sexta-feira, 29 de setembro de 2023

SENTIDOS SENSORIAIS E ESPIRITUAIS


Os seres humanos são, obviamente, criaturas sensoriais. Através dos cinco sentidos, eles percebem o mundo ao seu redor e aprendem muito sobre ele. No entanto, a busca incessante por sensações fortes pode levar a uma vida superficial e desorientada em diversas áreas da atuação humana, ou da vida em si mesma.

Os cinco sentidos são como uma janela para o mundo físico. Eles nos permitem ver, ouvir, sentir, cheirar e saborear o mundo ao nosso redor. Mas, para muitos de nós, eles também podem limitar. Quando nos concentramos apenas nos cinco sentidos, podemos perder de vista a dimensão emocional, mental e espiritual da vida.

A espiritualidade, por exemplo, que é considerada uma forma de conhecimento, transcende os sentidos físicos. É um conhecimento que vem do coração e da alma e que pode nos conectar com o divino, se assim o permitirmos.

Quando nos concentramos apenas nos cinco sentidos, geralmente nos tornamos escravos do mundo material. Podemos nos tornar obcecados por prazeres e sensações, e perder de vista o que é realmente importante na vida, como, por exemplo, uma missão, uma vocação, um desenvolvimento do saber numa determinada área, ou ainda o próprio crescimento espiritual.

Grandes Mestres do pensamento e sabedoria que já pisaram neste mundo indicaram que para alcançar uma vida mais plena e significativa, precisamos desenvolver nossos sentidos espirituais. Precisamos aprender a ouvir a voz de Deus, a sentir o amor do Divino e a ver a beleza do mundo espiritual.

Aqui estão alguns conselhos e sugestões, deixados por vários Mestres, para desenvolvermos os sentidos espirituais:

- Meditar regularmente: A meditação é uma ótima maneira de silenciar a mente e entrar em contato com a sua espiritualidade.

- Passar algum tempo na natureza: A natureza é um lugar poderoso para a conexão espiritual.

- Leitura de livros espirituais: Os livros espirituais podem nos ensinar sobre a natureza da espiritualidade e como desenvolver nossos sentidos espirituais.

- Fazer práticas espirituais: como oração, yôga, tai chi, chi kung, dança sagrada, mantras, visualizações, curas, divulgação escrita ou falada de temas edificantes etc. São inúmeras as práticas. Essas práticas podem nos ajudar a nos conectar com o Divino.

Desenvolver nossos sentidos espirituais é uma jornada de toda a vida. Não é algo que se alcança de repente. No entanto, com esforço e dedicação, podemos nos conectar com o mundo espiritual e viver uma vida mais plena e significativa.

Alguns exemplos de como os sentidos espirituais, muito além dos sentidos sensoriais, podem ser desenvolvidos, incluem:

- Visão espiritual: a capacidade de ver o mundo com os olhos do coração, percebendo a beleza e a divindade em todas as coisas e reinos da natureza.

- Audição espiritual: a capacidade de ouvir a voz de Deus, guiando e orientando nossos passos.

- Paladar espiritual: a capacidade de saborear a alegria e a paz da Presença divina.

- Olfato espiritual: a capacidade de sentir o amor e a compaixão do Divino.

- Tato espiritual: a capacidade de sentir a conexão com tudo o que existe.

Quando desenvolvemos nossos sentidos espirituais, podemos nos conectar com uma dimensão da realidade que está além dos sentidos físicos. Podemos experimentar a alegria, a paz e o amor do Divino e não nos arrastarmos no reino da ilusão. Entretanto, não devemos menosprezar os sentidos sensoriais, pois são as bases para que possamos subsistir e buscar os sentidos espirituais, desde que bem orientados e sublimados.



Prof. Hermes Edgar M. Jr.




Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

ORAÇÃO - PENSAMENTO, SENTIMENTO E PALAVRA


A oração é um impulso do homem para o Céu, para Deus, e esse impulso pode ser mudo ou expresso em palavras. Evidentemente, o essencial da oração não está nas palavras, mas na intensidade, no fervor. Muitas vezes, quando as pessoas oram em voz alta, as palavras que pronunciam caem sem sentido; a sua boca murmura qualquer coisa, mas elas não oram, porque em si nada vibra. Ora, para ajudar à realização, a palavra pronunciada é muito importante, porque as vibrações sonoras têm grandes poderes sobre a matéria.

Sem a palavra, os pensamentos e os sentimentos têm dificuldade em realizar-se no plano físico, porque lhes falta um veículo, um corpo para se poderem materializar. A palavra é como que o corpo que deveis dar a essa alma que é o vosso pensamento. Enquanto não lhe derdes um corpo essa alma é obrigada a percorrer os mundos astral e físico à procura de materiais que lhe permitam encarnar-se, e isso leva muito tempo. Porém, se acompanhardes o vosso pensamento de um sentimento forte que lhe sirva de combustível e depois o projetardes no plano físico por meio de palavras, tereis as melhores condições para a realização. A palavra tem uma grande força que pode ser comparada à assinatura de uma ata, de uma encomenda ou de um contrato. E, como sabeis, um papel só tem valor se estiver assinado. Assim, após terdes meditado, podeis dar à palavra a possibilidade de fazer descer os vossos pensamentos e os vossos desejos. Ela é, então, como que a assinatura que permite o desencadeamento das forças do Alto, sim, mas só se o vosso desejo e o vosso pensamento forem já poderosos no plano espiritual.

Quando sentirdes um grande amor para com Deus, como o sentimento é algo puramente psíquico, não tereis necessidade de exprimir-vos por palavras, podeis exprimir-vos apenas pela força do vosso amor. Mas suponhamos que quereis obter a realização de um desejo no plano físico, material; nessa altura, é necessário pronunciar palavras. Todavia, o essencial está na intensidade do pensamento e do sentimento, senão, mesmo que pronuncieis palavras durante horas seguidas, isso não terá qualquer resultado, não sereis atendidos. Aliás, vós próprios sentis quando a vossa oração é ou não ouvida. Há dias em que sentis uma tal força, uma tal plenitude, que sabeis que, finalmente, o Céu vos ouviu. Isto não quer dizer que haverá, de um momento para o outro, resultados no plano físico. Não! Mas o Céu escutou-vos, tomou em consideração o vosso pedido, e isso é o essencial: sentir que a vossa oração foi escutada!

Tudo reside, portanto, na intensidade, e a intensidade está sempre ligada ao poder que se tem de libertar os seus pensamentos e sentimentos de todas as preocupações estranhas à oração. Por isso, a atitude interior é muito importante: conseguir por tudo de lado, por uns momentos, para mergulhar num trabalho espiritual intenso. Só nesta condição é que se é atendido pelo Céu.

Cada coisa espiritual tem a sua correspondência material e cada partícula de matéria tem a sua correspondência no plano espiritual. Existe, pois, uma correlação entre o mundo sutil da consciência, do pensamento, do sentimento, e o mundo da matéria. Cada vez que a vossa oração vos projeta para as regiões superiores da consciência, vós atraís do espaço materiais de uma grande pureza graças aos quais podereis dar um corpo aos vossos desejos divinos. Há que começar por trabalhar no plano espiritual: o plano material transformar-se-á, então, automaticamente. Todos os Iniciados basearam a sua ação nesta lei das correspondências. A sua única preocupação é trabalharem corretamente, harmoniosamente. Em relação ao resto, estão completamente convencidos de que existe uma fidelidade e que o que já está realizado pelo pensamento no mundo espiritual será realizado um dia no plano físico.



Omraam Mikhaël Aïvanhov




Fonte: Publicações Maitreya, Porto, Portugal
https://publicacoesmaitreya.pt
Fonte da Gravura: AI(IA)

OPOSIÇÃO ÀS LEIS DA NATUREZA


... Hoje em dia, o altruísmo tornou-se essencial para nossa sobrevivência. É um fato evidente que todos nós estamos interconectados e dependemos uns dos outros. Esta interdependência deu lugar a uma definição inovadora e precisa do altruísmo: Qualquer ação ou intenção que se origine na necessidade de integrar a humanidade numa só entidade é considerada altruísta. Inversamente, toda atividade que não se enfoque em unir a humanidade é egoísta.

Nossa oposição às Leis da Natureza é a fonte de todos os sofrimentos que presenciamos no mundo. E por ser o indivíduo o único que não as cumpre, pode-se concluir que é o único elemento corrupto dentro dela. O resto, ou seja, os minerais, os vegetais e os animais, obedecem as leis altruístas desta, por instinto. Só o comportamento humano se opõe a Natureza e ao Criador.

Mesmo parecendo que a única mudança que temos que fazer é considerar aos demais antes que a nós mesmos, o altruísmo, não obstante, traz consigo um benefício adicional: Quando pensamos nos demais, nos integramos a eles e eles a nós.

O sofrimento que vemos ao nosso redor não é unicamente o nosso. Todos os demais níveis da natureza são afetados por nossas atividades equivocadas. Se corrigirmos nosso egoísmo transformando-o em altruísmo corrigiremos, por conseguinte, todos os demais: a ecologia, a fome, as guerras e a sociedade em geral.



Rav. Dr. Michael Laitman




Fonte: do livro "A Voz da Cabala"
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

terça-feira, 19 de setembro de 2023

SAUDADE DE ALGO QUE NOS "FALTA"


Todos nós estamos procurando por algo. Alguns têm uma noção clara disso ou, pelo menos, uma consciência, um despertar consciente daquilo que lhes falta. Mas na maioria das vezes e para a maioria de nós, é uma dor surda, uma vaga saudade que permanece conosco, tanto nos momentos bons quanto nos momentos difíceis. “Minha alma está inquieta, até que repouse em ti”, foi a expressão de Santo Agostinho para descrever esse anseio pela plenitude, pela ressurreição que transcende o ciclo de nascimento e morte do desejo. Vista assim, essa saudade não é uma aflição e sim uma dádiva, pois quando a reconhecemos, encontramos o recanto que leva ao caminho espiritual. Na nossa cultura atual, condicionada desde a infância pelo consumismo, esta compreensão do desejo deveria ser o centro de todo sistema educativo religioso.

As livrarias estão repletas dos mais recentes conselhos de autoajuda. Livros sobre temas como administrar a autocrítica, expressar sentimentos, desenvolver uma vida equilibrada, alimentação saudável ou a importância do exercício físico aparecem nas listas de mais vendidos. O melhor tema que conheço encontra-se num livro que não está no topo de nenhuma dessas listas e cuja edição não está esgotada há 1.500 anos. Na Regra de São Bento, o quarto capítulo fala dos “instrumentos das boas obras”: setenta e cinco breves afirmações que descrevem os “instrumentos do trabalho espiritual” que, quando verdadeiramente aplicados, conduzem à realização transcendente das promessas de Cristo: “ O olho não viu, nem o ouvido ouviu, o que Deus preparou para aqueles que o amam.”

Os instrumentos começam com os dez mandamentos porque a vida moral é o fundamento do caminho contemplativo. Em seguida vêm as obras de misericórdia corporais, o esforço mínimo que devemos fazer para o bem-estar dos outros. Em seguida, descreve a proteção do coração contra pensamentos de raiva, vingança ou engano. Enquanto vivia em comunidade, São Bento compreendeu a importância de exercitar o sentimento de amor pelos inimigos e como o autocontrole da linguagem e dos nossos hábitos físicos comuns facilita esta prática cristã básica. A atenção plena nos ajuda a manter a morte diante de nossos olhos e promove um nível mais profundo de paz e alegria. A tentação do egoísmo espiritual também é descrita nos conselhos de Bento e é compensada pelo desejo contínuo da plenitude da vida.

Essas ferramentas para praticar boas ações também são uma forma de cuidar de si mesmo. Toda forma de cuidado é uma energia de fé, pois desvia a atenção dos próprios desejos e sentimentos e os transfere para um bem maior. Portanto, é uma forma de transcendência. Perdura no tempo, o que comprova a sua autenticidade e sinceridade. É, portanto, um caminho de transformação em que mudamos perseverando num ato de fé.

Todos os instrumentos descritos por Bento, incluindo o autocuidado, são definidos para desenvolver e libertar a nossa capacidade de amar. A repetição do mantra unifica muitas formas de cuidado. Concentra-os no centro do coração onde mora o amor de Deus.


Trecho de “Dear Friends”, de Laurence Freeman, OSB, Christian Meditation - Newsletter (Vol. 35, No. 2, julho de 2011, p. 5).



Transcrição de Carla Cooper




Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: IA (AI)

AUTODESCOBRIMENTO: UMA BUSCA INTERIOR


[...] Disciplinar e edificar o pensamento através da fixação da mente em ideias superiores da vida, do amor, da arte elevada, do bem, da imortalidade, constitui o objetivo moral da reencarnação, de modo que a plenitude, a felicidade sejam a conquista a ser lograda. Pensar bem é fator de vida que propicia o desenvolvimento, a conquista da vida.

As reencarnações comuns, sem destaques missionários, invariavelmente são programadas pelos automatismos das leis, que levam em conta diversos fatores que respondem pelas afinidades ou desajustes entre os seres, assim como pelas realizações ético-morais, unindo-os ou não, de forma a darem cumprimento aos imperativos, responsáveis pela evolução individual ou dos grupos humanos. Em outras circunstâncias, são planejadas por técnicos no mister, que aproximam as criaturas, formando os clãs, nem sempre, porém, levando em consideração a afetividade existente entre eles, mas, também, situando-os próximos, na mesma consanguinidade, a fim de serem limadas as arestas, corrigidas as imperfeições morais, desenvolvidos os processos de resgates, próprios dos estágios em que permanecem.

Encontros para primeiras experiências são organizados com o fito de facilitar a fraternidade, ampliando o círculo de afeições; reencontros são estabelecidos para realizações dignificadoras e também retificações impostergáveis. Por isso, são comuns os choques domésticos, os conflitos de ideias e de interesses, as preferências e os repúdios, os entendimentos e as reações familiares.

Um espírito que, na infância corporal, não recebe afeto no ninho doméstico, em face da sua historiografia perturbadora, desenvolve futuros quadros de enfermidades psicológicas ou orgânicas, expia suavemente os delitos que não resgatou e agora são cobrados pela vida, reestruturando a consciência do dever, ou despertando para ela. Quando se trata, porém, de gravame severo, são impressos pelo perispírito no ser em formação física os limites e anomalias de natureza genética, propiciadores da expiação compulsória, que funciona como recurso enérgico para a reabilitação do calceta (culpado).

Nada ocorre na vida por acaso ou descuido da Consciência Cósmica impressa na individual. Assim sendo, adquirir consciência, no seu sentido profundo, é despertar para o equacionamento das próprias incógnitas, com o consequente compreender das responsabilidades que a si mesmo dizem respeito.

O ser consciente é um indivíduo livre e realizador do bem operante, que tem por meta a própria plenitude através da plenificação da Humanidade. Alcançar esse nível de entendimento é todo um processo de crescimento interior, mediante constante vigilância e desdobramento das potencialidades adormecidas, que aguardam os estímulos que fomentam o seu despertar e a sua realização.

Não conscientes das respostas da vida, obedecendo aos automatismos, muitas criaturas permanecem adormecidas em relação aos seus deveres, tornando-se instrumento de sofrimento para si mesmas, como para outros, que lhes experimentam a presença ou delas dependem.

Uma das finalidades primaciais da reencarnação é a aquisição do amor (afetividade plena), para o crescimento espiritual e o autoaprimoramento (encontro com o Deus interno).

Vitimado pelos atavismos do desamor, pelos caprichos do egoísmo, o ser fecha-se na rebeldia e passa a sentir dificuldades em espalhar a luz do sentimento do bem, permanecendo indiferente ao seu próximo, mesmo quando ele faz parte do grupo familial. O problema se apresenta mais complexo quando esse mesmo sentimento egoísta registra antipatia ou surda animosidade por alguém do grupo doméstico. Tal reação ocorre em forma de desamor dos pais pelos filhos, desses por aqueles, entre irmãos ou outros membros do ninho doméstico.

A atitude injustificada faz-se responsável por inúmeros conflitos psicológicos - fobias, insegurança, instabilidade emocional, complexos de inferioridade ou superioridade, soberba etc., e enfermidades orgânicas que aí se instalam. [...]



Divaldo Pereira Franco / Joana de Ângelis



Fonte: do livro "Autodescobrimento: Uma Busca Interior", 17ª ed., 2013
Série Psicológica, vol. 6
LEAL - Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador/BA
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/rosto-rostos-di%C3%A1logo-conversa%C3%A7%C3%A3o-1370955/

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

PURO SILÊNCIO E REVELAÇÃO


Pergunta de um meditador: Padre John, tenho algumas perguntas relacionadas ao processo de meditação. Você mencionou na sua introdução à meditação para a palestra desta noite que devemos eliminar todas as imagens – imagens de Deus, imagens de nós mesmos, imagens dos outros. É psicologicamente possível para a mente humana eliminar todas as imagens?

Resposta de John: Bem, esta é uma questão sutil, mas penso que a resposta é que tem de ser possível, se existir uma união total. Penso que quando há essa união total com a realidade última, não pode haver uma imagem superveniente. Pode parecer-me que isso é logicamente impossível. Então penso que a resposta à sua pergunta é que se a união total é possível, então é possível ir além das imagens.

Ok, então minha segunda pergunta é: o mantra em si é uma palavra especial. Existem também outras palavras especiais para outras circunstâncias: por exemplo, o hipnotizador pode sugerir ao paciente que repita uma palavra e que o objetivo imediato é que, ao repetir essa palavra, ele possa levá-lo a um nível mais profundo de relaxamento. O objetivo final seria, por exemplo, parar de fumar. Então, qual é o objetivo imediato de repetir o mantra?

Resposta de John: Acho que o objetivo imediato é trazê-lo ao silêncio. Isso é o que a maioria das pessoas experimenta quando começa a meditar e o faz pela primeira vez. Muitas pessoas descobrem, embora não todas, que muito cedo alcançam o mais extraordinário silêncio e paz. Mas então eles percebem isso e continuam, isso dá lugar a um estado de muita distração, e é aí que eles sentem que é muito difícil e que a meditação talvez não seja para eles. Dizem a si mesmos que não têm talento e que são invadidos por distrações.

Acho que este é um momento crucial para perseverar. O objetivo final da meditação é então o que vai motivá-lo e esse objetivo é levá-lo ao silêncio total. Como indiquei antes, deve ser um silêncio totalmente livre da autoconsciência, portanto, uma vez que você se torne consciente desse silêncio, você deve imediatamente começar a repetir o seu mantra novamente.

Isso o treina na generosidade de não tentar possuir o fruto da sua meditação. Hoje em dia, isso é muito difícil para muitas pessoas aceitarem porque muitas pessoas na nossa sociedade procuram algo para que a experiência seja a experiência. A meditação é diferente disso. É entrar na experiência pura.

Agora, a forma como a sabedoria antiga expressa isso é expressa no ditado “o monge que sabe que está orando não está orando”. O monge que não sabe que está orando está orando. Então você repete seu mantra até ficar completamente silencioso. Você poderia estar naquele silêncio em um pequeno segundo. Você pode ficar nisso por um minuto ou 20 minutos. Mas assim que você perceber que está nisso, volte a repetir seu mantra. Não tente provocar esse silêncio. Acho que esse é outro perigo: querermos ver o nosso progresso. Queremos ter algum tipo de verificação se vale a pena esse negócio de repetir o mantra por cinco anos. Especialmente neste estágio, você deve resistir à tentação de possuir os frutos da meditação. Devemos apenas meditar e recitar o mantra e quando perceber que não o está mais recitando, repita novamente.

Mas são esses momentos de puro silêncio que são momentos de revelação. Não falo sobre isso com muita frequência porque seria desastroso querer criar essa experiência. E ninguém que leve a sério este ensinamento deveria tentar inventar a experiência. O que você precisa fazer é repetir o mantra e ficar satisfeito com ele. Seja humilde ao dizer isso. Seja simples ao dizer isso. É o dom da oração, da oração pura, o dom da contemplação pura, o dom do silêncio puro é um dom absoluto. Isto não é algo que possamos, digamos, ganhar "torcendo o braço de Deus". Quando nos é dado, aceitamos com alegria e repetimos novamente a nossa palavra. Acho que essa é a diferença entre objetivos imediatos e objetivos finais.



Fr. John Main, OSB




Fonte: do livro "O Coração da Criação", Canterbury Press, 2007
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

AMOR A UM ALTO IDEAL


Só conseguireis dominar as vossas tendências instintivas por intermédio do amor a um alto ideal. E o que é um alto ideal? Uma aspiração à beleza, à beleza espiritual, que é feita de pureza, de luz, de harmonia. Contemplais essa beleza e, naturalmente, espontaneamente, deixais de lado tudo o que é insano, obscuro, desordenado. Esse amor pela beleza protege-vos, é como que uma peça de vestuário que gostaríeis de não sujar. Que fazeis, quando usais belas roupas de que gostais? Não vos envolveis em atividades em que haja o risco de os rasgardes ou de os sujardes; instintivamente, estais atentos aos vossos gestos, aos lugares em que vos sentais. Pois bem, é isso: se decidirdes cultivar o gosto pelo mundo da beleza e o desejo de vos aproximardes dele, pouco a pouco sentireis tecer-se à vossa volta como que uma veste sutil que querereis proteger, e assim vós mesmos sereis protegidos.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte do texto e da gravura: Publicações Maitreya, Porto, Portugal
https://publicacoesmaitreya.pt

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

SERVIR PERFEITAMENTE A CADA DIA


É somente quando o discípulo esteja desejoso de abandonar tudo ao serviço do Grande Uno e de não se apegar a nada, que a libertação é alcançada e o corpo de desejos (astral) transmuta-se no corpo da intuição superior.

É o servir perfeitamente a cada dia - sem nenhum pensamento ou cálculo sobre o futuro - que leva um homem à posição do perfeito Servidor.

E posso sugerir algo? Todo cuidado e ansiedade são baseados, primordialmente, em motivo egoísta. Receais penas futuras, recuais diante de tristes experiências. Não é assim que a meta é alcançada; ela é conseguida pelo caminho da renúncia. Talvez possa significar renúncia ao prazer, ou renúncia à boa reputação, ou renúncia aos amigos, e a renúncia a tudo que o coração se apega.

Cultivai diariamente, portanto, aquele supremo desejo que procura unicamente a recomendação do Guia e Instrutor interior e a resposta egoica à boa ação desapaixonadamente realizada.

Se a aflição chega ao vosso caminho, sorri durante ela toda; ela terminará numa rica recompensa e no retorno de tudo que tenha sido perdido. Se o desprezo e o desdém forem vosso quinhão, sorri ainda, pois somente o olhar de louvor do Mestre é o único que se deve buscar. Se línguas mentirosas agirem, não temais, forjai adiante. A mentira é algo da Terra e pode ser deixada para trás como algo muito vil para ser tocado. O olho simples, o desejo justo, o motivo sagrado e o ouvido que fica surdo ao bulício do mundo - tal é a meta para o discípulo. Nada mais digo. Almejo apenas que não dissipeis força desnecessária em vãs fantasias, febris especulações e expectativas inquietantes.


Alice A. Bailey / Tibetano / Djwhal Khul



Fonte: do livro "Cartas Sobre Meditação Ocultista". pp. 53-4, 1ª ed., 1977
Tradução da Fundação Cultural Avatar, Niterói/RJ
Fundação Educacional e Editorial Universalista - FEEU, Porto Alegre/RS
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

AUTOCONSCIÊNCIA x AUTOCONHECIMENTO


A importância atribuída ao despertar que leva ao verdadeiro autoconhecimento é destacada no conselho fundamental que nos foi dado por professores espirituais e filósofos ao longo da história: “ Homem, conheça a si mesmo ”. Somos encorajados não só a conhecer o ego e quais as suas motivações para mudar, mas também a conhecer o verdadeiro “eu”, a consciência do nosso ser interior, do nosso ser total e divino. “Quando se conhecerem, então se conhecerão bem e compreenderão que são filhos do Pai vivo. Mas se não se conhecerem, viverão na pobreza e serão pobreza”. (Evangelho de São Tomé 3)

Embora o autoconhecimento seja essencial, a autoconsciência, entretanto, forma uma barreira poderosa para conhecer nosso “eu” mais profundo e nos cega para a Realidade Suprema. A autoconsciência é, obviamente, uma característica dos seres humanos, que nos distingue de outros seres sencientes. O problema é que utilizamos essa capacidade de forma muito restrita: em vez de ter consciência de todo o “eu”, nos limitamos e prestamos atenção apenas aos pensamentos superficiais do “ego”. Usamos a autoconsciência exclusivamente como ferramenta de sobrevivência. Assim, a maior parte dos nossos pensamentos, de uma forma ou de outra, gira em torno das nossas próprias preocupações, tentando aprender com o nosso passado e planejando o futuro em prol da sobrevivência. É claro que as nossas experiências passadas podem ser uma ajuda construtiva para moldar o presente e planear o futuro. Mas muitas vezes o resultado é que vivemos apenas no passado e no futuro e perdemos o momento presente.

Isto não significa que o nosso “ego” não seja importante. Principalmente na primeira fase da nossa vida dependemos do nosso “ego” e precisamos dele para nos desenvolvermos de forma saudável e bem adaptada. É a fase do desenvolvimento humano que Jung chamou de processo de “ individuação ”. É óbvio que sempre precisaremos da sabedoria do “ego”, pois nossas habilidades de sobrevivência continuarão sendo necessárias para lidar de forma madura e realista tanto com o mundo externo quanto com o interno. No entanto, devemos lembrar que a consciência daquele “eu” de que nos orgulhamos está a um nível superficial e é suscetível a constantes mudanças que são determinadas pelas nossas preocupações e medos atuais. O que precisamos trazer à consciência é a sabedoria mais profunda e permanente do “eu” que reside no inconsciente. Precisamos que o desenvolvimento do “ego” venha de mãos dadas com uma consciência crescente do “eu” espiritual. Precisamos de uma mudança de ênfase do “ego” para o “eu”.

A atenção que exercemos na meditação nos ajuda a produzir essa mudança. Ao deixar os pensamentos para trás, deixamos para trás o passado e o futuro. O mantra nos ancora no momento presente. Então nosso “ego” se torna um centro consciente que aceita tudo o que é inconsciente e se vê como parte integrante do todo. E assim, agimos a partir de uma base de equilíbrio na qual utilizamos todos os nossos recursos, todas as nossas capacidades conscientes e inconscientes, racionais e intuitivas.

Isto constitui a segunda parte do processo de "individuação", no qual chegamos a uma "síntese dos elementos conscientes e inconscientes da personalidade". Este verdadeiro autoconhecimento que leva à integração psicológica e à totalidade não é um fim em si mesmo, mas o passo para vivenciar a Realidade Única: “A realidade que chamamos de Deus deve primeiro ser descoberta no coração humano. Não posso conhecer a Deus a menos que me conheça”. (Mestre Eckhart)



Transcrição de Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: IA (AI)

O APOSENTO SECRETO


O aposento secreto é... um lugar de silêncio e de segredo. Os outros não devem perceber aquilo que dizeis, como o dizeis e a quem vos dirigis. É claro que algumas vezes não podereis impedi-los de se darem conta de que estais a orar. Mas, quanto menos eles se aperceberem, mais valor terá a vossa oração. Numa parábola, Jesus fala daquele fariseu que tinha subido ao templo de Jerusalém e que orava com grande ostentação... Pois bem, toda a sua atitude mostrava que ele não se encontrava no aposento secreto.

Podemos dizer que este aposento secreto é o coração, o silêncio do coração. Mas, evidentemente, o coração aqui não é o que corresponde ao plano astral, o lugar dos desejos inferiores, da avidez. O aposento secreto é o coração espiritual, quer dizer, a alma. Enquanto não se consegue chegar ao verdadeiro silêncio, não se penetrou nesse aposento. Há tantos "aposentos" no homem! E, de entre todos esses aposentos, muito poucas pessoas encontraram precisamente aquele em que o silêncio é valorizado. A maioria é desviada para os outros aposentos e é lá que ora; mas como aí não há aparelhos apropriados o Céu não recebe os seus pedidos.

Portanto, não é suficiente reservar um lugar da casa para a Divindade. Se, na verdade, quiserdes ser visitados, precisais de consagrar um lugar no vosso coração, na vossa alma, dizendo: "Este lugar é para o Senhor, ou para a Mãe Divina, ou para o Cristo, ou para o Arcanjo Miguel, porque - acreditai! - se houver um lugar para eles, eles virão.

Contudo, para que uma oração seja ouvida há que respeitar certas condições. Por que é que, por exemplo, os Iniciados do passado ensinaram o gesto de juntar as mãos quando se ora? É simbólico. É porque a verdadeira oração representa a união dos dois princípios: o coração e o intelecto. Se é o vosso coração que pede, mas o vosso pensamento não participa, não se junta a ele, a vossa oração não será recebida. Para ela ser recebida, tem que vir do coração e do intelecto, do pensamento e do sentimento, isto é, dos dois princípios, masculino e feminino, unidos.

Em quantos quadros se representam pessoas a orar, até crianças com as mãos juntas! Mas nunca se compreendeu a profundidade deste gesto. Isto não quer dizer que para orar é obrigatório juntar as mãos fisicamente. Não, não é a atitude física que conta, mas a atitude interior. É preciso juntar o coração e o intelecto, a alma e o espírito, porque é da sua união que resulta a força da oração. Nesse momento, projetais uma força para o Céu, e em resposta, o Céu envia-vos a luz, a paz. Portanto, ao mesmo tempo, vós dais e recebeis, sois ativos e receptivos.



Omraam Mikhaël Aïvanhov




Fonte: Publicações Maitreya, Porto, Portugal
https://publicacoesmaitreya.pt
Fonte da Gravura: via IA (AI)

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

CAIBALION - A FILOSOFIA HERMÉTICA


O Caibalion é um livro que apresenta os princípios herméticos, ou seja, a filosofia esotérica baseada nas tradições místicas do antigo Egito e da Grécia. Considera-se que foi publicado pela primeira vez no início do século XX. De autoria um tanto obscura, tornou-se uma obra de grande importância no estudo da filosofia oculta e do esoterismo.

Atualmente, o autor mais aceito desse livro é William Walker Atkinson. No entanto, é importante observar que a questão da autoria do Caibalion é envolta em certa controvérsia e falta de clareza histórica.

William Walker Atkinson era um escritor e editor prolífico do Movimento do Novo Pensamento, que floresceu no final do século XIX e início do século XX nos Estados Unidos. Ele escreveu extensivamente sobre temas relacionados à filosofia, esoterismo, ocultismo e desenvolvimento pessoal.

Embora Atkinson tenha escrito sob seu próprio nome e também usado vários pseudônimos, ele é amplamente aceito como o autor do Caibalion. O livro foi publicado pela primeira vez em 1908 e foi atribuído a "Três Iniciados", sem especificar seus nomes individuais. No entanto, muitos estudiosos e pesquisadores acreditam que Atkinson era um dos autores por trás desse trabalho.

Alguns nomes e pseudônimos atribuídos a W. W. Atkinson são: Os Três Iniciados, Magus Incognito, Theron Q. Dumont, Yogue Ramacharaca, Theodore Sheldon, Swami Panchadasi e Swami Bhakta Vishita.

O livro em questão apresenta sete princípios fundamentais que, de acordo com a tradição hermética, governam o funcionamento do universo. Esses princípios são:

O Princípio do Mentalismo: afirma que "Tudo é mente, o universo é mental". Isso significa que a realidade é uma manifestação da mente, e que nossos pensamentos e crenças têm um impacto direto na nossa experiência do mundo.

O Princípio da Correspondência: expressa a ideia de que há uma correspondência entre os planos mental, físico e espiritual do universo. O que está em cima é como o que está embaixo, e vice-versa. Isso sugere que os padrões e leis que governam o universo são os mesmos em todos os níveis da existência.

O Princípio da Vibração: ensina que tudo está em constante movimento, vibrando em diferentes frequências. Tudo no universo, desde partículas subatômicas até estrelas distantes, está em um estado vibratório. Essas vibrações podem afetar nossos pensamentos, emoções e saúde.

O Princípio da Polaridade: sugere que todas as coisas têm polaridades opostas, como o bem e o mal, o amor e o ódio, o calor e o frio. Essas polaridades são complementares e inseparáveis, e a compreensão delas nos ajuda a equilibrar as energias opostas dentro de nós mesmos.

O Princípio do Ritmo: declara que tudo tem fluxo e refluxo, movimento de avanço e retrocesso. Há ciclos e padrões que regem a vida e o universo, e entender esses ritmos nos permite fluir em harmonia com eles.

O Princípio de Causa e Efeito: afirma que toda causa tem um efeito, e todo efeito tem uma causa. Nada acontece por acaso, e cada ação gera uma reação correspondente. Compreender essa lei nos lembra da responsabilidade de nossas escolhas e ações.

O Princípio de Gênero: reconhece que há uma dualidade nos aspectos masculino e feminino de tudo no universo. Essa dualidade não se limita ao gênero físico, mas se estende a todas as formas de criação e expressão.

O Caibalion oferece uma visão abrangente sobre esses princípios herméticos e busca explorar seu significado e aplicação em nossa vida diária. Ele nos encoraja a desenvolver uma compreensão mais profunda da natureza do universo e de nós mesmos, além de fornecer um caminho para alcançar sabedoria, equilíbrio e harmonia.

Além dos princípios herméticos mencionados anteriormente, o Caibalion também aborda outras ideias e conceitos relacionados à filosofia hermética, tais como:

A Lei da Mentalidade: o Caibalion enfatiza a importância da mente e do pensamento na criação da realidade. Segundo essa lei, nossos pensamentos e crenças moldam nossa experiência e nossa capacidade de manifestar nossos desejos.

A Unidade de Tudo: o livro ressalta a noção de que tudo no universo está interconectado e é parte de um todo maior. Isso implica que não estamos separados do universo e que nossas ações têm um impacto não apenas em nós mesmos, mas também no mundo ao nosso redor.

A Alquimia Interior: a alquimia é uma prática antiga associada à transformação e evolução espiritual. O Caibalion sugere que assim como os alquimistas buscavam transformar metais inferiores em ouro, também podemos buscar transformar e aperfeiçoar a nós mesmos, alcançando um estado mais elevado de consciência. Transformar o "chumbo" da personalidade no "ouro" da consciência superior (self). A elevação da consciência acima das limitações da matéria.

O Conceito de "O Todo": o livro menciona repetidamente a ideia de "O Todo", uma entidade ou força que engloba e permeia tudo no universo. Algumas interpretações consideram "O Todo" como uma representação do divino ou da consciência cósmica.

A Importância da Sabedoria Prática: o Caibalion destaca a importância de aplicar os princípios herméticos em nossa vida cotidiana. Não basta apenas entender esses conceitos intelectualmente; devemos incorporá-los em nossas ações e escolhas para alcançar verdadeira sabedoria e transformação pessoal.

A Busca pela Verdade: o livro incentiva os leitores a buscar a verdade e o conhecimento por si mesmos, em vez de aceitar cegamente as crenças e ensinamentos de outros. Acredita-se que a verdade está dentro de nós e pode ser descoberta por meio da introspecção e da busca interior.

A Importância da Harmonia: a filosofia hermética enfatiza a busca pelo equilíbrio e harmonia em todas as áreas da vida. Isso envolve equilibrar polaridades, como o trabalho e o descanso, o esforço e o relaxamento, a ação e a contemplação, a fim de alcançar um estado de equilíbrio e plenitude.

Essas são apenas algumas ideias adicionais tratadas no Caibalion. Como é uma obra aberta à muitas interpretações, pode-se encontrar significados e insights únicos dentro de seus ensinamentos.

Devemos sempre levar em conta que o Caibalion é considerado um resumo e uma interpretação dos princípios herméticos antigos, em vez de uma tradução literal dessas tradições. Alguns argumentam que o livro pode ter sido escrito como uma forma de trazer as ideias herméticas para um público mais amplo e torná-las mais acessíveis e compreensíveis na época em que foi publicado. 

Um outro ponto a ser considerado é que estudiosos sugerem, mas sem certeza historiográfica, que o Caibalion faz parte de um antigo livro chamado, talvez, de Livro de Hermes, e que aquele seria uma parte deste.

Como mito, Hermes Trimegistro era conhecido como o deus Thot, o "Três Vezes Grande".

Na introdução do livro "O Caibalion" - edição definitiva e comentada, 2ª ed., 2018, p. 62, Ed. Pensamento, lemos o seguinte:

"Nenhum fragmento dos conhecimentos ocultos possuídos pelo mundo foi tão zelosamente guardado, como os fragmentos dos Preceitos Herméticos que chegaram até nós ao longo das dezenas de séculos já transcorridos desde o tempo do seu grande criador Hermes Trimegisto, o "escriba" dos deuses, que viveu no Antigo Egito quando a atual raça humana estava em sua infância."

E no capítulo 1, p.68, do livro supra citado lemos:

"... entre esses Grandes Mestres do Antigo Egito, existiu um que eles proclamavam como o "Mestres dos Mestres". Esse homem, se é que se tratava realmente de um "homem", viveu no Egito na mais remota Antiguidade. Era conhecido pelo nome de Hermes Trimegisto..."

Embora a autoria específica do Caibalion ainda seja debatida e não haja uma confirmação definitiva sobre os autores, o livro continua sendo uma obra influente e valiosa no campo da filosofia hermética e do esoterismo, fornecendo uma exploração acessível e interpretativa desses princípios antigos. A obra continua sendo uma fonte valiosa de inspiração para aqueles que buscam explorar os aspectos ocultos da existência e aprofundar sua compreensão espiritual.

Outro ponto a ser argumentado é sobre a possível ligação entre a Cabala hebraica e o Caibalion, pois ambos os sistemas são de conhecimento esotérico. Entretanto, eles têm origens diferentes e abordam temas mais ou menos distintos, pelo menos no seu aspecto mais exterior. A Cabala hebraica é um sistema místico e filosófico que se desenvolveu na tradição judaica, enquanto o Caibalion está mais diretamente relacionado à tradição hermética, que tem influências greco-egípcias. Mesmo assim, alguns autores sugerem que há uma mesma origem etnológica entre Caibalion/Kybalion e Cabala/Qabalah/Kabbalah, e, por isso, talvez alguma origem comum em seus conhecimentos.

A Cabala hebraica é um sistema complexo que busca compreender a natureza do universo, a relação entre o divino e o humano, e o significado oculto das escrituras sagradas judaicas, como a Torá. Ela envolve a interpretação de textos sagrados, como o Livro do Zohar, e usa um conjunto específico de símbolos, como as sefirot e as letras hebraicas, para representar as forças e os princípios divinos.

Por outro lado, o Caibalion é baseado na tradição hermética, que se originou durante o período greco-egípcio, como mencionado anteriormente. Embora possa haver algumas sobreposições conceituais, como a ideia de correspondência entre os planos mental e espiritual, os princípios do Caibalion são apresentados de uma maneira mais ampla e geral, abrangendo os aspectos universais do funcionamento do cosmos e da mente.

É importante reconhecer que tanto a Cabala quanto a tradição hermética têm raízes antigas e influenciaram diversas correntes de pensamento ao longo da história. No entanto, em termos de suas origens e abordagens específicas, eles são distintos.

É possível que algumas pessoas possam encontrar paralelos ou correlações entre os princípios herméticos do Caibalion e certos aspectos da Cabala hebraica. No estudo das tradições esotéricas, as pessoas frequentemente fazem conexões e associações entre diferentes sistemas de conhecimento para obter uma compreensão mais ampla e integrada do universo e da experiência humana. No entanto, é importante lembrar que cada sistema tem sua própria estrutura e contexto específicos.

O Caibalion influenciou e tem influenciado bastante sobre as escolas esotéricas e as correntes de pensamento contemporâneas. Desde a sua publicação, o livro tem sido amplamente lido e estudado por aqueles interessados em filosofia esotérica, ocultismo, espiritualidade e desenvolvimento pessoal, e ainda popularizou os princípios herméticos e tornou-os acessíveis a um público mais amplo.

Muitas escolas esotéricas e grupos espiritualistas basearam parte de seus ensinamentos nos princípios herméticos apresentados no Caibalion. Esses ensinamentos têm sido utilizados como base para explorar conceitos como a natureza da mente, a criação da realidade, a lei da atração, a alquimia interior e a busca pela sabedoria e transformação pessoal.

Além disso, o Caibalion influenciou escritores, estudiosos e praticantes esotéricos ao longo do século XX e até os dias atuais. Muitos autores e professores incorporaram os princípios herméticos em suas obras e ensinamentos, expandindo e adaptando essas ideias para diferentes contextos e tradições.

Embora seja importante reconhecer que o Caibalion é uma interpretação moderna e resumida dos princípios herméticos, ele serviu como uma porta de entrada para muitas pessoas interessadas em explorar a filosofia esotérica. Sua influência tem sido amplamente sentida nas correntes esotéricas contemporâneas, ajudando a moldar a compreensão e a prática espiritual de muitos indivíduos ao redor do mundo.


Prof. Hermes Edgar Machado Junior



Fonte da Gravura: AI (IA)


Bibliografia e sugestões de leitura, todas de W. W. Atkinson:

- O Caibalion: edição definitiva e comentada
- O Poder Espiritual ou a Fonte Infinita
- A Força do Pensamento
- A Perfeição da Raça
- Conhece-te!
- O Poder da Vontade
- A Ciência da Palavra
- A Magia Menta
- O Trabalho Mental
- As Forças Ocultas
- A Lei da Atração no Mundo do Pensamento

segunda-feira, 5 de junho de 2023

COMO SURGE UMA SOCIEDADE JUSTA E PACÍFICA


Todas as manhãs em Bonnevaux (França), logo após a meditação, ouvimos o Evangelho do dia. Hoje havia apenas três versículos: “E aconteceu a seguir que ele percorria cidades e povoados, proclamando e anunciando as Boas Novas do Reino de Deus. Os Doze o acompanharam, e algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, de quem haviam saído sete demônios; Joana, mulher de Cusa, administrador de Herodes; Susana e muitas outras que os serviam com seus bens”. (Lc 8, 1-3)

Os primeiros monges se perguntaram: "Qual é o verdadeiro objetivo da vida do monge?" Em meio às confusões de nosso tempo, acho cada vez mais útil usar os termos 'monge' e 'meditador' de forma intercambiável. Com a disseminação da prática séria de meditação em todas as esferas da vida, o meditador é, de muitas maneiras, o novo monge. Então, perguntemos a nós mesmos: “Qual é o verdadeiro objetivo da vida?” e vejamos o que a sabedoria monástica tem a nos dizer. Os Mestres do Deserto falaram dessa meta em dois níveis. O objetivo final é o Reino de Deus. O objetivo imediato é a pureza de coração. Esses dois níveis, como o primeiro plano e o horizonte da paisagem da vida, se unem para formar uma visão focada da vida humana.

Recentemente, tivemos um retiro sobre 'curar um coração partido'. Ouvir as histórias que as pessoas contavam era de partir o coração: a morte de crianças, a perda de um relacionamento querido no qual tínhamos grandes expectativas ou acidentes que perturbaram violentamente uma vida pacífica. A sensação de sofrimento demora a destilar e, à medida que surge, é sentida fortemente, mas costuma escapar à rede das palavras. O significado é mais do que uma resposta ou uma explicação. É conexão, mas também percepção. Meditando nos dias bons e nos dias ruins, a que chegamos quando nos purificamos processando as coisas enquanto continuamos realizando nossas tarefas diárias? Podemos ver como é realmente ver Deus. Então a felicidade, que mal reconhecemos quando acontece, nos surpreende: felizes são aqueles cujo coração é puro, porque vêem a Deus. Mas Deus sempre surpreende: Deus aparece quando nossas ideias sobre Ele se dissolvem.

Os grandes dilemas da vida estão integrados nas rotinas diárias comuns e emergem maravilhosa e terrivelmente em alegrias e sofrimentos excepcionais. Acho que é isso que o Evangelho de hoje descreve. Jesus caminha de um lugar para outro, pregando e proclamando a Boa Nova. Ele fala sobre o propósito da vida de uma forma nunca antes ouvida em nenhum outro lugar. A verdade é dizer a verdade. Para aqueles que estão ouvindo, é uma coisa definitiva. Mas também há personalidades e questões logísticas. Ele tinha companheiros na estrada; as pessoas têm problemas e pontos cegos. Ouvimos falar especificamente das discípulas, que raramente são mencionadas nas histórias, e ouvimos falar dos recursos financeiros que os mantinham no caminho. Jesus não cobrava por seus ensinamentos, e o "preço da gasolina" não era um problema, mas alguém tinha que pagar por comida e hospedagem. Detalhes sobre seus companheiros e suas finanças apontam para o objetivo 'imediato' da vida. A pureza de coração é conquistada pela forma como lidamos com eles no fluxo imediato das interações diárias, lembrando sua razão de estar ali e realinhando-os com o objetivo final. O objetivo 'último' é o que Jesus está pregando e proclamando, mas ainda mais como ele o encarna a cada momento.

A boa notícia é que o reino dos céus está próximo. A dura verdade é que está sempre mais perto do que podemos pensar ou imaginar. O reino está aqui e agora, que molda como reagimos aos objetivos e problemas imediatos da vida. A guerra na Ucrânia. A mudança climática. A degeneração da democracia e a ascensão do nacionalismo. Preços da energia e desemprego. Ser diagnosticado com câncer. A falta de faculdades mentais. A perda do amor. Lidando com esses problemas, muitas vezes sobrecarregados por eles, podemos sentir que “temos que fazer algo agora” para resolvê-los. Nos apegamos a respostas fáceis e soluções sedutoras que prometem sucesso rápido. No entanto, não há respostas ou soluções que funcionem por muito tempo, exceto talvez para evitar uma catástrofe iminente. Todo sucesso, mais cedo ou mais tarde, se transforma em uma sensação de fracasso.

Quanto maior o desafio, mais curta a solução. Assustados e impacientes, vamos aos extremos, como mostra a política atual. Nós escapamos negando problemas, culpando conspirações obscuras ou fazendo julgamentos cínicos. Afastando-nos da responsabilidade social dos cidadãos, tornamo-nos consumidores, e a vida da sociedade torna-se simplesmente “a economia”.

A alternativa passa por novas perspectivas. A melhor solução é não imaginar que as soluções são a resposta imediata. Só a metanoia ("conversão") muda as coisas: uma mudança de mentalidade ocorre quando as ideias se afrouxam. Então, novos 'insights', vendo novas conexões, expandindo-se para novos campos de compreensão, abrindo o olho da sabedoria através do qual Deus pode ser visto, conectam o objetivo imediato com o objetivo final.

Por que isso é difícil? Porque implica a mudança que chamamos de morte: o fim dos velhos modos de ver, a libertação das fantasias e a entrada na nova vida, tão estranha e diferente que parece irreal, mas que chamamos de 'ressurreição': é a vida que vivemos, aqui e agora, depois de cada morte e que transforma até a morte em graça. Ressurreição é virar o carrinho de maçã: tudo o que o carrinho carregava se espalha na estrada. Mas abra o caminho para a paz através do portão do paradoxo, acabando com o mundo de infinitas contradições e conflitos. Neste novo mundo, a morte é revelada como nascimento.

Jesus pregou e proclamou essa nova perspectiva de consciência, chamando-a de "Reino de Deus". Não é longe. Está dentro de nós e entre nós. É o tesouro com o qual tropeçamos, mas também a busca que devemos realizar todos os dias. Não é uma solução, mas uma revelação, uma epifania (manifestação), algo que sempre existiu, mas agora é reconhecido. Jesus ensinou a um grupo de alunos que se tornaram discípulos ouvindo-o e permanecendo com ele, entendendo um pouco mais a cada dia até que ele os deixou. Mas então, o mais estranho de tudo, é que sua ausência mostrou a eles sua presença real.

Se o objetivo da vida fosse uma resposta ou uma solução, eu teria deixado livros e sistemas para trás. Em vez disso, ele deixou uma Palavra falada, uma transmissão lembrada de discernimento, de coração a coração. A experiência é o verdadeiro professor. Ouvir e lembrar transformam a experiência em ver as coisas de uma nova maneira. Isso nos ensina a transmiti-lo, por sua vez, comunicando-o como uma verdade universal através do espírito, em todas as culturas e horários.

Obviamente, então, o Reino não é a Igreja. Por mais frustrante que seja, a Igreja é inevitável, assim como nosso próprio corpo é inevitável. É o meio de comunicar o Reino, apesar de todas as falhas e defeitos de suas formas institucionais. Cada vez que esquece a distinção entre objetivos imediatos e objetivos finais, a Igreja constrói falsos objetivos finais, tornando-se eclesiástica, autorreferencial e até mesmo tocada pelo orgulho e arrogância, contrariando tudo o que Jesus ensinou. Se não fosse o sal dos profetas, mártires e contemplativos, uma de suas muitas mortes seria a última.

Uma Igreja sem profundidade de visão dogmatiza Jesus e o coloca em um pedestal. Quando a Igreja se torna escola de oração, orientando a peregrinação rumo ao Reino, Jesus aparece também para quem está fora da Igreja como um novo modo de ver, uma nova perspectiva para cada vida. Quando reduzido a uma coisa, ele desaparece, mas quando mantemos a fé nele enquanto é invisível, sua presença inominável bane o ilusório.

Nosso rosto é invisível para nós mesmos, a menos que nos olhemos no espelho. Jesus é invisível até que o vejamos refletido na forma mística de seu corpo, a igreja de todo o cosmos.

Na perspectiva da vida de fé, Jesus se faz visível em cada um. O mandamento único de amar uns aos outros abre o caminho para entender que "eu sou o meu próximo". A cada dia, essa percepção muda tudo, subvertendo todos os sistemas de poder construídos. Vê-lo transforma a vida em nível pessoal e social. A consciência unificada inunda a alma do mundo com uma energia de paz mais poderosa do que todas as forças da raiva e da violência combinadas. "Porque ele é a nossa paz: aquele que fez de dois povos um" (Efésios 2, 14). Então, como podemos prejudicar intencionalmente o outro sabendo que estamos prejudicando a nós mesmos e ao todo ao qual pertencemos? Essa perspectiva explica por que Jesus nos chama amigos. Nosso amigo é “o outro mesmo, o próximo”.

Para ver a si mesmo, uma pessoa deve olhar para o outro e focar-se no outro (Fr. John Main, OSB).

À medida que essa perspectiva cresce, a vida se torna uma conversa de iguais respeitosos. Alimenta o crescimento de uma sociedade justa e pacífica para a qual a democracia, por mais imperfeita e confusa que seja, é a melhor ferramenta imediata. Quando a democracia é praticada, a silhueta opaca do reino começa a ser perceptível. Às vezes, como numa comunidade ou numa família, pode mesmo, como uma estrela cadente, brilhar visivelmente, como quando uma cidade inteira esquece os seus problemas e acolhe os estranhos com maiores necessidades imediatas...

No entanto, o que quer que façamos, não é uma solução, nem mesmo uma explicação. A vida não pode ser reduzida a generalidades. Generalizar sobre isso não o torna real: torna-se real apenas quando uma nova maneira de ver surge sobre nós e nos convence de sua verdade. O alvorecer vem antes do amanhecer. A aurora em si é um processo, a aurora é um acontecimento. O próprio acontecimento é um reconhecimento inegável, instantâneo e irreversível: uma percepção sobre a qual podemos ter pensado por muito tempo é real. A aurora da realidade também é importante porque, se não fosse o acontecimento, não haveria processo.

A meditação é o processo imediato que purifica nossos corações diariamente e nos leva a esse estado de consciência unificado mais íntimo e definitivo que chamamos de 'mente de Cristo'.

A visão cristã da realidade é ver todas as coisas como um todo, interconectadas e crescendo juntas, e não faz uma divisão abstrata entre a Igreja e o mundo. A Igreja pode se tornar dolorosa e ridiculamente mundana e o mundo pode ser santo e sagrado. É uma questão de percepção, de ver o que é e como nos relacionamos com isso. Esta percepção nascente da realidade é a fé, a "prova das coisas que não se veem" (Heb 11,1). É por isso que na meditação "não colocamos nossos olhos nas coisas visíveis, mas nas invisíveis" (2 Cor 4,18). Ao amanhecer, a meditação move as montanhas da ilusão dentro da mente e cura as feridas da divisão entre nós e os outros.

Muitas pessoas sentem associações tóxicas quando ouvem as palavras "Igreja, cristão ou cristianismo", dificultando a comunicação da essência da fé. Mas também é difícil ver como a doença do mundo de hoje pode ser curada sem que o espírito do cristianismo participe do processo de renascimento da humanidade por meio de uma transformação universal da consciência. Talvez a contribuição da fé cristã seja favorecida considerando a palavra "Igreja" mais como um verbo, um modo de ver e estar juntos, do que como uma instituição ou uma ideologia. Isso pode acontecer se um número suficiente de cristãos se enxergar como parte de um movimento contemplativo de mudança, parte de um corpo místico que muda a maneira como a humanidade se vê.

[...] Que tipo de oração é necessária para ativar a nova consciência necessária para nossa sobrevivência e transformar esta crise em uma noite escura em que a humanidade se transformará em outra coisa? É claro que precisamos de oração, mas de que tipo? É a oração que Jesus ensinou no seu grande Sermão da Montanha, a 'oração pura' que dele flui para a tradição contemplativa que nos liga a ele.

Os antigos mestres nos dizem que a oração em si é boa, tão necessária para a integridade humana quanto um ambiente saudável, dieta e exercícios são para o bem-estar físico. Mas, mesmo levando em conta todos os estilos, formas e expressões da frase, o que é essencialmente a oração em si? Precisamos saber disso para manter todas as suas expressões — sacramental, bíblica, devocional, pessoal e comunitária — autênticas e transformadoras. Um dos elementos essenciais da oração pura é que ela muda a pessoa que ora. Não é uma tentativa de entorpecer nossa mente ansiosa ou mudar a mente de Deus. Não precisamos rotular algumas formas de oração como "contemplativas" porque, se conhecermos a essência da oração, todas as formas de oração se tornam essenciais. Tijolo por tijolo, a oração desmantela a parede do ego até que ela desmorone e a união possa ser feita.

Agostinho nos disse para amar e fazer o que queremos. Poderíamos dizer 'medite e reze como quiser'. A meditação nos dá o sabor da oração pura e de seus frutos. Encontra-se na pobreza, através do abandono dos pensamentos e da imaginação, e então conduz à pureza do coração. Pureza e pobreza levam uma à outra, e juntas se tornam o caminho reto e estreito para o reino.

O que estou tentando fazer aqui não é apresentar novas ideias. A oração é mais do que uma ferramenta para a renovação da Igreja, embora a transformação social seja fruto da conversão pessoal do coração. É lembrar o que Jesus ensinou como objetivo final e que sua forma de ensinar nos prepara para fazer como ele fez. "Temos a mente de Cristo." Em palavras, ele usou especialmente parábolas simples em vez de declarações dogmáticas ou soluções sutis. Sua maneira de ensinar forma um tipo particular de identidade em seus discípulos. Aprender, é claro, sempre nos faz ver novos aspectos da paisagem de nossas mentes e vidas. Aprender qualquer coisa, um idioma, como programar uma televisão, como fazer uma boa omelete, como criar filhos, até mesmo como entender as placas do aeroporto de Paris, expande nossas mentes e o mundo em que vivemos.

Aprender não é lavagem cerebral. Requer uma mudança de foco e percepção, bem como uma abertura para outros pontos de vista. A experiência da oração pura que a meditação abre mudará a forma de compreender o próprio ensinamento de Jesus. Nas parábolas e na história da vida de Jesus, ainda veremos o primeiro nível óbvio de significado. Mas, com a atenção pura e amorosa que muda nossa mente, veremos outros aspectos em níveis mais sutis e reais. Não se trata de encontrar respostas ou soluções, mas de ver o que antes não víamos. Nesse sentido, a própria vida é uma parábola que nos ensina seu significado e propósito...

À medida que avançamos, equivocados, pelas mudanças climáticas e tempestades políticas, podemos ser tentados a nos apegar à oração como uma fuga da realidade. Seria um meio de entorpecer o medo e reforçar as ilusões. Podemos nos consolar com o pensamento de que podemos provocar mudanças simplesmente rezando com boas intenções. A oração mudará o mundo quando soubermos como nós, Deus e o mundo somos um. Quando estamos em estado de metanoia (conversão), mudar nossas formas de percepção nos tornará agentes de transformação em nosso mundo, quer saibamos disso ou não.

Não muito tempo atrás, um estado americano aprovou uma lei proibindo o ensino da evolução nas escolas e exigindo uma interpretação literal do mito bíblico da criação. Hoje, a Arábia Saudita e o Egito proíbem o ensino da evolução, e cerca de 46% dos americanos (Gallop 2012) agora acreditam que o mundo foi feito em seis dias.

Uma crença de que eles são livres para manter. No entanto, é tão improvável que eles estejam certos quanto que a Terra seja plana ou que Elvis ainda esteja vivo. As pessoas têm o direito de acreditar no que quiserem, mas os governos e outras pessoas influentes têm o direito de negar às pessoas o direito, as evidências e o treinamento educacional para escolher por si mesmas? Qual é a agenda política por trás da manipulação da mente das pessoas, prendendo-as em formas de percepção desse tipo? É por isso que a meditação é importante. As falsas percepções de qualquer tipo limitam nossa capacidade de abrir os olhos de um coração purificado.

Considere a mudança climática. Temos a ciência e os recursos financeiros para mudar nosso curso desastroso. Mas nos falta a mente e a vontade coletivas, a percepção da solidariedade humana e, sobretudo, a confiança no bem comum que transcende o nacionalismo e a ganância. Como ajudamos as mentes a se abrirem, a verem aspectos novos e mais profundos da realidade? É por isso que nossa comunidade pediu a Herman van Rompuy, um caso raro de político e estadista meditativo, para liderar o Seminário John Main deste ano sobre a crise que a democracia enfrenta. John Main entendeu por que a meditação está ligada a esta questão hoje. Ele entendeu como o objetivo final do Reino e o objetivo imediato da pureza de coração se encontram neste mundo e em nossa responsabilidade de redimi-lo por amor. Ele sabia que a contemplação é a base da civilização, eliminando o medo e abrindo uma nova visão da realidade. A meditação nos ensina a aprender, a ouvir, a equilibrar as diferentes ideias e a reconhecer a diferença entre ilusão e realidade, mentira e verdade. Permite-nos ver, com humor em vez de medo, que a verdade é maior do que pensamos, como por exemplo no famoso teste de percepção: É um coelho ou um pato?

É isso ou aquilo? Ou são os dois ao mesmo tempo? Ver os dois aspectos te assusta ou te expande? Ver que o "Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14, 17), é estar no caminho que une os objetivos últimos e imediatos da vida em um matrimônio de contemplação e ação, Jesus e o Cristo, e todos os coelhos e patos da realidade. A unidade ocorre em um espaço expandido de percepção. Restaura a harmonia perdida da totalidade dentro e entre nós. Não meditamos simplesmente para aliviar o estresse e a ansiedade que nosso "Cavaleiro das Trevas" produziu, mas para chegar à sua causa raiz e transformá-la. Como costumava dizer um mestre medieval de oração contemplativa na linguagem de seu tempo, "este trabalho de oração seca a raiz do pecado em você".



Carta de Laurence Fr. Laurence Freeman, OSB




Fonte do Texto e da Gravura: Bonnevaux - Centre for Peace
Bonnevaux, 86370 Marçay, France
https://bonnevauxwccm.org/

NUNCA TORNAR-SE UM DESERTO


Nunca deixeis de amar e de fazer o bem. Ainda que os outros vos tenham enganado centenas de vezes, deixai correr a vossa fonte, senão vós é que perdereis tudo. Se vos fechardes, por certo já ninguém poderá enganar-vos, ludibriar-vos, mas a água da vossa fonte espiritual deixará de correr e perdereis a vida. Sim, mas, quando deixais secar a vossa fonte, o mundo divino fecha-se e vós ficais pobres, vazios... De um ponto de vista educativo, por vezes é útil fecharmo-nos para com alguém que precisa de aprender a corrigir-se, mas é muito prejudicial fecharmo-nos em relação aos humanos em geral. Quer as pessoas mereçam, quer não, deixai correr em vós a fonte do amor. Dir-me-eis: «Sim, mas isso é injusto, há pessoas que não merecem que eu goste delas!» Não tem importância; praticai essa injustiça, senão transformar-vos-eis num deserto!



Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal