segunda-feira, 10 de abril de 2017

A LUA CHEIA DE ÁRIES - MEDITAÇÃO


Quando o Sol entra no campo da energia de Áries, há uma sincronização perfeita entre Áries, o Sol, Marte, Mercúrio e a Terra, que representa um sistema elétrico através do qual a energia de Áries é transmitida a todos os reinos da Natureza. A distribuição da energia de Áries sobre a Terra é feita pelos Mestres avançados, pelos seus discípulos, por determinados devas e através de dedicados grupos de servidores. (É o que somos quando nos propomos a participar desta meditação!).

A lua cheia de Áries é dedicada ao Cristo, ao Cristo em ascensão, sendo chamado Festival da Ressurreição. ... O maior presente do Cristo para a humanidade é o conceito de ressurreição, que nos foi dado quando o Sol estava na constelação de Áries...

A energia de Áries é ígnea. Carrega e estimula as Centelhas em todas as formas, ajudando-as a avançar e a progredir. A Ressurreição é um avanço progressivo da Centelha. É a luta, o trabalho. A luta é o esforço do Espírito para conquistar a matéria, o corpo e as emoções, e para conquistar o espaço e o tempo.

Este raio é lançado no reino mineral e, por séculos e séculos, a Centelha luta, trabalha pesado para destruir Suas limitações e prisões da matéria, e ingressa no reino vegetal. É uma grande ressurreição, porque a Centelha se lança da sepultura da matéria e começa a viver o perfume, a cor e a beleza. É uma grande vitória para o raio do Sol Espiritual.

Então, num grande dia, a Centelha do reino vegetal ingressa no animal. A Centelha estava fincada no reino vegetal, mas sai e passa a fazer parte do reino animal. É mais uma grande vitória para Ela e outro passo ruma à ressurreição.

A Centelha animal trabalha muito e sofre por séculos e séculos, até que num dia especial começa a falar e a pensar: é o passo principal do caminho da ressurreição. A Centelha torna-se um ser humano. Alguns desses seres trabalham bastante, sofrem muito, se esforçam, servem e se sacrificam, e, por tudo isso, ingressam no quinto reino.

O quinto reino é o dos Imortais através do qual passaram Cristo, o Senhor Buda, Zoroastro, Hércules e outros. Os grandes nos dizem que o caminho da ressurreição não pára aqui, mas continua até o sexto e sétimo reino. O sétimo reino nos liberta do sistema solar. É a consumação do caminho da ressurreição para um ser humano.

O processo de ressurreição dos reinos inferiores repete-se no ser humano: aqui começa o caminho mais difícil. Entramos no reino humano e ali somos fincados. Assim como a Centelha foi cravada no reino mineral, assim somos fincados no nosso corpo físico. Pensamos que somos o corpo e que além do corpo não há mais nada. Morremos para a forma. Matamos os outros pela matéria. Isso indica que, embora estejamos numa espiral mais alta ainda continuamos cravados no reino mineral, representado pelo nosso corpo.

Os que realmente lutam e trabalham no processo da ressurreição, que é o processo de tornar-se um Ser, algum dia escaparão desta armadilha e entrarão no nível emocional da conscientização.

O plano emocional, com seus gostos e idiossincrasias, com sua suscetibilidade, suas emoções negativas, seus encantos e redemoinhos emocionais, entre outros, é como uma selva. Se um ser humano pretende atingir a ressurreição de si próprio e entrar nos reinos mais elevados, deve conquistar seus sentimentos e encantos, que são identificações emocionais.

A pessoa deve então penetrar no mundo mental, que não é uma selva ou armadilha, mas uma prisão. Procura, desta vez, escapar da prisão que foi construída pelas suas próprias mãos. A mente é uma prisão quando age através das ilusões ou de fatos deturpados. Há muitas tramas na mente, como o orgulho, a vaidade, o egoísmo, o isolacionismo. Aprisionados por ela não é fácil escapar.

