, seu relacionamento com as outras pessoas e assim por diante. A fraqueza da crença é tornada evidente pela negligência na conduta. É possível escapar às consequências de um ato no mundo físico durante o curso de uma vida. No caso de uma pessoa que rouba, ela pode ser presa imediatamente ou sua falta pode permanecer encoberta durante muito tempo; mas não pode escapar dos resultados indefinidamente, pois “os moinhos de Deus moem lentamente”, trituram até pedaços extraordinariamente pequenos. No entanto, o que é mais sério não é a descoberta do roubo e a pessoa ser presa, mas o efeito da consequência imediata no campo psicológico.

Aquele que engana outra pessoa e pensa que pode ir embora, ilude-se dolorosamente. Muitas pessoas encobrem fatos ou os deturpam ao relatá-los, pretendendo serem diferentes do que são. Não é raro se mostrar uma face diferente sob circunstâncias diferentes. Tudo isso acontecem porque no fundo da mente há um sentimento de que se pode escapar. Na verdade, porém, há um efeito imediato quando há qualquer ação. Quando há um ato de enganar, dá surgimento a um certo “momento” na psique da pessoa. Esta é a imediata, mas invisível consequência. Há muitas coisas na psique que não são percebidas. Há as memórias conscientes e também as inconscientes. Se você encontra alguém a quem não vê ou na qual você não pensa há anos em sua mente consciente, pode não haver memória dessa pessoa, se ela é desta ou daquela maneira. Tudo desaparece. Posteriormente você a encontra e a reconhece. Esse reconhecimento significa que, embora a mente consciente não mantivesse nenhuma memória, a inconsciente manteve-a e essa recordação veio à superfície. O reconhecimento implica em comparar como agora ela aparece, seu comportamento, seus gestos etc.

Contudo, há memórias mais profundas. As pessoas têm recordações da infância que estão além da lembrança, exceto sob hipnose ou em momentos de crise. Atrás do limiar da memória consciente há toda um área, como um iceberg oculto. Se a energia é liberada na psique, o “momento” também pode submergir abaixo do nível consciente. Quando há uma oportunidade adequada, ele consegue manifestar-se. Por exemplo, quando uma ação é fraudulenta, como dissemos antes, um “momento” é criado, que pode estar oculto e dormente, abaixo do nível consciente. Num determinado instante, transforma-se num impulso para fazer o mesmo tipo de coisa. Isto torna-se um círculo vicioso, de escravidão; a ação que cria a tendência, a tendência que impele à ação, seja ela de fraude, medo ou inveja, ou uma mistura de vários tipos.

No ser humano existem inúmeras tendências “empurrando” a pessoa indiretamente, queira ou não, saiba ou não. Quando uma pessoa sofre de timidez ou medo, cada sombra a faz sentir que pode haver um inimigo oculto. Quando há orgulho, um homem imagina que há intenção de ofendê-lo, mesmo diante de uma afirmação inocente a seu respeito. Além disso, a mente inconsciente conecta o sentimento com características externas pertencentes a outra pessoa, de quem o perigo ou o insulto é pensado decorrer. Assim, as pessoas têm reações compulsivas contra negros ou brancos, judeus etc., e contra todos os tipos de coisas. “Momento”, tendências e compulsões vêm à tona no campo da ação, não apenas do passado recente mas das profundezas até de nossa natureza animal. A maioria das pessoas age de acordo com esse profundo condicionamento.

Enquanto há compulsão de dentro, um “momento” sobre o qual não há controle, não há liberdade de modo algum. É a escravidão que  a mente cria, porque está num estado de não apercebimento, já que não se dá ao trabalho de descobrir o que está acontecendo a si mesma.

Os condicionamentos da mente criam enormes problemas – de cor, nacionalismos, diferenças raciais etc. Por causa desse condicionamento existente, ela identifica-se com a família, a comunidade, a religião etc. Mas a mente pode libertar-se se vê que está criando círculos dentro dos quais está escravizada. Não é necessário que alguém seja vítima de qualquer circunstância. Em lugar de criar “momentos” de insinceridade ou medo através do não-apercebimento, a pessoa pode gerar outras energias, tais como paciência, afeição e calma. Estas regras surgem através do apercebimento e têm uma qualidade de estabilidade. Não são reações.

Atrás da vigilância e do cuidado exercidos na vida diária, a pessoa pode começar a perceber o que é o estado de liberdade. Dentro da mente há possibilidades de escravidão, como de liberdade. Não se tem de rezar a algum Deus, encontrar um sacerdote, para libertar a si mesmo, mas apenas descobrir o que está profundamente no interior. O Bhagavad Gita fala do homem estável, que não é dependente, porque as circunstâncias não têm poder sobre ele. Isto é o que todos os seres humanos têm de aprender. Pela ativa vigilância, a pessoa cessa de ser vítima das condições e torna-se uma fonte de energia espiritual.




Radha Burnier  
(Presidente Internacional da Sociedade Teosófica)



(desconheço a fonte do texto)

Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal


AHINSA

Ahinsa é uma qualidade positiva e dinâmica de amor universal, e não uma simples atitude de não violência.

Aquele que a desenvolve, vive rodeado de uma invisível aura carregada de amor e compaixão, embora não os expresse ao nível emocional.

Uma vez que o amor é o poder que liga em união espiritual a todos os fragmentos separados da vida una, qualquer indivíduo imbuído de semelhante amor, está internamente afinado com todas as criaturas viventes e, automaticamente, as inspira em confiança e amor.


Dr. I. K. Taimini


Fonte: do livro “A Ciência da Ioga”
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

COMO CONCILIAR LIVRE-ARBÍTRIO COM PRESCIÊNCIA DIVINA?


“Na esfera individual, o livre-arbítrio é o único elemento dominante. A existência de cada homem é resultante de seus atos e pensamentos.” Emmanuel [1]


Perante o conhecimento antecipado que Deus tem de todas as coisas, pode-se verdadeiramente afirmar a liberdade humana? Eis aí um árduo problema de metafísica!...

Em sua obra admirável, Léon Denis vem em nosso socorro em tão intricado assunto, informando-nos que esta “questão aparentemente complexa e árdua que faz correr rios de tinta possui solução das mais simples. Mas o homem não gosta de coisas simples; prefere o obscuro, o complicado, e não aceita a verdade senão depois de ter esgotado todas as formas do erro...

Deus, cuja ciência infinita abrange todas as coisas, conhece a natureza íntima de cada homem e as impulsões, as tendências, de acordo com as quais poderá determinar-se. Nós mesmos, conhecendo o caráter de uma pessoa, poderíamos facilmente prever o sentido em que, numa dada circunstância, ela decidirá, quer segundo o interesse, quer segundo o dever. Uma resolução não poderá nascer de nada. Está forçosamente ligada a uma série de causas e efeitos anteriores de que deriva e que a explicam. Deus, conhecendo cada alma em suas menores particularidades, pode, pois, rigorosamente, deduzir, com certeza, do conhecimento que tem dessa alma e das condições em que ela é chamada a agir, as determinações que, livremente, ela tomará.

Notemos que não é a previsão de nossos atos que os provoca. Se Deus não pudesse prever nossas resoluções, não deixariam elas, por isso, de seguir seu livre curso. É assim que a liberdade humana e a previdência divina conciliam-se e combinam, quando se considera o problema à luz da razão.

O círculo dentro do qual se exerce a vontade do homem, é, de mais a mais, excessivamente restrito e não pode, em caso algum, impedir a ação divina, cujos efeitos se desenrolam na imensidade sem limites. O fraco inseto, perdido no canto de um jardim, não pode, desarranjando os poucos átomos ao seu alcance, lançar a perturbação na harmonia do conjunto e colocar obstáculos à obra do Divino Jardineiro.

(...) A liberdade é a condição necessária da alma humana que, sem ela, não poderia construir seu destino. É em vão que os filósofos e os teólogos têm argumentado longamente a respeito desta questão. À porfia tem-na obscurecido com suas teorias e sofismas, votando a Humanidade à servidão em vez de a guiar para a luz libertadora. A noção é simples e clara. Os druidas haviam-na formulado desde os primeiros tempos de nossa História. Está expressa nas “Tríades” por estes termos:

Há três unidades primitivas: Deus, a luz e a liberdade.

À primeira vista, a liberdade do homem parece muito limitada no círculo de fatalidades que o encerra: necessidades físicas, condições sociais, interesses ou instintos. Mas, considerando a questão mais de perto, vê-se que a alma tem sempre liberdade suficiente para quebrar este círculo e escapar às forças opressoras.

A liberdade e a responsabilidade são correlativas no ser e aumentam com sua elevação; é a responsabilidade do homem que faz a sua dignidade e moralidade.

Para todo Espírito, por menor que seja o seu grau de evolução, a Lei do dever brilha como um farol, através da névoa das paixões e interesses. Por isso, vemos todos os dias homens nas posições mais humildes e difíceis preferirem aceitar provações duras a se abaixarem a cometer atos indignos.

O livre-arbítrio é, pois, a expansão da personalidade e da consciência.

Para sermos livres é necessário querer sê-lo e fazer esforço para vir a sê-lo, libertando-nos da escravidão da ignorância e das paixões baixas, substituindo o império das sensações e dos instintos pelo da razão.

Isto só se pode obter por uma educação e uma preparação prolongada das faculdades humanas: libertação física pela limitação dos apetites; libertação intelectual pela conquista da verdade; libertação moral pela procura da virtude. É esta a obra dos séculos.

Allan Kardec publicou na “Revue Spirite” de outubro de 1863 uma página mediúnica, onde um Espírito familiar narra possuir o Universo uma grande lei que domina tudo: A Lei do Progresso.

“É em virtude dessa lei” – ensina o Espírito, na obra citada – “que o homem, criatura essencialmente imperfeita, deve, como tudo quanto existe em nosso globo, percorrer as fases que o separam da perfeição. Sem dúvida, Deus sabe quanto tempo cada um levará para chegar ao fim; como, porém, todo progresso deve resultar de um esforço tentado para o realizar, não haveria nenhum mérito se o homem não tivesse a liberdade de tomar este ou aquele caminho.

Não se poderia afirmar sem blasfêmia, que Deus tenha querido a infelicidade de Suas criaturas, desde que os infelizes expiam sempre, tanto uma Vida anterior mal empregada, quanto sua recusa a seguir o bom caminho, quando este lhe era mostrado claramente. Assim, depende de cada um abreviar a prova que deve sofrer; e, por isto, os guias seguros, bastante numerosos, lhe são concedidos, para que seja inteiramente responsável por sua recusa de seguir seus conselhos. O livre-arbítrio existe, pois, muito realmente no homem, mas com um guia: a consciência.

Vós todos que tendes acesso ao grande foco na nova ciência, (o Espírito refere-se ao Espiritismo), não negligencieis de vos penetrar das eloquentes verdades que ela vos revela, e dos admiráveis princípios que são a sua consciência.

Segui-os fielmente: é aí, sobretudo, que brilha o vosso livre-arbítrio.

Penetrai-vos de todos os preceitos que vos chegam do Mundo Espírita Superior e assim tereis contribuído em larga parte para a realização dos desígnios da Providência.”

[1] - Emmanuel/Xavier, F.C. “Palavras do Infinito”


Rogério Coelho


Fonte: Espiritualidade Sociedade - http://www.espiritualidades.com.br/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal