segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

DESAFIO DE CRIAR UM MUNDO NOVO


Se todos os indivíduos se achassem em revolta, não pensais que haveria caos no mundo?

Escutai, primeiramente, a pergunta; é muito importante compreender uma pergunta, e não, simplesmente, esperar uma resposta. A pergunta é: se todos os indivíduos se achassem em revolta, o mundo não seria levado a um estado de caos?

Ora, acha-se em tão perfeita ordem a presente sociedade, que, se todos se revoltassem, sobreviria o caos? Não há caos agora? É tudo belo e incorrupto? Estão todos vivendo felizes, com plenitude e riqueza? O homem não está contra o homem? Não se vê ambição e encarniçada competição? Por conseguinte, o mundo já se acha no caos, e esta é a primeira coisa que cumpre perceber.

Não suponhais que esta é uma sociedade em que há ordem; não vos mesmerizeis com palavras. Seja aqui na Europa, seja na América, seja na Rússia, o mundo se acha num processo de decomposição. Se percebeis a decomposição, tendes um desafio: estais sendo desafiado a descobrir uma maneira de resolver este urgente problema. E a maneira como "respondeis” ao desafio é importante, não achais? Se "respondeis” como hinduísta ou budista, como cristão ou comunista, vossa resposta é, então, muito limitada, vale dizer, não é resposta. Podeis "responder” plenamente, adequadamente, mas só se não há medo em vós, se não pensais como hinduísta, comunista ou capitalista, porém como ente humano total, interessado em resolver este problema; e não podereis resolvê-lo, se não vos achardes em revolta contra tudo — contra a ambição, a avidez, em que está baseada a sociedade.

Quando vós mesmo não sois ambicioso, ávido, quando não estais apegado à vossa própria segurança — só então sois capaz de "responder” ao desafio e de criar um mundo novo.



J. Krishnamurti




Fonte: do livro "A Cultura e o Problema Humano"
Tradução de Hugo Veloso
3ª ed., 1977, Cultrix, São Paulo/SP
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

O SACRIFÍCIO ANUAL DE CRISTO (A MÍSTICA DO NATAL)


[...] A pessoa ao transpor os umbrais do invisível, muitas vezes fica em estado de torpor. Então acorda, e vê não apenas este mundo, mas também o mundo em que está prestes a entrar. É muito significativo que nesses momentos ela veja pessoas que foram suas amigas ou parentes nesta vida física - filhos, filhas, esposa ou qualquer pessoa que lhe tenha sido realmente muito próxima ou muito querida - postadas ao redor do seu leito e aguardando o momento da transição. [...] Pessoas que tendo passado antes ao além, reúnem-se para receber um amigo que está prestes a cruzar a fronteira e juntar-se a eles do outro lado do véu. [...} O nascimento em um mundo é morte sob o ponto de vista do outro mundo, isto é, a criança que vem a nós "morre" para o mundo espiritual, e a pessoa que sai do alcance dos nossos olhos ao transpor o véu pela morte, nasce em novo mundo e junta-se a seus amigos.

"Como é em cima, assim é em baixo". A Lei da Analogia, que é a mesma para o microcosmo e para o macrocosmo, diz-nos que aquilo que acontece ao ser humano sob determinadas condições, deve também aplicar-se ao sobre-humano em circunstâncias análogas.

Estamos nos aproximando do solstício de inverno (no Hemisfério Norte), dos dias mais escuros do ano, época em que a luz brilha com menos intensidade, quando o Hemisfério Norte se torna frio e melancólico. Porém, na noite mais longa e mais escura do ano, quando o Sol retoma o seu caminho ascendente, a Luz de Cristo nasce de novo na Terra e o mundo inteiro se rejubila. No entanto, conforme nossa analogia, quando Cristo nasce na Terra, Ele morre no céu. Assim como o espírito, livre ao nascer, fica fortemente enclausurado no véu da carne, que o restringe por toda a vida física, assim também o Espírito de Cristo é agrilhoado e tolhido toda vez que nasce na Terra. Este grande Sacrifício Anual começa quando soam os nossos sinos de Natal, quando os alegres sons do nosso louvor e gratidão ascendem aos céus. No mais literal sentido da palavra, Cristo é aprisionado desde o Natal até a Páscoa.

O homem pode zombar da ideia de que existe nessa época do ano um influxo de vida e luz espirituais. Não obstante, isso é um fato, creiamos ou não. Nesta época do ano, no mundo inteiro, todos se sentem mais leves, diferentes, algo como se um fardo fosse tirado dos seus ombros. O espírito de paz na terra e boa vontade entre os homens prevalecem, e o espírito de que nós também devemos dar algo expressa-se nos presentes de Natal. Este espírito não pode ser negado, já que é evidente a qualquer observador e é um reflexo da grande onda de dádiva divina. Deus amou o mundo de tal maneira, que lhe deu Seu Filho único ou Unigênito. O Natal é a época das dádivas, mesmo que a consumação do sacrifício aconteça apenas na Páscoa. Aqui situa-se o ponto crucial, o ponto crítico, quando sentimos ter ocorrido algo que garante a prosperidade e a continuidade do mundo.

[...] Observe as igrejas. Nunca suas luzes brilham tanto quanto neste dia e nesta noite do ano. Em nenhuma outra ocasião os sinos ressoam tão festivos do que quando proclamam para o mundo a mensagem: "O Cristo nasceu!".

"Deus é Luz", diz o inspirado apóstolo e nenhuma outra descrição é capaz de transmitir tanto da natureza de Deus quanto essas três pequenas palavras. A luz invisível, que se encontra envolvida pela chama sobre o altar, é uma representação cabal de Deus, o Pai. Nos sinos, temos um símbolo muito apropriado de Cristo, a Palavra, pois suas línguas metálicas proclamam a mensagem evangélica de paz e boa vontade, enquanto o incenso, simbolizando maior fervor espiritual, representa o poder do Espírito Santo. Por conseguinte, a Trindade é simbolicamente parte da celebração que faz do Natal a época do ano de maior regozijo espiritual, sob o ponto de vista da raça humana que está atualmente na matéria.

Todavia, não se deve esquecer [...], que o nascimento de Cristo na Terra significa Sua morte para a glória dos céus, e que, quando nos rejubilamos pelo seu regresso anual a nós, Ele de fato toma novamente sobre Si o pesado fardo físico que cristalizamos ao nosso redor, e que é agora a nossa habitação - a Terra. Neste pesado corpo, Ele é incrustado e espera ansiosamente pelo dia da libertação. Podemos compreender, naturalmente, que existem dias e noites tanto para os maiores espíritos quanto para os seres humanos; que, do mesmo modo que vivemos em nossos corpos durante o dia, cumprindo o destino que nós mesmos criamos no mundo físico e somos liberados à noite para nos recuperarmos nos mundos superiores, assim também existe essa alternância para o Espírito de Cristo. Parte do ano Ele habita o interior do nosso globo, e depois se retira para os mundos superiores. Assim, o Natal é para Cristo o começo de um dia de vida física, o início de um período de limitação.

Qual deve ser, portanto, a aspiração do místico devotado e iluminado, que compreende a grandeza da dádiva de Deus à humanidade nesta época do ano; que compreende este grande Sacrifício de Cristo por nossa causa; essa dádiva de Si mesmo sujeitando-se a uma virtual morte para que pudéssemos viver esse maravilhoso amor que se derrama sobre a Terra nessa época?

Unicamente a de imitar, mesmo em pequeníssima escala, as maravilhosas obras de Deus. Ele deve aspirar fazer de si mesmo um servo da Cruz como jamais o fora antes; mais disposto a seguir o Cristo em todas as coisas, sacrificando-se a si mesmo pelos seus irmãos e irmãs; colaborando, dentro de sua esfera imediata de trabalho, para a elevação da humanidade, de modo a apressar o dia da libertação pela qual o Espírito de Cristo está esperando, gemendo e labutando. Falamos de uma libertação permanente, do dia e do advento de Cristo.

Para concretizarmos essa aspiração na medida mais ampla, avancemos pelo ano entrante plenos de auto-confiança e fé. Se até aqui temos descrido de nossa capacidade de trabalhar para Cristo, ponhamos de lado essa descrença lembrando o que Ele disse: "Maiores obras que estas vós o fareis!" Teria Ele, que era a Palavra da verdade, dito tais coisas se elas não fossem possíveis? Todas as coisas são possíveis àqueles que amam a Deus. Se de fato trabalharmos em nossa própria pequena esfera, não buscando coisas maiores até havermos feito aquelas que estão à mão, então descobriremos que um maravilhoso crescimento anímico pode ser alcançado, de forma que as pessoas que nos rodeiam possam ver em nós algo que não saberão definir, mas que, não obstante, ser-lhes-á evidente - verão a luz natalina, a luz do Cristo recém-nascido brilhando dentro da nossa esfera de ação. Isto pode ser conseguido; depende apenas de nós mesmos aceitá-Lo por Sua palavra, cumprindo o que Ele ordenou: "Sêde perfeitos como perfeito é o vosso Pai que está nos céus". A perfeição pode parecer uma longa caminhada. E quanto mais consideramos Cristo, mais nos apercebemos como estamos longe de viver à altura dos nossos ideais. Não obstante, é pela luta diária, hora após hora, que finalmente chegaremos lá. E a cada dia algum progresso pode ser feito, algo pode ser realizado. Podemos deixar a nossa luz brilhar de tal maneira, que os homens a vejam como faróis na escuridão do mundo.

Que Deus nos ajude durante o próximo ano a alcançar maior semelhança com Cristo do que jamais conseguimos antes. Vivamos a vida de tal modo que, quando outro ano tiver passado, quando contemplarmos novamente as luzes do Natal e ouvirmos os sinos chamando para as cerimônias da Noite Santa, possamos sentir que não temos vivido em vão.

Cada vez que nos damos completamente ao serviço em benefício dos outros, acrescentamos brilho aos nossos corpos-alma feito de éter. É o éter de Cristo que permite este nosso globo flutuar, e recordemos que, se quisermos trabalhar por sua libertação, devemos todos desenvolver nossos corpos-alma até ao ponto em que eles é que façam flutuar a Terra. Deste modo tomamos o Seu fardo e livramo-Lo da dor da existência física.


Max Heindel



Fonte: fragmentos da "Revista Esotérica Chritian Rosenkreuz", ano 1, nº 3, dez. 2000
Fraternidade Rosacruz Max Heindel
https://fraternidaderosacruz.org.br/
São Paulo/SP
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/%C3%A1rvore-de-natal-flocos-de-neve-574742/