quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A MEMÓRIA DO PASSADO E AS FORÇAS CÁRMICAS CONDUTORAS


(...) o subconsciente mantém em reserva, em estado de latência, a memória de todo o passado biológico do indivíduo e da espécie. Aqui, entretanto, à memória ancestral, que reproduz no plano orgânico as qualidades adquiridas pela raça em suas longas experiências, agrega-se uma memória pessoal, que reproduz no plano psíquico as qualidades adquiridas pelo indivíduo, nas experiências de suas múltiplas vidas.

(...) A parte psicológica, correspondente a esta memória pessoal, tem função preponderante naquele "Livro Tibetano dos Mortos", em relação à vida após a morte. A vida do desencarnado, diz este livro, é totalmente produzida pelo conteúdo mental do próprio indivíduo que a percebe.

Assim, um muçulmano verá o paraíso de Maomé, um hindú verá seu nirvana, o cristão seu céu de anjos e santos, o materialista, depois da morte, terá somente visões negativas, vazias, tal como imaginava quando encarnado. Essas visões mudam de acordo com a erupção das formas pensamentos fixadas no indivíduo que agora as percebe.

Isto, até que sua força cármica condutora não se tenha esgotado por si mesma. Trata-se de formas-pensamento ou criações mentais que, no estado do desencarnado, sem corpo material, adquirem, num ambiente imponderável, a consciência do real, como nos aparece em nosso mundo sensorial, na vida. Essas formas-pensamento são constituídas de matéria sutil, que representam a primeira fase na criação da matéria, a que se deriva diretamente do pensamento, que sobre ela tem poder genético e modelador. Assim, essas formas-pensamento derivam diretamente do pensamento, ou seja, dos pensamentos que cultivamos ou que nos dominaram na vida, isto é, de nossa atitude espiritual dominante ou habitual da qual derivaram também as atividades mais repetidas, geradoras, por isso, daqueles automatismos com que se fixam as tendências e instintos futuros.

Assim, afirma o livro citado, no estado de desencarnados vivemos no ambiente que nós mesmos formamos com nossos pensamentos durante a vida. Esgotado o impulso que nós mesmos lhe imprimimos, termina a representação ou projeção  e o estado de desencarnado. O espírito se sente então atraído a dirigir-se ao mundo dos encarnados, para recomeçar nele suas experiências. 

Esta é a doutrina do "Livro Tibetano dos Mortos". Quer nos advertir que, no estado de desencarnado, essas visões não são realidade, senão apenas reflexos das próprias formas-pensamento. Os pensamentos são como gérmens concretos, sementes que podem ser plantadas no terreno de nossa consciência. Se encontram terreno favorável, ou seja, afim, de modo de poder sintonizar com eles, lançam raízes, sejam elas boas ou más, crescem e formam a personalidade, ou natureza espiritual de um homem, do qual, mais tarde, dependerá seu destino e também sua forma física, especialmente a da aparência. Nessas sementes, se imprimem os pensamentos dominantes na vida de um homem.

(...) Essas formas-pensamento são inseparáveis da alma, representam sua própria natureza, de modo que seguirão o indivíduo em qualquer lugar que se encontre. São forças ativas, cujo movimento fatal não pode ser detido, e que necessitam concluir sua ação até o fim, de acordo com a lei cármica de causa e efeito.

No estado de desencarnado, o homem se encontra no mundo dos efeitos, cujas causas foram cultivadas na vida por meio de seus pensamentos dominantes e de suas obras. Por isso, paraíso e inferno são estados mentais de alegria ou dor, criados por nós mesmos, existentes para cada um na forma gerada por ele mesmo, e inexistentes fora de sua mente.

São estados ou condições completamente espirituais daquela alma, que, havendo perdido os meios sensoriais para sentir, permanece sendo o centro de toda a capacidade sensitiva, especialmente agora que está livre do corpo. A crença difundida em todo o mundo, em estados de alegria ou sofrimento após a morte, e isto dependendo da boa ou má conduta procedente do indivíduo, crença que reconhecemos em tantos povos, nos mais diversos lugares e, pode-se dizer, em todos os tempos, demonstra que nos encontramos frente a um fenômeno que não pode ser produto de um só pensador ou de determinada filosofia ou religião, senão que é parte da realidade biológica universal, verdadeira para todos, em todos os tempos.

Há conceitos instintivos, comuns a toda a humanidade, como os conceitos de bem ou mal, que se revelam inerentes à própria natureza humana e que formam parte de uma ética biológica universal, da que também os animais superiores mais inteligentes, e que mais próximos convivem com o homem, chegam as vezes participar. Foi assim que pode nascer, nos lugares e tempos mais remotos, a mesma ideia de inferno e paraíso, ainda que repleta das mais diversas imagens mentais, sugeridas pelo próprio ambiente terrestre particular.

(...) Quando o homem houver aprofundado as ciências biológicas e psicológicas, chegando a compreender a biologia também como fenômeno espiritual, então poderá reconhecer a verdade objetiva desses estados espirituais, após a morte, que se chamam inferno e paraíso. Existência objetiva mas só como estado mental, exclusivamente pessoal, em íntima relação com a existência terrena precedente e com seu tipo de pensamentos e atividades dominantes.

Depois da morte, o que o indivíduo pensou e fez se torna objetivo. Tudo o que ele viveu, volta a ele na forma de reflexos cármicos. As formas-pensamento visualizadas em sua consciência, que ele deixou enraizar-se, crescer e expandir-se, vive agora diante dele, tomando forma concreta naquele ambiente mais sutil, em que isto se torna possível. De fato, a tendência de todo o pensamento é de alcançar sua manifestação. E isto, repetindo o motivo fundamental da criação, do primeiro ato genético operado por Deus, do qual chegou à construção do universo físico.

Aquele é o primeiro grande modelo; esta é a repetição. O universo funciona através de modelos únicos e de sua repetição em todas as dimensões e graus da evolução. Assim, a vida, encontrando um caminho, tende a passar por ele infinitas vezes, até que encontre uma estrada melhor. Quando a ciência psicológica estiver mais evoluída, esses fenômenos mentais se tornarão claramente compreensíveis e se compreenderá como nossos impulsos mentais, na vida, podem, depois, personificar-se em formas, no estado post-mortem.


Prof. Pietro Ubaldi


Fonte: do livro "Expresiones de la Lei de Evolucion", Editorial Kier, Buenos Aires
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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