quarta-feira, 17 de junho de 2020

A FOME DE ORAÇÃO


A experiência cristã... não é conceitual, nem é principalmente comunicada pela Igreja num nível conceitual, em que podemos tão facilmente nos tornar um “doente à procura de controvérsias e discussões de palavras” (1 Tm. 6:4). A experiência seria melhor descrita como uma transformação de consciência, a que São Paulo chamou de posse cristã da “mente do Cristo”. A comunicação é espiritual e direta... O perigo da idolatria é essa preferência pelo que é mecânico e legalista: a preferência, na verdade, pela contínua repetição enfadonha, em lugar da dinâmica da conversão. [...]

O grande anseio dos corações de homens e mulheres em todo o mundo, é o da experiência de adoração “em espírito e em verdade”. Sua fome é a de encontrar o mais profundo mistério do ser, ali onde ele é extremamente pessoal. A busca é a de uma experiência autêntica de nós mesmos como criaturas de Deus, amadas e redimidas... Não há nenhuma dúvida de que a fome deste nosso tempo é a do Deus interior. [...]

O poder, a força viva, a autoridade e a alegria autêntica da Igreja primitiva, derivavam dessa experiência da imanência de Deus a que chamamos de vida interior do Espírito Santo. Ora, segundo proclamam os registros escritos, essa era uma experiência intoxicante. Porém, mais do que intoxicação ou entusiasmo, era uma experiência profundamente pessoal para aqueles que a ela estavam abertos... A relevância deste testemunho dos primeiros cristãos para nós, é a de que não se tratava de uma experiência de outro mundo, ou de rejeição do mundo. Era uma experiência da integralidade da criação, interpenetrada pelo poder do amor salvador de Cristo.


Dom John Main, OSB



Fonte: Leitura de Domingo, 14 Junho 2020
Extraído de John Main OSB, THE COMMUNITY OF LOVE (New York: Continuum, 1999), pp. 13-15
CMMC - Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - http://www.wccm.com.br/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/blur-budismo-cerim%C3%B4nia-m%C3%A3os-postas-1845861/

DEUS EM NÓS


Ninguém pode achar a Deus no macrocosmo do universo exterior sem que primeiro o encontre no microcosmo do seu próprio Eu interior.

Uma vez, porém, que o homem encontrou a Deus dentro de si mesmo, encontra-o espontaneamente por toda a parte, até num inseto ou numa flor, mesmo lá onde Deus não parecia existir.

É que Deus está sempre presente ao homem, mas o homem muitas vezes está ausente de Deus.

O reino de Deus está dentro de cada homem, mas nem todo homem está no reino de Deus.

Para ver o reino de Deus dentro de si deve o homem renascer pelo espírito, abrir os olhos do seu verdadeiro Eu divino, passar da incipiência para a sapiência, da cegueira para a vidência, das trevas para a luz, da morte para a vida, da profanidade material para a iniciação espiritual.


Huberto Rohden



Fonte: do livro "Profanos e Iniciados", Ed. Alvorada, 1990
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

A VERDADE: POR QUE NÃO PODEMOS ACREDITAR LOGO NISSO?


Há uma declaração de Gandhi que resume com nitidez e de modo conciso toda a doutrina da não-violência:

“O caminho da paz é o caminho da Verdade”. “Ser verdadeiro é ainda mais necessário do que ser pacífico. De fato, a mentira é a mãe da violência. Um homem que diz a verdade não pode por muito tempo permanecer violento. Há de perceber, no meio de sua procura, que não precisa ser violento, e descobrirá ainda que, enquanto houver nele o menor sinal de violência, não conseguirá encontrar a verdade que procura”.

Por que não podemos acreditar logo nisso? Por que duvidamos? Por que nos parece impossível?

Simplesmente porque somos todos, até certo ponto, mentirosos.


Thomas Merton, OSB


Fonte: do livro "Reflexões de um espectador culpado", Editora Vozes, 1970, p. 97
Associação Thomas Merton - https://merton.org.br/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/dove-m%C3%A3o-confian%C3%A7a-deus-orar-3426187/

ORGULHO - DESPREZO - DESCONSIDERAÇÃO


Na vida nada está perdido; aliás, existe a época certa para cada um saber o que é preciso para se desenvolver.

Desprezar é sentir ou manifestar desconsideração por alguém ou por alguma coisa; portanto, é uma atitude sempre inadequada nas estradas de nossa existência evolutiva. Menosprezar é um sentimento pelo qual nos colocamos acima de tudo e de todos, avaliando com arrogância os acontecimentos e os fatos do alto da “torre do castelo” de nosso orgulho.

A nenhuma coisa ou criatura deve-se atribuir o termo “desprezível”, pois tudo o que existe sobre a Terra é criação divina; logo, útil e proveitosa, mesmo que agora não possamos compreender seu real significado.

Talvez não entendamos de imediato nosso papel na vida, mas podemos ter a certeza de que todos somos importantes e todos fomos convocados a dar nossa contribuição ao Universo.

A cada instante, estamos criando impressões muito fortes na atmosfera espiritual, emocional, mental e física da comunidade onde vivemos. Todo envolvimento na vida tem um propósito determinado cujo entendimento, além de esclarecer nosso valor pessoal, favorecerá o amor, o respeito e a aceitação de cada um de nossos semelhantes.

Frequentemente, dizemos que certas pessoas são indispensáveis e que muitos indivíduos são improdutivos, e perguntamos mais além: qual o propósito da vida para com estas criaturas ociosas?

Não julguemos, com nossos conceitos apressados, os acontecimentos em nosso derredor; antes, aguardemos com calma e façamos uma análise mais profunda da situação. Assim agindo, poderemos avaliar melhor todo o contexto vivencial.

“Desempenham função útil no Universo os Espíritos inferiores e imperfeitos. Todos têm deveres a cumprir. Para a construção de um edifício, não concorre tanto o último dos serventes de pedreiro, como o arquiteto?” (Questão 559, de O Livro dos Espíritos)

Nenhuma ocorrência, fato ou pensamento deverá ser sentido ou analisado separadamente, pois o “Grande Sistema”, que nos rege, age de forma interdependente.

Apesar de sermos únicos, todos fomos criados para contribuir coletivamente no mundo e para usar as possibilidades de nossa singularidade.

Para tudo há um sentido e uma explicação no Universo. Sempre estará implícita uma mensagem proveitosa para nosso progresso espiritual, muitas vezes, porém, de forma inarticulada e silenciosa.

Nunca nos esqueçamos de que a vida sempre agirá em nosso benefício, quer nos setores da solidão, quer nos de muitas companhias, ou seja, entre encontros, desencontros e reencontros. A aflição também é um benefício: “Todo sofrimento é um ato importantíssimo de conhecimento e aprendizagem.”

Se bem entendermos, no entanto, as verdadeiras intenções das lições a nós apresentadas, retiraremos tesouros imensos de progresso e amadurecimento espiritual.

As dificuldades que a vida nos apresenta têm sempre um caráter educativo. Mesmo que as vejamos agora como castigo ou punição, mais tarde tomaremos consciência de que eram unicamente produtos de nosso limitado estado de compreensão e discernimento evolutivo.

Descobrir a vida como um todo será sempre um constante processo de trabalho dos homens. Efetivamente, a vida é trabalho e movimento, e para fazermos nosso aprendizado evolutivo há um certo “tempo de gestação”, se assim podemos dizer. Na vida nada está perdido; aliás, existe a época certa para cada um saber o que é preciso para se desenvolver.

Nosso orgulho quer transformar-nos em super-homens, fazendo-nos sentir “heroicamente estressados”, induzindo-nos a ser cuidadores e juízes dos métodos de evolução da Vida Excelsa e, com arrogância, nomear os outros como desprezíveis, ociosos, improdutivos e inúteis.

Poderemos “agir no processo” de formação e progresso das criaturas, nunca “forçar o processo” ou criticar o seu andamento.

A pretensão do orgulhoso leva-o a acreditar que existe uma “santidade desvinculada da realidade humana”, ou seja, organizada e estruturada de forma diferente dos princípios pertencentes à Natureza; portanto, não é de ordem divina, mas é da mentalidade deturpada de alguns místicos do passado.

Nada é inútil no Universo. A Divindade age sem cessar em solicitude e consideração a cada uma de suas criaturas e criações. O progresso da humanidade é inevitável. Todos estamos progredindo e crescendo, ainda que, algumas vezes, não nos apercebamos disso.


Francisco do Espírito Santo / Hammed



Fonte: do livro (digital) "As Dores da Alma"
8ª ed., agosto/2000, Boa Nova - Editora e Distribuidora de livros espíritas
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/gato-le%C3%A3o-sombra-carn%C3%ADvoro-grande-564202/