sexta-feira, 28 de março de 2025

DO FAZER A SER


A meditação é um processo de aprendizagem, mas quase todos os processos de aprendizagem envolvem fazer alguma coisa. Com a meditação você não aprende a fazer algo, você aprende a ser. É aprender a ser você mesmo e entrar na dádiva do seu próprio ser. Você entenderá isso de uma forma muito clara e muito segura. Outra forma de dizer isso é que com a meditação você aprende a aceitar a dádiva do seu ser, da sua criação. Estar em harmonia consigo mesmo e com a sua criação contínua é estar em harmonia com toda a criação e com o seu Criador.

Uma das coisas que aprendemos na meditação é priorizar o ser em vez do fazer. Na verdade, nenhuma ação tem sentido, ou significado profundo, se não surgir do nosso ser, da profundidade do nosso ser. Por isso a meditação é um caminho que nos leva à profundidade do nosso ser. Por esta razão a meditação nos leva da superfície para a profundidade. Aprender a ser é aprender a viver plenamente. Este é o nosso convite. Está convidando você a aprender a ser uma pessoa plena. A verdade misteriosa da revelação cristã é que, à medida que vivemos plenamente, vivemos as consequências eternas da nossa criação. Deixamos de viver como se estivéssemos esgotando um recurso vital limitado que recebemos quando nascemos. O que aprendemos com o ensinamento de Jesus é que nos tornamos infinitamente cheios de vida quando estamos com a fonte da vida e quando entramos plenamente em união com nosso Criador, Aquele que É, o Deus que é descrito como 'Aquele que 'Eu Sou'.

A arte de viver, de viver a vida ao máximo, é viver na renovação eterna da nossa origem a partir do nosso centro, o que significa que vivemos a partir do espírito que deriva da mão criativa de Deus. O que é terrível na vida moderna e materialista é que ela é tão superficial que carece do profundo reconhecimento e das possibilidades que cada um de nós tem. Perceberíamos isso se ao menos reservarmos um tempo para realizar a disciplina da meditação. A disciplina consiste em sentar-se para meditar e durante o período de meditação repetir sua palavra (mantra)* do começo ao fim, todas as manhãs e todas as noites.

Na visão da Igreja, somos conduzidos à fonte do nosso ser por um guia, e o nosso guia é Jesus, o homem plenamente realizado, o homem totalmente aberto a Deus. Com a nossa meditação diária reconheceremos o nosso guia. Por isso, este caminho cristão é um caminho de fé. Ao chegarmos ao centro do nosso ser, entrando no nosso coração, descobrimos que o nosso guia nos recebe, quem nos guia nos recebe. Somos acolhidos por aquele que nos chama pessoalmente à nossa plenitude de vida – harmonia, unidade e energia, uma energia divina que encontramos no nosso próprio coração, no nosso próprio espírito. Essa é a energia de toda a criação. Como disse Jesus, é a energia do Amor.

Esta é uma visão determinante e devemos aprender, como vos digo, a ser simples e humildes na nossa maneira de a alcançar. A simplicidade e a humildade que aprendemos repetindo a nossa palavra (mantra)* do princípio ao fim, com paciência e fidelidade, com coragem e com Amor.


Fr. John Main, OSB



Fonte: do livro "Momento de Cristo"
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/yoga-buda-divindade-shiva-agua-386611/

Para mais detalhes ver:

* CAMINHO DO MANTRA: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2022/09/mantra-duas-maneiras-de-ser-particula-e.html

* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

* Mantra, aqui neste contexto, é uma ou mais palavras, numa determinada língua, que tenha algum significado na condução da nossa meditação.

quarta-feira, 26 de março de 2025

FAÇA E SEJA


A história de Marta e Maria no Evangelho de São Lucas (Lc 10, 32-42) ilustra muito bem a importância da integração do fazer e do ser, da relação entre ação e contemplação. Marta representa a vida ativa e ocupada que todos levamos todos os dias com as múltiplas exigências do trabalho, das amizades e das relações sociais.

Quem não se sentiu incomodado em algum momento, quando outros estão servindo convidados ou quando vê que outros podem passar um tempo meditando e, em vez de se juntar a eles, continuar preparando comida para compartilhar mais tarde?

Maria representa a dimensão contemplativa do nosso ser: meditar, ouvir atenta e profundamente o Cristo interior, na oração ou no encontro com Ele numa leitura descontraída das Escrituras (Lectio Divina).

Esta história do evangelho simboliza de certa forma quem somos. Ação e contemplação são duas faces do nosso ser. Somos ambas: Marta e Maria. Quando estamos tão ocupados e reclamamos que não temos tempo para meditar, então Marta assume o controle e se dedica às tarefas e obrigações diárias que temos.

Quando paramos as nossas tarefas para nos dedicarmos integralmente à oração, à meditação, à escuta profunda e atenta do nosso ser interior, então queremos ser apenas Maria. Mas não podemos ser exclusivamente um deles, porque somos os dois ao mesmo tempo. Mesmo quando vivemos em comunidade, ambas as dimensões coexistem, pois rezamos e trabalhamos: “ora et labora” como estabelece a regra da Ordem Beneditina e como realmente deveria ser, a regra da nossa vida.

O trabalho da Marta é muito valioso porque ela se esforça para ter tudo preparado, a comida pronta para compartilhar e tudo limpo e arrumado. Mas, ao abordá-lo a partir do ressentimento, perde de vista o direito de existir da outra metade da sua alma: a escuta atenta e profunda de Maria. E Jesus a lembra, dizendo: “Marta, Marta, você se preocupa e se preocupa com tantas coisas”.

E nos perguntamos: não é exatamente isso que fazemos em muitas ocasiões? É nesses momentos que devemos nos lembrar da nossa dimensão contemplativa e cumprir as nossas obrigações com toda a atenção e dedicação, em vez de reclamar e cumpri-las com relutância.

Se pudéssemos fazer o que temos que fazer a partir da consciência do centro mais profundo do nosso ser, onde residem a compaixão e o amor pelos outros, estaríamos integrando os dois lados do nosso ser: ação e contemplação, Marta e Maria.

Quem reclama é o nosso ego com sua necessidade excessiva de estima, com seu desejo constante de receber elogios e culpar os outros. Porém, o que precisamos é conseguir a aceitação e a integração de ambos os lados do nosso ser: às vezes temos que ser Marta, mas também podemos ser Maria noutros momentos. Ambas as dimensões são essenciais e se complementam. Na vida de Jesus, vemos esse maravilhoso equilíbrio entre ação e contemplação. Jesus percorria as aldeias pregando o evangelho e curando os enfermos, e também muitas vezes retirava-se para um lugar tranquilo para orar em silêncio: “Naquele tempo, Jesus subiu ao monte para orar e passou a noite orando a Deus”.

Atualmente, grande parte da vida da Igreja centra-se na dimensão de Marta e muitos até se esquecem da obra pela qual Maria é elogiada por Jesus. É muito importante “fazer”, cuidar dos outros, orar através de orações de louvor, petição, intercessão, ação de graças, todos os tipos de oração são valiosos e importantes. Contudo, o trabalho de Maria, a oração silenciosa, a escuta profunda, a contemplação, parece ter sido relegado aos poucos monges e monjas atraídos por esta forma de ser.

Esta foi a grande missão de John Main e que Laurence Freeman continua a difundir: fazer com que o cristão comum se reconecte com a antiga tradição da oração contemplativa que remonta aos ensinamentos de Jesus.

Em 2007, a Comunidade Mundial para a Meditação Cristã recebeu o reconhecimento canônico do Vaticano como Comunidade Ecumênica Contemplativa, reconhecendo assim a importância e o valor da obra de Maria, da nossa dimensão contemplativa.


Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/ai-gerado-monge-t%C3%AAmpora-brilho-8621901/

Para mais detalhes ver:

* CAMINHO DO MANTRA: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2022/09/mantra-duas-maneiras-de-ser-particula-e.html

* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

INFLUÊNCIA DOS PENSAMENTOS E EMOÇÕES NOS NOSSOS CORPOS


Muitas pessoas já se aperceberam da influência dos seus pensamentos e dos seus sentimentos no funcionamento do seu organismo. Mas, na maioria das vezes, só a observaram nos casos de pensamentos e sentimentos negativos, como o ódio, a cólera, o medo, a angústia ou as emoções causadas por uma má notícia: as secreções glandulares ficam perturbadas e elas sentem-se envenenadas. As pessoas sabem que as emoções negativas deterioram a saúde, mas quantas se esforçam por evitá-las, para melhorarem o seu estado psíquico? E quantas decidem manter conscientemente estados de consciência positivos? No entanto, é muito fácil compreender que, na mesma medida em que se foi envenenado por pensamentos ou sentimentos inferiores, se será libertado, reforçado, vivificado e ressuscitado quando se trabalha com pensamentos e sentimentos luminosos, divinos.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
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terça-feira, 25 de março de 2025

O DESERTO DA QUARESMA


Que jejum melhor do que permanecer contigo, Senhor, no presente? Fazendo o que se deve fazer conforme o dever, em cada momento, a vida se torna simples e perde pretensões. Paramos de ser atraídos por algo diferente do que existe. Este é um deserto exemplar. É suave, plano, sóbrio como água pura que é bebida por necessidade.

Que coisa maravilhosa será atravessar o deserto quaresmal, esse lugar físico e ao mesmo tempo simbólico onde tantas batalhas foram travadas. Ali Jesus, o Cristo, transcendeu as tentações arquetípicas do homem. Lá, milhares de monges e eremitas fortaleciam seus espíritos por meio da vigilância, da sobriedade e da oração persistente que se tornava incessante. Foi lá que Charles de Foucauld dedicou sua vida à busca de viver em coerência radical com o mestre de Nazaré.

É possível atravessar o deserto quaresmal em meio a cidades tumultuadas, miragens vãs mas sedutoras, para ir além das promessas de papelão, dos desejos adquiridos e superficiais? O deserto está aqui agora se eu ficar onde estou, fazendo o que tenho que fazer, deixando as divagações e colocando nesse deserto minhas invocações. Persistirei no que me deres, sem colori-lo com fantasia, com projetos distantes, com imagens de mim mesmo. Descartando o passado, certamente ignorando o futuro, render-me-ei ao presente, que é o outro nome da tua vontade.


El Santo Nombre



Fonte: Blog El Santo Nome
https://elsantonombre.org
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sábado, 7 de dezembro de 2024

ELEVADOS PELA HUMILDADE


Quanto mais queremos aproximar-nos de Deus, mais precisamos de nos ancorar na humildade.

Santo Agostinho mostra-nos muito bem que assim é através de uma comparação conhecida: «A meta que visamos é muito alta, pois é a Deus que procuramos, que queremos alcançar, já que só nele está a nossa bem-aventurança eterna. Ora, só podemos atingir esta meta tão elevada através da humildade. Queres subir? Começa por te rebaixar. Sonhas em construir um edifício que se eleve até aos céus? Cuida primeiro de lançar os alicerces com humildade». E quanto mais elevado for o edifício, acrescenta o Santo Doutor, mais fundos devem ser os fundamentos. Tanto mais que o solo da nossa pobre natureza é singularmente movediço e instável. Ora, a que altura aspira este edifício espiritual? À visão de Deus. Vede, pois, exclama ele, «a que grau de sublimidade se há de elevar este edifício, que meta sublime devemos alcançar; mas não esqueçais que só lá chegareis através da humildade» (Sermão 10, Verbis Domini).

É fácil compreender, pois, por que razão São Bento, que não nos dá outro objetivo que não seja «encontrar a Deus», funda a vida espiritual na humildade.



Beato Columba Marmion (Abade)



Fonte: Evangelho Quotidiano - Evangelizo
www.evangelhoquotidiano.org
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SENTIDO DA PALAVRA CARMA


Sempre que agimos, desencadeamos inevitavelmente certas forças que, também inevitavelmente, produzirão determinados efeitos. É esta ideia de uma relação de causa e consequência que está contida, originalmente, na palavra “carma”. Depois é que o termo foi tomando o sentido de pagamento por uma transgressão cometida.

Na realidade, podemos dizer que o “carma” (no segundo sentido do termo) se manifesta sempre que um ato não é executado na perfeição – o que acontece quase sempre! Mas o homem deve fazer tentativas, exercitar-se, para atingir a perfeição. Enquanto for desajeitado e cometer erros, terá de corrigir-se, reparar os erros; para isso, evidentemente, terá de penar, de sofrer.

Perguntar-me-eis: «Mas então, se ao agirmos nós cometemos obrigatoriamente erros, mais vale não fazermos nada.» Alguns apresentaram esta filosofia, mas ela não é uma boa solução, porque, se nada se fizer, nada se aprenderá. É preferível agir, enganar-se e sofrer, esforçando-se por imprimir diariamente aos seus atos, às suas palavras, aos seus sentimentos e aos seus pensamentos, cada vez mais bondade, pureza e desapego. Pouco a pouco, deixareis de sofrer consequências dolorosas, já não tereis carma. Vivereis cada vez mais com alegria, na plenitude, e a isto chama-se “dharma.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

TEMPO DO ADVENTO - REFLEXÃO E PREPARAÇÃO ESPIRITUAL


Tempo do Advento

O tempo do Advento começa quatro domingos antes do Natal.

Os paramentos roxos anunciam que é tempo de preparação.

No coração do silêncio é onde se experimentam as trevas, para preparar a luz que vai chegar.

Buscamos o nascimento de Deus na alma, aguardando os tesouros na pureza e na devoção.

Sem esta preparação interior não estamos em condições de receber o glorioso Filho da Luz, muito menos de compreender a sua mensagem.


Leituras

Romanos 13,11
Irmãos, tenham consciência do tempo em que vivemos e que é hora de acordarmos do sono. Pois a nossa salvação está mais perto de nós agora do que quando cremos.

Marcos 13,33-37
Portanto, procure estar acordado, pois você não sabe quando chegará a hora. É como quem, quando ausente de sua casa, confia a administração dela aos seus servos, indicando a cada um o seu trabalho, e instrui o porteiro a manter uma boa vigilância. Portanto, vigiai porque você não sabe quando o dono da casa chegará: se ao anoitecer, à meia-noite, ao cantar do galo, ou ao amanhecer. Não deixe que ele te encontre dormindo, mesmo que chegue inesperadamente! E o que digo a vocês, digo a todos: Estejam vigilantes!

Tomás 2
Jesus disse: «Quem procura não deve parar de procurar até encontrar. E quando ele descobrir, ele tremerá, e depois do tremor ele se encherá de admiração e reinará sobre o universo.


Comentário

Advento: um tempo de observação e preparação. O Advento não é apenas um tempo de espera passiva, mas um convite ativo para nos prepararmos para receber a Luz do Menino Divino. Quatro semanas antes do Natal, iniciamos este período de recolhimento interior que nos lembra que, para compreender e receber a mensagem de Deus, devemos primeiro estar preparados.


Ciclos Universais e Observação Espiritual

As épocas da Igreja, como o Advento, conectam-nos com os ciclos universais que estão presentes em toda a criação. Quem está habituado a observar reconhece que estes ciclos se repetem em todos os aspectos da vida, desde as estações até aos ritmos da alma. Para quem ainda não desenvolveu este hábito de atenção é convidado a fazê-lo, como diz São Paulo na sua carta aos Romanos: “Tenhamos consciência do tempo em que vivemos”. O Advento chama-nos precisamente a esta observação espiritual, convidando-nos a despertar da nossa letargia, a olhar para dentro e a preparar-nos para o renascimento da Luz de Deus.


Traduções e o significado do Advento

Ao meditarmos nas Escrituras, é importante lembrar que as traduções podem nos oferecer diferentes nuances que enriquecem a nossa compreensão. No Evangelho de Marcos, Jesus nos chama à "vigilância", mas algumas versões traduzem esta palavra como “alerta” ou mesmo “desperto”. Cada tradução acrescenta uma nova dimensão: estar vigilante implica "espera ativa", estar alerta sugere "cautela" e estar acordado convida-nos a "estar atentos". O Advento exige de nós este estado de atenção constante. Quer estejamos iniciando esta busca espiritual, quer a renovemos todos os anos, a chave é estar presentes, abrir-nos aos sinais do caminho que Deus nos mostra.


A busca que choca

A busca de Deus não é algo que se faz pela metade. O Evangelho de Tomé recorda-nos que “quem procura não deve parar de procurar até encontrar. E quando ele encontrar, ele estremecerá.” A verdadeira busca pelo divino nos sacode, nos desafia e nos transforma. Neste sentido, um dos professores que marcou a minha vida – um padre católico romano – disse-me: “Se a Igreja não te faz sentir livre, sai da Igreja”. O verdadeiro Cristianismo não nos acomoda, mas antes nos deixa desconfortáveis ​​em nossa vida mundana. Se o caminho que percorremos não nos abala, não nos liberta e não nos desafia a sermos melhores, talvez devêssemos repensar se estamos no lugar certo.


Preparação e Purificação Interior

O Advento nos lembra que não podemos receber a Luz do Divino Menino sem antes passar por um processo de purificação interior. O manto púrpura que caracteriza este tempo simboliza a preparação e a penitência, convidando-nos a trabalhar a alma e o coração. É no silêncio, na meditação e na busca ativa que nos preparamos para o renascimento espiritual que nos espera no Natal.


O Caminho da Libertação Espiritual

Queridos irmãos, o verdadeiro caminho espiritual deve nos abalar, deve nos tirar da nossa zona de conforto e nos guiar para uma vida mais plena e livre. Este tempo do Advento convida-nos a observar, a procurar e a permanecer vigilantes. Não pare de buscar até encontrar liberdade interior e conexão profunda com Deus. Que este período seja para todos nós uma oportunidade de despertar, de nos preparar e de permitir que a Luz Divina nasça no profundo do nosso ser.


Tau Genesius
Capilla de la Magdalena




Fonte: Iglesia Gnóstica Universal
https://capillamagdalena.org/category/almanaque-gnostico/
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domingo, 1 de dezembro de 2024

ADVENTO - A CONTAGEM REGRESSIVA PARA O NATAL


A contagem regressiva para o Natal começa… agora.

Se não apreciássemos que o tempo sagrado existe, a vida seria uma paisagem sombria para navegar. Tornar-se-ia um ciclo tedioso de trabalho-férias-compras-lazer-solução de problemas que geraria um sentimento contínuo de vazio e insatisfação. O tempo sagrado inunda de cor este mundo monocromático; roxo para o Advento. Produz um sentimento de expectativa, uma certeza dentro da incerteza. Gera um entusiasmo pela revelação iminente da realidade que não nos decepcionará.

O tempo sagrado do Advento nos desperta para o fato de que algo ou alguém real está chegando até nós, através da nossa vida terrena. Ao participar do tempo sagrado, aprendemos diretamente todas as coisas valiosas que ele pode nos trazer. Se esperarmos com a dúvida persistente de que talvez nada aconteça, nada poderá impedir que a nossa espera vazia se torne, na verdade, ainda mais solitária. E assim, nos sentiremos sozinhos novamente. Mas se nos sentirmos cada vez menos angustiados pelas posses e apegos, então a espera será recíproca. Quem ou o que quer que esteja caminhando no tempo em nossa direção também aguarda o encontro, o reconhecimento e o abraço que acolherá esse novo que chega. E o evento será maravilhoso.

O Advento nos oferece um tempo sagrado para refletir sobre o quão conscientes estamos vivendo. Em nossa agitada vida diária, mal conseguimos reservar alguns minutos para refletir sobre aspectos mais profundos de nossas vidas. A reflexão começa com o autoquestionamento. Aceitamos plenamente o momento em que nos encontramos? Perdemo-nos fantasiando sobre o passado ou o futuro? Estamos realmente esperando? Estar verdadeiramente no presente significa ser real e saber, com a sabedoria que surge na quietude, que aquilo que esperamos já chegou, já está aqui.

Este tipo de espera é a verdadeira esperança, não aquela que costumamos ter cheia de sonhos e desejos. A verdadeira esperança é a certeza de que o acontecimento final já aconteceu e espera renascer a cada momento, em cada circunstância da nossa vida. Para alcançar este estado, é necessária a repetida – e por vezes insuportável – renúncia às ilusões e a todos os devaneios egoístas. A ilusão constantemente se transforma e reaparece. Portanto, precisamos de uma prática regular e comprometida com a meditação. Se perseverarmos fielmente em nosso compromisso de silêncio duas vezes ao dia durante as próximas semanas, teremos um tempo de Advento bem aproveitado.

Perguntemo-nos: estamos realmente esperando? Ou estamos fugindo da dúvida sobre se algo acontecerá na quietude e no silêncio? Esperar não é pensar em nosso sentimento de separação ou de sermos incompletos. Nem significa acalmar o medo de que nunca seremos inteiros. Esperar significa abandonar todos esses pensamentos e sentimentos obsessivos e sair da órbita do ego medroso. Significa render-se à emoção da plenitude e da beleza emocionante de Cristo que agora se desenvolve em nós e que certamente nascerá no tempo.

O Advento, portanto, é a espera do Amor. Mas, como disse Rumi, “os amantes não se encontram finalmente em algum lugar. Eles estão um no outro, o tempo todo”.



Fr. Laurence Freeman, OSB




Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/velas-natal-advento-luz-1891197/



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domingo, 24 de novembro de 2024

CONFLITOS EXISTENCIAIS E FUGAS PSICOLÓGICAS


Cada pessoa experiência as emoções que dizem respeito ao nível de consciência em que estagia, não conseguindo de um para outro momento ultrapassá-lo. Diante desse acontecimento, os conflitos existenciais e as fugas psicológicas exercem um papel determinante no seu comportamento.

Os referidos conflitos são resultados de heranças ancestrais, quando foram cometidos atos que atentaram contra a ética e o bem proceder, dando lugar ao surgimento da culpa encarregada de transformar-se em aflição e desgaste do equilíbrio.

Noutras vezes, surgem como decorrência do processo de desenvolvimento ético-moral, quando ainda não havia a capacidade de discernimento responsável pela censura aos comprometimentos perturbadores, sendo aceitos como naturais e, portanto, frutos da sombra que permanecia ditando as atitudes mais compatíveis com a sua natureza arquetípica.

Nesse estágio, ocorrem os problemas emocionais que vergastam (açoitam) o ser, perturbando lhe a capacidade de orientação e de saúde, instalando-se por longo período gerador de distúrbios que se transferem de uma para outra existência.

Acostumando-se à impossibilidade de alcançar mais altos patamares de bem-estar e de harmonia, permite-se a aceitação do Self enfermiço dominado pelo ego, em estranha vitória no campeonato da evolução.

Torna-se urgente e indispensável a busca de ajuda psicoterapêutica, a fim de poder distinguir de maneira saudável o que é melhor para a conquista da alegria de viver e as diretrizes que deve adotar para conseguir vencer os obstáculos internos que se expressam ameaçadores.

As batalhas mais difíceis de ser vitoriosas são aquelas que se travam nos refolhos (porões) da psique, desde o momento em que o indivíduo se propõe alcançar as motivações para o prosseguimento da existência planetária dentro dos padrões da normalidade.

Seja qual for o conflito existencial que se manifeste, a criatura aturde-se e padece a incerteza de qual é o melhor caminho para o auto encontro, passo inicial para a auto iluminação.

Não pode haver um comportamento equilibrado se nos painéis da psique as informações emocionais não se encontram estabelecidas sob o comando e a inspiração dos anseios elevados e pacificadores.

Toda vez quando surge um conflito que se expressa em forma de aflição e de insegurança emocional, torna-se necessário o enfrentamento lógico e frontal com este, de modo que possa libertar-se mediante o uso da razão e do ajustamento psicológico que se fazem necessários. São distúrbios dessa natureza que empurram para o vício, para a dependência de drogas aditivas, para a dissimulação e as fugas da realidade com transferência de responsabilidade para os outros.

O paciente, nesse caso, assume a atitude infeliz e acredita que tudo quanto lhe ocorre é resultado da antipatia que os outros lhe demonstram, refugiando-se nos escuros porões da comodidade, não envidando esforços para a luta que deve ser travada, a princípio mentalmente, diluindo as desculpas e justificativas pelo estado mórbido que o possui, para logo iniciar o esforço de compartilhar das atividades no grupo social, ajustando-se e modificando a óptica de observação dos fatos.

Apoiando-se, porém, no bastão da indiferença pela situação em que moureja (insiste), permanece em lamentável postura que pretende transformar em arma de acusação contra as demais pessoas.

Nesses pacientes, não surge o sentimento da gratidão que é sempre espontâneo, porquanto se acreditam vítimas indefesas da sociedade e, como efeito, agasalham ressentimento e amargura que mais os desajustam.

Os conflitos existenciais fazem parte do processo de evolução, porque, à medida que se vai abandonando uma faixa de experiência, conduz-se todo o material que foi armazenado, seja ele de qual conteúdo se revista.

Como a aprendizagem de novos hábitos é lenta e a superação dos atavismos perturbadores exige coragem, determinação e insistência, na fase inicial da luta apresenta-se como tentativas de acerto e de erro até que se definam as características que passam a alterar a conduta, dando lugar a novos cometimentos.

Somente uma atitude racional e grande equilíbrio emocional para se ter a coragem de reconhecer as próprias deficiências que resultam do processo evolutivo, aliás perfeitamente normais durante o seu trânsito no rumo do desenvolvimento psíquico e psicológico.

(...)

A emoção consciente da sua realidade é sempre lógica e nobre, contribuindo em favor da ordem e do dever.

Não se escusa, não se justifica, não transfere as atividades que lhe dizem respeito para os outros, contribuindo em favor do bem onde quer que se faça necessário. Tampouco se inquieta com a ingratidão, porque reconhece que cada ser se movimenta no nível de consciência e de discernimento que lhe é próprio.

Existem aqueles que, por um bom período da vida somente esperam receber, fruir, desfrutar dos favores de todos sem o mínimo compromisso com a retribuição ou com o bem-estar geral. Desde que se sintam atendidos e fisiologicamente satisfeitos, tudo se encontra bem.

Ainda permanecem no período egocêntrico da evolução psicológica, agindo conforme a sua natureza. A ingratidão é-lhes uma característica definidora do comportamento, fazendo que sempre exijam e projetando a imagem de que as demais pessoas estão equivocadas, quando não fogem para a postura do martírio, a fim de inspirarem compaixão, provocando conflitos de culpa nos demais.

A gratidão constitui bênção de amadurecimento psicológico que felicita o Espírito, facultando-lhe ampliar os sentimentos de amor e de compaixão, porque reconhece todos os bens de que desfruta, mesmo quando alguma circunstância menos feliz se apresenta.

Não se expressa apenas quando tudo transcorre bem e comodamente. Mas especialmente quando o testemunho e a dor se apresentam convidando à reflexão.

A vida é, sem dúvida, um hino de gratidão a Deus em todas as suas expressões.



Divaldo Pereira Franco / Joanna de Ângelis



Fonte: do livro "Psicologia da Gratidão", Série Psicológica Joanna de Ângelis
Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador - BA
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/c%C3%A9rebro-pensar-sentimentos-4065088/

AMOR RELIGIOSO


Um dos principais problemas que o Cristianismo enfrenta hoje é que grande parte da teologia se refere apenas a ideias teóricas sobre Deus que não são baseadas na experiência. Frequentemente, esses pensamentos estão, de fato, separados da experiência. Não se trata de abolir a teologia, mas de infundir nela a experiência da vida espiritual para torná-la, mais uma vez, uma teologia viva. A verdadeira teologia surge de mais do que simplesmente refletir sobre a experiência que outras pessoas têm de Deus.

O cristianismo moderno necessita de uma teologia forte, baseada na contemplação, que saiba transferir o ideológico para os problemas e circunstâncias da consciência atual. Deve ser algo mais que um diálogo automatizado com Deus, mais que uma posição distante do homem diante do infinito. Devemos abrir-nos ao silêncio da oração para que Deus nos fale nesta experiência e através dela.

Ao abrirmos os nossos corações ao amor no nível mais profundo e silencioso do nosso ser, não estamos reprimindo o conhecimento humano. Pelo contrário, estamos permitindo que seja iluminado. O que há de extraordinário na mensagem cristã é que esta luz não é menos que a luz de Cristo. Nosso chamado é saber, através de nossa própria experiência, que a luz de Cristo brilha em nossos corações. A nossa missão essencial na vida é estar abertos a esta luz, mergulhar nela, deixar-nos preencher por ela e, assim, ver tudo iluminado por esta nova luz.


Fr. John Main, OSB
Transcrito por Carla Cooper



Fonte: “Amor religioso.” Trecho do livro de John Main OSB “The Path of the Unknown” (Nova York: Crossroad, 1990), pp. 115-116.
WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
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Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
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JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

RANCOR


Essa aversão profunda, consciente ou não, que alguém experimenta contra outrem, é filha espúria do orgulho, esse dileto companheiro do egoísmo, que não admite ser desconsiderado ou sequer enfrentado nas mesmas condições.

O rancor é enfermidade moral que assinala muitos seres humanos, mantendo-os em estágio de inferioridade na escala da evolução.

Apresenta-se, inesperadamente, e tende a crescer, quando não combatido de imediato, atormentando aquele que lhe padece a férrea constrição moral, com sede de desforço, de reabilitação.

Muitas vezes, aquele que o experimenta nem sequer teria qualquer motivo atual para manter a animosidade profunda em relação a outrem que mal conhece ou de cujo convívio se afastou num momento de cólera e de ressentimento.

Não havendo uma explicação lógica para a sua presença na emoção, em face da falta de motivo que o justifique, ei-lo que procede de existência transata (passada), na qual enfrentaram-se os litigantes que ora se reencontram.

Os Soberanos Códigos estabelecem como impositivo básico da evolução a convivência fraternal e enriquecedora entre os seres humanos, ampliando os instintos gregários, através da qual desenvolvem-se os tesouros da amizade e do amor, da bondade e do socorro recíproco.

Nada obstante, enquanto predominam as heranças do primarismo, o ego exige consideração imerecida, autoconsiderando-se irretocável, elegendo uma postura falsa para reinar.

Qualquer ocorrência menos feliz, algum acontecimento desagradável que o atinge, são suficientes para dar curso ao sentimento de rancor, que se transfere de uma para outra existência com a férvida paixão destrutiva em relação a quem passa a considerar como seu antagonista.

Reencontrando-o, reaviva-se-lhe no inconsciente profundo o acontecimento infeliz, nem sempre lúcido, ensejando-lhe a antipatia que se converte em aversão e termina como rancor.

Todos os fenômenos dessa natureza obedecem à programação divina, para que haja a recuperação do equivocado, a fim de que sejam anulados os ressentimentos através da convivência jovial, que apaga as mágoas mantidas.


Divaldo Pereira Franco / Joanna de Ângelis



Fonte: do livro "Vitória sobre a Depressão"
Livraria Espírita Alvorada Editora
Salvador (BA)
mail: leal@mansaodocaminho.com.br
Homepage: www.mansaodocaminho.com.br
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sábado, 23 de novembro de 2024

PENSAMENTOS PARA REFLEXÃO


Existe sempre uma solução para cada situação. Em silêncio, na consciência de que sou forte, positivo e pacífico, sintonizo-me com a minha sabedoria interior e descubro as respostas que preciso.


O medo é um grande inimigo da humanidade. Ele se manifesta através de comportamentos destrutivos variados, tanto individual como coletivo. É necessário vencê-lo com a coragem de olhar honestamente dentro de mim mesmo e atingir um estado de amor no qual desenraízo as memórias dolorosas, deixando-as ir e perdoando.


Entusiasmo é um dom especial da alma que faz meu coração dançar. Entusiasmo é o combustível que me permite alcançar o propósito de minha vida; ele me dá coragem para superar todos os obstáculos e transformar tempestades em dádivas. Nunca desanimo, continuo feliz, valorizando os presentes cotidianos e inestimáveis da vida.


Há muitos que sofrem. Para poder apoiá-los e ser um benfeitor preciso me conectar a Fonte. Meu coração e minha mente precisam da luz de paz e amor ilimitados. Um olhar amoroso, sorriso amigável ou palavras sábias e inspiradoras podem trazer muito conforto e felicidade a quem precisa.



Brahma Kumaris




Fonte: https://brahmakumaris.org.br/
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A PAZ É UM ESTADO INTERIOR


A paz não é um estado que pode ser obtido diretamente, sem intermediário, pois resulta de uma síntese de qualidades e de virtudes; ela significa que, no homem, todas as funções e todas as atividades estão perfeitamente equilibradas e harmonizadas. A paz é uma consequência da boa organização, do perfeito funcionamento de todas as células de todos os órgãos. Por isso, jamais alguém terá paz simplesmente dizendo: «Quero a paz!»

Mas observai os humanos e vereis que todos acreditam que é suprimindo certas coisas ou certas pessoas que instalarão a paz no mundo. De modo nenhum! Mesmo que se suprima o exército e os canhões, no dia seguinte as pessoas terão inventado outros meios para se destruírem umas às outras. A paz é um estado interior, e nunca se conseguirá obtê-lo suprimindo o que quer que seja no exterior. É dentro de si, em primeiro lugar, que é preciso suprimir as causas da guerra. E, para se viver interiormente em paz, deve-se aprender a introduzir a harmonia nos pensamentos, nos sentimentos e nos atos.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: Publicações Maitreya, Porto, Portugal
https://publicacoesmaitreya.pt
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O AMOR É A ENERGIA CRIATIVA DO UNIVERSO


A visão do invisível e a confiança que advém da absorção no imortal é a essência da meditação. Sabemos com plena convicção que quando morremos para nós mesmos, permanecemos no eterno. Isto nos permite saber que nosso ser pode passar por etapa após etapa da vida, por muitas mortes, mas não podemos escapar do ser. Deus nunca tira o dom que nos deu e nos deu o nosso ser que é imortal. Esta é a preparação essencial que precisamos experimentar para enfrentar a nossa morte sem medo, sem falsas desculpas, com mente e coração abertos.

Ao longo dos anos em que ensinamos meditação nesta tradição, conhecemos pessoas que começaram a meditar justamente quando já estavam enfrentando a morte e puderam ver que estavam se aproximando do horizonte de suas vidas. A sua atitude em relação à morte foi transformada à medida que se preparavam para morrer para si próprios, dia após dia, em preparação para a morte do corpo. Foi inspirador e uma revelação para nós ver o crescimento da sua fé e esperança à medida que aprenderam a meditar, mesmo na fase final da sua vida. Da mesma forma, foi inspirador ver como esta mudança profunda funcionou neles e na sua atitude perante a morte e como influenciou as suas famílias e amigos, que também percorreram o caminho, em parte, com eles.

São Bento tem um capítulo na Regra para os Monges chamado “Ferramentas das Boas Obras”, que é uma lista das atitudes básicas que os monges devem desenvolver em sua vida de caridade e disciplina para se prepararem para o que São Bento chama de “luz da divinização” no Reino dos Céus. Uma dessas ferramentas ou atitudes é manter sempre a morte à nossa vista. Há, acredito, uma sabedoria extraordinária nessa frase. Simplesmente mantendo a morte em mente, à vista, podemos realmente aprender a ser infantis em nosso relacionamento com o significado último da vida. Aprender a recitar o mantra* em nosso compromisso diário com a meditação é a entrada para sermos como crianças. É esta pequena palavra que nos enraizará no fundamento eterno do nosso ser e nos ensinará que a morte é um ato de transcendência.

Repetir o mantra é aprender a morrer e aprender a aceitar o presente eterno do nosso ser – ambos no mesmo ato. É aprender que toda morte é uma morte para as nossas limitações e que se pudermos morrer para nós mesmos seremos ressuscitados para a liberdade infinita do Amor, porque o Amor é a energia criativa do universo e também o centro criativo do nosso ser. Para encontrar esse centro devemos ir além do nosso egocentrismo, devemos morrer para tudo o que acontece. Ao percorrer este caminho e partilhá-lo com os outros, entramos na verdade de que a realidade não é uma conquista final, mas uma experiência dinâmica de passagem de nós mesmos para os outros. Somente quando tivermos desistido de nossa vida, poderemos encontrá-la.



Fr. John Main, OSB



Fonte: do livro "Morte, Caminho da Interioridade"
Obra original em inglês publicada pelo Priorado Beneditino de Montreal
1475 Pine Avenue West, Montreal, H3G 1B3, Canadá
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/medita%C3%A7%C3%A3o-mandala-transcendental-6808541/




Para mais detalhes ver:

* CAMINHO DO MANTRA: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2022/09/mantra-duas-maneiras-de-ser-particula-e.html

* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html


Nota:
* Mantra, aqui neste contexto, é uma ou mais palavras, numa determinada língua, que tenha algum significado na condução da nossa meditação.

OS AMIGOS DE DEUS


Uma das características do monge arquetípico e do monge cristão em particular, em todas as épocas, é a busca pela familiaridade com as escrituras sagradas. Uma constante ruminação da palavra, não para encontrar a erudição, mas para interiorizar o ensinamento, para viver aquela mensagem que faz dela a sua regra de vida.

Familiaridade implica conhecimento e confiança. O familiar permite a proximidade e estabelece-se facilmente um diálogo fecundo e profundo, marcado pelo afeto e pela verdade. A escrita torna-se tão íntima do monge que até as suas divagações podem girar em torno das verdades reveladas, em torno do seu significado último e na busca dos significados que os versos lhe revelam pessoalmente.

A repetição, por vezes memorizante, dos fragmentos do dia torna-se uma das formas de oração implícita, daquele “estar na presença” que é o caminho e a meta da vida monástica. Com o tempo, reconhecemos a nossa própria voz na salmodia paciente e estes poemas antigos parecem-nos escritos por nós próprios, quando os traduzimos intuitivamente para a realidade pessoal da vida quotidiana.

Às vezes, a simplificação da vida e a unicidade de propósitos permitem que alguns parágrafos, de um dos evangelhos, se tornem um critério geral de discernimento para qualquer situação. E então cada dúvida ou conflito se resolve à luz desse ensinamento, daquela palavra divina inspirada aos homens nas diversas situações e momentos. Você só pode amar o que você conhece.

Dá-me, Senhor, beber todos os dias da tua palavra, ensina a verdade ao meu coração, para que eu possa te amar e viver de acordo com a tua vontade!


El Santo Nombre



Fonte: Blog El Santo Nome
https://elsantonombre.org
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/budismo-theravada-retiro-do-himalaia-1823527/

sábado, 30 de março de 2024

QUEM É O TODO ?


E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. (Mateus 22:36)

Para poder cumprir isso é preciso entender quem é o Todo. (Aton)

Quando usamos um microscópio podemos ver pedaços cada vez menores de matéria. Com um microscópio eletrônico podemos “ver” até o mundo atômico. Mas, se nos aprofundássemos mais e mais o que “veríamos”? Depois dos átomos temos os prótons, elétrons e nêutrons. Os prótons são formados por quarks. É neste ponto que a ciência chegou até o momento. Existem duas interpretações a seguir: uma diz que “abaixo” do nível dos quarks estão as supercordas e outra diz que existe o Bóson de Higgs; o campo que dá massa à tudo o que existe.

“Abaixo” disto existe o que? O Vácuo Quântico. Um infinito campo de energia primordial. É dele que “emerge” tudo o que existe. A energia que “emerge” e que entra em contato com o campo do Bóson de Higgs (que também “emerge” do Vácuo Quântico) é que dá massa aos quarks que forma os prótons que forma os átomos que forma as moléculas que forma as células que forma os órgãos que forma o corpo de qualquer ser orgânico. O ser humano por exemplo.

Esta é a realidade pura e simples. Tudo vem do Vácuo Quântico. Ele é tudo o que existe. Tudo o demais é uma emanação dele ou uma organização ou auto-organização dele. (Por enquanto estou usando minúsculas para ser didático). As demais interpretações são metafóricas. E qualquer metáfora é válida desde que entendida que é uma metáfora.

Tudo o que existe é formado pela energia primordial. Este vácuo Quântico está presente em tudo. Desde o nível do oceano primordial de energia (do qual tudo emerge) até as galáxias, aglomerados de galáxias e o universo inteiro. Nada está fora do Vácuo Quântico. Ele é tudo o que existe. Estou simplificando para ficar mais fácil de entender.

É de importância fundamental entender isso. Não existe nada que não seja o Vácuo Quântico. Ele é a energia que está presente em tudo. Ele é energia. Não tem massa ou matéria para ficar claro. É pura energia. A massa só aparece quando a energia entra em contato com o campo do Bóson de Higgs (que também vem do Vácuo Quântico). Estou repetindo para ficar claro, pois até hoje isso não foi entendido quando se fala do versículo acima. Sem entender qual era a intenção ao dizer uma coisa fica-se sujeito a n interpretações. Daqui a muito tempo a física aceitará isso. Por enquanto estamos vivendo na filosofia materialista. E o resultado está ai.

Quando as pessoas entenderem que são formadas pelo Vácuo Quântico e que tudo também o é, todos os problemas desaparecerão. Tudo estará resolvido.

Ser formado pelo Vácuo Quântico significa que a essência dele está dentro de todas as pessoas. Essa essência é o que se chama Centelha Divina. Um “Átomo” do Vácuo Quântico. Como se fosse uma impressão digital dele. Cada ser que existe tem uma Centelha Divina individual e individualizada. Emanada do Vácuo Quântico. A Centelha é o próprio Vácuo Quântico. Entender e reconhecer isso é o que se chama Iluminação. Iluminado é o ser que sente isso. Sentir é a palavra-chave aqui. Sem sentir não se aceita a Centelha Divina e portanto as guerras continuam e continuarão até que isso seja sentido.

Portanto, para se amar o Todo é preciso sentir que o Todo é a essência de tudo o que existe. No nível mais profundo o Todo e a pessoa são a mesma coisa. Só que a pessoa tem de sentir isso. Quando a pessoa sente isso ela passa a deixar que o Todo resolva tudo. É o que se fala sobre “abandonar” o ego. Deixar a Centelha agir. Deixar os interesses particulares de lado e deixar a Centelha guiar tudo. Sem isso a pessoa tentará dirigir a própria vida com a sua mente. E nesse ponto os problemas aparecerão inevitavelmente, pois deixar o Todo de lado e querer dirigir a própria vida (que é formada pelo Todo) é uma coisa completamente ilógica e não tem como funcionar. Soltar o ego e deixar a Centelha cuidar de tudo é a única solução. Isso não quer dizer não fazer nada, não trabalhar, não estudar, etc. É justamente o contrário. Temos de fazer o máximo que estiver ao nosso alcance para que a Centelha possa atuar. Lembram-se de que a Centelha está dentro do nosso corpo? O corpo é o veículo da Centelha. É preciso que o veículo seja o melhor possível.

Os problemas aparecem mais e mais até que a pessoa entenda e aceite que a Centelha Divina existe. Não há necessidade de sofrimento para entender isso. Basta aceitar e tudo está resolvido. O sofrimento vem de resistir a entender que tudo é o Todo. E que o Todo é tudo o que existe. Não é possível estar dentro de um corpo (como uma célula de um fígado, por exemplo) e não aceitar que está dentro do fígado. Nós estamos “dentro” do Todo. O Todo está dentro de nós. Tudo é o Todo.

Evidentemente que o que está escrito acima até hoje não foi entendido e nem aceito. É óbvio. Vejam o que acontece no planeta Terra!

É por isso que toda pessoa que lê esses versículos acha que é o resumo perfeito da fórmula para ser feliz e ao mesmo tempo vê que isso não é aplicado praticamente em lugar algum. E a aplicação disto só acontecerá quando a Centelha Divina for aceita e sentida. Ou vocês acham que o mundo dos negócios poderia continuar a ser do jeito que é se a Centelha fosse sentida?



Hélio Couto
www.heliocouto.com




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Você pode copiar e redistribuir este material contanto que não o altere de nenhuma forma, que o conteúdo permaneça completo e inclua esta nota de direito e o link: www.heliocouto.com

Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/%C3%A1tomo-logotipo-ci%C3%AAncia-1472657/

REFLEXÕES DE SÁBADO SANTO


Por um tempo, a morte parece uma realidade abstrata de nossas vidas. Passada aquela breve imortalidade da juventude, e com a primeira experiência de perda de um ente querido, a morte surge como uma possibilidade real. Mesmo quando temos a graça inexplicável de acompanhar alguém que amamos até aquele momento em que a morte “foi consumada” e ele suspira pela última vez enquanto seguramos sua mão, o verdadeiro momento cai como a lâmina de uma guilhotina. Como no Sábado Santo, encontramos um grande silêncio, uma ausência e um vazio sem fundo.

A forma como uma pessoa morre pode ampliar a porta pela qual a graça da morte - que nos obriga a enfrentar a verdade nua e crua - nos invade. Nesse transe, enquanto espera na cruz, você pode se sentir em paz, confiante e até surpreendentemente maravilhado com o que está vendo, o que o chama e o acolhe. Passamos a perceber parte dessa realidade vendo como eles a percebem.

Por um momento, devido ao nosso ego irritante, podemos sentir-nos ignorados e esquecidos, à medida que o nosso ente querido fica irresistivelmente imerso no que está a ver. Com o seu último suspiro, esta visão partilhada parece chegar ao fim, como o cair da cortina no final da performance. Ficamos sozinhos com a memória, num mundo desolado em que ela abandona todas aquelas manifestações com as quais a conhecemos.

Nunca foram escritas palavras mais poderosas do que aquelas que ouvimos ontem para comunicar este mistério, paz com dor e pesar doloroso. Vemos o que eles viram do que ele estava vendo através de uma memória transmitida por aqueles que estavam ali e foram transformados por aquilo que observaram e não souberam explicar. Porém, ao contrário do que costuma acontecer, a memória não começou a desaparecer no dia seguinte para eventualmente chegar ao grande esquecimento que tudo consome. A mão que seguramos começa a perder o calor humano, ainda maravilhoso, mas não mais o da pessoa que amamos e perdemos.

Enquanto chorava, Maria olhou para o sepulcro… “levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram”.

O Sábado Santo é um estado de espírito: um espaço de transição entre o que sabemos e o que não sabemos. Está muito cheio de vazio, a ausência é muito presente e o silêncio é ensurdecedor.

Não vamos imaginar nada. Hoje é um dia em que meditar é uma prioridade.



Laurence Freeman, OSB



Fonte do Texto e da Gravura: WCCM Espanha
Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.

sexta-feira, 29 de março de 2024

A FONTE QUE JORRA


A fonte jorra e corre incessantemente, e mesmo que alguns raminhos secos e folhas mortas ameacem obstruí-la, como ela continua a correr, a corrente arrasta-os. A fonte permanece sempre pura, sempre viva, porque corre continuamente. Então, onde encontrareis uma filosofia melhor do que a da fonte? Tomai a fonte por modelo, tornai-vos como ela, ou seja, amai... Amai apesar de todas as contrariedades. Esse amor que jorra proteger-vos-á das impurezas e dos sofrimentos. Nem sequer vos apercebereis de que alguém quis manchar-vos ou fazer-vos mal, pois tudo o que puder suceder-vos de mau será arrastado pela água, pelo amor. Conservai permanentemente em vós a imagem da fonte que corre, e que elimina o mal e as impurezas. Nunca pareis de amar, e já não sofrereis.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quinta-feira, 28 de março de 2024

UMA DAS DIFICULDADES DE APRENDER A MEDITAR É...


Uma das dificuldades de aprender a meditar é por ser muito simples. Na nossa sociedade, muitos pensam que as coisas valem mais se forem complexas. Na meditação você aprende a ser simples – e este é um verdadeiro desafio para todos nós.

A simplicidade envolvida na aprendizagem da meditação faz-nos deixar para trás a multiplicidade e todas as opções de distração e leva-nos a concentrar-nos na simplicidade do ser. Imagine que você está aprendendo a andar de bicicleta. Para aprender a dirigi-la, primeiro você deve aprender a se equilibrar e dirigir em linha reta. O que há de extraordinário nisso é que, ao dedicar sua energia para manter o equilíbrio e permanecer no caminho certo, você descobre harmonia e um novo tipo de liberdade. O mesmo vale para a meditação. Assim como aprender a andar de bicicleta, você deve ter vontade de querer aprender. Você deve ter vontade de se concentrar. Você deve aprender a direcionar sua energia para a simples tarefa de manter o equilíbrio e dirigir com segurança na mesma direção.

Estar no caminho da meditação envolve ter a simplicidade de deixar tudo de lado para então estar em harmonia e liberdade. A meditação é a abertura para a realidade que só podemos descobrir e encontrar no fundo do nosso ser. Portanto, devemos aprender a ficar em silêncio, em profundo silêncio. O extraordinário é que, apesar de todas as distrações do mundo moderno, esse silêncio é possível para você. Mas para descermos a este silêncio devemos dedicar tempo, energia e Amor.

A primeira coisa que você deve aprender com a meditação é que você deve dedicar tempo a ela. É necessário meditar todas as manhãs e todas as noites (...).

Deixe-me agora dizer o que você deve fazer durante esse período. Sente-se confortavelmente e reserve dois minutos para encontrar uma posição confortável onde possa ficar quieto durante o tempo de meditação. Depois feche os olhos e comece a repetir o seu mantra, dentro de você, silenciosamente. A arte da meditação consiste em repetir o mantra (1) do começo ao fim: 'Ma-ra-na-tha' (2). Você não sabe o quanto isso é importante. Não se desvie do seu caminho e repita essa palavra, o seu mantra, do começo ao fim. Você deve ressoar isso silenciosamente em seu coração. É esta ressonância interna que abre você para outros níveis de consciência que não podem ser alcançados fora do silêncio.


Fr. John Main, OSB



Fonte: do livro "Momento de Cristo"
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/meditar-ioga-medita%C3%A7%C3%A3o-paz-budismo-8578852/



Para mais detalhes ver:

* CAMINHO DO MANTRA: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2022/09/mantra-duas-maneiras-de-ser-particula-e.html

* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html


Notas:

1 - Mantra, aqui neste contexto, é uma ou mais palavras, numa determinada língua, que tenha algum significado na condução da nossa meditação.

2 - Maranatha é uma expressão aramaica que, resumidamente, significa: “Vem, Senhor!”, e que é uma das expressões (mantras) usadas na tradição cristã. Obviamente, o mantra pode ser outro conforme a tradição (cabala, budismo, hinduísmo, sufismo etc.) (Nota deste blog)