segunda-feira, 26 de maio de 2025

MI e MA (QUEM e QUE) – TEMAS DE CABALA


O que impressiona o homem e o atormenta, e o deixa ansioso para poder compreender a sua origem e a tudo o que o rodeia e o leva a formular, não sem angústia, esta questão: Quem poderia ter criado o universo que em sua totalidade  e harmonia nos deixa desconcertado? É assim que Rabi Eleazar, filho de Rabi Shimon ben Yochai, esclarece: "Levantai os vossos olhos ao alto e pense em quem criou tudo isso." "Lá", acrescenta ele, "examinando cuidadosamente e profundamente você saberá que 'o misterioso e eterno ANCIÃO', objeto de nossa busca, criou isso, ou seja, o universo. E quem é ELE (MI = QUEM)? É aquele que é chamado de 'Extremidade do Céu nas alturas', porque tudo está em seu poder. Por que é chamado de MI? É porque ele está em um lugar misterioso, e não se revela. Além desta consideração, não podemos abordar."

Note que o termo MI (quem) especifica a misteriosa designação de Deus, e implica, a partir de uma combinação de letras, um senso metafísico que compreende o universo. Na verdade, MI está em estreita ligação com MA (que). Neste caso existem duas extremidades, uma superior, no Céu, chamado MI, a outra, abaixo, chamado MA.

O Zohar explica, em outras palavras, que quando o Mistério de todos os mistérios queria manifestar-se, ele primeiro criou um "ponto", que originou o Pensamento Divino; em seguida ele formou todos os "tipos de imagens", e gravou todos os tipos de imagens e, finalmente, gravou a lâmpada sagrada e misteriosa, uma imagem representando o mistério mais sagrado, obra profunda saída do Pensamento Divino. Porém, isso foi só o começo da criação, que mesmo já então existente sem contudo existir ainda de forma explícita. Permanecia ainda oculta no Nome e chamando-se a si mesmo apenas de MI. Então, querendo manifestar-se e ser chamado pelo seu Nome, Deus "vestiu-se de uma veste" preciosa e resplandecente, e criou ELEH (aquilo, estes), que foi adicionado ao seu Nome.

A palavra ELEH (aquilo, estes), assim como MA (que), não é algo separável daquilo que se constitui a natureza de Deus. Este algo supremo que se originou no todo da magnitude do Pensamento Divino, é apenas a manifestação tangível de Deus, em suas obras. Além disso, por um jogo de palavras muito frequente, o Zohar obtém a palavra ELOHIM, adicionando ao MI, ao reverso (1) (IM), à palavra ELEH (ELEH+IM - ELOH+IM). ELOHIM implica, neste sentido, um símbolo completo; isto é, a entidade do Todo, já que Deus e o Universo são um. Dito de outra forma, com o termo ELOHIM, que é a denominação de Deus em si mesmo, e com o termo ELEH (essas coisas, aquilo, estes), o universo constitui-se da união de Deus e as "coisas". Além do ELEH, a importância de MA é enfatizada nesta declaração de Rabi Shimon: "O céu e todos os corpos celestiais foram criados usando MA."

Esses traços panteístas que destacam as características intrínsecas do todo, são explicadas da seguinte forma: "Uma luz", diz Rabi Shimon, "cria outra; uma encobre outra e se unem ao Nome do Altíssimo. MA, que está abaixo, ainda não existia explicitamente, e só foi explicitado no momento o qual as letras emanaram umas das outras. ELEH, da alturas, derramou ELEH para baixo, qual uma mãe empresta suas roupas à filha e a adorna com suas joias. E quando ela a enfeitará com suas joias convenientemente? Quando todos os homens aparecerem diante do Senhor Todo-Poderoso, como está escrito em Êxodo 34, 23: 'Três vezes ao ano aparecerá todo o varão de teu povo diante do Senhor, o Eterno, Deus de Israel.' É aqui chamado de Senhor, como está escrito em Josué 3, 2: 'A Arca da Aliança, do Senhor de todos na Terra.' Se substituirmos a letra HEI (ה), da palavra MA (מה), que é a imagem do princípio feminino pela letra YUD (י), de MI (מי), que é a imagem do princípio masculino, e se a isso adicionarmos as letras ELEH (אלה) que emanam do alto, através de Israel, formamos ELOHIM (אלהים) que está abaixo" (Zohar 1, 2a).

O todo parece, assim, emergir de uma aparente dualidade, simbolizada pela dissociação de dois elementos: MI e MA. Diz-se aparente porque de fato o Zohar declara formalmente que o MI do alto e o MA de baixo são, na realidade, uma e a mesma coisa. Além disso, quando dizemos que MA vem de MI, não devemos tomar as palavras ao pé da letra (Zohar 1, 2a). Da mesma forma, os termos MI e ELEH, símbolos da dualidade 'de cima' e 'de baixo', são a mesma coisa. O Santo, bendito seja Ele, diz o Zohar, criou as formas das "grandes letras" às quais correspondem às letras pequenas daqui de baixo. Isto é porque as duas primeiras palavras das Escrituras têm duas letras BEIT (ב) como iniciais (BERESHIT e BARA (בראשית ברא)), e as duas palavras seguintes duas letras ALEF (א) (ELOHIM e ET (אלהים את)) para indicar as letras celestes, de cima, e as deste mundo, de baixo. Não são, na realidade, mais que as únicas e mesmas letras com as quais é tudo operado no mundo celestial, de cima, e no mundo de baixo (Aqui novamente a dualidade desaparece para resultar em uma única substância).

A dualidade não reside na distinção, tão frequentemente cogitada, entre ELOHIM e IAVEH (אלהים יהוה). Eles são um, apesar de certas nuances particulares e específicas para cada um deles (2). Aqui está como o Zohar resolve essa distinção: "Este mistério está resumido nas palavras das Escrituras: 'Que as luzes (MEOROTH (מארת)) sejam feitas no firmamento dos céus...'" (Zohar 1, 12a). A palavra “luzes” (MEOROTH) é escrita sem a letra VAV (ו), o que indica um singular para nos dizer que as duas luzes não são mais do que uma unidade indivisível. Do mesmo modo que a luz, vista através de um prisma, parece ser composta de cores brancas e escuras, embora na realidade seja uma só cor, da mesma forma as essências divinas formam uma só unidade. Também isso nos remete ao verdadeiro significado da coluna de fumaça branca durante o dia e a de fogo durante a noite indo diante de Israel na travessia do deserto. Essas duas colunas eram o símbolo das duas essências divinas que correspondem ao dia e à noite; e uma se funde com a outra para iluminar o mundo. (3)

A essência divina, portanto, não implica nenhum somatório (4), nenhum número. "O Senhor é único e não há um segundo e, antes do Uno, que se poderia contar?" (Sefer Yetzira 1, 6).

Se o Zohar se preocupa em insistir no caráter da dualidade (fictícia), é com vistas a identificar mais a estrutura íntima do universo, para nos levar a compreender adequadamente sua essência. Na essência do misticismo judaico, existe apenas um Ser Supremo, Deus, que envolve absolutamente tudo. Tudo está nele, tudo é rigorosamente determinado por ele.


HENRI SÉROUYA


Notas:

1- Metátese: troca de lugar de fonemas ou sílabas dentro de uma palavra.

2- Esta distinção entre ELOHIM e IAVEH é explicada da seguinte maneira pelo Zohar: ELOHIM, como Criador, expressa a Presença de Deus no universo. IAVEH expressa a manutenção, a duração desta Presença. No primeiro capítulo do relato do Gênesis, ELOHIM aparece sozinho, IAVEH só é acrescentado a ele no segundo capítulo. No Deuteronômio 4, 35, as palavras IAVEH é ELOHIM significam que ELOHIM se funde em IAVEH. O Zohar acrescenta que desde o exílio de Israel (a maldade que oprime a justiça), o poder divino aparenta ser invisível, MI parece separado de ELEH, como se toda a economia cósmica estivesse perturbada. Mas, nos tempos messiânicos, os dois termos aparentemente separados se unirão numa harmonia indissolúvel.

3- Esta aparente dualidade de IAVEH e ELOHIM é reduzida de acordo com a explicação do Zohar (III, 61) à Lei escrita, que é a imagem de IAVEH e à lei oral (palavra) que é a de ELOHIM. E como a lei escrita generaliza e a lei oral analisa, resulta que um não pode existir sem o outro, assim como o mundo de cima e o mundo de baixo (o nosso) dependem um do outro.

4- A associação, segundo o Zohar (1, 22b), que existe na essência divina é comparável com aquilo que existe entre o macho e a fêmea que não são mais do que um. Da mesma forma, pensamento e palavra (verbo) formam um.


Fonte: do livro LA KABBALE

Éditions Bernard Grasset

Paris, France – 1947

Tradução (português): deste blog

Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/estrela-de-davi-magen-david-7402718/

A PALAVRA É O RECEPTÁCULO DE ENERGIAS


O poder de um Iniciado está em que ele sabe impregnar as palavras que pronuncia com a matéria da sua aura, que é abundante, intensa e pura. A palavra é o receptáculo de uma força e produz efeitos tanto mais poderosos quanto mais impregnada estiver desse elemento criador que é a luz.

Não é dado a qualquer pessoa pronunciar as palavras mágicas capazes de produzir grandes efeitos. Mas um Iniciado que pronuncie essas mesmas palavras, sem forçar a voz, sem fazer gestos, pode comandar as forças da Natureza e atrair os seres superiores. Não foi a palavra que criou o mundo, foi o Verbo. A palavra é o meio de que o Verbo se serve para realizar o trabalho de criação. O Verbo é o primeiro elemento que Deus pôs em ação; a palavra é o meio que permite ao Verbo manifestar-se.


Omraam Mikhaël Aïvanhov


Fonte: www.prosveta.com

Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/coro-alegria-louvar-cantar-voz-306766/