domingo, 29 de janeiro de 2017

AUTOCONHECIMENTO - O ELIMINAR DA ESCURIDÃO INTERIOR

O autoconhecimento tem que ser a única busca, tem que ser o único objetivo; porque se você conhecer todo o resto sem conhecer a si mesmo, isto não significará nada. Você pode chegar a conhecer tudo, exceto você mesmo, mas o que isso significa? Não pode ter nenhum significado — porque se o próprio conhecedor é ignorante, o que pode significar esse conhecimento, o que o seu conhecimento pode lhe dar?

Quando você mesmo permanece na escuridão, pode reunir milhões de luzes à sua volta mas elas não o preencherão de luz. Apesar delas você continuará na escuridão. Viverá e se moverá na escuridão. A ciência é esse tipo de conhecimento. Você conhece um milhão de coisas mas não conhece a si mesmo. Ciência é o conhecimento de tudo menos de si mesmo, exceto do autoconhecimento; o próprio buscador permanece no escuro. Isso não adianta muito.

A religião é basicamente autoconhecimento. Você tem de estar iluminado por dentro, a escuridão deve desaparecer do seu interior, e então por onde quer que você ande, a sua luz interior incidirá sobre o caminho. Onde quer que você vá, faça o que fizer, tudo será iluminado pela sua luz interior. E esse movimento com luz lhe dá um ritmo, uma harmonia, que é a felicidade. Então você não tropeça, não esbarra, não tem mais conflitos. Você se move mais facilmente, seus passos são uma dança, e tudo é satisfação. Você não quer mais que alguma coisa extraordinária aconteça. Você é feliz. É simplesmente feliz no seu ser comum. E a menos que você se sinta feliz sendo comum, jamais será feliz.

Você é feliz apenas por respirar, você é feliz por ser; é feliz apenas por comer, por poder dormir mais uma noite. Você é feliz. Agora a felicidade não deriva de nada — ela é você. Um homem que se conhece é feliz, não por qualquer razão, sua felicidade não tem causa. Não é uma coisa que lhe acontece, é toda a sua maneira de ser. É simplesmente feliz. Para onde quer que se mova, leva consigo a sua felicidade. Se você o atira no inferno, ele cria à sua volta um paraíso; com ele, um paraíso penetra no inferno.

Como você é, ignorante sobre si mesmo, se pudesse ser jogado no paraíso, conseguiria criar um inferno, porque você carrega consigo o seu inferno. Vá aonde for, isso não fará muita diferença, você terá à sua volta o seu próprio mundo. Esse mundo está dentro de você, é a sua escuridão.

Essa escuridão interior precisa desaparecer — é isso o que significa autoconhecimento.




OSHO





Fonte: do livro "A Harmonia Oculta": Discursos sobre os fragmentos de Heráclito
Título do original: THE HIDDEN HARMONY: Discourses on the fragments of Heraclitus
Tradução e Revisão de MA PREM ARSHA, MA DEVA SANDHYA E MA PREM KOMALA
Ed. Pensamento, São Paulo/SP
Fonte da Gravura: http://safeguardquotes.info/tag/osho-wikipedia

A CONSCIÊNCIA DO ESTÔMAGO

O Efeito Revolucionário das Pequenas Coisas do Cotidiano



Os aspectos físicos e espirituais da vida estão ligados pela interdependência. Céu e terra são distintos, mas são inseparáveis, e uma grande parte da bem-aventurança humana é produzida pela flora intestinal.

A relação direta entre felicidade e sistema digestivo não é novidade para a filosofia esotérica. Os jejuns e as dietas especiais são decisivos na vida dos sábios de todos os tempos, inclusive Pitágoras, Jesus, Buda e Lao-tzu.

Cada célula do organismo humano possui uma inteligência implícita e coopera criativamente com as outras células dentro de um plano geral de preservação da vida. O aparelho gastrintestinal influencia decisivamente os estados de consciência. Ele ajuda a determinar o que pensamos, o que fazemos, e quais são as nossas emoções básicas.

A ciência moderna revela que o sistema digestivo possui um verdadeiro cérebro próprio. Durante as 24 horas do dia ele toma decisões para proteger nossa saúde, e tem plena autonomia e independência em relação aos outros setores de coordenação inteligente do corpo. E nem sempre o cérebro lógico, o neocórtex, está à altura da inteligência intestinal. Grande parte das pessoas toma decisões erradas na hora de comer, o que não só dificulta o trabalho do sistema digestivo, mas desperdiça energia vital e ameaça a saúde geral do corpo.

A ecologia do sistema gastrintestinal tem um equilíbrio complexo. A flora intestinal inclui uma quantidade fabulosa de bactérias, fungos e outros micro-organismos invisíveis. O médico brasileiro Helion Póvoa explica: “Alojados no intestino grosso, também chamado cólon e que circunda todo o intestino delgado, [os micro-organismos] fazem parte do ecossistema humano e são, portanto, fundamentais para a nossa sobrevivência. Temos mais bactérias dentro do intestino do que células no corpo. Um adulto pode possuir cerca de 50 trilhões desses micro-organismos!” [1]

A ciência sabe há muito tempo que a alegria de viver não ocorre por acaso. Ela depende da serotonina, substância neurotransmissora presente no cérebro. E a produção da serotonina depende do sistema gastrintestinal.

Helion Póvoa escreve: “Não é exagero (....) afirmar que a infelicidade pode acontecer a partir de um problema gastrintestinal. E isso ficou ainda mais evidente há poucos anos, quando alguns pesquisadores descobriram que a serotonina não é fabricada apenas no cérebro, mas também no intestino. Na verdade, cerca de 90% da serotonina de nosso organismo é produzida neste órgão.” [2]

O intestino é responsável por 80% do sistema imunológico. O plexo nervoso que envolve o intestino conta com nada menos que cem milhões de neurônios, enquanto apenas três mil células ligam o intestino ao sistema nervoso central, que é formado pelo cérebro e pela medula espinhal. Os cem milhões de neurônios garantem não apenas a inteligência, mas também a independência operacional do intestino.

Como todo processo ecológico, a bioquímica da felicidade humana depende de vários fatores, e alguns deles são bem conhecidos:

* Ter uma vida simples;

* Praticar exercícios e conviver com a natureza;

* Pequenos jejuns ajudam a purificar o organismo;

* O consumo de açúcar deve ser reduzido.

Esse último item merece atenção especial. O hábito de comer doces transforma cidadãos orgulhosos da sua independência pessoal em escravos subconscientes de um hábil germe intestinal cujo nome científico é Clostridium difficile.

O Clostridium é astucioso. Interessado em alimentar-se de açúcar, ele manda das tripas para o nosso cérebro um certo tipo de toxinas que inibe a produção de serotonina. Em seguida, a falta de serotonina provoca em nós uma sensação de falta de felicidade e nos induz ao desejo de “compensar isso” comendo doces. E doces são o lanche preferido do Clostridium, que prolifera com a farta alimentação e, assim, é capaz de mandar toxinas em quantidade maior, para inibir ainda mais a presença de serotonina em nosso cérebro.

A abstenção de doces rompe esse círculo vicioso e facilita a obtenção da felicidade. Mas é necessário ter uma boa dose de força de vontade para deixar de lado o açúcar e provar ao Clostridium que somos mais espertos do que ele. Um pouco de preguiça é suficiente para fazer-nos cair na sua manipulação emocional em favor do açúcar.

Raramente é fácil mudar hábitos pessoais. Até costumes aparentemente sem importância resistem a serem removidos. Às vezes a solução vem de fora, como mostra este diálogo entre duas velhas amigas:

“Alcancei a felicidade na semana passada. Depois de 25 anos de tentativas frustradas, consegui que meu marido parasse de roer as unhas.”

“E como conseguiu isso?”

“Escondi a dentadura dele.”

“Ah - parabéns.”

A falta de consciência corporal dificulta o trabalho inteligente dos intestinos, facilitando a vida dos vilões do sistema digestivo. O estímulo consumista ao prazer de curto prazo não nos coloca em sintonia com nosso corpo, mas, ao contrário, nos distancia dele. O estudo de teosofia permite ao buscador da verdade reconhecer a prática alimentar como um campo de testes e aprendizado e uma fonte de saúde, ou de sofrimento.

Para Helion Póvoa, não sabemos perceber as nossas verdadeiras necessidades corporais: “O ritmo da vida moderna, que nos faz comer apressadamente e substituir as refeições por lanches, é com certeza uma das razões pelas quais evitamos o diálogo com o nosso próprio corpo. Estamos sujeitos também à publicidade maciça de produtos alimentares, que acaba interferindo na escuta que deveríamos ter com as nossas necessidades nutricionais. O apelo de um belo sanduíche estampado num outdoor ou um maravilhoso sorvete que aparece na televisão é muito maior do que a autêntica reivindicação nutricional do organismo. (...) O que podemos verificar hoje é que (...) o ato de comer deixou de ser apenas o meio de sustentação do organismo para se transformar num instrumento de compensação de tristezas, ansiedades e frustrações.” [3]

A pressa ao comer produz adrenalina e outros elementos que bloqueiam a produção de serotonina. O caminho da felicidade passa por recuperar o diálogo com nosso organismo e reaprender a arte de identificar o que é bom para ele. Não há por que esperar que surja uma grave doença para só então dar valor à saúde. Por isso atualmente as práticas de alimentação saudável se multiplicam.

O valor medicinal dos alimentos deixa de ser uma ideia antiga para converter-se em tendência de mercado em matéria de ideias e literatura. E há modos práticos de identificar os alimentos que previnem e curam as diferentes doenças.

Jean Carper e outros autores dão indicações que permitem - como ensinava Hipócrates - fazer dos alimentos o nosso remédio. Esse pode ser um plano de saúde preferível aos esquemas convencionais. Mencionemos alguns itens que aumentam a paz do sistema digestivo e a alegria de viver.

* Cabe evitar o consumo de carne de animais mamíferos. Esta maldição da sociedade humana é um forte fator cancerígeno, assim como a gordura nos alimentos.

* A alimentação vegetariana é um fator central para a manutenção da saúde e a obtenção de uma vida longa.

* Fumo e bebidas alcoólicas podem abrir caminho para o câncer.

* O abacate beneficia as artérias, reduz o colesterol e dilata os vasos sanguíneos. É antioxidante, ou seja, evita o envelhecimento e melhora o estado geral da saúde.

* O açúcar deve ser usado com moderação, porque é desmineralizante e reduz as defesas do organismo. Também está ligado ao ciclo da depressão e da tristeza.  

* O alho combate parasitas intestinais, é antibiótico, diminui a pressão arterial e afina o sangue, evitando a formação de coágulos. Previne doenças cardíacas, ajuda a curar a gripe e a prevenir o câncer, e aumenta as defesas do organismo.

* A aveia reduz o colesterol, tem efeitos antidepressivos e é um forte estimulante das funções intelectuais.

* O azeite de oliva protege as artérias e reduz o colesterol ruim.

* A berinjela reduz o colesterol.

* O brócolis tem alta ação anticancerígena, especialmente contra câncer de pulmão, de cólon e de mama. É melhor comê-lo cru ou levemente cozido.

* Cebola é antioxidante, anticancerígena, anti-inflamatória e antibiótica. Combate a bronquite e outros problemas pulmonares. Melhora o sangue, combate o mau colesterol e aumenta o bom colesterol. Deve ser ingerida crua, ou quase.

* A cenoura é um medicamento poderoso. Antioxidante e anticancerígena, ela protege as artérias. Em jejum, ajuda a eliminar parasitas intestinais. Combate a dor no peito (angina), melhora a visão, diminui o mau colesterol e aumenta a imunidade.  

* A couve combate e previne o câncer, é antioxidante e afasta diversas doenças.

* O espinafre, além de antioxidante, é um dos vegetais que previnem o câncer com mais eficácia.  Combate o mau colesterol. Deve ser comido cru ou levemente cozido.

* O gengibre ajuda nas doenças nervosas, afasta a dor de cabeça, a congestão do peito e o reumatismo. Elimina a dor de garganta. É antioxidante e anticancerígeno. É antidepressivo, elimina sentimentos ou pensamentos negativos e protege inclusive de maus pensamentos alheios.

* Lactobacilos e iogurte são benéficos para a vida do intestino.

* O queijo, o leite, a manteiga e toda gordura de origem animal aumentam o perigo do câncer e não fazem bem às artérias.

* Laranja e lima purificam o sangue e protegem a saúde.

* Originário da Ásia, mais precisamente da região que fica entre a Índia e o sudeste dos Himalaias, o limão é grande purificador do sangue. Tem poder curativo sobre numerosos aspectos da vida humana: previne gripes, combate a obesidade, auxilia o fígado, a vesícula e os olhos. É bom para os pulmões, os rins e a bexiga. Cura doenças de pele e ajuda decisivamente os sistemas digestivo e cardiovascular. [4]

* Maçã reduz o colesterol e contém agentes anticancerígenos.

