sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

A ÉTICA DE ANTÔNIO VIEIRA - O Princípio da Honestidade na Civilização do Século 21

Acusado de “heresia”, Antônio Vieira viveu diversos anos preso em cárcere mantido por cardeais que torturavam e matavam em nome de Jesus.


A visão interior da meta antecede a ação. Saber o que é correto é mais fácil do que colocá-lo em prática eficientemente.

Assim, a chave ética para a transformação política da sociedade não terá de ser descoberta em algum momento do futuro, porque já vem sendo descrita e mostrada há milênios.

“Não há nada de novo debaixo do Sol”, diz a Bíblia. E um exemplo claro disso é que a questão da existência ou não de ética na política – decisiva para o século 21 – já foi esclarecida corajosa e magistralmente pelo padre Antônio Vieira em um sermão feito em Lisboa em 1655, por coincidência, alguns poucos anos antes de ele ser recolhido às prisões da Santa Inquisição portuguesa.

Polêmico como todos os profetas, Vieira contou uma história para mostrar a diferença entre um assalto comum e o roubo em grande escala. Disse ele que, certo dia, o imperador Alexandre, da Macedônia, navegava em direção às Índias com sua poderosa frota de guerra quando foi trazido à sua presença um pirata que andava roubando os pescadores do mar Eritreu. Alexandre repreendeu o homem por suas atividades desonestas. Mas aquele pirata do século quatro antes de Cristo não era medroso nem tímido, e respondeu:

“Então, senhor, eu, que roubo em uma barca, sou ladrão, e vossa excelência, que rouba com uma frota inteira, é um imperador?”

Vieira citou a seguir o comentário do filósofo Sêneca: “Se qualquer rei fizer o que fazem o ladrão e o pirata, merece o mesmo nome que eles”. Para aquele padre português, que serviu Brasil e Portugal como poucos, o que mais causava assombro e vergonha era ver que os pregadores religiosos do seu tempo não defendiam a mesma doutrina. O silêncio deles, dizia Vieira, era uma grave acusação contra os príncipes.

“Não são ladrões apenas os que cortam as bolsas”, disse o padre, citando São Basílio. “Os ladrões que mais merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e as legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, pela manha ou pela força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam correndo risco, estes furtam sem temor nem perigo. Os outros, se furtam, são enforcados; mas estes furtam e enforcam.” [1]

Depois de mencionar a responsabilidade dos líderes religiosos, Vieira comenta o papel dos reis (e chefes de Estado) no processo da corrupção generalizada: “Aquele que tem a obrigação de impedir que se furte, se não o impediu, fica obrigado a restituir o que se furtou…”

Pouco mais de trezentos anos depois da morte de Vieira, ocorrida em 1697, as palavras dele continuam proféticas. Ao descrever a atuação dos administradores públicos no vasto reino português do século 17, ele parecia falar também do Brasil e outros países no início do século 21:

“Furtam de modo permissivo, porque permitem que outros furtem, e estes compram as permissões. Conjugam de todos os modos o verbo roubar…”

A desonestidade nas relações políticas e a corrupção dos administradores públicos não são, portanto, um fenômeno recente. Mas só um pessimista muito afastado da realidade dos fatos pode ignorar que a transparência e a informação plena são a marca do século 21, e que elas dificultam a corrupção.

Ao mesmo tempo, é impossível instalar a ética na política de modo estável e permanente enquanto não houver ética nas relações econômicas e na estrutura social. Os avanços tecnológicos das últimas décadas eliminaram grande parte dos obstáculos materiais para uma vida melhor. Há muitas soluções simples que ainda não foram adotadas pelos nossos líderes políticos apenas porque necessitam de uma dose maior de honestidade e decência por parte de todos, e um pouco menos de egoísmo.

Por exemplo: a produtividade da economia cresceu de modo extraordinário nos últimos 50 anos do século vinte, mas o poder aquisitivo dos trabalhadores não aumentou na mesma proporção, e o desemprego continua uma ameaça. Ora, há duas maneiras principais de repassar o aumento de produtividade para o trabalhador. Uma é aumentar o salário. A outra é diminuir a jornada de trabalho. Se esta ideia for colocada em prática, o trabalhador terá mais tempo para o lazer e a cultura. Terá mais qualidade de vida e chances de ser um cidadão melhor. O desemprego diminuirá e, consequentemente, haverá menos crimes nas ruas.

Uma outra questão social decisiva para a vida política do País é, sem dúvida, a reforma agrária. Não pode haver ética duradoura na política enquanto não houver justiça social no campo, porque, afinal, todas as questões estão integradas.

As igrejas cristãs e demais lideranças espirituais têm atuado pouco no campo da ética política, e isto aumenta as dificuldades. No futuro próximo, porém, os espiritualistas sintonizados com a energia do futuro assumirão com força crescente o seu dever de irradiar, o mais rápido possível, honestidade e decência para os diferentes níveis do país em que vivem. Este será ao mesmo tempo um teste para a coerência das lideranças espirituais, porque a pregação ética não tem valor se não nasce de uma prática concreta.

Os gestos práticos são, de fato, o discurso mais eloquente. E não se trata tanto de combater o mal quanto de fazer e estimular o bem. Todo ser humano tem qualidades positivas e negativas. A grande tarefa política é criar uma espécie de reação química coletiva que faça crescer os sentimentos positivos entre as pessoas e os setores da sociedade, de modo que as qualidades positivas entrem em movimento e a negatividade perca espaço e acabe sendo transcendida. O desafio do líder político da nova era é criar no cidadão um sentimento de confiança vigilante em si mesmo, nos outros e no nosso futuro comum. Neste contexto, a oposição entre esquerda e direita pode ficar reduzida em grande parte a um mero jogo de palavras.

Até algum tempo atrás, os movimentos políticos de esquerda pareciam quase donos da bandeira da ética; mas atualmente há uma grande falta de heróis nessa área.

Os partidos políticos não têm sabido interpretar nem encaminhar de modo eficaz o problema ético, apesar de ele ser a questão central do processo político brasileiro. A razão desta dificuldade é simples: o problema ético depende da consciência interior de cada um e não pode ser resolvido apenas no plano externo da política e do jogo das aparências.

A visão interna e espiritual da realidade é indispensável, porque a atmosfera psíquica ou psicosfera do País é alimentada pelos pensamentos mais íntimos de cada um de nós. A consciência social é alimentada pela consciência de cada pessoa. De certo modo, os políticos desonestos estão apenas levando às últimas consequências as pequenas desonestidades físicas, emocionais e mentais que alguns cidadãos pensam que podem cometer impunemente nas suas relações familiares ou profissionais. O cidadão que busca tirar vantagens dos outros dizendo meias-verdades aumenta a presença sutil da falsidade na psicosfera.

Do mesmo modo, o cidadão que decide viver o mais honestamente possível em todos os aspectos da vida funciona como purificador da atmosfera psíquica, trocando vibrações densas por outras mais leves, e pensamentos escuros por ideias bem definidas e claras. Cada indivíduo está ligado internamente a tudo o que acontece no seu país e no mundo, porque o processo humano é um só e indivisível. Quando um de nós aperfeiçoa a si mesmo, está aperfeiçoando os outros no plano espiritual. Falando de política, o sábio chinês Confúcio disse há 2500 anos: “Se você for capaz de corrigir-se, não terá dificuldades ao governar. Se você não for capaz de corrigir-se, não conseguirá corrigir os outros.” [2] Agora estamos quase no ponto de aprender a lição.

Nos Ioga Sutras de Patañjali – o maior tratado de ioga de todos os tempos -, uma das abstinências exigidas é não roubar. A tarefa é mais difícil do que parece à primeira vista:

“A maior parte de nós não é dada ao roubo como ele é usualmente entendido”, comenta Rohit Mehta. “Mas existem aspectos mais profundos do roubo dos quais podemos não estar livres.” Qualquer forma de imitação, mesmo sutil, pode ser um furto. Um relacionamento em que há uso de outra pessoa para satisfação própria é uma forma de roubo. Todo excesso tem alguma semelhança com o furto, e a honestidade é quase sempre inseparável da moderação e do equilíbrio. [3]

O desafio político dos cidadãos da nova era torna necessário reexaminar sua atitude diante da sociedade brasileira a partir de um ponto de vista central: não podemos ser altruístas na vida pessoal enquanto agimos de modo egoísta ou irresponsável em nossas relações econômicas, políticas e sociais. Ao contrário. É preciso recriar o mundo concreto e as relações humanas a partir do sentimento de fraternidade que a busca espiritual faz nascer dentro de nós.

É verdade que o caminho místico desperta a necessidade de uma vida menos agitada e mais silenciosa, aumentando o prazer de estar sozinho no plano físico. Mas o sentimento de solidariedade profunda e o amor pela humanidade só aumentam quando a busca interior é autêntica – mesmo que se prefira levar uma vida um pouco mais retirada.

Não é por acaso que a participação dos místicos na vida política brasileira sempre foi decisiva. O sentimento de solidariedade é inevitável. Tiradentes, o mártir da Independência, era simpatizante ativo do movimento maçônico. Ele disse que, se tivesse dez vidas, daria todas elas pela causa da libertação do nosso país. José Bonifácio, Gonçalves Ledo e os principais líderes da Independência eram maçons e transcendiam o dogmatismo religioso, embora em muitos casos tivessem uma visão limitada da questão espiritual. Frei Caneca, morto por seus ideais republicanos e democráticos, era maçom, assim como o barão de Rio Branco, Benjamin Constant, marechal Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Campos Sales e o duque de Caxias. O grande jurista Ruy Barbosa, o presidente Prudente de Morais e o presidente Washington Luís foram maçons, do mesmo modo que os jornalistas Júlio de Mesquita e Júlio de Mesquita Filho. Todos esses personagens da nossa história certamente cometeram equívocos, alguns graves, e também discordaram frequentemente um dos outros. Mas eles tiveram em comum uma certa abertura para a visão mística da vida. [4]

O pioneiro do jornalismo brasileiro, Hipólito José da Costa, fundou o jornal Correio Braziliense no exílio, em Londres, em 1808, fazendo dele um instrumento de luta pelo fortalecimento do Brasil. Hipólito, maçom respeitado mundialmente, foi um estudioso notável das tradições de mistérios e passou vários anos nas prisões da Inquisição, perseguido por seus ideais.

Independentemente dos movimentos espiritualistas ou esotéricos organizados, há hoje uma tarefa histórica inevitável diante das forças políticas: aprender a lição da ética e, ao mesmo tempo, assumir uma atitude prática e construtiva em relação ao futuro. A corrupção não apenas se alimenta do pessimismo, mas também tende a realimentá-lo. Entre os lugares comuns usados pelos ladrões para justificar-se está o de que “sempre haverá ladrões”. Mas a verdade é que a sociedade avançou muito desde o tempo daquele sermão de Antônio Vieira, e agora estamos chegando a uma situação radicalmente nova no Brasil. A ética em todas as relações sociais é uma experiência inevitável nos novos tempos.

O século 21 começou e os movimentos sociais não têm mais condições de limitar-se a fazer críticas. A política baseada apenas em discursos leva ao vazio, ou uma postura de negação do presente e do futuro com fixação nos hábitos populistas do passado. Os setores de esquerda – como todos os outros – estão mudando e necessitam mudar mais em direção a atitudes crescentemente éticas e criativas.

Ruy Barbosa escreveu em 1910 que “uns plantam a semente de couve para o prato de amanhã, e outros a semente de carvalho para o futuro. Os primeiros cavam para si mesmos, os últimos lavram para o seu país”. Com dirigentes políticos decentes, capazes de ouvir a população e buscar o bem do Brasil a longo prazo, o País poderá finalmente realizar na prática o velho sonho futurista do patriarca da Independência, José Bonifácio, que escreveu:

“Nós não reconhecemos diferenças nem distinções na família humana. O chinês, o português, o egípcio, o haitiano, o adorador do Sol e o de Maomé serão tratados como brasileiros. Porque, afinal, esta paz divina e concórdia celeste ligarão um dia todo o mundo, e farão, de todos os homens, uma só família.” [5]

Esta é a política do século 21. Com ela poderá nascer a federação mundial democrática sonhada há séculos por místicos das mais diferentes tradições culturais e religiosas, e da qual a atual ONU é uma pálida, mas valiosa, antecipação.




Carlos Cardoso Aveline





Fonte: do sítio da Web "Filosofia Esotérica"
http://www.filosofiaesoterica.com/a-etica-de-antonio-vieira/





NOTAS:

[1] “Sermão do Bom Ladrão”, Padre Antônio Vieira, Ed. Princípio, 1993, 48 pp.

[2] “O Essencial de Confúcio”, Thomas Cleary, Ed. Best Seller, 197 pp. Ver p. 113.

[3] “Yoga, A Arte da Integração”, Rohit Mehta, Ed. Teosófica, 312 pp. Ver pp. 106-107.

[4] “Os Maçons que Fizeram a História do Brasil”, de José Castellani, Ed. A Gazeta Maçônica, 177 pp. Ver também “História do Grande Oriente do Brasil”, de José Castellani, editado pelo Grande Oriente do Brasil, Brasília, 358 pp. e apêndices, 1993; e “Maçonaria e Ação Política”, de Waldemar Zveiter, Editora Mandarino, RJ, 192 pp.

[5] “José Bonifácio, o Patriarca da Independência”, de Venâncio F. Neiva, um resumo biográfico, Ed. Irmãos Pongetti, RJ, 1938, 304 pp. Ver especialmente p. 278.

A VERDADEIRA CONDIÇÃO DE UM JUSTO

Uma pessoa justa não é alguém que se tornou puro e, assim, passou a ter condições de fazer palestras e dar de si às pessoas. Ao invés disso, um justo é alguém que, talvez, pare na rua para ajudar alguém sofrendo, mesmo que, digamos, isso faça com que se atrase para uma reunião importante. Uma pessoa justa, em outras palavras, é alguém que vê o que pode fazer por outra pessoa, e o faz, mesmo se for inconveniente ou desconfortável.

Há uma historia sobre um homem que queria desesperadamente encontrar Deus. Quero dizer, ele realmente queria se conectar com o Criador. Então, o que ele fez? Jejua por alguns dias e depois sobe ao alto de uma montanha para meditar. Finalmente, exausto, chega a um lugar em que pode descansar e continua suas preces ardentemente. Mas nada acontece: não recebe nenhuma resposta de Deus. Por fim, exasperado, grita: ”Deus, Deus”! Onde o Senhor está?” E Deus responde: ”Você pegou o caminho errado, amigo! Estou aqui embaixo, com as pessoas!”

De fato, uma pessoa justa é alguém que se envolve com cuidar e se importar com as pessoas. Certamente não é alguém que sai por aí dizendo para as pessoas o que fazer, mas, isto sim, alguém que entende que ele mesmo, por si só, é apenas um veiculo, um mensageiro para trazer Luz para os demais neste mundo.




Karen Berg






Fonte: Centro de Cabala
www.kabbalah.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

EGRÉGORA E SEU MODUS OPERANDIS

1. Definição

Egrégora pode ser usado tanto feminino por terminar com a letra “a” ou no masculino por se referir à palavra “grupo”. O termo tem sido amplamente usado para representar tantas coisas diferentes que quando paramos para pensar o que realmente é uma egrégora, não chegamos a uma conclusão clara.

Será possível encontrar sua origem na palavra em Latim “aggregare” que significa reunir, congregar; e também do Latim “egregor” que significa ‘observador'. Sendo esse último usado no livro de Enoch e na Bíblia (como anjo) em diversas passagens de Daniel e também é o mesmo sentido usado por Levi.

Apesar disso, é mais comum ver a aplicação do termo para caracterizar:

- Uma forma pensamento de um grupo (qualquer agremiação formal ou informal);

- Um ente formado pela ação comum de membros de um grupo;

- Um grupo de espíritos protetores (dirigentes) de uma atividade espírita.

Portanto, de forma geral, pode-se concluir que egrégora refere-se ao fenômeno produzido pela interação de pessoas envolvidas num objetivo comum, isto é, a produção de uma “forma grupo” numa dimensão sutil que cuida dos interesses deste grupo, por exemplo, empresas, clubes, religiões, famílias, partidos et cetera.


2. Na História

Quando pensamos em egrégora, a primeira ideia que nos vem à mente é ser algo relacionado com grupos relacionados com espiritualidade. Mas W. E. Butler em seu livro ‘The Magician, his training and his work', de 1959, foi mais específico e escreveu:

“Uma clara ideia da natureza da egrégora mágica, ou forma grupo, deve ser construída na mente no intuito de que o aspirante possa entender que parte ele desempenha em todo um complexo esquema e pelo qual pode saber o quão de perto ele é guiado e ajudado no trabalho escolhido.”

Definitivamente, o termo egrégora foi colocado em voga pela Sociedade Teosófica, no início do séc. XX, se apoderando dele ao se referir ao grupo de seres mais evoluídos que são responsáveis pela condução da evolução da humanidade, a Grande Fraternidade [Loja] Branca.

No entanto, o termo tem uso mais antigo e pode ser encontrado em ordens iniciáticas e círculos religiosos:

- Templários, na imagem do Baphomet;

- Maçonaria com a “Cadeia de União”;

- Teosofia com os Mahatmas;

- Golden Dawn com os Mestres Secretos;

- Fraternitas Saturnis com Gotos;

- AMORC com o Sanctum Celestial (Hierarquia);

- Espiritismo com seus Guias;

- Umbanda e os Eguns;

- Catolicismo com Jesus e os Santos;

- Candomblé com os Orixás.

Nos séculos XVIII e XIX, o termo egrégora recebeu maior atenção dos escolásticos da época e tornou-se algo mais técnico, isto é, recebeu uma abordagem mais específica, voltada à magia.


3. Na Magia

As egrégoras podem ser classificadas em dois tipos básicos, a intencional e a casual.

A egrégora intencional surge como resultado da interação de diferentes pessoas envolvidas num propósito “específico”. E nesse caso, a egrégora funciona como um animal adestrado que servirá ao propósito de quem a criou, sempre muito obediente, protetora e pró-ativa. Mas sempre constituída propositalmente.

Já a egrégora casual é formada sempre que as pessoas se reúnem para fazer algo e a menos que algo seja feito para mantê-la, ela se dissipará tão rapidamente quanto o grupo se desfaça. No entanto, caso desejem que sejam mantidas, será é necessário conhecer certas técnicas de como o fazer, e a egrégora continuará crescendo em força e podem durar durante séculos.

As egrégoras intencionais estão relacionadas às atividades espirituais ou esotéricas coletivas, sendo que as características básicas e essenciais de tais grupos são:

- que possuem um propósito claro e bem definido;

- que congregam pessoas em torno desse propósito;

- que elegem uma liderança ao grupo;

- que escolhem um símbolo para caracterizar esse propósito;

- que consagram esse símbolo por “cerimônia” e na presença do grupo e seu líder;

- que mantém reuniões regulares para tratar do propósito;

- que revezam seus cargos e/ou postos regularmente.

Como disse, todos esses elementos são essenciais para a constituição de uma egrégora. Mas note que os itens 3, 6 e 7 são os de maior importância na manutenção de uma egrégora como mostrarei mais adiante.

A vantagem de se ter uma egrégora está nela ter uma ação mais constante que a soma de seus membros individualmente, isto é, ela age pelo propósito original 24 horas sem qualquer interrupção. Isso sem mencionar que por estar numa dimensão sutil, é capaz de antecipar alguns eventos que poderiam desferir algo contra um dos seus.

Ela interage continuamente com seus membros, influenciando-os e sendo influenciada por eles. Geralmente essa interação costuma ser de forma positiva, estimulando e ajudando seus membros, basicamente por intuição, sonhos e por outras faculdades que o membro venha a possuir, desde que estes ajam conforme o propósito original. Sua ação estimulará todas as faculdades do grupo que permitirão a realização dos objetivos, individual e coletivamente, de seu programa original.

Se esse processo for continuado por muito tempo a egrégora toma vida por si própria, e pode ficar tão forte que até mesmo se todos seus membros morressem, ainda continuaria existindo por algum tempo, podendo ser reavivada posteriormente. Sendo que o reavivamento de uma egrégora depende da capacidade de se viver como os fundadores originais, particularmente se estão dispostos a fazer a “contribuição inicial” de energia para fazê-la começar novamente.

De qualquer maneira, o reavivamento de uma egrégora é um ato consciente e intencional, cujo preparo passa pelo processo descrito anteriormente.


4. Manutenção

Uma egrégora traz benefícios, mas como tudo na vida, também traz certa carga para sua manutenção.

Independente de ela ser casual ou intencional, uma egrégora é como qualquer "entidade astral", i.e., necessita de “alimento” para seu sustento (existência) e suporte do propósito de sua criação.

A egrégora se “nutre” basicamente dos elementos que a criou, como qualquer ser vivo, quer dizer, das emoções, pensamentos e outros materiais “devotados” à sua criação. Está na base instintiva da natureza, pois tudo que ganha vida luta por mantê-la (lei da sobrevivência). E com a egrégora ocorre a mesma coisa. Além disso, ela possuirá psicologia, intensidade e personalidade herdada dos próprios criadores, um amálgama.

A “alimentação” da egrégora ocorre durante os encontros regulares do grupo. E no caso dos grupos espiritualistas ou iniciáticos, mais especificamente em seu ritual e/ou cerimonial regular. Funciona como uma recarga que é retirada dos membros, aos oficiais e sendo canalizada destes ao líder do grupo à egrégora. Nesse momento, novos pedidos e objetivos podem ser imputados à egrégora.

No final de um período previamente combinado, os oficiais de tais grupos devem revezar seus cargos. Essa é uma contra medida de segurança importante para que a egrégora não se vicie.


5. Efeitos Colaterais

Pode ser que o grupo se disperse por diversas razões ou mesmo seus líderes comecem a agir contra o objetivo original, ou ainda, os oficiais permanecem no mesmo cargo por muito tempo.

No primeiro, caso seu “alimento” lhe seja suprimido:

- a egrégora tenta influenciar os membros para retornarem às atividades;

- caso não tenha êxito, começará a influenciar seus líderes mais intensamente;

- caso não tenha êxito, haverá a possibilidade da egrégora:

- - ou definhar-se até desaparecer;

- - ou ocorrer o "efeito vampiro", quer dizer, dela se tornar "obsessiva" e passe a atuar como um cascão.

Por isso, é extremamente salutar o revezamento dos cargos, especialmente para grupos religiosos, místicos ou iniciáticos. Nesses casos, e por segurança, a troca dos oficiais ocorre nas cerimônias de equinócios.

No segundo caso, a egrégora tentará motivar o líder para continuar no propósito original. Caso ela não obtenha sucesso, começará a excluir o dito membro do grupo.

Portanto, ao assumir a liderança de um grupo, que o líder não negligencie suas funções mais sutis.

No terceiro caso, se os oficiantes não forem periodicamente renovados, pode ser criada certa dependência da egrégora.


6. Possíveis Perigos

Como disse antes, uma vez que algo ganha vida, este algo lutará para continuar vivendo. E uma egrégora (assim como a larva astral) não é diferente. Portanto, uma vez iniciados, os rituais devem ser executados com certa regularidade.

É muito comum, nos tempos atuais, ver grupos surgindo a esmo na mesma velocidade que encerram suas atividades. No entanto, encerram suas atividades por dispersão dos membros, não encontrando tempo de encerrar devidamente seus trabalhos.

Nesses casos, a egrégora continua ativa mesmo tempos depois. A egrégora começará a “pedir” alimento, como um “cão sem dono”, aos mais próximos. Isto é, às cabeças do grupo e se não tiver sucesso, aos demais membros.

A egrégora agirá exatamente como um obsessor ou cascão astral, sendo que mais fraca, pois sua natureza é diferente. Tentará influenciar o retorno das atividades do grupo a partir de um membro.


7. Observações e Devaneios

Geralmente não conhecemos o processo de sua criação. As egrégoras vão sendo criadas a esmo e os seus criadores logo se tornam seus servos já que são induzidos a pensar e agir sempre na direção dos elementos que caracterizaram sua criação. Serão tão escravos quanto menos conscientes forem do processo. Se conhecerem sua existência e as leis naturais que as regem, podem se tornar senhores dessas forças.

Submetamos Thelema ao processo descrito anteriormente. Há algum símbolo que seja o ícone de Thelema, pelo qual seja possível se trabalhar regularmente? Sim, vários, mas existe algum em especial? Em THELEMA não, mas nas Ordens Thelêmicas sim. Observe as festas e cerimônias recomendadas em Liber AL.

Portanto, não há egrégora para Thelema, porque não há o elemento básico que é um evento cíclico e um ícone de “veneração” como ponto de apoio, tal como o Catolicismo com Jesus Cristo.

Na A∴A∴ a coisa fica mais difícil ainda, é uma ordem individual, não há como haver egrégora. Os Mestres Secretos são outra coisa diversa de egrégora.

O “efeito vampiro”, como já foi comentado, é como um obsessor ou cascão astral, e caso ocorra, deve ser banido como tal.

Apesar de agirem de forma parecida, não confundam egrégora com um obsessores. Os obsessores se “alimentam” de sentimentos de revolta e ódio, exige mais revolta, ódio e sentimentos afins, enquanto que a egrégora se sustenta pela congregação de seus membros e só atuará como obsessor se for por sobrevivência.

Como todo ser vivo, uma egrégora não quer morrer e cobrará sua subsistência aos seus genitores, induzindo-os a produzir, repetidamente, as mesmas emoções. Caso tentem eliminar uma, façam sem hesitar. Pois do contrário, a egrégora achará um ponto fraco para se manter.


Notas do Autor

Esse texto foi desenvolvido a partir de anotações iniciadas em abril de 1997, sendo alterado conforme novas descobertas até 2004 quando foi encerrado.

Minhas principais fontes de pesquisas foram:

- participação ativa em Ordens que mantém egrégoras

- trabalho ativo e direto com obsessores em Centros Espíritas

- estudo e treinamento de médiuns

- projeção astral individual e grupo

- invocação e banimento de “espíritos”

- livros, dezenas deles.





Frater ABO






Fonte do Texto e da Gravura: HADNU
https://www.hadnu.org
O Hadnu é uma comunidade ocultista focada em Thelema e Golden Dawn.

REALIZAÇÃO CONSCIENTE DO DIVINO INTERIOR

Sua visão que agora está voltada para fora, em direção ao universo fenomenal, deve ser voltada para dentro, em direção ao Espírito Interior. Você deve manifestar a Consciência Divina inerente dentro de você. Você deve submeter-se a essa Consciência como uma disciplina espiritual. Isso é chamado de "Realização Consciente do Divino Interior". A primeira tarefa é desenvolver a consciência da Divindade dentro de você. O próximo estágio é a realização da verdade de que a Divindade interior está igualmente presente em todos os outros também. Você deve reconhecer que o véu ou barreira que parece separá-lo dos outros nasce da ilusão e todo esforço deve ser feito para removê-la. Só então será possível experimentar a unicidade de todos os seres vivos. Gradualmente, a compreensão: "Eu sou de fato Divino e este mundo está contido em Mim (Aham Eva Idam Sarvam)" despertará em você. (Discurso Divino, 16 de fevereiro de 1988)




Sathya Sai Baba






Fonte: http://www.sathyasai.org.br/
Fonte da Gravura: Tumblr.com

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

PERMANENTES MUDANÇAS E PERMANÊNCIA

Uma nova descoberta da Física está chacoalhando os cientistas. Trata-se da constatação definitiva de que o neutrino [1] possui massa. Isso implicará numa completa revisão da teoria fundamental que descreve os tijolos básicos do Universo, o chamado Modelo Padrão. Além disso, essa constatação tem implicações importantíssimas em Cosmologia. A chamada matéria escura [2], que muito tem incomodado os cientistas, poderia ser explicada como sendo formada pela soma da massa de todos os neutrinos. A notícia foi publicada no caderno Folha Ciência do jornal Folha de São Paulo, edição de 12 de dezembro de 2002, página A21 e o respectivo artigo científico foi publicado na conceituada revista "Physical Review Letters" (http://prl.aps.org).

Não é a toa que os espíritos, na questão 22 de O Livro dos Espíritos, disseram a Kardec que "... a matéria existe em estados que não conheceis. Ela pode ser, ..., tão etérea e sutil que não produza nenhuma impressão nos vossos sentidos: entretanto, será sempre matéria, ...". Mencionamos isso pois, curiosamente, nosso organismo é atravessado, num único segundo, por 50 bilhões de neutrinos gerados pelas fontes radioativas do nosso planeta, mais 100 bilhões saídos de reatores nucleares e por mais de 100 trilhões vindos do sol [3]. Neste momento eu não senti nenhum neutrino me atravessado, o leitor sentiu? Mas a verdade é que eles existem e foram confirmados em laboratório, o que confere com a afirmativa dos espíritos. Porém, não é sobre essa afirmativa que desejamos falar. Aliás, ela já é do conhecimento do leitor estudioso e não é preciso maiores comentários a respeito dos resultados científicos que estão de acordo com ela. Desejamos sim destacar uma certa fragilidade das construções teóricas da ciência frente à realidade das coisas e os cuidados que o pesquisador espírita deve ter ao relacioná-las com o Espiritismo.

Uma das questões mais fundamentais que a Doutrina Espírita trouxe é a definição do Fluido Universal. Um trecho do ítem 3 do capítulo VI de A Gênese esclarece o tema: "(...) podemos colocar, como princípio absoluto, que todas as substâncias, conhecidas e desconhecidas, por mais dessemelhantes que pareçam, seja sob o ponto de vista de sua constituição íntima, seja sob o aspecto de sua ação recíproca, não são, de fato, mais do que modos diversos sob os quais a matéria se apresenta; senão variedades, nas quais se transformam, sob direção das forças inumeráveis que a governam. (...)".

O texto acima foi escrito em 1868. Impossível enumerar as conquistas da ciência desde o ano da publicação do citado livro até os dias atuais. No entanto, o que prevalece é que esse e os outros princípios fundamentais do Espiritismo permanecem inalterados mesmo diante de tantas revoluções no conhecimento científico como o surgimento da Física Moderna que abala qualquer um com suas visões da realidade. Aprendemos com os espíritos que o Fluido Universal, princípio elementar material emanado do Criador, possibilita todas as transformações da matéria em suas diversas manifestações (incluindo-se aí o neutrino!).

O leitor poderia se perguntar: por que os fundamentos básicos do Espiritismo permanecem inalterados e atuais após quase 150 anos enquanto que o Modelo Padrão, comentado anteriormente, que possui alguns anos de vida, terá que passar por sérias revisões? Alguém poderá dizer que isso reflete a sabedoria dos espíritos superiores. Isso está correto, mas ainda não responde à questão.

Quem elucida o assunto é o professor Silvio Chibeni no artigo da referência [4]. A característica que faz a diferença é o fato de que os princípios fundamentais do Espiritismo se encontram próximos do nível fenomênico, o que permite que a teoria espírita possa ser classificada como fenomenológica [4]. No caso do Modelo Padrão, o "grau de teoricidade" é muito maior devido à grande dificuldade em obter informações através de experiências diretas. Já com o Espiritismo, vemos que a maioria dos seus princípios fundamentais são constantemente verificados cotidianamente. Chibeni cita, como exemplo, a Termodinâmica, que é uma teoria física fenomenológica desenvolvida no século XIX que passou incólume por todas as descobertas revolucionárias do século passado.

É preciso, portanto, enfatizar o cuidado que os estudiosos e pesquisadores espíritas devem ter ao buscarem nas ciências básicas confirmações para os princípios espíritas. O exemplo ocorrido com os neutrinos reflete, como dissemos, a fragilidade das teorias científicas, mormente, as da Física Moderna. Existem exemplos de enganos sérios na literatura espírita como o caso discutido pelo prof. Ademir Xavier Jr. na referência [5].

Agora, um exemplo que nos chamou a atenção pelo fato de ser conhecido de todos nós é o que está acontecendo com o famoso livro "O Tao da Física" [6]. A crítica a esse livro foi divulgada pelo filósofo Ken Wilber, no livro "Quantum Questions" [7]. Segundo Wilber, Capra baseou seu livro sobre os paralelos entre a física de partículas e o Budismo numa teoria em particular conhecida como a Teoria do Bootstrap. Essa teoria diz que não existem objetos irredutíveis e sim relações auto-consistentes entre eles. Porém, hoje em dia, a maioria dos físicos acredita nos objetos irredutíveis (quarks, leptons, bosons), e o Modelo Padrão é a teoria que os descrevem mais aceita na atualidade. Por melhor que tenha sido a intenção de Fritjof Capra, o conteúdo de "O Tao da Física" simplesmente não pode ser mais considerado um "Tao" de acordo com o significado da palavra [8].

Podemos concluir daí que a sabedoria dos espíritos e, também, a de Allan Kardec foi além do que imaginávamos. Kardec poderia ter desejado formular propostas teóricas para, por exemplo, explicar a natureza dos fluidos espirituais ou do perispírito e, ainda, os mecanismos da interação com a matéria. Porém, se limitou a discutir a necessidade da sua existência e importância na relação entre espírito e matéria. Se Kardec tivesse tentado formular uma teoria dessas, com base nos conhecimentos da época, provavelmente a Doutrina Espírita teria caído no esquecimento como tendo sido mais uma teoria sem comprovação prática que utilizou princípios teóricos ultrapassados. Porém, ao situar-se bem próximo aos fenômenos, ele selou o Espiritismo com a garantia de resistência a qualquer crítica futura. Como Kardec mesmo disse no ítem VII da Introdução do Livro dos Espíritos "Na ausência de fatos, a dúvida é a opinião do homem prudente." [9]. Por isso, caros irmãos espíritas, cuidado na formulação de teorias desta ou daquela natureza!

Concluindo, devemos ter cuidado ao utilizarmos as teorias modernas das várias ciências na tentativa de validar o Espiritismo porque enquanto a maioria delas ainda passa por Permanentes Mudanças algumas outras, incluindo-se o Espiritismo, possui um conjunto de princípios básicos Permanentes, devido ao fato de estarem mais ligados aos fatos. A consequência direta dessa análise é o fortalecimento de nossa fé (com base nos raciocínios) nessa Doutrina que nos esclarece e orienta sobre a nossa verdadeira origem e o nosso verdadeiro destino.




Alexandre Fontes da Fonseca





Fonte: RIE - REVISTA INTERNACIONAL DE ESPIRITISMO, ANO LXXVIII, N. 2, p.93, (2003).
Fonte da Gravura: www.i-cpan.es




Referências e comentários:

[1] Partícula elementar da família dos chamados leptons que não possui carga elétrica. Sua existência foi primeiro prevista por Wolfgang Pauli(1900-1958) em 1930, e foi confirmada, experimentalmente, nos anos 50. Ver referência (3).

[2] A matéria escura é uma matéria presente no universo que foi denominada dessa maneira por não emitir radiação detectável. Sua existência foi inferida através do efeito gravitacional sobre outros corpos celestes visíveis. Os estudos indicam que se o neutrino tiver massa, mesmo que bem pequena, os efeitos gravitacionais acima mencionados seriam perfeitamente explicados. Veja referência (3).

[3] Adriano A. Natale e Marcelo M. Guzzo, Ciência Hoje, vol. 25, n.147, p.32 (1999).

[4] Silvio S. Chibeni, Reformador, junho, p.176 (1994).

[5] Ademir L. Xavier Jr., Reformador, agosto, p.244 (1995).

[6] F. Capra, O Tao da Física, Editora Cultrix LTDA, 15a. Edição, (1993).

[7] K. Wilber, Quantum Questions, Shambhala Publications, Boston (2001).

[8] "TAO" significa "caminho".

[9] Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Edições FEESP, 9a. Edição, (1997).

O SIMBOLISMO DA ÁGUA E A INICIAÇÃO

(...) A simbologia fala uma linguagem própria que é bem compreendida pelo ser interno. É um método que permite participar na experiência de caráter sagrado. Os símbolos podem ser qualquer coisa – gestos ou atos, objetos naturais ou fabricados pelo homem, palavras orais ou escritas, imagens ou sons, pessoas ou lugares. (...)


A água é um símbolo universal, pois sua natureza representa muitas ideias e coisas. A água limpa, e, nos rituais de todas as religiões do mundo, as pessoas se lavam, simbolizando que assim ficarão purificadas, tanto espiritual como fisicamente.

A água refresca, por isso, em algumas religiões, as pessoas se banham nos rios para experimentarem uma regeneração de energia e sentirem-se unidas à fonte dessa energia. A água dá vida. Por este motivo, os rituais de iniciação que marcam o começo de uma nova forma de vida, com frequência, incluem a lavagem ou a imersão na água.

A água também causa a morte. Em alguns mitos religiosos ela simboliza o estado caótico das coisas antes do começo da vida. Em outros sistemas, a morte é o oceano que, ao cruzar, não há retorno. Em situações perigosas, tais como as produzidas pelas tormentas no mar, a água representa, de forma inconfundível, a morte; todavia, em situações harmoniosas, como no crescimento dos cultivos, ela simboliza a vida.

Através dos tempos, a água tem sido utilizada de várias formas nos rituais. Certos ritos e cerimônias incluem imersões totais na água, ou só se derrama ou se borrifa sobre a pessoa. As pessoas têm participado destes ritos desde muito antes da era cristã, e os cristãos, posteriormente, adaptaram o rito sacramental do batismo, no qual a água, como símbolo natural, assinala a morte e a ressurreição do Mestre Jesus.

Desde os primeiros tempos do cristianismo, o batismo tem sido considerado um ritual apropriado para iniciar novos membros na comunidade cristã, unindo-os simbolicamente com Jesus no mistério de sua morte e ressurreição. A submersão na água simboliza a morte de Jesus, e o emergir dela é um sinal de renascimento. Foi assim que o batismo se converteu em uma iniciação de renascimento do candidato, e indicava que em sua vida haveria de operar-se uma transformação ou troca.

A longa história do uso da água como símbolo de iniciação e reconciliação, remonta à história bíblica israelita e ao judaísmo. Uma das razões pelas quais ela adquiriu um simbolismo tão extraordinário, foi a separação das águas do Mar Vermelho, que permitiu a passagem dos israelitas quando saíram do Egito. Mais tarde, os mesmos usaram a água em suas liturgias como recordação do êxodo, e a celebração em grupo significava que aceitavam, em suas próprias vidas, a aliança estabelecida durante sua viagem do Egito à Terra Prometida. Os historiadores religiosos narram que, quando um indivíduo recém convertido ao judaísmo era batizado, o batismo  compensava o fato de seus antepassados não terem cruzado as águas durante o êxodo. (...)

(...) Muitas cerimônias religiosas são parecidas às iniciações das Escolas de Mistérios. As cerimônias de iniciação são, de fato, uma apresentação dramática de ideias esotéricas ou místicas. Incitam a uma série de emoções, desde o temor até o estado de êxtase. Provavelmente a mais proeminente cerimônia dos mistérios do Egito foi a “Paixão do Deus Osiris”. Estava relacionada com a morte e ressurreição de Osíris, e sua imortalidade como deus. Os acontecimentos que tradicionalmente se acreditou que haviam ocorrido na sua vida, eram representados na forma de drama. Estes ritos desempenharam um papel similar aos dramas da paixão que hoje em dia se realizam na Europa e em muitas outras partes, e que representam a Crucificação e Ressurreição de Cristo.

Heródoto, o eminente historiador grego, e Plutarco, um filósofo místico, relataram que no Egito se reservava uma iniciação especial para uns poucos eleitos, o qual superava o rito oficial da “Paixão de Osíris”. Os candidatos tinham de atravessar por um lugar, que representava artificialmente o outro mundo, onde os altares dos deuses lhes eram revelados. O procedimento consistia em colocar a prova a dignidade do candidato. Se pensou que à meia noite era o melhor momento para conferir as iniciações, muitas das quais eram realizadas sobre uma extensão de água, como no Lago Sagrado de Karnak, que ainda existe. O simbolismo da água teve um papel muito importante como símbolo purificador, e representava o tema vida-morte, ressurreição e imortalidade.

Na Grécia também eram celebrados ritos de iniciação, dando ênfase aos mistérios ou ao conhecimento esotérico. Quando a palavra grega que significa iniciação é traduzida literalmente, conota “consumação”, realização, logro. E essa consumação era revelada ao iniciado através dos elementos dos mistérios, representados em ritos que eram como dramas.

Um exemplo disso foram os Mistérios Eleusinos na Grécia. Conta-se que anualmente viajavam a Eleusis 100 mil candidatos para tomar parte neste rito. Um iniciado eleusino exclamou: “Graças a estes maravilhosos mistérios que provém dos deuses, a morte já não é um mal para os mortais senão uma bênção”. O jejum, a abstinência dos prazeres dos sentidos e o banho ritual serviam, com frequência, como preparação para estes ritos. Sob a dominação de Atenas, seus cidadãos não eram admitidos na área sagrada de Eleusis, sem antes passar pela formalidade de uma cerimônia de iniciação. Hoje em dia, organizações como a Ordem Rosacruz e a Ordem Maçônica, perpetuam alguns dos ritos das Escolas de Mistérios Eleusinas.

As iniciações fazem parte de nossa vida muito mais do que imaginamos. Em todos os casos, são um novo começo, um novo ponto de partida para as atividades de nossa vida e de nosso pensamento. Após cada uma delas ficamos com a sensação de haver renascido, de haver despertado um conhecimento novo que descarta o antigo. O simbolismo tem um papel muito importante nessa transformação ou troca. O eminente psicólogo, Carl Jung, advertiu que os símbolos são de grande importância, pois representam as forças psíquicas do mundo. Os chamou de “arquétipos”. Em suas obras, menciona, com frequência, um “inconsciente coletivo”, além do inconsciente pessoal. Segundo Jung, o inconsciente coletivo é a consciência primordial de todas as raças humanas que, no fundo, é a mesma em todas as pessoas.

A “psique” é a energia da alma da humanidade. Isso explica porque diversos povos, de épocas diferentes, têm usado a mesma simbologia em seus rituais. Os símbolos são inatos na humanidade, habitam o inconsciente coletivo. Sendo um elemento mutável, que a todos rodeia, a água continua sendo um símbolo importante de desenvolvimento e de transformação, especialmente para os estudantes Rosacruzes.

(Texto adaptado)




Phyllis Bordman, FRC






Ordem Rosacruz (AMORC)
www.amorc.org.br
Fonte da Gravura: http://ordemrosacruzjequie.blogspot.com.br/

FELICIDADE E PAZ DEPENDEM DA BAGAGEM INTERIOR DAS PESSOAS

Se o desenvolvimento dos recursos morais e espirituais for negligenciado, lembre-se, você estará escolhendo ignorar o provimento de paz e felicidade. Felicidade e paz não acontecem automaticamente quando uma pessoa está bem alimentada, bem vestida, bem abrigada e até mesmo educada com um alto padrão e empregada em condições confortáveis, sem prejuízo à saúde ou segurança. Há milhões que têm estes em abundância e ainda estão preocupados com o sofrimento ou são muito descontentes. Felicidade e paz dependem da bagagem interior das pessoas, não de habilidades ou riquezas exteriores. Todos são fundamentalmente divinos e, assim, naturalmente, quanto mais manifestarem os atributos Divinos de Amor, Justiça, Verdade e Paz, mais contentamento poderão dar e se alegrarem! Se você escolher manifestar menos dos atributos divinos, mais envergonhado você deveria ficar, pois estará vivendo contra a sua própria herança! (Discurso Divino, 3 de agosto de 1966)




Sathya Sai Baba





Fonte: http://www.sathyasai.org.br/
Fonte da Gravura: Tumblr.com

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O LIMITADO NÃO CONHECE O ILIMITADO

O limitado não pode compreender o ilimitado. E, como a consciência humana é limitada, não pode conhecer Deus, o ilimitado. Ou, mais exatamente, o homem não pode conhecer Deus enquanto permanecer fora d’Ele. Só O conhecerá quando entrar nessa imensidão, quando se fundir nela, confundindo-se com ela. Enquanto uma gota de água estiver separada do oceano, não pode conhecê-lo; mas, se ela voltar ao oceano, já não se pode separá-la dele, ela torna-se o oceano e, nesse momento, conhece-o. Direis vós: «Mas o homem está no universo, faz parte dele, não está separado desse ilimitado, desse infinito que é Deus.» Sim, mas ele não tem consciência disso. Em contrapartida, é em plena consciência que, muitas vezes, ele decide separar-se de Deus e depois declarar que Ele não existe. Portanto, se quisermos conhecer Deus, devemos, conscientemente, fundir-nos n’Ele, perder-nos n’Ele. Nós O conheceremos porque nos tornaremos Ele, seremos um com Ele.




