segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

O AMOR É COMO O NÚMERO UM


O amor vem do Céu e regressa ao Céu. Não existem dois, três ou quatro amores, é sempre o mesmo amor, mas compreendido ou vivido em níveis diferentes. De onde viria o amor humano, se não do próprio Deus, a sua origem? Diz-se que Deus é amor, mas não se sabe o que é esse amor e separa-se o amor físico, o amor sensual, do amor divino. Não, não há separação, são manifestações da mesma força, da mesma energia que vem de muito alto. Ainda não conheceis o suficiente sobre o número um, indivisível. O amor é justamente isso: o número um, e é esse número que produz todos os outros; o dois, o três, o quatro, não passam de manifestações do um. Deus é um, o amor é um, e Deus é amor. Tudo o que não é o um é, na realidade, um aspeto do um; por isso, é preciso voltar à unidade. Nós estamos na multiplicidade, estamos na periferia, e quando se diz que é preciso voltar à unidade, isso significa que é preciso regressar a Deus, a esse amor que é uno.



Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

TIFERET - DESENVOLVENDO UM CORAÇÃO


O grande médico e filósofo do Século XII, Moshé Maimônides, aconselhava os seus discípulos a procurarem sempre o caminho do meio. O interessante é que ele aconselhava as pessoas raivosas e mesquinhas a ir a extremos. Ele dizia a uma pessoa irada para se tornar um pacifista, mesmo quando isto parecia contradizer a lógica; e ele aconselhava um miserável a combater os seus instintos e dar mais do que o quanto poderia suportar normalmente. (...) a raiva e a mesquinhez são as verdadeiras antíteses da natureza doadora do Cosmos.

O conto Chassídico relatado a seguir ilustra este preceito: Era uma vez um rei que tinha dois bons amigos que se rebelaram contra o reino. Neste caso, não restava outra opção ao rei senão a de aplicar a lei — a pena de morte. Mas ele não se sentia em condições de executar os seus amigos. Assim, ao invés disto, ele erigiu uma corda bamba por sobre o pátio, estendida a uma altura razoável. Cada prisioneiro deveria atravessar para o outro lado da corda bamba para alcançar a liberdade. As chances eram escassas, mas, miraculosamente, o primeiro prisioneiro conseguiu atravessar e ganhar a sua liberdade. O segundo prisioneiro pedia orientação ao companheiro agora livre e grato. Este respondeu-lhe à distância: “Todas as vezes que eu me sentia desequilibrado, começando a pender para um lado, eu não esperava até que todo o meu peso pendesse para aquele lado; eu imediatamente compensava com o oposto!”

Este é o conselho de Maimônides. Não espere até que as suas palavras e comportamento revelem um desequilíbrio emocional. Compense, mesmo antes de as expressões se tornarem visíveis. Este é o caminho indicado para o equilíbrio da emoção conseguido através da Sefirá de Tiferet. (*)


Rabino Laibl Wolf



Fonte: do livro "Cabalá Prática - um guia da sabedoria judaica para o dia-a-dia"
Tradução de Sergio M. Cernea
São Paulo, Maayanot, 2003
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/equilibrista-desenho-m%C3%A3o-mulher-1831016/


Nota:
(*) Tiferet: sefirá situada no centro do pilar do equilíbrio, na árvore da  vida.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

A MEDITAÇÃO E OS BENEFÍCIOS NA SAÚDE


Quando há uma falha na memória (falha na comunicação interna entre neurônios) falham as referências – nesta falta de referências fica um espaço em “branco” como se o cérebro se tivesse, por momentos, “apagado”.

É assim óbvio, que é a referência do passado que nos coloca no presente. Contudo, caso vivêssemos apenas o momento presente, viveríamos na eternidade, já que o que nos retira da perenidade é a projecção no passado. Temos dificuldade em viver só o momento presente, e fica-se perdido se essa referência com o passado for cortada.

No entanto, a evolução do cérebro ou da mente, dentro de um contexto da evolução espiritual humana é feita, de fato, através da purificação mental, que implica o descartar de memórias inúteis e, contrariamente ao que se possa pensar, ganhar-se ainda mais Consciência – essa Consciência é que nos mantém no momento presente, sem que o passado ocupe um espaço relevante na mente.

Passa o Ser, a ser Consciência, porque é ela que contém a soma da sua identidade e ao ser-se consciente disto, o qual requer um caminho espiritual consciente, não se sofre então, o medo de falhas de memória (o conceito não é esse), mas obtém-se mais “espaço” na mente para acolher a plenitude de Consciência, a perene.

Desta forma, não se trata de um problema patológico para ser tratado clinicamente, mas uma realidade de identidade humana na sua evolução, onde as memórias não foram destruídas, mas “armazenadas” (caso seja necessário alguma recordação, elas estão lá para que possam ser buscadas) pelo que estando passivas, não constituem obstáculos a novos conhecimentos e vivências, às quais o cérebro se tem de adaptar constantemente, permitindo assim à mente alcançar horizontes de compreensão mais vastos. O cérebro tem a capacidade de se adaptar, de procurar soluções. Por exemplo, quando o cérebro sofre alguma lesão, os circuitos internos transferem para outras áreas, as ações que lhe estão interditas na área lesada.

Quantas pessoas, principalmente as mais idosas, ao terem falha de memória se convencem que têm um problema mental devido à idade, quando na realidade, no seu cérebro se está a dar uma reestruturação. Pensar que já é um problema consequente da idade é que pode constituir um problema grave, recorrendo a medicação, e esse problema vai ocupar o seu cérebro, criando ainda mais problemas e angústias que não terão mais fim em suas consequências. De fato, a ignorância (falta de conhecimento) é que gera o sofrimento. A vida está nas nossas mãos, que o mesmo é dizer está nas nossas mentes.

Em determinada altura de expansão da Consciência, assimilando-se a Inteligência Pura e vivendo-se os valores já adquiridos como um ganho irreversível, passa o Ser a viver noutra dimensão, talvez impossível de verbalizar no sentido do entendimento comum, que o que resta da memória dos valores antigos e primários já não têm expressão relevante - reduzidos a um “canto” do espaço cerebral, sem importância. Os novos valores vão-se implementando na Mente – Consciência, e a pouco e pouco nasce um novo ser, reestruturado numa nova forma mental, psíquica e espiritual, onde de fato as memórias primárias e inúteis não têm lugar, “apagaram-se”.

Na área da Neurologia dizem os estudiosos, que fazer previsões é ser criativo, ou que a criatividade está na previsão. Porém, previsões são formas ou estados que ocorrem afinal constantemente na mente, pois para além da impermanência do pensar, estamos sempre a prever ou a inventar problemas, na maior parte das vezes quando eles não existem, especulando ou imaginando situações com medo do que o próximo momento nos possa trazer.

Isto não é criatividade mas expectativa, seja com receios, seja com antevisões de felicidade, daquilo que nos espera a todo o momento.

Vivemos sob a imprevisibilidade e subconscientemente tentamos prever ou antever cada momento, numa defesa mental para não sermos apanhados desprevenidos.

Contudo, a criatividade é muito mais do que isso. A criatividade resulta da regeneração mental (o sono é a forma natural de regeneração), mas a Meditação, por exemplo, permite essa regeneração constante da Mente-Consciência, onde os desafios da vida no momento decisivo são enfrentados com uma renovação de ânimo, coragem e força resultante da clareza mental, adquirida pela sutil paragem da mente ao meditar. Surgem então, naturalmente as compreensões mais profundas internas, ou até a resolução de algum problema (geralmente é feito pelo esforço mental e maior parte das vezes sem sucesso), diluindo-se por si mesmo numa sabedoria própria, que vem da Alma e não do esforço, acabando por sobressair a paz pelo problema resolvido, que ao ser retirado da mente, deixa novas compreensões na bagagem da sua própria realização.

Isto é, criatividade. Neste estado de calma mental e de maior lucidez, podem então, surgir inspirações de todo o tipo: elaborar algum projeto, iniciação na arte de escrita e pintura ou a obtenção de compreensões alargadas ao conceito da vida e do universo – o que resulta numa felicidade interna – isto é criatividade. A criatividade é uma regeneração de ideias, uma renovação mental que, especialmente, a prática da Meditação permite: uma constante renovação do pensar.

São as compreensões pessoais sobre nós mesmos, sobre a vida e os seus desafios que nos tornam criativos, pois a falta de compreensão das coisas e dos problemas é que nos desgasta e faz sofrer. Ora, quando a mente fica desanuviada dos obstáculos pode criar mentalmente, ideias e conceitos – é a clareza mental que nos satisfaz e nos torna auto-suficientes com ideias próprias, preenchendo-nos de felicidade interna – isto é criatividade. A criatividade é sempre um bem, uma luz na mente porque desenvolve o bem-estar, e isto só é criatividade se for nesse sentido de atitude positiva para nós e para os outros – é a beleza do bem. Nunca o mal que fazemos a nós e aos outros é criatividade, isso é perversão mental, falta de moral e egoísmo.



Maria Ferreira da Silva




Fonte: do livro «A MEDITAÇÃO E OS BENEFÍCIOS NA SAÚDE»
2ª parte - COMO FUNCIONA A MENTE - pp. 41 a 44
Coleção "Missão Lusa"
Publicações Maitreya, Porto, Portugal
https://publicacoesmaitreya.pt
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/rosto-humano-pol%C3%ADgonos-rede-4776910/

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

LIMITAÇÕES E PONTOS DE VISTA


A maioria das pessoas só pensam em si: no que lhes convém, no que não lhes convém, no que ganham, no que perdem... É por nunca terem querido sair do seu ponto de vista que são tão cegas em relação às realidades da vida. Avaliam tudo, medem tudo e pronunciam-se sobre tudo segundo os seus gostos, os seus preconceitos, isto é, a sua natureza inferior, e não sabem até que ponto podem estar, assim, longe da verdade! Enquanto não saírem do seu ponto de vista tão limitado, não conseguirão ver as coisas tal como elas são. E então lá vêm as mentiras, as ilusões, os enganos, os erros...



Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

A EPIFANIA


A festa da Epifania é uma das mais pitorescas de todo o ano cristão. Na descrição do acontecimento comemorado neste dia, encontramos pela primeira vez as conhecidas palavras: “No Oriente vimos a sua estrela e viemos adorá-lo”. No Evangelho isso é contado muito brevemente. Dizem-nos simplesmente que alguns Reis Magos do Oriente chegaram a Jerusalém perguntando onde estava o Menino que seria o Rei dos Judeus. Como os profetas judeus haviam predito que o Messias nasceria na cidade de Belém, os magos dirigiram-se para lá. Conta-se que no caminho para aquela cidade, a Estrela que os havia guiado desde suas casas distantes apareceu-lhes novamente e mostrou-lhes a gruta onde jazia o Menino Jesus. Então os magos entraram ali, adoraram-no e ofereceram-lhe ouro, incenso e mirra. Enquanto isso, Herodes, que naquela época era o Rei dos Judeus, ficou chateado ao saber que outra pessoa estava reivindicando essa posição. Como os sábios não voltaram para contar o que tinham visto, ele enviou soldados a Belém e tentou garantir a remoção do seu suposto rival, ordenando o massacre de todas as crianças menores de dois anos de idade. Enquanto isso, os magos foram avisados ​​em sonho que deveriam evitá-lo e da mesma forma Maria e José foram avisados ​​para tirar o Menino do seu alcance.

Esta história, contada de forma tão simples no Evangelho, tornou-se na antiga tradição eclesiástica algo mais brilhante, embora talvez menos credível. A palavra “Magos”, ou sábios, significa o que hoje chamaríamos de “aqueles que estudam o lado oculto das coisas”, e naquela época isso deve ter incluído o conhecimento da astrologia: assim explica o seu extremo interesse por uma estrela incomum. Segundo a tradição, não eram apenas homens cultos, mas também reis, cada um governando o seu próprio país. A lenda não é exata quanto à localização daqueles países, mas diz-se que os três Reis se chamavam Melchior, Baltasar e Gaspar [...] Supõe-se que Melchior e Balthazar governaram os estados árabes, mas seja o que for, afirma-se que cada rei viu esta nova e estranha estrela enquanto estava em sua vida.

Segundo esta lenda, foi apenas ao aproximarem-se de Jerusalém, cada um com o seu séquito, que os três reis se encontraram e presume-se que a chegada destes séquitos, todos equipados como para uma guerra, deve ter criado alguma dúvida e excitação. Quando estavam mais perto da cidade, Herodes enviou alguns embaixadores para perguntar suas intenções. Então, conta a história, depois de terem respondido às suas perguntas, os três Reis foram juntos para Belém com apenas alguns servos pessoais, deixando a maior parte da sua comitiva acampada perto de Jerusalém; cada um deles carregava consigo muitos presentes caros para oferecer ao rei recém-nascido. A história prossegue dizendo que quando chegaram à gruta e viram o Menino, ficaram tão impressionados com o imenso magnetismo que experimentaram que ficaram maravilhados... Assim aconteceu que Melchior apresentou um cálice de ouro, que segundo o mito foi preservado pela Virgem Maria e que mais tarde foi usado pelo próprio Cristo quando instituiu a Sagrada Eucaristia; enquanto Baltasar ofereceu uma caixa de ouro com incenso de tipo muito raro e Gaspar deu um frasco curiosamente esculpido contendo mirra.

A Igreja sempre interpretou o significado destes dons de uma forma mística: o ouro mostrava que o Menino era um Rei; o incenso representava a Sua Divindade, e a mirra, sendo uma das espécies particularmente utilizadas nas sepulturas, simbolizava profeticamente a morte pela qual Ele deveria passar [...] Cada um deles, assim nos conta a antiga história, ficou profundamente impressionado com o que viu e que tal impressão era permanente. Ao retornarem, todos concordaram em renunciar aos seus respectivos reinos e dedicar-se totalmente à vida religiosa. Diz a lenda que eles viajaram juntos por muitos países então conhecidos e supostamente morreram em Colônia, onde seu túmulo ainda pode ser visto. Que base pode ter esta estranha e antiga história, é impossível dizer agora; mas pelo menos tem algo da beleza primitiva, e hoje nos interessa saber como era considerada esta Festa na Idade Média. Como história, nada podemos garantir, mas simbolicamente é algo excepcional, porque aqueles que são verdadeiramente sábios, aqueles que entre as almas dos homens são verdadeiros Reis, sempre reconhecem o Grande Instrutor, quando Ele vier; eles o reconhecem e vão adorá-lo, oferecendo-lhe tudo o que têm e ajudando-o na tarefa que veio cumprir.

Quer fossem reis ou não, pelo menos temos a certeza de que estes sábios não eram judeus e, portanto, a Igreja sempre considerou este dia como a manifestação de Cristo aos gentios. É o primeiro símbolo na vida do Menino Jesus que mostra que a sua missão não era apenas para o seu povo, mas para o mundo em geral. O Instrutor do Mundo mostrou o quão justificados são seu título e posição desde o início de sua vida lá na Judeia, e entendemos que isso era necessário.

[...] No dia da Estrela* deixemos brilhar sobre nós a sua glória, e lembremo-nos sempre que na mesma proporção em que partilhamos a Estrela, bem como todas as coisas boas, com os nossos semelhantes, receberemos a sua mais completa bênção.

[...] Não importa com que palavras um homem expressa a sua crença; você certamente alcançará o objetivo. Essa é a grande lição, creio eu, desta manifestação de Cristo aos gentios. A palavra “gentios” significa simplesmente estrangeiros, aqueles que não são judeus. Vamos perceber enfaticamente, que existem muitos caminhos e que não cabe a nós decidir se um é melhor que outro. Não há dúvida de que nos parece assim, mas não é necessariamente o mesmo para os outros; e isto se aplica não apenas às grandes religiões, mas também às seitas.

[...] Levemos a lição da Estrela aos nossos corações. Durante todo o Advento preparamo-nos para celebrar o nascimento do Menino Jesus, e isso culminou no Natal, momento em que refletimos sobre o que esse nascimento significa para nós e exprimimos a nossa sincera gratidão por ele. Agora este Festival, que acontece doze dias depois, tenta nos dizer que devemos colocar em ação toda essa alegria. Nós nos preparamos para a vinda: nós a celebramos, agora o que devemos fazer a respeito? Como podemos compartilhar essa alegria com nossos semelhantes? Os três reis foram os primeiros pregadores cristãos; o primeiro a ir e proclamar ao mundo o nascimento do Rei recém-nascido, não de alguma província, mas Rei dos corações e almas dos homens. Diz a lenda que abandonaram tudo para proclamar a Sua vinda.

Hoje em dia, não somos chamados a fazer um sacrifício tão grande, mas certamente o que podemos fazer é dedicar o nosso tempo e energia na medida do possível na tentativa de espalhar as boas novas. Não permitamos que os negócios, o trabalho e as ambições mundanas interfiram entre nós e o Senhor, que de repente virá ao Seu Templo. Estejamos prontos para reconhecê-Lo e segui-Lo, como fizeram os Sábios de antigamente, e ofereçamos-Lhe de todo o coração e totalmente o ouro do nosso amor, o incenso da nossa adoração e a mirra do nosso auto-sacrifício. Assim, repetiremos esses dons míticos a um nível superior e espiritual, para que a Estrela não brilhe em vão para aqueles de nós que se qualificaram para reconhecer a Sua Vinda.

Pode ser muito cedo, por isso seria imprudente atrasar a nossa preparação. Muitos não sabiam da Sua Vinda antes, todos os grandes reis da Terra, os homens ricos, as pessoas mais intelectuais da Grécia, de Roma e do Egito não Lhe prestaram atenção alguma. Seus seguidores imediatos, se acreditarmos na história, eram alguns pescadores pobres, e outros como eles, mas nenhum de distinção, nenhum de grande conhecimento, de posição elevada. Faremos o mesmo desta vez? Não sabemos, mas pelo menos temos atitude para reconhecê-lo. Antes houve um precursor que proclamou Sua Vinda; desta vez, deveríamos haver muitos milhares de nós que tentaríamos preparar o caminho do Senhor e endireitar o Seu Curso. Certamente não pode haver mensagem mais nobre que essa, não pode haver nada mais belo para nós do que nos colocarmos diante do mundo.

Algumas vezes foi contestado: “Suponhamos que, afinal de contas, estamos enganando o povo. Suponha que Ele decida não vir ainda.” Bem, ainda assim, há algum mal causado em tentar preparar as pessoas para Sua Vinda? Se isso acontecesse, que por algum motivo apenas conhecido pelo conselho do Altíssimo, Ele adiasse Sua Vinda, ainda seria um grande e nobre trabalho termos nos preparado para recebê-Lo. Seremos melhores e não piores por termos tentado nos colocar numa atitude de receptividade a essa poderosa influência, e nenhum mal nos pode ser causado por essa preparação, ao passo que se Ele viesse e nos encontrasse despreparados, não nos arrependeríamos por isso?

Ele mesmo disse que antes de voltar haveria muita confusão e muitos conflitos no mundo, que muitos correriam de um lugar para outro, e que haveria muitos falsos cristos erguendo-se por toda parte. Portanto, pode muito bem acontecer que haja muitos que não O reconheçam ou não O sigam quando Ele vier. Na verdade, certamente haverá alguns que, em Seu próprio nome, se recusarão a ouvi-Lo. Dirão: “Cristo veio há dois mil anos. Seguimos o ensinamento que Ele nos deu naquela época. Não podemos ser separados dele por nenhum outro ensinamento.” E assim, em Seu próprio nome, e com algum senso de lealdade a Ele, eles não conseguirão reconhecê-Lo quando Ele retornar.

Que isso não aconteça conosco. Assim como uma Estrela surgiu no céu e guiou aqueles três reis até Belém, também há uma Estrela que brilha diante de quem quiser vê-la ainda agora, mesmo que não seja um fenômeno físico. Se fosse realmente possível ver aquela Estrela há 2.000 anos, milhões de pessoas devem tê-la visto, mas apenas três foram aqueles que compreenderam o seu significado e a seguiram. Na história nada é dito sobre se apenas esses três foram favorecido por essa visão. Não podemos dizer, mas pelo menos é certo que, para todos aqueles cujos olhos interiores estão abertos, há indicações claras agora da aproximação da Vinda do mesmo Grande Instrutor do Mundo, mais uma vez. Podemos verdadeiramente dizer, como dizem que Ele disse aos judeus: “Há muitos aqui que não provarão a morte até que vejam o Senhor Cristo”. Se Ele realmente disse isso ou não, não podemos dizer. Parece improvável, porque Ele devia saber. Mas agora, pelo menos, os sinais são claros. Agora parece que a hora está próxima. Estejamos prontos, estejamos preparados para receber essa grande Epifania de Cristo. Estejamos entre aqueles Reis Magos que aguardavam a Sua Vinda, que O reconheceram quando Ele veio e estão preparados para colocar aos Seus pés os dons do seu amor, devoção e serviço. Nós realmente temos um evangelho para pregar, assim como aqueles Homens Sábios do Passado. Tenhamos cuidado para não perdermos a maravilhosa oportunidade que nos foi oferecida, para não falharmos no cumprimento de um dever tão óbvio.

No dia da Estrela deixemos brilhar sobre nós a sua glória, e lembremo-nos sempre que na mesma proporção em que partilhamos a Estrela, bem como todas as coisas boas, com os nossos semelhantes, receberemos a sua mais completa bênção.



+ Charles Webster Leadbeater




Fonte: extratos do livro "El Lado Oculto de los Festivales Cristianos"
Igreja Católica Liberal
https://www.catolicaliberal.com.br/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/natal-reis-magos-cart%C3%A3o-de-natal-2869903/


* Nota:
Dia da Epifania = manifestação divina
Estrela guia dos Reis Magos

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

O REINO DE DEUS NO HOMEM


Quando Jesus dizia «Seja feita a tua Vontade, assim na Terra como no Céu», queria dizer que é necessário criar uma ligação, uma circulação de energias entre o Céu e a Terra, até que a harmonia, a ordem e a beleza que estão em cima se instalem também em baixo, na nossa Terra, isto é, em nós mesmos. Jesus não falava de uma Terra exterior ao homem; é em nós que o Reino de Deus primeiro deve instalar-se. Se ele se instalasse no mundo enquanto os homens ainda são tão anárquicos, isso de nada serviria, eles destruí-lo-iam imediatamente. Só quando o Reino de Deus descer ao homem é que se instalará também no mundo. Jesus trabalhava para o Reino de Deus, para a fraternidade universal, mas não o compreenderam. Compete-nos agora continuar o seu trabalho, instalar em nós a mesma ordem, a mesma harmonia que existe no Alto. Deve ser este o nosso programa!



Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

sábado, 30 de dezembro de 2023

A COMPAIXÃO


Os Padres e Madres do Deserto, cristãos do século IV, em cujos ensinamentos se baseiam as obras de João Cassiano, constituem o fundamento da Meditação Cristã. John Main, nosso fundador, redescobriu esta forma de oração para nós através dos escritos de João Cassiano, especificamente nos capítulos nove e dez de sua obra “As Palestras”.

A virtude à qual conduzem todos os trabalhos espirituais dos Padres e Madres do Deserto é a virtude suprema da compaixão: só o aumento do amor pelos outros é visto como um sinal confiável de crescimento espiritual. Quando perguntaram a John Main como deveríamos nos preparar para a meditação, ele disse: “Através de muitos atos de bondade”. No final, o essencial não é quão bem você medita, mas quão bem você ama.

O modo de vida que levaram no deserto levou finalmente a uma transformação total do ser, uma transformação no fogo do Amor:

"Abba Lot foi até Abba Joseph e disse-lhe: ‛Abba, na medida do possível, cumpro minhas obrigações: jejuo de vez em quando, rezo e medito, vivo em paz e purifico meus pensamentos. O que mais posso fazer?'. Então o velho levantou-se e estendeu as mãos para o céu; seus dedos se transformaram em dez lâmpadas de fogo e ele lhe disse: ‘Se você quiser, pode virar uma chama inteira’."

Deus, a energia Divina, é Amor. A meditação nos levará a vivenciar esse amor profundamente em nosso próprio ser e nós também seremos transformados por ele.

Tudo o que os Abbas e as Ammas fizeram e ensinaram foi feito por compaixão por aqueles que ainda estavam presos pelos seus “demônios”:

"Um irmão perguntou a Abba Sisoes: 'O que posso fazer, Abba, se caí? O velho respondeu: 'Levante-se novamente.' O irmão diz: 'Levantei-me e caí de novo.' O velho continuou: 'Levante-se de novo e de novo.' O irmão perguntou-lhe: 'Quanto tempo?' O velho respondeu: 'Até que você seja pego pela virtude ou pelo pecado'."

Não julgar os outros é outro sinal de compaixão. Nosso hábito arraigado de nos julgar é, na verdade, uma flagrante falta de compaixão. Somente quando nos aceitarmos como somos, com todas as nossas falhas, poderemos realmente aceitar e amar os outros.

A compaixão é, portanto, o verdadeiro fundamento e fruto da nossa prática. É considerado ainda mais importante que a oração:

"Pode acontecer que, quando estamos em oração, alguns irmãos venham nos ver. Então temos que escolher entre interromper a nossa oração ou deixar o nosso irmão triste, recusando-nos a atendê-lo. Mas o amor está acima da oração. A oração é uma virtude entre outras, enquanto o amor contém todos eles."(John Climacus)



Transcrição de Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal


Nota
Para mais detalhes ver:

* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

ASCENSÃO E QUEDA DO DEUS MITRA


“Se o cristianismo tivesse sido detido em seu crescimento por alguma doença mortal, o mundo teria sido mitraísta.” Ernest Renan, Marc Aurèle


Este estudo buscará enfocar o tema Mitra em cinco partes: a) as origens antigas do Deus; b) o culto e a liturgia do mitraísmo; c) a derrota frente ao cristianismo; d) resquícios mitraícos e sua influência sobre a maçonaria e e) como seria um mundo moderno mitraíco à guisa de conclusão. Utilizamos, para este trabalho, enciclopédias e diversos textos da Internet, principalmente o texto de Jean-Louis de Biasi no “La parole circule”.


I – As Origens Antigas do Deus Mitra

Existe muita controvérsia sobre a etimologia de Mitra. Na Índia védica, Mitra significava ‘amigo’, no persa avéstico era traduzido como ‘contrato’. Esta última definição é a que prevalece nos nossos dias, sendo pois Mitra a personificação do contrato. Segundo os etimologistas, Mit(h)tra é composto de um sufixo instrumental – “tra” – que significa instrumento de trabalho e de um prefixo “mi” que é encontrado em todas as línguas indo-européias sob diferentes raízes. “Mei” pode significar ainda “lugar, encontro”. Em sânscrito “mitram” significa “amigo”. Mitra significando, pois, ‘contrato’ e ‘amigo’ não se opõem realmente, visto que não existe amizade sem um engajamento mútuo. Não se fala em ‘pacto de amizade’? Mitra se encontra sob diferentes ortografias: Mihr, Meher, Meitros etc.

Os trabalhos clássicos de Mircea Eliade e principalmente os de Georges Dumézil sobre a Índia védica demonstram uma estrutura fundamental da sociedade e da ideologia das diferentes sociedades indo-européias. A sociedade é dividida em três classes: sacerdotes, guerreiros e agricultores que correspondem a uma ideologia religiosa trifuncional: a função da soberania mágica, da sacrificadora e da jurídica (Varuna-Mitra, Rômulo-Júpiter e Odin); a função dos deuses da força guerreira (Indra, o etrusco Lucumão-Marte e Thor) e, finalmente, a das divindades da fecundidade e da prosperidade econômica (os gêmeos Nâsatya ou os Asvins, Tatius [e os sabinos]-Quirino e Freyr).

Encontra-se o Deus Mitra no Panteão Védico da Índia desde 1380 a. C. Este Proto-Mitra estaria associado a Varuna e forma uma dualidade antitética e complementar. Mitra seria a face jurídico-sacerdotal, conciliadora, luminosa, próxima da terra e dos homens enquanto Varuna seria o aspecto mágico violento, terrível e tenebroso. Mitra torna-se, pois, a garantia do compromisso, a força deliberante, enquanto Varuna o respeito ao bom direito pela força atuante. A antítese Mitra-Varuna encontra-se também em Roma com a oposição dos dois primeiros reis: Rómulo (Varuna-Júpiter), semi-deus violento e Tatius (ou Numa-Mitra), ponderado e sábio, instituidor das questões sagradas e das leis, ligado igualmente aos deuses da fertilidade e do solo. Mitra é o Deus soberano sob seu aspecto racional, claro, regrado, calmo, benevolente, sacerdotal. Seu papel é secundário quando esta isolado de Varuna, mas compartilha com este todos os atributos da soberania. O Sol é seu olho, nada lhe escapa. A conclusão de um acordo se fará através de um sacrifício ao Deus Mitra, mas um sacrifício incruento, pelo menos no início, pois, mais tarde, terminará por aceitar sacrifícios sangrentos. Esta evolução é metaforizada pelo papel de Mitra na história dos Deuses, pois terminará por ser associado à morte do Deus Soma. Na origem, Mitra recusa-se a participar da morte ritual, sendo amigo de todos, pois prestará sua ajuda para, no final, ser um ator ativo na morte ritual.

O Mitra avéstico, encontrado na religião iraniana, é o Mitra mais conhecido e divulgado e precede o monoteísmo zoroastriano. A influência da antiga religião iraniana para a formação religiosa do Ocidente é bastante significativa: o tempo linear, a articulação dos diversos sistemas dualistas – sejam cósmicos, éticos ou religiosos -, o mito do Salvador; a elaboração de uma escatologia ‘otimista’ que proclama o triunfo do Bem sobre o Mal; a salvação universal; a doutrina da ressurreição dos corpos; certos mitos gnósticos; a mitologia dos Magos etc.

Na religião dos aquemênidas, a oposição entre Aúra-Masda (o Bem) e os daêvas (o Mal) sempre foi presente, já que na Índia védica aconteceu o contrário: no conflito entre os devas e os asura, aqueles foram vencedores, pois tornaram-se os verdadeiros deuses, ao triunfarem sobre as divindades mais arcaicas – os asura – que nos textos védicos são considerados figuras ‘demoníacas’. Processo similar, ainda que com sinal trocado, aconteceu no Irã: os antigos deuses, os daêvas, foram demonizados (ai, dos perdedores!). Eliade argumenta que “pode-se determinar em que sentido se efetuou essa transformação: foram sobretudo os deuses de função guerreira – Indra, Saurva, Vayu – que se tornaram daêvas. Nenhum dos deuses asura foi ‘demonizado’. Aquele que, no Irã, correspondia ao grande asura proto-indiano, Varuna, torna-se Aúra-Masda”.

Aqui, a antítese Varuna-Mitra é substituída pelo duo Mitra-Aúra sendo que a função continua a mesma. Mitra é um deus da luz, da aurora, guardião que socorre as criaturas, onisciente e vitorioso. Aúra, tornando-se progressivamente Aúra-Masda, transforma, também, a significação de Mitra, metamorfoseando-o paulatinamente num deus guerreiro. Mitra continua deus do contrato e do acordo e assegura uma ligação entre os diferentes níveis da sociedade da qual é garantidor da ordem, representada pelo gado e a fecundidade. Interessante notar que aquela trilogia de Dumézil – sacerdote, guerreiro e agricultor – começa a ser baralhada. Este Mitra avéstico, mais do que o védico, beneficiará os sacrifícios, notadamente os do Touro. Seu papel de deus guerreiro, contudo, crescerá à medida que Aúra-Masda fortifica e torna dominante o seu lugar no Panteão dos Deuses. Tal ‘evolução’ é lógica, pois como deus garantidor da ordem, sempre estará ao serviço do respeito da lei e do contrato para aqueles que o reverenciam. Com o tempo metamorfoseia-se num deus violento e cruel. É um deus solar com mil olhos e orelhas e, como vimos, um deus da fertilidade dos campos e dos rebanhos. Atua, como Hermes, no papel de psicopompo, ou seja, condutor das almas dos mortos, pois como senhor dos Céus conduz as almas até o Paraíso.

Mitra foi adorados por quase todos os soberanos persas: Ciro o reverenciava; sob Dario houve um breve eclipse, pois este, segundo alguns especialistas, era partidário de Zoroastro; e reaparece com Artaxerxes. No cerimonial da realeza persa, o dia de Mitrakana era o único dia em que o rei persa tinha o direito de embriagar-se, numa clara analogia com a morte védica.

Mitra retorna ao primeiro plano como deus do sol, dos juramentos e dos contratos, sob a influência dos Magos. Estes foram uma classe de sacerdotes dos antigos medas com um papel sacrificial importante e que entre os gregos antigos gozavam de uma reputação de serem depositários de uma sabedoria esotérica. No Panteão dos Deuses avésticos, Mitra seria filho de Anihata ou Anahita, a gênia feminina do fogo, uma espécie de Virgem Imaculada, Mãe de Deus. É a única figura feminina associada a Mitra, pois este permanecerá celibatário por toda a vida, exigindo de seus admiradores a prática do controle de si, a renúncia e a resistência a toda forma de sensualidade. Vale salientar que o maior Mithraeum (templo) construído em Kangavar na Pérsia Ocidental era dedicado a esta deusa. Segundo reza o Mihr Yasht, o extenso hino em honra a Mitra da saga religiosa persa, a história de Mitra é a seguinte: após ter sido promovido ao panteão dos Grandes Deuses, Aúra-Masda mandou construir-lhe uma mansão no cimo do Monte Hara, ou seja, no mundo espiritual, além da abóbada celeste. Postou-se aí como o protetor de todas as criaturas e não era adorado como todos os outros deuses menores com preces rotineiras. Aúra Masda consagrou Haoma como sacerdote de Mitra que o adorava e lhe oferecia sacrifícios. Aúra Masda cria e prescreve o rito próprio ao culto de Mitra no paraíso. Mitra, assim, retorna à terra para o combate contra os daêvas sem, contudo, conseguir vencê-los. Somente quando Mitra se une a Aúra Masda o destino dos daêvas será selado. Mitra será, a partir daí, adorado como a luz que ilumina todo o mundo.

No tocante aos babilônios, estes incorporarão o Deus Mitra no seu Panteão e, em troca, introduzirão, na religião persa, seu culto solar, tendo a astrologia como um dos seus pontos mais fortes. Convém salientar que a cultura judaica sofrerá uma influência marcante do dualismo zoroastriano a partir do cativeiro em 597 a.C. No judaísmo primordial, Iavé era concebido como o único criador do Mundo e do Universo, ou seja a totalidade absoluta do real, contendo inclusive o mal. O dualismo Iavé – HaSatan advém de uma crise espiritual que se seguiu ao cativeiro babilônico, personificando aspectos negativos da vida, sob a forma de Satã, que se tornará progressivamente também eterno. Satã seria, então, o fruto de uma cissão da imagem arcaica de Iavé combinado com as doutrinas dualistas iranianas. Esta tradição impactará fortemente o cristianismo nascente.

O Mitra irano-helenístico tem a sua gênese com as conquistas de Alexandre e a queda do império persa durante o ano de 330 a. C., pois Alexandre e 10.000 de seus soldados macedônios se casam com mulheres persas e mais, dentro do ritual persa. Sabe-se que alguns destes macedônios e seus filhos, iniciados pelas mães persas, introduziram o culto de Mitra na Macedônia e na Grécia. É deveras conhecido que a adoração deste Deus Mitra, advindo do inimigo persa, nunca obteve uma grande popularidade na Grécia, apesar de continuar a manter a influência junto à aristocracia meda e iraniana. Tanto assim que o nome Mitrídate (dado a Mitra) é encontrado em diversos reis partos, do Bósforo e do Ponto Euxino. A arqueologia tem descoberto diversos templos – Mitreas – na Armênia. Apesar da pouca influência junto ao povo grego, a religião iraniana entrou num vasto movimento sincrético junto à cultura helênica. Mitra era adorado em todo o império de Alexandre e os Magos continuavam a ser os sacerdotes sacrificadores. O culto repousava sobre uma cronologia escatológica de 7.000 anos, cada milênio sendo governado por um planeta. Daí advém a série dos 7 planetas, dos 7 metais, das 7 cores etc. Durante os 6 primeiros milênios, Deus e o Espírito do Mal combatem pela supremacia e, quando o Mal parecia vitorioso, Deus enviou o Deus solar Mitra (Apolo, Hélio) que domina o sétimo milênio. No fim deste período setenal, a potência dos planetas cessa e um incêndio universal recobre o mundo.

Curioso nesta época é a biografia do rei Mitrídate VI Eupator, rei do Ponto, anterior ao nascimento de Cristo. Seu nascimento foi anunciado por um cometa, um raio caiu sobre o recém-nascido, deixando-lhe uma cicatriz. A educação deste rei é uma longa série de provas iniciáticas. É visto durante sua coroação como uma encarnação de Mitra. A biografia real é muito próxima do Natal cristão. Ele será o último rei de uma longa lista de grandes reis Mitridates. Conquistou quase toda a Ásia Menor por volta de 88 a. C., mas foi derrotado pelos romanos em 66. Provavelmente aliou-se aos piratas Cilicianos dos quais falaremos a seguir. Foi, também, o primeiro monarca a praticar a imunização contra os venenos, a qual, segundo o Aurélio, se adquire por meio da repetida absorção de pequenas doses deles, gradualmente aumentadas, daí o nome mitridatismo.

A grande popularidade e o apelo do mitraísmo como uma forma refinada e final do paganismo pré-cristão foi discutida pelo historiador grego Heródoto, pelo biógrafo, também grego, Plutarco, pelo filósofo neoplatônico Porfírio, pelo herético gnóstico Orígenes e por São Jerônimo, um dos pais da Igreja.

O contato com o mundo helênico desenvolvia-se essencialmente a partir de Comageno na Ásia Menor. Daí surgem os primeiros testemunhos sobre Mitra, como um Deus dos Mistérios no primeiro século a. C., curiosamente, no seio dos piratas Cilicianos em luta contra os romanos. É dentro deste contexto de resistência e luta que Mitra pode tornar-se um Deus iniciático. Plutarco diz que celebravam em segredo ‘os mistérios de Mitra’. Sua capital era Tarso, onde nasceu S. Paulo, e Perseu era o seu Deus fundador. O símbolo da cidade era o combate do Leão com o Touro. Paralelamente a isto, os Magos medas se fixaram na Ásia Menor e na Mesopotâmia, infiltrando-se cultural e religiosamente no mundo helênico, principalmente, como vimos, na aristocracia. Cita-se que o rei Tiridate quando veio a Roma para ser coroado rei da Armênia por Nero, dirigiu-se ao imperador chamando-o por Mitra (Deus Sol).

O Mitra romano faz sua ‘rentrée’ no Império através dos Mistérios. O termo “mistério” possui um sentido muito preciso. Os mistérios gregos, e depois romanos, foram numerosos: Dionísio, Elêusis, Cibele, Átis e Deméter. Podem ser ainda citados os de Ísis, Sarápis, Sabázios, Júpiter Doliqueno etc. Uma certa bruma enigmática envolvia todos estas cerimônias dos mistérios, mas o comum entre eles, era o aspecto ‘solar’, apesar de todos esconderem sua identidade essencial. Desnecessário dizer que, por serem os mistérios, secretos e ocultos, poucos documentos escritos chegaram até nossos dias. O pouco que se sabe sobre eles advém da patrística cristã que, na ânsia de combater o mitraísmo, terminou por nos legar uma série de descrições sobre o mesmo. Alguns autores gauleses chegam a afirmar que assim como a maçonaria foi a religião clandestina da IIIª República Francesa, o mitraísmo sustentava subterraneamente a ideologia da Roma Imperial.

A inoculação do veneno mitraíco no seio do Império, segundo Plutarco (Vita Pompeu), foi o transplante, feito por Pompeu em 67 a. C., de 20.000 prisioneiros Cilicianos (uma província na costa sul oriental da Ásia Menor) que praticavam os “ritos secretos” de Mitra. Daí, a epidemia mitraíca se alastrou por todo o mundo romano, reforçada ainda pelos múltiplos contatos das tropas de ocupação romana com as outras culturas mitraícas, tendo atingido o seu zênite no século III, quando começou a travar uma luta de vida e morte com o cristianismo. Tanto assim que do século II ao IV da nossa era, os Mithrae (ou Mithraeum no singular) – templos dedicados ao culto do deus – chegaram a ser mais de 40 em Roma. Um dos maiores templos construídos podem ser encontrados hoje nos subterrâneos da Igreja de São Clemente, perto do Coliseu. Esta adoração não se restringia somente à capital do Império, mas principalmente às cidades portuárias da atual Itália: Óstia, Antium, no mar Tirreno; Aquiléia, no Adriático, Siracusa, Catânia, Palermo etc. Paralelamente, a propagação se dá na Áustria, na Germânia, nas províncias danubianas, na Polônia, na Hungria e Ucrânia e num movimento de volta, nas províncias da Trácia e da Dalmácia, num retorno à Grécia e a Macedônia. No terceiro século, encontram-se traços mitraícos na Criméia, no Eufrates, no Egito e sobretudo no Maghreb. Curioso é que a Espanha e Portugal sofreram pouquíssima influência. A Gália oriental, renana e belga, pagou o seu tributo, assim como também a Aquitânia. Encontram-se vestígios na região parisiense, como também em Boulogne sur Mer. Na Inglaterra, a concentração se dá em Londres e na região norte, ao longo do muro de Adriano, até Canterbury. Locais de adoração mitraíca foram encontrados também, na Bretanha, na Romênia, na Alemanha, na Bulgária, na Turquia, na Pérsia, na Armênia, na Síria, em Israel etc. No final do século III, Mitra era adorado da Escócia à Índia, chegando até a oeste da China, onde era conhecido como Amigo, nome que indica uma filiação védica.

Mitra passa a ser representado como um general militar. É o Amigo do homem durante a sua vida e seu protetor contra o mal após a sua morte. Mitra não é só propagado pelos militares romanos como também pelos funcionários, comerciantes, artistas, meio jurídico e financeiro e, principalmente nos círculos do conhecimento. Ao contrário da Grécia, penetra nos meios mais modestos e populares. Por mais de trezentos anos, os romanos adorarão Mitra.

Em meados do segundo século, seu culto atinge a cúpula militar. Os neófitos começaram a congregar-se sob os Flávios, espalhando-se o culto na época dos Antoninos e Severos. Os próprios Imperadores se fizeram iniciar nos mistérios, havendo suspeitas de que Nero tenha sido um deles. Contudo, é Cômodo (185-192) que parece ter sido o primeiro a se converter ao culto, seguido por Sétimo Severo. Caracala (211-217) encoraja o culto do Deus solar sob a forma de Sol invictus. O culto foi reintroduzido por Aureliano (270-275). O apoio oficial virá, entretanto, no reinado de Diocleciano em 307. Apesar destas emanações, não parece que Mitra tenha recebido uma preponderância imperial na corte dos Césares pagãos. Deve-se notar, ainda, que do mesmo modo que o cristianismo, sua influência não foi estendida ao meio rural. Alguns autores sugerem que isto se deveu à exclusão das mulheres nas funções litúrgicas.


II – Representações Litúrgicas e Ritualísticas do Deus Mitra

Mitra é um Deus de forma humana. É representado sob a forma de um jovem montado num touro e, com uma das mãos, empunha uma adaga para o degolar. Alguns afrescos, encontrados na parte mais central do Mithraeum (templo subterrâneo de adoração), representam Mitra com a cabeça voltada para o alto ou para o lado, significando desgosto com o que está fazendo. Sincreticamente, encontram-se ainda imagens de Teseu matando o Minotauro ou Perseu chacinando a Górgona ou, ainda, Hércules esfolando o Touro. Mitra está vestido em trajes orientais e muitas vezes circundado por dois meninos ou pastores que podem simbolizar o levante e o ocaso, o Outono ou a Primavera, as marés – montante e vazante – e ainda, a vida e a morte. A cena possivelmente se passa numa gruta. Um corvo, mensageiro do sol, está quase sempre na borda do rochedo. Vê-se ainda um cão se aproximando para beber o sangue da vítima, uma serpente enroscada dentro de uma pequena cratera e ao redor de um recipiente, um leão ameaçador, espigas de trigo sobre o rabo do touro e um escorpião que pica os testículos do animal morto.

A figura do touro tem sido exaltada através do mundo antigo pela sua força e vigor. Os mitos gregos falavam sobre o Minotauro, um monstro metade-homem metade-touro que vivia no Labirinto nos subterrâneos da ilha de Creta e que exigia um sacrifício anual de seis mancebos e seis donzelas antes de ter sido morto por Teseu. Peças de arte minóica representavam ágeis acrobatas saltando bravamente sobre o dorso de touros. O altar, em frente ao Templo de Salomão em Jerusalém, era adornado com chifres de touros que acreditavam ser portadores de poderes mágicos. O touro era também um dos quatro tetramorfos, ou seja um dos símbolos animais associados com os quatro evangelhos. A mística deste poderoso animal ainda sobrevive atualmente nas touradas da Espanha e do México, no rodeio dos ‘cowboys’ dos EEUU e agora, também, no Brasil.

Os estudos clássicos do belga Franz Cumont (1913) que provaram ser os mistérios mitraícos derivados das antigas religiões iranianas explica parcialmente como a cena da morte do Touro – conhecida como tauroctonia – inexiste na mitologia iraniana com a figura de Mitra. Cumont responde que teria encontrado textos que apresentavam o matador do touro como Ahriman, ou seja a força cósmica do mal na religião iraniana.

Somente a partir do Primeiro Congresso Internacional de Estudos Mitraícos (1971) levantaram-se novas hipóteses para explicar esta incongruência. A iconografia tauroctônica seria, na verdade, um mapa astronômico! Tais hipóteses, segundo os estudos de David Ulansey, baseiam-se em dois fatos: i) cada figura, na tauroctonia padrão, teria um paralelo com um grupo de constelações ao longo de uma faixa contínua no céu: o boi tem um paralelo com a constelação do Touro, o cachorro com o Cão Menor, a serpente com a Hidra, o corvo com o Corvus e o escorpião com Scorpio; ii) a iconografia mitraíca, em geral, é permeada por imagens astronômicas explícitas: o zodíaco, os planetas, o sol, a lua e as estrelas são permanentemente encontrados na arte mitraíca.

A pesquisa de Ulansey sobre cosmologia antiga, principalmente a astronomia greco-romana, focaliza o seu caráter “geocêntrico” no tempo dos mistérios mitraícos, no qual a terra era fixa e imóvel no centro do universo e tudo girava à sua volta. Nesta cosmologia, o universo era imaginado como estando contido numa grande esfera no qual as estrelas eram fixadas em várias constelações. Hoje sabemos que a terra tem um movimento de rotação sobre o seu eixo cada dia, mas na antiguidade acreditava-se que, uma vez por dia a grande esfera das estrelas fazia a sua rotação sobre a terra, oscilando num eixo que corria da abóboda do polo norte para o do sul. No seu giro, a esfera cósmica carregava o sol, explicando assim a oscilação do mesmo sobre a Terra.

Além deste movimento, os antigos atribuíam um segundo movimento mais vagaroso. Enquanto hoje sabemos que a terra gira ao redor do sol durante o ano, na antiguidade acreditava-se que, durante o ano, o sol – que estava bem mais próximo do que as outras estrelas – viajava sobre a Terra, traçando um grande círculo no céu tendo como fundo as outras constelações. Este círculo, traçado pelo sol durante o ano, era conhecido como o zodíaco, uma palavra significando ‘figuras vivas’, pois o sol passeava, durante o ano, sobre doze diferentes constelações que representavam diversas figuras de animais e formas humanas. Visto que os antigos acreditavam na existência real de uma grande esfera de estrelas, suas várias partes – tais como os eixos e os pólos – jogavam um papel crucial na cosmologia de seu tempo. Particularmente, um importante atributo da esfera das estrelas era muito mais bem conhecido do que hoje: o equador, denominado na época de equador celeste. Assim como o equador terrestre é definido como um círculo ao redor da Terra equidistante dos pólos, também o equador celeste era entendido como um círculo ao redor da esfera das estrelas equidistante dos pólos desta mesma esfera. O círculo do equador celeste era visto como tendo uma importância especial por causa dos dois pontos em que ele cruzava com o círculo do zodíaco: estes dois pontos eram os equinócios, ou seja, o local onde o sol, no seu movimento através do zodíaco, cortava-o no primeiro dia da primavera e no primeiro dia do outono. Assim, o equador celeste era responsável pela definição das estações e, por esta razão, tinha uma significação concretíssima ao lado de seu significado astronômico mais abstrato.

Um outro fato sobre este equador celeste é decisivo: como não estava fixo, possuía um movimento lento alcunhado de “precessão dos equinócios”. Este movimento, sabemos hoje, é causado por uma oscilação na rotação da Terra sobre seu eixo. Como resultante desta leve oscilação, o equador celeste parece mudar sua posição no curso de milhares de anos. Este movimento é conhecido como a precessão dos equinócios por que o seu efeito observável mais facilmente é uma mudança na posição dos equinócios ou seja, os locais onde, como vimos acima, o equador celeste cruza o zodíaco. Desta maneira, esta precessão resulta num movimento vagaroso para trás ao longo do zodíaco, passando sobre uma constelação do zodíaco a cada 2.160 anos e percorrendo todo o zodíaco a cada 25.920 anos. Hoje, por exemplo, o equinócio da primavera está no final da constelação de Peixes, mas, em algumas dezenas de anos, estará entrando em Aquário – já se fala muito, atualmente, na Era de Aquário. A grosso modo, o equinócio da primavera estava em Touro entre 4.000 a 2.000 a.C. mais ou menos; em Áries de 2000 a.C. até o nascimento de Cristo, ou seja nos tempos greco-romanos; a Era de Peixes – o cristianismo –, da gênese do mesmo até a nossa mudança de milênio e de 2000 e poucos em diante, a tão decantada Era de Aquário.

Ulansey descobriu que, neste fenômeno da precessão dos equinócios, estaria a chave para desvendar o segredo do simbolismo astronômico da tauroctonia mitraíca. Para as constelações desenhadas nas tauroctonias mais comuns havia uma coisa constante: todos eles estavam posicionados no equador celeste como na época imediatamente precedente à Era de Áries dos tempos greco-romanos. Durante esta idade anterior, que podemos chamar de Era de Touro (como vimos durou mais ou menos de 4.000 a 2.000 a.C.), no equador celeste da época estavam Taurus (Touro, o equinócio da primavera), Canis Minor (o Cão), Hydra (a serpente), Corvus (o Corvo) e Scorpio (o Escorpião que estava no extremo oposto do Touro, ou seja, o equinócio do Outono). A coincidência é impressionante, todos estas constelações estão representadas nas tauroctonias.

Em muitas ilustrações tauroctônicas, a cabeça de Mitra é nimbada de estrelas. Assim, a morte do Touro representaria, no zodíaco, o fim da Era de Touro e o começo da Era de Aries no equinócio da primavera e Mitra, o deus Todo-Poderoso, que poderia reger e mudar todo o sistema cósmico. Nos escritos do filósofo neoplatônico Porfírio, encontra-se a alusão de que a caverna, onde se posiciona o Mithraeum e está desenhada a tauroctonia, na sua parte mais recôndita, seria, na verdade, uma ‘imagem do cosmos’.

Como curiosidade, Freud e Jung tiveram uma divergência básica sobre a interpretação psicanalítica do morte do touro, sendo um dos pontos básicos de divergência e conflito entre ambos, resultando, posteriormente, em separação definitiva.

Mitra, Deus solar, também é representado com a cabeça de um Leão quando é saudado com o título de Sol invictus. São os afrescos, encontrados em Mênfis, com as coxas peludas, patas de caprino e a cabeça radiada. Mitra Leoncéfalo, portando as chaves, é outra imagem lapidar, pois fora das cenas tauroctônicas, ele é representado em momentos de refeição ou de iniciação.

No tocante ao culto e à liturgia, estes se faziam no interior do Mithraeum e na presença dos fiéis. A liturgia constava de ofícios e orações; manducação de pão e sumpção de água e vinho, acompanhadas de fórmulas sagradas; danças de luzes e fórmulas de êxtase; orações ao nascer do Sol, ao meio-dia e ao ocaso. As festas realizavam-se no sétimo mês do ano, mas todos os meses se festejava uma semana inteira, sendo cada dia destinado a um planeta. Comemorava-se, de modo especial, o dia natalício do deus (Natalis Invicti), a 25 de dezembro. Os ofícios dos templos faziam-se à luz de velas, com toques de sinos e com hinos, cujo teor não se conhece, porque se perderam.


O Mithreum típico (vide gravura supra) era uma pequena câmara retangular subterrânea (25x10m) com um teto arqueado. Um corredor dividia o templo ao meio, com bancos de pedra dos dois lados de 80 cm de altura no qual os membros do culto podiam descansar durante suas reuniões. Um mithraeum podia comportar de 20 a 30 pessoas. No fundo do templo, no final do corredor, havia sempre uma representação – normalmente um relevo entalhado e algumas vezes uma escultura ou pintura – do ícone central do mitraísmo: a tauroctonia ou a cena da morte do touro, conforme descrito acima. Outras partes do templo eram decoradas com várias cenas e figuras. Deveria ser implantado perto de uma fonte ou curso d’água ou, na falta destes, de um poço. Havia centenas, talvez milhares, de templos mitraícos no Império Romano.

Os adeptos de Mitra não se contentavam com um misticismo contemplativo. O seu culto encorajava a ação e um grande rigor moral. Para os soldados, a resistência ao mal e às ações imorais representavam uma vitória tão importante quanto as militares.

Reuniam-se, em pequenos grupos, unidos e solidários pelo ritual iniciático. Partilhavam o banquete sacramental com os deuses e finalizavam com uma aliança entre o sol e Mitra. O repasto, sobre os despojos de um touro, era seguido de um sacrifício, muitas vezes de um touro, ou de animais simbolizando o touro: cabras, javalis e/ou galináceos.

Consagrava-se o pão e a água, bebia-se o vinho que simbolizava o sangue do touro e comia-se a carne. O processo da iniciação mitraíca requeria a subida simbólica de uma escada cerimonial com sete degraus, cada um feito de um metal diferente para simbolizar os sete corpos celestiais. Simbolicamente galgando esta escada cerimonial através de sucessivas iniciações, o neófito podia atravessar os sete níveis do céu. Os sete graus do mitraísmo eram: Corax (Corvo), Nymphus (Noivo), Miles (Soldado), Leo (Leão), Peres (Persa), Heliodromus (Corrida do Sol) e Pater (Pai); cada grau era protegido por um planeta (na cosmologia da época): Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, a Lua, o Sol e Saturno. Cada dignitário apresentava a vestimenta e a máscara correspondente ao seu grau. Como todo rito mitraíco a estrutura hierárquica era setenária. Os adeptos tinham a sua divisão de papéis: o chefe (pater), o papel de Mitra, o heliodromo (sol), o corvo apresentavam as carnes e as bebidas aos convivas dentro de uma ordem hierárquica. A carne era assada sobre os altares dentro da concepção do sacrifício do mundo greco-romano.

Os rituais iniciáticos constavam da admissão dos fiéis por “inductio”. Antes de serem admitidos, os candidatos eram interrogados, sondados, informados num local distinto do templo. Em seguida, eram submetidos a uma série de provas, nus e com os olhos vendados, marchavam às apalpadelas diante de um mistagogo para finalizar se ajoelhando diante de um personagem que portava uma tocha diante de seus olhos. A seguir, com as mãos atadas às costas, colocavam um joelho no chão ao mesmo tempo que um sacerdote cingia-lhes a cabeça com uma coroa. No final, prostravam-se como mortos. Tudo isto faz parte da tipologia iniciática das sociedades secretas em geral: olhos vendados, resistência física, morte simbólica etc.

Reprova-se, nos adeptos de Mitra, a propensão aos sacrifícios humanos. Tal suposição advém de se ter encontrado, nos diversos Mithrae, restos de esqueletos humanos.

Apesar de todos os estudos antigos e modernos, conhece-se mal a “teodicéia” mitraíca. Sabe-se, contudo, que os “mistérios” da Antiguidade revelam um mito ou uma história santa que legitima a liturgia. É uma certa explicação do Mundo e da passagem do homem sobre o mesmo que dá toda a força aos “mistérios”, sejam eles de Mitra, de Elêusis, em suma de quase todos. A religião de Mitra se independentizou de suas origens orientais, agindo como um imã que atraiu diversos aportes: gregos, babilônicos, romanos etc. Finalizou como um Deus adaptado ao Império Romano, explicando assim o seu sucesso. Uma das grandes ironias da história é o fato de que os romanos terminaram por adorar um deus de um de seus maiores inimigos políticos: os persas. O historiador romano Quintius Rufus assinala no seu livro História de Alexandre que antes de ir batalhar contra os “países anti-mitraícos” de Roma, os soldados persas oravam a Mitra pela vitória. Sem embargo, tendo as duas civilizações inimigas estado em contato de conflito aberto ou latente por mais de mil anos, os adoradores de Mitra migraram dos persas, através do frígios da Turquia, até os romanos.

Numa análise simbólica final, o culto de Mitra revela uma história do Mundo. Saturno (ou Cronos, representando o Tempo) reinava soberano sobre o Mundo, quando entregou a Júpiter o raio, uma arma letal que serviu para derrotar os gigantes e gênios do mal. Alguns autores hipotetizam que este gênio do mal poderia ser o Oceano que cobria a Terra.

Mitra, Deus petrógeno, não descende aqui do Céu, pois surge miraculosamente de uma rocha com um barrete asiático, tendo em uma das mãos uma tocha luminosa e na outra, a adaga. Pastores assistem e ajudam este nascimento. Mitra, em seguida, é encontrado junto de uma árvore ceifando o trigo. Depois é visto atirando com um arco sobre uma parede rochosa onde jorra uma fonte que sacia os pastores. Alguns autores concluem que as forças do mal (Oceano?) tentaram aniquilar os humanos pela fome e pela sede e que Mitra, salvador dos homens e Deus protetor, interveio para os alimentar e saciar sua sede, não só dos homens como dos rebanhos. Nota-se, também, que o papel “justiceiro” das tradições asiáticas não desapareceu, pois Mitra vem em socorro do Mundo para fazer respeitar a Lei Divina.

Começa, agora, a perseguição ao Touro. O touro está em conjunção com a lua, seus dois chifres formam o crescente. O touro contem os elementos vivos (o esperma do touro purificado pelo raio da lua produzirá os espécimens animais). Mitra tem a missão de subtrair estas forças vivas das tentações maléficas. O touro se refugia numa construção mas dois pastores ateiam fogo ao local. Mitra alcança o animal, agarra os seus cornos e consegue cavalgá-lo. Depois, prende as patas traseiras do animal, arrasta-o até a gruta onde um corvo, mensageiro do Sol, impõe-lhe a tarefa de matar o animal insubmisso. A morte do touro atrai uma serpente e um cachorro que se apressam em sugar o sangue que jorra da ferida enquanto um escorpião (algumas vezes um caranguejo ou um ‘câncer’) fisga os testículos da vítima para aspirar sua força vivificante.

Cumont afirma que espigas de trigo saem da ferida, juntamente com o sangue que escorre da calda do touro. Do corpo da vítima moribunda nascem as ervas e as plantas salutares… De sua medula espinal germina o trigo que dá o pão, de seu sangue, a vinha que produz a beberagem sagrada dos mistérios.

É após a morte do touro que um conflito se abate entre Hélio e Mitra. O Sol, ajoelhado diante da tauroctonia, perde sua prerrogativa de astro soberano. Mitra torna-se o verdadeiro Sol Invictus que vem salvar a criação. O Sol reconhece a preeminência de Mitra pois se faz iniciar no grau de Soldado (Miles).


III – O Cristianismo Triunfante

O fim do mitraísmo coincide com o seu zênite no século III d.C. e vem acompanhado da entronização do cristianismo como religião do Império Romano. Como vimos, o mitraísmo sofria o passivo de praticar uma liturgia elitista em pequenas sociedades secretas na qual as mulheres eram excluídas. Não se propunha ser uma religião de massa, aberto a todos, como o cristianismo. Era uma religião otimista e Mitra teve o grande defeito de não ter morrido para salvar o mundo.

Como os persas eram inimigos hereditários do Império Romano, os cristãos fizeram de tudo para ligar o mitraísmo a uma religião “inimiga”, persa por excelência, pois os romanos não deveriam adorar um deus importado do adversário. Apesar de tudo parece que Constantino manifestou uma certa simpatia pelo mitraísmo, principalmente na sua versão de “Sol invictus”. Quando este primeiro imperador cristão colocou todas as religiões pagãs na clandestinidade, poupou os mitraístas pois estes possuíam muita influência junto aos militares que eram o cimento do Império. O ‘punctus saliens’ no qual os cristãos atacavam os mitraístas era a sua propensão aos sacrifício animais. Quando estes sacrifícios foram interditados, bloqueou-se um dos fundamentos vitais do culto mitraíco.

O combate mortal entre o cristianismo e o Mitra pagão pode ser lido nos escritos de Tertuliano (160-220 d.C.) ao afirmar que esta religião utilizava indevidamente o batismo e a consagração do pão e do vinho. Dizia, ainda, que o mitraísmo era inspirado pelo diabo que desejava zombar sobre os sacramentos cristãos com o intuito de levá-los para o inferno. Não obstante, o mitraísmo sobreviveu até o século Vº em remotas regiões dos Alpes entre as tribos dos Anauni e conseguiu sobreviver no Oriente Próximo até os dias de hoje.

No curto reinado do imperador Juliano, sobrinho de Constantino, Gibbon afirma que se assistiu a um retorno temporário ao mitraísmo, tendo este Imperador se reconhecido até mesmo como adepto e chegando a construir um Mithraeum nos calabouços de seu palácio em Constantinopla. Seguiu-se um período de tolerância quando, sob o reinado de Teodósio (375-395), o cristianismo tornou-se religião de Estado e o paganismo foi definitivamente interditado. O mitraísmo sobreviveu em Roma até 394 sendo que a Basílica de São Pedro foi construída sobre o local do último culto mitraíco: o Phrygianum. A partir daí, o cristianismo construiu, boa parte de seus templos, acima de cavernas que continham Mithrae, seja em Roma seja nas províncias do Império. A catedral de Canterbury e a de São Paulo em Londres, o mosteiro do Monte Saint-Michel e algumas catedrais em Paris estão construídas sobre antigos Mithrae em ruínas.

Os pontos comuns entre o cristianismo e o mitraísmo são inúmeros. O nascimento de Cristo é anunciado por uma estrela assim como o de Mitridate Eupator. Ambos são nascidos de uma Virgem Imaculada que toma o nome de Mãe de Deus. A caverna, a gruta são os locais de nascimentos tanto de Cristo quanto de Mitra. A presença de pastores e de seu rebanho também estão presentes em ambos os nascimentos. A gruta de Belém é prenhe de luz e Mitra é um deus solar. Além do mais, o ouro, símbolo do Sol, tem uma importância crucial na liturgia cristã. Deus é Amor mas também Luz. O nascimento dos dois deuses foi a 25 de dezembro, solstício de Verão no Hemisfério Norte. Sabe-se que Cristo não teria nascido no dia 25 e que, somente com o fim do mitraísmo, a Igreja Cristã, “cristianizou” o dia como a festa do Natal. Tanto Cristo como Mitra eram castos e celibatários. Todas as duas religiões são fundadas sobre um sacrifício salvador do Mundo, mas com a morte de Cristo, o cristianismo tira a sua vantagem e sua superioridade. A morte do Touro encontra um símile na luta de São Jorge com o dragão. A vontade de neutralizar as potências do mal, a guerra entre as duas potências e a vitória do Bem. A consagração do pão e do vinho estão presentes entre os cristãos e os iniciados de Mitra. No grau de Soldado (Miles), o iniciado é marcado com uma cruz de ferro em brasa sobre a fronte. A imortalidade da alma e a ressurreição final. As igrejas antigas possuem criptas subterrâneas que evocam os templos mitraícos. A fraternidade e o espírito democrático das primeiras comunidades cristãs se assemelham muito ao mitraísmo. A fonte jorrando da rocha, a utilização de sinos, os livros e as velas, a água santa e a comunhão, a santificação do Domingo (fora da tradição judaica do Sábado), a insistência numa conduta moral, o sacrifício ritual, a angeologia, a teologia da luz, dualidade deus-diabo, o fim do mundo e o apocalipse são também comuns em ambas as religiões.

Outro símile interessante seria entre Mitra e Papai Noel. Vestimentas vermelhas e barrete frígio são comuns a ambos como também as velas incrustadas em árvores (de Natal) nas cerimônias natalinas.


IV – Sobrevivência Mitraíca e sua Influência na Maçonaria

Encontram-se traços mitraícos nas diversas gnoses e principalmente nas heresias dualistas cristãs. O esoterismo do gnosticismo cristão foi muito influenciado pelas religiões egípcias e iranianas. Os segredos, revelados aos “Perfeitos”, referiam-se aos mistérios da ascensão e descida de Cristo através dos Sete Céus habitados pelos anjos. Autores modernos chegam a afirmar que o gnosticismo é um fenômeno pré-cristão de origem iraniana que poluiu o cristianismo nascente. A influência dos cultos iranianos e especificamente mitraícos sobre a gnose de Mani são insofismáveis. Desde o século III d. C., o segredo mitraíco força as portas da barca de São Pedro. A pressão deste dualismo maniqueísta percorre toda a Idade Média. O bogomilismo da Europa Oriental inicia a sua trajetória a partir do século X colocando Satã no lugar de Deus, infligindo um poder considerável sobre as heresias Cátaras e Albigenses no alvorecer do século XII na Europa Ocidental. Estas heresias gnósticas cristãs professavam a asserção de que Deus não teria criado o Mundo, estando este sob o domínio de Satã – assimilado ao demiurgo Yahvista. O verdadeiro Deus estaria tão distante da Terra onde se dão estes embates entre o Bem e o Mal. Apesar disto teria enviado Cristo para salvar os homens ao mostrar-lhes o método da libertação.

Outra difusão de um mitraísmo mitigado estaria entre os Cavaleiros do Templo, pois estes sofreram a influência dos maniqueus. No culto a Baphomet, também conhecido como o filho de Mitra, havia um ícone representado por um Touro ornado com uma chama entre seus cornos…

O culto de Mitra enquanto sociedade iniciática tem certas semelhanças com a maçonaria propriamente dita. A fraternidade entre os membros, a exigência de uma conduta moral, a vontade de defender, de maneira ativa e não contemplativa, o bem e a virtude são, ao mesmo tempo, padrões maçônicos e mitraícos. A defesa da ordem política e social, o culto exclusivamente masculino são também pontos comuns. Ritualisticamente encontram-se os seguintes traços: a mania pelo número 7, a existência de graus iniciáticos, as velas, os altares, a Luz, as palavras de passe etc. O templo maçônico pode ser visto como uma gruta mitraíca ou se não se quiser ir muito longe o símile poderá ser feito com a câmara de reflexões; o teto estrelado do templo tem profunda semelhança com os mitraícos. Os templários, a tradição judaica e cristã foram os grandes transmissores de símbolos mitraícos. Os dois São Joães – de Inverno e de Verão – tem profunda vinculação com os dois pastores da tauroctonia. O sacrifício ritual fundador de Hiram está muito próximo do sacrifício ritual do Touro. O corvo no acampamento militar, encontrado nos altos graus do escocesismo, é uma prova cabal da influência mitraíca.

Outro símile estaria no mais baixo grau de iniciação – o grau de Corvo (Corax) – simbolizava a morte do novo membro, o qual deveria renascer como um novo homem. Isto representava a fim de sua vida como um não-crente (ou descrente) e cancelava pretéritas alianças de outras crenças inaceitáveis. Curioso salientar que o título de Corax (Corvo) originou-se com o costume zoroástrico de expor os mortos em elevações funerárias para ser comido pelas aves de rapina. Este costume continua, até os dias de hoje, sendo praticado pelos Parsis da Índia, descendentes dos persas seguidores de Zaratustra.

O simbolismo sexual, encontrado em diversos rituais maçônicos, poder ter um paralelo com o touro, pois este era uma óbvia representação da masculinidade pela natureza de seu tamanho, de sua força e de seu vigor sexual. Ao mesmo tempo, o touro simbolizava as forças lunares em virtude de seus cornos e as forças telúricas em virtude de ter as quatro patas assentadas no solo. O sacrifício do touro simboliza a penetração do princípio feminino pelo masculino, a vitória da natureza espiritual sobre a animalidade, tendo um paralelo com as imagens simbólicas de Marduk destruindo Tiamat, Gilgamesh aniquilando Huwawa (grafia de Eliade), São Miguel dominando Satã, São Jorge vencendo o dragão, o Centurião lancetando Cristo e, por que não nos referirmos a um ícone moderno: Sigourney Weaver lutando contra o Alien?

Finalmente, o mitraísmo era, concomitantemente, um culto dos mistérios e uma sociedade secreta. Tal como os ritos de Deméter, Orfeu e Dionísio, os rituais mitraícos admitiam candidatos em cerimônias secretas cujo significado era do conhecimento somente do iniciando. Como todos os outros ritos de iniciação institucionalizados do passado e do presente, este culto dos mistérios permitia aos iniciados ser controlado e posto sob o comando de seus líderes. Ao ser iniciado, o neófito tinha que provar sua coragem e devoção nadando através de rio caudaloso, escalando um rochedo íngreme ou pulando através das chamas com suas mãos atadas e os olhos vendados. Ao iniciado era também ensinado o segredo das palavras de passe mitraícas que eram usadas para identificação mútua como também era auto-repetida frequentemente como um mantra pessoal.


V – Como seria um Mundo Mitraíco à Guisa de Conclusão

O legado mitraíco resulta em comportamentos usados ainda hoje em dia, tal como o apertar as mãos e o uso da coroa pelo monarca. Os adoradores de Mitra foram os primeiros no Ocidente a pregar a doutrina do direito divino dos reis. Foi a adoração do sol, combinada com o dualismo teológico de Zaratrusta, que disseminou as ideias sobre as quais o Rei-Sol Luis XIV (1638-1715) na França e outros soberanos deificados na Europa mantiveram o seu absolutismo monárquico.

Alguns estudiosos afirmam que, durante o IIº e o IIIº século d.C., nunca a Europa esteve tão perto de adotar uma religião indo-ariana quando Diocleciano, oficialmente, reconheceu Mitra como o protetor do Império Romano, nem mesmo durante as invasões muçulmanas.

Especulações teóricas anglo-saxãs hipotetizam que se um golpe de estado, dado pelos centuriões adoradores de Mitra, tivesse impedido Constantino de estabelecer o cristianismo como a religião oficial do Império, o mitraísmo poderia possivelmente sobreviver através dos séculos seguintes com a assistência teológica da heresia maniquéia e seus epígonos, assumindo “ipso facto” que os ensinamentos de Jesus teriam, de alguma maneira, sido simultaneamente anulados e, talvez, com um número crescente de crucificações. Esta ausência do cristianismo, devido à continuação do mitraísmo no Ocidente, teria obstado o crescimento do Islã no século VII e a violência das Cruzadas necessariamente não teria ocorrido. Assumindo, ainda, que o Islã não teria, assim, conquistado religiosamente a Pérsia, a adoração de Mitra poderia ter continuado no panteão de Zaratrusta. Como consequência, o mitraísmo poderia ter penetrado com mais força nos panteões da Índia e da China e, possivelmente, teria aportado nos países do Extremo-Oriente.

Continuando com a especulação saxã que resultou na “lenda negra” da dominação espanhola no Novo Mundo, Colombo realizou os seus descobrimentos em pleno período da Inquisição, fenômeno este representativo da culminância de mais de mil anos de uma das maiores religiões monoteístas semítica – o cristianismo. Se o mitraísmo tivesse sobrevivido o milênio até o ano de 1492, os povos indígenas das Américas poderiam ter sido expostos à adoração de Mitra no lugar dos missionários católicos. Imaginaríamos, assim, o Taurobolium – ritual de regeneração ou sacrifício do touro, no qual o sangue do animal era derramado sobre o iniciado – sendo sido transposto e sincretizado com o ritual da caça do búfalo dos índios das planícies do Oeste americano e a cerimônia do sacrifício dos maias, incas e astecas, e provavelmente, estes impérios não teriam sido aniquilados pelos brutais conquistadores europeus em nome do Rei e de Cristo.

Se non è véro, è bene trovato…



William Almeida de Carvalho




Fonte do Texto e das Gravuras: BIBLIOT3CA FERNANDO PESSOA
E-Mail: revista.bibliot3ca@gmail.com – Bibliotecário- J. Filardo
https://bibliot3ca.com/ascensao-e-queda-do-deus-mitra/





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