* O mel é antibiótico e tranquilizante. Bom para o coração.

* As nozes previnem o câncer e protegem o coração.

* A pimenta evita coágulos sanguíneos e combate a dor de cabeça. É antiexpectorante e descongestionante.

* A soja tem efeito preventivo em relação ao câncer de mama e de próstata. Diminui o colesterol, e ajuda a impedir e dissolver os cálculos renais.

* A uva tem função anticancerígena e antioxidante, e aumenta o colesterol bom. [5]

Assim como tudo o que está no alto depende do que está embaixo, também o cérebro e o coração de cada um necessitam do bom trabalho da flora intestinal. O que é grande reflete o que é pequeno, e o que é pequeno reflete o que é grande. O todo está eternamente contido em cada uma das suas partes. [6]

A plenitude não resulta do exagero, portanto. Ela surge, isso sim, da moderação e do equilíbrio que acompanham a sabedoria. O clássico do taoismo chinês “Wen-tzu” afirma:

“As pessoas que alcançaram o Caminho não conquistam ganhos equivocados e não passam problemas para os outros. Não abandonam o que é seu e não pegam o que não é seu. Essas pessoas estão sempre plenas, mas nunca passam dos limites; estão sempre vazias, e com pouca coisa já têm o suficiente. Por isso, quando nos adaptamos às medidas corretas através das artes do Caminho, comemos o suficiente para satisfazer a fome e vestimos roupas suficientemente boas para evitar o frio, e assim damos calor e saciedade suficientes para o corpo. Se não temos as artes do Caminho para avaliar as medidas apropriadas e queremos nobreza e posição social, todo o poder e toda a riqueza do mundo não serão suficientes para nos tornar contentes e felizes. Assim, os sábios têm a mente equânime e tolerante. O espírito vital deles é guardado no interior e não se ilude com as coisas.” [7]

Viver é algo que se deve fazer com calma, e os pequenos mistérios bioquímicos - como a silenciosa digestão dos alimentos - são quase sempre mais importantes que os grandes eventos espetaculares. Os pacifistas do início do século 20 gritavam:

“Mais pão e menos canhão!”

E eles estavam certos. As pequenas coisas do cotidiano possuem um efeito silencioso e revolucionário. O pão é preferível ao canhão, e hoje podemos acrescentar que o limão e o abacate são preferíveis às usinas nucleares.

A cenoura, o brócolis e a cebolinha verde são melhores que os mísseis balísticos intercontinentais. O alho, a couve, a rúcula e a berinjela devem substituir os submarinos equipados com armas atômicas. O amor, a alface e os morangos devem ser escolhidos para o lugar do ódio, da inveja e da corrupção na política. O renascimento da civilização humana ocorre a partir das opções de cada indivíduo. O milagre da satisfação interior combina a ética, a chuva, o vento, o olhar sereno e o afeto, e tem como sua base o sol, as nuvens, o respeito pela verdade e as folhas verdes que crescem do solo.




Carlos Cardoso Aveline





Fonte do Texto e da Gravura: do Blog "HelenaBlavatsky.Net"
http://www.helenablavatsky.net

Uma versão inicial do artigo acima foi publicada em julho de 2004 pela revista “Planeta”, de São Paulo.




NOTAS:

[1] “O Cérebro Desconhecido”, de Helion Póvoa, Ed. Objetiva, RJ, 2002, 222 pp., ver p. 37.

[2] “O Cérebro Desconhecido”, obra citada, p. 56. Veja também as páginas anteriores.

[3] “O Cérebro Desconhecido”, obra citada, pp. 162 e 163.

[4] “O Poder de Cura do Limão”, de Conceição Trucom, Editorial Estampa, Lisboa, 2010, 215 pp. Edição brasileira, Ed. Alaúde.

[5] Veja a obra “Alimentação Que Pode Prevenir e Curar o Câncer” (pp. 113 a 137) e também o livro “Alimentação Que Pode Prevenir e Curar Doenças Cardiovasculares” (pp. 117 a 142). Os dois volumes são de Jean Carper e foram publicados por  Alegro/Campus/Elsevier, RJ, 2004. São indispensáveis os clássicos de Alfons Balbach intitulados “As Hortaliças na Medicina Doméstica” e “As Frutas na Medicina Doméstica”, Edições “A Edificação do Lar”, SP.

[6] Veja a este respeito o texto “A Tábua de Esmeralda”, de Carlos Cardoso Aveline. O artigo está disponível em nossos websites associados.

[7] Do livro “Wen-tzu - A Compreensão dos Mistérios”, de Lao-tzu, Ed. Teosófica, Brasília, p. 144.

VIVER BEM

Viver todos temos que viver, mas viver bem, poucos vivem.

Viver não é "curtir a vida" visando apenas a parte material: festas, viagens, sexo desregrado, bebidas alcoólicas e outras drogas etc.

Viver é saber que na vida tudo tem retorno.

É saber ser alegre e se divertir sem se prejudicar e sem prejudicar o próximo, sem se comprometer com a lei divina e é também alegrar a vida dos que convivem conosco neste planeta.

Jesus está nos alertando há mais de dois mil anos que "O plantio é livre, mas a colheita é obrigatória." 

Então, saibamos viver, seguindo o ensinamento do Cristo e também do apóstolo Paulo: "Tudo nos é lícito, mas nem tudo nos convém."




Rudymara






Fonte do Texto e da Gravura: Grupo de Estudo "Allan Kardec"
http://grupoallankardec.blogspot.com.br

PARA AGIR COM SABEDORIA

Visão Altruísta do Mundo Abre as Portas Para o Bom Senso e a Felicidade


Sempre desejamos agir corretamente. Não há quem não queira fazer as coisas da maneira certa. Mas a vida humana é uma constante lição de humildade: basta observar calma e objetivamente os resultados das nossas ações para perceber a quantidade de erros que cometemos.

Às vezes somos impacientes, em outras ocasiões somos preguiçosos. Frequentemente tiramos conclusões apressadas, fazemos injustiças, pensamos bem de gente que não merece para em seguida criticar inocentes. Erramos na vida profissional e na vida familiar. Cometemos equívocos com nós mesmos, e jogamos fora boa parte da nossa energia vital com coisas que não valem a pena.

Por causa disso pode haver uma bênção enorme no simples fato de sentar-se por alguns minutos, abandonar a agitação física e mental, e meditar sobre a antiga arte secreta de agir corretamente. Será possível para nós, portugueses e brasileiros do século 21, errar cada dia um pouco menos? Haverá um modo de viver em que não causemos sofrimento a nós e aos outros? Poderemos abandonar o hábito de criticar a tudo e a todos, optando por uma vida mais construtiva, na qual promovamos ativamente o bem?

É claro que o pior erro que se pode cometer é não fazer nada. Quando tentamos realizar algo, é possível corrigir os erros. Mas quando nada fazemos estamos apenas jogando tempo fora. Eliphas Levi escreveu em um dos seus livros: “Nada fazer é tão funesto como fazer o mal, porém é mais covarde. O mais imperdoável dos pecados mortais é a inércia.” [1]

Sem dúvida. De outro ponto de vista, porém, também é verdade que não há e não pode haver vida humana sem ação. Ler, respirar, permanecer imóvel e conversar são ações tão práticas quanto andar de bicicleta ou plantar verduras em uma horta. Cada ser do universo, pequeno ou grande, tem seu dever, seu potencial, suas várias formas de ação. O desafio não é agir, portanto. É ter consciência e assumir a responsabilidade pelo que se faz.

Segundo o escritor Eliphas Levi, “a vida humana com suas inúmeras dificuldades tem por fim, na ordem da sabedoria eterna, a educação da vontade do homem”. E o grande cabalista francês do século 19 acrescenta:

“A dignidade do homem consiste em fazer o que quer, e em querer o bem, de conformidade com a ciência da verdade. O bem, conforme a verdade, é o justo. A justiça é a prática da razão. A razão é a expressão da realidade.”

Para Eliphas, a ação correta depende de uma vontade firme que busca o que é bom e justo. “Nada resiste à vontade do homem, quando sabe a verdade e quer o bem”, ensina ele. Ao mesmo tempo, a moderação é indispensável e a impaciência pode impossibilitar a vitória: “Querer o bem com violência é querer o mal; porque a violência produz a desordem e a desordem produz o mal.” Ao invés da pressa, a arma do sábio é a paciência:

“Para se ter direito de possuir sempre, é preciso querer pacientemente e por muito tempo.” [2]

Assim, entre as grandes fontes dos erros que cometemos ao longo da vida estão duas características opostas: a preguiça, que provoca o imobilismo, e a pressa, que produz impaciência. Huitang, um mestre da tradição zen budista, faz cinco constatações úteis para aqueles que preferem viver em paz:

“1) Aquilo que tem sido negligenciado desde há muito não pode ser recuperado de imediato.

2) Males que têm se acumulado por longo tempo não podem ser extirpados de imediato.

3) Não se pode estar satisfeito o tempo todo.

4) As emoções humanas não podem ser sempre as corretas.

5) As adversidades não podem ser evitadas pela tentativa de fugir delas.

Qualquer um que trabalhe como instrutor e que tenha percebido esses cinco fatos poderá estar no mundo sem estar aflito.” [3]

O primeiro passo, pois, para quem pretende agir corretamente, é reconciliar-se com o ritmo natural do universo e com a realidade tal como ela é. O segundo passo é agir com calma e inteligência para fazer o melhor possível a partir daquilo que o mundo lhe oferece.

Ter uma boa intenção é fundamental. Mas a verdadeira intenção se conhece pelos fatos e não pelas palavras. O critério da verdade é a prática. A árvore se conhece pelos frutos. Por isso, examinar serenamente as nossas próprias ações é a melhor maneira de perceber quanto de sabedoria e de ignorância existe em nós.

A caminhada espiritual pode começar com leituras, práticas meditativas e reflexões. Mas o buscador deve estar alerta para os perigos do isolamento e do orgulho. Será melhor que as ações práticas altruístas estejam presentes desde o primeiro momento na caminhada espiritual, ao lado da leitura e da meditação. O conhecimento das coisas espirituais, quando não é aplicado ao bem dos outros, fica preso pelos muros altos do egoísmo. A verdadeira sabedoria não se fecha em si mesma e é inseparável da boa vontade para com os outros. O pensador C. Jinarajadasa escreveu:

“As verdades da vida espiritual têm que se transformar. As verdades em que acreditamos devem ser transformadas por nós em verdades que conhecemos em nossas próprias consciências internas (...). Só há um meio pelo qual as verdades adormecidas em nossa natureza humana chegam a ser realidades para a consciência desperta: esse meio consiste em aplicá-las para servir os outros. Meditar sobre as verdades é apenas um processo preliminar, muito parecido com a aprendizagem das letras do alfabeto. Do mesmo modo que a etapa seguinte é unir as letras para formar palavras, também a etapa imediata, depois da meditação, consiste em tornar mais real para a consciência desperta o poder que existe na verdade e que a meditação revelou. Isso ocorre apenas quando nos dedicamos a servir nossos semelhantes. (...) O serviço altruísta, então, não é apenas um modo de ajudar o outro, mas também é essencialmente uma maneira de guiar a nós próprios.” [4]

Essa é a essência do que os orientais chamam de Carma Ioga. Agir corretamente, para a ioga da ação desinteressada, é fazer a coisa certa sem esperar recompensa. É plantar e não pensar na colheita. É contentar-se com a alegria de quem sabe que cumpriu seu dever e está feliz com sua consciência. Nem sempre é fácil colocar essa ideia em prática. Os desafios são variados.

Existe, por exemplo, uma diferença sutil, mas enorme e decisiva entre buscar a felicidade dos outros por uma decisão autônoma, autêntica e soberana, e tratar de agradá-los e obedecê-los violentando e falsificando nossos próprios sentimentos.

Desde a infância, somos ensinados a fazer o que os outros mandam e a não escutar nossa consciência. Deixamos a autenticidade de lado para não contrariar a quem nos dá ordens. Somos vítimas de chantagens emocionais diversas e os mais velhos ou mais poderosos impõem o modo como devemos pensar, sentir e agir. A obediência cega nos é apresentada como altruísmo e bondade, quando é apenas submissão servil, movida quase sempre por alguma forma de medo. É dessa maneira que muitos de nós aprendem a reprimir ou esconder seus pensamentos e sentimentos como o único meio possível de obter a aprovação da família e da sociedade, ou simplesmente de fugir ao castigo que aguarda aquele que pensa por si mesmo. Esse é o amplo caminho falso que leva aos desastres do conflito, da depressão e da hipocrisia. É assim que se provoca a decadência de toda uma sociedade. O filósofo clássico Epicteto ensinou:

