segunda-feira, 10 de abril de 2023

A ORAÇÃO COMO UM ATO CRIADOR

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...A verdadeira oração é, portanto, uma criação. Porque, quando vós orais, não vos dirigis somente a um fulano qualquer porque ele é o chefe, o diretor ou o banqueiro e pode dar-vos ou emprestar-vos qualquer coisa. Com este gênero de oração, não ireis muito longe porque aqueles a quem vos dirigis são como vós, estão ao mesmo nível que vós, têm as mesmas lacunas, as mesmas fraquezas que vós. A verdadeira oração é uma ligação que o homem tenta estabelecer com o mais sublime dos seres, o Criador do Céu e da Terra, o Senhor do Universo. Pela oração, ele liga-se a este Ser sublime que é a imensidão, o infinito, a eternidade. E é justamente graças a esta ligação que ele tem a possibilidade de atrair elementos dos mundos superiores. Estes elementos, estas partículas, provenientes das regiões sublimes, têm uma força prodigiosa. Se conseguirdes captar pelo menos um deles, ele entrará para purificar, restabelecer, harmonizar, iluminar tudo em vós, e este estado benéfico poderá mesmo agir sobre todos aqueles que vos rodeiam.

Mesmo os seres mais fracos, com menos recursos, possuem esse átomo da oração graças ao qual podem ligar-se ao Céu para ultrapassar as provações. Mesmo que lhes falte tudo - dinheiro, alimentos, roupa -, mesmo que estejam presos, tornam-se poderosos. A saúde, o dinheiro, a inteligência, não são dados a toda a gente, mas todos podem utilizar o poder deste átomo para pedir, para insistir, a fim de que os espíritos luminosos venham em sua ajuda. Para a evolução, para o avanço espiritual, são estas faculdades que contam. Neste domínio, é possível que sejam os pobres, os deserdados, os infelizes os moribundos, que possuem mais força, enquanto os outros estão anestesiados e adormecidos porque têm tudo.

Quando tiverdes que enfrentar grandes dificuldades, se não pedirdes nada, ficareis impotentes. Este átomo da oração é o único que pode remediar tudo; mas, se não lhe derdes qualquer atividade, suportareis interiormente tudo o que estava previsto. A força deste átomo está no domínio psíquico, quer dizer, nos vossos pensamentos, nas vossas emoções. Graças à oração, mesmo que exteriormente nada mude, vós não podereis permanecer no mesmo estado interior. Se estiver um tempo de neve, tereis frio; se ficardes doentes, sofrereis; mas a oração produziu mudanças em vós próprios...


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: Publicações Maitreya, Porto, Portugal
https://publicacoesmaitreya.pt
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

PEREGRINAÇÃO À LUZ


O dom da visão é a maravilha da criação. Somos treinados para ver a realidade dentro da qual vivemos, nos movemos e existimos. Não é um dom que podemos ter, mas é o dom que recebemos continuamente. Ao devolvê-lo, ao deixá-lo ir, nós o recebemos de volta mais plenamente. Portanto, quanto mais meditamos, mais o fazemos sem exigências ou expectativas. Saber que Deus nos criou para participar do ser está tomando forma em nós sem que tenhamos consciência disso. A luz da consciência na qual nos expandimos torna-se plena de uma forma que a obscura autoconsciência do ego nunca pode ser.

Para aqueles que caminham humildemente nesta peregrinação orante à luz, este é o conhecimento essencial de que precisam. Conhecimento é experiência. Assim é a Palavra que, uma vez pronunciada, torna o ouvinte consciente.

Isso nos tira de padrões antiquados e rígidos e nos convida a respirar mais profundamente na realidade em expansão e a mover nosso centro de consciência para além da preocupação consigo mesmo. Trata-se de descobrir que nosso centro está em Deus.

O menos importante é como chegamos a esta viagem. O importante é que começamos. E para iniciá-la, devemos de alguma forma entrar em um verdadeiro compromisso. Esse momento de entrega, de entrega do ego, é a fissura que se abre na parede do ego que, por mais fugaz e pequena que seja a princípio, permite que a luz penetre. A luz fluirá cada vez com mais força até penetrar no que bloqueia a translucidez daquela parede.

Esse momento de compromisso está sempre disponível para nós. Não é um ideal ausente, uma possibilidade teórica, mas é sempre uma realidade presente acessível pela fé. A questão é: estamos presentes o suficiente para vê-lo, para ouvir o convite e responder a ele? Cada momento é o momento porque cada momento está cheio de significado divino. "Agora é a hora certa." Todo o tempo é o "momento de Cristo". Como um amante, como um jardineiro, Deus espera pacientemente nossa resposta, nosso crescimento.

Um trecho de “ Monastery Without Walls ”, John Main OSB, Spiritual Letters, (Norwich: Canterbury, 200), pp. 127-128.


Carla Cooper



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

domingo, 9 de abril de 2023

A PÁSCOA COMO UM FESTIVAL JUDAICO-CRISTÃO E MITO DA DEUSA OSTARA


Trocamos e comemos ovos de chocolate trazidos pelo coelho da Páscoa. Tudo dentro de um festejo cristão. Entretanto, o que quase ninguém sabe é o fato de que essa tradição não é cristã. De uma antiga tradição anglo-teuto-saxã a Igreja assimilou os símbolos e os reinterpretou junto à tradição da Ressurreição de Cristo-Jesus dando início, assim, à Páscoa cristã. 

Essa antiga tradição trata-se de Eostre, Ēostre, Ostara ou Ostera que é a deusa da fertilidade, amor e do renascimento na mitologia anglo-saxã, na mitologia nórdica e mitologia germânica. Na primavera, lebres e ovos coloridos eram os símbolos da fertilidade e renovação a ela associados.

De seus cultos pagãos originou-se o termo Inglês Easter e Ostern em alemão. Os antigos povos nórdicos comemoravam o festival de Eostre no dia 30 de Março. Eostre ou Ostera (no alemão mais antigo) significa “a Deusa da Aurora”. É uma Deusa anglo-saxã, teutônica, da Primavera, da Ressurreição e do Renascimento. Ela deu nome ao Sabbat Pagão, que celebra o renascimento, chamado de Ostara.

Considerando-a como uma imagem arquetípica, Ostara vive nas festividades pascais, no imaginário coletivo, até hoje. O ovo e o coelho são símbolos dessa ressurreição e renovação do ser humano.

Com o passar do tempo, o cristianismo foi substituindo as festividades pagãs de Ostara pela Páscoa. Substituiu, mas retendo seus costumes mais os ovos e o coelho. Até a palavra Páscoa em inglês, Easter, tem origem em Eostre.

O Mito da Deusa Ostara

Todos nós sabemos do valor da Mitologia para as Antigas Civilizações. Não importa o tempo ou o espaço, foi uma prática comum (e continua sendo) entre nós, utilizarmos histórias com um forte simbolismo para marcarmos ensinamentos e ideias que enxergamos em nossa existência. Dessa forma, fomos capazes de transmitir, ao longo de milhares de gerações, a nossa tradição, com ideias que se fazem presentes até hoje, mesmo que com outra “roupagem”, chamemos assim.

Dito isso, é certo que atualmente não cultuamos Zeus, Cronos e tantos outros Deuses antigos, mas ainda vivemos seus mitos e dilemas. Os mitos, portanto, seguem vivos, pois são um retrato da natureza humana, não apenas um elemento cultural de homens e mulheres do passado.

Frente a isso, é importante o estudo dos mais diferentes mitos para conhecermos um pouco mais dessas ideias que outrora estiveram em alta naquelas civilizações. Uma grande parte dessas histórias fantásticas nos fala do tempo da natureza, que nada mais são que marcos na ciclicidade em que vivemos. Assim, foi bem comum, por exemplo, existirem Deuses que representavam o nascer e o pôr do sol, a lua, em suas diferentes fases e também as estações do ano. Todos eles apresentam um simbolismo próprio, referente às ideias que podemos encontrar em cada um desses momentos. Acima disso, a marcação desses fenômenos mostram o valor de cada etapa desses ciclos, remetendo-nos à ideia de que, na natureza, há um momento próprio para tudo.

... Um desses eventos da natureza, tão especial para nossa vida, é o mito da Deusa Ostara.

De início, é preciso entendermos que Ostara (ou Eostre) é uma Divindade do Panteão Anglo-saxão e seus principais atributos são o Amor, a Fertilidade e o Renascimento. Representada como uma mulher que passeia pelos bosques, seu culto estava vinculado ao início da primavera, tanto que a própria palavra “Ostara” demarca o primeiro dia dessa estação do ano. A Deusa também é conhecida por ter lebres ao seu redor, sendo este animal uma de suas representações. Os motivos são vários, mas a lebre é um dos primeiros animais a aparecer nas florestas após o inverno e sua capacidade de reprodução também é um símbolo marcante de fertilidade.

Esses atributos, porém, guardam em si ideias mais profundas. Portanto, pensemos sobre cada uma delas. Começando pela primavera, a estação que representa a volta do Sol, após o inverno. É o início de mais um ciclo, que também chamamos de renascimento. Assim, a natureza, após recolhida devido o inverno, agora começa a surgir para um outro momento: as árvores voltam a florescer, as sementes a germinar. É o início da vida. Não por acaso, a Deusa Ostara também foi relacionada com a aurora, simbolizando também a chegada desse novo momento.

Um outro ponto marcante da primavera é a sua natureza de renovação, no qual as folhas secas, soltas no outono, renascem mais uma vez nesta estação. De modo simbólico, essa mesma renovação deveria acontecer conosco. Quantas vezes, por exemplo, carregamos “folhas mortas” em nossas vidas, as quais não largamos pelo apego àquilo que, um dia, já foi vivo? Quantas emoções negativas guardamos conosco e que nos arrasam sempre que lembramos de um acontecimento ou trauma? Assim, do mesmo modo que todos os dias renovamos nosso corpo, tratando-o com banhos e demais elementos de higiene pessoal, é fundamental fazermos essa higiene em nossos pensamentos e emoções, para que essa sujeira possa sair de nós e dar espaço para florescer aspectos melhores em nossa psique.

Esse aspecto da renovação, própria da primavera, também envolve o mito de Ostara ao relacioná-la às crianças. De acordo com a Mitologia, a Deusa tinha uma afeição especial pelos pequeninos, que sempre a rodeavam. Como podemos notar, a infância, a primeira expressão ou fase da vida, estaria diretamente associada à primavera. Já a vida adulta, caracterizada pela potência máxima de nossa energia e capacidades, seria o verão. A maturidade é o outono, uma vez que seria o momento de nos recolhermos e sintetizar aquilo que aprendemos. Por fim, a velhice estaria associada ao inverno, o período de descanso e morte, na qual passaríamos desta existência para o mistério, aquilo que jamais poderemos compreender plenamente enquanto vivos.

Conta um dos seus mitos que, certa vez, ao estar ao redor das crianças, a Deusa recebeu a visita de um pássaro. Ao pousar em sua mão, ele se transformou em uma lebre para agradar a Divindade, pois sabia que esse era o seu animal preferido. Entretanto, como aquele animal não era a sua verdadeira natureza, o pássaro (que estava na forma de lebre) ficou triste. As crianças, tendo piedade do animal, pediram para Ostara transformá-lo novamente em sua verdadeira forma, mas a Deusa não conseguiu. Disse então para esperar a primavera, momento em que seus poderes estariam no auge, e assim, talvez, conseguisse reverter a magia. Ao chegar a primavera, Ostara mais uma vez tentou reverter a magia que aprisionava o pássaro e dessa vez foi bem sucedida. A ave, agora livre, agradeceu à Deusa colocando ovos em sua homenagem. Assim nascia a tradição de, na primavera, ou no dia de Ostara, presentear as pessoas com ovos.

Isso não nos lembra alguma outra festividade? Se você lembrou da tradicional troca de ovos da Páscoa, saiba que você está correto. Como bem sabemos, a Páscoa é uma celebração Judaico-cristã, porém, com a chegada da Idade Média e o domínio da cultura cristã frente às demais culturas da Europa, muitos simbolismos e ideias foram integradas nas celebrações do Cristianismo. Desse modo, a Deusa Ostara e seu simbolismo foram incorporados à Páscoa, pois, assim como a transição para um novo momento, o termo “Páscoa” advém do hebraico “Pessach”, que significa “passagem”. Para os cristãos, a Páscoa representa exatamente o momento de morte da carne ou daquilo que é temporal, para um momento espiritual, simbolizado na morte e ressurreição de Cristo. Assim, devemos buscar esse nascimento espiritual, que só poderá ser realizado quando nos desapegamos dos nossos aspectos materialistas, dos nossos desejos mais mundanos. Não por acaso, o carnaval – outra celebração da cultura pagã -, que foi incorporado ao calendário cristão, simboliza essa “despedida da carne”, ou seja, o início dessa jornada até o nascimento espiritual.

Neste ponto podemos refletir sobre como culturas distintas, advindas de diferentes origens e povos, conseguiram, à sua maneira, traduzir ideias similares em seu modo de vida e cultura. Temos uma forte tendência a querer defender nossas concepções e estilos de vida a qualquer preço, julgando-nos como os certos, enquanto isso, os outros, aqueles diferentes de nós, julgamos como os errados. Essa postura, ao longo da história da humanidade, nos levou a guerras e sofrimentos inimagináveis. Porém, se olharmos bem para o outro, enxergando a essência das suas expressões e não a sua forma, poderemos perceber como somos parecidos. Cada cultura, cada pessoa tem uma maneira de se colocar no mundo, porém, todos nós fazemos parte da humanidade. Representamos, em última análise, essa ideia que é o Ser Humano.

Assim, quando celebramos a Páscoa, sabemos que essa é uma festividade Judaico-cristã e que compõe grande parte da nossa cultura Ocidental, porém, ela é composta por uma série de outras tradições que, em maior ou menor grau, agregam elementos para esse simbolismo e significado da natureza. Quando reconhecemos esse valor de integrar novos pontos de vista em nossa vida, aprendemos a olhar com empatia para os outros, sejam pessoas, culturas ou grupos que são diferentes de nós. Talvez, no fim, esse seja o verdadeiro renascimento que precisamos em nossas vidas: conseguirmos renovar nossa perspectiva frente ao mundo, o Universo e a humanidade. Desse modo, a Deusa Ostara não será apenas uma Divindade esquecida nas areias do tempo, fruto de uma cultura antiga que hoje já não tem seguidores, mas sim uma ideia que vive em cada um de nós e que precisa se expressar em sua melhor forma.

Que façamos com que essas ideias continuem a viver e que passem pelo tempo e por nós, transformando-nos em nossa melhor versão.



Fonte do Texto e da Gravura: Wikipédia e https://feedobem.com/artigos/destaque/conhecendo-a-deusa-ostara/

O QUE O ESPIRITISMO TEM A DIZER SOBRE A PÁSCOA


Uma das mais antigas e importantes comemorações religiosas, a Páscoa é uma data amplamente conhecida ao redor do mundo, que reúne tradições de diversas culturas e religiões. Para os fiéis católicos, a Páscoa significa a ressurreição de Jesus Cristo após sua morte na cruz. Para o Judaísmo, a data celebra a libertação dos povos judeus que foram escravizados no Egito, conduzida por Moisés. Ainda além e até mesmo fora do cristianismo, as culturas pagãs mediterrâneas também comemoravam a Páscoa, por meio do culto a Ostera*, deusa da primavera e fertilidade.

Mas e quanto ao Espiritismo? O que essa religião tem a dizer sobre a celebração da Páscoa?

Inicialmente, é importante salientar que a religião espírita, apesar de ser uma vertente do cristianismo, possui algumas diferenças quanto à interpretação de certos acontecimentos bíblicos. Um desses acontecimentos é o momento da ressurreição de Cristo: para o Espiritismo, uma vez que o corpo é desconectado do espírito, sua decomposição se inicia imediatamente e, portanto, é impossível que aconteça uma ressurreição corporal, física. Desse modo, Jesus teria aparecido a Maria de Magdala e aos discípulos em seu corpo espiritual, que é chamado “perispírito”.

Por esse motivo, a Doutrina Espírita não comemora a Páscoa como o catolicismo, uma vez que não reconhece a ressurreição física de Cristo. Contudo, os espíritas defendem a ideia de que a vida imaterial é inexaurível, e que a morte não existe senão no campo material. Por isso, Jesus sempre esteve presente como prometera: ele nunca havia morrido. Independentemente da escolha de uma data – como a Páscoa -, Cristo e seus ensinamentos devem ser relembrados e praticados em todos os dias de nossas vidas, porque Ele permanece vivo entre nós.

Todavia, apesar de não acatarem à interpretação da ressurreição carnal de Jesus Cristo, os espíritas não invalidam a celebração da Páscoa. Além de respeitarem todas as manifestações religiosas das diversas igrejas, essa vertente do cristianismo encara a Páscoa como uma oportunidade para celebrar a liberdade, tanto dos judeus no Egito quanto de qualquer outro povo. Além disso, os Dez Mandamentos devem ser lembrados nesse dia como o primeiro código que incorporou a moral e o amor a Deus às nossas bases sociais. Até mesmo a ressurreição de Cristo é tida, enfim, como um momento para homenagear a imortalidade do espírito.

Portanto, é fato dizer que os espíritas não comemoram a Páscoa como os católicos ou judeus. Mas a Doutrina reconhece essa data como um momento de reflexão, de manifestar nosso amor a Deus e ao próximo e de praticar os ensinamentos de Cristo. Para o Espiritismo, a Páscoa deve acontecer dentro de nós a cada dia de nossas vidas. Então, nessa data, reflita. Ame, medite, tome consciência de seus atos e de seu valor; vivencie a compaixão e a caridade que Ele nos ensinou. Permita essa renovação para que ela se repita a cada dia. No fim, vale lembrar que a Páscoa representa a vitória da vida, e, no Espiritismo, a vida é definida pelo amor!


* OSTERA - ver texto em https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2023/04/a-pascoa-como-um-festival-judaico.html



Escrito por "Eu Sem Fronteiras"
https://www.eusemfronteiras.com.br/visao-espirita-da-pascoa/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/coelho-lebre-relva-grama-animal-1903016/

RESSURREIÇÃO: UM NOVO TEMPO PRENUNCIA-SE


A trajetória percorrida pela humanidade da superfície da Terra levou-a a identificar-se tão acentuadamente com o lado externo da vida que o seu contato com mundos sutis e com a simbologia oculta na própria existência material foi praticamente desaparecendo.

Os símbolos contêm em si a síntese de realidades intemporais; transcendem, portanto, a cronologia do mundo material e, sob véus, guardam indicações que podem ser compreendidas com diferentes chaves.

Segundo HPB (Helena Petrovna Blavatsky) todo símbolo apresenta-se sob sete chaves, e cada uma delas deve ser girada sete vezes. Portanto, por ter direta relação com os níveis de consciência, um símbolo pode ser compreendido sob a luz de sete vezes sete energias. HPB disse também que no século XIX, época em que escreveu "A Doutrina Secreta", apenas três dessas chaves estavam disponíveis ao homem. Ao longo dessa obra são dadas indicações que podem conduzir o estudante ao descobrimento dessas chaves, que estão coligadas às seguintes abordagens: antropológica, astrológica, astronômica, física ou fisiológica, geométrica, metafísica, mística, numérica, psicológica.

Na atual transição planetária, muitos setores dos arquivos akáshicos (1) que no passado permaneciam velados, exceto aos Iniciados de graus mais avançados (de Quinta Iniciação em diante), agora estão se tornando acessíveis a partir da Terceira Iniciação. Em raros casos, quando sob a égide de uma Hierarquia (6), alguns contatos com esses registros podem ser estabelecidos mesmo por Iniciados de segundo grau.

Essa ampliação da possibilidade de acesso aos arquivos akáshicos repercute em toda a esfera planetária, permitindo ao homem perceber mais claramente certos assuntos, antes para ele abstratos, e penetrar regiões da consciência até então inatingíveis. Isso é válido principalmente para o ser resgatável, por ter ele de alguma maneira acolhido o impulso da Luz interior. Em outras palavras, esse processo faz o Céu aproximar-se da Terra, e a Terra elevar-se ao Céu.

Certas passagens da vida de Jesus representam etapas iniciáticas. Todavia, o que se deu com o Cristo, em Jesus, desde a sua prisão até a ressurreição (2), corresponde, também, a fases específicas da atual transição planetária. Para se compreender isso deve-se fazer, portanto, leituras diferentes dos mesmos acontecimentos simbólicos.

Esta transição é um processo tão amplo e de repercussões tão profundas na evolução de todo o planeta — e também do sistema solar — que seu verdadeiro significado não foi ainda apreendido pelos seres resgatáveis (3). Quando reconhecida como uma realidade já em ato, na maioria dos casos sua essência é deturpada pelo egoísmo ainda presente nesses seres, o que os leva a se focalizarem em sua própria salvação e na dos seus entes coligados. Todavia, muito maiores são as dimensões da oportunidade que foi, está e será colocada diante dos homens da superfície da Terra nesta época.

"Bem-aventurados os que não viram e creram." (João 21,23)

Mesmo considerando-se que no decorrer dos tempos alterou-se em vários pontos o sentido original dos textos dos Evangelhos — seja pela própria limitação de alguns tradutores, que não sendo Iniciados não podiam penetrar corretamente o seu significado; seja pela limitação das línguas modernas, que não têm vocábulos adequados para exprimir certas realidades interiores; seja pela intenção de alguns indivíduos de preservarem seus dogmas e dominarem a maioria ignorante — ainda assim podemos encontrar, na versão atual desses textos, certas passagens simbólicas que nos permitem aproximar-nos um pouco mais da Verdade oculta na manifestação do Cristo. É importante ressaltar que a energia imbuída nessas passagens não está nas palavras escritas, mas emerge do contato com a Fonte de onde foram gerados os fatos ali descritos. Portanto, a meta de um estudo revelador não é o conhecimento dos fatos em si, mas a construção de uma ponte com a Vida que sustém toda a Árvore da Criação.

O processo vivido por Cristo, em Jesus, desde a sua prisão até a ressurreição, processo que espelha os dias atuais, pode ser sintetizado em sete etapas (4):

1 - A prisão: a traição da humanidade.

2 - O julgamento: a escolha dos homens.

3 - O caminho da cruz: o gradual despertar do ser.

4 - A crucificação: o sacrifício como meio de transmutação.

5 - Os momentos finais no Gólgota: a reação inevitável.

6 - O sepultamento: uma nova oportunidade para os que se calaram.

7 - A ressurreição: o novo tempo prenuncia-se.


A Ressurreição: o novo tempo prenuncia-se

Passados três dias do sepultamento, Maria Madalena e algumas outras mulheres dirigem-se ao túmulo de Jesus e encontram-no aberto; um anjo avisa-lhes que Jesus ressuscitara.

A renúncia realizada por Cristo-Jesus, no horto de Getsêmani, dois mil anos atrás, não dizia respeito a uma Iniciação comum: o que se passou naquela ocasião abrangeu não apenas uma Consciência individual, mas toda a Hierarquia planetária. Por esse meio ficou selado o compromisso silencioso e invisível de redenção da vida material da superfície da Terra, compromisso vivido plenamente pelo atual Instrutor do Mundo, o Cristo, e assumido por toda a Hierarquia do planeta. Assim, a condução da matéria à renúncia, levando-a a render-se à vontade do Espírito, teve o seu princípio ativado de maneira especial por uma consciência cósmica, o Cristo, que imprimiu sua energia no íntimo de cada átomo físico numa voltagem até então desconhecida, e introduziu na vida terrestre de superfície a possibilidade de um dia ser receptáculo adequado para a chama divina. Essa "crucificação", que teve início há dois mil anos, prossegue até os dias de hoje, por ter sido a abertura de um processo ainda não consumado; este, porém, aproxima-se de um desfecho.

É visível o processo de "crucificação" pelo qual o planeta está passando, mas quem sabe ler nas entrelinhas da crônica fatalista e caótica dos dias de hoje percebe o fluir de uma seiva que é a essência da nova vida. Ao compreender mais profundamente tal realidade, o homem começa a compartilhar dessa energia que move a grande e iminente transformação planetária, e, agindo em prol dessa transformação, a ela dedica-se por inteiro.


Trigueirinho



Fonte: do livro "O Mistério da Cruz na Atual Transição Planetária"
Ed. Irdin, Carmo da Cachoeira/MG, 2018
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/jesus-cristo-deus-sagrado-esp%c3%adrito-4779543/



Notas:

1 - Arquivos akáshicos. Níveis de consciência onde estão gravadas as informações sobre todo o Universo, desde o princípio de sua manifestação até o seu retorno aos mundos incriados.

2 - Ressurreição. Um dos mais ocultos processos interiores para o homem de superfície da Terra. Na atual transição planetária, a completa experiência desse processo ocorre quando o ser alcança a Sétima Iniciação, integrando-se à Hierarquia Solar.

3 - Seres resgatáveis. Seres, dos vários reinos existentes na Terra, capazes de responder aos estímulos evolutivos e de integrarem-se à parcela da vida planetária que permanecerá incólume durante os conflitos mais agudos da atual transição.

4 - Os episódios citados nos itens a seguir constam nos Evangelhos de Mateus (26,36 a 28,15), de Marcos (14,32 a 16,11), de Lucas (22,39 a 24,12) e de João (18,1 a 20,18).

5 - Energia feminina. A energia em si é neutra, porém quando se manifesta na vida física cósmica ela pode assumir qualidade receptiva (feminina) ou criativa (masculina). A Terra atualmente ingressa em uma fase na qual a energia feminina caracterizará seus processos evolutivos.

6 - Hierarquia planetária. Consciências que, a partir de níveis profundos, conduzem a vida planetária à consecução do seu propósito espiritual.

O ESPÍRITA E A PÁSCOA


O Espiritismo não celebra a páscoa, mas respeita as manifestações de religiosidade das diversas igrejas cristãs, e também não proíbe que seus adeptos manifestem sua religiosidade.

Páscoa, ou passagem, simboliza a libertação do povo hebreu da escravidão sofrida durante séculos no Egito, mas no Cristianismo comemora a ressurreição do Cristo, que se deu na páscoa judaica do ano 33 da nossa era, e celebra a continuidade da vida.

O Espiritismo, embora sendo uma doutrina cristã, entende de forma diferente alguns dos ensinamentos das igrejas cristãs. Na questão da ressurreição, para nós, espíritas, Jesus apareceu à Maria de Magdala e aos discípulos, com seu corpo espiritual, que chamamos de perispírito. Entendemos que não houve uma ressurreição corporal, física. Jesus de Nazaré não precisou derrogar as leis naturais do nosso mundo para firmar o seu conceito de missionário. A sua doutrina de amor e perdão é muito maior que qualquer milagre, até mesmo a ressurreição.

Isto não invalida a festa da páscoa se a encararmos no seu simbolismo. A páscoa judaica pode ser interpretada como a nossa libertação da ignorância, das mazelas humanas, para o conhecimento, o comportamento ético-moral. A travessia do Mar Vermelho representa as dificuldades para a transformação. A páscoa cristã representa a vitória da vida sobre a morte, do sacrifício pela verdade e pelo amor. Jesus de Nazaré demonstrou que se podem executar homens, mas não se consegue matar as grandes ideias renovadoras, os grandes exemplos de amor ao próximo e de valorização da vida.

Como a páscoa cristã representa a vitória da vida sobre a morte, queremos deixar firmado o conceito que aprendemos no Espiritismo, que a vida só pode ser definida pelo amor, e o amor pela vida. Foi por isso que Jesus de Nazaré afirmou que veio ao mundo para que tivéssemos vida em abundância, isto é, plena de amor.


Amílcar Del Chiaro Filho



Fonte: Centro Espírita Jesus é o Caminho
https://www.cejesuseocaminho.com.br/visao-espirita-da-pascoa
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/coelhinho-da-p%c3%a1scoa-coelho-95096/

sábado, 8 de abril de 2023

sexta-feira, 7 de abril de 2023

6ª FEIRA SANTA - CRUCIFICAÇÃO



Fonte: Sociedade Antroposófica no Brasil
https://www.sab.org.br/
Rua da Fraternidade, 156
Sao Paulo, SP 04738020
Brazil

NOTAS DE UM SERMÃO NA SEXTA-FEIRA SANTA (ESOTERISMO CRISTÃO)


A Páscoa é considerada o maior dos festivais cristãos, pois nela é celebrada o mistério da morte e ressurreição de Cristo, Nosso Senhor. Cada dia da Semana Santa possui um significado especial, como se fosse uma preparação para a glória do Domingo de Páscoa, que marca o triunfo da Vida Imortal sobre a morte aparente.

Mas para compreendermos claramente o mistério da Páscoa devemos meditar detidamente sobre o significado da Sexta-feira Santa, também chamada de Sexta-feira da Paixão. Ao nos determos sobre o profundo significado desse dia somos chamados a refletir sobre a misteriosa relação existente entre a morte e a vida.

Nossa percepção do mundo, da vida e de seus múltiplos relacionamentos é viciada pelo viés da separatividade e da dualidade. Não existe espaço em nossa mente para a coexistência de opostos. Acreditamos e insistimos que os opostos são sempre excludentes, contrários e impossíveis de coexistir: ou existe vida ou existe morte, luz ou escuridão, atividade ou repouso, e assim por diante. Mas tal percepção existe apenas na criação imaginária da mente humana, pois a Natureza provê inúmeros exemplos de que os opostos aparentes são partes integrantes de um único movimento que é a Vida Divina.

Na natureza não há separação entre vida e morte; ao contrário, existe uma íntima relação entre ambas. No outono, uma árvore perde todas as suas folhas, que, ao morrerem, estão nutrindo o solo e gerando condições para o advento de nova vida. A morte das folhas está diretamente ligada à regeneração da árvore como um organismo vivo. A menos que haja morte não pode haver nova vida.

A morte que é rememorada na Sexta-feira Santa não é necessariamente a morte física. Jesus, com seu exemplo ímpar, não está convidando seus discípulos para o martírio físico. No curso de nossa evolução como Individualidades reencarnantes morremos centenas de vezes e seguiremos morrendo muitas mais, mas a morte física compulsória, que se dá pela degradação do organismo físico, não traz consigo aquela mudança psicológica fundamental que faz com que o ser humano "renasça" numa nova dimensão, numa esfera de inocência, beleza e santidade, que traz consigo a certeza de que o "Reino do Pai está espalhado sobre a Terra" embora os homens não o vejam.

Algo em nós deve morrer, naturalmente, sem esforço ou intenção, e o que deve morrer é aquela natureza pessoal em nós que, nutrida pelo apego em suas múltiplas formas --- autoimportância, autopreocupação, vaidade, orgulho, presunção etc. --- resiste à verdade essencial da vida, que é unidade, absoluta não-separatividade, ou seja, amor ilimitado e imortal. Quanto mais nos apegamos à nossa segunda natureza, à nossa falsa identidade (o eu pessoal) mais nos alienamos da gloria da vida, aumentando assim nosso sofrimento e o dos demais.

Em João 12,23, Jesus comunica a seus discípulos aquele que talvez seja o ensinamento central do Mistério Pascal: "Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morrer permanecerá só; mas se morrer produzirá muito fruto. Quem ama sua vida a perde e quem odeia sua vida neste mundo guarda-la-á para a vida eterna. Se alguém quer servir-me, siga-me, e onde estou eu, aí também estará o meu servo."

Seguir a Cristo significa ouvir seu chamado nas profundezas de nossos corações e consagrar cada dia de nossas vidas ao serviço do mundo, pois é somente servindo de forma desinteressada que nos livramos da ilusão do "eu" e do "meu".



Rvmo. Pedro Rogério Moreno de Oliveira
Capela de São Miguel e Todos os Anjos
Adyar, Madras, Índia
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/gr%c3%a1fico-calv%c3%a1rio-p%c3%a1scoa-4072597/

O SACRIFÍCIO DA EUCARISTIA


Sacrifício da Eucaristia, um símbolo do Sacrifício eterno, o sacrifício diário da Igreja Católica em todo o mundo, espelhando o Sacrifício eterno pelo qual os mundos foram feitos, e pelo qual são eternamente mantidos. Por ser perpétua a existência do seu arquétipo, deve ser ele oferecido diariamente, e, para essa celebração, os homens põem em ação a própria Lei do Sacrifício, com ela se identificando, reconhecendo-lhe o caráter de unificação e voluntariamente se associando a ela na ação que exerce nos diferentes mundos.

Esta grande função do culto Cristão perde sua força e significado quando é considerada nada mais que uma mera comemoração de um sacrifício passado, como uma alegoria figurada sem uma verdade profunda que o anime, como uma partilha do pão e do vinho sem uma participação no Sacrifício eterno. Vê-la assim é torná-la uma mera concha, uma imagem morta em vez de uma realidade viva.

Todos os que comem de um sacrifício se tornam partícipes de uma natureza comum, e são reunidos num só corpo*, que está unido e participa da natureza do Ser que está presente no sacrifício. Aqui está envolvido um fato do mundo invisível... Seres invisíveis derramam sua essência nos materiais usados em qualquer rito sacramental, e aqueles que compartilham destes materiais - que são assimilados pelo corpo e passam a fazer parte de seus constituintes - são por isso unidos àqueles cuja essência está neles, e todos compartilham de uma mesma natureza.

Se entendermos o significado e uso da Eucaristia devemos compreender estes fatos dos mundos invisíveis, e deveremos ver nela um elo entre o terreno e o celeste, bem como um ato de adoração universal, uma co-operação, uma associação, com a Lei do Sacrifício, senão ela perde grande parte de sua significância.

O pão permanece como o símbolo geral para a comida que constrói o corpo, e o vinho como símbolo do sangue, considerado como o fluido vital, "pois a vida da carne está no sangue" (Levítico, XVII, 11). Na Eucaristia os adoradores participam do pão, simbolizando o corpo, a natureza, de Cristo, e do vinho, simbolizando o sangue, a vida do Cristo, e se tornando parte da Sua família, unos com Ele.

A Palavra de Poder é a fórmula "Este é o Meu Corpo", "Este é o Meu Sangue". Isto é o que produz a mudança..., e transforma os materiais em veículos para energias espirituais. O Sinal de Poder é a mão estendida sobre o pão e o vinho, e o Sinal da Cruz feito sobre eles. Estas são as partes externas essenciais do Sacramento da Eucaristia.

É importante entendermos a mudança que tem lugar neste Sacramento, pois ela á mais do que a magnetização..., embora ela também ocorra. Temos aqui um exemplo particular de uma lei geral.

Para o ocultista, uma coisa física é considerada como a expressão última, física, de uma verdade invisível. Tudo é uma expressão física de um pensamento. Um objeto não passa de uma ideia externalizada e densificada. Todos os objetos no mundo são ideias Divinas expressas na matéria física. Sendo assim, a realidade do objeto não está em sua forma exterior, mas em sua vida interna, na ideia que o modelou numa expressão de si mesma. Nos mundos superiores, sendo a matéria ali muito sutil e plástica, ela conforma-se rapidamente à ideia, e muda de forma quando o pensamento muda. À medida que a matéria se torna mais densa, mais pesada, ela muda mais lentamente, até que no mundo físico as mudanças estão em seu ponto mais lento, em consequência da resistência da matéria de que o mundo físico é composto.

Esta é a verdade que subjaz àquilo que é chamado de doutrina da Transubstanciação...  A "substância" que é alterada é a ideia que faz uma coisa ser o que é; "pão" não é meramente farinha e água; a ideia que governa a mistura, a manipulação da farinha e da água, esta é a "substância" que o faz ser "pão", e a farinha e água são o que se chama tecnicamente de "acidentes", os arranjos de matéria que dão forma à ideia. Com uma ideia, ou substância, diferente, a farinha e a água tomariam uma forma diferente, como o fazem quando são assimiladas pelo corpo. Assim também os químicos descobriram que o mesmo tipo e o mesmo número de átomos químicos pode ser arranjado em diferentes maneiras e se tornar assim coisas inteiramente distintas em suas propriedades, embora os materiais não tenham sido mudados.

O que, então, é esta mudança de substância nos materiais usados na Eucaristia? A ideia que faz o objeto foi mudada; em seu estado normal o pão e o vinho são alimentos, expressivos das ideias divinas de objetos nutritivos, objetos adequados á construção dos corpos. A ideia nova é a da natureza e vida de Cristo, adequada para a construção da natureza e vida espirituais do homem. Esta é a mudança de substância; o objeto permanece inalterado em seus "acidentes", seu material físico, mas a matéria sutil associada a ele mudou sob a pressão da ideia alterada, e por esta mudança novas propriedades são lhe comunicadas. Elas afetam os corpos sutis dos participantes, e os sintonizam na natureza e vida do Cristo. Da "dignidade" do participante depende a extensão em que ele poderá ser sintonizado.

Deste modo tem sido ensinado verdadeiramente na Igreja que aqueles que corretamente tomam parte na Eucaristia desfrutam de uma participação na vida Crística derramada para os homens. A transmutação do inferior no superior é o objetivo deste Sacramento. A mudança da força inferior por sua união com a superior é o que é buscado por aqueles que nela participam; e aqueles que conhecem a verdade interna, e compreendem o fato da vida superior, podem, em qualquer religião, através de seus sacramentos, entrar em contato mais pleno e completo com a Vida divina que sustém os mundos, se eles levam ao rito a atitude receptiva, o ato de fé, o coração aberto, que são necessários para a possibilidade do Sacramento ser realizado.

* Companheirismo - conforme Alice A. Bailey, em seu livro "De Belém ao Calvário". Ver texto em https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2023/04/a-eucaristia-e-o-companheirismo.html (Nota deste blog)



Annie Besant




Fonte: do livro "O Cristianismo Esotérico"
Ed. Pensamento, São Paulo/SP
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/religi%c3%a3o-eucaristia-eucar%c3%adstico-1990055/

quinta-feira, 6 de abril de 2023

A EUCARISTIA E O COMPANHEIRISMO


A compreensão do fato da presença de Deus no coração humano é a base da visão mística, ao passo que o conhecimento de que somos filhos de Deus nos dá a força para seguir as pegadas do Salvador, de Belém ao Calvário. O que finalmente reorganizará nossa vida humana será a presença, no mundo, daqueles que conhecem o Cristo como seu exemplo e reconhecem que possuem a mesma vida divina, assim como a afirmação da lei básica do reino de Deus, a Lei do Amor, salvará finalmente o mundo. É a substituição da vida do mundo e da carne pela vida do Cristo, que injetará um significado e um valor à vida. (Some Mystical Adventures, por G.R.S. Mead, p. 161)

Um sentimento de fracasso do amor constituiu o principal problema na agonia do Jardim; foi este senso de árduo trabalho com as forças do mundo que capacitou o Cristo a unir-se em companhia de todos os Seu irmãos. Os homens fracassaram, com ele, da mesma forma como fracassam conosco. No momento em que Ele mais necessitava de compreensão e de toda a força que o companheirismo proporciona, Seus mais chegados e queridos, ou desertaram, ou dormiram, alheios à Sua agonia mental. "O conflito de Prometeu é a luta que tem lugar na mente humana entre o anelo pela compreensão e o impulso imediatamente mais próximo daquelas afeições e desejos vivos que são condicionados pela boa vontade e o apoio dos semelhantes; os desejos de felicidade dos que amamos; de alívio da dor e do desapontamento nas mentes que não podem compreender o sonho interior; e de calorosa reafirmação das honrarias mundanas. Este conflito é a rocha contra a qual a mente religiosa se afunda e se rompe contra si mesma." (Psychology and the Promethean Will, por W. H. Sheldon, pp. 85, 86)

Sobre esta rocha o Cristo não afunda, mas Ele teve Seus momentos de mais intensa agonia, somente encontrando alívio na compreensão da Paternidade de Deus e seu corolário, a fraternidade do homem. "Pai", Ele disse. Foi este senso de unidade com Deus e Seus semelhantes humanos que O conduziu a instituir a Última Ceia, a originar aquele serviço da comunhão, cujo simbolismo foi tão desastradamente perdido na prática teológica. A nota-chave daquele serviço da comunhão foi o companheirismo. "Somente assim é que Jesus cria o companheirismo entre nós. Não é como um símbolo que ele assim faz... na medida que nós, reciprocamente, e com ele, formos uma só vontade, para colocar o Reino de Deus sobre tudo e para servir em favor desta fé e esperança, na medida em que houver companheirismo entre ele e nós e os homens de todas as gerações que viveram e vivem no mesmo pensamento.” (The Mystery of the Kingdom of God, por Albert Schweitzer, p. 56)


Alice A. Bailey



Fonte: do livro "De Belém ao Calvário - as Iniciações de Jesus", p. 189
Tradução de Dr. J. Treiger
Fundação Cultural Avatar, Niterói/RJ, 1990
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/p%c3%a1scoa-comida-uvas-5067642/

5ª FEIRA SANTA - ÚLTIMA CEIA

 


Fonte: Sociedade Antroposófica no Brasil
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Sao Paulo, SP 04738020
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quarta-feira, 5 de abril de 2023

5ª FEIRA SANTA - LAVA-PÉS


A NECESSIDADE DA PURIFICAÇÃO PERFEITA

I. "Se eu não te lavar, você não terá parte comigo" (Jo 13, 8).

Ninguém pode tornar-se participante da herança eterna e ser co-herdeiro de Cristo, se não estiver purificado espiritualmente, pois assim se diz na Escritura: "Nenhuma coisa poluída entrará" (Ap 21, 27). "Senhor, quem habitará em seu tabernáculo?" (Sl 14, 1). "O inocente de mãos e de coração limpo" (Sl 23, 4). Como se dissesse: "Se eu não te lavar", você não ficará limpo, e se você não for limpo, "não terás parte comigo."

II. "Simão Pedro diz a ele: Senhor, não apenas meus pés, mas minhas mãos também, e a cabeça" (Jo 13, 9).

Pedro apavorado oferece-se para ser lavado, atormentado pelo amor e pelo medo. Pois, como se lê no "Itinerário" de Clemente, ele uniu-se de tal modo à presença corporal de Cristo, a quem ele amara com muito fervor, que quando ele se lembrou, depois da Ascensão de Cristo, de sua dulcíssima presença e santíssimo tratamento, se pôs todo em lágrimas a ponto de suas faces parecerem queimadas. É necessário saber que no homem existem três membros principais que devem ser purificados: a cabeça, que é a parte superior; os pés, que constituem a parte inferior, e as mãos, que ocupam um lugar intermediário. Da mesma forma, no homem interior, isto é, na alma, está a cabeça, que é a razão superior, com a qual a alma se adere a Deus; as mãos, ou seja, a razão inferior, que trata das obras ativas, e os pés, que são os da sensualidade. O Senhor sabia que seus discípulos estavam purificados no que se refere à cabeça, porque estavam unidos a Deus pela fé e pela caridade; e quanto as mãos, porque suas ações eram santas; mas quanto aos pés, eles tinham alguns apegos terrenos a causa da sensualidade. Mas Pedro, temendo a ameaça de Cristo, não apenas consentiu na ablução dos pés, mas também das mãos e da cabeça, dizendo: "Senhor, não apenas meus pés, mas também minhas mãos e minha cabeça." Como se tivesse dito: não sei se preciso da ablução das mãos e da cabeça, pois "minha consciência nada me contesta e pesa, mas não é por isso que sou justificado" (1 Cor 4, 4). Portanto, estou preparado para a ablução não apenas dos pés, isto é, dos apegos inferiores, mas também das mãos, isto é, das ações, e da cabeça, ou seja, da razão superior.

III. "Jesus diz a ele: Aquele que está limpo precisa apenas lavar os pés. E você está limpo" (Jo 13:10).

Orígenes diz que eles estavam limpos, mas que ainda precisavam de mais limpeza; porque a razão deve sempre buscar melhores qualidades, deve sempre elevar-se às mais elevadas virtudes, brilhar por uma perfeita justiça. Quem é santo, que seja mais ainda santificado (Ap 22, 11).


PREPARAÇÃO DE CRISTO AO LAVATÓRIO DOS PÉS

"Levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-se" (Jo 13,4).

I. Cristo mostra-se servo por amor à humildade, segundo São Mateus: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas servir e dar a sua vida em redenção por muitos" (Mt 20, 28). Para ser um bom servo são necessárias três coisas:

1º) Que seja circunspecto para ver todas as coisas que podem faltar no serviço; seria de grande inconveniência, para isso, estar sentado ou deitado; é portanto a atitude do servidor é ficar de pé. Por isso ele "se levanta da ceia". E diz o evangelista Lucas: "Porque qual é o maior, o que está sentado à mesa, ou o que serve?" (Lc 22, 27)

2º) Que seja agilizado para poder executar convenientemente todas as coisas necessárias ao serviço; e para isso o excesso de roupas é um obstáculo. Por isso que o Senhor "tira suas vestes". Isso foi simbolizado no Gênesis quando Abraão escolheu servos diligentes (Gn 17).

3º) Que seja pronto para servir, isto é, que possua todas as coisas necessário para o serviço. No Evangelho de São Lucas é dito que "Marta estava cheia de serviço nos afazeres da família" (Lc 10, 40). Daí que o Senhor "pegou uma toalha e envolveu-se" com ela, a fim de estar preparado, não só para lavar os pés, mas também para enxugá-los. Diante disso, aquele veio de Deus e voltou para Deus, nos ensina a quebrar toda soberba, lavando os pés.

II. "Então ele derramou água em uma bacia e começou a lavar os pés do discípulos, e enxugá-los com a toalha com que estava cingido" (Jo 13,5).

Aqui se expressa a essência de Cristo, que brilha em sua humildade, de três maneiras:

1º) A natureza do serviço: Foi muito humilde, ou seja, o Senhor da Majestade abaixou-se para lavar os pés dos servos.

2º) A quantidade do serviço: Pôs a água na bacia, lavou pés, enxugou-os etc.

3º) O modo do serviço: Não o fez por intermédio de outrem ou com ajuda dos outros, mas por si mesmo, cumprindo o que está escrito no Eclesiástico: "Quanto mais velho você for, mais te humilhes em todas as coisas" (3, 20).


TRÊS CONSIDERAÇÕES MÍSTICAS EM TORNO DO LAVA-PÉS

"Derramou água em uma bacia, e começou a lavar os pés dos discípulos, e a secá-los com a toalha com que estava cingido" (Jo 13,5).

Aqui pode-se entender misticamente três coisas:

1º) Pela ação de por água na bacia significa a efusão de seu sangue sobre a Terra. Porque o sangue de Cristo pode ser chamado de água pela virtude que possui de lavar. Daí que simultaneamente saíra água e sangue de seu lado para dar a entender que aquele sangue lavava os pecados. Também pode ser entendido pela água da Paixão de Cristo, pois "derramou água em uma bacia", ou seja, imprimiu nas almas dos fieis, pela fé e devoção, a recordação de sua Paixão. "A lembrança de meus tormentos e minhas misérias é para mim absinto e veneno" (Lam 3,19).

2º) Pelo dito "e começou a lavar", alude-se à imperfeição humana. Porque os apóstolos, depois de Cristo, eram mais perfeitos, porém necessitavam da ablução porque tinham algumas máculas. Entendendo-se, por isso, que mesmo o homem perfeito necessita aperfeiçoar-se ainda mais. Como diz Provérbios (20,9): "Quem poderá dizer: Limpo está o meu coração, sou puro de pecado?" Entretanto, tais imperfeições as possuem somente os pés. Outros, não só estão manchados ou imperfeitos nos pés, senão que totalmente, pois se maculam totalmente com as impurezas terrenas pela convivência com elas. Daí que aqueles totalmente apegados, afetivamente e sensorialmente, ao amor terreno, sejam inteiramente imundos. Mas os que estão de pé, isto é, os que com o espírito e o desejo tendem às coisas celestiais, só contraem manchas nos pés. Pois assim como o homem que está de pé se vê obrigado a tocar a terra, pelo menos com os pés, da mesma maneira, enquanto vivermos nesta vida mortal, que necessita das coisas terrenas para sustento do corpo, contraímos algumas impurezas, pelo menos pelos prazeres dos sentidos. Por isso o Senhor mandou a seus discípulos que sacudissem o pó de seus pés (Lc 9,5). Foi dito: "começou a lavar", porque a ablução dos apegos terrenos começa aqui e termina no futuro. Assim, pois, a efusão de seu sangue está simbolizada pela ação de haver posto água na bacia, e a ablução de nossos pecados está simbolizada pela ação de haver começado a lavar os pés dos discípulos.

3º) Aparece também a aceitação, por Cristo, de nossas penas sobre si mesmo. Pois não só lavou nossas manchas, senão que tomou sobre si as penas (consequências) devidas. Porque nossas penitências não seriam suficientes se não estivessem acimentadas nos merecimentos e na virtude da Paixão de Cristo. Tudo isso está simbolizado pelo ato de haver limpado os pés dos discípulos com a toalha, ou seja, com suas próprias vestes.


Tomás de Aquino



Fonte: do livro "Meditações Escolhidas de Suas Obras"
Compilação, arranjo e prólogo de Fr. Z. Mézard O.P.
Tradução do latim por Luis M. de Cádiz
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/igreja-janela-janela-da-igreja-1881232/

4ª FEIRA SANTA - UNÇÃO EM BETÂNIA


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terça-feira, 4 de abril de 2023

segunda-feira, 3 de abril de 2023

domingo, 2 de abril de 2023

ENTRADA TRIUNFAL EM JERUSALÉM


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OS ACONTECIMENTOS DA SEMANA SANTA


A semana que precede a Páscoa é um período significativo que se destaca não apenas no ano cristão, mas também no transcurso anual da própria natureza. No ano cristão ela encerra toda a plenitude do drama da Paixão, a grande parte final do Evangelho. Em diversas regiões ela é designada como “Semana do Silêncio” ou também como “Semana Magna”, revelando-se assim que só pode contar com a realização da festa da Ressurreição quem é capaz de vivenciar toda a grandeza da Semana Santa.

O significado da semana que precede a Páscoa no transcurso natural do ano reside na lua cheia da primavera (no hemisfério norte). Rompe-se definitivamente o encanto do inverno; a nova vida da Terra progride aos saltos; com um poderoso ímpeto seivas e forças começam a geminar e brotar no reino vegetal. Na luta entre o dia e a noite, o dia alcança a supremacia vitoriosa que se consolidará em triunfo da luz no primeiro domingo após a lua cheia da primavera.

O conteúdo evangélico da Semana Santa não coincide de antemão com a natureza primaveril. Pelo contrário, opõe-se-lhe em contraste agudo. Somente no final, ao nascer o sol da Páscoa, ele desemboca em jubila maneira que coincide com o rejubilar do milagre da primavera (hemisfério norte). O drama sério da Semana Santa é, no entanto, a preparação dessa consonância. A primavera da natureza irrompe por si mesma. A primavera interior da festa da Ressurreição deve ser conquistada através da peregrinação ao longo das estações da Semana da Paixão.

Os sete dias que precedem a Páscoa podem ser comparados às doze noites santas do período natalino. O período “entre dois anos” é, para os que devotamente se entregam à trama do pleno inverno, a preparação adequada para os doze meses do ano novo. Os sete dias da Paixão dotam aqueles que participam, em atividade interior, do Mistério da Paixão, de novas forças para todo o seu destino.

Os acontecimentos que se passaram há 2000 anos na Semana Santa entre o domingo de Ramos e o domingo da Ressurreição foram revelações arquetípicas do destino que, a cada ano, conferem aos sete dias de cada semana um novo e mais elevado sentido e um cunho luminoso que plasma as almas.

Os dias da semana sempre contiveram as diversas cores e os sons das sete esferas planetárias, conforme revelam seus nomes nas línguas europeias: Sol (domingo = Sontag); Lua (segunda-feira = Montag); Marte (terça-feira = Mardi em francês); Mercúrio (quarta-feira = Mercredi); Júpiter (quinta-feira = Jeudi); Vênus (sexta-feira = Vendredi); Saturno (Sábado = Saturday). Naquela semana pré-pascal, entretanto, cada dia da semana recebeu, além da diferenciação cósmica, o cunho do pensamento planetário cristão.

Os dias da Semana Santa ainda não têm seu conteúdo plenamente realizado na sensibilidade cristã: o único a se impor foi a Sexta-feira Santa, com a concepção da cruz no alto do Gólgota: para uma parte da cristandade, esta imagem se estendeu a todas as sextas-feiras, transformadas em dias de jejum. Além da sexta-feira, somente o domingo de Ramos relacionou-se a uma imagem poderosa nas regiões onde é hábito o enfeite com ramos de palmeira: a imagem da "Entrada em Jerusalém". Em realidade, porém, cada um dos sete dias revela um novo mistério cósmico sob uma forma humana e histórica.

Quando o Cristo entrou em Jerusalém, no domingo de Ramos, o antigo Sol ainda reinava no céu, mas recebeu sua despedida a fim de que pudesse nascer, no domingo seguinte, o novo sol da Páscoa.

Quando, na segunda-feira, o Cristo condenou a figueira e limpou o templo na Cidade Santa, o sol de Cristo se opôs ao princípio lunar, às forças lunares do Velho Mundo, necessitadas de uma renovação.

Quando o Cristo, na terça-feira, teve que discutir com os adversários que chegavam em grupos para induzi-lo a trair-se; quando ele teve que lutar com a arma do Verbo espiritual; e quando, finalmente, no ressoar vespertino dessas lutas, ele se retirou com seus discípulos para o Monte das Oliveiras e lhes abriu a visão profético-apocalíptica do futuro, o espírito de Marte também recebeu, por sua vez, o cunho do Cristo.

Na quarta-feira, durante a Unção de Bethânia e a traição de Judas, Mercúrio encontrou-se com o sol do Cristo.

E, na quinta-feira quando o Cristo lavou os pés dos discípulos e lhes ofereceu a Santa Ceia, uma auspiciosa luz de Júpiter iluminou a aflição e a tristeza das almas.

Na sexta-feira santa ocorreu a mais milagrosa elevação de tudo o que pudera significar para o homem: a ideia da deusa do amor, Vênus ou Afrodite. Deu-se um ato de amor, maior do que qualquer ato de amor possível. O Sacrifício por amor em Gólgota foi a transformação do princípio de Vênus pelo princípio solar do Cristo.

Quando o Cristo repousava no sepulcro (no sábado), o sol do Cristo encontrou-se com o espírito de Saturno no universo, até que, finalmente, no domingo, a própria oitava do sol nasceu no firmamento, o sol do Cristo, que vencera todas essas etapas de luta.

O drama do mistério da Semana Santa é uma unidade grandiosamente completa em si. Acompanha-se de um mistério de composição que se nos desvenda à medida que desenvolvemos o sentido em relação ao valor das etapas na vida de Jesus. O que aconteceu nos sete dias pré-pascais é uma condensação de toda a vida do Cristo. As mesmas leis originais e as mesmas etapas reveladas na sagrada biografia dos três anos ressurgem dramaticamente resumidas diante de nossa visão. A partir da semana da Paixão podemos reconhecer nos três anos da vida do Cristo toda uma grande Paixão. A "Entrada em Jerusalém" é uma oitava do Batismo no Jordão. Completa-se a entrada do Cristo em nossa existência terrena. Recebe seu cunho definitivo o mistério da Encarnação que se iniciara três anos antes.

Os acontecimentos da segunda-feira, a maldição da figueira e a purificação do templo correspondem à tentação do Cristo descrita pelos três primeiros evangelhos. O Cristo se defronta aí mais uma vez com as velhas forças lunares do mundo. Não lhe servem, ele as afasta e vence a tentação de usá-las. Não lhe importam os sucessos externos, importa-lhe completar sua missão. A limpeza do templo relatada no Evangelho de João pertence, como vimos, aos ecos da vivência da Tentação e, portanto, se situa no quadro das grandes correspondências da outra limpeza do templo relatada nos primeiros três evangelhos.

E quando, na terça-feira, as réplicas na discussão com os adversários reluzem como golpes de espada e quando, à noite, os relâmpagos apocalípticos atravessam a conversa com os discípulos, repete-se, em um nível mais elevado, o que ocorreu quando Jesus teve que se separar de sua terra natal e de seus parentes de sangue em Nazaré, a fim de se dedicar ao parentesco espiritual, ao círculo de seus discípulos. O Apocalipse do Monte das Oliveiras corresponde ao Sermão na Montanha, no qual foi firmada a dedicação decidida à família espiritual.

Aos acontecimentos da quarta-feira, unção em Bethânia e traição do Judas, corresponde, na grande vida do Cristo, a tragédia de João Batista. É a mesma crise, a mesma conjunção.

O Lava-Pés e a Santa Ceia (na quinta-feira) são a oitava, a última repetição decisiva, do mistério que já reluzira na alimentação dos cinco mil e na perambulação à beira do mar.

O que acontece na sexta-feira nada mais é do que a acentuação final e a realização total da Transfiguração da Montanha.

O Sepultamento no Sábado de Aleluia leva mais adiante, no âmbito das decisões cósmicas, aquilo que estava encerrado na decidida partida para a Judeia, na partida para o campo de batalha da decisão.

Na manhã de domingo da Páscoa confundem-se os dois círculos, o grande dos três anos e o pequeno dos sete dias. A Semana Santa como um todo corresponde, na vida do Cristo, à irrupção do sol que, dentro da Semana Santa, só ocorre na manhã do domingo da Ressurreição.


Emil Bock




Fonte: Biblioteca Virtual da Antroposofia
http://www.antroposofy.com.br
Fonte da Gravura: https://portadeassis.com.br/images/publicacoes/permanentes/artigos/quaresma-semana-santa-e-pascoa.jpg