Omraam Mikhaël Aïvanhov






Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

O COCHEIRO

Já abordamos o fato de que a mente possui várias funções que atuam em diferentes planos e que quase sempre se apresentam opostas umas as outras. A maneira contraditória e desarmoniosa com que elas se comportam conduzem o indivíduo a conflitos internos que causam sofrimento, desgaste de sua energia e anulação de seus esforços. Aquele que deseja ser senhor de si mesmo buscará meios de domar esses cavalos selvagens para que sirvam ao seu objetivo.

Para fazer isso de maneira eficaz, tal pessoa precisa ter claro e bem definido tais objetivos, e se ele ousar e for capaz, que defina o Grande Objetivo ao qual dedicará a sua vida. Como pode o cocheiro direcionar os cavalos se ele próprio não sabe para onde ir? A primeira meta daquele que deseja ser senhor de si mesmo é descobrir quem é, e qual a sua relação com o ambiente e época em que vive.

Quem está perdido no deserto não deve gastar suas energias correndo de um lado para o outro contando com a sorte para achar um oásis. Ao invés disso deve estar consciente de sua direção – ainda que cercado de incerteza – enquanto caminha do ponto A ao ponto B. Mesmo que não chegue ao oásis terá aprendido mais sobre o deserto e poderá escolher a direção seguinte com mais propriedade. Avançando atento e consciente de suas escolhas, terá mais chances de encontrar o oásis de sua aspiração do que a pessoa que corre sem rumo pelo deserto da vida atrás de cada miragem que surge.

Existem vários métodos para isso, e a validade deles deve ser comprovada através da experiência direta. Quer você escolha praticar o misticismo de povos antigos ou fazer terapia psicanalítica, a verdade é inalcançável através do raciocínio lógico, emoção, idealismo ou sobrevivência isoladamente – pois nesse caso um dos cavalos comandaria a carruagem – mas apenas vivenciando tais inclinações com todas as partes de seu ser. Dessa forma um se realizará como soldado, outro como arquiteto, um ganhará a vida como artista, outro em um escritório. Ao se aperfeiçoar naquilo que traz realização, benefício e prazer, busque se refinar e aperfeiçoar até os limites de sua arte e ofício. Ao atingir esse limite, busque transcendê-lo e ampliá-lo. Dessa forma trará avanços não apenas para si e sua arte em particular, como para a humanidade como um todo.

Isso pode parecer complexo para o iniciante, portanto darei um exemplo prático. Há alguns anos um de meus discípulos me disse que pretendia se tornar capaz de erguer um pneu de trator que utilizávamos para treinamento funcional. Sugeri que ele refletisse no porquê dessa vontade, e nossa conversa foi mais ou menos a seguinte:

— Eu quero ser capaz de levantar aquele pneu.
— E por quê?
— Porque aí verei que estou forte.
— E por que quer ver que está forte?
— Porque saberei que meu treino está dando resultado.
— E por que quer que o treino dê resultados?
— Fará bem para minha auto-estima.

Em menos de um minuto percebemos que seu objetivo não era levantar o pneu, mas aumentar sua auto-estima, e para isso existem métodos muito mais eficazes que levantar um pneu. Em outros casos, descobre-se que os “porquês” por trás de nossos desejos são influência alheia – ainda que bem intencionada, como a de um pai que deseja um emprego estável para o filho. Vivemos em um mundo que te ensina que para você ser feliz e realizado precisa ter o emprego X, dirigir o carro Y, vestir as roupas Z, ter o telefone da moda, etc. Se você faz tudo que te mandam fazer e nada do que realmente quer, ainda que seja “bem-sucedido” se sentirá um fracassado.

O caminho na busca de sua Verdadeira Vontade raramente é fácil, mas para os vencedores há a justa recompensa.





Frater F. 418






Fonte do Texto e da Gravura: HADNU
https://www.hadnu.org
O Hadnu é uma comunidade ocultista focada em Thelema e Golden Dawn.

domingo, 22 de janeiro de 2017

"VOCÊ TEM MUITO A DESAPRENDER"

É uma ilusão pensar que o Caminho e os passos ao longo dele constituem uma progressão linear.

A caminhada é multidimensional.

Cada passo dado muda e melhora todas as linhas e aspectos da estrada mística.

Um só metro adiante muda o lugar em que você está, dando-lhe outro ponto de vista e a possibilidade de um grande número de percepções intuitivas.

A experiência do progresso não é, portanto, meramente acumulativa.

À medida que acumulamos sabedoria, deixamos de lado a não-sabedoria.

Um Mestre escreveu a uma discípula:

"Você tem muito a desaprender." [1]

A cada novo fato que enxergamos, várias impressões falsas são abandonadas.

Não podemos avançar sequer meio metro sem deixar para trás a quantidade correspondente de ilusões.





Carlos Cardoso Aveline





Fonte: do Grupo "SerAtento" <SerAtento@yahoogrupos.com.br>
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal




NOTA:

[1] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, transcritas e compiladas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília, 2010, Primeira Série, Carta 20, p. 67.



Artigos diversos podem ser vistos nos sites:www.FilosofiaEsoterica.com, www.TeosofiaOriginal.com e www.VislumbresDaOutraMargem.com

AMOR - UMA EXPERIÊNCIA INTERIOR

O amor a Deus é devoção. A devoção não é algo objetivo e concreto - é uma experiência interior que brota do coração. Como você pensa, assim você se torna. Portanto, seu coração deve estar cheio de bons sentimentos. Seus sentidos devem estar engajados em boas ações. Quando seus olhos estão voltados para Deus, todas as criações aparecem como encarnações Divinas. Quando seus olhos têm um problema, você tem uma visão distorcida ou obscura. Quando eles são corrigidos e você usa óculos certos, você pode ver tudo claramente. Tudo no Universo dá testemunho da glória do Senhor. Aprenda a tratar cada experiência como um dom do Divino. Quando seu coração está cheio do amor de Deus, todos os seus sentimentos serão santificados com amor, outros pensamentos indesejáveis automaticamente o abandonarão. Muitas vezes, os devotos oram ao Senhor para que venha e resida em seus corações puros e tranquilos. Onde o coração é impuro, então não há lugar para Deus. (Discurso Divino, 09 de janeiro de 1988)




Sathya Sai Baba





Fonte: http://www.sathyasai.org.br/
Fonte da Gravura: ventosdepaz.com.br