“Ao tentar agradar outras pessoas, corremos o risco de nos desviarmos para o que está fora da nossa esfera de influência. Agindo assim, perdemos o domínio sobre o propósito da nossa vida. Contente-se em ser alguém que ama a sabedoria, que busca a verdade. Volte quantas vezes for necessário para o que é essencial e valioso. Não tente parecer sábio aos olhos dos outros. Se quer viver uma vida de sabedoria, viva de acordo com suas próprias condições e procure ser sábio a seus próprios olhos.” [5]

A ação altruísta mencionada por C. Jinarajadasa não significa, portanto, que devemos abandonar nossa autonomia, suprimir nossa vontade, deixar de lado nossos sentimentos ou optar pela obediência automática. A ação correta significa fazer o melhor possível de acordo com o nosso próprio critério, e obedecer apenas à voz da nossa consciência e do nosso coração. Fazer o bem deve ser uma decisão independente, livre de todas as formas de coação. A ação eficaz também necessita do desenvolvimento da atenção. Para Epicteto, “o mal não é um elemento natural no mundo, nos acontecimentos ou nas pessoas. O mal é um subproduto da negligência, da preguiça, da distração: surge quando perdemos de vista nossa verdadeira meta na vida. Quando lembramos que nossa meta é o progresso espiritual, voltamos a nos empenhar por nosso aprimoramento pessoal e mantemos o mal à distância. E é assim que se conquista a felicidade.” [6]

A observação atenta nos mostrará que toda a sabedoria e toda a ignorância da humanidade estão dentro de nós. É verdade que podemos fugir do mundo para viver em meditação e oração. Mas a ignorância irá junto conosco para o nosso retiro, mesmo que ele seja feito em uma montanha longínqua ou em um mosteiro isolado. Ter uma existência produtiva, ainda que nossa tarefa seja humilde e anônima, tem mais valor do que a autoilusão do meditador egoísta.

Uma vida ativa, porém, não significa agitação. Quem atua de modo seletivo, interferindo nas questões realmente importantes, preserva seu equilíbrio interno e consegue que o essencial seja feito. “Quando você tem poucas tarefas, naturalmente os seus sofrimentos são poucos”, ensina um antigo tratado taoista. “Quando as suas palavras são poucas, naturalmente os problemas são poucos. Quando você come pouco, naturalmente fica menos doente. Quando você tem poucos desejos no coração, naturalmente tem poucas preocupações.” [7]

Para agir com eficácia, também devemos estabelecer e manter um equilíbrio correto entre esforço e descanso, ação e inação, palavra e silêncio, tensão e relaxamento. Esses vários fatores são indispensáveis para o êxito e a felicidade, mas é necessária uma boa dose de talento para combiná-los de modo adequado.

Um dos fatores decisivos para agir corretamente é o discernimento, que permite distinguir o que é verdadeiro e o que é falso. Uma obra taoista clássica, atribuída a Lao-tzu, explica:

“Todos os pontos de vista de uma pessoa, todos os conceitos sobre avida e todas as convicções religiosas são uma manifestação de sua energia. Se a mente de uma pessoa sofreu severo condicionamento, é como se ela medisse tudo com uma régua torta: a essa pessoa não é dado jamais medir o que quer que seja com exatidão. Ela deve endireitar e aperfeiçoar seu instrumento de medida, pois, se um instrumento é defeituoso, a pessoa não pode perceber o real com precisão. Quando o sistema nervoso de um ser humano é corrigido e aperfeiçoado, ele se torna sereno e objetivo. Então, é possível ver claramente e descobrir que, embora haja diversidade no universo, há unidade por trás dessa diversidade.” [8]

Ação e discernimento são inseparáveis. É agindo que ganhamos a experiência necessária para saber situar-nos corretamente nas situações práticas da vida. E só tendo discernimento podemos obter bons resultados com as nossas ações. A ação correta que resulta disso se dá em todos os níveis simultaneamente, do individual ao coletivo. Quem governa a si mesmo também pode inspirar ou liderar outras pessoas, tanto na família quanto no trabalho, na associação comunitária e no grupo espiritualista. Mas a base do discurso é a prática. O ensinamento deve vir primeiro pelo exemplo, e só depois pelas palavras.

Vejamos um exemplo. A tradição budista conta que, muito tempo atrás, havia um rei notavelmente bem-sucedido na tarefa de governar seu país. Ele era conhecido como “o rei da grande luz”. Certa vez pediram a ele que descrevesse, em poucas palavras, a arte de liderar um povo. E ele disse:

“A melhor maneira de governar um país é, em primeiro lugar, governar a si mesmo. O governante deve colocar-se diante de seu povo com um coração cheio de compaixão, e deve ensinar e liderar as pessoas na tarefa de remover todas as impurezas das suas mentes. A felicidade que surge dos bons ensinamentos é muito maior que a satisfação oferecida pelas coisas materiais e mundanas. Portanto, ele deve dar bons ensinamentos a seu povo e manter as mentes e os corpos das pessoas em um estado de tranquilidade.” [9]

Quando as elites governantes de um país são decadentes e irresponsáveis, e quando os dirigentes públicos governam através de fraudes e mentiras, o povo pobre segue o exemplo dos seus líderes e os crimes e a violência se espalham pelo país. Por outro lado, sempre que há líderes honestos - seja em um pequeno grupo de pessoas ou num grande país - o exemplo positivo também se espalha e assim surge um clima de justiça, harmonia e bem-estar. A esse respeito, o antigo “rei da grande luz” ensinou algo que vale também para a educação dos nossos filhos:

“Quando as pessoas pobres vêm até o governante, ele deve abrir seus armazéns e deixar que levem o que quiserem, e depois aproveitar a oportunidade para ensinar às pessoas a sabedoria que existe em libertar-se de toda cobiça e de toda maldade.” [10]

Isso não significa que você deve dar literalmente todo seu rendimento mensal para que seus filhos o gastem como quiserem, nem que um empresário deve aumentar os salários dos seus empregados de modo irresponsável. Tampouco é recomendável que o presidente de um país tome medidas que favorecem o povo mas que não são sensatas e viáveis a longo prazo. “Abrir seus armazéns e deixar que as pessoas levem o que quiserem” significa compartilhar, solidariamente, a sorte do povo trabalhador. Significa dar um exemplo pessoal de desapego em relação aos bens materiais, ter como meta o bem-estar das pessoas, e nunca roubar a nação como um ladrão e um traidor.

Assim, a eficiência na ação é inseparável da justiça e da solidariedade que devem surgir do coração. A visão altruísta do mundo aumenta nossa sensibilidade, clareia nossa visão e livra-nos das distorções causadas pela cobiça e pelo medo. Desse modo se abrem as portas para o bom senso e a felicidade.




Carlos Cardoso Aveline





Fonte: do Blog "HelenaBlavatsky.Net"
http://www.helenablavatsky.net
Fonte da Gravura: Tumblr.com
O texto acima foi publicado inicialmente na revista “Planeta” de São Paulo, e mais tarde na revista “Bodigaya”, de Porto Alegre, em sua edição número 19.




NOTAS:

[1] “A Chave dos Grandes Mistérios”, Eliphas Levi, Ed. Pensamento, SP, p. 213.

[2] “A Chave dos Grandes Mistérios”, Eliphas Levi, obra citada, pp. 209-212.

[3] “A Arte da Liderança, Ensinamentos Zen”, Thomas Cleary, Editora Siciliano, SP, p. 49.

[4] C. Jinarajadasa, em mensagem publicada na revista “El Teósofo”, Córdoba, Argentina, na edição de fevereiro-março de 1950.

[5] “A Arte de Viver”, Epicteto, versão de Sharon Lebell, Ed. Sextante, RJ, p. 57.

[6] “A Arte de Viver”, Epicteto, obra citada, p. 63.

[7] “Meditação Taoísta”, obra compilada por Thomas Cleary, Ed. Teosófica, Brasília, p. 40.

[8] “Hua Hu Ching, Os últimos ensinamentos de Lao Tzu”, de Hua-Ching Ni, Ed. Pensamento, SP, ver pp. 76-77.

[9] “The Teaching of Buddha”, coletânea budista editada pela instituição japonesa Bukkyo Dendo Kyokai, de Tóquio, em 1966, e que tem 307 pp. Veja, ali, a p. 231.

[10] “The Teaching of Buddha”, obra citada, p. 231.