quarta-feira, 14 de junho de 2017

MOZART E A FLAUTA MÁGICA


A Flauta Mágica, obra de Mozart, tem dois aspectos fascinantes: a história, quase infantil, que raramente chega às crianças, e a música que há 200 anos fascina os adultos.

Se a história de Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas, desafia claramente o leitor pela sua riqueza simbólica, dificilmente cifrada pelo adulto, a Flauta Mágica tem sido considerada, para os não iniciados, como uma história simplória, com versos medíocres, com uma moral primária e corriqueira.

O libreto de A Flauta Mágica parece ter sido escrito em 1731, relacionado com os Mistérios Egípcios. O próprio Mozart, como iniciado maçom, o conhecia certamente.

Eis a história: "um príncipe (Tamino) e um caçador de pássaros (Papagueno), atendendo ao apelo de uma rainha (a Rainha da Noite), tentam resgatar a princesa (Pamina), sequestrada num castelo.

Para cumprir essa missão, Tamino e Papagueno recebem da Rainha da Noite, por intermédio das suas damas, um carrilhão e uma flauta, ambos mágicos, além de três gênios que serviriam de guias. São representados, na ópera, por três crianças.

Por caminhos diferentes, Tamino e Papagueno chegam ao palácio de Sarastro. Pamina está lá, realmente prisioneira, atormentada por um escravo mouro de Sarastro (Monostatos), que já tentara violá-la na ausência do amo.

Chega Papagueno e Monostatos foge. Entretanto, Tamino discute com um sacerdote do templo de Sarastro: este lhe diz que Sarastro não é mau, mas nobre e justo, e que um dia, ele, Tamino, compreenderá tudo. Isso abala completamente os propósitos iniciais de Tamino.

Os três acabam presos quando Sarastro chega. Manda chicotear o escravo, explica a Pamina que sua mãe, a Rainha da Noite, é uma mulher perigosa e determina que Tamino e Papagueno sejam submetidos às duras provas no templo, como, por exemplo, a prova do silêncio.

Se passarem por tais provas, entrarão para a irmandade. Tamino receberá ainda a mão de Pamina e Papagueno o que ele mais deseja na vida: uma mulher para se casar. Entretanto, Pamina, adormecida, desperta a luxúria de Monostatos. Mas chega então a Rainha da Noite e mostra que Sarastro tinha razão: ela aterroriza a filha e lhe dá, cheia de ódio, um punhal, para que assassine a Sarastro. Depois desaparece.

Monostatos, que viu tudo, chantageia Pamina. Contudo, chega Sarastro, que expulsa o mouro e tranquiliza a rapariga, dizendo que naquele templo não há lugar para a vingança. Enquanto isso, Tamino vai passando nas provas, mas Papagueno não consegue sequer ficar calado. Acaba por ser expulso do templo. Pamina vai encontrar-se com o príncipe e não compreende porque ele não lhe dá resposta.

Julga que Tamino não mais a ama, fica desesperada, pensa em suicidar-se com o punhal – mas é impedida pelos três gênios. Volta ao templo e tem permissão para acompanhar Tamino nas suas últimas provas: a do fogo e a da água – o que os dois conseguem superar com sucesso, protegidos pelo som da flauta mágica.

Vagueando pelos bosques, Papagueno, inconsolado e cômico, pensa também no suicídio, mas também ele é salvo pelos três gênios. Sugerem-lhe que ele, Papagueno, toque o seu carrilhão mágico: ao som do instrumento aparece-lhe o que mais desejava: uma companheira.


Na escuridão da noite chegam a Rainha da Noite e o seu séquito, guiados agora por Monostatos, que se aliou contra Sarastro, ante a promessa da mão de Pamina. Vão destruir o templo e matar Sarastro e os sacerdotes. Mas estes irrompem com um poder descomunal e aniquilam as pérfidas criaturas. Pamina e Tamino casam-se com grande pompa e com muitas congratulações pela sua coragem, fidelidade e virtude".

O libreto fascinou tanto o rosa-cruz Goethe que ele se propôs a fazer com ele o mesmo que fizera com a sua obra-prima Fausto: escrever uma segunda parte. Em resumo, a história é essa.

Comecemos o estudo pelo simbolismo do número das personagens: são nove. Dentro da simbologia gnóstica, o número é chave para a compreensão de múltiplos mistérios, tanto no microcosmos quanto no macro.

O príncipe Tamino é verdadeiramente o herói da história. Ele representa a todos os Iniciados (homens e mulheres), que realizam em carne própria a Grande Obra, a Magnus Opus. Logo nos primeiros acordes surge Tamino numa situação incrível: a fugir de um dragão (uma serpente, no texto original).

Essa Serpente-Dragão representa as forças caóticas da natureza, as forças do Ego. A representação de uma personagem de Mozart é sempre feita de modo que qualquer pessoa a compreenda de imediato.

As primeiras palavras de Tamino, que grita por socorro, é um autêntico aviso do autor de que vamos entrar num território, inédito aos olhos do não-iniciado. Reside aqui precisamente a falta de compreensão desta obra musical. É que ela trata de segredos iniciáticos, que não são do conhecimento vulgar.

A segunda personagem é a princesa Pamina. Tamino, o príncipe, apaixona-se ao ver o seu retrato. Muito se tem escrito sobre esta dualidade, Tamino-Pamina. Quando Tamino vê o retrato, canta uma ária lindíssima. Serviu de fundo musical ao filme O Enigma de Kaspar Hauser. Pamina representa nossa Alma Divina, a Consciência, adormecida e presa pelo Ego e pela Mente.

A 3ª personagem é Papagueno. É a mais exótica, popular e sedutora. É o caçador de pássaros. É o “cão” que guia o cavaleiro, é o instinto que nos auxilia a trilhar corretamente o Caminho.

A 4ª é Monostatos, o criado mouro. (No filme, a cena entre Monostatos e Pamina foi alterada em relação ao original. Bergman substituiu as ameaças e a tentativa de Monostatos apunhalar Pamina por uma única, curta e sibilante entrada do mouro, muito no seu estilo.)

A 5ª, 6ª e 7ª personagens são as três crianças, os 3 Reis Magos, os dois Vigilantes e o Guardião da Maçonaria. Guiam Tamino, informam-no como deve escolher e as atitudes de firmeza que devem adotar, mesmo as de obediência. Quando Pamino pensa no suicídio, essas personagens fazem a ele ver que não conhece verdadeiramente a situação e a inutilidade do seu tresloucado ato.

O mesmo acontece a Papagueno, a quem explicam que nem tudo está perdido e ainda há alguma coisa por que lutar.

A 8ª e 9ª personagens são a Rainha da Noite e Sarastro.



A Explicação Esotérica

A Flauta Mágica inicia-se com três acordes majestosos, que se referem aos três passos ou graus fundamentais de todos os ensinamentos iniciáticos, e também aos 3 degraus de todos os altares místicos.

O terceiro acorde corresponde aos três toques do candidato, quando procura a porta do templo. A esses acordes segue-se, no original, uma marcha solene, preparada para instrumentos de metal, que simboliza o caminho a percorrer pelo Candidato, pelo Aprendiz.

O caminho é longo e o trabalho, cansativo. Mas o aspirante digno chega ao ponto culminante e torna-se um Iniciado. Na abertura, descrevem-se vários processos pelos quais a Pedra Bruta se transforma numa pedra trabalhada e viva. A abertura finaliza com a repetição das três pancadas ou acordes. Essa cena desenrola-se no Egito, num campo aberto, perto do Templo de Ísis. Tamino, quando entra em cena, é perseguido por um dragão, símbolo dos desejos inferiores, egóicos.

Faz uma prece e cai inconsciente. Surgem três jovens cobertas por véus. Simbolizam a purificação do corpo físico, do corpo de desejos e da mente, são os mesmos símbolos dos 3 cravos da cruz crística (os 3 graus de purificação pelo Fogo da Kundalini). A morte do dragão indica que Tamino alcançou a vitória sobre sua própria natureza inferior.

Tamino e Papagueno encontram-se. Logo depois surgem as três jovens que repreendem Tamino por reivindicar a morte do dragão, porque na verdade quem mata o Dragão não somos nós, mas uma força sagrada superior à mente. (Que Força será esta?) Dão a Tamino o retrato de Pamina, a filha da Rainha. Pamina representa a natureza espiritual do ser humano, Budhi, a Bela Adormecida ou a Consciência Espiritual, que é correntemente representada por uma figura feminina – como vemos nos textos de Salomão e de Camões.

Quando o discípulo se aperfeiçoa na busca e começa a sentir a maravilhosa beleza superior, se lhe dedica e consagra, realiza-se o que chamamos bodas místicas ou bodas de Canaã.

As três jovens informam a Tamino que foi escolhido para libertar Pamina, subjugada pela magia negra. Há um ensurdecedor barulho e surge a Rainha da Noite. Com palavras extremamente solenes relata o desaparecimento de Pamina, sua filha. Reconhece a piedade e sapiência de Tamino que considera capaz de a salvar. O cenário escurece de novo. É então que no aspirante se começa a desenvolver a clarividência.


Esta visão permite-lhe ver os mundos internos ou superiores. A pergunta que Tamino faz é a mesma de todos os aspirantes: “É verdade aquilo que vejo? Ou será apenas ilusão?”. O segundo ato começa com uma marcha solene, com música para instrumentos de sopro. Os sacerdotes, acompanhados por Sarastro, querem saber qual o objetivo da vinda de Papagueno.

Este responde-lhe que não se preocupa com a sabedoria, que apenas lhe interessa comer e beber. Tamino, por seu lado, deseja a sabedoria e, também, unir-se a Pamina. Há poucas pessoas, como Tamino, dedicadas ao serviço da Sabedoria! As três jovens experimentam Tamino, tentando-o convencer de que Sarastro lhe prepara uma traição. Tamino nega-se a ouvi-las.

É que em tempos de crise as forças unem-se para impedir o espírito de alcançar a luz e confundi-lo, separando-o da fonte de sabedoria. O segundo ato, na sua maior parte, é dedicado às provas do Aspirante. Esta cena termina com uma magnífica ária de Sarastro.

Cada instituição que se dedica ao estudo das leis divinas cria uma força dinâmica que pode ser utilizada para construir ou destruir. É da máxima importância que cada grupo aprenda a pôr em prática a seguinte regra: “viver e deixar viver”. A prudência é a melhor arma para combater qualquer tendência para a bisbilhotice, ciúmes, inveja ou ódio. Se isso for negligenciado, haverá discórdias, dissidências e, por fim, a destruição.

As jovens oferecem-lhe então uma flauta mágica, o símbolo dos poderes latentes do espírito, da divindade adormecida no homem. (Lembre-se da flauta de Krishna, com 7 orifícios, e que ele utilizava para encantar bestas, homens e deuses.) O mago negro, Monostatos, símbolo dos poderes do espírito usados incorretamente, arrasta Pamina. Atira-a para um caldeirão e ordena a três escravos que a prendam.

Os três escravos são os corpos internos inferiores (de desejos, mental e causal), chamados também de Os 3 Demônios (Judas, Pilatos e Caifás), relacionados com os prazeres inferiores, com o medo e a ignorância.


Quando o cenário muda, veem-se três templos: o da Razão, à direita; o da Natureza, à esquerda e o da Sabedoria, no meio. Os três templos representam as três forças distintas: a masculina, a feminina e a união de ambas, isto é, a força masculina, a beleza feminina e a sabedoria, que é filha das duas. Representam também as Três Montanhas, ou graus de liberação absoluta do Mestre: a Montanha da Iniciação, a da Ressurreição e a da Ascensão.

Aparece depois um sacerdote idoso e Pamino sabe que está no Templo de Sarastro, o Sacerdote do Sol, o mago branco ou o Iniciado-Condutor. Explica-lhe que vivemos cercados de estímulos aos quais se reage conforme a espiritualidade que se tem. É assim que tem de começar o trabalho de autoaperfeiçoamento.

A lei fundamental diz que a verdadeira ação esotérica só pode ter sucesso se for baseada na união com o espírito. A pedra fundamental de todas as sociedades ocultistas iniciáticas pode ser encontrada nas palavras de Sarastro: “Nestas amplas galerias não se conhece vingança”, que não são, afinal, mais do que a repetição daquelas que lemos nas obras dos grande iniciados.

A cena final começa numa quase total escuridão. A Rainha da Noite aproxima-se de Monostatos, que leva uma tocha. Ouve-se um grito de pavor e surge Sarastro e os sacerdotes, Pamina e Tamino.

Nesta ópera, Mozart descreve a senda do candidato, que procura a luz, “pobre, nu e cego” (como todos nós, míseros seres adormecidos). Demonstra os passos do Caminho, as suas Provas, nas quais se prepara o espírito para se tornar digno de entrar no Templo (Interior), naquele templo verdadeiro, que é feito sem ruído de pedra nem de martelo, em que a luz do Conhecimento (Gnose) permanece eternamente.





Fonte do Texto e das Gravuras: GNOSIS ONLINE
http://www.gnosisonline.org/misterios-da-musica/mozart-e-a-flauta-magica/

segunda-feira, 5 de junho de 2017

CORRUPÇÃO POLÍTICA E A MISSÃO DO ESPIRITISMO


O objetivo central da política é a obtenção do bem comum. O bem comum é “um conjunto de condições concretas que permite a todos os membros de uma comunidade atingir um nível de vida à altura da dignidade humana”. Esta dignidade refere-se tanto às coisas materiais quanto às espirituais. Depreende-se que todo o cidadão deve ter liberdade de exercer uma profissão e aderir a qualquer culto religioso. Diz-se, também, que almejar o bem comum é proporcionar a felicidade natural a todos os habitantes de uma comunidade.

A corrupção, ou seja, o pagamento de propina para obter vantagens, quer sejam de ordem financeira ou tráfico de influência, deteriora a obtenção do bem comum, pois algumas pessoas estão sendo lesadas para que outras obtenham vantagens. Lembremo-nos de que “todo poder corrompe e todo poder absoluto corrompe absolutamente”. Significa dizer que sempre teremos que conviver com algum tipo de corrupção. Eticamente falando, o problema maior está no grau, no tamanho da corrupção e não a corrupção em si mesma.

No Brasil, estamos assistindo a uma enxurrada de denúncias, que vão desde o chamado caixa 2 de campanha política, até a compra de votos para aprovar projetos importantes na área governamental. O vídeo que mostra um funcionário dos Correios recebendo propina foi o estopim da crise. De lá para cá as denúncias não param. O deputado Roberto Jefferson, um dos acusados de comandar a propina nos Correios, saiu distribuindo acusações para todos os lados, no sentido de se defender do ocorrido.

Diante deste fato, pergunta-se: que tipo de subsídio o Espiritismo nos fornece para a compreensão dessa situação? Em O Evangelho Segundo o Espiritismo há alusão aos escândalos. Primeiramente, Jesus nos fala dos escândalos e que estes deverão vir, mas “Ai do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário que venham escândalos; mas, ai do homem por quem o escândalo venha”. O escândalo significa mau exemplo, princípios falsos e abuso do poder. Ele deve ser sempre considerado do lado positivo, ou seja, como um estímulo para que o ser humano combata em si mesmo o orgulho, o egoísmo e a vaidade.

Lembremo-nos também da frase: “Ninguém há que, depois de ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso, ou a ponha debaixo da cama; põe-na sobre o candeeiro, a fim de que os que entrem vejam a luz; - pois nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente”. (S. Lucas, cap. VIII, vv. 16 e 17). A verdade, assim, não pode ficar oculta para sempre. Deduz-se que aquele que não soube fazer esforços para se pautar corretamente no bem, sofrerá as consequências de suas ações.

O Espiritismo auxiliará eficazmente as resoluções de ordem política, porque propõe substituirmos os impulsos antigos do egoísmo pelos da fraternidade universal. Allan Kardec propõe, em Obras Póstumas, o regime político que deverá vigorar no futuro, ou seja, a aristocracia intelecto-moral. Aristocracia - do grego aristos (melhor) e cracia (poder) significa poder dos melhores. Poder dos melhores pressupõe que os governantes tenham dado uma direção moral às suas inteligências.

Somente quando o poder da inteligência for banhado pelo poder moral e ético é que conseguiremos atingir um mundo mais justo e mais de acordo com o bem comum, pois os que governam propiciarão sob todos os meios possíveis a felicidade da maioria.




+Sociedade dos Espíritos 





Fonte do Texto e da Gravura: http://www.sociedadedosespiritos.com

REFLEXÕES PARA A CONSCIÊNCIA DA ALMA


A fim de manter sua mente limpa, nunca crie dúvidas sobre si nem sobre os outros. Seja como um guerreiro que avança com determinação no campo de batalha para destruir todas as negatividades com a espada dos pensamentos positivos e dos bons sentimentos para todos. Ao manter na mente só o que é limpo, você pode colocar um ponto no passado e encarar o futuro com confiança. (António Sequeira, Virtudes para uma nova consciência, Centro de Raja Yoga Brahma Kumaris de Lisboa, 1999)

Muitas situações vêm como provas para nos tornar mais fortes. O mundo é como um oceano. Pode existir um oceano sem ondas? Existem ondas grandes, ondas médias e ondas pequenas. Algumas ondas vêm para pegar as coisas. Outras ondas vêm para jogar as coisas para fora. O mundo é igual. Diferentes situações vêm e continuarão a vir sempre. O importante é a experiência que acumulamos a cada desafio que decidimos enfrentar. (Dadi Gulzar)

A observação desapegada é a habilidade de nos separarmos dos nossos próprios pensamentos, emoções, atitudes e comportamento. É a arte de ser testemunha das cenas que acontecem ao nosso redor. Enquanto nos desapegamos e observamos como o jogo da vida se desenvolve - sem sermos participantes ativos - somos capazes de ver o quadro todo com mais clareza. Assim fica mais fácil ver claramente o papel que temos a desempenhar e onde nossa contribuição reside. Nós somos criadores. Nossos pensamentos, emoções e atitudes são nossos trabalhadores.

Os obstáculos que surgem não são para prejudicá-lo, eles vem apenas para se despedir de você. Deixe-os vir e ir mas não deixe que os obstáculos sentem-se com você como seus convidados. Agora faça esse esforço: deixe que os obstáculos simplesmente venham e vão embora. Se você permitir que eles sejam seus convidados de novo e de novo, então isso tornar-se um hábito. Eles se sentiriam em casa com você. Portanto, deixe-os vir e deixe-os ir. Não tenha misericórdia deles.




Brahma Kumaris





Fonte: www.bkumaris.org.br
Fonte da Gravura: tumblr.com

quarta-feira, 31 de maio de 2017

ASPIRAIS À LIBERDADE ?


Aspirais à liberdade? Então, seja o que for que vos aconteça, não vos deixeis perturbar nem desanimar, fazei com que o vosso espírito retome, pouco a pouco, o domínio da situação, pois só o espírito é verdadeiramente livre, ele plana acima dos acontecimentos. Quando devolveis ao espírito o seu lugar em vós, algo vos diz que nenhum obstáculo, nenhuma provação, pode fazer-vos perder o equilíbrio, a paz, o amor. E, como as experiências luminosas que fizestes antes vos ensinaram os valores com os quais podeis contar, agarrai-vos a essas experiências, não duvideis do que vivestes de belo e de grandioso, levai-o como um viático para o caminho difícil que ireis percorrer. Quando a tormenta tiver passado, aperceber-vos-eis de que aquilo que poderia ter-vos feito desanimar, pelo contrário, reforçou-vos.




Omraam Mikhaël Aïvanhov





Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: tumblr.com

domingo, 28 de maio de 2017

REFLEXÕES PARA A CONSCIÊNCIA DA ALMA


Doçura é a maestria dos sentidos. Olhos que vêem o fundo das coisas, ouvindo que escutam o coração das coisas, voz que só expressa a essência das coisas. Doçura é o resultado de uma longa jornada interior ao âmago da vida e a habilidade de lá descansar e assistir. O que é realmente doce nunca pode ser vítima do tempo, porque doçura é a qualidade da pessoa cuja vida tocou a eternidade.

O corpo é como um templo; a alma é como uma centelha de luz. O corpo é como um carro; a alma é como o motorista deste carro. O corpo e o cérebro são como um computador; a alma é quem programa e usa o computador. É dito que a alma é uma estrela minúscula que vive no centro da testa, entre as sobrancelhas. Aqueles que praticam a consciência da alma se tornam auto-soberanos. (B.K. Jagadish Chander, Easy Rajyoga, Brahma Kumaris Ishwariya Vishwa Vidyalaya, Mount Abu)

A diferença entre o que dizemos e o que fazemos, entre o que prometemos e o que realizamos, é como a drenagem de uma estrada. Assim como a água escorre através da drenagem, nosso poder nos escapa quando existe uma diferença entre nossas palavras e nossas ações. Para manter o poder interior pergunte a si todos os dias: meus pensamentos, palavras e ações estão alinhados?

Seja sempre um doador nos relacionamentos. Seja como o sol, que dá luz a todos – sejam eles bons ou não. A natureza não faz distinção entre um ou outro enquanto doa. Seja como uma árvore que dá sombra a todos independentemente das qualidades de cada um. Seja com um rio que dá água a todos. Mostre compaixão nos relacionamentos. Isto significa amar mais do que a pessoa merece. Mude conflito em harmonia com paciência e o relacionamento fluirá suavemente. (R.K. Langar, Relationship – a beautiful aspect of life, The World Renewal, 2012)




Brahma Kumaris






Fonte: www.bkumaris.org.br
Fonte da Gravura: tumblr.com

sexta-feira, 26 de maio de 2017

ENCARNAÇÕES DIVINAS - A PERSONIFICAÇÃO DO DHARMA


Dharma (retidão) é o código de conduta que promoverá os ideais de cada estágio de uma pessoa: estudante, chefe de família, assalariado, mestre, servo, aspirante espiritual, asceta (sanyasi) etc. Quando o código é distorcido e a humanidade mina a sua carreira terrena, esquecendo-se do propósito elevado pelo qual alguém veio, o Senhor encarna e conduz as pessoas pelo caminho correto. O Senhor Rama foi uma dessas encarnações. Ele realmente é a Encarnação da Virtude (Dharma-swarupam) envolto em uma forma humana ilusória; Ele aderiu ao dharma na prática diária, mesmo desde Sua infância. Ele é a personificação do dharma. Não há nenhum vestígio de vício (a-dharma) Nele. Sua Natureza Divina é revelada em Seu temperamento calmo e sentimento de amor e carinho. Medite Nele e você ficará cheio de amor por todos os seres; pense a respeito de Sua história e você notará todas as agitações de sua mente se aquietando em perfeita calma. (Discurso Divino, 1 de abril de 1963)




Sathya Sai Baba




Fonte: www.sathyasai.org.br
Fonte da Gravura: instagram.com

quinta-feira, 18 de maio de 2017

REFLEXÕES PARA A CONSCIÊNCIA DA ALMA


Praticar a força de vontade é escolher os traços positivos dentro de nós para superar hábitos indesejáveis. Quando assimilamos boas qualidades e fortalecemos aquelas que já temos fica fácil ajustar nossas vidas. Mas como podemos fazer isso? Esforçando-se conscientemente para ficar mais calmo e racional e fazer decisões ponderadas ao invés de decisões impulsivas e emocionais. Para esse esforço é preciso força de vontade. Quando desenvolvemos o hábito de olhar para nossos pensamentos e emoções - e identificar porque eles vêm - gradualmente desenvolvemos a habilidade para controlá-los. (BK Satyanarayana, The Power of Detachment, The World Renewal, 2009)

Um grande local de trabalho seria aquele onde houvesse altos níveis de confiança, desempenho e aquisição, como um resultado de equipe e da cooperação dos indivíduos. Águias geralmente voam sozinhas. Mas se estamos falando de grandeza no trabalho, deveria ser como um bando de águias. Indivíduos que são muito, muito fortes em seus próprios valores, assertivos, confiantes em sua posição e identidade. Pessoas que desejam doar e que são capazes de agir por um grande propósito. (Brian Bacon)

Que hoje você experimente a paz e o bom silêncio. Todos nós precisamos de paz porque o coração de todos está partido. As palavras eu sou paz atuam como cola para remendar o coração. Primeiro precisamos de introversão e para isso temos que nos abstrair de tudo que está fora. Temos que terminar tudo que é desnecessário. Para isso, vá fundo para dentro e o poder da introspecção o capacitará a desenvolver concentração. Através do bom silêncio você experimentará pureza, paz, amor e felicidade. Este é o verdadeiro benefício da meditação. (Dadi Janki)

Atitudes são mais importantes que fatos. Mais do que qualquer outro aspecto, é sua atitude – ao iniciar uma tarefa - que determinará seu sucesso. Se você está negativo é porque você decidiu estar negativo e não por causa de outras pessoas ou circunstâncias. Então desenvolva a atitude de que há mais razões para a vitória do que a derrota. Irradie a atitude de confiança, de estar bem, de ser aquele que sabe para onde está indo. E logo você verá coisas boas acontecendo com você. (Dadi Prakashmani)




Brahma Kumaris





Fonte: www.bkumaris.org.br
Fonte da Gravura: tumblr.com

domingo, 14 de maio de 2017

DRÁCULA: A LITERATURA FANTÁSTICA NA ERA VITORIANA

                                                                  STOKER, ABRAHAM "BRAM" (1847 - 1912)


Abraham Stoker (Bram) foi membro da ORDEM HERMÉTICA DA AURORA DOURADA (GOLDEN DAWN) - observação deste blog.


Biografia

Escritor irlandês nascido em Dublin, no histórico subúrbio de Clontarf, em novembro de 1847 e morto em Londres a 20 de abril de 1912. Chamava-se Abraham como seu pai (um oficial público civil e protestante na secretaria do Castelo de Dublin), mas sempre preferiu ser chamado de Bram.

Bram Stoker passou os primeiros oito anos de sua vida confinado à cama por uma doença misteriosa que os médicos não puderam diagnosticar. A sua relação com a mãe, Charlotte Thornley, era excepcionalmente íntima e Sra. Stoker partilhou com o filho seu conhecimento e amor por contos de fadas, histórias de fantasmas e apavorantes narrativas da epidemia de cólera de 1832 que ela havia testemunhado.

Aos dezesseis anos, tendo superado a enfermidade, Bram ingressou no Trinity College de Dublin, onde realizou seus estudos, diplomando-se em Matemática (Bacharel em Ciências, com louvor, 1870). Em 1866, iniciou uma carreira de funcionário público que transcorreu toda na Irlanda. Como burocrata, a serviço da Justiça, escreveu um manual intitulado "Deveres dos amanuenses e escrivães nas audiências para julgamento de pequenas causas e delitos na Irlanda". Desempenhou também cargos universitários e pertenceu a sociedades científicas e literárias, colaborou em periódicos, foi cronista, jornalista, contador, diretor de um jornal vespertino, agente teatral, secretário particular e administrador do Royal Lyceum Theatre, de Londres, para o famoso ator shakespeariano Henry Irving.

             Sir Henry Irving, ator shakespeariano que serviu de modelo para a descrição de Drácula


Foi, aliás, Sir Henry Irving - "de voz sibilante e terrível" - quem inspirou a Bram Stoker a figura do diabólico Conde-vampiro dos Székes Transilvanos (grupo étnico que se localizou na Transilvânia, "a terra situada além das densas florestas" romenas, a partir do século VII ou no fim do século IX, como querem alguns, oriundo de tribos húngaras ou búlgaras), "descendentes de Átila e Hunos", "altiva raça que cruzou o Danúbio para bater o turco em sua própria terra" e "rechaçou de volta a suas origens os magiares, os lombardos, os avares e os turcos". Irving recompensou o seu fiel discípulo e colaborador fazendo uma leitura dos diálogos de Drácula no palco do Lyceum Theatre. Um ano após a publiçação de Drácula (em maio de 1897), a carreira de Stoker entrou em declínio. Um incêndio no Lyceum destruiu a maior parte do guarda-roupa, adereços e equipamentos do teatro, que fechou em 1902. Irving morreu em 1905 e a saúde de Bram piorava sensivelmente. Naquele ano teve um derrame e, logo a seguir, contraiu a doença de Bright que afeta os rins. Foi com grande dificuldade que Stoker escreveu seus últimos livros. O homem que escreveu Drácula faleceu aos sessenta e quatro anos, esgotado e empobrecido por longos anos de luta contra a sífilis, sem ter podido gozar o notável sucesso de sua criação. Drácula continua sendo a obra literária mais frequentemente adaptada para o cinema e seus personagens as figuras mais retratadas na tela, além de Sherlock Holmes e do Dr. Watson. Em 1987, a Horror Writers of America instituiu um conjunto de prêmios anuais em seu campo de atuação que foi batizado com o nome de "Bram Stoker Award".


Publicações

- The Duties of Clerks of Petty Sessions in Ireland (1878);
- Under the Sunset (1881);
- A Glimpse of America: A Lecture Given at the London Institution at 28 December 1885 (1886);
- The Snake's Pass (1890);
- The Watter's Mou (1894);
- Croken Sands (1894);
- The Shoulder of Shasta (1895);
- Dracula (1897);
- Miss Betty (1898);
- The Mystery of the Sea (1901);
- The Jewel of Seven Stars (1903);
- The Man (1904);
- Personal Reminiscences of Henry Irving (1906);
- Lady Athlyne (1908);
- Snowbound: The Re-cord of a Theatrical Touring Party (1908);
- The Lady of the Shroud (1909);
- Famous Impostors (1910);
- The Lair of the White Worm (1911).

Publicações Post-Mortem

- Dracula's Guest and Other Weird Stories (1914);
- The Bram Stoker Bedtime Companion (1973);
- Midnight Tales (1990);
- Bram Stoker's Dracula Omnibus (1992);
- The Essential Dracula, ed. Leonard Wolf (1993).

(...)

Uma análise do panorama intelectual da época em que Stoker viveu revela a forte influência dos movimentos espiritualistas na Inglaterra Vitoriana de Fins-do-Século e inícios da Era Eduardiana: a "Belle-Époque".

Estranhas combinações de esotérico cientificismo e ritualístico misticismo eram dadas à luz, ganhavam notoriedade e esfumavam-se na pira da aclamação popular.

Racional e irracional achavam-se estreitamente ligados, as distinções eram muito artificiais. Neste sentido, a figura e a obra do escritor e médico inglês Arthur Conan Doyle (1859-1930), criador de Sherlock Holmes e de seu fiel biógrafo o Dr. Watson, são emblemáticas: aos domínios de raciocínio lógico e agudeza intelectual de Holmes não era estranho, graças ao poder de observação muito sutil, o Reino das Fadas...

O pensamento e as doutrinas de Henri Bergson (1859-1941) exerciam considerável influência neste período de viragem histórica. O laureado Nobel de Literatura de 1927 postulava a "Ação" como ponto inicial de seu sistema filosófico que pretendia combater o Materialismo.

Para Bergson, além do conhecimento científico, existia o conhecimento filosófico, assim como além do conhecimento pela inteligência existe o que é fornecido pela intuição. Intuição dos dados da consciência separados da ideia de espaço e matéria. O pensamento científico, pela análise e abstração, mostra-se incapaz de compreender ou captar a vida e o espírito, os quais constituem o fundo da Realidade...

No que concerne a Bram Stoker, foi o convite feito por Henry Irving para assumir a direção do Lyceum em 1878 que o trouxe a Londres. Era o início de uma longa colaboração que perduraria até a morte de Irving.

O trabalho com Irving põe Stoker em contato com a sociedade inglesa ou certa sociedade londrina apaixonada pelo sobrenatural. Bram sempre guardou certo gosto pelo fantástico.

Stoker vai se filiar à sociedade secreta mágica-iniciadora da "Golden Dawn in the Outer" cuja história Pierre Victor escreveu com detalhes.

Ao lado de Stoker, encontravam-se outros escritores tais como o poeta William Butler Yeats (1865-1939), Arthur Machen, Algernon Blackwood e Sax Rohmer. A Golden Dawn, ordem iniciática embasada em conhecimentos ocultos e práticas de magia, deve ter influenciado os autores de Le Grand Dieu Pan, Fu-Manchu e Dracula (Machen, Rohmer e Stoker).

Samuel L. Mathers, um dos três fundadores da Golden Dawn , era o marido da irmã de Henri Bergson. É possível supor que venha daí a familiaridade de Stoker com as ideias bergsonianas.

Nesse fim de século, tudo é possível! Foi assim que ele pode encontrar em Londres "vampires personalities", "sugadores de sangue", cujas características permanecem contudo muito vagas.

A presença do "jornalista" Stoker em diligências da Yard londrina, possibilitaram ao futuro autor de Drácula um contato em primeira mão com os corpos exangues de vítimas de homicídios que, na época, ainda apresentavam mutilações e cortes característicos de vampirismo e profanação satânica.

Percorrendo as prisões britânicas, Stoker pode encontrar detentos obcecados pela compulsão de verter sangue, vê-lo fluir ou mesmo bebê-lo.

Mas o vampirismo já havia inspirado o gótico britânico dos séculos XVIII e XIX e nutrido a imaginação do criador de Drácula bem antes de Bram Stoker começar a procurar a ambientação e a legenda para o seu nosferatu carpatiano.

É interessante destacar o aparecimento de Carmilla (de Sheridan Le Fanu) em 1872 e d'O Estranho Caso do Doutor Jekyll e Mr. Hyde (de R.L. Stevenson) em 1886.

Nos trabalhos de Ann Radcliffe, Coleridge, Byron, Polidori, Rymer, Le Fanu e Collins estão as raízes ancestrais do Conde Wampyr de Estyria!

Ignora-se frequentemente que, embora Stoker tenha mudado o nome do seu Conde-vampiro ainda na fase inicial da elaboração do livro (por volta de 1890, quando leu os artigos de Emily Gerard e resolveu delinear o seu personagem como um nobre transilvano do século XV), ele só decidiu utilizar Drácula - como título - pouco tempo antes da sua publicação em maio de 1897.

É o ponto central da carreira literária de Abraham Stoker, os outros livros apresentam intuições brilhantes, ainda que não desenvolvidas plenamente. Como se a partir de Drácula, a inspiração de Bram se interiorizasse, manifestando-se apenas em jatos intermitentes. Infelizmente!

Foram muito poucos os que souberam reconhecer a sua importância e o compararam a Frankenstein. No dizer de J. Gordon Melton: "nenhum crítico percebeu que Stoker tinha chegado ao ápice da literatura, mas a verdade é que poucos autores chegaram ao cume que Stoker alcançou"...

A decisão de contar a história por meio do testemunho de múltiplos registros (diários, cartas, notas, recortes de jornais, gravações) partiu provavelmente da leitura dos livros de Wilkie Collins (The Moonstone, The Woman in White). Esta alternância de pontos de vista dos diferentes personagens tem a propriedade de conservar intacto o mistério de Drácula, dado que este é sempre indiretamente aproximado do leitor. Negando-se uma voz narrativa ao Conde também se reforça textualmente o seu papel como o Outro. O estrangeiro, a criatura das trevas...

Para localizar o cenário da sua lúgubre epopéia, Stoker valeu-se de um completo e pormenorizado guia de viagem, o Baedecker, bem como dos livros e mapas do British Museum, particularmente "The Land Beyond the Forest" de Emily Gerard. As longas conversações que manteve com um amigo húngaro também ajudaram...

Por que optou pela Europa Central e pelos Cárpatos como sítio do Castelo de Drácula? O próprio Stoker responde à questão no Diário de Jonathan Harker (...).


"Três de maio, Bistritz (...) Dispondo de algum tempo livre durante minha permanência em Londres, ali frequentei o Museu Britânico, consultando livros e mapas geográficos na biblioteca, a fim de recolher dados sobre a Transilvânia. (...) Verifiquei então que o distrito por ele citado se achava localizado no extremo oriental do território precisamente na faixa limítrofe de três Estados: Transilvânia, Moldávia e Bukovina, no centro da cadeia dos Cárpatos, um dos mais selvagens e desconhecidos sítios da Europa. Em nenhuma das muitas obras e mapas consultados me foi possível estabelecer a exata localização do Castelo de Drácula". [Drácula, 2ed, Porto Alegre: L&PM Editores, 1985, pp. 7 e 8]

Dessa forma referencia-se o itinerário do procurador Jonathan Harker, cuja viagem pela Alemanha, Áustria, Hungria e Romênia pode ser traçada nos mapas com precisão matemática. Harker viaja de Budapeste para o norte da Transilvânia, então parte do Império Austro-Húngaro. Seu destino final era uma localização não-assinalada em qualquer mapa: o Castelo de Drácula. O percurso, duração e impressões da viagem equivalem a uma experiência real. Stoker informou-se tão bem sobre a Transilvânia que parecia lá já ter estado!

A identificação do Castelo com o seu senhor é um tema que aproxima Drácula da primeira ficção gótica (O Castelo de Otranto publicado em 1764 por Sir Horace Walpole). Mas não podemos deixar de especular... Stoker leu algo a respeito de um antigo castelo no Borgo Pass? Sabia algo sobre o Castelo Bram? É claro que nada poderia saber sobre a fortaleza de Vlad Tepes nos Arges...

                                                                      Vlad Tepes


Igualmente interessante é a questão do vampirismo em Drácula.

Além da significativa influência das fontes literárias (Lord Ruthwen, o vampiro de Polidori; Sir Francis Varney de Rymer e a Condessa Karnstein de Le Fanu são os ascendentes mais prováveis), o artigo de Gerard "Transylvanian Superstitions" pode ter fornecido a Stoker uma explicação para o "estigma de Caim" do seu protagonista: o detalhe do Scholomance, a escola do Demônio nas montanhas da Transilvânia, aonde os Dráculas iam buscar os seus segredos.

(...) Segundo Arminius, da Universidade de Budapeste, os Dráculas pertenciam a uma grande e nobre estirpe, embora vez por outra também apresentassem certas degenerescências que, na versão de seus contemporâneos, os levassem a manter estreitas ligações com o Maligno. Eles se apoderaram dos seus torvos segredos nos antros de necromancia, existentes às escarpadas margens do Lago de Hermanstadt, onde o Demônio ia recrutar o seu dízimo humano entre os indiciados para, a partir daí, submetê-los a seus serviços. Nos registros de então, as expressões mais encontradiças são stregoica, que significa bruxa; ordog e pokol que são o mesmo que Satanás e Inferno; e, num determinado manuscrito, este mesmo Drácula é descrito como um wampyr, cuja lexicologia conhecemos já perfeitamente. Houve neste clã muitas e sucessivas gerações de grandes homens e bondosas mulheres e até hoje seus túmulos santificam aquele chão onde somente o mal podia florescer. Pois não é certamente o menor dos seus terrores devermos admitir que este ser do mal ainda conserva suas raízes profundamente mergulhadas nas terras do Bem, visto como sobre os solos de sagradas memórias ele jamais poderia deter-se. [Drácula, L&PM, p. 301]

É este Drácula fictício e não o histórico que conquistou a imaginação do mundo ocidental. "O fascínio de Drácula reside em seu mito, não em sua realidade" (Florescu & McNally).

A ideia de um morto retornar para reivindicar o amor de um vivo era um tópico popular no folclore europeu. A mais famosa peça literária a abordar o tema foi a balada "Lenore" de Gottfried August Bürger, popularizada na língua inglesa graças a tradução de Sir Walter Scott.

Segundo Roger Vadim (cineasta francês de Rosas de Sangue/Carmilla) "de todas as manifestações poéticas do Ocultismo, o mito do vampiro é a mais atrativa, duradoura, resistente e satisfatória".

Uma justificativa para esse permanente poder de atração da legenda vampiresca pode ser encontrada na riqueza das tradições mitológicas (ainda que a geografia cultural da legenda seja eminentemente ocidental e européia, na forma sob a qual nos foi legada), no grande número de relatos e obras publicadas, na psicanálise freudiana e por extensão nas concepções sociológicas marxistas e marcusianas:

Eros e Thânatos (amor, sexo e morte) são elementos chaves para o entendimento de nossa civilização.

O vampirismo (enquanto relação sublima-da na arte, literatura, etc.) permite o pleno desfrute do binômio sangue-sexo.



Transferimos para o nosferatu - ser vivente que se recusa a acatar a implacável lei natural e perecer - toda a magia de nossa sede de imortalidade que e também uma vontade de liberdade, uma reação contra os mecanismos de coerção e correção social que nos limitam e aprisionam.

A busca de imortalidade é (pode ser), em última análise, a busca de liberdade e da felicidade.

Segundo Marcuse, liberdade e felicidade são termos intimamente relacionados: "A felicidade, como realização de todas as potencialidades do indivíduo, pressupõe liberdade (...), no fundo é liberdade."

(...)

As personagens de Stoker são positivas (em graus diversos) porque agem. A vida é continua modificação e diversificação em sucessivas criações [Byron e Bergson].

Vendo por este prisma, não se pode compreender o mundo, a não ser que seja ele impelido por uma ação, seja ela mágica, onírica ou artística. 

Drácula, o príncipe negro da Transilvânia, ajusta-se a tais critérios mas é mais do que uma hipérbole da reprimida sexualidade vitoriana. (Reprimida e liberada pelas convenções, os vitorianos viviam intensamente uma vida dupla passada em clubes e casas noturnas...)

Sombra especular de nossos egos, oferece a oportunidade de maior liberdade na harmonização das polaridades de uma personalidade pluripotente, em um ser uno, não mais dividido e fragmentado.

Assim o mundo parte do sonho e ao sonho retorna tomando às vezes a forma de um pesadelo. Quando questionado, Abraham Stoker respondia que Drácula fora inspirado num pesadelo provocado por indigestão de frutos do mar...

"La fête du sang" (the feast of blood - subtítulo de um livro de James Malcolm Rymer) celebrada por Drácula, o "Príncipe nas Trevas", deve dar lugar a uma ressurreição e ascese mais espiritual?

Para Stoker, assemelham-se os dois caminhos; é preciso ir até o fim do terror e enfrentá-lo. O grão deve perecer para que frutifique (...).

Depois surge a luz: as páginas finais evocam uma aurora radiosa sem as nuvens portadoras da angústia (...).



Bram Stoker escreveu 17 livros, nenhum deles porém foi capaz de obliterar o fascínio crescente que ia se acumulando em torno da legenda do seu príncipe-vampiro transilvano.

Quando Stoker morreu em 1912, "Drácula" estava em nona edição e já havia ganhado os palcos londrinos.

O biógrafo de Stoker, Harry Ludlam escreveu: "Há um profundo mistério entre as linhas de sua obra... o mistério do espírito do homem que as redigiu...".

Se existem respostas para o mistério de Stoker é nas páginas de sua obra que devemos procurá-las.

(...)





Fábio Silveira Lazzari





Fonte do Texto e das Gravuras: http://www.carcasse.com/sepia/bram.htm

(Os grifos são deste blog.)
(Texto reduzido)




Fontes Consultadas:

ENCICLOPÉDIA VNIVERSAL ILVSTRADA EVROPEO-AMERICANA. Barcelona: Espasa-Calpe. 1930. v. 57. p.1024.

McNALLY, Raymond T. & FLORESCU, Radu R. Em Busca de Drácula e outros vampiros. São Paulo: Mercuryo, 1995. 304 p.

MELTON, J. Gordon. O Livro dos Vampiros. São Paulo: Makron Books, 1995. pp.731-32.

MACINTYRE, Alasdair. As ideias de Marcuse. São Paulo: Cultrix, 1993. pp. 15-18.

MILLER, Elisabeth. A Gênese do Conde Drácula in Megalon, São Paulo, 1997. v. 9. nº 43. pp. 22-25.

sábado, 13 de maio de 2017

A ESTRUTURA DOS GRAUS FILOSÓFICOS (A CABALA E A ROSA-CRUZ NA MAÇONARIA)


A Cabala e a Rosa-Cruz

Os chamados graus filosóficos são os graus onde a mística que faz da Maçonaria uma prática tão fascinante é desenvolvida em toda a sua plenitude. No Rito Escocês Antigo e Aceito, eles vão do 19º ao 30º, constituindo um processo pedagógico, ao longo do qual se distribui toda uma série de ensinamentos de fundo moral e iniciático, destinada a inspirar o iniciado maçom a buscar maiores patamares de sabedoria e aperfeiçoar, ainda mais, o seu espírito especulativo. Nesses graus a ênfase é posta na face ética e espiritualista da prática maçônica, razão pela qual encontraremos, ao longo do desenvolvimento dos rituais respectivos, uma série de temas filosóficos e religiosos, ora tratados de forma simbólica e iniciática, na melhor tradição das antigas seitas gnósticas e escolas cabalísticas, ora de forma acadêmica, como numa escola tradicional.

As alegorias que fundamentam o desenvolvimento do catecismo maçônico nos graus filosóficos são impregnadas de um profundo misticismo, inspirado pelas tradições herméticas, a gnose cristã vista pelos olhos dos praticantes do pensamento rosa-cruz, e principalmente pelas doutrinas cabalistas.

Procura-se realizar, com base nesse simbolismo, o desenvolvimento de uma filosofia semelhante à que amparava a simbólica Cavalaria do Graal, ou seja, uma filosofia cristã, de fundo místico, cujo objetivo é demonstrar ao iniciado maçom que o homem verdadeiro é aquele que combina em seu caráter a espiritualidade transmitida pela verdadeira sabedoria contida nos escritos do Velho Testamento ‒ sabedoria essa que foi transmitida por Deus aos patriarcas hebreus e seus profetas   ̶ com os ensinamentos de Cristo, transmitidos pela melhor tradição gnóstica.

Em nossa obra “Conhecendo a Arte Real”, [1] advogamos para os filósofos hermetistas da Renascença, especialmente Giordano Bruno e os chamados filósofos do movimento Rosa-Cruz, uma influência bastante sensível na formação dos grupos especulativos que deram origem á Maçonaria moderna. Agora podemos dizer que tais grupos, que chamamos de rosacrucianos, não teriam existido se não fossem os cultores da Cabala filosófica, cujas correntes de pensamento se desenvolveram a partir do século XII, principalmente nas regiões européias com predominância da cultura mourisco-judaica, onde a influência desses povos era muito forte. [2]

Foram filósofos dessa escola, como Picco de La Mirandola, Johann Reuchelin, Cornéllius Agripa, Guilherme Postel, os grandes inspiradores da tradição hermética renascentista e particularmente do chamado pensamento rosacruz. Postel, que nasceu em 1501, foi o autor de uma obra chamada De Orbis Terrae Concondiae, na qual advoga o estabelecimento de uma única nação universal, guiada pelo papa e governada pelo Rei da França, que, segundo ele, era descendente direto de Noé. [3] Conta-se que tentou convencer inclusive o fundador da Ordem dos Jesuítas, Inácio de Loyola, para ajudá-lo a estabelecer uma Confraria universal para a realização desse propósito. [4]

A interação mais profunda entre a tradição cabalística e a filosofia dos rosa-cruzes, porém, só viria acontecer mais tarde, já no século XIX. Foi responsável por essa interação o químico Estanilau de Guaita, que fundou em 1887 a Ordem Cabalística da Rosa-Cruz, cujo objetivo era o combate a toda forma de charlatanismo dentro daquilo que ele entendia como a verdadeira ciência, ou seja, a cabala filosófica. Data dessa época a criação das sociedades denominadas Rosa-Cruz, tal qual a conhecemos hoje. Porém, outro grupo de rosacrucianos permaneceu na Maçonaria desenvolvendo e enriquecendo com suas contribuições os rituais maçônicos. [5]


O Kadosh

Os graus filosóficos são ministrados na Loja conhecida como Conselho Filosófico do Kadosh. A palavra Kadosh é de origem hebraica e significa “sagrado”. Deriva das tradições rabínicas existentes nas antigas seitas de Israel. “Kadosh” era o sacerdote revestido de características especiais, inviolável, um mestre consagrado, possuidor de todos os conhecimentos da religião judaica e tido como verdadeiro profeta. Na tradição cabalística o “Kadosh” era o presidente da chamada Assembléia Sagrada, grupo de rabinos iniciados nos mistérios da Cabala e guardiões da Doutrina Secreta da religião de Israel. [6]

Nos antigos ritos da Maçonaria Escocesa o sacerdote “Kadosh” usava um cetro, ou uma medalha dourada na testa para demonstrar o seu status. Era tido como guardião dos “segredos ocultos”, aquele que defendia a entrada da “cripta” onde se ocultavam os Mistérios. É possível que esses elementos rituais tenham sido incorporados pelos cavaleiros templários em seus ritos, sendo depois trazidos para a Maçonaria pelos chamados rosacrucianos que se filiaram à Ordem no fim do século XVII e início do século XVIII, já que entre esses filiados havia muitos “cristãos novos”, que entraram na Maçonaria para escapar da dos Tribunais da Santa Inquisição. [7]

Embora sem o misticismo dos antigos rituais, o simbolismo dos ritos templários, com os enxertos que lhe foram dados pela tradição cabalística, foi adotado em vários sistemas maçônicos e tornou-se o conjunto conhecido como graus iniciáticos. No Rito Escocês, acredita-se que ele foi introduzido primeiro na Loja de Lion em 1743 e daí se espalhou pelas diversas Lojas do continente, sendo depois incorporado no conjunto do ritual. Em princípio era um rito de caráter predominantemente militar, uma vez que o próprio REAA, como se sabe, foi criado pelos partidários do Príncipe Charles, herdeiro do trono inglês, quando este esteve exilado na França. [8] Mais tarde ele foi reformado pelo Grande Oriente da França, transformando-se num rito essencialmente filosófico.


O simbolismo da Cavalaria

Dessa forma, podemos dizer que os chamados graus filosóficos, ou Kadosh, são estruturados a partir das tradições hebraicas fornecidas pela grande tradição da Cabala. Incorporam também vários elementos da Gnose cristã e da tradição hermética, que podem ser recenseados na forte presença dos temas ligados á prática alquímica. Finalmente, há também uma grande influência da cultura cavalheiresca, pela evocação constante de temas ligados à cavalaria medieval, especialmente os cavaleiros templários.

Esse cipoal de influências não é estranho, dado que a Maçonaria é a herdeira natural de todas essas tradições cavalheirescas, sendo como é, por analogia entre seus objetivos e os princípios cultivados pela Genette, uma verdadeira cavalaria moderna.

Essa analogia com a antiga instituição da Cavalaria foi um simbolismo muito explorado pelos maçons nos séculos XVII e XVIII, pois tal como o cavaleiro medieval, o maçom era visto como um “herói”, defensor dos fracos e oprimidos e realizador da Justiça. Essa postura dos maçons foi ironizada pelo Imperador Napoleão I (que também foi maçom), ao responder ao seu Ministro da Justiça, que propôs a ele fechar as Lojas maçônicas na França, pois em seu entender os maçons eram todos conspiradores. Napoleão respondeu que eles deviam ser deixados em paz, pois os “maçons gostam de brincar de cavaleiros e só serão perigosos no dia em que eles mesmos acreditarem em suas fantasias”. [9]

Napoleão falava com conhecimento de causa, pois ele mesmo, cuja carreira fora toda construída em cima dos acontecimentos que lastrearam a Revolução Francesa, e que ele mesmo fora iniciado na Maçonaria para compor forças políticas, que naquele momento a Maçonaria representava no Estado francês, sabia o poder que a Ordem tinha e o peso que ela representa quando seus membros efetivamente começam a exercê-lo.

Dessa forma, o iniciado maçom que se embrenha pelos ensinamentos dos graus filosóficos precisa ter em mente que o que ele vai aprender é um conjunto de ensinamentos que visa recuperar, em nível de espírito, um mundo arquetípico que norteou a formação do espirito dos maçons em um momento da história em que as questões éticas, morais, religiosas e principalmente cívicas, eram as principais preocupações da elite intelectual da época. Pois essa foi a época da consolidação dos estados nacionais e da formação das grandes nações do ocidente. Tempo em que os ideais de ordem, justiça, liberdade e igualdade entre as pessoas eram os principais anseios das pessoas, ideais que parecem ter se perdido com o tempo e esquecidas pela maioria das pessoas, e infelizmente pelos próprios maçons modernos.



Luiz Sergio Castro




Fonte do Texto e Gravura: Blog "O MALHETE" (Editor: Luiz Sergio Castro)
http://omalhete.blogspot.com.br/2016/10/a-estrutura-dos-graus-filosoficos.html




[1] Publicada pela Madras Ed. São Paulo, 2007.

[2] A Costa Mediterrânea espanhola, dominada pelos mouros, e a região do Languedoc francês foram os territórios onde floresceu a seita dos cátaros, seita gnóstica que adotava crenças semelhantes aos antigos maniqueístas. Eram cristãos, mas recusavam os dogmas da Igreja Católica, como a virgindade de Maria, a deificação de Jesus, o dogma da ressurreição etc. Alguns autores apontam estreitas ligações entre os cátaros e os cavaleiros templários, o que teria levado a Igreja de Roma a promover uma verdadeira cruzada contra os territórios por eles habitados. Uma das razões dessa cruzada seria o fato de os cátaros serem os depositários dos segredos dos templários, os quais herdaram após a extinção da Ordem dos Cavaleiros do Templo. Para mais informações sobre esse assunto veja-se o capítulo IV da nossa obra, Conhecendo a Arte Real, citada.

[3] A influência dessas crenças na Maçonaria é bastante forte. Vide especialmente o grau 21, denominado “ Cavaleiro Noaquita”.

[4] Baigent, Leigh e Lincoln, The Holly Blood and The Holly Grail, Ed. Harrow, Londres, 1966.

[5] Frances Yates, O Iluminismo Rosa-Cruz, Ed. Cultrix, São Paulo, 1967.

[6] A Assembléia Sagrada, segundo o Sepher Ha Zhoar, a Bíblia cabalística, era composta por dez rabinos e funcionava nos moldes de uma Loja Maçônica. Essa Assembléia tinha por função a guarda e a transmissão oral dos ensinamentos da Cabala.

[7] “Cristãos novos” era o apelido dado aos judeus que se filiavam ao Cristianismo para escapar da perseguição movida contra eles pelos tribunais da Inquisição. Um famoso “cristão novo” português foi o explorador Fernando de Noronha, que deu nome à ilha que leva esse nome.

[8] Ver, nesse sentido, o discurso proferido pelo Cavaleiro André Michel de Ramsay, em 1736, aos maçons franceses, exaltando as excelências da Maçonaria Escocesa e suas ligações com os cavaleiros cruzados.

[9] Cf. Jean Palou - A Maçonaria Simbólica e Iniciática.- Ed Pensamento, 1986.