quinta-feira, 14 de maio de 2020

TANTOS CAMINHOS


É dito que existem tantos Caminhos como existem seres humanos e que as necessidades de cada um mudam com o passar do tempo. Da mesma forma como as brincadeiras de criança dão lugar aos esportes e à busca da sensualidade no adolescente, mais tarde aos jogos de poder no adulto e, finalmente, no homem maduro ao anseio espiritual, assim também, o buscador da verdade passa por diferentes etapas em sua jornada. Em cada etapa da vida teremos novos desafios. Assim como a fruta só aparece na estação certa, no ser humano o amadurecimento espiritual virá no seu devido tempo, e a Providência Divina colocará ao nosso alcance as circunstâncias mais favoráveis ao nosso progresso. Cabe a cada um, porém, discernir o que lhe é mais apropriado e tomar as ações devidas para aproveitar as oportunidades ao seu alcance.

Porém, devemos ter sempre em mente que todas as informações, instruções e revelações do exterior, estejam elas contidas nas Sagradas Escrituras, livros inspirados, nas palavras de grandes sábios ou em mensagens canalizadas, são meramente meios para um fim. O objetivo último de toda a vida espiritual é a experiência interior de unidade com o Todo e com todos, ou a união com Deus, como dizem os místicos. Nas palavras de Lama Govinda, “Os instrutores tibetanos sempre enfatizam o fato de que a verdade última não pode ser expressa em palavras, mas somente experimentada em nosso interior. Portanto, nossas crenças não são importantes, mas sim o que nós experimentamos e praticamos, e como isso afeta a nós mesmos e o ambiente que nos cerca.”[1]

Aqueles que se sentem confortáveis em sua tradição ou movimento, nele encontrando tudo o que seu coração pede, devem aproveitar para mergulhar fundo em seus estudos e, principalmente, em suas práticas. Devemos ter em mente, porém, que cada um de nós é um diamante em processo de lapidação. Existem inúmeras facetas dessa pedra preciosa que precisam ser buriladas. Em geral, precisamos mudar de posição ou a direção do movimento, para burilar uma nova faceta. Por isso devemos ter em mente a sabedoria milenar contida na preciosa obra, Luz no Caminho: “Procura o caminho recolhendo-te para o interior. Busca o caminho avançando ousadamente para o exterior. Não o busques por qualquer via especial. Para cada temperamento existe uma estrada que parece a mais desejável. O caminho, porém, não é encontrado só pela devoção, só pela contemplação religiosa, pelo progresso ardoroso, pelo trabalho com autossacrifício, pela atenta observação da vida. Nenhuma destas coisas isoladamente é capaz de levar o discípulo mais do que um passo adiante. Todos os degraus são necessários para formar a escada. Os vícios dos homens tornam-se degraus na escada, um a um, à medida que vão sendo superados.”[2]

Por essa razão, convém ao buscador estar sempre atento a outros enfoques, a outras doutrinas, além daquelas professadas por sua religião, movimento ou tradição. É dito que uma das melhores maneiras de entendermos as doutrinas de nossa religião é estudarmos outra religião. Como estaremos começando do princípio e, no caso da “religião dos outros,” não seremos tolhidos em nossas pesquisas por nossos condicionamentos oriundos de questões de fé doutrinária, torna-se mais fácil estudarmos e questionarmos até entendermos os pontos fundamentais dessa outra religião. Isso invariavelmente nos remeterá a vários pontos paralelos de nossa própria religião, que anteriormente haviam sido aceitos mesmo sem ser entendidos. Como todas as religiões originam-se da mesma fonte e levam ao mesmo objetivo, não é de se estranhar que venhamos a encontrar inúmeras concordâncias ou paralelos em seus aspectos fundamentais. A teosofia, a sabedoria divina, é exatamente a essência esotérica fundamental que está por trás de todas as grandes religiões, tradições e movimentos espirituais.


Raul Branco


Notas:

[1] Insights of a Himalayan Pilgrim, Lama Govinda. Dharma Press, p. 38.
[2] Luz no Caminho, Mabel Collins. Editora Teosófica, 1999, p. 51.


Fonte: Os Mestres e suas Mensagens / Raul Branco (ed. digital)
1ª Edição, Brasília: Editora Teosófica, 2013
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

ESTABILIDADE


Vivemos, a maioria de nós, em um mundo que nos exige muito. O estresse e as tensões cobram seu tributo a muitos de nós. [...] São Bento, na [sua] Regra, apresenta a estabilidade como sendo um dos principais objetivos [da vida]. Precisamos confiar em nós mesmos, estar seguros de que não seremos desequilibrados pelo aparecimento dos primeiros ventos de tempestade. [...]

A meditação é um caminho para essa estabilidade, a estabilidade que é a realidade de nosso próprio ser. A repetição do mantra se parece ao lançar âncora, ancorarmo-nos nas profundezas de nosso próprio ser. [...] A verdadeira estabilidade só pode chegar a cada um de nós quando estamos firmemente ancorados em Deus. A descoberta extraordinária que precisamos fazer é a de que, uma vez que estejamos ancorados em nosso verdadeiro ser, estamos ancorados em Deus. Descobrimos, ao mesmo tempo, nossa própria fragilidade; as tempestades da vida podem nos jogar de um para outro lado tão facilmente. Mas, também descobrimos, ao mesmo tempo, nosso próprio potencial extraordinário: o de sermos um com a energia de Deus, com o poder de nós mesmos expandirmos nossas vidas para a generosidade, o amor, a vida eterna, o que vale dizer para a vida ilimitada.


John Main, OSB



Fonte: John Main OSB, THE HUNGER FOR DEPTH AND MEANING, editado por Peter Ng (Singapura: Medio Media, 2007), p. 151.
Via: http://www.wccm.com.br/leitura-john-main-osb/945-estabilidade
Fonte da Gravura: https://fancycrave.tumblr.com/post/151252920190/download-by-charles-rondeau

quarta-feira, 13 de maio de 2020

NASCIMENTO E MORTE RELATIVOS


O nascimento e a morte não são antagônicos, pois cada nascimento é uma morte relativa, e cada morte um nascimento relativo. Nosso ser astral deve desaparecer com o nosso nascimento terrestre, para reviver em nossa consciência cerebral; depois, no momento da morte, reconquista a sua liberdade. Volta então à sua existência normal, enriquecido ou empobrecido, segundo a utilização que fez de sua vida terrestre, com vistas à vida futura.

O ato da concepção nos dá a vida corpórea; ao nascimento a alma se reveste da consciência cerebral e por ocasião da morte o espírito readquire as faculdades ocultas. A mudança da vida terrestre para a vida transcendental é tão grande que não podemos concebê-la nitidamente. Não podemos nos imaginar entrando num Céu tal como no-lo pintaram, nem no inferno como o entendemos, e de fato não mereceríamos um mais do que o outro. Estaremos desembaraçados de todos os males que aderem à nossa existência corpórea.

Nossas concepções restringidas pelos estreitos âmbitos da vida dos sentidos ampliar-se-ão no Além. Nossa atividade, que não estará a serviço dum organismo corpóreo, terá campo de ação mais vasto, e como disporemos de um meio de locomoção astral, poderemos gozar de uma existência de tal forma superior a esta...

Tudo nos leva a presumir que no Além viveremos em uma comunidade de espíritos bem maior do que na terra, onde a humanidade mal inicia a formação de grupos solidários.

É também de prever que a moral seja lá superior à da Terra, e que o nosso lugar no Além seja tanto mais favorável quanto mais na Terra tivermos procurado viver beneficiando a solidariedade geral.


Carl Du Prel



Fonte: do livro (digital), "O Outro Lado da Vida"
Fonte da Gravura: Espiritismo Brasil

MEDITAÇÃO - FÉ, MANTRA E AMOR


Quando ele nos diz para não nos preocuparmos, Jesus não está negando a realidade dos problemas do dia-a-dia. Está nos dizendo para abandonarmos a ansiedade, e não a realidade. Aprender a não se preocupar é uma tarefa difícil... [No entanto], a despeito de sua síndrome de atenção deficiente, até a mente moderna também tem sua capacidade natural de se aquietar e de transcender suas fixações. Nas profundezas, ela descobre sua própria clareza onde está em paz, livre da ansiedade. A maioria de nós tem cerca de meia dúzia de ansiedades favoritas, tais como doces amargos que mastigamos sem parar. Ficaríamos assustados se nos privassem delas. Jesus nos desafia a superar o medo de abrir mão da ansiedade, o medo que temos da própria paz. A prática da meditação é uma forma de aplicar seu ensinamento à prece; através da experiência, ela prova que a mente humana pode realmente optar por não se preocupar. [...]

Optar por repetir o mantra com fé, e voltar a ele, sempre que as distrações intervém, é o exercício da nossa liberdade de prestar atenção. Não se trata de algo como uma opção por uma determinada marca da prateleira do supermercado. É a opção pelo compromisso. O caminho do mantra é um ato de fé, e não uma jogada de poder do ego. Em cada ato de fé existe uma declaração de amor. A fé prepara o terreno para que a semente do mantra germine no amor. Não criamos um milagre da vida e do crescimento sozinhos, mas, somos responsáveis por seu desabrochar. Chegar à paz da mente e do coração - ao silêncio, à tranquilidade e à simplicidade - não exige a vontade de um campeão, mas a atenção incondicional, a fidelidade continuada de um discípulo.


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: Extraído de "Meditação", no livro "Jesus, O Mestre Interior"
São Paulo: Martins Fontes, 2004, pp. 277-278.
http://www.wccm.com.br/leitura-laurence-freeman-osb/872-meditacao-200202
Fonte da Gravura: http://www.good-will.ch/postcards_es.html

A BÍBLIA PERANTE O ROSACRUCIANISMO


A Bíblia foi dada ao mundo por elevados Espíritos, inspirados por Hierarquias acima da possibilidade de erro, daí constituir o Livro Sagrado, fonte espiritual legítima para a Doutrina Rosacruz. Entretanto, imprescindível resulta estar capacitado para compreendê-lo. Ao examiná-lo com a profundidade e o discernimento necessários, verificamos estar baseado em claves gradativas que fazem com que cada buscador da Verdade encontre o exato conhecimento que está em condições de assimilar.

Certo é, também, que a versão da Bíblia que chega até nós está muito deturpada, com seus textos originais alterados, adaptados ou mal traduzidos. Mas, sua estrutura geral e seus ensinamentos esotéricos não foram profundamente prejudicados, em parte devido ao desconhecimento, pelos censores, de todo o alcance de suas entrelinhas, de modo que suas humanas deficiências não impedem o aproveitamento, por parte dos seres mais esclarecidos, da excelência espiritual de sua origem.

Aqui oferecemos um exemplo do sentido profundo da Bíblia: a história de Moisés e dos filhos de Israel. Compreendemos que cada palavra na Bíblia tem um valor ou significado oculto. A pessoa comum lerá seus versículos literalmente, e continuará ignorando seu conteúdo esotérico, extraindo deles, assim, um aproveitamento muito menor.

O nome Moisés representa “o salvo das águas”, simbolizando a mente vitoriosa que ascende e domina as inferiores ondas da sensualidade, as baixas emoções. A “vara arrojada ao chão”, e sua transformação em serpente, expressa a espinha vertebral pela qual flui a força da vida, força que, se não é bem utilizada, passa a constituir a serpente do sexo, envenenando com sua mordedura. Os filhos de Israel, ou da Luz, são as potencialidades latentes que existem dentro de nós e que precisam ser libertadas do Faraó, governador do Egito, que encarna a obscuridade. Foi preciso que fôssemos conduzidos a essa obscuridade ou ignorância para que esquecêssemos nossa origem divina e, mais tarde, quando por nossos valores próprios estivéssemos aptos, iniciarmos o retorno à Terra Prometida. Sabemos que, a princípio, Moisés ama a filha do Faraó, que representa a sensualidade; depois, porém, casa-se com a moça que “vigia as ovelhas”. Na Bíblia, a palavra ovelha indica sempre pureza. As palavras femininas moça e mulher indicam sempre, também, coração ou natureza emocional, em um sentido elástico de amor. A maioria dos humanos ama, em primeiro lugar, a filha do Faraó, ou as emoções inferiores, procurando, a seguir, um amor mais elevado, ou em outras palavras, a mulher (coração) que vigia as ovelhas, que é pura, superior. Dado esse passo, nosso progresso espiritual avança mais depressa. Conversamos com DEUS “na montanha”, como demonstração de consciência elevada, e somente “na montanha”, possuidores de elevada consciência, podemos harmonizar-nos com a Divindade. Então, Moisés recebe as Tábuas da Lei, com os Dez Mandamentos gravados por DEUS. Isso revela que, após nos colocarmos em condições de chegar até DEUS, encontramos discernimento e força para viver Suas Leis e ser Seus disseminadores, Leis já gravadas, então, em nossa própria alma.


Irene Gómez de Ruggiero



Fonte: do livro OS SÍMBOLOS BÍBLICOS À LUZ DA FILOSOFIA ROSACRUZ
Fraternidade Rosacruz Max Heindel - Centro Autorizado do Rio de Janeiro
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/livro-b%C3%ADblia-aberto-%C3%B3culos-1936547/

ASPECTOS DO AMOR


À luz da experiência da meditação somos capazes de ver... o grande poder de equilíbrio do amor, que nos cria, nos acompanha... que nos cura e nos ensina... Não se trata de um amor que precisamos conquistar ou merecer, mas é um amor que está constantemente conosco.

Nossos olhos estão bem abertos na meditação, para ver o quanto este poder do amor está presente em meio a nosso desequilíbrio, nossa teimosia, nossa distração. Mesmo na distração de nossa meditação somos capazes de sentir, cada vez mais profundamente, a presença da paz. E, na medida em que nos ensina a nos amarmos a nós mesmos, a amarmos aos outros e a amar a Deus, a meditação também nos ensina que todos os relacionamentos são, na verdade, aspectos de um relacionamento.


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: do Retiro com Laurence Freeman (London: Medio Media/Arthur James, 1997), pp. 84-86.
http://www.wccm.com.br/leitura-laurence-freeman-osb/947-aspectos-do-amor-200509
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

A PSICOLOGIA DO RITUAL


Há uma realidade espiritual por trás das formas das religiões organizadas, e é unicamente esta realidade que lhes dá o seu valor. Elas não foram criadas com a intenção de que funcionassem como uma disciplina para treinar a alma, ou nem mesmo para que servissem como um meio para agradar a Deus, mas sim para possibilitar que a Luz do Espírito possa ser colocada em foco na consciência.

Se compreendermos a psicologia do ritual, jamais seremos prisioneiros da superstição e nunca estaremos em luta contra formas vazias. Compreenderemos que uma forma é um canal para uma força, e que o canal físico para uma força não é apenas o material usado num sacramento, mas também a vívida imagem pictórica criada, por seu uso ritual, na mente dos adoradores.

Quando estamos procurando a validade das formas da Igreja, é para a força que está por trás do símbolo que devemos olhar. O signo exterior e visível, seja ele uma taça ou uma cruz, é apenas o ponto focal da atenção, o ponto que capacita o adorador a entrar em contato psíquico com a forma de força espiritual que é a vida que anima aquele símbolo.

Quando queremos encontrar uma explicação sobre o significado dos símbolos e rituais da Igreja, devemos olhar para a psicologia, não para a história. Aquilo que é comemorado não é um ato mundano, mas sim uma reação espiritual, e somente quando nós mesmos criamos essa reação interior é que podemos partilhar da eficácia do ato que foi o seu protótipo.

A crucificação de Nosso Senhor, nas mãos da autoridade romana, foi apenas a sombra projetada, sobre o plano material, pela luta que estava sendo travada no mundo espiritual. Não foi o derramamento do sangue de Jesus de Nazaré que redimiu a humanidade, mas o derramamento da força espiritual emanada da mente de Jesus, o Cristo. O simbolismo que comemora a Sua morte faz com que concentremos a nossa atenção no Sacrifício da Cruz e no trabalho que esse sacrifício tem feito pela humanidade. A subconsciência racial dos povos cristãos está profundamente impregnada com este ideal [...].

O ritual que faz com que uma congregação concentre a sua atenção está utilizando a mente-grupo. É bastante sabido que a mente-grupo, sob a influência do medo ou da raiva, é capaz de pânicos e linchamentos dos quais os membros individuais que compõem essa multidão são absolutamente incapazes; o mesmo acontece com os impulsos da vida espiritual. Uma congregação é uma multidão organizada, cuja atenção é canalizada, por apelos aos cinco sentidos físicos, para um único foco o sacrifício da Missa - e a emoção-grupo desse modo engendrada é capaz de elevar a mente-grupo a alturas que os indivíduos que compõem essa congregação são incapazes de alcançar sem ajuda.

Não se deve pensar que uma explicação deste tipo, do aspecto psicológico do poder da Eucaristia, possa ter qualquer intenção de diminuir o reconhecimento do seu aspecto Divino; sua única atenção é mostrar a maneira pela qual as forças espirituais operam no nível da mente. Se desejamos compreender o modus operandi das forças espirituais, devemos distinguir entre o espiritual e o mental. A confusão entre estes dois tipos de psicologia é que leva a tantos mal-entendidos.

Para ser apreendido pela mente humana não treinada, o poder de Deus tem de ser corporificado numa ideia concreta. Daí a necessidade da Encarnação, que apresentou Deus ao homem que ele pode compreender. Portanto, os sacramentos da Igreja são encarnações, ou corporificações na forma, de verdades espirituais primárias, por demais abstratas para poderem ser apreendidas pela mente não instruída. Por meio do seu simbolismo pictórico, a mente é capaz de contemplar aquilo que jamais poderia conceber sem ajuda. Esta contemplação possibilita que ela estabeleça uma ligação com a potência espiritual que realiza o trabalho projetado pelo sacerdote que está no plano físico. Desse modo, ligada em pensamento, a força espiritual se derrama na alma e realiza o seu trabalho divino.

Há, portanto, três aspectos para um sacramento o poder sem forma de Deus, transportado do abstrato para o concreto por Nosso Senhor; segundo, o ritual simbólico que nos faz lembrar da função particular do trabalho de Nosso Senhor; e, terceiro, a imagem formada na nossa imaginação. Quando esta última se firma na consciência, o circuito foi completado e Nosso Senhor nos colocou em contato com Deus.


Dion Fortune



Fonte: do livro "Magia Aplicada", de Dion Fortune
Biblioteca Esotérica Virtual
http://www.pgem.hpg.com.br
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

terça-feira, 12 de maio de 2020

SONO E SONHOS


Antes do adormecer e do acordar, existe um estado de pouca duração durante o qual o eu e o corpo astral estão separados do corpo físico, enquanto existe a ligação com o corpo etérico. O homem está, pois, em presença de sua memória (ligada ao corpo etérico) e pode exercer certas funções mentais (igualmente ligadas ao corpo etérico), mas faltam-lhe as percepções sensoriais claras, a plena consciência e o pensar racional, que não podem prescindir do instrumento do corpo físico. Certas experiências do eu durante esse estado, combinadas com reminiscências da memória, fazem surgir então os sonhos. O sonho constitui, pois, um estado intermediário entre o sono e a vigília. Ele é caracterizado por uma consciência reduzida, por imagens e formas do mundo exterior, sem, no entanto, lógica e clareza. O eu traduz suas vivências e recordações em imagens simbólicas.

Desde tempos imemoriais, o homem conhecia a natureza desse estado que possibilitava uma experiência velada de certas realidades espirituais. Daí a importância atribuída à arte de analisar os sonhos para se conhecer a realidade espiritual ou para se chegar à verdadeira personalidade do homem, revelada durante o sonho quando inexistem tabus sociais e barreiras fazendo com que o caráter se dissimule durante a vida normal.

Sem pretender ser completos, podemos indicar alguns tipos relevantes de sonhos:

1. Em muitos sonhos o homem é perseguido pelas reminiscências do dia. Preocupações e angústias o acompanham, problemas não resolvidos martelam seu espírito de maneira incoerente e certos impulsos (vingança, ódio, amor, cobiça) manifestam-se de modo irrefreado. Um sono repleto de sonhos dessa espécie não é regenerador, pois impede uma separação suficiente e benéfica entre o eu e a parte orgânica.

2. Muitos sonhos são determinados, em seu enredo, por influências do ambiente. Assim, podemos sonhar uma história que termina no tilintar agudo de uma flauta tocada por um dos personagens do drama onírico. Acordados, verificamos que o despertador provocou o tilintar no sono: eu recordo toda uma história que o precede e cujo final lógico é o tilintar. Isso prova que os sonhos não se desenrolam no tempo, mas são imagens instantâneas que somente ao recordar são mentalmente decompostas em várias fases sucessivas. Da mesma maneira, um incêndio no sonho pode ter por causa o calor excessivo provocado por um cobertor.

3. Há sonhos causados pelo próprio corpo. Uma refeição um pouco pesada, tomada antes de dormir, pode provocar pesadelos, e muitas vezes o próprio órgão pode aparecer sob uma forma simbólica (intestinos = serpente, dente = torre, sangue = água). Vemos mais uma vez que o sonho é simbolizador. A arte de interpretar os sonhos consiste, justamente, em descobrir a realidade que se traduz em símbolos.

4. Como já foi dito, os desejos mais íntimos do eu, reprimidos durante a vigília e sem possibilidade de subir à consciência, podem ter livre curso no sonho, embora sob forma simbólica. Esse fenômeno figura nos fundamentos de muitas análises psicoterapêuticas.

5. Um tipo de sonho ainda mais significativo é aquele em que o indivíduo encontra pessoas vivas ou mortas, recebendo delas uma mensagem que amiúde se confirma, mais tarde, na realidade: uma pessoa ausente pode dizer-nos, no sonho, que está doente ou morta; a notícia confirmatória chega poucos dias mais tarde. O que se torna patente aqui é uma experiência, feita pelo eu, de uma realidade no mundo espiritual. Com efeito, a morte de qualquer pessoa é um acontecimento que se reflete naquele domínio. Transcendendo os limites do espaço, o eu vivencia esse fato e o sonho o transforma em imagem.

6. Finalmente há pessoas que, ao despertar, sabem que no sonho lhes apareceu um ser espiritual superior com uma mensagem ou uma revelação, ou que elas assistiram a acontecimentos do futuro. São os chamados sonhos proféticos, que tamanho papel tiveram em tempos passados, desde os sonhos interpretados por José na corte do Faraó (as vacas gordas e as vacas magras) até visões dos profetas (aparições de Serafins, Querubins, Anjos, etc.). Esses sonhos também têm papel importante na psicologia moderna (especialmente em C. G. Jung).

Não há adormecer ou despertar sem sonho; na maioria dos casos, contudo, nós não nos lembramos dele. Muitas vezes, também, sem poder recordar um sonho concreto, acordamos com a certeza de ter passado um tempo num outro mundo.

Ao despertar, muitas vezes sonhamos com a volta ao corpo de forma simbólica. Por exemplo, sonhamos que estamos voando e nos aproximamos cada vez mais do chão, até bater nele. Nesse instante despertamos. Ou então queremos entrar num edifício ou, por exemplo, numa torre. Não conseguimos fazê-lo durante algum tempo, até que finalmente quase irrompemos nela à força e acordamos. Aqui o corpo é representado pelo símbolo da torre.

O sono, com a fase transitória do sonho, é, pois, um fenômeno que decorre de uma necessidade rítmica de todo o nosso ser. É fácil compreender que sonos ou sonhos provocados artificialmente (narcóticos, hipnose, anestesia) não são, nesse sentido, naturais, perturbando o equilíbrio das forças físicas e psicoespirituais.

Os três estados vigília, sonho e sono correspondem a três graus diferentes de consciência. Podemos dizer que o homem é homem somente quando, no estado de vigília, é plenamente consciente e lúcido.

A Antroposofia ensina que a consciência do animal é semelhante (embora não idêntica) à nossa consciência de sonho, enquanto a planta vive numa inconsciência total, correspondendo ao nosso estado de sono. A consciência dos minerais se é que podemos ainda falar em consciência seria ainda mais apagada do que a do nosso sono mais profundo.

No próprio homem também existem zonas ou sistemas diferenciados por vários graus de consciência. Rudolf Steiner expôs a genial ideia da trimembração do organismo humano, cuja essência pode ser resumida da seguinte forma:

O homem é plenamente consciente em seu pensar e em suas observações sensoriais. Rudolf Steiner chama esse sistema de neuro sensorial, ensinando que ele está centrado na cabeça, muito embora o corpo todo possua percepções sensoriais. O polo oposto é constituído pelas funções completamente inconscientes do metabolismo e da vontade traduzida em movimentos (o homem tem a representação clara dos motivos e do resultado almejado de um ato de vontade; mas o funcionamento e a realização do impulso volitivo lhe são completamente ocultos). Esse outro polo constitui o sistema do metabolismo e dos membros. Ele atua em todo o corpo, mas seu centro está no abdome e nos membros.

Entre esses dois polos, e com o grau de consciência intermediário entre a lucidez completa do sistema neuro sensorial e a inconsciência do sistema metabólico motor, acha-se o sistema circulatório (respiração, circulação) que tem por sede a parte torácica e liga, por assim dizer, os dois extremos. A esse sistema corresponde a vida sentimental e um grau de consciência equivalente ao estado de sonho.


Rudolf Lanz



Fonte: do livro “Noções Básicas de Antroposofia”, de Rudolf Lanz
Ed. Antroposófica, 7a. ed., 2005
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/narrativa-hist%C3%B3ria-sonho-dizer-794978/

PERISPÍRITO E ENFERMIDADE


[...] a gênese da maioria das enfermidades crônicas humanas se encontra na matriz perispiritual, que se utiliza da roupagem orgânica (física-vital) para drenar os desequilíbrios anímicos ali armazenados. Segundo a Doutrina Espírita, as enfermidades físicas e psíquicas de longa data têm as suas causas profundas nos recessos da alma endividada, que pode plasmar na mente, através do arrependimento mórbido, “zonas de remorso”, desequilibrando o perispírito e, consequentemente, o princípio vital, criando as predisposições mórbidas para as moléstias crônicas se manifestarem. Libertando-nos de uma visão fatalista e predestinada, frisemos que os débitos passados (dívidas cármicas) podem ser resgatados por uma infinidade de “acontecimentos reparadores”, exonerando as distonias mentais antes que os distúrbios físicos correspondentes sejam gerados; neste capítulo, encaixam-se todas as iniciativas dignificantes voltadas ao bem comum.

“De modo geral, porém, a etiologia das moléstias perduráveis que afligem o corpo físico e o dilaceram guardam no corpo espiritual as suas causas profundas. A recordação dessa ou daquela falta grave, mormente daquelas que jazem recalcadas no Espírito, sem que o desabafo e a corrigenda funcionem por válvulas de alívio às chagas ocultas do arrependimento, cria na mente um estado anômalo que podemos classificar de «zona de remorso», em torno da qual a onda viva e contínua do pensamento passa a enovelar-se em circuito fechado sobre si mesma, com reflexo permanente na parte do veículo fisio psicossomático ligada à lembrança das pessoas e circunstâncias associadas ao erro de nossa autoria. Estabelecida a ideia fixa sobre esse «nódulo de forças mentais desequilibradas», é indispensável que acontecimentos reparadores se nos contraponham ao modo enfermiço de ser, para que nos sintamos exonerados desse ou daquele fardo íntimo ou exatamente redimidos perante a Lei. Essas enquistações de energias profundas no imo de nossa alma, expressando as chamadas dívidas cármicas, por se filiarem a causas infelizes que nós mesmos plasmamos na senda do destino, são perfeitamente transferíveis de uma existência para outra. Isso porque, se nos comprometemos diante da Lei Divina em qualquer idade da nossa vida responsável, é lógico venhamos a resgatar as nossas obrigações em qualquer tempo, dentro das mesmas circunstâncias nas quais patrocinamos a ofensa em prejuízo dos outros. É assim que o remorso provoca distonias diversas em nossas forças recônditas, desarticulando as sinergias do corpo espiritual, criando predisposições mórbidas para essa ou aquela enfermidade [...]. Todavia, ainda mesmo quando sejamos perdoados pelas vítimas de nossa insânia, detemos conosco os resíduos mentais da culpa, qual depósito de lodo no fundo de calma piscina, e que, um dia, virão à tona de nossa existência para a necessária expunção, à medida que se nos acentue o devotamento à higiene moral.” (Evolução em Dois Mundos, André Luiz, cap. XIX, pp. 213-4)

Inferindo uma energia própria ao pensamento humano, Manoel Philomeno de Miranda associa a ação do mesmo nos “tecidos sutis do perispírito”, que plasmará o corpo físico do Espírito reencarnante. Caso tenhamos desequilibrado o psicossoma com uma força mental desagregadora empregada na prática dos atos infelizes da criatura humana, destruindo as matrizes perispirituais, esta distonia será transferida ao corpo físico em formação, criando suscetibilidades que poderão permitir o desenvolvimento de enfermidades futuras.

“- Os atos infelizes deliberadamente praticados, em razão da força mental de que necessitam, destroem os tecidos sutis do perispírito que, se ressentindo do desconcerto, deixarão matrizes na futura forma física, na qual se manifestarão as deficiências purificadoras, e a queda do tom vibratório específico permitirá que os envolvidos no fato, no tempo e no espaço, próximos ou não, se vinculem pelo processo de uma sintonia automática de que não se furtarão. Aí se estabelecem as enfermidades de qualquer porte. Os fatores imunológicos do organismo, padecendo a disritmia vibratória que os envolve, são vencidos por bactérias, vírus e toda a sorte de micróbios patológicos que logo se desenvolvem, dando gênese às doenças físicas. Por sua vez, na área mental, os conflitos e mágoas, os ódios acerbos, as ambições tresvariadas e os tormentosos delitos ocultos, quando da reencarnação, por estarem ínsitos no Espírito endividado, respondem pelas distonias psíquicas e alienações mais variadas. [...] Eis porque é rara a enfermidade que não conte com a presença de um componente espiritual, quando não seja diretamente esta o seu efeito. O corpo e a mente refletem a realidade espiritual de cada criatura [...]. (Painéis da Obsessão, Manoel Philomeno de Miranda, cap. VI, pp. 48-9)


Dr. Marcus Zulian Teixeira



Fonte: do livro "A Natureza Imaterial do Homem"
2a. Edição, São Paulo, Edição do Autor, 2015
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

segunda-feira, 11 de maio de 2020

SUFISMO - IDEAIS


O EMBLEMA SUFI

O Emblema do Movimento Sufi - um coração alado - simboliza seus ideais.

O coração é tomado em ambos os sentidos, o celeste e o terreno. Como o centro do ser de uma pessoa, é um receptáculo na Terra, do Espírito Divino, e se eleva ao Reino do Céu quando corresponde ao Espírito de Deus, que eternamente procura guiar a humanidade. A elevação do coração é indicada pelas asas abertas, e estas representam, respectivamente, desprendimento e independência; desprendimento dos gozos mundanos e da arbitrária opinião, e independência na consciência do Amor, da Sabedoria e do Poder de Deus.

O Crescente no coração simboliza correspondência; é o coração correspondendo ao Espírito de Deus, que se levanta. O Crescente é o símbolo da correspondência, porque vai ficando mais cheio, correspondendo mais e mais ao sol. A luz, que se vê na lua crescente, é a luz do sol, e, aumentando correspondentemente, se torna ela cheia da luz do sol. Semelhantemente, a alma nobilitada sempre se torna uma expressão mais plena das qualidades divinas.

A Estrela no centro do Coração representa a centelha Divina, que se reflete no coração humano com amor, e, pela virtude do sopro Divino, pode ser soprada até que se levante uma chama para iluminar o caminho da vida de uma pessoa.


O IDEAL SUFI

O principal objetivo do Movimento Sufi é no rumo da Unidade, que é um ideal dual. Primeiramente, unidade do homem com Deus a fim de que a humanidade possa compreender perfeitamente a verdade da afirmação de Cristo - «Eu e meu Pai somos um » - porque por este meio o Reino do Céu pode ser alcançado aqui na Terra, como exortou o Mestre. O ideal correspondente conduz à unidade mais estreita entre os povos do mundo, pela transposição das barreiras e distinções artificiais de raça e credo, que parecem dividir os homens; isto pode ser realizado por um conhecimento mais perfeito do objetivo da vida e uma compreensão mais profunda das suas leis e possibilidades. O princípio básico reconhecido pelos Sufis é a «Paternidade de Deus, e a Fraternidade do Homem».

As principais atividades do Movimento Sufi são:

a) Fraternidade Mundial,
b) Adoração Universal, e
c) A Ordem Sufi.

A Fraternidade Mundial projeta uma luz cheia sobre os aspectos interiores da vida, artes, religião comparada, reforma social, educação etc., pois que, por este meio, nós podemos prosseguir no destino da vida, criando uma atitude simpática para com outrem, o que dará em resultado harmonia e felicidade mútuas e culminará eventualmente na muito desejada paz mundial.

A Adoração Universal. A devocional atividade do Movimento Sufi reconhece a Divina Sabedoria na diversidade das formas religiosas e das crenças; reconhece os Mensageiros e Fundadores de cada religião que Deus tem mandado à terra em diferentes períodos, a fim de socorrer a humanidade segundo as necessidades da época; respeita, outrossim, todas as almas iluminadas, que têm aurido sua inspiração de uma e a mesma fonte, o Divino Espírito de Guia, que sempre dirige o homem para a meta ideal.

O Serviço Devocional não se restringe a nenhuma religião particular, pois que todas compreende, é a Igreja de Todos, e inclui todas as igrejas; seguindo-o, portanto, a pessoa não abandona a sua religião ou forma de adoração. Os termos da mística, tais como Iluminação, Revelação, Salvação, Libertação, Unificação e União, são reconhecidos como correspondendo ao ideal Sufi da Consciência de Deus. Visto que filosofia, ciência, arte e religião formal, invariavelmente, deixam de satisfazer o apetite da alma, os grandes Sufis do mundo têm realizado uma divina bem-aventurança, que transcende os mais altos sonhos do homem normal.

A qualidade de membro do Movimento Sufi investe uma pessoa dos privilégios de ambas as atividades exotéricas acima, e ao mesmo tempo, a torna elegível para ser recebida na escola esotérica chamada a Ordem Sufi.


A ORDEM SUFI

Esta é uma escola de treino individual no conhecimento da verdade. A iniciação (Bayat) e o treino dados na Ordem Sufi compreendem o desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual para o desdobramento da alma humana - o ser eterno, ao qual pertence todo poder e beleza. Não se impõem restrições ou disciplina especiais, nem se exigem votos ou compromissos. Assim como ao sedento se dá água e ao faminto alimento, assim também, ao que busca a Verdade se lhe revela o Caminho para Deus. Há uma Chave de Ouro resolvendo os mistérios da vida, e que é a sincera devoção com o entendimento esclarecido. O corpo humano é o Templo de Deus e o coração, o Seu Sacrário. Ninguém pode aspirar por justiça a bênção Divina, ela é conferida pela Graça de Deus, semelhantemente, ninguém pode justamente dizer - «estou pronto para Bayat (iniciação) e mereço-a». Cristo disse verdadeiramente: «pedi e recebereis, procurai e achareis».

O termo Sufi deriva-se da mesma raiz da palavra grega Sophia, significando Sabedoria, e a palavra persa Sajaí, significando Pureza. Sua moderna significação implica em Sabedoria Pura, ou a Essência da Verdade, que é a base de todas as religiões.

A aspiração do Sufi é alcançar um conhecimento consciente de Deus, tornar real a Divina Presença e gozar a União com o Pai.


Hazrat lnayat Khan



Fonte: do livro "A Mensagem Sufi", pp. 11-13
Fundação Educacional e Editorial Universalista - FEEU, Porto Alegre/RS
Fonte da Gravura: http://www.sufiireland.com/uploads/8/1/2/7/8127955/9541154.gif

O SELO DE SALOMÃO PARA O MARTINISTA


O Selo de Salomão representa o Universo e seus dois ternários, Deus e a Natureza; ele é, por este motivo, chamado o “Sinal do Macrocosmos” ou do "Grande Mundo", em oposição à estrela de cinco pontas que é o “Sinal do Microcosmos”, do "Pequeno Mundo", ou seja, do Homem.

O Selo de Salomão é formado por dois triângulos. O que tem seu vértice para cima representa tudo o que ascende. Simboliza o Fogo e o Calor. Psiquicamente, representa as aspirações que o ser humano eleva até seu Criador. Em um sentido material significa a evolução das forças físicas, desde o Centro da Terra até o Centro do Sistema planetário ao qual pertencemos, o Sol. Em uma palavra, expressa o retorno natural das forças morais e físicas até o Princípio do qual emanaram.

O triângulo com a ponta para baixo representa tudo o que desce. É o símbolo hermético da Água e da Umidade. No mundo espiritual representa a ação da Divindade sobre Suas Criaturas. No mundo físico corresponde à corrente involutiva que parte do Sol, centro de nosso sistema planetário, até chegar ao Centro da Terra.

Estes dois triângulos combinados expressam não só a Lei do Equilíbrio, como também a Lei da Atividade Eterna de Deus e do Universo. Representam o movimento perpétuo, a degeneração e a regeneração incessantes pela Água e pelo Fogo. Quer dizer, mediante a Putrefação - termo usado antigamente em lugar da palavra mais científica de Fermentação.

O Selo de Salomão é, pois, a imagem perfeita da Criação e é com este significado que Louis Claude de Saint-Martin o inclui em seu Pantáculo Universal.



(Autor não especificado)



Fonte: HERMANUBIS MARTINISTA
http://www.hermanubis.com.br/artigos/artigos.htm
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/estrela-de-davi-dreidel-judaica-4703731/
https://i.pinimg.com/564x/ac/e3/04/ace3044448117172e8e72e32081e5dbd.jpg

A LEI DE ETERNA JUSTIÇA


Dentre as leis que regem a manifestação de Vida subjetiva – se assim quisermos chamar a Vida Interior do homem, independente ou quase das funções vegetativas da vida corporal – uma há que recebeu um nome hoje consagrado pela terminologia mundial teosófica: a Lei de Carma ou de Ação e Reação. Esta Lei, que pode ser chamada com razão Lei fundamental da manifestação da Vida e de sua expressão nos três mundos Mental, Emocional e Físico, é a que se expressa em relação a cada homem sob o aspecto de destino ou predestinação individual.

É uma lei complexa que parece como que o traço de união, a argamassa que liga todos os seres e coisas do Universo, a trama invisível que encadeia os acontecimentos, palavras, atos, pensamentos e sentimentos de todos os seres do Universo. Encadeia essas coisas, porque cada pensamento origina um novo pensamento; cada emoção uma nova emoção; cada desejo um novo desejo; cada palavra uma nova palavra, cada ato um novo ato, cada acontecimento um novo acontecimento, cada situação uma nova situação, e isto obedecendo a uma ordem transcendentemente lógica e perfeita, embora nem sempre ao alcance do homem vulgar.

Em virtude desta Lei, sábia e resumidamente expressa pelo Apóstolo Paulo, “cada um colhe o que semeia”, seja individual, seja coletivamente, pois existe o Carma coletivo e o Carma individual, que caraterizam: o primeiro as raças, as nações, os povos, as sociedades, as famílias etc., e o segundo o caráter individual e as individuais qualidades, idiossincrasias e atributos de cada indivíduo.

“Não se colhem figos nos espinheiros nem uvas nas silvas”, disse o Cristo. “Pelo fruto se conhece a árvore” – é uma expressão da linha cármica individual. E estas outras palavras do mesmo grande Instrutor caracterizam outro aspecto do Carma como Imanência Divina: “Nem um cabelo de vossa cabeça cairá sem que o Pai saiba.”

Outro grande Instrutor, Gautama, o Buddha, ou Sakia Muni, afirmou no Dhammapada, título de uma escritura que quer dizer “Caminho da Lei”:

“As coisas brotam do coração e o coração as determina; aquele que fala ou age com mau coração, a dor o acompanha como a roda acompanha o pé do animal que a arrasta. Porém o homem que fala ou age com bom coração, a felicidade o acompanha como a própria sombra.”

Eis aí uma belíssima expressão figurada da atuação da Lei do Carma na vida dos indivíduos.


Aleixo Alves de Souza



Fonte: do texto "O Que a Teosofia Ensina", de A.A.S
www.filosofiaesoterica.com.br
Fonte da Gravura: Seara de Luz - Instagram

domingo, 10 de maio de 2020

ESPIRITUALIDADE E MEDITAÇÃO


Entrevista com Jean-Yves Leloup

Padre ortodoxo e pessoa de intensa vida espiritual, Jean-Yves Leloup diz em entrevista exclusiva que o ser humano pode ser um pacificador num mundo em guerra, mas precisa, primeiro, investir na busca da paz interior e na entrega e confiança em Deus.

Todas as vezes que vem a Brasília, o padre ortodoxo francês Jean-Yves Leloup hospeda-se na casa de seu velho amigo, o psicólogo e reitor da Universidade da Paz (Unipaz), Pierre Weil. Anualmente, Leloup vem à capital para proferir seminários organizados pela Unipaz.

Trajando vestes claras, este homem de 57 anos de idade (em 2007) e 35 anos de sacerdócio, com formação em Psicologia Transpessoal, Filosofia e Teologia, tem, como sua referência de vida, o Ser, que encontra-se presente no interior de cada homem que busca a paz e o sentido da vida. Ora, o Ser é, nada mais nada menos, que uma das várias alcunhas pelas quais ele denomina Deus. Leloup refere-se à Suprema Divindade de diversas formas, com reverência surpreendente: Clara Luz, Pura Consciência, Consciência Absoluta, Ser Essencial, Absoluto.

Autor de 43 livros, entre eles Terapeutas do Deserto, A Arte de Cuidar e a autobiografia O Absurdo e a Graça, Leloup também traduziu e comentou os evangelhos de Felipe, de Tomé e de Maria Madalena, considerados apócrifos na tradição cristã. Sua fé em Jesus Cristo não o impede de ter um profundo respeito por outras crenças, numa postura claramente ecumênica. Ele é pertencente a uma corrente espiritual da ortodoxia cristã, chamada hesicasmo, que, em grego, significa: calma, paz, tranquilidade e ausência de preocupação. O sacerdote hesicasta procura devotar sua vida ao recolhimento interior e à oração.

Nesta entrevista à Comunidade VIP, Jean-Yves Leloup revela como descobriu a espiritualidade em sua vida e mostra que a busca pelo aperfeiçoamento interior é a chave para pacificar as “guerras” que cada um trava em seu cotidiano.

Como descobriu a espiritualidade?

Nasci numa família de ateus. Tive formação muito racionalista. Saí da casa de meus pais para conhecer o mundo. Com apenas 19 anos, fiquei muito doente em Istambul (Turquia), em decorrência de uma comida estragada. E ali, naquela cidade, vivi uma experiência impressionante. Fui declarado clinicamente morto e até quiseram me enterrar. Quando voltei ao meu corpo, comecei a me interrogar: “O que não morre, quando todo o resto morre?” Há o momento em que o pássaro sai da gaiola, e também há o momento em que o vôo sai do pássaro. Nesse momento em que o vôo sai do pássaro, tem um instante de luz e de presença que permanece. Em Istambul, encontrei o patriarca Atenágoras, da Igreja Ortodoxa, que me levou até um ícone do Cristo. Ao lado desse ícone estava uma inscrição em grego, que dizia “Eu Sou”. Naquele momento, o “Eu Sou” não eram meras palavras, mas o que eu tinha acabado de viver, durante a morte clínica. E foi a partir desse momento que me interessei pelo Cristianismo.

Nas chamadas “experiências de quase morte”, há relatos de pessoas que vêem um túnel de luz ou imagens referentes a sua crença. O que o senhor viu, naquela hora?

Vi apenas a vastidão, pois meu inconsciente não guardava nenhuma imagem religiosa. Foi até normal não ter visto nada. Senti apenas o espaço que contém todas as coisas. É como se estivesse vendo o dia, ao invés das coisas que aparecem no dia. E o dia permanece. Em latim, a palavra “dia” quer dizer "dies", que, por sua vez, significa Deus. Essas palavras têm a mesma raiz, no latim. Então, ver o dia é ver Deus.

Após o encontro com Atenágoras, o que ocorreu?

