terça-feira, 12 de março de 2013

MUITOS REZAM... (O CAMINHO ESPIRITUAL)

Muitos rezam: "Que seja feita a Tua vontade, e não a minha"; mas até que ponto estamos realmente preparados para cooperar para a realização de um plano que não é o nosso, mas de HaShem (Deus)? 

É uma constatação estatística que as congregações aumentam em época de crise. Sentindo-se abandonadas, as pessoas procuram um abrigo sob Suas asas na expectativa que esta demonstração de resignação e humildade sirva de solução para todos os problemas. 

Ao entrarmos no caminho espiritual, criamos muitas expectativas sobre os benefícios que aquilo irá nos trazer. Achamos que será o fim dos nossos problemas. Logo no início, realmente sentimos alguma melhora, porém, após este momento, os problemas voltam, às vezes até em maior quantidade. 

As coisas nem sempre acontecem do jeito que esperamos e a nossa incapacidade de perceber as coisas como um todo pode ser um grande obstáculo. Nesta hora muitas pessoas questionam o caminho espiritual e alguns chegam a abandoná-lo. 

Embora se repita "seja feita a Sua vontade", o ego, de modo geral, tem os seus próprios planos, e se as coisas saem do script é muito fácil que sentimentos contraditórios de frustração, indignação, raiva etc. despertem, piorando o que já não estava muito bom. 

Isto acontece porque as pessoas não percebem o verdadeiro significado do caminho espiritual. HaShem não pode ser comprado. Ele não necessita de nossas ofertas e orações. Tudo o que acontece ao nosso redor tem por objetivo o nosso refinamento pessoal, a extração das "clipot" (cascas/resíduos) que limitam a nossa percepção da realidade como ela é. A espiritualidade não irá resolver os nossos problemas nem diminuí-los, mas sim nos dar ferramentas para desenvolver o nosso refinamento pessoal. 

A palavra-chave hoje é Confiança. Ou você confia ou você não confia. Não dá para confiar pela metade ou confiar pela manhã e não confiar à tarde... Quando nos entregamos a um caminho espiritual devemos estar preparados para tudo, pois esta confiança será testada, tenha certeza disso. 

O segredo é descobrir qual o propósito que se esconde em cada circunstância, o fardo que recusamos assumir. Assim, o que muda não são os problemas, mas a forma como eles nos afetam e como nós reagimos a eles. 

O refinamento pessoal no caminho espiritual é essencial para melhorarmos a nossa qualidade de vida e podermos servir melhor a HaShem.


Rav Mario Meir


Fonte: Academia de Cabala
www.academiadecabala.com.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

segunda-feira, 11 de março de 2013

SENTIMENTOS NEGATIVOS SOBRE O CORPO


Comentaram com Osho: “Não gosto de mim mesmo, especialmente do meu corpo.”

Se você tem uma ideia fixa acerca de como o corpo deveria ser, viverá infeliz. Esse é o corpo que você tem, é o corpo que Deus lhe deu. Use-o e aproveite-o! Se você decidir amar seu corpo, vai descobrir que ele começará a mudar, porque, se a pessoa ama o corpo, passa a cuidar dele, e o cuidado é tudo.

Se você cuidasse dele, não o empanturraria de comida sem necessidade. Também não o deixaria passar fome. Quando você se preocupa com seu corpo, entra em sintonia com ele e, automaticamente, ele fica bem.

Se não gosta dele, isso causará um problema, porque, pouco a pouco, você vai ficando indiferente, negligenciando-o - afinal, quem se importa com um inimigo? Você não o olhará, o evitará. Deixará de ouvir suas mensagens e o odiará ainda mais.

Assim, estará criando um problema. O corpo nunca cria problemas; é a mente que os cria. Nenhum animal sofre por causa de qualquer ideia sobre o corpo, nem mesmo o hipopótamo! Eles são absolutamente felizes porque não existe uma mente cultivando uma ideia fixa. Do contrário, o hipopótamo pensaria: “Por que sou assim?”

Deixe de lado seu ideal e ame o seu corpo. Ele é seu, é uma dádiva de Deus.

Você deve desfrutá-lo e cuidar dele. Ao cuidar dele, você se exercita, come e dorme. Ao se preocupar, você toma muito cuidado com ele, porque é o seu instrumento, assim como o seu carro, que você manda lavar, que observa à procura de ruídos estranhos, tentando perceber se algo está errado. Você toma cuidado até para que seu corpo não sofra um arranhão.

Apenas cuide do seu corpo e ele ficará belo! Trata-se de um mecanismo tão bonito, tão complexo e que trabalha com tamanha eficiência que permanece ativo durante muitas décadas, continuamente. Esteja dormindo ou acordado, consciente ou não, mesmo sem receber seus cuidados, seu corpo funciona em total silêncio. Seja grato.

Mude sua atitude e verá que, em seis meses, seu corpo mudará de forma. É mais ou menos como acontece quando alguém se apaixona por uma mulher: ela imediatamente se torna mais bonita. Ela fica diante do espelho por horas porque alguém a ama!

O mesmo acontece quando você ama seu corpo: ele começa a mudar. Ele é amado, tem alguém que cuida dele, é necessário. O corpo é um mecanismo muito delicado - as pessoas o usam de uma forma muito cruel, violenta.

Mude sua atitude e veja o que acontece!


Osho, em "Corpo e Mente em Equilíbrio"




Fonte: www.palavrasdeoso.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal


LILITH


MASCULINO/FEMININO

Na origem de todos os povos do mundo sempre existiu a tradição de um casal fundador da raça humana. A maioria são casais-deuses, exceto nas religiões patriarcais, como a cristã, onde um único Deus masculino formou todas as coisas e seres.

Entretanto, ao estudar a espiritualidade hebraica, através da Cabala, nos é ensinado que o grande deus monoteísta não é do sexo masculino, mas é completo em si mesmo, o que existem são divisões de gênero, inclusive é uma insolência lhe dar aspecto humano, pois sua essência é luz pura. E desde quando luz tem sexo?

Mas como sabemos vivemos num mundo bipolar e é por isso que nossa Divina Arquiteta teve a iluminada ideia de semear o amor no terreno fértil de nossos corações, para que pudéssemos andar lado a lado, sempre em casais e nunca sozinhos.

Ao se estudar Carl Jung descobriremos que dentro de cada homem há uma mulher (anima) e em cada mulher há o princípio masculino (animus). Este eterno jogo de yin-yang se ajusta e se completa. Portanto, nenhum indivíduo é inteiramente masculino ou inteiramente feminino.

Cada um de nós é composto dos dois elementos e esses dois constituintes estão frequentemente em conflito. O princípio feminino ou "Eros" é universalmente representado pela Lua e o princípio masculino ou "Logos" pelo Sol. O mito da criação no Gênesis afirma: Deus criou duas luzes, a luz maior para reger o dia e a luz menor para reger a noite. O Sol como princípio masculino é o soberano do dia, da consciência, do trabalho e da realização, do entendimento e da discriminação conscientes, o Logos.

A Lua,  o princípio feminino é a soberana da noite, do inconsciente. É a deusa do amor, controladora das forças misteriosas que fogem à compreensão humana, atraindo os seres humanos irresistivelmente um para o outro, ou separando-os inexplicavelmente.  Ela é o Eros, poderoso e fatídico e totalmente incompreensível.
                      
Na natureza, o princípio feminino ou a deusa feminina mostra-se como uma força cega, fecunda, cruel, criativa, acariciadora e destruidora.

É a fêmea das espécies mais mortal que o macho, feroz em seu amor como também com seu ódio.

Esse é o princípio feminino na forma demoníaca. O medo quase universal que os homens têm de cair sob o domínio ou fascinação de uma mulher e a atração que esta mesma servidão têm para eles, são evidências  de que o efeito que uma mulher produz num homem é, em geral realmente de caráter demoníaco.

Essa imagem repousa tão somente, na natureza da própria "anima" do homem ou alma feminina, sua imagem interior do feminino. A "anima"' não é uma mulher, mas um espírito de natureza feminina, que reflete as características do lado demoníaco, tanto glorioso, como terrível. Na vida cotidiana o homem não entra diretamente em contato com o princípio masculino duro, predatório, mas encontra-o sob a máscara humana, mediado pela sua função superior.

Mas o feminino dentro dele não é mediado através de uma personalidade humana culta e desenvolvida.

O princípio feminino, a Deusa Lua, age sobre ele diretamente do inconsciente, aproximando-se como um traidor que vem de dentro. Não é de admirar tanto medo e desconfiança!


O LADO OBSCURO DE LILITH

Se Eva se acusou de ter atraído a morte, o pecado e a tristeza ao mundo, Lilith já era demoníaca desde que foi criada. Lilith surgiu do intento de compreender a diferença entre os mitos da criação de Gênesis, já que em sua primeira história em Gênesis 1, homem e mulher são criados iguais e conjuntamente, enquanto na segunda história, em Gênesis 3, a mulher é criada depois do homem e a partir de seu corpo. Segundo as lendas, Lilith era a primeira esposa, que era bem pior que a segunda. No entanto, a figura escolhida para desempenhar esse papel na lenda judia era originariamente suméria, a resplandecente "Rainha do Céu", cujo nome "Lil" significava "ar" ou "tormenta". As vezes se tratava de uma presença ambígua, amante dos "lugares selvagens e desabitados", associada também com o aspecto obscuro da Deusa Inanna e com sua irmã Ereshkigal, Rainha do Mundo Subterrâneo". Aparece pela primeira vez no poema sobre Inanna, quando o herói Gilgamesh tala a árvore de Inanna:

"Gilgamesh golpeou a serpente que não podia ser encantada.

O pássaro Anzu voou com suas crias às montanhas;

e Lilith aniquilou seu lar e retirou-se aos lugares selvagens e desabitados."


"Lil" também era a palavra sumero-acádia que designava a "tormenta de pó" ou "nuvem de pó", um termo que também se aplicava aos fantasmas, cuja forma era uma nuvem de pó e cujo o alimento era supostamente o pó da terra. Na língua semítica "liliatu" era então "a criada de um fantasma", porém prontamente se fundiu com a palavra "layil", "noite", e se converteu em uma palavra que se designava a um demônio noturno.

A "lílít" do texto hebraico se traduz na versão grega de Septuaginta e por Lamia na Vulgata latina de São Jerônimo. As "lamiae" são muito conhecidas nas tradições gregas e latinas, como monstros voadores noturnos, que sempre aparecem sob o aspecto de pássaros. A maioria dos autores, afirma que as lamias são monstros femininos que devoram homens e crianças. Portanto, as lamias e Lilith têm muitos pontos em comum e foram convertidas em "vampiras".

No mito hebreu, Lilith, portanto, acumulou sem descanso todas as associações à noite e à morte. É possível que a imagem hebréia  de Lilith se baseasse nas imagens de Inanna-Isthar como Deusa das grandes alturas e de grandes profundidades, porém, compreensivelmente rebaixada ao ser percebida desde o ponto de vista de um povo deportado à BABILÔNIA.

Só há uma referência à Lilit, como coruja, no Antigo Testamento. É encontrada no meio de uma profecia de Isaías. No dia da vingança de Yahvé, quando a terra se envolverá num deserto,"e um sátiro chamará o outro; também ali repousará Lilith e nele encontrará descanso." Inanna e Isthar eram chamadas de "Divina Senhora Coruja" (Nin-nnina Kilili). Isso pode explicar de onde provêm Lilith e porque era representada como uma coruja.

Uma versão da Criação de Lilith na mitologia Hebréia conta que Yahvé fez Lilith, como a Adão, porém no lugar de usar terra limpa, "tomou a sujeira e sedimentos impuros da terra, e deles formou uma mulher. Como era de se esperar, essa criatura resultou ser um espírito maligno". Lilith se converteu a posteriori na primeira esposa de Adão, cuja presença original nunca terminou de eliminar-se totalmente de de seu segundo matrimônio. O que falhou no primeiro foi obviamente a independência de Lilih e sua igualdade com Adão, por isso depois criou-se Eva. Em consequência, a lenda tacha de insubordinação a atitude por parte de Lilith, pois, segundo a história, se negava a aceitar seu "lugar apropriado" que aparentemente era permanecer debaixo de Adão durante a relação sexual:

"Por que teria que ficar debaixo de ti quando sou tua igual, já que ambos fomos criados de barro?", pergunta ela. Adão não sabe contestar essa pergunta, de maneira que, pronunciando o nome mágico de Deus e Lilith se foi voando pelos ares até o Mar Vermelho. Ali dá à luz a mais de 100 demônios por dia.

Adão fala de sua esposa a Yahvé, e esse enviou a sua procura os três anjos: Senoi, Sansenoi e Samanglof, que a encontraram nas margens do Mar Vermelho, onde mais tarde as tropas egípcias seriam engolidas por ordem de Moisés.

Lilith se negou a voltar a ocupar seu lugar junto de Adão e ameaça dizendo que possui poder de matar crianças. Então os anjos tentaram afogá-la no Mar Vermelho, porém Lilith advogou em causa própria e salvou sua vida com a condição de jamais causar dano a uma criança recém-nascida de onde viera seu nome escrito.

Finalmente Yahvé deu a Lilith, Sammael (Satã), e ela foi a primeira das quatro esposas do diabo e a perseguidora dos recém-nascidos.

Mas, em consequência dessa fala, a ordem divina se converteu no centro de todas as fantasias de terror que provoca a sensação de indefesa. Lilith poderia aparecer em qualquer momento da noite, ela ou algum de seus demônios, para levar uma criança, aterrorizando os pais dos pequenos. Podia também possuir um homem durante o sono. Esse constataria que havia caído debaixo de seu poder se encontrasse restos de sêmen ao despertar. É difícil evitar concluir que Lilith se converteu em uma imagem de desejo sexual não reconhecido, reprimido e projetado sobre a mulher, que se converte em sedutora. Por todos os lugares foram encontrados amuletos contra o "poder" de Lilith.

Através da figura de Lilith, na cultura hebréia, a divisão e polarização da Grande Mãe em seus aspectos, a Deusa que dá a vida e a Deusa que atrai a morte, é levada um pouco mais longe. Ao terror do sofrimento inexplicável que pode manifestar-se sem aviso prévio e se insere uma dimensão nova da demonização da sexualidade.

O mito em Gênesis, estabelece que é a infração do mandamento de Yahvé, e não a sexualidade, a causa da expulsão do Paraíso à condição humana; e o conhecimento do bem e do mal, que alcançaram através da desobediência, tampouco se pode explicar em termos de conhecimento sexual. No entanto, tanto a desobediência como o conhecimento se associaram com a sexualidade porque a primeira coisa que Adão e Eva "viram" quando "seus olhos se abriram" foi que estavam nus. Antes disso, andavam nus e sem vergonha. A nudez, portanto, se converteu em sexualidade pecaminosa, especialmente quando a serpente fálica entra na especulação teológica. Em certas ocasiões a serpente era identificada como Lilith e se desenhava a serpente com um corpo de mulher, interpretando-se que a dita criatura era Lilith. Outras vezes a serpente tinha um rosto como o de Eva. Por esta razão, uma percepção da sexualidade como algo "não divino", invade as lendas de Lilith como aspecto escuro de Eva.

Mas, o papel de Lilith parece não terminar quando se une a Satã, aliás, muito pelo contrário. Segundo Zohar (Hhadasch, seção Yitro, p.29), depois participa da perdição de Adão, ao qual Yahvé (Jehová) concede como segunda esposa a Eva, nascida da sua própria costela, ou seja, à imagem do homem, o reflexo do homem, ou a imagem castrada de Adão. "Depois de que o Tentador (Sammael) houvera desobedecido ao Santíssimo, bendito seja, o Senhor o condenou a morrer". A Cabala faz eco desta tradição (Livro Emek-Ammelehh, XI), que Sammael será castigado: "Esse dia, Yahvé visitará com sua terrível espada a Leviatã, a serpente insinuante, que é Sammael, e a Leviatã, a serpente sinuosa, que é Lilith.

Esse texto nos diz que tão somente Lilith está incluída no castigo junto com Sammael e não as outras três esposas e que Lilith também apresenta o aspecto de serpente. O que se conclui é que Lilith está reprimida no inconsciente e, quando surge, coloca a sociedade paternalista em xeque. Assim, quando Eva convida Adão para comer a maçã, é das mãos de Lilith que a receberá.



LILITH, MÃE DE ADÃO?

Pode parecer até exagerado achar que Lilith foi mãe de Adão, mas Adão tinha que ter uma mãe, senão não seria humano. E, se Adão não conheceu uma mãe material, deveria ter a imagem dela para si mesmo. Talvez seja por esse motivo que o nome de Lilith tenha desaparecido do texto oficial da Bíblia. Estaria em desacordo com as normas cristãs Adão ter uma mãe e essa mãe ter sido sua esposa. E a rejeição de Lilith pela companhia de Adão, não poderia ser interpretada como um desmame? De todas as formas, a equivalência de esposa e mãe existe. "A noção de proibição havia sido deslocada do jogo genital ao feito de chupar o peito (comer a maçã)... O verdadeiro sentido é: "podemos comer da maçã, porém está proibida para o filho que tenha contato sexual com sua mãe"...

Quem é Lilith então? Para Adão é um primeiro objeto de amor, do qual deve acordar-se e descobrir seu sexo. Ou seja, Lilith representa o primeiro estágio de desenvolvimento de Adão, chamado matriarcal e governado pelo arquétipo da "mãe", que será seguido pelo estágio patriarcal, no qual o arquétipo do pai será dominante. A expressão "estágio patriarcal" significa que Adão alcançou um nível de desenvolvimento do ego e da consciência no qual se dá uma importância crescente à vontade, à atividade, ao aprendizado e aos valores transmitidos pelo mundo. Entretanto, sem a separação, que levará Lilith para longe, Adão não poderia se desenvolver e se tornar adulto. Mas nessa transição da fase matriarcal para a patriarcal, o arquétipo anteriormente dominante da mãe é constelado de tal modo que seu lado "negativo" aparece. O arquétipo da fase a ser superada aparecerá como a "Mãe Terrível". Lilith começa então a provocar medo, porque representa o elemento que "reprime" e que dificulta o desenvolvimento necessário e devido. Por isso é transformada novamente na serpente é a antítese da energia ascendente do desenvolvimento do ego, tornando-se então, símbolo de estagnação, regressão e morte.

Lilith com rabo de serpente era a imagem da divindade andrógina, antes da criação, ou seja, antes do aparecimento do desejo, antes da separação do ser primitivo e absoluto, portanto, equivalente ao nada, de acordo com as teses de Hegel. Essa imagem representa a reminiscência da Lilith primitiva. Porém ela se converteu em pássaro noturno e alçando voo desapareceu entre as trevas. Sua segunda forma, como corresponde a uma imagem desprovida de elementos terrestres, é uma forma para ficar na memória. O mito não é teológico, é essencialmente social. Em uma sociedade paternalista, Lilith é reprimida para dar lugar a Eva. Portanto, Eva representa a mulher moldada pelo homem.

Eva, entretanto, é uma mulher incompleta, lhe falta algo: o aspecto de Lilith que toma as vezes, quando se rebela, o aspecto que irá tomar Eva ao comer a maçã.

A Eva, como mulher, está totalmente alienada, não é nada mais do que a imagem castrada de Jehová e de Adão e não a imagem da parte feminina de Deus. Eva é uma mulher muda, a sombra de uma mulher, quase um fantasma. A mulher real é Lilith.


A REBELDIA DE LILITH

Cuidadosamente apagada da Bíblia cristã, Lilith permanece como símbolo de rebelião à repressão do feminino na psique e na sociedade. O mito Lilith mostra bem a passagem do matriarcado para o patriarcado.

Tanto na literatura ortodoxa como na apócrifa, a sombra de Lilith seguiu cercando as mulheres até o século XV d. C. Nessa época, e utilizando as mesmas imagens incorporadas em Lilith, milhares delas foram acusadas de copular com o demônio, matar crianças e seduzir homens, ou seja, de serem bruxas.

Textos da literatura judia de fontes apócrifas, não incluídos no canon ortodoxo do Antigo Testamento, contêm passagens como a seguinte:

"As mulheres são o mal, filhos meus: como não têm o poder nem a força para enfrentar o homem, usam truques e intentam enganá-lo com seus encantos; a mulher não pode dominar pela força o homem, porém o domina mediante a astúcia. Pois certamente o anjo de Deus me falou sobre elas e me ensinou que as mulheres se entregam mais ao espírito de fornicação que o homem, e que tramam conspirações em seus corações contra os homens; com sua forma de adornar-se primeiro lhes fazem perder a cabeça, e com uma olhada inoculam o veneno, e logo durante o próprio ato os fazem cativos; pois uma mulher não pode vencer o homem pela força. Assim que evitai a fornicação, filhos meus, e ordenem a vossas esposas e filhas que não adornem suas cabeças e seus rostos, pois a toda mulher que usa truques desse tipo estará reservado o castigo eterno".

Esse exemplo nos mostra como um mito, se for entendido e concebido de forma literal, pode criar um prejuízo e converter-se em uma doutrina que se declara a si mesma uma verdade divinamente revelada. É conveniente lembrar que Jesus não aprovou nem o mito nem suas implicações, nem os costumes patriarcais referentes as mulheres, muito pelo contrário. Foram transmitidas ao Novo Testamento através dos escritos de Pablo, e assim fizeram sua entrada na doutrina formal cristã.



LILITH E ADÃO/EVA

Enquanto Lilith é descrita como forma negativa, Eva, ao contrário, é apresentada em suas belezas e ornamentos. Adão não a recusa por vê-la como ossos dos seus ossos. Mas Eva carregará a culpa pela perda do paraíso.

E, esta é a informação que nos é passada pelo catolicismo, isto é, que a mulher possui uma imperfeição inerente, devida a sua natural inferioridade e sua incapacidade de distinguir o bem do mal. Tais afirmações foram codificadas no psiquismo feminino, fazendo com que todas as mulheres se tornassem estigmatizadas com esta identidade negativa. Foi deste modo, que o feminino se viu reduzido ao submisso e ao incapaz. A submissão foi então, imposta culturalmente a todas as mulheres, que distorceu intencionalmente os aspectos femininos, com o intuito de reprimir e estabelecer uma sociedade patriarcal. 

Lilith, portanto, desobedece à supremacia de Adão; Eva, assumindo seu arquétipo Lilith, desobedeceria à proibição. Lilith, nada mais é do que o lado sombrio de Eva, daí o porquê das qualidades terríveis que são atribuídas a ela. Todo mal que lhe é atribuído está em sua desobediência, ao seu "não" à submissão.

Criada ao pôr do sol, Lilith é noturna, e por isso lhe foi atribuída a qualidade de vampiro. Lilith, ou as projeções do mito eram descritas em suas características eróticas, sensuais, mas quase sempre misturadas com características horrendas, partes animalescas, sobretudo nas extremidades.  

A tradição de Lilith é a tradição da rejeição a Adão. O não de Adão, como já observamos, deveu-se não só ao caráter demoníaco de Lilith, mas também a exigência do desenvolvimento do ego de Adão.  

A serpente-demônio, ou o próprio demoníaco que existe em Lilith, impele a mulher a "fazer algo" que a sociedade paternalista não permite.

Lilith é o arquétipo da mulher indomada, que luta apaixonadamente pelo poder pessoal. Suas características são destemor, força, entusiasmo e individualismo. Ela é atividade e exuberância emocional. Para as religiões patriarcais, é a personificação da luxúria feminina, uma inimiga das crianças que atua de noite, semeando o mal e a discórdia. Em Isaias, ela é chamada de "a coruja da noite". No Zohar, é descrita como "a prostituta, a maligna, a falsa, a negra". 

Lilith aparece em nossas vidas para nos dizer que é hora de assumirmos o nosso poder. Você tem medo de assumi-lo? Você é daquelas pessoas que não sabem dizer "não"? Tem medo de perder sua feminilidade se tiver o poder em suas mãos? Você teme ser afastada(o) ou banida(o) pelos outros quando estiver em exercício de seu poder? Está com medo de fazer mau uso dele, dominando ou manipulando os outros?  Lilith diz que, agora, para você, o caminho da totalidade está em reconhecer que não está ligada ao seu poder e, então, em segundo lugar, submeter-se e aceitar este poder.

 
Texto pesquisado e desenvolvido por Rosane Volpatto


Fonte do Texto: Blog "Judaísmo Humanista"
http://judaismohumanista.ning.com/forum/topics/e-deus-criou-o-homem-a-ultima

Fonte das Gravuras: 
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUF99Td58uHl4RLEfHsSWnI3VllKPdjtpxZpcsgXXGAbZhxnz_phB1bQQCH7cfGppmGKoLghG7W1CawaWbHap9qOACX1qvHxtdt7aofEnL06OrfPSn-mIVrdGgoBiQkwKMn9oUggzbGC0/s1600-h/Lilith1.jpg
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Fonte da Gravura do Topo do Texto: 
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJxXW60tjn_h2CnpKK0ZTjD6ImQvCqsfeTA2G631X8Q1pfJO1IqUqkSZopG8V3yiA-Zw5DQWTQs-iMyDcvA7rIdAyV5HVAxLXoVC00iK1Xlcd33C50IxtYnyVcmgOL5Edd9qLmX3ETjBOT/s1600/lilith+a+rainha+da+noite.jpg


Bibliografia consultada:

O Oráculo da Deusa - Amy Sophia Marashinsky
Os Mistérios da Mulher - M. Esther Harding
As Deusas e a Mulher - Jean Shinoda Bolen
O livro de Lilith - Barbara Koltuv
Lilith, a Lua Negra - Roberto Sicuteri
La Mujer Celta - Jean Markale


Minhas sugestões bibliográficas:

Adão, Eva e a Serpente, de Elaine Pagels
As Origens de Satanás, de Elaine Pagels
O Novo Despertar da Deusa, de Shirley Nicholson

sábado, 9 de março de 2013

ONDE ESTÁ A VERDADEIRA CABALA


Com o advento da chamada "nova era", em que as pessoas estão mais sedentas de conhecimentos e de evolução espiritual, muitas pessoas correram para o Judaísmo em busca da antiga Cabala. 

É interessante observar que este fenômeno está gerando um número muito grande de gurus, mestres, "ravs" e rabinos cabalistas, visando lucrar um pouco com a explosão do interesse pela Cabala. 

No entanto, somos obrigados a formular algumas perguntas que necessitam de suas respectivas respostas para que possamos entender melhor a Cabala e o fenômeno que a envolve neste início de milênio. 

Qual a diferença que existe entre a Cabala original e a que, hoje em dia, cuida dos amuletos, da magia, da bruxaria? Em quem devemos acreditar se desejamos estudar Cabala de maneira séria? 

O que primeiro devemos entender que a Cabala original (em hebreu, Kabbalah Yunit), a Cabala Contemplativa, que nada tem a ver com a bruxaria ou magia ou amuletos, é uma série de estudos intelectuais que tratam do misticismo, da filosofia judaica de ir mais além intelectual e espiritualmente. 

Este estudos se originaram na Espanha, do século XII ao XVI. Era, então, um estudo esotérico, mas não de magia ou outra coisa. Tratava da união do homem com D'us e era uma disciplina mental e espiritual. 

A partir do século XVI veio o colapso da civilização judaico-espanhola, que é a que deu origem à Cabala. Neste ponto, a atitude com que se tratava os assuntos místicos mudou. Ao invés de tomar uma atitude contemplativa de procurar entender o porquê do universo, se adotou uma atitude manipulativa, na tentativa de mudar o universo para que essas coisas não voltassem a ocorrer. Neste momento, surgem todas as superstições da Cabala, com amuletos, magias, adoração aos mortos e diversas coisas que o Judaísmo condena e considera pura idolatria. 

O florescimento da Cabala, se deu a partir do século XII, no leste espanhol e sudeste francês, em toda a região conhecida como Catalunha, quando surgiu uma filosofia humanista, muito ligada com o misticismo. Ao contrário do bruxo, que desejava manipular a realidade, o místico buscava entender o que estava oculto no universo e seu sentido simbólico. O místico buscava a união entre todos os homens e o universo. 

O que os rabinos místicos diziam era que todos deviam procurar o sentido oculto escondido na Torah. Isso não é magia. Esse é todo o sentido da Cabala original. 

Com a chegada do século XIII, veio a público o que se toma como a obra mestra da Cabala: o Sepher há-Zohar (O Livro do Esplendor), que foi publicado pelo rabino Moisés de Leon, em 1274. Segundo o próprio de Leon, o espirito de Shimeon Bar Yohai o revelou. 

Para Moisés de Leon, o objetivo principal da Cabala era tentar entender e descobrir o esquema oculto do universo. O Zohar fala da Árvore da Vida, que é uma estrutura das distintas emanações de luz, cada uma representando uma Virtude Divina, e que engloba a totalidade de D'us. 

A Árvore da Vida é um simbolo que representa a estrutura do universo e do homem. Ela vê o universo como macrocosmos e o homem como microcosmos. Ou seja, o homem é a representação em tamanho menor do universo. 

No entanto, a Árvore da Vida não é D'us. É uma imagem através da qual a mente humana poderia tentar compreender a D'us. 

Outro conceito muito importante na Árvore da Vida é o conceito do equilíbrio. Todas as suas virtudes têm o seu oposto ou seu complemento. Por exemplo, Binah, que é a Intuição, está equilibrada com Chochmah (Sabedoria). Isto significa que a Intuição sem a Sabedoria é algo sem controle e incompreensível. Do mesmo modo, a Sabedoria sem nenhuma emoção, passa a ser um conhecimento sem nenhuma iluminação, que é o que precisamos para chegar na essência das coisas. 

Até o início do século XIV, os escritos da Cabala na Espanha são muito elevados intelectualmente, chegando a ser mais rebuscados que o próprio Talmud. Nos meados do século XIV, se começa a verificar uma troca para a magia. No ano de 1391, um século antes da expulsão, foram criados uma série de programas contra os judeus da Espanha. Neste ano, a comunidade judaico-espanhola foi dizimada. Em 1492, Fernando e Isabel estavam expulsando menos da metade de todos os judeus que viviam ali. 

Para entendermos essa virada (o que não quer dizer que aceitemos), devemos ver a Inquisição batendo à nossa porta e queimando a nossa mãe, nossos filhos, nossa família. É muito fácil ser contemplativo quando se está de bem com a vida, e, naturalmente, a Inquisição não coloca ninguém de bem com a vida. A reação foi de desesperança e de uma vontade quase histérica para mudar essa realidade. A tentativa de manipular os poderes da natureza para que esta se modifique, chegou com esse desespero. 

A partir deste episódio, começaremos a ver a Cabala Prática, não mais a Cabala Contemplativa. Isso já é magia. 

Neste período surge o uso, entre os cabalistas, dos amuletos. Não que seu uso não era conhecido anteriormente. O próprio Rambam, no século XII já condenava essas práticas. Mas ela não era associada aos cabalistas, mas aos curandeiros, gente de pouco valor para a comunidade. 

O massacre de 1391 foi uma tragédia tão grande, que conduziu à degeneração de uma cultura inteira. Todos começaram a carregar vários amuletos contra o mal-olhado. 

Na época da expulsão, o judaísmo espanhol está numa histeria desenfreada, como uma visão do Apocalipse, e não havia tempo para estudar de modo contemplativo e filosófico. Esta atitude histérica do século XV, vai penetrar no mundo ashkenazi, que também passava por um momento difícil. O que os ashkenazis pegaram dos safaradis não foi o Zohar intelectual, mas o Zohar interpretado com o novo olhar de desespero, pois os cossacos estavam fazendo a sua própria matança, e eles não eram muito melhores que os inquisidores espanhóis. 

Neste período, chegamos as lendas como a do Golem, que era uma espécie de ser que não era exatamente humano, criado de acordo com uma fórmula cabalística secreta. 

Essa lenda vem da Tchecoslováquia, do século XVI, quando chegam os primeiro refugiados da Espanha. Como os refugiados foram para este país e outros para a Polônia, chegaram junto com eles as influências da Cabala. 

Nos dias de hoje, convivem a Cabala Contemplativa e a Cabala do Desespero. 

E o que fazem os estudiosos sérios da Cabala? Estudam a Cabala para entendê-la, desde o seu início e sua passagem através dos séculos. Estudam o Zohar, os escritos dos principais cabalistas, procurando entender o que se passou nos diversos progroms que fizeram sofrer os judeus e analisando como mudou o pensamento cabalístico. 

Para quem se diz "mestre", devemos analisá-lo. Se este diz que tudo é mistério e que não se pode entender nada, deixe-o de lado, porque está colocando um véu de mistério sobre algo que pode ser estudado. Por outro lado, se tenta ensinar como um sistema barato de auto-ajuda, sem tentar aprofundar os ensinamentos, deixe-o de lado, também. 

Os mestres devem entender a Cabala, e ao mesmo tempo ter uma atitude crítica com relação a ela. Os primeiros cabalistas não se propunham a criar um nova doutrina, buscavam entender o universo e a relação do homem com D'us e com o mundo ao seu redor. Este deve ser a atitude, tanto do mestre quanto do discípulo. A Cabala não é uma panacéia, que se compra no bar da esquina e que cura todos os males. Antes, a Cabala é uma forma de entender o mundo e nossa relação com ele.


Julio C. Gonçalves



Nota: Baseado no texto "CABALA CONTEMPLATIVA, CABALA DEGENERADA", de SHARONA FREDERICKO, publicado em www.wzo.org.il


Texto completo de Sharonah Fredericko-Marcelo Kisilevski no sítio: http://www.jaimegorenstein.com/buscando-la-verdad/30/1147-cabala-contemplativa-cabala-degenerada.html

Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal


ALTOS E BAIXOS DA EXISTÊNCIA


A existência de cada um tem necessariamente altos e baixos: umas vezes é-se bem-sucedido, outras vezes não; umas vezes é-se reconhecido, apreciado, outras é-se ignorado ou até desprezado. Mas não se deve julgar o valor de um ser humano segundo as flutuações daquilo que lhe acontece. Se, pelo contrário, seja o que for que lhe aconteça, ele aumentar a sua luz, o seu amor, a sua determinação, então sim, podemos pronunciar-nos a seu respeito. E aquele que sabe reerguer-se após uma queda é muitas vezes mais forte do que aquele que nunca caiu.

O único critério infalível para nos pronunciarmos sobre um ser é o seguinte: se ele procurar a luz, quaisquer que sejam os acontecimentos essa luz salvá-lo-á. Se ele não procurar a luz, mesmos os sucessos, a fortuna ou a glória farão com que, pouco a pouco, ele se perca. Só para quem tem fome e sede do divino é que o mal pode transformar-se em bem.


Omraam Mikhaël Aïvanhov 



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

sexta-feira, 8 de março de 2013

DOIS CAMINHOS


É fácil saber se uma pedra foi retirada de um rio ou se foi quebrada em uma pedreira. As de pedreira apresentam muitas quinas, são ásperas e irregulares, agressivas ao tato. As pedras de rio são lisas e roliças, já sofreram um polimento natural. Ao longo do tempo, a correnteza das águas vai se encarregando de atirá-las umas contra as outras, para arredondar-lhes as arestas. Na medida em que vão se tornando polidas, vai sendo reduzido o atrito entre elas, já não se ferem, deslizam harmoniosamente umas entre as outras, como esferas lubrificadas de um rolimã. 

O processo evolutivo espiritual das criaturas humanas pode ser comparado ao do burilamento das pedras de rio. O Espírito é criado puro e ignorante. Puro, porque não traz qualquer tendência para o mal. ignorante, porque não adquiriu ainda qualquer conhecimento. Ao longo das reencarnações sucessivas, a correnteza da vida também nos atira uns contra outros: somos levados a conviver entre semelhantes. Em nossa infância espiritual, ainda como pedras-brutas, essa convivência é marcada pelo atrito entre nossas arestas. A rusticidade do homem das cavernas nos mostra o que foram nossas primeiras encarnações; o instinto animal predominando sobre a razão e o sentimento, a matéria sobre o Espírito, o estado de guerra como condição permanente.

Passaram-se séculos e milênios, abandonamos as cavernas, participamos da construção, do apogeu e da queda de diferentes impérios, vivenciamos diversas culturas. Com as conquistas da ciência, domesticamos a natureza, transformamos a paisagem ao nosso redor, descobrimos como tornar a existência mais confortável. Observando, no entanto, nosso mundo interior, nos deparamos com a presença incômoda e persistente de imperfeições atávicas, paleolíticas. A História nos revela que, mesmo após deixar as cavernas, o homem conservou traços do troglodita em sua intimidade espiritual. Pois foi nossa ignorância rústica que, diante da vacilação de Pilatos, exigiu o martírio do doce Jesus. Foram nosso orgulho e nosso egoísmo que produziram as guerras, os massacres das Cruzadas, as fogueiras da Inquisição e os horrores da Escravatura. Ingênuos os que supõem que não estavam lá. Assim, ao longo desses séculos, avançamos muito mais no progresso material, exterior, do que a jornada ética, íntima, do Espírito.

"A evolução espiritual é contínua, não regride nunca, mas pode ser retardada em seu processamento se não se aproveitar bem a oportunidade que Deus concede ao Espírito reencarnante." (FEB, Currículo para as Escolas de Evangelização). Viver em sociedade é aspecto essencial desta oportunidade. Frequentemente nos sentimos inconformados por termos de conviver com pessoas que nos aborrecem, nos irritam, nos são antipáticas, mas essa convivência é um dos processos naturais de nosso burilamento. Tais pessoas são indispensáveis: elas nos incomodam exatamente em nossos pontos mais fracos, mais sensíveis, e nos apontam, portanto, quais são esses pontos, quais são nossas piores arestas: os que precisam de ajuda incomodam ao nosso egoísmo, os que julgamos melhores que nós nos ferem a vaidade e o orgulho, e assim por diante. Cada conflito é um alerta e um roçar polidor de arestas. Quanto mais ásperos somos, mais dolorosos são os atritos, pois a dor é consequência de nossos atos de desamor para com o próximo, nesta ou em outras existências.

Diferentemente das pedras, entretanto, a criatura humana, sendo dotada de inteligência, consciência e livre-arbítrio, pode escolher caminho evolutivo menos doloroso. Jesus nos aponta o rumo: amarmo-nos uns aos outros. Nenhum de nós Foi criado para sofrer e o amor pode livrar-nos da dor, pois ele nos "cobre a multidão dos pecados" (1 Pedro IV, 8).

A evolução é lei universal e irrevogável, mas dois caminhos nos são oferecidos para percorrê-la: dor ou amor. A prática do amor proporciona polimento indolor em nossas almas, suaviza-nos as arestas, desenvolve-nos o altruísmo, harmoniza nossa convivência com os semelhantes. A decisão é sempre nossa.


Maurício Roriz



Fonte: Revista Espírita Allan Kardec, nº 39
http://adde.com.br/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quinta-feira, 7 de março de 2013

VERDADEIRA ALQUIMIA


Evidentemente, todos gostaríamos de estar rodeados por pessoas que nos respeitam, nos apreciam, nos amam. Pois bem, isso não é possível. E é inútil queixarmo-nos de que o mundo é mau, de que o Céu é cruel e não existe justiça alguma. Se fôssemos consultar o Senhor para conhecer os seus projetos, Ele responder-nos-ia que devemos considerar essas provações como exercícios, testes, para vermos aquilo de que somos capazes, pois nós ainda não nos conhecemos bem e devemos descobrir todos os recursos que existem em nós e que não temos consciência de possuir.

Transformar o mal que nos fazem – é isso a verdadeira alquimia. A pedra filosofal, que os alquimistas procuram obter, é ainda mais importante realizá-la na sua alma, no seu coração, graças à união da sabedoria com o amor, que transforma toda a matéria vil em ouro e em pedras preciosas.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Instagram

quarta-feira, 6 de março de 2013

A VIRTUDE DO EQUILÍBRIO


É muito fácil ficar tão enredado em nossas metas mundanas que perdemos a noção do todo. Sem perspicácia nem perspectiva, acabamos priorizando o que não devemos. Os altos e baixos de um escritório e a dinâmica interpessoal, por exemplo, vão afetar excessivamente a mente não treinada. Em um instante você se sente como um vencedor, eufórico e ganhando a partida, no momento seguinte você é um trapo, derrotado, desesperançado e deprimido. 

O Budismo nos lembra que nada dura muito, nem mesmo vitórias ou fracassos. Até mesmo o Super-homem pode cair do céu. A virtude do equilíbrio nos ajuda a não investir energia excessiva no sucesso, nem ficar arrasado com o desapontamento. A sabedoria do senso comum nos lembra que existe uma diferença entre sobreviver e viver. Nossa busca pelo sucesso mundano neste mundo de amarguras, não poderia ser mais satisfatória do que a busca de uma miragem no deserto árido.

Lama Surya Das



(Desconheço a fonte do texto)
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/praia-oceano-areia-natureza-366437/

SEJA VERDADEIRO



Ser verdadeiro para com os outros não é fácil em uma sociedade que honra manter as aparências, contudo, é uma parte importante no caminho espiritual.

Por meio da publicidade, da mídia e de muitos outros meios, somos ensinados a nos preocupar mais com o como somos vistos do que com quem realmente somos. Quantas vezes as pessoas lhe perguntam “Como vai você?” sem estarem interessadas em escutar a resposta? Quantas vezes você responde “Tudo ótimo!”, com um sorriso radiante e não autêntico, quando na verdade teve um dia, uma semana ou até mesmo um mês difícil?

Mesmo aqueles de nós envolvidos com a espiritualidade caem nessa armadilha. Achamos que deveríamos ser de uma determinada forma, e assim fingimos ser aquilo para o mundo externo. Achamos que precisamos ser perfeitos, escondendo nossos defeitos. 

Viver espiritualmente é estar em um processo constante de transformação; e para fazer isso, precisamos ser honestos quanto à nossa negatividade, com os outros e com nós mesmos.

Se tentarmos ser só sorrisos e gentilezas por fora, mas tivermos pensamentos negativos e de julgamento por dentro, estaremos apenas escondendo a sujeira, varrendo-a para baixo do tapete. Não existe transformação nessa atitude. Além disso, a verdade sobre o nosso caráter sempre pode ser percebida. 

Todos nós temos defeitos. Todos nós cometemos erros.

Quando escolhemos nos expor – nosso lixo e todo o resto – as pessoas entendem melhor como agimos com elas e apreciam a coragem que temos de nos abrir. Nesse momento, elas podem se identificar conosco, confiar em nós, serem uma conosco.

Ser verdadeiro é uma grande qualidade espiritual. Indica alguém com quem as pessoas podem se conectar.

Se escondermos nossa negatividade nas sombras, ela nunca verá a Luz. Quando somos verdadeiros quanto às nossas falhas e as expomos para os outros, estamos expondo-as para a Luz.



Rav Yehuda Berg




Fonte: Centro de Cabala
www.kabalah.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

ATRAVÉS DA REENCARNAÇÃO




Fora melhor que não existissem na Terra pedintes e mendigos, na expectativa do agasalho e do pão...

Se é justo deplorar o atraso moral do Planeta que ainda acalenta privação e necessidade, examinemos a nós mesmos, quando nos inclinamos para a ambição desvairada, e verificamos que a penúria, através da reencarnação, é o ensinamento que nos corrige os excessos.

Fora melhor não víssemos mutilados e enfermos, suplicando alívio e remédio...

Se é compreensível lastimar as condições da estância física, que ainda expõe semelhantes quadros de sofrimento, observemos o pesado lastro de animalidade que conservamos no próprio ser e reconheceremos que sem as doenças do corpo, através da reencarnação, seria quase impossível aprimorar as qualidades da alma. 

Fora melhor não enxergarmos crianças infelizes, suscitando angústia no lar ou piedade na via pública...

Se é natural comover-nos diante de problemas assim dolorosos, meditemos nos ódios e aversões, conflitos e contendas, que tantas vezes carregamos para além do sepulcro, transformando-nos, depois da morte, em Espíritos vingativos e obsessores, e agradeceremos às Leis Divinas que nos fazem abatidos e pequeninos, através da reencarnação, entregando-nos ao amparo e arbítrio daqueles mesmos irmãos a quem ferimos noutras épocas, afim de que nós, carecentes de tudo na infância, até mesmo da comiseração maternal que nos alimpe e conserve o organismo indefeso, venhamos, por fim, a aprender que a Eterna Sabedoria nos ergueu para o amor imperecível na Vida Triunfante. 

Terra bendita! Terra, que tanta vez malsinamos nos dias de infortúnio ou nos momentos de ignorância, nós te agradecemos as dores e as aflições que nos ofereces, por espólio de nossos próprios erros, e rogamos a Deus nos fortaleça os propósitos de reajuste e aperfeiçoamento, para que, um dia, possamos retribuir-te, de algum modo, os benefícios que nos tens prodigalizado, por milênios de milênios, através da reencarnação!...



André Luiz/Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira 




Fonte: do livro "Estude e Viva"
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

terça-feira, 5 de março de 2013

SÍMBOLOS DE SEU PRÓPRIO MUNDO


Por que é que um místico cristão sempre tem visões cristãs, não as de um budista? 

Por que é que um budista sempre vê as figuras de seu próprio panteão e não, por exemplo, Jesus ou a Madona? 

Por que é que um cabalista, em busca de iluminação, se encontra com o Profeta Elias e não com a figura de um mundo estranho? 

A resposta é, evidentemente, que a expressão da experiência de um místico é por ele imediatamente transportada para símbolos de seu próprio mundo. (Gerson Scholem)

Isso é um dos conceitos de arquétipo. Cada cultura, cada sociedade, cada pessoa veste os mesmos simbolismos com roupagens mentais adequadas a seu percurso social e individual. (Carl Gustav Jung)



Referências e sugestões bibliográficas:

- Jung C. G., O Homem e Seus Símbolos
- Scholem, Gerson., A Cabala e Seu Simbolismo


Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

SUPERAÇÕES BIOLÓGICAS



Estamos habituados a pensar que os grandes abalos que subitamente sacodem o mundo físico ou moral são resultados de meras interações casuais entre fenômenos e, assim, acreditamos que não acontecem por nossa culpa. Por isso, nos surpreende a afirmativa: ...determinam-se movimentos; canalizam-se correntes dinâmicas; acentuam-se atrações e repulsões, donde depois se exteriorizarão os fenômenos, desde as convulsões físicas às morais ... Para Ubaldi, mesmo um terremoto que sacode a crosta geológica do planeta não tem como causa apenas as forças físicas originárias das profundezas do solo. Segundo sua teoria monista o Todo é solidário com as partes, assim todos os fenômenos, sejam eles de natureza física, dinâmica ou moral, se influenciam e se interagem. O orbe terrestre é uma unidade coletiva que é produto sintético das unidades menores pertencentes aos mundos físico, dinâmico e mental, ou seja, a Terra é uma individuação coletiva em que se integram num sistema orgânico hierarquizado os seus três modos de ser: Matéria (γ), Energia (β) e Espírito (α), em consequência não pode existir nenhum fenômeno isolado. O mundo mental (espírito=α ) por pertencer a um nível evolutivo superior supera, domina e dirige as fases energia(β) e matéria(γ). Segundo Ubaldi, a vanguarda da pesquisa científica já constatou que o observador não é exterior ao fenômeno e distinto dele, mas é um fenômeno no fenômeno. (P. Ubaldi - "Problemas do Futuro"). Fato este que nos leva a a surpreendente conclusão que nós mudamos o mundo quando o observamos. 

Tudo isto nos mostra que o universo é um Todo que ainda quando pulverizado em infinitas formas ou expressões de um mesmo princípio central único, permanece organicamente compacto, porque ele é construído segundo um esquema único, consoante um idêntico modelo que se repete ao infinito em cada unidade menor, em que a maior se ramifica e se diferencia até à extrema pulverização. O que toma compacto o universo é ser ele um "eu", é o mesmo princípio unitário que mantém compacta toda forma que, à semelhança da máxima, é uma unidade coletiva resultante da coordenação orgânica de unidades "eu" menores. Assim. tudo permanece unido porque coligado por uma contínua atração de parte a parte, por uma confraternização dos "eu" menores nas unidades maiores. (P. Ubaldi - "Deus e Universo") 

Sustentado por essa base conceitual e observando o comportamento histórico da humanidade, Ubaldi anuncia o surgimento, em futuro próximo, de cataclismos tremendos que se por um lado trarão destruição e sofrimentos, por outro conduzirão a vida terrestre a uma renovação profunda. A acumulação, pela humanidade de deletérias ações egoísticas, está gerando no inconsciente coletivo planetário tremendas reações destruidoras que purificarão e clarearão a escura atmosfera psíquica que envolve a Terra. O amadurecimento destas reações não é percebida pela nossa mente racional que devido a sua natureza analítica vê o mundo como um conjunto pulverizado de seres, objetos e fenômenos. Assim, a ciência, produto desta mente analítica, perdeu-se num emaranhado de fatos, não conseguindo visualizar a unidade conceitual do Todo. O espírito religioso que poderia fornecer rumos unificadores ao pensamento humano, esclerosou-se e caiu na apatia de uma velhice decrépita. 

Na atual fase da evolução humana não existe uma orientação que propicie um rumo seguro para a vida coletiva. Nos grandes agrupamentos coletivos atuais existem apenas facções de indivíduos ou individualidades isoladas que se entrechocam numa luta sem trégua para alcançar a supremacia de uns sobre os outros. Não há, portanto, no mundo atual, um pensamento diretor que coordene as diversas atividades humanas de maneira construtiva de forma a superar a feroz luta animal que visa a seleção do mais forte e não a do mais evoluído e, portanto, mais civilizado. 

Muitas pessoas, ofuscadas pelo brilho das conquistas tecnológicas modernas, acreditam que o mundo já avançou muito no processo civilizatório. No entanto, Ubaldi nos mostra que aconteceu apenas um progresso formal: Hoje em dia a vida se apresenta feroz e desapiedada como nos tempos pré-históricos. Não estar armado de pedras lascadas, mas de metralhadoras, não estrangular seu semelhante com as mãos, e sim com os Bancos, representa apenas progresso formal, substancialmente fictício. (P. Ubaldi - "A Nova Civilização do Terceiro Milênio") 

No burburinho da apressada vida moderna só se dá valor ao ruidoso mundo dos fenômenos exteriores e, por isso, a introspectiva faculdade intuitiva que revelava verdades sintéticas aos profetas bíblicos e a outros iluminados foi relegada ao campo da fantasia e da superstição. A análise do detalhe passou a conduzir o pensamento humano, determinando o nascimento da moderna ciência racional. A infinidade de fatos colecionados pela ciência prejudicou a visão do conjunto, mas, - como tudo é regido pela Lei do Equilíbrio - para restabelecer a unidade dessa fragmentação do conhecimento, surge este livro, "A Grande Síntese", e os outros volumes da imensa obra Ubaldiana que serão pontos de referências da ciência sintética do futuro, como nos revela a frase: Nos grandes momentos só a mão de Deus vos guia a todos, e ela está hoje em ação, como no tempo das maiores criações. 

Os sinais dessa grande virada já é pressentida até pela própria ciência ao constatar, através de suas observações, que aquilo que considerava pedra de toque da pesquisa cientifica, isto é, a independência entre o fenômeno e o observador não é mais considerada nos altos escalões do pensamento científico moderno. O pesquisador, agora, será obrigado a voltar o olhar para si próprio para investigar a verdadeira e real fonte do conhecimento: a psique humana. Olhando a si mesmo o homem encontrará a explicação e a compreensão do Todo. Esta é uma atitude que ressaltará o significado da antiga máxima dos filósofos gregos: "Conhece a ti mesmo que as portas do infinito se abrirão para ti". E demonstrará, sobretudo para as mentes cépticas, que o preceito evangélico: "Amai o próximo como a si mesmo" se fundamenta na constatação de que, num universo monístico, não havendo separação entre sujeito e objeto, o amor ao próximo está na natureza própria do Universo. Não é, portanto, um adendo a ser acrescentado na ordem das coisas, é, por conseguinte, um sólido pilar que sustenta e suporta a estrutura universal.

Esse capítulo prenuncia o reaparecimento através de superações biológicas da humanidade, da faculdade intuitiva que ficou perdida no emaranhado factual da ciência materialista. E, será a própria ciência que a reconduzirá, renovada e alicerçada pela conquista racional dos últimos séculos, à proeminência da investigação científica. E, assim como nos diz Ubaldi: O homem refará a grande descoberta de que um supremo pensamento desce do Alto. 


Pedro Orlando Ribeiro

(comentários e observações sobre o Cap. 44 do livro "A Grande Síntese", de Pietro Ubaldi)


(desconheço a fonte do texto)
Fonte da Gravura: AI(IA)

segunda-feira, 4 de março de 2013

APRENDENDO A PERDOAR A SI MESMO


Algumas pessoas prejudicam outras e pedem perdão, que pode ser aceito ou não; mas há algumas atitudes em que o único prejudicado é você mesmo. Se você vive apontando seu dedo indicador constantemente para seu próprio nariz, cuidado!

A culpa varia de acordo com crenças e valores que cada um traz consigo desde a infância, e que muitas vezes não corresponde mais aos valores e crenças atuais. Culpa, remorso, arrependimento, são inimigos constantes de algumas pessoas e traz junto a humilhação, vergonha, o medo e a maior consequência: a autopunição.

Perdoar a si mesmo talvez seja um dos maiores desafios, pois está relacionado com a capacidade - e leia-se também dificuldade - que cada um tem de se amar e se aceitar. As pessoas não se amam por acreditarem terem feito algo muito terrível, às vezes isso até corresponde à verdade, mas muitas vezes não.

Algumas chegam ao máximo de se culparem por terem nascido e sentem-se como um grande fardo. Para compensarem essa rejeição sentida em algum momento de sua vida, passam a vida tentando mostrar aos outros o quanto são úteis, importantes, como que para provarem para si próprias que são merecedoras da vida.

Procure observar se busca aprovação e reconhecimento de pais, amigos, das pessoas em geral, se está sempre à disposição de todos, cedendo em quase tudo, pela necessidade inconsciente de agradar, ser aceito, mas que muitas vezes confunde-se com a desculpa de querer ajudar e que na verdade oculta a busca pelo amor e atenção.

Por exemplo, as pessoas por não se sentirem amadas quando crianças e não acreditarem em si mesmas passam a ignorar os próprios sentimentos e recorrem à fuga pela comida, como forma de compensação e obtenção do prazer. Com isso, se culpam e como punição, engordam.

Não conseguindo eliminar alguns quilos, mais culpas e assim, desviam o foco da origem de tudo para a comida. O foco passa a ser emagrecer e não o que as levou a engordar. Negam a si mesmas a subnutrição emocional que sentem e que pode levá-las a sentimentos de vazio e fome.

A comida passa a representar uma maneira de alimentar e preencher um vazio emocional. Ou seja, inconscientemente desviam a atenção dos problemas para a necessidade de emagrecer, os problemas continuam ou aumentam por não serem resolvidos e acabam consumindo mais calorias do que o corpo necessita, engordam, culpam-se, punem-se, criando-se assim, um círculo vicioso.

O perdão oferece saída para esse círculo vicioso, como uma escolha consciente de mudança. Será que a verdadeira causa está sendo considerada? Do contrário, tudo tende a piorar. Será que essa fome, esse vazio, não seria a necessidade, também inconsciente, de amor? É preciso perceber que a comida não será transformada em afeto, amor, mas apenas em gordura quando consumida de forma descontrolada. Por que não buscar outras fontes de prazer?

Uma maneira de cultivar a culpa é estar sempre exigindo perfeição de si mesmo. A anorexia e bulimia são exemplos disso. Nunca há satisfação consigo mesmo, gerando culpa, insatisfação e uma enorme dificuldade de se perdoar. Tudo que faz poderia ser melhor. Não importa o que faça ou conquiste. Ou o pior, não importa quem se é, parece que nunca é o bastante.

Para se livrar disso tudo faça uma lista de tudo aquilo que você se culpa, daquilo que fez e não fez. Seja honesto consigo mesmo. Depois, pense sobre as motivações que o fizeram fazer certas escolhas, agir de determinada forma e, ao invés de se culpar, punir ou se castigar, comece a lembrar que muitas escolhas foram feitas porque era o melhor que se podia fazer naquele momento e que na verdade, tudo foi avaliado com valores da época e que nem sempre serão os mesmos neste momento. Nunca julgue situações passadas com valores do presente.

Para perdoar-se é preciso rever todas suas crenças, valores, que muitos esquecem que com o tempo podem, e devem, se modificar. Analisar o que fez ou deixou de fazer para poder mudar e crescer é válido, como sentir remorso pela dor que pode ter causado a alguém e pedir perdão. Mas se esse remorso começar a dominar sua vida, estará alimentado seu papel de vítima e a autopiedade. Livre-se disso. Você deve aprender e crescer com a experiência passada e isso não quer dizer se punir eternamente por algo já feito.

Perdoar a si mesmo exige uma completa honestidade e integridade para que se alcance a cura de tantos males, de tanta falta de amor-próprio. É um processo de reconhecer a verdade, assumir a responsabilidade pelo que fez, aprender com a experiência, reconhecer os sentimentos que motivaram determinados comportamentos, abrir seu coração para si mesmo, ouvir seus medos, curar certas feridas e isso você pode conseguir sendo amoroso e responsável consigo mesmo.

Você pode e deve se livrar de certos padrões de pensamentos e sentimentos. Mude o que não acredita mais, livre-se de tudo que te faz mal, cure a ferida que mais lhe dói, cure sua vida emocional. A verdadeira cura é fazer as pazes consigo mesmo. O poder curativo do perdão e do amor talvez seja o remédio mais poderoso que temos. E está nas mãos de cada um de nós. E você pode começar com você mesmo!




Rosemeire Zago (Psicóloga clínica – abordagem jungiana)




(desconheço a fonte do texto)
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal