O Hinduísmo acredita na doutrina de causa e efeito, que em sânscrito é chamada Karmavāda – a teoria ou doutrina do karma.
A palavra karma significa ação. Algumas vezes a palavra também é usada significando o efeito da ação. De acordo com esta doutrina, todas as boas ações produzem bons efeitos, e as más ações, maus efeitos. Os efeitos ou frutos da ação são geralmente chamados karmaphala (1) em sânscrito. Os frutos das boas ações trazem prazer e felicidade para aquele que as fazem, enquanto os frutos das más ações causam sofrimento e dor.
A Física nos ensina sobre a teoria da conservação da energia. De acordo com esta teoria, a energia nunca é destruída; na realidade um tipo de energia transforma-se em outro tipo de energia. Usando esta ideia como uma analogia, pode-se dizer que a energia utilizada através de qualquer ação daquele que a executa, muda sua forma e torna-se força kármica ou karmaphala. Esta força, como um bumerangue, inevitavelmente retorna ao agente da ação cedo ou tarde. Retornando ao agente da ação, a força kármica começa a agir sobre sua mente e corpo causando prazer ou dor. Nenhum agente de uma ação pode escapar desta força kármica. Depois de agir sobre sua mente e corpo, a força kármica é dissipada. Ela deixa o agente da ação e torna-se parte do vasto depósito da energia cósmica.
De acordo com esta doutrina, Deus não é responsável pelo prazer e dor de Suas criaturas. São as criaturas que são responsáveis por sua própria felicidade ou sofrimento. Eles sofrem ou gozam devido às consequências de suas próprias ações, boas ou más. De acordo com o Hinduísmo, Deus é o karmaphaladātā – aquele que dá os frutos da ação. Ele é o Dispensador Definitivo da justiça. Ele se certifica de que todos obtenham seu próprio karmaphala, e de ninguém mais.
Durante o tempo de vida médio um agente de ações executa inumeráveis ações e os efeitos das quais são igualmente incontáveis. Todos os efeitos de suas ações não retornam imediatamente a ele, apesar de que alguns deles possam fazê-lo. Por exemplo, se uma pessoa planta uma semente de maçã em seu pomar, levará anos antes que possa obter os frutos. Mas se coloca sua mão no fogo terá um efeito imediato, sua mão se queimará. Algumas ações, devido à sua natureza inerente, dão efeitos mais tarde. Elas são como depósitos de um investimento com datas para resgate para o futuro. Algumas podem “amadurecer” ou serem resgatadas daqui a vários anos. Da mesma forma, os frutos de algumas ações que poderão ser resgatados em uma data futura, podem não chegar durante o tempo de vida do agente da ação. Tais frutos de ações ou karmaphala permanecerão armazenados até suas “datas de resgate”. Eles poderão vir em uma vida futura do agente da ação. Assim, no Hinduísmo, a doutrina do karma está também ligada à doutrina da reencarnação.
Forças kármicas armazenadas são os efeitos das ações feitas pelo agente da ação em vidas passadas. Estas forças são chamadas sanchita karma ou forças kármicas acumuladas. Elas permanecem em um estado potencial assim como os muitos depósitos de um investimento com diferentes datas de resgate, quando “amadurecem”, em um banco. Quando uma “amadurece”, torna-se cinética e começa a agir sobre a mente e corpo do agente da ação. A força kármica, nesta forma cinética, é chamada prārabdha karma – a força kármica que já iniciou a provocar os efeitos.
De acordo com o Hinduísmo, o prārabdha karma causa o nascimento e determina a duração da vida de uma pessoa. Ele também causa o prazer ou dor durante a vida de uma pessoa. Quando a força de seu prārabdha karma se esgota, seu corpo morre. É como se o corpo fosse um relógio de corda, a mola que é contraída nele é como se fosse o prārabdha karma, que continua a fazê-lo trabalhar por um certo tempo. Quando a energia da mola é esgotada, o relógio pára.
(1) Sânscrito: karma=ação; phala=fruto
Swami Bhaskarananda
Fonte: do livro "As Doutrinas do Karma, Predestinação e Reencarnação"
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal