sábado, 2 de dezembro de 2023

TEMPO DO ADVENTO (Parte 1)


Entre nós (Igreja Católica Liberal), assim como nas Igrejas de Roma e da Inglaterra, o Domingo do Advento é o que poderíamos considerar o dia de Ano Novo Eclesiástico. A Santa Igreja Oriental (ou seja, a Igreja da Grécia e Rússia) segue o mesmo costume, mas segue o calendário não revisado e desta forma ele começa todas as suas comemorações doze dias depois de nós.

A primeira grande festa do ano eclesiástico é a do nascimento do Cristo, que corresponde e nos ensina que é a primeira dos grandes Iniciações. Mas a Igreja, na sua sabedoria, providenciou que para cada um dos grandes festivais há um certo período de preparação, e consequentemente, antes da festa de Natal temos o período do Advento, e que tem, sem dúvida, um duplo aspecto, do qual o primeiro é o de ser um momento de preparação para a celebração adequada do Natal.

Não é uma mera figura de linguagem dizer que durante o período do Advento devemos nos preparar para essa festividade. Natal não é apenas um aniversário, uma comemoração do nascimento de Nosso Senhor, é também um período de especial efusão de força espiritual. As grandes festividades como a Páscoa e o Natal, quando todos nos sentimos unidos, aguardando ansiosamente a sua chegada e regozijando-se com isso, são claramente ocasiões para o que comumente chamamos de derramamento da Graça do alto; e para que possamos nos beneficiar plenamente de tal derramamento, é bom aproveitar esse período de ajuste. Receberemos mais se nos prepararmos de forma adequada. Portanto, durante o período do Advento, devemos nos acostumar a pensar diariamente na vinda do Senhor e na Iniciação que isso simboliza.

Os quatro domingos do Advento são dedicados, pelos místicos da Escola Interna do Cristianismo, à contemplação das quatro qualidades necessárias para a primeira Iniciação: Discernimento, Ausência de Desejo, Boa Conduta e Amor; mas nos serviços da Igreja moderna não há nenhum vestígio dessa disposição, com exceção do antigo costume de substituir o rosa pelo violeta como cor para o terceiro domingo. Como é explicado em nossa liturgia (e com mais detalhes em "A Ciência dos Sacramentos" (1)) a Igreja utiliza diferentes gamas de vibração, que são mostrados aos nossos olhos físicos como cores, para ajudar a imprimir na mente da congregação as várias lições que devem ser aprendidas sucessivamente ao longo do ano. Durante os períodos preparatórios (Advento, Quaresma e Vigílias dos Dias Santos) a cor escolhida como mais útil é o roxo, pela sua qualidade actínica (2), penetrante e purificadora. Mais ou menos na metade do Advento e da Quaresma, encontramos um domingo para os quais a cor rosa é prescrita e em razão disso foi sugerido vários argumentos. Devido a certos mal-entendidos curiosos, eles chegaram a considerar esses períodos preparatórios como períodos de penitência e dor, e supos-se que a cor rosa para o domingo foi introduzida como uma espécie de mitigação da pena, um alívio momentâneo em meio às austeridades. Uma teoria mais verdadeira é que, visto que o nosso amor por Deus é a única razão eficaz para tentar a autopurificação, a mudança repentina de cor no meio do período (de cor roxa) pretende nos lembrar daquele profundo e verdadeiro afeto que deve fundamentar e permear todos os nossos esforços, se é que há alguma esperança de seu sucesso permanente. Quanto menos isso fica como um mero lembrete da alegria que devemos ter durante todo o período, pois não é chorando em vão pelos nossos pecados, mas resolvendo seriamente colocá-los de lado, é a maneira que podemos nos preparar para aproveitar ao máximo a festividade gloriosa que se aproxima.

A Igreja Católica sempre reconheceu a dupla natureza do período do Advento, que é uma preparação para a próxima vinda de Cristo, bem como para celebrar Seu nascimento em Sua última vida na Terra. As Igrejas de Roma e da Inglaterra falam desta segunda vinda e ordenam solenemente ao seu povo preparar-se para isso; no entanto, há muito mal-entendido sobre isso. Nas Escrituras Cristãs, esta segunda vinda está enredada com a ideia de fim do mundo, de modo que as pessoas que esperam pela segunda vinda de Cristo geralmente pensam nisso como o fim de toda a ordem que se conhece e, portanto, a maioria a teme. Em sermões e hinos relacionados à vinda, ainda persiste um ar de medo de algo terrível descendo do céu físico, acompanhado por fenômenos meteorológicos terríveis. A atitude geral se vê representada em alguns dos hinos do Advento que essas pessoas cantam:

"Os perversos, com medo de suas culpas, contemplam sua fúria dominadora; buscando piedade permanecem, mas todas as suas lágrimas e suspiros são inúteis."

E eles falam de si mesmos como “lamentando-se profundamente”, “curvando-se em profunda humilhação” etc. Deveria ficar perfeitamente entendido que todos esses tipos de coisas não são apenas estúpidas, mas definitivamente cruéis e blasfemas, e os homens que ensinam tais horríveis desfigurações da verdadeira doutrina cristã, deveriam assumir uma responsabilidade muito séria, porque, sem dúvida, difamar o nosso Divino Pai e degradar a concepção que Ele tem de Seus filhos, é um crime de grande magnitude.

É claro que não existe nada disso entre os verdadeiros místicos, que sempre souberam que Deus é amor e nunca temeram a manifestação de Sua Presença, porque sabem que, quer o vejam ou não, Ele está sempre com eles até o fim dos tempos.

Todo temor a Deus vem de um equívoco. A vinda de Cristo está certamente relacionada com um término; mas não é o fim do mundo, mas o fim de uma era ou dispensação. A palavra grega é AION, (...) e assim como Cristo disse há 2.000 anos que a dispensação da lei judaica havia chegado ao fim - porque Ele havia chegado a instituir uma nova dispensação, a dos Evangelhos - da mesma forma que a dispensação dos Evangelhos chegará ao fim quando Ele vier novamente para criar outra. Ele dará sempre o mesmo ensinamento, o ensinamento DEVE ser sempre o mesmo, porque só existe uma Verdade, embora talvez declarada de uma forma diferente, um pouco mais clara para nós agora, porque aprendemos algo mais. Será representada em alguma nova roupagem, talvez, com uma certa beleza na expressão que será exatamente adequada para nós nos dias atuais; haverá alguma exposição dela que atrairá a atenção de muita gente.

Certamente será igual, porque apareceu em todas as religiões existentes. Os métodos para apresentá-la são muito diferentes, mas todas as religiões estão em absoluto acordo sobre o tipo de vida que exigem dos seus fiéis. Encontramos uma diferença considerável entre o ensino exotérico do Cristianismo, Budismo, Hinduísmo e Islamismo; mas se olharmos os homens santos de qualquer uma dessas religiões e se investigarmos as suas práticas diárias, descobriremos que todos vivem precisamente da mesma maneira, e que todos estão de acordo em relação às virtudes que um homem bom deve possuir e os males que deve evitar. Todas as religiões nos dizem que o homem deve ser caridoso, verdadeiro, gentil, honesto e prestativo para com os necessitados; nos ensinam que um homem de coração duro, ganancioso e cruel, o homem falso e desonesto não terá nenhum progresso ou qualquer chance de sucesso até mudar seu modo de vida. Como pessoas práticas, devemos reconhecer que as coisas\verdadeiramente importantes em qualquer religião, não são as vãs especulações metafísicas sobre assuntos em que ninguém pode realmente saber algo com certeza, pois isso não influencia nosso comportamento; as coisas importantes são os preceitos que afetam nossa vida diária, que nos converte neste ou naquele tipo de homem em nossos relacionamentos com os outros. Estes preceitos são os mesmos em todas as religiões existentes; e eles serão os mesmos no próximo ensinamento, seja ele qual for.

Talvez possamos avançar um pouco mais na previsão do que Ele talvez nos ensinará, porque temos abertas para nós algumas fontes de informação. Uma delas é o estudo dos ensinamentos que Ele deu anteriormente. Os alunos se lembrarão que antes de que este Instrutor do mundo tomasse cargo, ele era exercido pelo Senhor Gautama, a quem os homens o chamam de o Buda. Seu título especial era SENHOR da SABEDORIA. Deixou muitos ensinamentos, mas todos eles centrados na ideia de que o conhecimento significava salvação, que os males do mundo vieram da ignorância e que através da ignorância os homens são levados a desejar, e através do desejo, a todos os tipos de pecados e sofrimentos; mas que se o homem dispersar a ignorância e vier a possuir o perfeito conhecimento, alcançará uma vida perfeita e atitude perfeita em relação a todos os homens e a todas as circunstâncias e assim escaparão da roda do nascimento e morte.

(continua na parte 2)



+ Charles Webster Leadbeater



Fonte: do livro "El Lado Oculto de los Festivales Cristianos"
Igreja Católica Liberal
https://www.catolicaliberal.com.br/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/advento-velas-de-advento-velas-1883840/



Notas:
1- "A Ciência dos Sacramentos", livro de Charles Webster Leadbeater
2- Radiações que provocam uma ação química (raios ultravioleta); influência

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