segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

VEGETARIANISMO E YOGA

Muita gente se pergunta o porquê da dieta vegetariana que nós yoguis praticamos. Às vezes fica difícil discernir os motivos pelos quais o vegetarianismo é adotado sem uma compreensão mais profunda desses motivos. O discernimento e a compreensão são valores fundamentais para exercermos nossa liberdade. O yogui consciente não se torna vegetariano cegamente, porque alguém mandou, ou “porque assim se faz há milênios”. O yogui consciente adota o vegetarianismo como um corolário do processo de compreensão da realidade da vida e do papel que o homem exerce no planeta.


Este texto tem o propósito de contextualizar a prática do Yoga na cultura hindu, de maneira que a pergunta sobre o porquê do vegetarianismo possa ser devidamente respondida. Ao mesmo tempo, o presente artigo pretende ser uma fonte de reflexão e recursos para aqueles que, havendo incorporado algumas das práticas yoguicas em suas vidas, se sintam curiosos ou preparados para darem esse passo em relação à alimentação.


Antes de começar, uma palavra sobre o dharma

A tradição do Yoga hindu nos ensina que a realização espiritual e a verdadeira felicidade somente são possíveis se nossos pensamentos, sentimentos e ações estiverem em harmonia com a ordem universal, chamada dharma. A palavra dharma significa “aquilo que mantém unido”, e refere-se não somente às leis naturais, mas igualmente à Força Consciente de coesão e harmonia que gera e mantém o universo. Tudo é harmonia no universo. Um exemplo óbvio dessa harmonia universal, que é expressão do dharma, é que os planetas, cada um seguindo sua própria órbita, não se chocam nunca.

Porém, o conceito de dharma admite uma outra interpretação no plano humano. Nessa segunda interpretação, podemos afirmar que o dharma é um grupo de valores, eternos e universais, através dos quais se estabelece uma convivência harmoniosa na sociedade. A palavra dharma também pode ser interpretada como “fazer a coisa certa”. Nesse sentido, dharma é aquilo ao qual o homem se mantém fiel ao longo da sua vida, o que pauta suas escolhas e ações. Em suma, sua missão de vida ou seu propósito humano.


O dharma e o código yoguico de conduta

A compreensão plena do conceito de dharma é essencial para podermos integrar em nossa vida os aspectos mais profundos da prática do Yoga, pois ele está intrinsecamente ligado ao código de conduta yoguica, chamado yama e niyama.

Esse código de conduta é o fruto de um longo processo de reflexão, discernimento e sensibilização que os yoguis da antiguidade nos legaram, e tem mais a ver com coerência, motivação e coordenação dos esforços do praticante do que com repressão e controle, e sendo absolutamente essenciais para podermos distinguir o certo do errado a cada momento.

Vou lhe contar um exemplo que ilustra perfeitamente a diferença entre discernimento e repressão de que falei acima. Meu amigo George Porto Ferreira foi morar numa reserva ambiental em Rondônia, na Amazônia, como técnico ambiental do IBAMA. Parte importante do seu trabalho é defender a mata virgem através de ações contra as madeireiras que extraem ilegalmente árvores da selva. Um dos principais motivos do desmatamento, porém, é a criação de novas áreas de pastagem para manutenção dos rebanhos bovinos que serão usados como alimento pelo homem.

Recentemente, em uma de suas raras visitas a Florianópolis, George me contou que tinha se dado conta de que não fazia nenhum sentido para ele levantar a bandeira do ambientalismo se não assumisse definitivamente uma dieta vegetariana. Em suma, meu amigo não decidiu tornar-se vegetariano porque alguém tenha proibido ele de comer carne, mas porque simplesmente percebeu a incoerência entre o discurso ambientalista e sua decisão na hora de escolher o alimento que punha no prato.

Se você come carne, não está unicamente se prejudicando com um alimento de qualidade altamente duvidosa, ou colaborando com a matança de milhões de animais usados como alimento: você está financiando o desmatamento da Amazônia. Simples assim.

Quem, por um lado, discernir o certo do errado, e, por outro, for capaz de colocar em prática o esforço para anular a distância que separa a retórica da prática, é um yogui de verdade.

Mohandas Karamchand (Mahatma) Gandhi (1869 – 1948)


Não-violência, dharma e vegetarianismo

Voltemos ao código yoguico de conduta. Esse código existe para facilitar a tarefa da realização espiritual. Sem ele, não há como progredir na prática. Não obstante a importância desse código para o Yoga, hoje em dia muitos praticantes sequer suspeitam da existência dele.

O esteio central do código yoguico é ahimsa, a prática da não-violência. Você certamente já ouviu falar na não-violência, uma prática yoguica tão poderosa que, apenas aplicando-a, Mahatma Gandhi e os lutadores pela independência da Índia foram capazes de libertar aquele país do jugo colonialista inglês sem disparar um único tiro. Isso, por sua vez, nos mostra o infinito poder transformador do Yoga. O ahimsa, portanto, é um formidável instrumento para nos mantermos harmonizados com o dharma.

Existem duas dimensões diferentes na prática da não-violência, que estão intrinsecamente ligadas: uma pessoal e outra social. A primeira tem a ver com a forma como a gente se relaciona consigo mesmo e com a nossa prática pessoal de Yoga. A segunda tem a ver com a maneira em que vivemos a vida em sociedade, com nossa família, nossos amigos, vizinhos ou colegas de trabalho.

A segunda dimensão da não-violência, a social, depende diretamente da primeira, assim como a unha está ligada à carne. Se os praticantes de Yoga ficarem conscientes o tempo todo de ahimsa, haverá uma transformação profunda na sociedade. Os shastras, textos tradicionais do Yoga, convidam o praticante, como corolário natural da prática da não-violência, a adotar uma dieta vegetariana.

Em sânscrito, vegetarianismo se diz shakaharah. Shakaharah significa literalmente “comedor de vegetais” (shaka = vegetal). A pessoa não vegetariana é chamada mamsaharah, que significa “comedor de carne” (mamsa = carne). O Manudharmashastra, um texto de mais de 2.000 anos de antiguidade, dá a seguinte explicação sobre a palavra mamsaharah, “comedor de carne”:

“Os sábios declaram que o significado da palavra mamsa (carne) é [o seguinte]: “ele (sa) irá comer minha carne [na próxima encarnação] se eu (mam) comer a dele agora”.

Portanto “mamsa” significa literalmente “eu + ele”. Isso nos leva ao tema da unidade que existe na criação e à constatação de que, qualquer coisa que fizermos contra a harmonia universal irá irremediavelmente nos atingir no futuro.

Kamadhenu, a vaca sagrada do deus Indra, na Mitologia Hindu




Algumas razões para o praticante de Yoga se tornar vegetariano


O vegetarianismo tem sido adotado maciçamente pelos praticantes de Yoga desde milênios atrás, por três motivos:

1) o dharma e a ética ambiental,

2) a saúde e

3) o progresso espiritual.

Em relação ao primeiro ponto, vale lembrar o contexto da experiência do George: considera-se comer carne um crime contra a lei universal, porque isso significa participar, mesmo que indiretamente, em atos de crueldade e violência contra o reino animal, mas também contra o meio ambiente, quando somos coniventes com a destruição das florestas para fazer pasto para engordar o gado. Se uma parte da extensão de terra fértil usada atualmente para criar gado fosse utilizada para plantar cereais, o problema da fome no mundo acabaria imediatamente.

Em relação à questão da saúde, está mais do que claro que uma dieta rica em carnes é diretamente responsável por uma interminável série de problemas de saúde, que vão desde a prisão de ventre até o câncer de cólon, desde o mal de Parkinson até o mal da vaca louca, desde a halitose até problemas cardíacos como o enfarte, que, aliás, é a principal causa de mortes no mundo. Se continuarmos de olhos fechados para essas constatações gritantes, continuaremos vivendo mal e morrendo cedo. O Uruguai, por exemplo, país onde o consumo de carne vermelha é maciço, é recordista planetário em mortes por câncer de cólon (em números relativos à população).

Em relação ao último ponto, o progresso espiritual, devo dizer que nem todas as tradições espirituais do Oriente abraçaram o vegetarianismo. O Buddhismo tibetano, por exemplo, não menciona o assunto. Isso acontece por dois motivos. Por um lado, o Tibet é um país íngreme, alto e muito frio, onde não é possível para a maioria da população seguir uma dieta vegetariana. Por outro lado, Buddha não quis colocar nenhuma restrição a seus monges em relação à alimentação para evitar que eles se apegassem a uma dieta ou deixassem de aceitar o alimento que lhes era dado como esmola.

De fato, o próprio Buddha morreu em decorrência de uma intoxicação que adquiriu num jantar onde lhe foi servido porco, que ele não rejeitou pela questão do desapego mencionada acima. Não obstante esses dois motivos, e outros que poderíamos mencionar, o Dalai Lama recomenda aos seguidores do Buddhismo tibetano a dieta vegetariana.

Excetuando-se o Buddhismo, todas as demais tradições ascéticas da Índia são taxativas em relação à dieta vegetariana: hindus, jainistas e parses aderem desde tempos imemoriais ao vegetarianismo como meio para purificarem não apenas seus corpos mas igualmente suas mentes e corações.

Para o yogui consciente, devorar a carne de animais mortos é um ato de barbárie que carrega consigo consequências kármicas muito indesejáveis.

Considera-se como regra que, se o alimento foge de você quando você estende sua mão para pegá-lo, você não deve comê-lo. Se estender minha mão para pegar um frango com a intenção de matá-lo para comer, é natural que ele fuja para proteger sua vida. Até mesmo animais com limitações de locomoção como as ostras fugiriam de você se tivessem pernas e sentissem que você está atrás delas para comê-las!

Por outro lado, o reino vegetal parece dar seus alimentos sem demasiado sofrimento. Se estender minha mão em direção a um cajueiro para pegar seus frutos, este generosamente permite que me alimente com eles. A árvore não sofre, o alimento é bom e eu tenho direito de me beneficiar dele. Por causa disso, considera-se que a dieta vegetariana esteja em harmonia com o dharma.

A lista de razões para adotarmos o vegetarianismo não se esgota aqui. Sugiro que o leitor amplie sua pesquisa lendo bons livros sobre o assunto ou pesquisando na internet. Um bom começo é visitar o website da Sociedade Vegetariana Internacional no Brasil: www.vegetarianismo.com.br


A transição para o vegetarianismo

Então, como implementar uma dieta vegetariana sem criar um trauma em nossos hábitos? Existem duas opções. A primeira, radical, é simplesmente parar da noite para o dia, após haver refletido e amadurecido a ideia por tempo suficiente como para não se arrepender da decisão ao primeiro convite para o churrasco do próximo domingo.

A segunda, mais adequada para muita gente, é implementar uma série de mudanças graduais nos hábitos alimentares e começar a entrar com mais regularidade na cozinha para escolher e preparar o próprio alimento. Ambas as opções exigem planejamento, pesquisa, bom senso e, principalmente, uma mudança de visão em relação ao que significa realmente alimentar-se.

É preciso ter muita coragem para combater o preconceito e os hábitos sociais arraigados. Um vegetariano recente pode ouvir comentários como estes, da parte de seus amigos ou família: “Então você virou vegetariano? Você está comendo só grama?” “Mas essa canja tem pouquinha galinha. Você não vai comer mesmo assim?” Se você não mantiver o foco em seu propósito, a pressão social ou a familiar podem fazer fracassar seu plano.

Pessoalmente, parei de comer carnes e ovos há mais de vinte anos. Em verdade, já havia tomado a decisão no momento em que tive meu primeiro contato com o Yoga, há mais de vinte e cinco anos. Porém, quando anunciei para a minha mãe, desde o alto dos meus treze anos de idade, que havia decidido parar de comer carnes, ela simplesmente me deu uma bofetada e disse: “Se você acha que vou cozinhar especialmente para você sem carne, está redondamente enganado”. O assunto morreu aí mesmo, mas eu não desisti. Hoje em dia, minha mãe adotou a dieta vegetariana e ajuda muita gente que quer parar de comer carnes.

Não fui bem sucedido naquela primeira tentativa por causa da minha situação de dependência familiar. No entanto, o tempo passou e, quando tornei-me independente e comecei a morar sozinho, consegui finalmente realizar esse objetivo. Devo dizer que não me custou nada parar com as carnes e os ovos, pois minha motivação em relação à prática era muito forte e, depois que você desenvolve uma certa sensibilidade através da meditação, os mantras e as práticas mais sutis do Yoga, o vegetarianismo torna-se uma necessidade.


Definição de vegetarianismo no contexto do Yoga

Por vegetarianismo, entende-se aqui a dieta alimentar que exclui quaisquer tipos de carne, seja de vaca, ovelha, porco e outros mamíferos, mas igualmente a das aves, peixes e “frutos do mar”. Os ovos tampouco fazem parte da dieta vegetariana do Yoga, pois se considera o ovo um tipo de carne líquida.

Mesmo se formos considerar o ovo não galado, ele não faz parte da dieta simplesmente por uma razão de higiene: ovos não galados são menstruação de galinha e, de modo geral, os yoguis não se sentem muito confortáveis alimentando-se da descarga menstrual dos simpáticos bípedes. Aliás, uma pergunta que nenhum ovo-vegetariano me respondeu satisfatoriamente até hoje é a seguinte: qual é a diferença entre comer os ovos de uma galinha e os ovos de um peixe ou de uma tartaruga? Se você come omelete ou bolo com ovos, porque torce o nariz para o caviar?

Por outro lado, a dieta vegetariana tradicional recomendada nas escrituras admite o consumo de leite e seus derivados. É por isso que esta dieta é chamada lacto-vegetarianismo. Os derivados do leite usados na Índia, sejam de vaca ou búfala, são os seguintes: panir, ou queijo fresco, coalhada, iogurte, manteiga e ghi, ou manteiga clarificada. Esses são produtos de fácil digestão para a maioria das pessoas, embora haja gente com intolerância a lactose que deve evitar todos os tipos de laticínios.

Na Índia não existem os queijos amarelos, curados ou gordurosos desenvolvidos na Europa e trazidos para o Brasil pelos imigrantes italianos e alemães. Na medida do possível, o yogui precisa evitar esses queijos, pois contêm um excesso de gordura saturada e são de difícil digestão, provocando um excesso de mucosidade que é extremamente prejudicial para a prática do pranayama e os exercícios de purificação, dentre outros. De resto, provindo do reino vegetal, vale absolutamente tudo.

Afora a dieta lacto-vegetariana adotada pelos yoguis, existe outra opção alimentar, o veganismo, que exclui não somente as carnes mas igualmente todo alimento de origem animal, como os laticínios e o mel. O veganismo leva até as últimas consequências a preocupação ética em relação ao tratamento que os animais recebem das indústrias alimentar e do vestuário, eliminando sumariamente não apenas os alimentos de origem animal mas também quaisquer artigos de couro ou outros sub-produtos da mesma origem.

É bom lembrarmos que essa iniciativa nasceu igualmente na Índia, onde artigos feitos de couro como roupas, sapatos, cintos e outros acessórios nunca foram usados por praticantes sérios de Yoga.
Dhanvantari, o deus hindu da medicina, é um avatar de Vishnu, o preservador


Vegetarianismo e Ayurveda


Uma coisa interessante na hora de escolher o alimento e o tempero que se usa para dar sabor às refeições é observar se esse alimento e esse tempero estão de acordo com nosso biotipo individual. Esse biotipo individual chama-se dosha, em sânscrito.

O Ayurveda, a ciência indiana de manutenção da saúde, recomenda uma série de alimentos para cada biotipo. Nem todos os alimentos considerados bons são bons para todos nós. Você já se perguntou por que, quando duas pessoas comem exatamente a mesma coisa, uma delas digere o alimento com facilidade e a outra não? O Ayurveda responde essa pergunta e muitas outras que possam surgir ao longo do processo de tornar-se vegetariano, indicando os alimentos mais adequados para cada tipo de constituição individual.

Se você não escolher corretamente seu alimento, não conseguirá digeri-lo bem e vai achar que a dieta vegetariana só dá gases, ou que ser vegetariano não é uma boa opção para você.

Se o amigo leitor quiser ampliar sua pesquisa a esse respeito, existem algumas dietas recomendadas para os diferentes doshas disponíveis em www.yoga.pro.br. Não obstante, para escolher com propriedade uma dieta, é preciso conhecer primeiramente seu biotipo fazendo um teste rápido que pode ser achado usando o mecanismo de pesquisa desse website.


Ser yogui = ser vegetariano?

Existem yoguis atualmente que, por diferentes motivos, não aderem à dieta vegetariana. Esses praticantes podem apresentar situações peculiares de saúde, ou manter condicionamentos que lhes impedem de assumir o vegetarianismo de maneira plena, ou simplesmente não darem ao vegetarianismo a importância que ele merece na tradição. Pessoalmente, acredito que essas pessoas têm pleno direito de agirem conforme suas próprias consciências.

O aparente paradoxo que pode surgir do confronto dessas afirmações com o resto deste texto resolve-se no foro íntimo de cada um. Em suma, adotarmos ou não o vegetarianismo é uma questão de ética, sensibilidade, desapego e preparo.

Um dos grandes perigos que tenho visto em relação a isso no pequeno mundo do Yoga é que algumas pessoas se acham no direito de julgarem os demais em função do que elas comem, como se ser vegetariano fosse garantia e elevação espiritual e não o ser fosse sinal do contrário.

Nunca foi correto julgar alguém em função do que a pessoa põe no prato. Adolf Hitler, por exemplo, era vegetariano. Eu não colocaria esse assassino psicopata na categoria das pessoas espiritualmente elevadas. O Dalai Lama, embora já tenha mantido durante um tempo a dieta vegetariana, come carne ocasionalmente por indicação médica. Eu não diria que ele tem uma estatura espiritual pequena.

Portanto, adotar o vegetarianismo pode ajudar, mas não é sinal de realização espiritual. Assim como não existe um teste que possa ser aplicado ao ser humano para determinar seu grau de espiritualidade, tampouco podemos considerar que a adoção de uma determinada dieta signifique alguma coisa em termos de progresso espiritual.

Se você for trocar seus condicionamentos atuais por outros, como a tendência a julgar os demais pela dieta ou a se considerar superior pelo fato de ser vegetariano, é melhor que continue comendo carne até resolver seus problemas de fundo.

Em suma, se a prática do Yoga não estiver nos ajudando a sermos pessoas melhor resolvidas, mais felizes e legais, isso pode ser sinal de que não estamos praticando com a atitude correta, de mente equânime e coração aberto. O melhor é fazermos nossa prática sem julgar a dos demais. 

Para concluir, deixo o leitor com uma reflexão do shaiva yogi Tirumular, do sul da Índia:


“Como pode praticar a verdadeira compaixão aquele que come a carne de um animal para engordar sua própria carne? Maior do que mil oferendas de ghi no fogo sagrado é não sacrificar nem consumir nenhuma criatura viva.”




Pedro Kupfer





Texto originalmente publicado na edição nº 06, do Outono de 2005, do periódico trimestral Cadernos de Yoga e republicado em www.yoga.pro.br

Fonte do Texto e das Gravuras: EKADANTA YOGA
http://www.ekadantayoga.com.br/

sábado, 22 de fevereiro de 2014

YOGA: UMA PALAVRA PROFANADA NOS TEMPOS MODERNOS

Muito se fala a respeito do Yoga. Muitas definições foram dadas, mas sempre temos a sensação de que alguma coisa fica faltando; de que ele se recusa a ficar aprisionado numa definição. Porque essas quatro letras juntas significam muitas coisas. E o Yoga acaba sendo sempre mais do que as palavras podem dizer.

O Yoga é uma visão peculiar sobre o ser humano e seu papel na ordem das coisas, bem como um caminho de autoanálise que pode ser colocado em prática, prescindindo de qualquer teoria ou crença. Um caminho que conduz o homem a compreender verdadeiramente a si mesmo.

Todo mundo já ouviu dizer que Yoga significa em sânscrito união, mas Yoga igualmente significa trabalho, aplicação. Ou seja, Yoga seria o meio e o fim ao mesmo tempo. Jaideva Singh, no comentário do Vijñanabhairava (p. XIII), um antigo texto tântrico, afirma:

“A palavra Yoga é usada tanto no sentido de união (com o Divino) como no de veículo (upaya) para essa união. [...] Desafortunadamente, nenhuma palavra foi tão profanada nos tempo modernos como a palavra Yoga. Andar sobre o fogo, tomar ácido lisérgico, parar o batimento cardíaco etc. se consideram Yoga, quando, a bem da verdade, não têm nada a ver com ele. Mesmo os poderes psíquicos [siddhis] não são Yoga. Yoga é consciência; transformação da consciência humana em consciência divina.”

Yoga também é liberdade. Libertar-se de condicionamentos e preconceitos, por exemplo. Está escrito na Bhagavad gita: Yogaskarmasu kausalam (Yoga é perfeição na ação). Essa é uma visão tão ampla como simples da prática: qualquer ato pode fazer-se como sadhana, contínuo e constante.

Mas aqui temos um paradoxo: o que significa perfeição? A perfeição na ação não deve tomada literalmente no sentido de fazer uma ação “perfeita” em seus detalhes (por essa conta, um hábil batedor de carteiras poderia ser considerado um yogui), mas em fazer as ações em harmonia com o bem comum e com o reconhecimento de que nosso privilégio é agir, e não tentar controlar ou escolher os resultados das ações.

Noutras palavras, perfeição significa viver consciente. Patañjali explica o mesmo com outras palavras: “Discernimento constante é o meio para destruir a ignorância.” (Yogasutra, II:26).

Por outro lado, o Yoga não fica no plano das ideias nem se restringe unicamente a uma série de exercícios feitos na sala de prática. Com isso em mente, podemos dizer que praticar o Yoga é como participar de um jogo: conhecendo as regras, jogamos por amor, relaxados, para conviver e estar junto àqueles que amamos.

Mesmo se você não tiver nenhuma experiência com Yoga, saiba que suas atividades diárias, como trabalhar, criar os filhos ou estudar, também podem ser encaradas como um sadhana. É por isso que o Yoga é um jogo, cuja única regra é permanecer totalmente consciente o tempo todo, de cada ato, a cada momento.

Talvez você possa achar, como muita gente, que o Yoga é algo separado de si próprio ou do seu dia a dia. Algo que você faz, como ir às compras ou falar ao telefone. O Yoga é para ser vivido, de maneira atenta e equânime. Esse viver consciente, essa atentividade constante, é a essência da prática e ao mesmo tempo o fruto do amadurecimento interior, que é um processo gradual.

Por isso, não convém dizer “eu faço Yoga”, pois, em verdade, você não faz Yoga. Ele já está feito! Você ‘desliza’ para o Yoga (união) em certos momentos, através das atitudes equânimes. Isso tem a ver com a sua existência, com o seu momento presente, com o ar que entra por suas narinas no mesmo instante em que você está aqui sentado lendo, pois o sadhana aponta para colocar a visão em prática. Se você não for usar o Yoga, para que vai querer estudá-lo? Isso equivaleria a contentar-se com ver uma foto da praia, ao invés de ir pessoalmente dar um mergulho nela.

O Yoga é para todos. Não é apenas para pessoas sadias ou só para doentes. É para seres humanos, e não consiste em substituir o sistema de valores ou mitologias do mundo ocidental por outro exótico, não é escapismo ou uma resposta desesperada ao vazio que a sociedade oferece.

A partir da definição que o sábio Patañjali dá no Yogasutra, “Yoga é a supressão da identificação com as modificações da psiquê“, vemos que a prática começa numa sede profunda de transcender os condicionamentos humanos; vemos a necessidade de tornar cósmico o homem, de desenvolver as suas potencialidades para conquistar a iluminação. O método através do qual o Yoga pretende atingir esse objetivo é a reflexão sobre si mesmo, aliado a práticas que possuem como único objetivo aniquilar os condicionamentos que nos escravizam.

Os condicionamentos não nos deixam viver em paz e nos fazem repetir os mesmos erros, ano após ano, "ad eternum". Para ‘sair da roda do karma’, ou seja, alcançar a liberdade verdadeira, o yogui precisa aniquilar um a um esses condicionamentos na sua própria fonte: o inconsciente, a parte ‘escura’ do ser.

Dizem os shastras que o caminho do Yoga começa ‘quando o homem consegue quebrar a prisão das suas misérias’. O Yoga parte da condição humana desamparada, nua e crua, e tem o mérito sem par na história do pensamento de descobrir o verdadeiro potencial do homem: o da sua espiritualidade. A vida espiritual sempre começa no conflito interior, na sede de transcendência. E, neste kaliyuga, a era dos conflitos, requer muita mais pureza de coração, coragem e determinação que em outro tempo qualquer.

Precisamos quebrar o casulo da identificação com o ego para compreender quem somos. A Katha Upanishad diz que o Yoga é ao mesmo tempo dissolução e emergência, morte e renascimento (Yogah prabhavapyayau). É preciso matar o apego às coisas do ego para vivermos livres. Os ensinamentos do Yoga são somente acessíveis através da práxis: o praticante deve pôr sob o jugo seu corpo e sua psique para compreender que já é a liberdade que está buscando.

Múltiplo em suas diferentes correntes e manifestações, ele é sempre fiel a um modo de ver o homem e de servi-lo: após a severidade e paciência exigidas pela prática, sente-se a calidez da sua solicitude carinhosa por todos e respeito por todo o criado. Seu caminho é radical mas acessível e nos leva à conquista da liberdade.




Pedro Kupfer




Fonte: Texto originalmente publicado 24 de julho de 2000 em www.yoga.pro.br
EKADANTA YOGA
http://www.ekadantayoga.com.br/
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/


DESAPEGO - DEIXA PARA LÁ - RESPEITO

Quando nos consideramos convidados, ficamos leves nas ações e nos relacionamentos. Somos hóspedes do corpo. Somos hóspedes do mundo também. Já que somos hóspedes, porque deveríamos ter apego? Quando somos hóspedes, somos também desapegados. Quando somos desapegados, aumentamos nosso poder de discernimento. Nesse estado é possível ler os sentimentos que estão no coração dos outros. Assim é possível responder às solicitações de forma gentil, precisa e pacífica.

Quando alguém me diz: eu não gosto da sua ideia, é bem provável que eu me sinta insultado. Mas será que alguém pode me machucar? Somente se eu deixar adormecer a consciência de quem sou e ficar apegado à ideia. Veja as crianças. Mesmo que alguém faça algo, elas esquecem e logo voltam a brincar. Porém, quando crescemos, nos tornamos muito sensíveis. Uma simples palavra causa tanta dor. Nessa hora, precisamos entender nossas emoções e, então, deixar para lá, porque essa dor é autocriada.

Respeito pelos outros é reconhecer seus esforços para melhorar. Isto nos encoraja a focalizar mais a atenção no potencial deles do que em seus erros. De fato, esse é o método para ajudar as pessoas a ficarem livres de seus defeitos. Uma oportunidade para julgar a qualidade da nossa percepção espiritual. Ver quanta fé nós temos na transformação definitiva daqueles que convivem conosco. Essa fé é respeito verdadeiro.



Brahma Kumaris





Fonte: www.bkumaris.org.br
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/

POR QUE NÃO LEMBRAMOS DE NOSSAS VIDAS ANTERIORES?

O esquecimento das vidas passadas é uma realidade no processo de reencarnação. Realidade justa e necessária, diga-se de passagem, como não poderia ser diferente, já que vem de Deus. Mas então podemos inquirir: não seria melhor se lembrássemos de tudo para então saber o porquê de certas coisas que nos acontecem agora, para termos uma melhor visão geral das coisas e assim buscarmos nossa reforma íntima?

Certamente isso poderia ser útil para alguns, a saber: a minoria composta por aqueles de moral elevada e sempre prontos para perdoar seus inimigos. Como a maior parte da humanidade não se encontra - nem nunca se encontrou - nesse estágio de evolução moral, o esquecimento é mais uma bênção de Deus para conosco.

Todos temos erros passados a serem corrigidos, pessoas por nós derrubadas e humilhadas em outras encarnações que agora devemos ajudar a se erguerem do abismo em que a empurramos. Tais pessoas podem ser agora nossos pais, irmãos, tios, primos, vizinhos, colegas de trabalho, não se sabe. Mas como reagiríamos se, ao vermos um filho nosso nascer, reconhecêssemos nele a pessoa de um carrasco em uma vida passada? Alguém que nos arruinou completamente aquela vida! Iríamos dar a ele todo o nosso amor? Iríamos estar sempre prontos a atender o seu choro durante a noite depois de tudo o que ele nos fez?

O véu lançado sobre esses acontecimentos anteriores é uma ajuda da misericórdia divina que nos coloca em uma posição favorável à reconciliação com nosso próximo. Criando aquela criança desde pequena aprenderemos a amá-la, não mais importando o mal que ela nos causou em outras vidas. E esse amor que lhe devotarmos fará com que também ela nos dedique seu amor e o passado sombrio seja finalmente deixado para trás. Sem esse esquecimento a vida poderia ser quase impraticável devido ao nosso baixo nível de fraternidade uns para com os outros:

Imagine os senhores de engenho reencarnando em um local onde estejam alguns de seus antigos escravos.

Imagine judeus - vítimas do holocausto - encarnando junto a nazistas que foram seus algozes ou de seus familiares.

Imaginemos, acima de tudo, tempos sombrios da humanidade, como a Idade Média, onde tanta maldade fora feita de forma totalmente gratuita e legalizada.

Sem o lançamento desse límpido véu sobre nossas vidas anteriores o mundo correria um altíssimo risco de se afundar em um círculo vicioso de ódio recíproco entre os homens.

Temos que ter em mente que a existência espiritual da alma é a sua existência normal. As existências corpóreas não são senão intervalos, cuja soma iguala apenas uma parte mínima da existência normal.

Vale lembrar ainda que tal esquecimento não é definitivo. O espírito desencarnado pode sim lembrar - desde que julgue útil e de acordo com a sua evolução moral adquirida - de acontecimentos de vidas passadas, sejam quais forem; isso o auxilia, inclusive, na sua preparação para uma nova encarnação.

Além disso, uma nova encarnação não faz de uma pessoa um novo ser. Apenas o corpo muda, sendo o espírito o mesmo, com o seu caráter moral e intelectualidade particulares, guardando assim todos os seus instintos e pré-disposições, sejam bons ou ruins.




Fonte: Momento Espírita
http://www.momento.com.br/
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/

O CONHECIMENTO ADMITE A AUTORIDADE

Não existe movimento de aprender quando há aquisição de conhecimento; os dois são incompatíveis, são contraditórios. O movimento de aprender implica um estado em que a mente não tem experiência anterior acumulada como conhecimento. O conhecimento é adquirido, ao passo que aprender é um movimento constante que não é processo aditivo ou aquisitivo; portanto, o movimento de aprender implica um estado no qual a mente não tem autoridade. Todo conhecimento admite autoridade, e uma mente que se defende na autoridade do conhecimento não pode aprender. A mente só pode aprender quando o processo aditivo cessou completamente. É bem difícil para a maioria de nós diferenciar entre aprender e adquirir conhecimento. Através da experiência, da leitura, de ouvir, a mente acumula conhecimento; é um processo aquisitivo, um processo de adicionar ao que já se sabe, e desta base de conhecimento nós funcionamos. Ora, o que nós geralmente chamamos aprender é este mesmo processo de adquirir nova informação e adicioná-la ao depósito de conhecimento que já temos. Mas estou falando de algo inteiramente diferente. Por aprender não quero dizer adicionar ao que você já sabe. Você só pode aprender quando não existe apego ao passado como conhecimento, ou seja, quando você vê alguma coisa nova e não traduz em termos do conhecido. A mente que está aprendendo é uma mente inocente, ao passo que a mente que está meramente adquirindo conhecimento é velha, estagnada, corrompida pelo passado. Uma mente inocente percebe instantaneamente, está aprendendo todo o tempo sem acumular, e só essa mente é madura.




J. Krishnamurti




Fonte: The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

12º TRABALHO DE HÉRCULES (A CAPTURA DO GADO VERMELHO DE GERIÃO) - SIGNO DE PEIXES

12º Trabalho de Hércules, "A Captura do Gado Vermelho de Gerião", significando a transcendência da animalidade, a salvação.

O Mestre chamou Hércules e disse-lhe: “Tu agora estás diante do último Trabalho. É o que falta para que o ciclo seja completo, e a liberação conquistada. Vai até aquele lugar sombrio chamado Eritéia onde a Grande Ilusão está entronizada; onde Gerião, o monstro de três cabeças, três corpos e seis mãos, é rei e senhor. À margem da lei ele mantém um rebanho de gado vermelho escuro. De Eritéia deves trazer até nossa Sagrada Cidade, este rebanho. Cuidado com Euritião, o pastor, e seu cão de duas cabeças, Ortus.” E depois de uma pausa continuou: “Mais um aviso posso dar. Invoca a ajuda de Helio.” 

Hércules partiu e no templo, fez oferendas a Helio, o deus do fogo e do sol. Por sete dias Hércules meditou, e depois mereceu dele um favor. Um cálice dourado caiu no chão aos seus pés. Ele sentiu no seu íntimo que esse objeto brilhante o capacitaria a cruzar os mares para alcançar o país de Eritéia. E assim foi. Sob a segura proteção do cálice dourado, ele velejou pelos mares agitados até chegar a Eritéia. Numa praia naquele país distante, Hércules desembarcou. Não muito longe dali ele chegou a um pasto onde o gado vermelho escuro pastava. Era guardado pelo pastor Euritião e o cão de duas cabeças, Ortus. Quando Hércules se aproximou, o cão lançou-se como uma flecha para ele, rosnando ferozmente, tentando alcançá-lo. Com um golpe decisivo Hércules derrubou o monstro. Então, Euritião, amedrontado pelo bravo guerreiro que estava diante dele, suplicou que sua vida fosse poupada. Hércules concedeu-lhe o pedido. 

Conduzindo o gado vermelho-sangue adiante dele, Hércules voltou sua face para a Cidade Sagrada. Ainda não estava muito longe daquelas pastagens quando percebeu que o monstro Gerião vinha em louca perseguição. Logo Gerião e Hércules estavam face-a-face. Exalando fogo e chamas de todas as três cabeças simultaneamente, o monstro avançou sobre ele. Esticando bem o seu arco, Hércules lançou uma flecha que parecia queimar o ar e que atingiu o monstro em seu flanco. Tamanho foi o ímpeto com que fora lançada, que todos os três corpos de Gerião foram perfurados. Com um guincho desesperado, o monstro oscilou, depois caiu, para nunca mais se levantar. Hércules conduziu, então, o lustroso gado para a Cidade Sagrada. Difícil foi a tarefa. Volta e meia alguns bois se desgarravam, e Hércules deixava o rebanho para procurar aquelas cabeças que se perdiam. Através dos Alpes ele conduziu o seu rebanho, até a Halia. 

Onde quer que o mal houvesse triunfado, ele golpeava as forças do mal com golpes mortais, e corrigia a balança em favor da justiça. Quando Eryx, o lutador, o desafiou, Hércules o derrubou tão vigorosamente que ele permaneceu caído. Novamente, quando o gigante Alcioneu lançou sobre Hércules uma rocha que pesava uma tonelada, este último a deteve com a sua clava e a mandou de volta, matando seu agressor. Às vezes ele perdia o seu rumo, mas sempre se voltava, refazia seus passos, e prosseguia. 

Embora exausto por este cansativo trabalho, Hércules por fim voltou. Quando chegou, o Mestre que o esperava, disse-lhe: “A joia da imortalidade te pertence. Por esses doze Trabalhos tu superaste o humano e te revestiste do divino. De volta ao lar viestes, para não mais partires. No firmamento estrelado o teu nome será inscrito, um símbolo para os batalhadores filhos dos homens, de seu imortal destino. Os trabalhos humanos estão encerrados, tua tarefa Cósmica começa.”

Este último Trabalho está associado ao signo de Peixes. Hércules viajou, velejando até a ilha numa taça dourada e quando lá chegou, ele subiu até o topo da montanha onde passou a noite em oração. Depois matou o cão de duas cabeças mas não o pastor. Ele também matou o dono daquelas paragens. Aqui está a parte mais bela da história: Hércules colocou o rebanho inteiro na taça dourada da qual se utilizara para a vinda, levou-o para a Cidade Sagrada e o ofereceu em sacrifício a Athena, a Deusa da Sabedoria. Esta cidade sagrada consiste de duas cidades ligadas por um belo muro e um portão chamado o Portão do Leão. Depois que o gado foi entregue, acabou-se o trabalho de Hércules. 

Vamos pensar em Hércules como um salvador mundial. Ele vê a humanidade possuída por um monstro, um homem de três cabeças, o símbolo de um ser humano com os corpos físico, emocional e mental unidos. O simbolismo do gado vermelho é claramente o dos desejos inferiores, o desejo sendo sempre uma destacada característica da humanidade. Eles são guardados por um pastor, que é a mente, o cão de duas cabeças, representando os aspectos matéria e psiquismo. Está claro porque Hércules poupou o pastor: a mente ainda pode ser o pastor do gado, mas o cão de duas cabeças, a natureza psíquica-emocional e o aspecto matéria, Hércules matou, o que significa que foram privados de qualquer poder.





Fonte: Sociedade das Ciências Antigas
http://www.sca.org.br/
“Os trabalhos de Hércules”, de Alice A. Bailey
Gravura de: Johfra Bosschart (Franciscus Gijsbertus van den Berg, 1919, Rotterdam)


PEIXES: SALVAÇÃO E LIBERAÇÃO

Pode ser inspirador refletir sobre as qualidades deste signo e o processo de Salvação que representa, sem entrar tanto no técnico mas aproveitando seu influxo para esclarecer temas vinculados à energia pisciana. Talvez o primeiro ponto a levantar deva ser que estamos diante de um signo dual, no qual são possíveis dois tipos de vivência, aquela vinculada à consciência e aquela relacionada com a Vida. Em ambos os casos surge a ideia de sacrifício, de um estado do ser que se perde na escuridão para ocultamente “resgatar” outro e demonstrar através do Amor a unidade de todo o manifestado. Isto implica em um grande sacrifício da alma, porque durante eões a consciência apenas ilumina a personalidade e deve permanecer em suspenso até chegar a ela a invocação por parte da personalidade em crise.

Mas, sobretudo, é um grande sacrifício da Mônada, que se aproxima da consciência e a inunda com sua Vida, que se enterra no mais profundo da personalidade e permanece durante um período incomensurável até que o dia esteja com ela e o ser tomar consciência do seu imenso poder. Peixes permite tomar consciência deste grande sacrifício, o supremo, encarnado pela permanência do fogo monádico nas próprias raízes da existência.

Peixes tem sido associado frequentemente à consagração e o se submeter a algo, entendida esta expressão em um sentido positivo. É interessante sentir como da perspectiva da Tríade e o aspecto Vida que esta começa a transmitir, nessa rendição se encontra a chave da continuidade de consciência.

Espírito e matéria, a dualidade aparentemente irreconciliável, só pode voltar a ser Una graças ao Poder de Shamballa, à energia da Mônada. É necessário trabalhar desde a consciência, o coração, e “descer aos infernos”, e também se vincular com o aspecto matéria e não só aspirar a ser o espírito, para encontrar a via elétrica que une ambos os aspectos.

Esta porta que permite a passagem de energia ou a fluidez entre o espírito e a matéria, ou a Mônada e a personalidade, está ancorada no plano intuitivo ou búdico; o 4º plano, o intermediário entre o 1º e o 7º, é o grande ponto de união entre as duas correntes, proporcionando a qualidade álmica tão própria do reino humano.

Este processo dual tem analogia na relação entre os centros coronário e raiz, e ao amparo do coração se converte em uma única corrente de Vida que abre as portas para a Liberdade.

Neste processo temos também uma conjetura do papel que a humanidade pode exercer na evolução planetária e inclusive na solar, como estação energética e ponto de encontro entre duas correntes de força. Isto só é possível cada vez que se alcança o plano búdico, e daí a importância de desenvolver a mente e, ocultamente, “apagar seu fogo” com o coração. “O fogo só pode ser apaziguado com mais fogo”, lemos no livro Mundo Ardente; somente o fogo da compreensão, do coração inteligente é capaz de consumir e esgotar a mente, abrindo assim as portas a Shamballa.

Paralelamente e em nível dos centros, essa relação entre os centros coronário e raiz permite compreender o papel de um Salvador de uma perspectiva dupla, desde a Hierarquia e desde Shamballa, pelo menos de um ponto de vista, já que é um tema muito amplo e elevado.

Desde a Hierarquia, a Salvação é um processo de atração magnética em direção ao centro da própria consciência, uma irradiação de luz que desperta e eleva para realidades mais preclaras e serenas. É o Cristo sacrificando-se pela humanidade, e esta O reconhecendo como um Irmão Maior que mostra o caminho para que também ela salve outros ainda na escuridão.

Da perspectiva de Shamballa, a Salvação poderia ser entendida de uma forma distinta, no sentido de que mal se pode liberar quem já é livre; não existe um Salvador, existe apenas um Dragão despertando e se liberando por si mesmo de todas as cadeias, elevando-se pela própria energia que, com todo direito divino, foi reclamada para si. É uma demonstração da Vontade de Deus em ação, a Autossalvação.

Neste sentido pode também ser abordado o lema esotérico do signo: “abandono o Lar do Pai e, retornando, salvo”. A entrada ao Lar do Pai, o Lar do Fogo elétrico, está aqui mesmo, na Terra, e o processo de acesso pode ser entendido de forma dual: como uma elevação às alturas, na direção das realidades cósmicas, ou como uma descida ao mais íntimo da Terra, ao seu próprio núcleo, onde reside latente o fogo de kundalini, aguardando liberação. Da maneira como é transcendido, tal é o papel da alma, simbolizada pelo Sol, porque deixa de ser necessária a intermediação para viver a divindade, simplesmente se é o que fomos desde o começo, Fogo Elétrico Puro. Isto dá uma guinada de 180 graus no primeiro lema para Peixes, o exotérico, que rege a personalidade: “entra na matéria”, e permite complementá-lo com um terceiro, dado na obra Cosmologia Oculta: “O Sol deve ser devorado. Sacrifica tudo”.



Martín Dieser






Fonte do Texto e da Gravura:
LOGOS - Grupo de Investigação em Astrologia Esotérica
http://logosastrologiaesotericaport.blogspot.com.br/2011/03/peixes-salvacao-e-liberacao.html




PEIXES: REDENÇÃO PLANETÁRIA

Peixes é o signo que completa a roda zodiacal. O seu grande tema é redenção. Simplificadamente, podemos dizer que redimir significa trazer algo de volta ao seu estado original de pureza, liberdade e beleza. Durante o mês de Peixes, somos convidados a nos desapegar e sacrificar quaisquer atitudes, crenças e hábitos que produzem limitação, separação e nos impedem de expressar as nossas possibilidades mais elevadas.

A primeira coisa que, talvez, precisemos redimir é a própria imagem que fazemos do humano. Todos os mestres espirituais ensinaram a beleza e a bondade essencial do ser humano, e todas as tradições religiosas afirmam que o homem é um filho de Deus. Apesar disso, nós temos enfatizado exageradamente o outro lado, com inflamados discursos sobre pecado, culpa e degradação. Mas a escuridão não é superada falando de escuridão ou combatendo a escuridão. É preciso discernir a luz, valorizar a luz, alimentar a luz. Assim, é fundamental que nós, humanidade, redescubramos o fato de que o humano é essencialmente sagrado, e que a verdadeira natureza humana é amor, bondade, beleza, verdade e justiça.

A energia de Peixes confere uma aguda sensibilidade, capaz de encontrar a luz em meio à escuridão, perceber a ordem no caos e ver o bem por trás do mal aparente. Esta sensibilidade permite que nos sintamos partes de um Todo Maior, células no corpo de Deus, e que nos sintamos em contato com a divindade e em comunhão com tudo e com todos. Ela permite que reconheçamos e nos sintonizemos com o que há de melhor em cada pessoa, a começar por nós mesmos.

O desenvolvimento da sensibilidade, estimulado por Peixes, deve ser acompanhado pelo desenvolvimento mental. É função da mente compreender e interpretar corretamente aquilo que o coração percebe com sua sensibilidade. Quando isto não é feito, falta ao indivíduo um ajustado senso de proporção, então ele pode ver uma pequena fração da verdade e achar que já conhece a verdade toda. Aí surge um sentimento de ser especial, e frequentemente ele julga que seu grupo, teoria ou doutrina detém o privilégio da salvação.

Sem o complemento de uma mente potente e esclarecida, a sensibilidade pode levar à vulnerabilidade e à passividade. Então, o indivíduo se abala demasiadamente com o aparente mal em si mesmo, nos outros e no mundo. E não consegue aplicar à sua vida prática todas as aspirações, sonhos e ideais do coração. Por isso, todos devemos almejar o equilíbrio e complementação entre cabeça e coração, razão e sensibilidade, firmeza e flexibilidade, planejamento e espontaneidade.

Há uma árvore latente em cada semente, que só precisa das condições adequadas (como nutrientes, água e luz) para germinar e crescer. Semelhantemente, faz parte da natureza humana aprender, amar, compartilhar, se doar... Só é preciso que não atrapalhemos o processo, com culpas, exigências descabidas, apegos, etc. A influência de Peixes nos convida a renunciar a crenças em favor de uma verdade mais ampla, e sacrificar a visão superficial em favor de uma percepção mais profunda, e nos abrir para o melhor em nós e nos outros, e cultivar uma refinada sensibilidade ao bem. Complementada pela correta atuação da mente, que a humanidade vem desenvolvendo consistentemente, o resultado será a redenção planetária.



Ricardo A. Georgini





Fonte do Texto e da Gravura: 
LOGOS - Grupo de Investigação em Astrologia Esotérica
http://logosastrologiaesotericaport.blogspot.com.br/2011/02/piscis-ricardo.html

PEIXES E O OFÍCIO DE SALVAR

Uma palavra que define muito bem a qualidade expressa por Peixes é “salvação”. A mesma se encontra intimamente vinculada à frase esotérica que descreve o caminho ascendente do signo: “Retorno à Casa do Pai e, retornando, salvo”. Vemos ali dois pensamentos entrelaçados, como os dois peixes que simbolizam a energia pisciana: por um lado o caminho para o superior e, por outro, o apego ao inferior, este último transmutando-se oportunamente em magnetismo espiritual e atraindo para a meta comum aqueles que se encontram ligados carmicamente ao Salvador, seja este um discípulo, um iniciado ou a humanidade toda que se reorienta para a luz.

Peixes tem um vínculo muito particular com o 1º raio de Vontade ou Poder, também chamado de raio de síntese. Em certo sentido, a salvação pode ser entendida como um processo de síntese, sempre considerada em função de um interesse oniabarcante, e daí que o raio superior expresso através de Peixes seja o 2º de Amor-Sabedoria. Neste caso, o 2º raio seria a totalidade e o 1º o meio através do qual essa totalidade se transforma em uma verdade consciente.

Para realizar essa tarefa de salvação, primeiro é preciso fomentar a aspiração para o superior, e por isso Netuno rege Peixes em nível exotérico. No entanto, poderíamos dizer que, pelo menos nas últimas etapas, o 1º raio é imprescindível, dado que provê a energia do signo de um mecanismo liberador. Essa função instrumental se encontra simbolizada na presença de Plutão, um planeta de 1º raio que é regente hierárquico e esotérico do signo, quer dizer, que opera como forma de expressão nos planos mais elevados.

Tenhamos em mente então este vínculo entre a salvação espiritualmente compreendida e Peixes, em especial quando esse signo ocupa um lugar proeminente no horóscopo que esteja sob consideração. De uma maneira ou de outra, Peixes resgata, eleva e salva, embora, naturalmente, o desenvolvimento espiritual do ser em questão tenha muito a ver com a qualidade desse serviço.

Cabe lembrar aqui a inter-relação com os demais signos, já que ciclicamente a pessoa experimenta um ou outro, de maneira que o Plano vai se desenvolvendo em etapas graduais e de acordo a Lei de Causa e Efeito. No caso de Peixes temos um link a mais nessa cadeia: todo Salvador possui um campo de ação, e tanto sua amplitude como sua pureza e efetividade serão determinados pela sabedoria adquirida através dos signos restantes; Peixes aportará o seu e, sobretudo, encerrará um ciclo, com efeitos que vão desde o estritamente pessoal até a influência planetária causada pelo retorno à casa do Pai por parte dos Grandes Seres. Por isso o Tibetano o denomina de um signo de culminação.

De todo modo, o processo, para além da sua profundidade, poderia ser visto como similar, já que sempre a grande chave que abre as portas da liberação está no coração. É a compreensão da meta à qual se aspira, a profunda consciência do sentido subjacente em nossos vínculos com o ambiente que nos cerca e novamente a renovada visão do lugar de onde se origina tudo, para onde sabemos que nos levará todo o esforço realizado. Isso explica um tanto mais porque o 2º raio se expressa mediante este signo.

Nesse sentido, todo ato de amor, de compreensão, é uma pequena salvação, que culmina quando entendemos perfeitamente o seu sentido, e para chegar a tal realização é necessário realizar uma síntese e extrair a qualidade, resgatar a matéria iluminada para tê-la em serena expectativa junto a nós.


Para tal fim, Plutão exerce a sua parte, porque provê o mecanismo através do qual é possível “comprimir um significado em uma espiral decrescente, fazer dela um ponto e liberar a essência pelo ápice”. Este ato de síntese final acarreta a morte que, como se infere aqui e segundo sustenta o esoterismo, não é senão a revelação na vida e o nascimento para vivências superiores.

É por isso que se diz que Peixes é um dos signos da morte, precisamente porque conduz através do amor até a fusão plena e, por fim, ao esgotamento da missão que tinha aquela forma. Para conferir essa morte, temos o regente de 1º raio, Plutão. Desse modo é provável que ali tenhamos revelada uma dimensão do estreito vínculo existente entre os Choans do 1º e 2º raio, expressa pelo menos simbolicamente na afirmação de que um tem a sua casa perto da casa do outro.

Essa forte presença da energia ou força de atração nos dá também uma pauta dos efeitos produzidos por Peixes na vida da personalidade. De fato, recordemos o aporte e o processo de aquisição de qualidades que vai se dando nos restantes signos de Zodíaco, e sobretudo tenhamos em conta que assim como a grande função de Peixes é unir, abstrair e salvar, isto poderá se manifestar com diferentes graus de êxito, segundo a polarização seja astral, mental ou búdica. O efeito será sempre dissolvente e essencialmente magnético, embora a atração possa ocorrer no plano astral, ou mental ou búdico, segundo o caso, sugerindo que o oficio de Salvador tem muitas arestas e pode ser entendido sempre à vista de uma escada da perfeição, em um sentido misterioso, com o Salvador “por cima” englobando seus irmãos de baixo. A mente é fundamental neste processo, no que diz respeito à humanidade, mas o seu desenvolvimento viria mais da influência de outros signos. Em troca poderíamos entender Peixes como um promotor da passagem gradual da mente intelectual à intuitiva.

Digamos, finalmente, que essa noção de atração, compreensão, síntese e morte nos fala da compaixão e da fraternidade, da paciência e também da aceitação do Propósito, pois podemos entender como, em distintas escalas, espera-se a que “o último cansado peregrino chegue ao Lar”; essa espera não é cega nem emocional, mas nasce de uma profunda sabedoria e do perfeito conhecimento do Plano por parte de Aqueles que inspiram a humanidade a ser mais inclusiva e a salvar os reinos da natureza pelos quais é responsável, salvando-se assim a si mesma.



Martín Dieser





Fonte do Texto e das Gravuras:
LOGOS - Grupo de Investigação em Astrologia Esotérica
http://logosastrologiaesotericaport.blogspot.com.br/2010/02/peixes-e-o-oficio-de-salvar.html

REENCARNAÇÃO E CONSCIÊNCIA

A conquista lúcida da consciência abre espaços para o entendimento das leis que regem a vida, facultando o progresso do ser, que se entrega à tarefa de educação pessoal e, por consequência, da sociedade na qual se encontra situado.

Não mais lhe atendem as aspirações os conceitos utópicos e as afirmações pueris destituídas de razão, com os quais no passado se anestesiava o discernimento dos indivíduos e das massas.

Com ela a ideia de Deus e da sua justiça evolui, arrancando-o do antropomorfismo a que esteve algemado pela ignorância, para uma realidade mais consentânea com a própria grandeza.

Os velhos tabus, como efeito, cedem lugar aos fatos que podem ser considerados e examinados pela investigação, produzindo amplas percepções de conteúdos que enriquecem a compreensão.

O crescimento interior elucida a justiça, que já não se aferra aos limites das paixões humanas que a padronizaram conforme os próprios interesses, agraciando uns e punindo outros, em lamentável aberração ética e de equanimidade discutível, senão absurda.

A consciência conquistada favorece a penetração nas causas da vida mediante os processos de intuição, de dedução, e de análise decorrente da experiência vívida dos fatores que constituem o Universo.

Engrandecem-se o homem e a mulher que se despojam do temor ou da incredulidade, do beatismo ou da negação, assumindo uma postura digna, portanto coerente com seu estado da evolução.

Somente a consciência favorece a perfeita identificação com a realidade das vidas sucessivas, concepção-lei única a corresponder à grandeza da vida.

Sem a consciência, a inteligência lógica e crê, mas não se submete; a emoção aceita, porém, receia os impositivos do estatuto da evolução, no qual está o mecanismo reencarnacionista.

A consciência abre as comportas da inteligência e do sentimento para a natural aceitação das experiências sucessivas e inevitáveis, que promovem a criatura.

A reencarnação é instrumento do progresso do ser espiritual. Ora ele expia, quando são graves os seus delitos, submetendo-se às aflições que constituem disciplinas educativas mediante as quais se fixam nos painéis profundos da consciência os deveres a cumprir.

Noutras vezes são provações que enrijecem as fibras morais responsáveis pela ação dignificadora.

Longe de ser uma punição, a dádiva do renascimento corporal é bênção do amor, auxiliando o espírito a desenvolver os recursos que lhe jazem latentes, qual terra arroteada e adubada em condições de transformar a semente diminuta no vegetal exuberante que nela dorme.

Diante dessa realidade, amplia a tua consciência pela meditação e age com segurança ética, entregando-te ao compromisso de iluminação desde agora.

Nunca postergues os deveres a pretexto de que terás futuras oportunidades. A tua consciência dirá que hoje e aqui estão o momento e o lugar para a construção do teu ser espiritual, que se deve elevar, libertando-te dos atavismos primitivos e das paixões perturbadoras.

A consciência da reencarnação impulsionar-te-á ao progresso através do amor e do bem sem alternativas de fracasso, porque a luz da felicidade brilhando à frente será o estimulo para que alcances a meta.

Sem a reencarnação a vida inteligente retornaria, ao caos, e a lógica do progresso ficaria reduzida à estupidez, à ignorância.

A consciência da reencarnação explica Sócrates e o homem bárbaro do seu tempo, Gandhi e o selvagem da atualidade, a civilização e o primitivismo nesta mesma época.

Lentamente o ser avança, e, de etapa em etapa adquire experiência, conhecimento, sentimento, sabedoria, consciência.

Em "O Livro dos Espíritos", na questão 170, encontramos o seguinte diálogo:

O que fica sendo o espírito depois da sua última reencarnação?

Espírito bem-aventurado; puro espírito. Para esse desiderato final, a consciência das reencarnações é indispensável.





Divaldo Pereira Franco / Joanna de Ângelis





Fonte: do livro "Momentos de Consciência"
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/



SABER QUANDO NÃO COOPERAR

Reformadores – políticos, sociais e religiosos – apenas causarão mais sofrimento ao homem a menos que o homem compreenda as operações de sua própria mente. Na compreensão de todo o processo da mente, há uma revolução interna, radical, e dessa revolução interna brota a ação da cooperação verdadeira, que não é cooperação com um padrão, com autoridade, com alguém que “sabe”. Quando você sabe como cooperar porque há esta revolução interna, então também saberá quando não cooperar, o que é realmente muito importante, talvez mais importante. Hoje nós cooperamos com qualquer pessoa que ofereça uma reforma, uma mudança, o que simplesmente perpetua o conflito e a miséria; mas se pudermos saber o que é ter o espírito de cooperação que surge com a compreensão da totalidade do processo da mente e em que existe liberdade do ego, então há uma possibilidade de criar uma nova civilização, um mundo totalmente diferente onde não há ambição, nem inveja, nem comparação. Isto não é uma utopia teórica, mas o estado real da mente que está constantemente inquirindo e buscando aquilo que é verdadeiro e abençoado. 




J. Krishnamurti




Fonte: The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/

A CONQUISTA DO MUNDO DAS ILUSÕES (MAYA) PELA MEDITAÇÃO, NA VISÃO DO GRANDE YOGUE SWAMI SIVANANDA

Onde está a ilusão? Consigo ver? Como ela chega até mim? Ou sou eu que crio? O que faço com ela? Perguntas respondidas diversas vezes nos mais de 200 livros escritos pelo célebre yogue indiano Sri Swami Sivananda (1887-1953), como no trecho abaixo, com respostas sobre como podemos finalmente nos libertar das ilusões e do sofrimento (através da meditação). Não é uma explicação detalhada ou extensa, mas cada frase tem grande concentração de definições e direção, como por exemplo “são as ações da mente que são verdadeiramente denominadas Karmas“. Assim, há outras frases que precisam de reflexão, e idealmente a leitura da obra completa, embora seja difícil reproduzir textos e livros inteiros de alguns autores aqui – para quem quiser, o texto completo que traz os trechos abaixo está neste link http://www.dlshq.org/download/mind.htm (“Mind, Its Misteries and Control“, The Divine Life Society Publication, 1998), em inglês.

Apenas um cuidado especial neste trecho com a expressão “a destruição da mente“, pois alguém pode acabar tomando isso por alguma destruição física, um auto-flagelo ou algo assim (já aconteceu isso num post que usava uma expressão muito parecida). A destruição da mente nesse trecho segue o sentido de uma expressão mais à frente neste mesmo texto: “o destronamento da mente“. É praticamente o mesmo sentido do Bhavagad Gita, quando a mente senta para o controle da charrete ser feito pela consciência. Se houver qualquer dúvida, a coisa certa a se fazer é ler o livro completo.

Os trechos abaixo fazem parte dos capítulos “A Indispensabilidade da Meditação para a Percepção Real de Deus” (Indispensability Of Meditation For God-Realisation), “Condições para a Percepção Real de Si Mesmo” (Conditions for Self-Realization) e “Como Destruir a Inveja” (How To Destroy Jealousy), do compêndio “O Que é Meditação” (What is Meditation), não disponível em português (a tradução abaixo foi feita por este que escreve).


- “Todas as coisas visíveis são Maya. Maya desaparece através da sabedoria (Jnana), ou da meditação no Espírito (Atma). Deveríamos trabalhar para nos livrarmos de Maya. Maya nos atinge através da mente. A destruição da mente significa a aniquilação de Maya. A meditação profunda e repetida é a única maneira de conquistar Maya. O Senhor Buda, o Raja Bhartrihari, Dattatreya  e o Akhow de Gujarat – todos conquistaram Maya e a mente somente pela meditação profunda. Entre no silêncio. Medite. Medite. Solidão e intensa meditação são dois requisitos importantes para a auto-realização.

- (…) São as ações da mente que são verdadeiramente denominadas Karmas. Assim que a perambulação e distração da mente se vai, você terá uma boa meditação. A verdadeira liberação resultado no desentronamento da mente. Aqueles que libertaram a si mesmos das flutuações de suas mentes ganham a posse do Nishtha supremo (meditação). A mente deveria ser limpa de todas as suas impurezas, então ela se torna muito calma e todas as ilusões que aparecem nos nascimentos e mortes são destruídas.

- (…) Se você colocar um grande espelho em frente a um cachorro e colocar um pedaço de pão na frente, o cachorro começará a latir ao olhar seu reflexo no espelho. Ele imagina tolamente que há um outro cachorro. Da mesma forma, o homem vê apenas seu próprio reflexo, através da mente-espelho, em todas as pessoas, mas imagina tolamente, como o cachorro, que são todos diferentes dele e luta contra o ódio e a inveja”.

Swami Sivananda, em “What Is Meditation?”



Nando Pereira





Fonte: DHARMALOG - blog sobre auto-conhecimento
http://dharmalog.com/
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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A MENTE É O RESULTADO DO TEMPO

A mente vai sendo influenciada todo o tempo para pensar ao longo de certa linha. Apenas as religiões organizadas costumavam estar por trás da mente, mas hoje os governos assumiram amplamente essa função. Eles querem moldar e controlar sua mente. Na superfície a mente pode resistir ao controle deles. Superficialmente você tem alguma voz na questão, mas sob a superfície, no inconsciente profundo, está todo o peso do tempo, da tradição, empurrando você numa direção particular. A mente consciente pode até certo ponto controlar e guiar a si mesma. Mas no inconsciente suas ambições, seus problemas não resolvidos, suas compulsões, superstições, medos, estão esperando, pulsando, forçando. Todo este campo da mente é o resultado do tempo; é o resultado de conflitos e ajustamentos, de toda uma série de aceitações sem compreensão completa. Assim, vivemos num estado de contradição; nossa vida é um processo de luta infindável. Somos infelizes, e queremos ser felizes. Sendo violentos, praticamos o ideal da não-violência. Então há um conflito acontecendo; a mente é um campo de batalha. Queremos estar seguros, sabendo internamente, profundamente, que não existe absolutamente tal segurança. A verdade é que não queremos encarar o fato de que não existe segurança; assim, estamos sempre buscando segurança, com o medo resultante de não estarmos seguros.





 J. Krishnamurti





Fonte: The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/

A REENCARNAÇÃO É PUNIÇÃO ?

Não. É oportunidade de “reparar” os deslizes, as falhas morais, as transgressões que cometemos ao desrespeitar a lei divina.

“Nós atuamos em virtude do livre-arbítrio, quando, por nossa negligência ou má vontade, retardarmos o nosso avanço; prolongamos conseguintemente, a duração de nossas encarnações materiais, que, então, nos parecem uma punição, pois que, por nossas faltas, permanecemos nas categorias inferiores, obrigados a recomeçar a mesma tarefa. (A Gênese, cap.11, nº 26, FEB).

A lei é de causa e efeito, “o plantio é livre, mas a colheita obrigatória”. Sabemos o que é certo e o que é errado. Queremos errar e ser perdoados com apenas algumas preces repetidas. Por isso, reparar a transgressão pela dor é visto como “punição”. Mas, nós espíritas vemos como oportunidade de aprendizado. Ainda somos alunos preguiçosos e negligentes. Precisamos aprender a fazer bom uso do nosso livre arbítrio.

Exemplo: quando um aluno repete de ano, por não ter se esforçado para tirar boa nota ou por ter tido dificuldade de aprender a lição, a lei dá a oportunidade desse aluno tentar novamente. Assim é a lei de Deus, que é mais perfeita que a lei dos homens. Ela nos dá a oportunidade de aprender, rever os erros, fazer melhor a lição.




Rudymara




Fonte: Grupo de Estudo "Allan Kardec"
http://grupoallankardec.blogspot.com/
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/

FIÉIS AOS COMPROMISSOS

Antes de decidirdes servir um ideal, vós sois livres, mas, uma vez tomada essa decisão, já não o sois: desencadeastes um movimento e é suposto que vos mantenhais fiéis ao vosso compromisso. Sabendo isso, alguns pensarão que é preferível para eles não se comprometerem e assim preservarem a sua independência... Têm esse direito. Mas devem saber que a independência, tal como eles a compreendem, só lhes trará decepções e provações. Então é que eles se sentirão verdadeiramente aprisionados. Outros dirão que a ideia de servir um ideal os enche de entusiasmo, mas sabem que são fracos e receiam tropeçar no caminho. Responder-lhes-ei que as quedas não são assim tão graves. Eles levantar-se-ão e procurarão entender por que caíram, e depois, fortalecidos com essa experiência, na próxima vez saberão melhor triunfar sobre as suas fraquezas. Na medida em que se permanece no bom caminho, mesmo tendo escorregadelas, atinge-se o objetivo. Imaginai que deveis atravessar uma floresta densa para irdes ter com uns amigos: por certo ireis hesitar aqui e ali, mas, se tiverdes uma bússola para manter a direção, acabareis por chegar ao fim. E é preferível hesitar para chegar ao fim do que não empreender nada com medo de ter de fazer esforços.




Omraam Mikhaël Aïvanhov




Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/