Fui para o Monte Athos, na Grécia. Lá, encontrei a tradição cristã-ortodoxa, as raízes do Cristianismo. Para mim, ele é a síntese entre o interior e o exterior, entre os lados material e espiritual. São duas coisas que não podem ser separadas. É a síntese da encarnação. O visível e o invisível devem ser mantidos unidos; a eternidade e o tempo; o finito e o infinito. Precisamos sair da dualidade.

Como surgiu a vocação para ser padre?

Quando descobri Cristo, ao invés de ser apenas um professor de Psicologia e Filosofia preferi ser também padre, onde pude transmitir também essa dimensão espiritual. Não apenas de ensinamentos intelectuais, mas também através da prática, de forma a levar a transformação interior ao ser humano.

Como descobriu a Unipaz e conheceu Pierre Weil?

Na França eu era diretor de um centro internacional chamado Sainte Baume. Convidei Pierre a visitar o local e a participar de colóquios sobre Psicologia Transpessoal. Foi em Sainte Baume que concretizamos a visão da Universidade Holística Internacional, cujo princípio é o de uma educação que leve em conta todos os componentes do ser humano: físico, afetivo, emocional, religioso e intelectual.

O que recomenda para desenvolvermos a paz interior e sermos também pacificadores?

A primeira coisa é descobrir a paz interior. É importante, nesse aspecto, cultivar práticas que acalmem a nossa mente, pois é aí que residem todas as espécies de medos e resistências. Na prática hesicasta do cristianismo ortodoxo damos muita atenção à respiração, pois, quando ela está calma, a mente encontra-se calma também. Nessas condições, podemos encontrar esse lugar de paz dentro de nós mesmos. Mas tudo isso ainda são práticas externas. Talvez o mais importante seja o abandono, não tentar controlar nada. Devemos confiar no Ser Essencial que nos ajuda. E é nessa confiança, nessa fé, que descobrimos um centro que nos ajuda a atravessar as dificuldades da existência. Uma vida que não tem sentido é uma vida sem centro. Podemos fazer as mesmas coisas estando centrados ou não. E aí a gente consegue observar as diferenças.

A prática hesicasta é semelhante à meditação oriental?

Sim. É o mesmo princípio, porque o ser humano é igual, não importa onde esteja. A respiração não pertence a nenhuma religião em particular. E a luz também. A abertura do coração também pertence a todos. O ser humano está em busca da verdade, não importa se ele está no Oriente ou Ocidente. Ele está orientado em direção a esta mesma realidade. No evangelho de São João está escrito que o Verbo, o Logos, é aquele que esclarece e ilumina todo homem que vem a esse mundo, não apenas os cristãos.

Ultimamente, surgiu uma onda de livros em defesa do ateísmo, vindos de autores como o biólogo inglês Richard Dawkins e o jornalista inglês Christopher Hitchens. O que acha desse movimento?

Depende de qual imagem de Deus estamos rejeitando. Em nível psicológico, muitos ateus estão rejeitando aquilo que eles viveram no passado. Mas o Deus que eles estão rejeitando muitas vezes não tem nada a ver com o Deus verdadeiro. É, simplesmente, uma certa imagem ou representação divina que eles estão rejeitando. A questão é o que fazer com a religião, Deus e a razão. Com a mesma flor a abelha pode fazer o seu mel e a vespa pode fazer o seu veneno. E a culpa não é da flor.

O livro O Segredo, de Rhonda Byrne é um sucesso de vendas, ao relatar como funciona a chamada Lei da Atração. Como o senhor conceitua esse fenômeno?

O poder mental é algo conhecido há muito tempo e depende basicamente do que pensamos. Um antigo provérbio diz que, quando Deus quer punir alguém, Ele cumpre todos os seus desejos. Na realidade, não sabemos o que é verdadeiramente bom para a nossa vida. No filme O Segredo, um menino consegue a bicicleta vermelha que ele tanto desejava. Mas depois não é dito que ele pode ter tido um acidente com aquela mesma bicicleta. Da mesma forma, alguém que obtém uma casa imensa, enorme, pode ser, à primeira vista, maravilhoso. Mas depois, o que ocorre naquela casa pode ser algo muito destrutivo. Essa prática é muito superficial, porque, na verdade, a questão é saber o que é realmente bom para o ser humano.

Então, como devemos pedir o que queremos?

Temos nossos próprios pensamentos e desejos, mas devemos colocá-los nas mãos de uma Vontade maior. O Pai-Nosso diz: “Que seja feita a Vossa Vontade”. Eu quero isso, mas será que realmente será bom para mim? Que seja feita a vontade da Vida. Que seja feita a vontade do Amor. Que muitas vezes nossos desejos são egoístas e esta é uma maneira de colocarmos nosso ser dentro de um Ser Maior. Eu tenho o poder do pensamento, mas devemos também confiar numa força maior, mais elevada.

Ou seja, é uma entrega a Deus?

É um abandono, uma entrega, uma confiança em Deus.

Os anjos são referências constantes nos textos bíblicos, inclusive no episódio da vinda de Jesus. Qual o papel desses seres na nossa vida?

Da mesma forma que entre o ser humano e a matéria existem mundos intermediários, o vegetal e o animal, entre o ser humano e a Clara Luz, a Pura Consciência, também existem níveis de consciência intermediários. Os anjos são esses planos de consciência, esses níveis de ser que podem fazer esse elo entre a consciência ordinária e a Consciência Absoluta. Muitas vezes somos mais inteligentes do que a inteligência que temos, como se nossa consciência entrasse em contato com uma de âmbito mais elevado. E é isso que chamamos de anjos. Num nível mais humano, o anjo também pode ser um mestre interior, uma voz que nos guia. Ou seja, é nossa inteligência que está aberta a uma dimensão mais ampla.

Existem anjos da guarda, na sua concepção?

Cada ser humano tem uma maneira particular de entrar em relação com o Absoluto. E é essa maneira particular que chamamos de nosso anjo. Isso tem relação com o Absoluto, o Infinito Real. Quando a gente está nessa abertura, inteligência e fé, certas manifestações nos mostram que estamos acompanhados, guiados. A gente pode chamar a isso de anjo da guarda. Em outras tradições, recebem outros nomes. O importante não é o nome que damos, mas a realidade que está por trás das experiências que vivemos. A tradição cristã diz para não idolatrarmos esses mundos intermediários. E hoje em dia muitas pessoas tomam experiências do tipo psicológicas por experiências espirituais, e experiências do mundo intermediário como experiências do mundo absoluto. A gente deve colocar cada coisa em seu lugar.

É difícil diferenciar uma coisa da outra – o intermediário e o absoluto?

Não, não é difícil. Aquilo que faz parte do mundo intermediário faz parte do mundo terreno. São coisas que passam. São coisas emotivas, intelectuais, mas fazem parte do mundo mortal. O mundo do Absoluto está além do tempo. É aquilo que não conseguimos agarrar ou compreender, que a gente não consegue reduzir a nossas pequenas experiências.

As religiões cristãs em geral são caracterizadas como dogmáticas. Como funciona essa questão para você?

Na origem, o dogma era um paradoxo. Era algo feito para despertar a consciência para além do funcionamento binário do cérebro. Por exemplo, o dogma que diz que Cristo é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus tem o sentido de ultrapassar, ir além da consciência ordinária. O dogma então é um pouco como o Koan, do japonês. Ou seja, um paradoxo que nos ajuda a ir além da razão, mas sem perder a razão. Mas hoje em dia o dogma é confundido com dogmatismo, que significa obrigar alguém a acreditar em algo. Isso é destrutivo. O dogma, na realidade, foi criado para que saíssemos do dogmatismo. É um convite para que verifiquemos se isto é verdade.

Poderia deixar uma mensagem de Natal? (Em novembro de 2007)

Pouco importa se Cristo nasceu há 2 mil anos, se Ele não nascer hoje, no interior de mim mesmo. O Natal é o momento onde podemos aceitar o nascimento do Ser no interior de nós mesmos, para o nosso bem-estar e o bem-estar de todos.



Fonte: Jornal da Comunidade - Brasília - Novembro 2007
http://www.oracaodejesus.com/entrevista-com-jean-yves-leloup
Fonte da Gravura: VentosDePaz - ventosdepaz.com.br

A LUZ E A VIDA (VERBO - PALAVRA)


Não é sem interesse mostrar que existem relações entre a luz e os bioelementos, isto é, os principais elementos químicos que caracterizam a evolução da vida, e que foi a luz que criou a vida sobre a terra.

Na revista Atlantis, publiquei um estudo sob este título: A luz e a vida onde aventei a hipótese de que os bioelementos (o carbono, o hidrogênio, o oxigênio, o azoto) estão em relação direta com as principais radiações luminosas.

Pelos trabalhos de Louis de Broglie sabemos que a matéria é energia que contém luz e calor; a desintegração atômica demonstrou-o de uma forma irrefutável. Mas ainda não foram percebidas as relações que existem entre as diversas radiações da luz solar e os bioelementos, nem se compreendeu ainda, embora isso já esteja contido na lenda do nascimento de Vênus-Afrodite, desde a mais remota antiguidade, que foram radiações luminosas que formaram nas águas primitivas a primeira matéria viva.

Com efeito, no mito do nascimento de Vênus, contado na Teogonia de Hesíodo, 800 anos antes de nossa era, vemos Kronos, o Tempo, mutilar seu pai Urano, o Céu (Aur-Iuz) e lançar no mar os restos de sua virilidade. E é do sêmen do Urano que nasce Afrodite. Eis por que Botticelli representou Vênus saindo das ondas, de pé numa concha de Santiago, símbolo solar.

As principais radiações do sol dividem-se em três grupos distintos:

1º - Os raios infravermelhos, caloríficos, de grande comprimento de ondas.
2º - Os raios visíveis, do vermelho ao azul.
3º - Os raios ultravioletas, cujas ondas são curtíssimas.

Ora, essas três divisões correspondem aos três caracteres da manifestação do demiurgo, enquanto criador, mantenedor e destruidor (que destrói para reconstruir).

Já sabemos que os raios visíveis conservam a vida e que os raios ultravioletas destroem-na. O papel criador pertenceria, portanto, aos raios infravermelhos. Com efeito, estes são os raios caloríficos; não é portanto de admirar que eles se encontrem na origem do carbono e da química orgânica, a química do carbono.

Compreende-se, a partir daí, por que os alquimistas colocavam o carvão e a cor negra na base da Grande Obra que, na realidade, é uma pesquisa acerca das relações entre a luz e a vida.

Na outra extremidade do espectro, encontram-se os raios ultravioletas, os destruidores: eles estão relacionados com o azoto e talvez o tenham engendrado; azoto significa "impróprio para manter a vida" (A, privativo, e ZOÉ, vida). Essa palavra, entre os alquimistas, era escrita assim: AZOT, e era formada da primeira letra dos alfabetos latino, grego e hebraico, e da última letra desses mesmos alfabetos.

Os bioelementos correspondem aos quatro elementos clássicos. Se o carbono se associa ao elemento Terra e o azoto ao Fogo, iremos encontrar o Ar e a Água (Aor e Agni) nos raios intermediários.

Com efeito, os raios vermelhos estão relacionados com o hidrogênio enquanto os raios a se relacionam com o oxigênio, isto é, com os dois principais constituintes da água e do ar.

Restam os raios azuis, que se colocam entre os raios que mantêm a vida e os que a destroem. A que corresponderiam eles? Eu estava na impossibilidade de sabê-lo e já perdia a esperança de vir a descobri-lo, quando fui instruído por uma voz misteriosa, que já ouvira outras vezes, e isso, num momento em que meu pensamento estava ocupado com coisas inteiramente diferentes esses raios correspondiam ao protóxido de azoto. E, com efeito, o protóxido de azoto coloca-se entre o oxigênio (raios amarelos) e o azoto (raios ultravioletas); além do mais, os raios azuis são calmantes, adocicantes; fazem adormecer. O protóxido de azoto é usado para fazer adormecer nas operações cirúrgicas, ocasiões em que, o paciente vislumbra uma luz azul.

É este, portanto, o quadro das relações entre as radiações luminosas vindas do sol e os fenômenos vitais:

Raios ultravioletas - Azoto . . . destroem a vida.
Raios azuis - Protóxido de azoto N2O . . . fazem adormecer.
Raios amarelos - Oxigênio, raios vermelhos - Hidrogênio . . . conservam a vida.
Raios infravermelhos - Carbono . . . criam a vida.

Acrescentamos que o protoplasma, que é encontrado no fundo dos mares, parece constituir a primeira matéria viva; que alguns seres, como as medusas, são formados de uma substância gelatinosa que contém mais de 90% de água. Nosso corpo, em média, contém 65% de água, e reconstitui o meio marinho subterrâneo, no qual se banham células semelhantes aos primeiros organismos.

Assim o problema tantas vezes pesquisado da origem da vida parece ter encontrado a sua solução (por vezes entrevista, aliás) e essa origem está em completo acordo com os ensinamentos do Evangelho joanita. Ele nos da uma clara visão das relações entre o demiurgo solar e suas criaturas. Toda a história da evolução da Humanidade encontra, a partir daí, sua explicação lógica, e não é este um dos menores ensinamentos que podemos tirar do Evangelho iniciático de Ioan (João)

Percebe-se, agora, que a natureza da luz é o maior dos problemas da Física, que os átomos são formados de luz e que eles contêm em si uma força imensa. Essa força é a ENERGIA (energeia, em grego), palavra na qual encontramos Aor-Agni. Por que admirável mistério esse nome caracteriza as qualidades do Verbo, saído da substancia-princípio, a Virgem matéria, a MATÉRIA virgem, que se tornou a Virgem Maria, aspecto feminino do ESPÍRITO?

As teorias sobre a luz levam a conclusões contraditórias e opostas, como tudo o que diz respeito ao Deus universal, no qual os contrários se unem. A palavra luz, está bem próxima da palavra Lex, a lei; e Phos está bem próxima de Sophia, a Sabedoria. Vemos, portanto, que existe um mundo de interferências entre as palavras e as coisas, interferências às quais os homens são estranhos e que não podem ser atribuídas senão àquele a quem João chama de o VERBO, a PALAVRA.

Hermes - que representa o Conhecimento do dualismo representa do pelas duas serpentes do caduceu e as duas asas de seu capacete, está unido a Vênus-Afro a Beleza e o Amor - no hermafrodita - o andrógino dos arquimistos*. Simples clarões que brilham em meio às trevas, para nos guiar até a luz.


Paul Le Cour


Nota deste blog:
* Palavra não encontrada nos dicionários; talvez seja "alquimistas" a correta.


Fonte: do livro "O Evangelho Esotérico de São João", Ed. Pensamento, 2a. Ed., pp. 127-9
Via: HERMANUBIS MARTINISTA
http://www.hermanubis.com.br/artigos/artigos.htm
Fonte da Gravura: http://bibliaecatequese.com/wp-content/uploads/2014/09/sjoaoevangelista.jpg