quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

OS FINS DO MUNDO AO LONGO DA HISTÓRIA

PROFECIAS QUE NÃO ACONTECERAM (por Gilberto Schoereder - Fonte: http://www.joaodefreitas.com.br)


Por motivos que merecem uma análise profunda, profetas e outros visionários vêm falando sobre o fim dos tempos, que nunca chega. Alguns mudam datas previstas quando o evento não ocorre; outros simplesmente caem no ridículo e desaparecem. 

Profecias vêm sendo feitas há milhares de anos, e sempre que uma data específica se aproxima elas são lembradas e novas profecias se multiplicam, como ocorreu na virada do milênio por exemplo. O final dos tempos, a destruição do mundo, a volta de Jesus – os temas são variados. 

No entanto, quase nunca é lembrado que a maior parte das profecias não se cumpre. Aqui registramos algumas das mais famosas profecias não cumpridas ao longo dos séculos. 

30/30 
Uma interpretação literal do Novo Testamento levou algumas pessoas a entender que Jesus Cristo previra que o Reino de Deus iria chegar num período de tempo curto, na verdade durante a vida das pessoas que o escutavam. Em Mateus 16:28, por exemplo ele diz que o Filho do Homem chegaria durante o período de vida das pessoas que o ouviam. Em Mateus 24:34, ele repete que as coisas que está dizendo irão ocorrer naquela geração. Como a expectativa de vida na época era de pouco mais de 30 anos, Jesus teria predito sua segunda vinda ainda no século 1. 

Seguindo o mesmo raciocínio, por volta do ano 60, Paulo de Tarso também profetizou que Jesus estaria para voltar. 

90 
São Clemente prevê que o fim do mundo pode ocorrer a qualquer momento. 

365/ 375 a 400 
Santo Hilário, também chamado Hilário, bispo de Poitiers (c. 300-367), anunciou que o mundo acabaria em 365. São Martin de Tours (c. 316-397), que estudou com Hilário, anunciou que o mundo acabaria antes do ano 400. 

500 
Hipólito de Roma (século 2), um antipapa (que não reconhecia o direito do papa eleito,e sim o seu), e o acadêmico cristão Sextus Julius Africanus (século 2) profetizaram o Armagedom para aquele ano. O pânico do fim do mundo iria acompanhar as chamadas datas redondas, ou cheias, como o ano 1000 e 2000. 

1º de Janeiro de 1000 
Na Europa, muitos cristãos profetizaram o fim do mundo nessa data e, quando mais próximo dela, exércitos cristãos entraram em guerra contra alguns dos países pagãos do norte da Europa, para convertê-los ao cristianismo à força antes que Cristo retornasse. Além disso, muitos cristãos doaram suas posses à Igreja. 

1033 
Tido como o milésimo aniversário da morte e ressurreição de Jesus, esperava-se sua segunda vinda. 

1205 
Gioacchino da Fiore (c. 1135-1202) previu, em 1190, que o Anticristo já estava no mundo e que o rei Ricardo I da Inglaterra iria derrotá-lo. 

1284 
O Papa Inocêncio III (1198-1216) chegou a essa data como o o fim do mundo somando 666 anos à data de fundação do Islã. 

1346 e anos seguintes 
A Peste Negra, também chamada Morte Negra, devastou a Europa, vinda da Ásia. Calcula-se que até dois terços da população européia morreu, e no mundo todo, 75 milhões de pessoas, na maior pandemia da história humana. Esse evento foi considerado o prelúdio do fim imediato do planeta. 

1496 
Calculando a data de 1.500 anos após o nascimento de Cristo, alguns místicos profetizaram que o milênio iria começar nesse ano. 

1524 
Melchior Hoffman (c. 1495-1543), profeta anabatista e líder visionário do norte da Alemanha, disse que Jesus iria retornar em 1533 e que a Nova Jerusalém seria estabelecida na cidade de Estrasburgo, então parte da Alemanha. 

1669 
Os Velhos Crentes, na Rússia, acreditavam que o fim do mundo ocorreria nesse ano, e 20.000 deles queimaram a si mesmos entre 1669 e 1690, para se proteger do Anticristo. Os Velhos Crentes (staroveri, em russo) são vistos como os fundamentalistas cristãos ortodoxos russos. 

1689 
O Batista Benjamin Keach (c. 1640-1704) prediz o fim do mundo para esse ano. 

1736 
O Teólogo e matemático britânico William Whitson prevê um dilúvio semelhante ao de Noé, para o dia 13 de outubro daquele ano. 

1792 
Segundo alguns shakers, o mundo terminaria nesse ano. Shakers, na verdade, era um nome pejorativo para os protestantes da United Society of Belivers in Christ’s Second Appearing, devido à forma como se movimentavam em seus rituais, dançando, tremendo e sacudindo-se. 

1830 
A profetisa escocesa Margaret McDonald disse que o socialista galês Robert Owen seria o Anticristo. Ela fazia parte da congregação de Edward Irving e acreditava que todos os cristãos da Terra seriam arrebatados aos céus para juntar-se a Cristo. 

21 de março de 1843 a 21 de março de 1844/ 18 de abril de 1844/ 22 de outubro de 1844

Segundo estudos que fez da Bíblia, William Miller (1782-1849), fundador do movimento Millerista, predisse que Jesus iria voltar no período entre março de 1843 e 1844. Como nada ocorreu naquela data, ele estendeu o prazo para abril do mesmo ano. A outra data passou e Miller confessou publicamente seu erro. Posteriormente, Samuel S. Snow apresentou outro estado e disse que a data seria 22 de outubro de 1844. 

1850/ 1856 
Ellen White (1827-1915), fundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia, fez várias profecias relacionadas ao fim do mundo. Acredita-se que sua primeira visão surgiu em 1844, logo após o Grande Desapontamento, o evento pelo qual ficou conhecido o fiasco das previsões de William Miller. Em junho de 1850, Ellen White previu que o mundo iria durar só mais alguns meses. Em 1856, após uma conferência da Igreja, em fez sua última profecia, dizendo que alguns dos que estavam presentes iriam ver a chegada de Jesus. 

1891 
Segundo profecia feita por Joseph Smith, fundador da Igreja Mórmon, em fevereiro de 1835, Jesus iria retornar dentro de 56 anos, ou seja, em fevereiro de 1891. 

1914 
As testemunhas de Jeová (Watchtower Bible and Tract Society) apontaram o ano de 1914 como o inícioda guerra do Armagedom, chegando à data após estudo do Livro de Daniel. Quando o ano terminou e o mundo continuou, apesar da guerra, 1914 passou a ser o ano em que Jesus invisivelmente começou seu reinado. Outras datas para o final dos tempos surgiram posteriormente: 1915, 1918, 1920, 1925, 1941, 1975 e 1994. 

1919 
O meteorologista Alberto Porta previu que uma conjunção de 6 planetas iria gerar uma corrente magnética que faria o Sol explodir, envolvendo a Terra, no dia 17 de dezembro. Falhou. 

1936 
Herbert W. Armstrong (1892-1986), fundador da Worldwide Chirch of God (Igreja Mundial de Deus), predisse que Jesus iria voltar em 1936. Depois, mudou a data para 1975. 

1948 
Durante o ano em que foi fundado o Estado de Israel, alguns cristãos acreditaram que esse acontecimento era o requisito que faltava para a volta de Jesus. 

1953 
No livro The Great Pyramid, Its Divine Message, o piramidologista David Davidson previu que o fim do mundo ocorreria em 1953. Para chegar à data, realizou uma série de cálculos com as medidas das pirâmides. 

Abril de 1957 
Mais uma vez, a revista WatchTower citou um pastor, Mihran Ask, segundo o qual o mundo iria terminar entre 16 e 23 de abril de 1957. 

1960 
Charles Piazzi Smyth (1819-1900), astrônomo real da Escócia, foi o autor deo livro Our Inheritance in the Great Piramid (1864), e considerado como aquele que deu início à chamada ‘piramidologia’ em todo o mundo. Ele acreditava que segredos estavam escondidos nas pirâmides e, após muitas pesquisas, propôs datas para a segunda vinda de Cristo e o final dos tempos, datas que iam de 1882 a 1960. 

1967 
Durante a guerra dos seis dias o exército israelense tomou toda a cidade de Jerusalém e alguns cristãos entenderam que o arrebatamento logo ocorreria. O requisito final seria que os judeus realizassem um sacrifício de animal no Templo, o que, ao que se sabe, não ocorreu. 

1970 
David Brandt Berg (1919-1994), também conhecido como Moses David, fundador do grupo Meninos de Deus (The Children of God), previu que um cometa iria atingir a Terra, provavelmente em meados dos anos 1970, e destruir toda a vida nos Estados Unidos. Disse ainda que a segunda vinda de Cristo ocorreria em 1993. Nos anos 1970, Os Meninos de Deus atuaram bastante no Brasil, parando as pessoas na rua para propagar sua mensagem de paz e amor. Eram chatíssimos. 

1978 
Chuck Smith, pastor da Calvary Chapel, previu o arrebatamento para 1981. 

1980 
Leland Jensen, líder da Comunidade Mundial fé Baha’i, predisse que um desastre nuclear ocorreria nesse ano, o que poderia ser seguido por duas décadas de conflito, terminando com o estabelecimento do Reino de Deus na Terra. 

1981 
O revendo Moon, da Igreja da Unificação, previu que o Reino dos Céus seria estabelecido nesse ano. 

1982 
O físico e escritor John Gribbin e o astrônomo Stephen Plagemann publicaram o livro Efeito Júpiter, em 1974. nele, previam um alinhamento planetário para 1982 que iria provocar uma série de catástrofes como interrupções nas ondas de rádio, chuvas, distúrbios nas temperaturas, terremotos violentos, inclusive na falha de San Andréas, na Califórnia. O alinhamento realmente ocorreu, mas nada aconteceu. 

1986 
De novo Moses David, dos Meninos de Deus, previu que aBatalha do Armagedom iria ocorrer em 1986. A Rússia iria derrotar Israel e os Estados Unidos, estabelecendo uma ditadura comunista mundial. Em 1993, Cristo voltaria à Terra. 

1987 a 2000 
No livro I Predict 2000 AD, Lester Sumrall (1913-1996), fundador do lester Sumrall Evangelistic Association, previu que Jerusalém seria a cidade mais rica do planeta, que o Mercado Comum iria governar a Europa e que uma guerra nuclear iria ocorrer, envolvendo a Rússia e, talvez, os Estados Unidos. 

1988 
O escritor evangélico norte-americano Hal Lindsey previu, em seu livro The Late, Great Planet Earth, que o arrebatamento estava chegando em 1988 – uma geração ou 40 anos após a criação do estado de Israel. 

A partir dos anos 1980 até hoje 
Centenas, talvez milhares de previsões de pessoas ligadas aos mais diversos grupos religiosos e esotéricos fazem referência ao fim do mundo, catástrofes globais, a volta de Cristo, a chegada dos extraterrestres e sabe-se lá o que mais. As datas frequentemente vão sendo alteradas à medida que as previsões falham.” (Profecias e Profetas, Revista Sexto Sentido Especial, 2008, pp. 16-21). 


Atualmente, os fins do mundo mais falados são de 2012 e 2029. 21 de maio de 2011 também.


Consultando com a frase fim do mundo em 2029, encontrei 10.200 referências. 

Buscando fim do mundo em 2012, encontrei 194.000 referências. 

2012 - O Autor de “Código da Bíblia” diz ter encontrado referência ao choque de um cometa com a Terra em 2012. Juntando isso com as interpretações do calendário maia, que coloca 2012 como fim de uma era, o fim está parecendo certo para muita gente. Esta data está bem próxima; mas, passada esta, ainda fica 2029 para assombrar as mentes de milhões de pessoas que ainda não estão satisfeitas com os fracassos de cem por cento das previsões do passado. 

2029 – Já o ano de 2029 é apontado como outra data de um choque de asteróide com a Terra. Choque de asteróide é coisa que já ocorreu no passado, podendo ocorrer a qualquer momento no futuro. Segundo Marcelo Gleiser, não é possível avistar algo que venha a chocar com o Planeta daqui a muitos anos. Assim, nunca podemos ter certeza de que não venha algo chocar com a Terra depois dos próximos dois anos, podendo ser antes de 2029 ou até antes de 2012, mas essas profecias já sabemos que não têm fundamento algum.

2060 - Agora já foi ressuscitada ideia que dizem partir do físico Isaac Newton colocando o fim do mundo em 2060.

O autor do apanhado de previsões disse: “nunca é lembrado que a maior parte das profecias não se cumpre”. Eu, agora, pergunto: se a maior parte das profecias não se cumpre, alguém sabe me informar sobre alguma que se cumpriu? Pelo menos até hoje, em todas as que dizem ter-se cumprido, não consegui ver nenhum cumprimento.




Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

VISÃO ESPÍRITA DO NATAL



A vida moderna, respondendo ao interesse financeiro, transformou o natal numa festa do comércio. Já o Espiritismo propõe um resgate do sentido mais espiritual do nascimento do Cristo, desvendando os símbolos e significados dessa data.

Embora associemos o Natal ao nascimento de Jesus, a tradição da festividade remonta a milênios. As origens do natal vêm desde dois mil anos antes de Cristo. Tudo começou com um antigo festival mesopotâmico que simbolizava a passagem de um ano para o outro, o Zagmuk. Para os mesopotâmicos, o Ano Novo representava uma grande crise. Devido à chegada do inverno, eles acreditavam que os monstros do caos enfureciam-se e Marduk, seu principal deus, precisava derrotá-los para preservar a continuidade da vida na Terra. O festival de Ano Novo, que durava 12 dias, era realizado para ajudar Marduk em sua batalha.

A mesopotâmia inspirou a cultura de muitos povos, como a dos gregos, que assimilaram as raízes do festival, celebrando a luta de Zeus contra o titã Cronos. Mais tarde, por intermédio da Grécia, costume alcançou os romanos, sendo absorvido pelo festival chamado Saturnalia, pois era em homenagem a Saturno. A festa começava no dia 17 de dezembro e ia até o 1º de janeiro, comemorando o solstício do inverno. De acordo com seus cálculos, o dia 25 era a data em que o Sol se encontrava mais fraco, porém pronto para recomeçar seu crescimento e espalhar vida por toda a Terra.

Durante a data, que acabou conhecida como o Dia do Nascimento do Sol Invicto, as escolas eram fechadas e ninguém trabalhava. Eram realizadas festas nas ruas, grandes jantares eram oferecidos aos amigos, e árvores verdes – ornamentados por muitas velas – enfeitavam as salas para espantar os maus espíritos da escuridão. Os mesmos objetos eram usados para presentear uns aos outros.

Depois de Cristo

Nos primeiros anos do Cristianismo, a Páscoa era o feriado principal. O nascimento de Jesus não era celebrado. No século IV, a Igreja decidiu instituir o nascimento de Jesus com um feriado. Mas havia um problema: a Bíblia não menciona a data de seu nascimento. Então, apesar de algumas evidências sugerirem que o nascimento de Jesus ocorreu na primavera, o Papa Júlio I escolheu 25 de dezembro. Alguns estudiosos acreditam que esta data foi adotada num esforço de absorver as tradições pagãs da Saturnalia.

A maior parte dos historiadores afirma que o primeiro Natal, como conhecemos hoje, foi celebrado no ano 336 d.C. A troca de presentes passou a simbolizar as ofertas feitas pelos três reis magos ao menino Jesus, assim como outros rituais também foram adaptados.

Hoje, as Igrejas Ortodoxas grega e russa, celebram o Natal no dia 6 de janeiro, também referido como o “Dia dos Três Reis”, que seria o dia em que os três magos teriam encontrado Jesus na manjedoura.

Data Provável do Natal

Lemos no Evangelho de Lucas: “E aconteceu, naqueles dias, que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse. Este primeiro alistamento foi feito sendo Quirino governador da Síria.” César Augusto reinou de 30 a.C a 14 d.C. Mas o censo ocorreu em 6 d.C., o que permite ver que a determinação da data está historicamente imprecisa. Há, no entanto, uma tradução proposta, segundo a Bíblia de Jerusalém: “Esse recenseamento foi anterior àquele realizado quando Quirino era governador da Síria.”

Jesus nasceu antes da morte de Herodes, morte esta que aconteceu em 4 a.C., provavelmente entre 8 e 6 a.C. A chamada Era Cristã foi estabelecida por Dionísio, o pequeno, apenas no século 6 e é fruto de um erro de cálculo.

Quando Jesus iniciou o seu ministério ele tinha provavelmente 33 anos, ou até 36. E Dionísio, o pequeno, considerou como se ele tivesse 30 anos, embora Lucas (3:23) fale em “mais ou menos 30 anos”.

Neste ponto a revelação espírita pode, como em tantos outros, contribuir com os historiadores. Humberto de Campos, em mensagem psicografia por Chico Xavier e publicada em "Crônicas de Além-túmulo", aponta o ano 749 da era romana como sendo o ano do nascimento de Jesus, o que corresponderia ao ano 5 a.C.

Do mesmo modo, Emmanuel informa-nos em "Há 2000 Anos" que o ano da crucificação de Jesus foi o 33 a.C. Sendo assim, portanto, Jesus iniciou o seu ministério com 35 anos e desencarnou com 38.

Um Significado Espiritual

Diz, então, a sequência do Evangelho de Lucas: “E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. E subiu da Galiléia também José, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi chamada Belém (porque era da casa e família de Davi)”.

Belém situa-se a 6 quilômetros de Jerusalém e a 800 metros de altitude, nos montes da Judéia. Por isso a expressão “subiu da Galiléia à Judéia”.

Buscando o sentido espiritual do Evangelho, podemos entender Nazaré como sendo nossas vivências na área da razão. É o racional que hoje, no dia a dia, fala mais alto em nossos procedimentos. Belém seria assim, a representação de nosso encaminhamento levando em conta o sentimento equilibrado, a intuição, ou o amadurecimento da própria razão pelo equilíbrio desta, através da vivência, com o emocional. O nascimento de Jesus em Belém significaria, assim, o início de uma nova era em que a justiça se converte em amor, e o racional é espiritualizado através de seu perfeito equilíbrio com o emocional.

Historicamente, não há certeza sobre Jesus ter nascido em Belém ou Nazaré. O que realmente importa, porém, é apropriarmos de seu sentido reeducativo, é saber que, para que o Cristo nasça em nossa intimidade é necessário agir equilibrando sentimento e razão, intelecto e moral, conhecimento e aplicação. Pois, se no plano horizontal necessitamos da ciência em nossas movimentações cotidianas, para verticalizarmos nossas conquistas não podemos prescindir de uma moral elevada consoante os ensinamentos contidos no Evangelho.

Para que o Cristo nascesse, Maria e José tiveram que subir da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi chamada Belém, significando assim a necessidade de subirmos espiritualmente para refletirmos o Cristo em toda sua grandeza.

Prossegue a Narrativa

O Evangelho de Lucas nos conta, então, que “a fim de alistar-se com Maria, sua mulher, que estava grávida. E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz. E deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-o em panos e deitou-se numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem.”

Jesus vem à luz por meio de Maria. Assim narra o evangelista: “E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria.”

“Virgem” aqui se refere a núbil (mulher em idade para se casar), ou mulher jovem que, em hebraico é almah, Era um termo usado quando se referia a uma donzela ou jovem casada recentemente, não havendo nenhuma referência em particular à virgindade como entendemos hoje.

Gabriel, então, disse: “E eis que em teu ventre conceberás, e dará à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus.” Maria estava preparada, por isso pôde conceber Jesus em seu ventre, isto é, dentro de si. 

E nós, o que estamos cultivando, o que estamos construindo dentro de nós mesmos? Quando estaremos preparados para trazer à luz o Cristo imanente em nós? Aquele que, segundo o texto evangélico, “será grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu Reino não terá fim.”

No entanto, Maria indaga: “Como se fará isso, visto que não conheço varão?” E respondendo o anjo, disse-lhe: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.”

A outra possível tradução para “Espírito Santo” é “sopro sagrado”, dando a entender a presença de Deus em nós quando a Ele estamos ajustados. Àquele tempo a presença de Deus (IHVH) era manifesta por uma nuvem, por isso o uso da expressão “cobrirá com sua sombra”.

Nasce a Virtude nos Corações

A descida do “sopro sagrado” representa bem o momento de fecundação da virtude em nós. O valor vem do alto por meio da revelação superior, necessitando ser por nós absorvido e vivenciado para fixação, que se dá com o nascimento do novo ser em que nos transformamos a partir de então. Por isso, o Cristo é sempre fecundado pelo Espírito Santo.

“Disse, então, Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.” Perfeitamente justada aos Desígnios Superiores, Maria se entrega totalmente a eles. É aquele momento em que há perfeito entendimento do mecanismo da vida, quando o Espírito sabe que o mais importante é atender a Vontade do Pai e, então cumpre-a fielmente. É a liberdade-obediência. Encontramos assim em Maria as três qualidades básicas para que o Cristo possa nascer: confiança, consciência e obediência sintetizadas na fé.

Mais Lições a Serem Aprendidas

Jesus envolvido em panos nos ensina a lição de simplicidade: enquanto nos preocupamos tanto com os acessórios em nossa vida do dia-a-dia, os Espíritos superiores ocupam-se com o que verdadeiramente é importante para a vida imortal.

A manjedoura é o tabuleiro em que se deposita comida para vacas, cavalos etc. em estábulos. Segundo Emmanuel em "A Caminho da Luz", “a manjedoura assinalava o ponto inicial da lição salvadora do Cristo, como a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes.”

Por meio de Jesus colocado em um tabuleiro como alimento para animais, o Evangelho ensina-nos que, se quisermos deixar a condição de animalidade em favor de uma espiritualidade mais autêntica, é preciso que tenhamos o Cristo, ou a Boa Nova, por ele proposta, como alimento definitivo de nossas almas. Condição esta confirmada por ele mesmo quando mais adiante nos afirma: “Eu sou o pão da vida.” Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.

Outra lição encontrada é a da resignação, “por que não havia lugar para eles na estalagem“. É muito comum este fato, quando nos ajustamos aos desígnios superiores e agimos em favor do amor e da fraternidade, não há para nós lugar onde se instala o interesse imediatista do mundo material.

A Visita dos Magos

Narrada no Evangelho de Mateus, a visita dos magos e suas dádivas originaram as tradições de presentes no Natal. No entanto, dádivas seriam doações espontâneas de algo valioso, material ou não, a alguém; presente, oferta, mimo, brinde. Não é o que acontece atualmente no Natal. Os presentes nem sempre são espontâneos, mas fruto de interesses outros. O que não tem valor material não é bem aceito como presente, mostrando assim a faixa de interesses a que estamos ajustados. A expressão “seus tesouros” que se refere aos presentes ofertados, dá a entender que estes já lhes pertenciam, ou seja, que já tinham sido por eles conquistados. Então deveríamos dar valores que já são nossos, nossas conquistas individuais, de nós mesmos e espontaneamente.

Os presentes também contêm significados. O ouro refere-se à autoridade sobre as coisas materiais; o incenso, à autoridade sobre as questões espirituais. A mirra é uma planta de cuja casca sai uma resina aromática. De aroma agradável e gosto amargo, na Antiguidade, segundo o Dicionário Houaiss, ela era usada como incenso e remédio.

Pode revelar, desta forma, dois significados. Foi dado a Jesus o poder sobre as enfermidades: “Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si…“, diz Isaias, 53:4. E representa também a necessidade do testemunho (“gosto amargo”), testemunho este que dá o poder e autoridade sobre as enfermidades e sobre as questões materiais e espirituais.

O Personagem Principal

Se historicamente não podemos precisar com certeza onde e quando se deu a noite do nascimento de nosso Mestre Maior, é certo que ela aconteceu. Emmanuel assim a descreve em "A Caminho da Luz: “Harmonias divinas cantavam um hino de sublimadas esperanças no coração dos homens e da Natureza. A manjedoura é o teatro de todas as glorificações da luz e da humildade, e, enquanto alvorecia uma nova era para o globo terrestre, nunca mais se esqueceria o Natal, a ‘noite silenciosa, noite santa‘”.

Como já dissemos, o nascimento de Jesus representa o início de uma nova era em que a justiça se converte em amor, e a fraternidade pura, através de sua exemplificação, meta a ser alicerçada em nossos corações. Antes era o homem biológico, depois, o homem espiritual.

Na festa que preparamos ao final de cada ano, Jesus deveria ser personagem principal. Assim também, como devemos nos preparar para ela, qual a melhor vestimenta a usar?

Aqui deixamos duas passagens evangélicas para refletirmos sobre estes temas: uma de Mateus: “Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer, tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então, os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E, quando te vimos estrangeiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E, quando te vimos enfermo ou na prisão e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”

Que façamos em nome do Cristo um Natal diferente. Que saiamos de nós mesmos, de nossos caprichos e desejos pueris, buscando atender as necessidades de nossos semelhantes mais carentes. Reclamamos do “pouco” que temos, mas quão muito é esse pouco se comparado ao enorme percentual da humanidade que muito menos tem, chegando a faltar até o básico necessário? Lembremos destas palavras: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes…”

Na outra passagem de Mateus, lemos: “E, quanto ao vestuário, porque andais solícitos? Olhai para os lírios do campo…” Para que possamos estar vestidos com a “túnica nupcial” é preciso estarmos ajustados ao fluxo da vida que é a Lei Superior, que é Amor. Os lírios “não trabalham e nem fiam”, mas cumprem a sua missão de enfeitar mesmo tendo nascido em condições adversas (brejo, lodo etc.).
Ao dizer que nem mesmo o Rei Salomão em toda a sua exuberância se vestiu como qualquer deles, a beleza que Jesus observa é a que vem de dentro, aquela gerada pela consciência tranquila do dever cumprido e do ajuste aos Propósitos Superiores.

Nada dá mais segurança e firmeza do que o Evangelho vivenciado. Assim, firmemo-nos em seus ensinamentos de moral superior e estaremos preparados para que o Cristo nasça em nós, e pelos frutos de nossas ações também possamos ser chamados de Filhos do Altíssimo ou Filho de Deus, por quem quer que seja.


Claudio Fajardo



Fonte: Revista "Universo Espírita" Nº 60
http://duplavista.com/arquivo/visao-espirita-do-natal
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/vermelho-%c3%a1rvore-de-natal-natal-2892235/

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O CAMINHO DA PAZ

Um aluno certa vez pediu a um dos maiores kabalistas para que lhe revelasse todas as leis do Universo e que o fizesse enquanto se mantinha apoiado sobre uma única perna.

O sábio respondeu: "Ama o próximo como a ti mesmo. O resto é comentário”.

Essas não são apenas palavras bonitas. Trata-se de uma tecnologia que pode trazer Luz para toda e qualquer escuridão ou vazio em nossas vidas.

E o mais importante: é essa consciência que pode acabar com a dor, o sofrimento e a morte, criando assim uma realidade de paz no mundo.

Quando conseguimos amar a pessoa ao nosso lado – especialmente quando não temos vontade de fazê-lo! – damos um passo à frente no caminho para a paz.

Rav Yehuda Berg

Fonte: Centro de Cabala
www.kabbalah.com
Fonte: Acervo de autoria pessoal

domingo, 9 de dezembro de 2012

RETIDÃO



Aqueles que estão tentando construir a comunidade humana sobre a fundação da riqueza (dhana) são como construtores que utilizam areia como fundação. Aqueles que procuram construir sobre a rocha da retidão (Dharma) são os sábios. 

Lembre-se sempre que a retidão é a fundação deste mundo. (Dharma Moolam Idham Jagath). 

Aqueles que praticam o mal são covardes, eles serão constantemente assombrados pelo medo e não terão paz dentro de si. 

Pratique a retidão e você se manterá feliz para sempre. Respeitar os pais que lhe trouxeram a este mundo é a primeira lição em retidão. E a gratidão é a fonte que alimenta esse respeito.


Sathya Sai Baba



Fonte: www.sathyasay.org
Fonte da Gravura: AI(IA)

ENTRE A TERRA E O CÉU

No Génesis está escrito que, quando Jacob deixou a terra de Canaã para procurar uma esposa, chegou a um local onde passou a noite. Aí, ele adormeceu com a cabeça apoiada numa pedra.

Durante o sono, viu uma escada que ligava a terra ao céu, com anjos que subiam e desciam. Foi assim que ele teve a revelação dessa hierarquia cósmica a que os cabalistas chamam Árvore da Vida.

A terra e o céu não estão separados, existe entre eles toda uma circulação, existem trocas. Certos clarividentes viram seres que desciam e agiam sobre os humanos, os animais, as plantas, as pedras... Alguns iam embora rapidamente, mas outros, pelo contrário, permaneciam por muito tempo para continuar a sua tarefa. 

Por enquanto, muito poucas pessoas acreditam que estas criaturas existem realmente e fazem um trabalho, mas um dia toda a humanidade terá consciência desta circulação que existe entre a terra e o céu, entre a terra e o Sol, e até entre a terra e regiões mais distantes em todo o universo, até ao infinito.


Omraam Mikhaël Aïvanhov

Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

sábado, 8 de dezembro de 2012

UM VELHO PINHEIRO

Um dia, diante da velha árvore torta, um pinheiro todo vergado pelo tempo, o sábio da aldeia ofereceu a sua própria casa para aquele discípulo que “conseguisse ver o pinheiro na posição correta”.

Todos se aproximaram e ficaram pensando na possibilidade de ganhar a casa e o prestígio, mas como seria “enxergar o pinheiro na posição correta”? O mesmo era tão torto que a pessoa candidata ao prêmio teria que ser no mínimo contorcionista. 

Ninguém ganhou o prêmio e o velho sábio explicou ao povo ansioso que, ver aquela árvore em sua posição correta, era “vê-la como uma árvore torta”. Só isso!

Nós temos, em nós, esse jeito, essa mania de querer “consertar as coisas, as pessoas, e tudo o mais” de acordo com a nossa visão pessoal. Quando olhamos para uma árvore torta, é extremamente importante enxergá-la como árvore torta, sem querer endireitá-la, pois é assim que ela é. Se você tentar “endireitar” a velha árvore torta, ela vai rachar e morrer, por isso é fundamental aceitá-la como ela é.

Nos relacionamentos, é comum um criar no outro expectativas próprias, esperar que o outro faça aquilo que ele “sonha” e não o que o outro pode oferecer.

Sofremos antecipadamente por criarmos expectativas que não estão alcance dos outros. Porque temos essa visão de “consertar” o que achamos errado. Se tentássemos enxergar as coisas como elas realmente são, muito sofrimento seria poupado. Os pais sofreriam menos com os seus filhos, pois, conhecendo-os, não colocariam expectativas, que são suas, na vida dos mesmos, gerando crianças doentes, frustradas, rebeldes e até vazias. 

Tente, pelo menos tente, ver as pessoas como elas realmente são, pare de imaginar como elas deveriam ser, ou tentar consertá-las da maneira que você acha melhor.

O torto pode ser a melhor forma de uma árvore crescer.

Não crie mais dificuldades no seu relacionamento, se vemos as coisas como elas são, muitos dos nossos problemas deixam de existir, sem mágoas, sem brigas, sem ressentimentos.

E, para terminar, olhe para você mesmo com os “olhos de ver” e enxergue as possibilidades, as coisas que você ainda pode fazer e não fez. Pode ser que a sua árvore seja torta aos olhos das outras pessoas, mas pode ser a mais frutífera, a mais bonita, a mais perfumada da região, e, isso, não depende de mais ninguém para acontecer, depende só de você.

Paulo Roberto Gaefke


Fonte do texto e da gravura: http://mensagensdiarias.com.br/um-velho-pinheiro/

ESCADA PARA O ILIMITADO

Nosso trabalho espiritual é como uma escada para alcançar nosso eu aperfeiçoado. 

Mesmo que tenhamos subido um degrau, sempre existirá mais um. 

Um novo desafio. 

Mais transformação.

Contentar-se com o que já foi realizado trará apenas estagnação em nosso crescimento espiritual. 

Ao percorrermos nosso caminho espiritual, é saudável termos uma consciência de urgência, sempre nos perguntando: 

"O que mais eu poderia estar fazendo?"

Rav Yehuda Berg


Fonte: Centro de Cabala
www.kabbalah.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

MENTE DE RENÚNCIA


Por eu facilmente ficar chateado e agitado, isso mostra que não tenho a mente de renúncia. A mente de renúncia de certo modo é bem simples. Temos mente de renúncia quando compreendemos que tudo isso não é grande coisa. Alguém pisa em seu dedão, qual a grande coisa aí? Quanto mais nos acostumarmos com essa ideia, mais temos mente de renúncia. Pelo menos, tento ver por que transformo tudo em uma coisa tão grande. Estou meramente dando a você um modelo de como invocar a mente de renúncia.

É um pouco como esse exemplo. Estamos andando nesse deserto por tanto tempo, e tudo que jorra, que é aquoso, é tão importante para nós. Mesmo se vermos uma miragem, nosso único desejo é se aproximar da água sem jamais compreender que é só uma miragem. Se você não sabe que é uma miragem e vai até lá, tudo que você obtém é um grande desapontamento. Então, saber que é só uma miragem é a mente de renúncia. [...]

A renúncia de algum modo tem essa conotação de abrir mão de algo. Mas é como o exemplo da miragem. Você não pode abrir mão da água porque não há nenhuma água; é só uma miragem. Além disso, você não precisa abrir mão de uma miragem porque qual é o sentido de abrir mão de uma miragem? A pessoa simplesmente só precisa saber que é uma miragem. Tal compreensão é uma grande renúncia. No momento que você sabe que é uma miragem, o mais provável é que você nem vá até lá porque sabe que é falso; ou mesmo que vá, não há desapontamento, porque você já sabia o que havia ali. No mínimo, você terá só um pequeno desapontamento. É por isso que Jamgon Kongtrul disse que a mente de renúncia é como uma fundação. [...]

A mente de renúncia não tem nada a ver com sacrifício. Como já mencionei, quando falamos sobre renúncia, de algum modo ficamos todos assustados porque pensamos que temos que abrir mão de alguns bens, algo valioso, algumas coisas importantes. Mas não há nada que é importante; não há nada que solidamente exista. Tudo que você está abrindo mão é, na verdade, uma vaga identidade. Você compreende que isso não é verdadeiro, não é absoluto; é esse o modo e o porquê de desenvolver renúncia.




Fonte: http://darma.info/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

QUEM SOU EU?

Gurdjieff tentou uma abordagem: simplesmente tente se lembrar de quem você é. Raman Maharshi tentou uma outra: ele criou uma meditação para questionar "Quem sou eu?". 

E não acredite em qualquer resposta que a mente possa lhe oferecer. A mente dirá: "Que pergunta tola! Você é isso, é aquilo, é um homem ou uma mulher, é educado ou sem educação, rico ou pobre." 

Ainda que a mente ofereça respostas, continue a perguntar. Não aceite nenhuma resposta, porque todas as que vierem da mente são falsas. Elas vêm da sua parte irreal. Vêm de palavras, vêm de textos, do condicionamento, da sociedade, dos outros. 

Continue a perguntar. Deixe a flecha do "Quem sou eu?" penetrar cada vez mais profundamente. Chegará o momento em que não haverá nenhuma resposta. Esse é o momento certo. Agora você está se aproximando da resposta. 

Quando não houver nenhuma resposta, estará próximo dela, porque a mente está se calando — ou se afastou muito da mente. 

Quando não há resposta e cria-se um vazio ao seu redor, o seu questionamento parece absurdo. Quem você está questionando? Não há ninguém para lhe responder. 

De repente, até mesmo o seu questionamento cessa. Com ele, dissolveu-se a última parte da mente, porque essas respostas e essa pergunta eram da mente. Ambas se dissolveram. 

Portanto, agora você é. Experimente.

Se persistir, é bem possível que essa técnica lhe dê um vislumbre do real — e o real é o eternamente vivo.

OSHO

Fonte: do livro "Meditação: A Primeira e Última Liberdade"
www.palavrasdeosho.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O SIGNIFICADO DO NATAL


Todos os anos ao chegar o mês de dezembro, ganha destaque o chamado “espírito natalino”. As pessoas procuram ser mais amáveis, remetem cartões com lindas frases e se preocupam um pouco com os outros. Apesar de todo o processo de propaganda, da conotação quase que exclusiva ao aspecto externo, ainda é possível perceber que alguma coisa acontece nos níveis invisíveis. 

Existe certa influência energética, um “aroma” que traz paz, confraternização e harmonia. Os corações ficam mais dispostos, bem mais receptivos. É sensível a presença de uma força maior criando um clima favorável a um recolhimento interior. Não é difícil focar a mente em ideais tais como o amor e a fraternidade. 

Queiramos ou não o período do natal nos afeta e nos envolve. Mesmo quem não tem nenhuma tendência religiosa fica satisfeito, pois haverá motivo para um feriado ou para fazer uma festa. E na medida em que os anos passam o natal transforma-se cada vez mais em festas de mesa, dos sentidos e artifício para o comércio. Tudo isso em prejuízo do mundo do espírito. Diminui a preocupação ou a reflexão, como o seu verdadeiro sentido e a maior atenção é voltada para presentes, comidas e bebidas. Muitos animais são sacrificados com pretensa intenção de comemorar o nascimento de Jesus. Esquecem que a dor e a morte não são as melhores homenagens para o Mestre do Amor e da Compaixão. 

A rotina e a mera tradição não devem superar o conteúdo essencial desta data. Hábitos repetidos e ações condicionadas devem dar lugar à autenticidade. É importante compreendermos qual é o verdadeiro significado do natal, qual o sentido de toda essa simbologia e o que contém em si o maltratado termo “Feliz Natal”. 

O que se quer dizer quando se pronuncia para alguém “feliz natal”? Será que existe compreensão do que é feito? Será que há uma intenção real ou apenas repete-se por que os outros dizem? Para desejarmos feliz “alguma coisa” precisamos saber o que estamos desejando. É necessário um exame, uma maior reflexão. Seres conscientes e inteligentes devem fazer algo mais que copiar, repetir, seguir e perpetuar condicionamentos. 

Não tem sentido fazermos algo que não entendemos, repetir gestos e palavras sem conteúdo. Os atos conscientes possuem um maior poder. Por tudo isso é útil revisarmos nossos conceitos e nossos entendimentos, questionar o que é o natal, qual o sentido mais profundo para o tradicional “feliz natal”. 

Uma nova percepção deve ser alcançada examinando de que modo o natal pode ser algo vivo, um acontecimento novo a cada ano, um momento que traga vida e inspiração. Ao refletirmos com profundidade sobre o sentido do natal, veríamos que antes de tudo deveria ser uma grande festa para a Alma. Em vez de barulho, ceias e brindes alcoólicos, uma oportunidade especial para o silêncio, a reflexão e a meditação. É um dia para buscarmos a interiorização, uma maior conscientização, um renascer espiritual e um visualizar do novo ciclo. 

Como os antigos já diziam, a letra mata e o espírito vivifica. Não devemos esquecer que as religiões falam por símbolos e que os textos bíblicos foram escritos através do uso de alegorias, parábolas, metáforas e com uma Linguagem Simbólica. Sem dúvida existe um grande significado, um profundo conteúdo místico e não relatos históricos. Por que tornar concreto o que é abstrato? Por que tentar tornar história o que é misticismo? 

O foco da atenção deve estar na busca de um significado para a narrativa apresentada. Deve ser feito um exercício hermenêutico, uma interpretação viável para os símbolos. Além disso, cabe questionar se existe algum sentido em usar pinheiros cobertos com neve para nós que vivemos numa região tropical. Caía neve na Palestina ou isso foi um acréscimo feito pelos europeus, séculos depois, já que em muitas regiões da Europa as árvores, nessa época, são cobertas por flocos de neve? Não fica nítido que foram os colonizadores europeus que espalharam essa tradição pela América, até mesmo como uma maneira de lembrar a terra dos antepassados, que está em pleno inverno ao final do ano? É necessário cortar árvores e enfeitá-las ou é melhor uma comunhão com a Natureza? 

O aspecto central do natal deve estar ligado ao significado do interior, conectado com um reto entendimento. Para chegarmos ao seu real significado, devemos fazer um exame a partir de cinco ângulos distintos: 

- Histórico (“Nascimento” de Jesus) 

- Astronômico (Nascimento do Sol – solstício de inverno) 

- Simbólico (o “Nascer”) 

- Místico (o Nascer do Cristo em nós) 

- Ecológico (o Nascer do Cristo na Natureza) 

No geral, o natal é tomado como sendo uma comemoração do nascimento de Jesus. Porém, há uma grande confusão entre os termos “Jesus” e “Cristo”. Jesus é o homem, Cristo é o Espírito que se manifestou em Jesus após o “batismo”, aos 30 anos. G.R.S. Mead, um exímio pesquisador do Cristianismo Primitivo, em “Fragmentos de uma Fé Esquecida” fala-nos que no Cristianismo Gnóstico é bem conhecida a grande distinção entre Jesus e o Cristo. Nesta obra há tradução dos “Atos de João”, onde numa passagem é relatado um diálogo entre Jesus e o “Senhor”, que foi “assistido” por Pedro, João e Tiago. [1] Mead acrescenta que em sua opinião, baseada nos textos gnósticos, “o Cristo foi o Grande Mestre, Jesus foi o homem através de quem Ele ensinou durante o tempo do ministério”.[2] 

Se lermos com atenção uma boa tradução da Bíblia (“Setenta”, “King James Bible”) veremos que a maioria das referências são feitas a Jesus, o filho de Maria. Um número bem menor falam de Jesus Cristo (ou “Jesus, o Cristo”), o “Espírito do Senhor”. O teósofo Geoffrey Hodson ao comentar a simbologia do Novo Testamento, no importante trabalho “The Christ Life from Natiivity to Ascension” destaca que “a palavra Cristo, a qual foi acrescentada como um segundo nome” não é um nome pessoal e “sim uma descrição de um estado de consciência”.[3] Hodson diz que a “história da vida de Jesus do tempo do seu Batismo em diante revela que, na verdade, ele foi em todo respeito e numa maneira completa um Consagrado – assim seu nome, Jesus Cristo”. [4] Desse modo, existe dois nascimentos: o de Jesus (o homem) e o do Cristo em Jesus. Já teremos aí dos significados para o natal. E muito material para ser analisado e estudado. 

Após uma pesquisa minuciosa, verifica-se que não existe base histórica para afirmar-se que Jesus nasceu no dia 25 de Dezembro. Além de o calendário atual ser muito distinto dos anteriores, a celebração religiosa que ocorre nessa época já existia antes do surgimento do Cristianismo e é sabido, como veremos a seguir, que foi no século IV d.C. que se passou a considerar esta data como nascimento de Jesus. 

Séculos antes os egípcios já realizavam, nessa época, grandiosos cerimoniais nos quais homenageavam o Sol – símbolo da Luz Espiritual. Eles veneravam a “Consciência” que com sua luz iluminava e infundia o seu poder sobre todas as almas. Existia um forte sentido simbólico. Cerimônias semelhantes eram feitas pelos incas, astecas, caldeus, comunidades gregas, nos cultos de Mitra. E, curiosamente, esses povos, com diferentes religiões, tinham suas celebrações no mesmo período do ano. 

Em todas as religiões, no seu aspecto externo (exotérico), ocorreu uma antropomorfização do Sol. O Sol Oculto e invisível, do qual o visível é uma reflexão, sempre foi o emblema da divindade. Os cultos de adoração ao Deus-Sol, no Peru, são bem conhecidos na história. Mitra, a antiga divindade persa, era um Deus-Sol, o dispensador da luz. Também nos Vedas encontra-se Mitra, uma das doze personificações do Sol. Ainda na tradição oriental Sûria é o Sol. Na Grécia e em Roma existiam festas em homenagem ao Sol. 

Fica claro que a celebração feita ao final de dezembro não é uma posse exclusiva do Cristianismo, mas uma comemoração mística existente em todas as grandes religiões. Na antiga Religião Egípcia o Sol era o símbolo do divino por excelência, sua luz era considerada uma manifestação visível de Deus. Osíris era chamado “Alma do Sol” e o sol nascente era personificado em Hórus. Cornélio de Lápide no “Sermão sobre a Santa Virgem” escreve que as seguintes palavras foram ditas por São Bernardo referindo-se à Virgem Maria: “O Sol-Cristo vive em ti e tu vives nele” (I,431). [5] 

Não há diferença, em seu sentido interno, entre os termos destacados – “Sol-Cristo” e “Sol-Osíris” – pois é a mesma ideia, é o mesmo Deus-Sol. Na nomenclatura cristã o Verbo (o “Logos”), como vemos no início do evangelho de João, tem por símbolo o Deus-Sol. O Cristo místico é o Logos descendo a matéria. Assim, Jesus foi identificado com a Segunda Pessoa da Trindade, tornando-se o Cristo místico, a luz dos homens. 

É útil examinarmos a origem dos termos “Cristo” e “cristãos”, para percebermos melhor o sentido real do “nascimento” do Cristo. A palavra “Cristo” é anterior ao Cristianismo. Clemente de Alexandria na “Stromata” comenta que aqueles que acreditam em “Chrêst” são chamados “Chrêstians” (S,II) e Justino Martyr, em sua “Apologia” chama os cristãos de “Chrêstians”. Outro autor e comentarista, Lactancio, diz que é “apenas por ignorância que as pessoas se chamam de cristãos ao invés de Chrêstians”.[6] 

H.P. Blavatsky, fala-nos do uso do termo “Christo” pelos gregos e no trabalho “O caráter Esotérico dos Evangelhos” ela explica que a palavra “Chrêstos” existia muito antes do Cristianismo e que os termos Cristo e cristãos eram originalmente grafados “Chrêst” e “Chrêstians” [7], tendo a sua origem na terminologia dos Templos Pagãos. Durante vários anos os primeiros seguidores da nova religião chamam-se “nazarenos” e não “cristãos”. Blavatsky cita Canon Farrar, que no livro “ The Early Days of Crhistianisty” explica que o nome “cristãos” só passou a ser usado após a perseguição de Nero. 

G.R.S. Mead cita que os gnósticos marcionistas tinham uma igreja na Síria, a qual estava dedicada para “o Senhor e Salvados Jesus, o Bom- Chrêstos e não Christos”. Segundo mead, nos primeiros tempos parece ter existido muita confusão entre os dois títulos. “Christos é o termo grego para o hebraico Messias, o Ungido. O título Chrêstos foi usado para alguém Santo ou Perfeito”. Sem dúvida, “aqueles que mais tarde adotaram os textos, em pura ignorância, mudaram Chrêstos para Christos”.[8] 

O pesquisador Gerald Massey, em sua obra “Paulo, o Oponente Gnóstico de Pedro”, mostra que o “Christos” de São Paulo não era Jesus. Mas sim o “Cristo do Mistérios”, o Princípio Divino em cada ser humano. Os “Chrêstians” buscavam despertar da consciência espiritual, referido por São João ao dizer “aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”. Segundo Geofrey Hodson, “na antiga Grécia o termo Christos, o Consagrado (ungido), foi aplicado para aqueles que tinham sido admitidos em certo grau dos Mistérios Maiores”.[10] É isto o que significa a simbologia do nascimento de Jesus em uma “gruta”. Foi seu primeiro grande passo na caminhada em direção ao Reino dos Céus, sua recepção na Comunhão dos Santos. 

Os estudiosos do cristianismo original e dos textos gnósticos indicam que Jesus viveu entre os Nazarenos e Essênios alguns anos antes da chamada “era cristã”. Recentes documentos encontrados, a partir do ano de 1947, conhecidos como “Papiros do Mar Morto”, demonstram a realidade da afirmação de que Jesus foi um instrutor entre os Essênios, tendo vivido numa comunidade à beira do Mar Morto que foi atacada ao final do século I a.C. 

Autores estudiosos como Annie Besant, Gerald Massey, C.W. Leadbeater, Geofrey Hodson, Blavastky, G.R.S. Mead, atestam que nosso calendário nasceu em torno de um século antes do chamado “ano zero” de nosso calendário e que nas passagens geralmente censuradas do “Midrashim” e do “Talmud” pode-se encontrar dados de uma história autêntica. Ali se encontra o relato da vida de Jeschu Ben Pandera – verdadeiro nome de Jesus – sendo que as melhores informações sobre este assunto estão nos livros “Did Jesus Live 100B.C.” [11] de G.R.S.Mead e em “Ísis sem Véu” de H.P.Blavatsky. 

Nos primeiros séculos da era cristã usou-se muitas datas na tentativa de se localizar o dia do nascimento de Jesus. Os primeiros padres da igreja, entre eles Clemente de Alexandria, procuravam localizar uma data aproximada, já que seria quase impossível descobrir qual o dia exato. Epifânio cita grupos cristãos que celebravam a vinda de Jesus ao mundo em junho e julho. Clemente faz uma referência a novembro. Outros apontam abril e maio, que é a época mais provável, correspondente ao período da primavera no hemisfério norte. O bispo C.W.Leadbeater diz, no livro “The Inner Side of Christian Festivals”, que “a real data do nascimento de Jesus não é conhecida, mas por várias indicações parece provável que isto foi em algum momento da primavera.” [12]. Williamson no livro “Great Law” comenta: “Todos (“?”) os cristãos sabem que 25 de dezembro é, agora, a festa do nascimento de Jesus, mas poucas pessoas sabem que nem sempre foi assim. Cento e trinta e seis (136) datas diferentes foram escolhidas por diversas seitas cristãs” [13]. 

Annie Besant na obra “O Cristianismo Esotérico” elucida muitos aspectos do lado místico e simbólico do Cristianismo. A autora mostra que o dia 25 de dezembro foi escolhido pelo Papa Júlio I, no século IV, para ser a data comemorada. Foi um decreto papal o instrumento usado para superar o impasse até hoje não solucionado. Leadbeater comenta que o dia 25 de dezembro foi selecionado da primitiva história eclesiástica “porque coincidia com o grande festival do Sol” [14] e que foi naturalmente conveniente tomar vantagem de uma celebração pública já existente. 

Outro especialista sobre as origens do Cristianismo, o Dr. Alvin Boyd Kuhn, em seu livro, “A Rebirth for Christianity” nos fala que “em 345 d.C. uma encíclica emitida pelo Papa Júlio (*) decretou o deslocamento da data do natal de 25 de março para 25 de dezembro, com a expressa afirmação de que esta medida foi tomada para alinhar a celebração cristã do nascimento do Salvador com o costume dos seguidores de Baco e de Mitra que comemoravam o nascimento da Divindade no solstício de inverno”. [15] Portanto, é um reconhecimento oficial em relação ao fato de que a celebração do natal é anterior ao nascimento de Jesus. 

O cristianismo, do mesmo modo que as outras grandes religiões, foi fundado no hemisfério norte, tendo suas datas relacionadas àquele hemisfério. 

(*) Na edição de 1970 aparece Julio XI. Besant cita Julio I. 

Em “The Inner Side of Christian Festivals”, encontramos que o renascimento do Deus-Sol ocorria após o solstício de inverno, sendo que a Terra atingia um ponto de reinício de sua órbita ao redor do Sol. O autor acrescenta: “aqueles que não reconhecem o significado simbólico da vida do Cristo naturalmente supõem que todas essas comemorações eclesiásticas são meramente históricas”. [16] 

São Crisóstomo, em 390 d.C., num trecho citado por Besant, disse que “este dia”, 25 de dezembro, em Roma, acaba de ser escolhido como o nascimento de Cristo, a fim de que os pagãos, ocupados com suas cerimônias, deixem os cristãos celebrar seus próprios ritos sem ser molestados. [17] Os “pagãos”, aqui referidos, são os outros povos e suas religiões. E eles não molestavam os cristãos, já que suas celebrações eram anteriores. Outra passagem semelhante encontramos na obra “The Gnostics and Their Remains” de C.W. King, que destacou: “a antiga festa celebrada a 25 de dezembro, em honra do nascimento do Ser Invencível, e assinalada por grandes jogos no circo, cuja data certa, como confessam numerosos Padres da Igreja, era então, como hoje, desconhecida”. [18] 

Na obra “Decadência e Queda do Império Romano”, de Gibbon, lemos que “os romanos (cristãos), tão ignorantes como seus irmãos com relação à data do nascimento do Cristo, escolheram, para festejá-la, o 25 de dezembro, no momento das brumélias do solstício de inverno, nas quais os pagãos celebram cada ano o nascimento do Sol”. [19] Como vemos, são vários os autores que mostram a data do “natal” sendo adaptada ao solstício. Destaco outra colocação clara do bispo Leadbeater: “Estes festivais do Deus-Sol tinham sido preservados por milhares de anos antes do nascimento de Jesus”. [20] 

Foi, pois, após o século IV que os “cristãos” passaram a celebrar o nascimento do “chrêstos”, o Espírito Divino, o Deus-Sol, do mesmo modo como faziam os chamados pagãos – egípcios, caldeus, gregos, hindus, astecas e vários outros povos. Em termos astronômicos, todos festejam o solstício de inverno, assim como a Páscoa tem relação com o equinócio de primavera no hemisfério norte. 

Segundo o “Glossário Teosófico” de H.P. Blavatsky é provável que o solstício de inverno coincidisse primitivamente com o 25 de dezembro, mas que devido à precessão dos equinócios ocorre uma antecipação da hora do solstício anualmente. Blavatsky cita o escritor Emílio Burnouf, que no livro “A Ciência das Religiões”, diz que o culto cristão está distribuído segundo a marcha do Sol e da Lua e que o solstício de inverno no hemisfério norte está ocorrendo antes do dia citado. Hoje, se fôssemos ser fiéis ao aspecto astronômico, teríamos que celebrar o nascimento do Cristo místico no dia e no momento exato da posição do Sol. No ano de 1983, como exemplo, isto aconteceu às 10 horas e 31 minutos do dia 22 de dezembro, horário de Greenwich. Após o solstício, a Terra em seu movimento em torno do Sol, atinge a sua menor distância em relação ao Sol. Em termos místicos significa que com o nascimento do Cristo a luz aproxima-se mais dos homens. 

Apesar do nascimento de “Jesus, o Cristo” no dia 25 de dezembro não ser um evento histórico, não devemos negar a importância mística e religiosa de lembrarmos o nascimento de um Grande Instrutor. Certamente terá um intenso efeito espiritual voltarmos o pensamento em direção ao Mestre Jesus. E, certamente, não pretendemos mostrar que o natal é um mero acontecimento astronômico. Esses dois aspectos, reunidos ao simbolismo e ao misticismo inerentes à ideia do nascimento do Cristo no coração dos homens, nos levarão a uma maior percepção do significado mais profundo, no qual o natal passa a ser visto como um grande Rito Cósmico, o qual harmoniza as forças espirituais do macro ao micro e microcosmos. 

Como constantemente destaca Geoffrey Hodson, não podemos esquecer que toda narração bíblica possui nitidamente um caráter alegórico e que as etapas representadas por Jesus no texto são uma demonstração da jornada evolutiva da alma humana. Em “The Hidden Wisdom in the Holy Bible” o autor nos indica que a primeira chave para se interpretar as escrituras cristãs é tomar os relatos externos – pretensamente históricos – como acontecimentos interiores (subjetivos). Também Orígenes, o sábio cristão de Alexandria, realça que os textos bíblicos contém um “corpo, uma alma e um espírito”. Não devem ser tomados no seu sentido literal e sim assimilados a partir de seus níveis mais internos, usando-se a Gnose, instrumento indispensável para a compreensão real do sentido alegórico. A Bíblia é um texto inspirativo. Seus autores nunca pretenderam criar uma fonte de fatos históricos. 

Nos ensinamentos de todas as grandes religiões existe a ideia da necessidade de “nascer de novo”, “ser iluminado”, “despertar” para outro nível de consciência. E sempre que isto acontece, brilha uma Estrela, símbolo do Homem Perfeito. É a presença invisível de Melquisedec, o supremo sacerdote de Deus na Terra, o Rei dos Reis, junto àquele que está sendo recebido na Comunhão do Santos, no Reino dos Céus, por ser ele o chefe da grande Ordem Espiritual no planeta. Este passo é sempre representado como um nascimento é a recepção da “criança” (símbolo da pureza) em um novo mundo. 

A alegoria do nascimento de Jesus em uma “gruta”, ou em uma “caverna”, é o despertar da Alma, é o nascimento do Cristo interno, da Divindade presente nos corações dos homens. É o surgir da luz que dissipará as trevas. Em outra linguagem, diríamos que é na cavidade do coração que brota a Rosa que irá ser o centro da Cruz. Deste modo, o nascer do menino Jesus, na festa do natal, é símbolo do despertar da consciência crística. 

São Paulo, que viveu depois de Jesus, nos relata que ele conheceu o Cristo quando foi arrebatado ao terceiro céu. Diz ele: “Conheço um homem em Cristo que, há quatorze anos foi arrebatado ao terceiro céu... E sei que esse homem foi arrebatado até o paraíso e ouviu palavras inefáveis, que não é lícito ao homem repetir”. [21] Era dessa experiência interior que ele retirava sua convicção para dizer que “Cristo em vós, é a esperança de glória”. 

Esta perspectiva nos mostra que o natal é algo sempre atual, uma comemoração no presente e não mero lembrar do passado. É uma celebração interior, com vida e energia transformadora. Deve ser uma abertura do coração do homem para o coração do mundo. Sem dúvida o natal deve ser uma grande festa, mas uma festa para a Alma e a Natureza. Após toda uma preparação nos reinos invisíveis e nos mundos espirituais, e após o instante do solstício, todo o planeta recebe uma grande efusão de energia. 

Por esse motivo, é correto considerar o natal como um Rito Cósmico e Ecológico, no qual podemos participar ativamente, tendo como centro o harmonizar-se com o todo e não apenas desejar receber. É importante estarmos abertos e receptivos, ao mesmo tempo em que procuramos contribuir com nossa força interior, ofertando bons pensamentos e criando um clima de paz e fraternidade. Há uma maior possibilidade de um despertar da consciência, pois bênçãos superiores infundem-se sobre a humanidade. Cristo nasce na Natureza, pois o natal não é apenas o nascimento simbólico do Sol. Em seu aspecto energético, é o nascimento do Cristo imanente na Natureza. 

A teósofa Dora Van Gelder* em seu pequeno, mas sábio trabalho “O Natal dos Anjos” esclarece inúmeros pontos obscuros. Ela explica que “o principal propósito da festa de Natal é o nascimento do Cristo no mundo da Natureza” e que o Natal “é uma época de enorme atividade no reino angélico” [22]. Todo o reino Dévico dirige sua atenção a este evento, pois o Senhor Cristo é o Instrutor dos Anjos e dos Homens. Os Anjos ou Devas como são conhecidos no Oriente, são agentes ativos do Cristo na Natureza. O natal marca uma renovação e uma mudança das forças negativas e positivas que equilibram a vida oculta do planeta. 

*Dora Kunz – Presidente da Seção Americana da Sociedade Teosófica e Diretora do Centro Olcott, Wheaton, Illinois. 

Essa efusão de forças espirituais produz uma vivificação da Natureza visível e invisível. Após uma enorme atividade e trabalho de preparação, chega-se ao natal, “exatamente depois do dia mais curto do solstício de inverno, no hemisfério norte, enquanto no hemisfério sul é celebrado depois do dia mais longo do solstício de verão” [23]. Busca-se um nível de equilíbrio. Correntes de força dirigem-se do Norte para o Sul e do Sul para o Norte. A autora ainda nos indica que todo esse movimento de forças, que começa bem antes do natal e que tem seu clímax no final de dezembro, tem dois aspectos: “Enquanto no Hemisfério Norte tem lugar um verdadeiro nascimento no Natal, no Hemisfério Sul o que ocorre é antes um aprofundamento da vida... No norte, alegria, amor e beleza são as influências predominantes; no Sul são derramados poder e força – um verdadeiro aprofundamento do Cristo na Natureza... Um é a elaboração de baixo para cima (“ Espírito Santo”), o outro, um verter de cima para baixo (uma verdadeira descida do Filho) “ [24]. 

Com essa visão o natal transforma-se em uma esplendorosa festa nos mundos interiores. E é devido a essa influência que o “clima de natal” manifesta-se entre nós. Sem dúvida, é uma grande comunhão ecológica, que cresce de importância a cada ano devido ao desequilíbrio do planeta, às guerras e à imensa poluição ambiental. Só isto nos mostra a importância de nos conscientizarmos da realidade invisível deste momento e de colocarmos, com boa vontade, todas as nossas capacidades nesta celebração, aliando-nos ao majestoso e divino trabalho realizado pelo Reino Angélico. A vida e o equilíbrio do planeta necessitam da colaboração de todos, pois o mundo é um reflexo da ação dos indivíduos. Não há lugar para se manter a rotina das festas de fim de ano ou o desconhecimento do que realmente acontece ao final de dezembro. 

É ainda Dora Van Gelder que comenta a cerca da onda de vida que se espalha por todos os quadrantes. Isto mais uma vez torna nítido o caráter universal do natal. Durante o dia de natal a terra pulsa e vibra com as ondas de adoração que vão ao Senhor, provenientes das incontáveis hostes de Anjos pelo mundo afora e pelas meditações e orações sinceras. Em resposta às invocações e às adorações movidas pelo espírito de paz e confraternização, Cristo, auxiliado pelos seus agentes, derrama bênçãos de paz para toda a humanidade. 

Tudo isto nos transmite uma nova compreensão e uma vontade de vivenciar esse ritual Ecológico. O natal é um momento especial para os homens abrirem seus corações à luz espiritual, da qual o Sol é o símbolo físico, para que o Cristo interno, “a esperança de Glória”, nasça em cada um, produzindo um novo viver. Felizes daqueles que estão disponíveis para tal oportunidade, pois certamente sentirão o que realmente significa um “Feliz Natal”. 

Alberto Brum de Souza


Fonte: http://ebookbrowse.com/o-significado-do-natal-alberto-brum-de-souza-2-doc-d142830303
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Referências 

Este trabalho procurou reunir uma série de dados, a partir de autores que no nosso entender dão as informações mais valiosas para uma percepção do real significado do Natal. Indicamos abaixo as fontes, para um estudo mais detalhado: 

Dora Van Gelder – O Natal dos Anjos, Sociedade Teosófica, Rio de Janeiro, 1979. 

Annie Besant – O Cristianismo Esotérico, Pensamento, São Paulo, 1964. 

C.W.Leadbeater – The Inner Side of Christian Festivals, The Saint Alban Press, Ojai, Usa, 1973. 

Alvin B. Kuhn – A Rebirth for Cristianity, TPH, Wheaton, 1970. 

H.P. Blavatsky – Isis Sin Velo, Editorial Eyras, Madri, 1977. 

H.P. Blavatsky – O Caráter Esotérico dos Evangelhos (em A Doutrina Oculta), Hemus, São Paulo, 1977. 

H.P. Blavatsky – Glosario Teosofico, Kier, Buenos Aires, 1957. 

G.R.S. Mead – Fragments of a Faith Forgoteen, TPS, Londres, 1906. Reedição: University Books, New Work, 1972. Venda: Philosophical Research Society, Los Angeles, California. 

G.R.S. Mead – Did Jesus Live 100 B.C.?, TPS, Londres, 1903. Reedição: University Books, New Work, 1968. 

G.S.R. Mead – The Hymn of Jesus, TPH, Wheaton, 1973. 

Geoffrey Hodson – The Christ Life from Nativity to Ascension, TPH, Wheaton, USA, 1975. 

Geoffrey Hodson – The Hidden Wisdom in the Holy Bible (vol.I), TPH, Adyar, India, 1963. 

Geoffrey Hodson – O Reino dos Deuses, Pensamento, SP, 1982. 

Geoffrey Hodson – A Fraternidade de Anjos e de Homens, Pensamento, São Paulo, 1982. 

Geoffrey Hodson – O Lado Interno do Culto na Igreja, Pensamento, São Paulo, 1983. 

Geoffrey Hodson – Os Anjos e a Nova Raça, Sociedade Teosófica, Rio de Janeiro, 1981. 

Robert S. McGinnis Jr. – The Essenes in Esoteric Perspective, American Theosophist, Wheaton, 1977. 

James M. Robinson (editor) – The Nag Hammadi Library, Harper-Row, New Work, 1981. 

Alvin B. Kuhn – The Lost Key to the Scriptures, The Theosophical Press, Wheaton, 1966. 

Charles Francis Potter – The Lost Years of Jesus Revealed, Gold Medal Books, Fawcett Publications, Usa. 1958. 

The Holy Bible, King James Version (1611), New Work, 1980. 

Obs.: TPH – Theosophical Publishing House / TPS – Theosophical Publishing Society 


Notas 

[1] G.R.S. Mead – “Fragments of a Faith Forgoteen”, TPS, Londres, 1906. 

[2] Idem, p.430. 

[3] Geoffrey Hodson – “The Christ Life from Nativity to Ascension”, TPH, Wheaton, p.34. 

[4] Idem, p.35. 

[5] Blavatsky – “Glosario Teosofico”, Kier, Buenos Aires, p.742. 

[6] Blavatsky – “Doutrina Oculta”, Hemus, SP, p.163. 

[7] Idem, p. 173. 

[8] G.R.S. Mead – “Fragments of a Faith Forgoteen”, TPS, Londres, 1906, p. 249. 

[9] G. Hodson – “The Christ Life from Nativity to Ascension”, TPH, Wheaton, USA, 1975, p. 35. 

[10] Idem, p. 34. 

[11] TPS, Londres, 1903 (ver referências) 

[12] Saint Alban Press, Ojai, (Usa), 1973, p.9. 

[13] Alvin B. Kuhn – A Rebirth for Christianity, TPH, Wheaton, 1970 

[14] Leadbeater – “The Inner Side of Christian Festivals”, p.9. 

[15] Alvin B. Kuhn – “A Rebirth for Christianity”, TPH, Wheaton (Usa) p. 122. 

[16] Leadbeater – Saint Alban Press, p.9. 

[17] Annie Besant – “O Cristianismo Esotérico”, Pensamento, São Paulo, p.91 

[18] Wizards, San Diego, 1982. 

[19] Annie Besant – “O Cristianismo Esotérico”, Pensamento, São Paulo, 91. 

[20] Leadbeater – “The Inner Side of Christian Festivals”, p.9. 

[21] Coríntios – II, 12: 1-4 

[22] Sociedade Teosófica – RJ – 1979, p.11. 

[23] Idem, p.6. 

[24] Idem, p.9.