(...) A simbologia fala uma linguagem própria que é bem compreendida pelo ser interno. É um método que permite participar na experiência de caráter sagrado. Os símbolos podem ser qualquer coisa – gestos ou atos, objetos naturais ou fabricados pelo homem, palavras orais ou escritas, imagens ou sons, pessoas ou lugares. (...)
A água é um símbolo universal, pois sua natureza representa muitas ideias e coisas. A água limpa, e, nos rituais de todas as religiões do mundo, as pessoas se lavam, simbolizando que assim ficarão purificadas, tanto espiritual como fisicamente.
A água refresca, por isso, em algumas religiões, as pessoas se banham nos rios para experimentarem uma regeneração de energia e sentirem-se unidas à fonte dessa energia. A água dá vida. Por este motivo, os rituais de iniciação que marcam o começo de uma nova forma de vida, com frequência, incluem a lavagem ou a imersão na água.
A água também causa a morte. Em alguns mitos religiosos ela simboliza o estado caótico das coisas antes do começo da vida. Em outros sistemas, a morte é o oceano que, ao cruzar, não há retorno. Em situações perigosas, tais como as produzidas pelas tormentas no mar, a água representa, de forma inconfundível, a morte; todavia, em situações harmoniosas, como no crescimento dos cultivos, ela simboliza a vida.
Através dos tempos, a água tem sido utilizada de várias formas nos rituais. Certos ritos e cerimônias incluem imersões totais na água, ou só se derrama ou se borrifa sobre a pessoa. As pessoas têm participado destes ritos desde muito antes da era cristã, e os cristãos, posteriormente, adaptaram o rito sacramental do batismo, no qual a água, como símbolo natural, assinala a morte e a ressurreição do Mestre Jesus.
Desde os primeiros tempos do cristianismo, o batismo tem sido considerado um ritual apropriado para iniciar novos membros na comunidade cristã, unindo-os simbolicamente com Jesus no mistério de sua morte e ressurreição. A submersão na água simboliza a morte de Jesus, e o emergir dela é um sinal de renascimento. Foi assim que o batismo se converteu em uma iniciação de renascimento do candidato, e indicava que em sua vida haveria de operar-se uma transformação ou troca.
A longa história do uso da água como símbolo de iniciação e reconciliação, remonta à história bíblica israelita e ao judaísmo. Uma das razões pelas quais ela adquiriu um simbolismo tão extraordinário, foi a separação das águas do Mar Vermelho, que permitiu a passagem dos israelitas quando saíram do Egito. Mais tarde, os mesmos usaram a água em suas liturgias como recordação do êxodo, e a celebração em grupo significava que aceitavam, em suas próprias vidas, a aliança estabelecida durante sua viagem do Egito à Terra Prometida. Os historiadores religiosos narram que, quando um indivíduo recém convertido ao judaísmo era batizado, o batismo compensava o fato de seus antepassados não terem cruzado as águas durante o êxodo. (...)
(...) Muitas cerimônias religiosas são parecidas às iniciações das Escolas de Mistérios. As cerimônias de iniciação são, de fato, uma apresentação dramática de ideias esotéricas ou místicas. Incitam a uma série de emoções, desde o temor até o estado de êxtase. Provavelmente a mais proeminente cerimônia dos mistérios do Egito foi a “Paixão do Deus Osiris”. Estava relacionada com a morte e ressurreição de Osíris, e sua imortalidade como deus. Os acontecimentos que tradicionalmente se acreditou que haviam ocorrido na sua vida, eram representados na forma de drama. Estes ritos desempenharam um papel similar aos dramas da paixão que hoje em dia se realizam na Europa e em muitas outras partes, e que representam a Crucificação e Ressurreição de Cristo.
Heródoto, o eminente historiador grego, e Plutarco, um filósofo místico, relataram que no Egito se reservava uma iniciação especial para uns poucos eleitos, o qual superava o rito oficial da “Paixão de Osíris”. Os candidatos tinham de atravessar por um lugar, que representava artificialmente o outro mundo, onde os altares dos deuses lhes eram revelados. O procedimento consistia em colocar a prova a dignidade do candidato. Se pensou que à meia noite era o melhor momento para conferir as iniciações, muitas das quais eram realizadas sobre uma extensão de água, como no Lago Sagrado de Karnak, que ainda existe. O simbolismo da água teve um papel muito importante como símbolo purificador, e representava o tema vida-morte, ressurreição e imortalidade.
Na Grécia também eram celebrados ritos de iniciação, dando ênfase aos mistérios ou ao conhecimento esotérico. Quando a palavra grega que significa iniciação é traduzida literalmente, conota “consumação”, realização, logro. E essa consumação era revelada ao iniciado através dos elementos dos mistérios, representados em ritos que eram como dramas.
Um exemplo disso foram os Mistérios Eleusinos na Grécia. Conta-se que anualmente viajavam a Eleusis 100 mil candidatos para tomar parte neste rito. Um iniciado eleusino exclamou: “Graças a estes maravilhosos mistérios que provém dos deuses, a morte já não é um mal para os mortais senão uma bênção”. O jejum, a abstinência dos prazeres dos sentidos e o banho ritual serviam, com frequência, como preparação para estes ritos. Sob a dominação de Atenas, seus cidadãos não eram admitidos na área sagrada de Eleusis, sem antes passar pela formalidade de uma cerimônia de iniciação. Hoje em dia, organizações como a Ordem Rosacruz e a Ordem Maçônica, perpetuam alguns dos ritos das Escolas de Mistérios Eleusinas.
As iniciações fazem parte de nossa vida muito mais do que imaginamos. Em todos os casos, são um novo começo, um novo ponto de partida para as atividades de nossa vida e de nosso pensamento. Após cada uma delas ficamos com a sensação de haver renascido, de haver despertado um conhecimento novo que descarta o antigo. O simbolismo tem um papel muito importante nessa transformação ou troca. O eminente psicólogo, Carl Jung, advertiu que os símbolos são de grande importância, pois representam as forças psíquicas do mundo. Os chamou de “arquétipos”. Em suas obras, menciona, com frequência, um “inconsciente coletivo”, além do inconsciente pessoal. Segundo Jung, o inconsciente coletivo é a consciência primordial de todas as raças humanas que, no fundo, é a mesma em todas as pessoas.
A “psique” é a energia da alma da humanidade. Isso explica porque diversos povos, de épocas diferentes, têm usado a mesma simbologia em seus rituais. Os símbolos são inatos na humanidade, habitam o inconsciente coletivo. Sendo um elemento mutável, que a todos rodeia, a água continua sendo um símbolo importante de desenvolvimento e de transformação, especialmente para os estudantes Rosacruzes.
(Texto adaptado)
Phyllis Bordman, FRC
Ordem Rosacruz (AMORC)
www.amorc.org.br
Fonte da Gravura: http://ordemrosacruzjequie.blogspot.com.br/
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