Mas o caminho da ressurreição continua. A Centelha não pode deter-se em nenhum estágio. Não importa quanto tempo. Não importa quanto tempo Ela permanece em um nível de aquisição; um dia ela romperá as paredes da Sua prisão e ingressará em outro reino.

A ressurreição é um processo de construir pontes entre um reino e outro. A ponte mais importante no nosso nível é a que existe entre a personalidade e a Tríade Espiritual. Os que trabalharem duro e dominarem suas necessidades e impulsos, encantos e ilusões, construirão a ponte.

A palavra-chave para os discípulos é: “Eu saio e venho do plano da mente que Eu governo.” Se uma pessoa não consegue pensar com a mente superior, será dirigida pela sua natureza física, pelos seus impulsos e tendências, pela sua natureza emocional, pelos seus encantos e emoções negativas, e também pela sua mente inferior, que divide, separa e pensa em termos de seus próprios interesses.

No caminho da ressurreição vencemos os nossos inimigos através da perseverança alimentada pela energia da vontade. Nossos inimigos são nossos pensamentos separativistas que funcionam como grades de uma cela aprisionando nossos conceitos sobre nós mesmos e sobre os outros. Nossos inimigos são nossas emoções negativas e nossos impulsos egoístas.

Durante o período da Lua Cheia de Áries a energia da vontade é contatada e utilizada apropriadamente no processo de evolução, nos planos mentais superiores.


(Este período de Lua Cheia é considerado juntamente com o período da Lua Cheia de Touro e Gêmeos como os mais importantes porque representam a tríade essencial a partir da qual outras tríades se formam para a sustentação do Plano Divino. Áries contém a força da ressurreição. Essa força pode ser verificada no estourar de uma semente quando brota e nos nossos corações quando somos invadidos por uma Vontade imensa de libertarmo-nos de algo do passado.)




Claudia de Luca




Fonte: do livro "Meditar na Lua Cheia é Construir a Nova Era"
Fonte da Gravura: pixabay.com - CC0 Creative Commons - Public Domain




Bibliografia e Sugestões Bibliográficas:

Saraydarian, T. Sinfonia do Zodíaco. Tradução Ângela do
Nascimento Machado. São Paulo. Editora Pensamento.1980.

Saraydarian, T. The Hierarchy and the Plan. Tradução Editora
Aquariana. Revisão Maria Helena da Nóbrega. Impressão Editora Parma. São Paulo. Editora Aquariana Ltda. 1990.

Beltrán Anglada, Vicente. Os Mistérios de Shambala. Tradução
Wania Santiago Lourenço. São Paulo. Aquariana. 1991.

Bailey, Alice A. Um tratado Sobre Magia Branca: O Caminho do Discípulo. Tradução; Jaime Treiger. 2a. ed. Revisada. Niterói. Fundação Cultural Avatar. 1991.

_______ . Psicologia Esotérica. Volume I, Tradução; Jaime
Treiger. 2a. ed. Revisada. Niterói. Fundação Cultural Avatar. 1994.

_______ . Do Intelecto à Intuição. Tradução autorizada por
membros da Fundação Cultural Avatar. Niterói. Fundação
Cultural Avatar. 1988.

MEDITAÇÃO PARA LUA CHEIA DE ÁRIES - O CARNEIRO


Esta lua cheia de áries, cujo símbolo é uma cabeça de carneiro, significa a entrada direta da eternidade nos ciclos do tempo.

Este símbolo representa os dois chifres do Carneiro dos Céus, que são as duas metades em que se divide o ano e que se complementam entre si.

Meditemos neste símbolo no ponto em que se encontram as duas sobrancelhas ao baixar ao longo do nariz. Isto nos indica como o tempo entra em nós em forma de nossa mente. A mente é somente consciência que se mede no despertar. Enquanto consciência, podemos ser definidos como o Princípio Eterno truncados pelo nascimento.



O sol corta o equador de sul a norte ao entrar no signo de áries e é dito que a cabeça do Deus Anual é cortada e substituída por uma cabeça de carneiro quando o sacrifício do ano completa seu círculo.

A criação enteira desta Terra se desperta no corpo do Deus Anual ao ir sendo criada nos diversos seres viventes da Terra.

O fogo invisível existe em forma de céu e o fogo visível existe como Deus Solar.

O explendor do Deus Solar se manifesta nas formas dos ciclos da estação em que o sol faz sua entrada no signo de áries.

Meditemos sobre este signo quando a lua cheia passa por ele e experimentaremos a luz mais brilhante de teu ser.

Que o Senhor dos Ciclos esteja conosco em forma de consciência enquanto meditamos na lua cheia de áries.



Ekkirala Krishnamacharya




Fonte: do livro "Meditações de Lua Cheia"
Editado por Dhanishtha, Barcelona, Espanha
Fonte das Gravuras: pixabay.com - CC0 Creative Commons - Public Domain

REINO DOS SENTIDOS - UM CAMINHO SEM FIM


Não se envolva no cultivo ou na promoção de vontades e desejos. Esse é um processo sem fim de semear e colher; você nunca alcançará contentamento e um desejo, quando satisfeito, incitará a sede de dez mais. Não corra atrás de desejos sinuosos ou de satisfações tortuosas. Todos os caminhos que conduzem ao reino dos sentidos são tortuosos e cegos, somente a estrada que conduz ao caminho do Senhor é reta. Cultive a retidão em cada ação, isso revelará o Eu Divino. Simplicidade lhe permitirá superar as três gunas (características). Nenhuma Guna única deve dominar; todas devem ser domesticadas para preencher o lago da bem-aventurança. É a sua bem-aventurança interna que importa, não o externo, o sensorial, o objetivo e o mundano. Se a estabilidade interna ou o equilíbrio interior não forem perturbados pelos altos e baixos externos, isso é um sinal certo de sucesso espiritual. (Discurso Divino, 12 de abril de 1959)




Sathya Sai Baba





Fonte: www.sathyasai.org.br
Fonte da Gravura: tumblr.com

SEGUNDA-FEIRA SANTA - DIA DA LUA


“A antiga clarividência ligada ao corpo era um dom da Lua, uma intervenção de forças lunares na natureza humana. Era relativo à noite, porque estava á disposição dos homens em estados inconscientes.”


No caminho que Jesus e seus discípulos fizeram todas as manhãs e todas as tardes da Semana Santa, da cidade para Bethânia à tarde ou vice-versa de manhã, existe um local tranquilo que ainda hoje está envolto no denso ambiente de um mistério. Partindo de Jerusalém, atravessamos o cume do Monte das Oliveiras e, lentamente, descemos pela outra encosta, onde vemos brilhar, em meio ao deserto da Judéia, o espelho mágico do Mar Morto; a meio caminho entre o Monte das Oliveiras e Bethânia encontramos um local cercado por altos muros. Ciprestes negros despontam por trás dos muros e parecem graves e solenes sinais apontando para o céu. Havia aí, no tempo de Jesus, uma pequena vila: “Betfagé” (a casa dos figos). Não devemos imaginar uma aldeia como outras aldeias. O grupo de pessoas que para lá transferira sua vida comunitária era unido por um esforço psico-espiritual especial.

As modestas cabanas eram cercadas por um pomar de figueiras. Mas essas figueiras não eram apenas plantas frutíferas; eram, para aqueles habitantes, árvores sagradas, sinais visíveis de seus esforços espirituais. Tratava-se de pessoas que, em seu círculo, procuravam conservar o mistério (segredo) espiritual da antiga Humanidade, mistério que surge, uma vez, também no Novo Testamento, na história de Nathanael. Os moradores de Betfagé praticavam o “sentar-se sob a figueira”, o estado vidente atingido através de exercícios, em parte físicos, em parte meditativos.

Betfagé, a casa dos figos, era um sítio onde se praticava a antiga clarividência. Foi de lá que Jesus, na manhã do domingo de Ramos, mandou Pedro e João trazerem o jumento e o burrinho. Lá existiam árvores sagradas e, do mesmo modo, animais sagrados. Os jumentos ali mantidos não eram animais de carga. Também eles expressavam um mistério naquele círculo de pessoas. Na corrente do Velho Testamento estava bem viva a memória daquele mago que fora mandado certa vez da Babilônia a fim de conjurar o impedimento de entrada do povo de Israel à Terra Prometida.

Bileam era descrito montado numa jumenta. Sabia-se, no entanto, que montar em jumenta não era apenas um modo de locomoção. Expressava um bem definido estado de alma, a saber, aquele enlevo sonâmbulo sob o qual o mago babilônico começava a falar, não em estado de consciência humana, mas como que espiritualmente possesso: entretanto, sem que ele soubesse como, a imprecação mágica que ele queria lançar contra Israel transformou-se em bênção. Os animais sagrados de Betfagé revelam que a visão ali praticada era de natureza inconsciente e ligada à corporeidade física: aliás, até nos contos de fada mais recentes, o jumento é o símbolo do corpo físico humano.

O filhote de jumento, no qual o Cristo montou para entrar na Cidade Santa no domingo de Ramos, pertence à esfera de imagens de Betfagé. Mas, quando ele teve a audácia de entrar na cidade montado no branco animal sagrado, não foi ele quem mergulhou no estado bileâmico de “montar uma jumenta” quem caiu em alienação extática, ao vê-lo, foi à massa popular. Foi como se um linguajar bileamítico se apoderasse do povo quando este chamava “hosana” àquele que chegava no dorso do jumento.

À noite, Jesus, como também faria nas noites seguintes, fora com seus discípulos para Bethânia para repousar. Durante a noite, o eco do êxtase popular, gritando “hosana”, ergueu-se em sua alma. Ele e seus discípulos não são mais os mesmos como no dia anterior, ao voltarem do dia seguinte a Jerusalém. Novamente passam por Betfagé. Na fisionomia de Cristo lê-se algo de extremamente grave, inexorável. Acontece, então, o fato misterioso: ele se aproxima das figueiras de Betfagé. Os discípulos se admiram, pensando que ele quer comer figos quando não é época destas frutas. E ouvem-no pronunciar a estranha e severa sentença: “Ninguém mais comerá destes figos, para todo o sempre”. Talvez naquele momento apenas supuseram que era subtendido algo de mais importante do que uma simples afirmação sobre a árvore e sua fertilidade. Mas não tiveram sua visão desvendada.

Os discípulos passam, então, um dia em Jerusalém com o Cristo, este dia que desenvolve dramaticamente toda a grave severidade. Ao atravessar a soleira do templo, irrompe o caos. Espalha-se o pânico, derrubam as mesas, o dinheiro rola no chão. Dá-se a inversão do êxtase jubiloso da véspera. O terror se apodera de todos os que estão na zona do templo.

Após pernoitarem novamente em Bethânia e, passando de manhãzinha outra vez por Betfagé, os discípulos subitamente têm a visão da árvore seca e pedem que Jesus lhes explique o mistério. Não aconteceu nenhum milagre grosseiro no qual Jesus teria, com suas palavras iradas, privado de vida uma criatura da terra. Como poderia ele ter destruído uma arvore pertencente àqueles que lhe haviam oferecido a jumenta e o filhote! O que aconteceu foi um ato espiritual que significa um importante entroncamento no drama do mistério da Semana Santa, nesse dia aparentemente de pouca importância.

No domingo de Ramos, embora a ressurreição do Lázaro desse o sinal para a luta decisiva, todo o ser do Cristo estava em atitude de dar, de oferecer.

Foi uma impressão positiva de seu ser que tocou as almas do povo. Devemos lembrar-nos também no simples significado humano do momento. Jesus foi ao Templo para orar e sacrificar como os outros fiéis, preparando a festa da Páscoa. Mas a previsão de importantes decisões apoderou-se de todo o seu ser. Impossível continuar inofensivo. A aura volitiva de seu ser, lançando faíscas de luz, contribuiu para induzir o povo na visão extática de sua grandeza solar. O Cristo perscruta a superficialidade e inconstância deste entusiasmo apenas natural, mas ainda não tem um pretexto para realizar sua defesa e seu contra-ataque. O povo tem razão. Não clamariam “hosana” se não tivessem percebido algo de seu verdadeiro ser. Ele não pode dizer que estão errados, como se confirmará no dia seguinte ao repetir-se a cena na zona do templo. Desta vez é um grupo de crianças que grita “hosana” porque um raio de seu verdadeiro ser penetra em suas almas. Os adversários perguntaram, astutos: “Que dizer quanto ao fato de crianças te aclamarem com “hosana”? Ele retruca: “Jamais lestes nas Escrituras, o trecho: da boca dos inocentes preparei-lhe louvores”?

Mas agora ele passou a noite em Bethânia. Tornou certa distância da vibração do domingo de Ramos. Aproxima-se das figueiras de Betfagé. Quer mostrar aos discípulos o quanto vale o “hosana” da véspera. Fora apenas o último fruto da árvore da antiga clarividência. Um resíduo da antiga força visionária ligada à natureza e ao corpo. Através das palavras que ele fala à figueira, ele renega todo o mundo das velhas visões extáticas. Sentimos algo de uma grande decisão para a humanidade. Jesus desvaloriza o “hosana” do povo e, ele mesmo, induz a transição para o “crucificai-o”! Ele possui a incrível coragem de aceitar e, pessoalmente aduzir a cegueira espiritual pela qual os homens deverão, fanaticamente, exigir sua morte. Para ele é mais importante que a humanidade trilhe os seus caminhos da consciência que, embora trágicos, a levarão à liberdade; embora sabendo que esta necessária cegueira espiritual levará os homens a crucificá-lo.

Quando os discípulos, na terça-feira de manhã, reveem as figueiras de Betfagé, os acontecimentos da segunda-feira só afastaram o sonho dos seus olhos. Perderam uma ilusão. Experimentam uma salutar sobriedade. Onde ainda há pouco viam um alto valor, vêem agora a imagem da árvore seca. A antiga clarividência ligada ao corpo era um dom da Lua, uma intervenção de forças lunares na natureza humana. Era relativo à noite, porque estava á disposição dos homens em estados inconscientes. Agora os discípulos percebem que as forças resumidas na imagem da figueira estão velhas, ultrapassadas.

O que Jesus lhes ensina agora é um prelúdio daquilo que lhes dará na misteriosa noite da mesma terça-feira no alto do Monte das Oliveiras. Revela-lhes que a humanidade alcançará algum dia uma nova vidência. A “fé” é o germe da nova visão. Jesus diz aos discípulos: “Se tiverdes um grãozinho de fé, sereis capazes de tudo. Bastará que digais a esta montanha: afasta-se, e ela se afastará. A visão se liberta; a montanha do mundo sensorial, que vos oculta a visão, desaparecerá. Através dos rochedos da existência terrena, percebereis a verdadeira essência de origem divina das coisas”. A visão antiga era de natureza lunar, a nova será solar. A força solar da fé fará abrir-se no coração humano o olho da nova visão, como diz o trecho das bem-aventuranças: “Bem-aventurados os puros de coração, pois eles verão a Deus”. Entre a visão inútil e a nova visão do coração que se torna solar, situa-se o período das trevas, da cegueira diante do espírito. E a partir desta cegueira espiritual, os homens crucificarão o Cristo.

Na segunda-feira santa o Cristo se defende de uma tentação. Se ele atasse sua atividade aos antigos estados de alienação clarividente, ele poderia ser reconhecido pelos homens. Não o aclamariam apenas com “hosana”, mas o escolheriam como rei. Revela-se agora, definitivamente, que o Cristo não quer atar-se às velhas forças. Trata-se para ele única e exclusivamente de fazer com que a humanidade encontre o caminho da consciência e da liberdade. No começo dos três anos, ele enfrentara a tentação de transformar morte em vida. Agora, no final de sua caminhada, na defesa contra a tentação até mesmo executa isto, de transformar vida em morte. Não é uma maldição, por carência de amor que ele executa nas figueiras daqueles que lhe oferecem a jumenta e o filhote. Não! O efeito parte da sua essência. Ele é o sol. E, quando nasce o sol, a lua empalidece. Assim empalidecem as forças lunares da antiga vidência. Revela-se que elas não têm futuro quando nasceu o sol da nova luz da alma.

O Cristo chega à praça do templo, o antiquíssimo e sagrado morro da Lua na mais velha cidade da humanidade. Já se inicia aí o grande movimento da Páscoa. Já aparecem muitas centenas de peregrinos. Ao redor do templo praticam-se compras, vendas, pechinchas e negócios. E, no próprio recinto do templo, reina uma atividade febril, pois o conteúdo das cerimônias pascais será o oferecimento de animais e o sacrifício da ovelha pascal. Isto permite fazer negócios porque tudo o que será sacrificado tem que ser primeiro comprado. E, por isso, formou-se uma quermesse no lugar onde deveria reinar o mais sagrado ambiente cultural. O velho Hannas, o mais notório “pão duro” da História, sabe fazer negócios. Já extraiu enorme fortuna do mercado do templo. Como presidente do conselho de altos sacerdotes saduceus, Hannas é também a força motriz dos compromissos políticos nos quais se baseiam os negócios ligados ao templo. Para comprar, os peregrinos devem cambiar o dinheiro que trouxeram de todos os países, em moeda oficial, nacional. Ora, esta moeda é de César. E, portanto, o local de vendas é, ao mesmo tempo, uma bolsa de valores romana. Admitiam-se os funcionários e alfandegários romanos, embora se soubesse que eram fiéis ao culto dos césares. Permitia-se-lhes o acesso, temendo que, caso contrário, os romanos pudessem roubar o Santíssimo do templo. E, assim estabelecera-se uma extrema materialização e profanação daquilo que fora uma vida puramente cultural. Na imagem da figueira seca, os discípulos viram a decadência da antiga consciência religiosa. Na imagem do mercado que se expandia na zona do templo revelava-se a decadência do culto religioso.

É neste local que penetra o Cristo. Vem para cumprir os ritos da festa. Mas o fogo, as faíscas de sua seriedade produzem efeito. Ele nem precisa falar muito: os homens são logo tomados de pânico. A pessoa de Cristo lhes revela, de modo terrificante, a decadência em que caíram. No começo dos três anos, na primeira festa pascal, sucedera algo semelhante. O efeito de grande terror partira então do caráter divino do Cristo, não obstante a grande reserva que Jesus ainda se impunha. Mas, agora, a divindade, nele, se transpôs inteiramente em caráter humano. Transformou-se em flamejante intensividade volitiva. Ele tem direito a arrancar a máscara do mundo degenerado do templo e a desencadear a tempestade. Sua atitude chega a ser em si mesma uma defesa contra a tentação, a saber, a tentação de permanecer atado ao antigo estado das coisas. Torna-se agora bem claro: o que poderá dar à humanidade em futuro espiritual só pode ser algo de radicalmente novo. No campo da consciência humana a vidência lunar tem que morrer, mesmo que isto acarrete uma penosa caminhada pelo deserto. O futuro só poderá florescer pela fé, pela vidência solar do coração. Também na esfera do culto, o antigo tem que ser despedido sem escrúpulos. Nada pode mais ser ligado ao antigo, por mais venerável que este tenha sido. Algo novo tem que entrar na vida. É o sol do Cristo que apaga no morro lunar Morija a luz da lua. O sol rechaça os fantasmas noturnos. A zona do templo, grandiosamente situado com vista para o mundo é silenciosamente substituída no morro Sion, na modesta sala da Santa Ceia, pelo germe de um novo fluxo cultural, solar. A religião da Lua é substituída quando na quinta-feira santa, o Cristo oferece pão e vinho aos discípulos no morro solar de Sion.




Emil Bock






Fonte do Texto e da Gravura:
Biblioteca Virtual da Antroposofia
http://www.antroposofy.com.br