“A filosofia da classe dominante atravessa todo um tecido de vulgarizações complexas para aparecer como 'senso comum', isto é, a filosofia das massas que aceitam a moral, os costumes e o comportamento institucionalizado da sociedade em que vivem.” (A. Fiori abordando o conceito de A. Gramsci sobre hegemonia)
As ideias são as forças do Espírito (Mônada) e que encontram expressão secundária no corpo mental, ou seja, na mente humana. É a partir das ideias, do seu jogo e na sua apresentação que a humanidade desenvolve o poder de pensar e raciocinar, conquistando assim um amadurecimento e evolução no plano mental (corpo mental).
Os ideais, por sua vez, são as forças da Alma (Eu Superior) e encontram expressão secundária no plano astral ou emocional (corpo astral ou emocional).
As ideias vão gradativamente tomando “forma”, ou seja, vão se tornando ideais defendidos, vividos, debatidos, assumidos ou excluídos.
Por outro lado, os ídolos são as ideias já na forma de ideais, porém cristalizados, e tomam expressão no plano físico, na existência material.
Dependendo do grau evolutivo de cada um, o tempo para plasmar uma ideia é variável; e as consequências quando se tornam ideais e ídolos também são relativas à evolução individual e coletiva.
Porém, a problemática começa quando cada um tende a cristalizar-se num ponto de vista e a excluir os outros com discursos e veemência. Por isso temos os olhares ligados aos diversos “...ismos”, o que acalora a evolução humana; é como se fosse um “mal necessário”.
A ciência, a religião, a filosofia, a política etc., sempre citam seres e situações supostamente demonstráveis. Podem, alguns, até terem sido realidade num dado momento e contexto, mas que não são aplicáveis à experiência de cada um de nós em todas as épocas.
Confundem-se mitos e símbolos com realidade. Por isso, vemos as ideias sendo distorcidas em ideais, a partir de interesses diversos e ideologias, e consagradas e materializadas por leis, as vezes duras, mas que fogem de uma experiência individual.
Geram-se assim, multidões de seguidores de tradições impostas, sem a mínima consciência de que a maior parte das tradições, como fatias ou interpretações de algo transcendente, apenas disputam espaço e seguidores, tentando impôr comportamentos e hábitos anacrônicos. Basta olharmos as tentativas de modelos de “santos”, “heróis”, “mártires”, “nóbeis”, vestes, ritos e tradições multi milenares. Tudo se cristaliza no imaginário humano: mitos bíblicos e escrituras consideradas sagradas (de qualquer tradição), criacionismo, sociedade totêmica, imaginários, anacronismos e idiossincrasias.
Por isso, segundo a lógica de Karl Marx, foi o homem o criador de Deus, à sua própria imagem e semelhança. Creio que Marx inverteu os conceitos por usar uma visão muito limitada e baseada em experiências e conceitos de velhas e infantis tradições do mundo, ou seja, baseou-se nas superficialidades dos fatos, mas o exemplo é bem cabível nesse contexto.
É difícil a uma pessoa identificada fanaticamente e irracionalmente a algum “ismo” olhar com bons olhos a uma outra que pertença a outro “ismo”. Por isso, fala-se em tolerância. Mas o que se entende por tolerância não é uma virtude e sim uma tentativa, um pouco mais civilizada, de convivência. É como se disséssemos: eu estou certo, o outro está errado, mas eu o tolero...
Vemos que as pessoas possuem uma visão variadíssima sobre o mundo e ainda muitíssimas ideias que se transformam em ideais. As consequências dessas expressões no mundo podem ser consideradas boas ou não. Mas o que destaca-se é a falta à humanidade de uma visão evoluída e amadurecida que lhe permita a compreensão, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo, de que tudo é relativo e fragmentado na visão imatura do ser humano. Falta-nos os olhares sobre o mundo despreocupados e isentos de interesses, e a visão de que a parte não pode opor-se ao todo; ela é apenas uma parte, e o que necessita-se é de uma harmonização e equilíbrio.
A história do mundo é baseada no aparecimento de ideias, sua aceitação ou não, sua transformação em ideais ou não, e em aproveitamento, cristalizações e ações. E a história tem nos mostrado as consequências dos ideais e das ações. Por isso, concluiu o grande filósofo Pietro Ubaldi: “Não sois ainda uma sociedade, mas apenas uma grei, um desencadeamento de forças psíquicas primordiais, explodindo confusamente.”
Muitos já sentem atualmente a necessidade de amadurecimento e conscientização, sentem a necessidade de superar-se a si mesmo e às circunstâncias. Compreendem que a conformidade, a rotina e a acomodação a velhos e desgastados (pré)conceitos religiosos e tradições são fatores tolhedores ao progresso; percebem que as ideias distorcidas e com interesses ideológicos são transformadas em ideais obtusos e engessados na sociedade.
Possamos entender que as ideias são essenciais e puras; são necessárias à evolução. Mas que possamos enxergar, também, que elas podem ser maculadas em ideais cristalizados à serviço de forças e ideologias contrárias à evolução. Os limites nem sempre são perceptíveis.
A meta é a renovação constante do ser humano, tanto como indivíduo como coletividade; não renovar-se é compactuar com uma visão obtusa e estagnada. E a ferramenta mais eficaz é a consciência, trabalho e vivência no presente; qualquer tentativa de reviver ou viver do passado nos leva, no mínimo, a um anacronismo. O mesmo se dá na tentativa de viver um futuro; desperdiça-se a maior parte do tempo e energia que poderiam estar sendo utilizados no presente para o nosso desenvolvimento e reforma íntima.
Óbvio que para a nossa evolução atual e visão há a sensação de passado e futuro; tempos históricos etc. "Houve", "há" e "haverá" é a nossa percepção (ilusória) para evoluir. Entretanto, um "futuro" melhor só existirá se trabalharmos com a consciência e missão no presente; o mesmo se dá com o chamado "conserto" do passado: só se efetiva se trabalharmos conscientemente no presente. Assim, as ferramentas únicas e infalíveis são: o serviço amoroso e desinteressado, a meditação e o estudo; tudo no "aqui e agora".
Prof. Hermes Edgar Machado Junior (Issarrar Ben Kanaan)
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal