quarta-feira, 4 de junho de 2025

AMOR E SABEDORIA


O amor dilata a consciência e a sabedoria ilumina-a. Na tela da vossa consciência, uma imagem pode ser grande mas pouco nítida, ou então ser precisa mas pequenina. No primeiro caso, isso acontece porque não soubestes trabalhar com a sabedoria, e no segundo porque não soubestes trabalhar com o amor. A sabedoria e o amor devem ser empregues igualmente, para que a vossa consciência seja ampla e clara. Se há tantas pessoas com um campo de consciência limitado, é porque não se interessam por ninguém, não gostam de ninguém. A sua consciência nem sequer se afasta uns centímetros do seu crânio. Elas repetem: «Eu, eu, eu...».

A consciência de quem ama, pelo contrário, dilata-se, vai à procura das pessoas para andar à sua volta, para ficar perto delas, tocá-las, abraçá-las. Reparai: as pessoas que têm amor nunca ficam paradas, vão constantemente procurar as outras, ocupam-se dos seus assuntos. Mas a consciência pode alargar-se sem ter clareza: as imagens do amor são pouco nítidas, não vos dão orientações precisas sobre a conduta a seguir. É por isso que o amor não chega, é necessário que a sabedoria se associe a ele.


Omraam Mikhaël Aïvanhov


Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/flores-borboleta-19830/

MEDITAÇÃO: CRENÇAS EM FATOS E TEORIAS EM EXPERIÊNCIAS


Num livro antigo dos hindus, o Bhagavad-Gitâ, encontram-se estas palavras significativas:  "O Eu é o amigo do eu, naquele em que o eu é conquistado pelo Eu; mas para quem está longe do Eu, o seu próprio eu é hostil como um inimigo.” (Bhagavad Gitâ, VI, 6)

São Paulo diz praticamente a mesma coisa, no seu grito desesperado:  "Pois eu sei que em mim, ou seja, na minha carne, não habita o bem; porque o querer está presente em mim, mas não descubro como fazer o que é bem... Deleito-me na lei de Deus, segundo o homem interior, mas sinto nos meus membros outra lei rebelando-se à lei da minha mente e que me torna cativo da lei do pecado que está nos meus membros. Infeliz homem eu sou! Quem me livrará (o Eu real) deste corpo que me acarreta a morte?” (Rm 7, 18.22-24)


A meditação transforma as nossas crenças em fatos comprovados e as nossas teorias em experiências vividas.

A declaração de São Paulo (supra citada) permanece um conceito e uma possibilidade até que, pela meditação, a vida de Cristo é evocada e se torna o fator dominante na vida diária.

Falamos de nós como sendo divinos e como sendo filhos de Deus. Conhecemos os que demonstraram a sua divindade ao mundo e que se mantêm na primeira fila da realização humana. Testemunhamos faculdades para além do nosso alcance. Somos conscientes, em nós, dos esforços que nos impeliram para o saber e de incitações internas que forçaram a humanidade a subir a escala da evolução até o grau atual dos que chamamos homens educados. Um impulso conduziu-nos da condição pré-histórica às condições da nossa civilização moderna. Acima de tudo, estamos conscientes dos que possuem ou pretendem possuir uma visão das coisas celestiais que aspiramos compartilhar, e que atestam que há um caminho direto até o centro da Realidade Divina, caminho que nos pedem para seguir também. Dizem-nos que é possível ter uma experiência direta e a nota característica do nosso tempo moderno pode-se resumir nestas palavras "da autoridade para a experiência".

Como podemos saber? Como ter esta experiência direta, livre da intromissão de qualquer intermediário? A resposta é que há um método que foi seguido por milhares de seres, e um processo científico que foi formulado e seguido pelos pensadores de todos os tempos e por meio dos quais se tornaram conhecedores.

(...)

Assim, ver-se-á que os apelos feitos para a meditação são muito elevados e que o peso do testemunho dos místicos e iniciados de todos os tempos pode corroborá-los. O fato de que outros tenham atingido o fim pode encorajar-nos e interessar-nos, mas não faz mais, a não ser que tomemos alguma atitude efetiva.

Que há uma técnica e uma ciência de união, baseada na correta manipulação e uso do corpo mental, pode ser profundamente verdade, mas este conhecimento não serve a nenhum propósito a menos que cada pensador educado enfrente a questão. Deve tomar uma decisão acerca dos valores implicados e empreender a demonstração do fato do mental, a sua relação nas duas direções (com a alma de um lado e do outro com o meio exterior) e finalmente manifestar a sua capacidade de empregar a mente à vontade, conforme escolher. Isto implica o desenvolvimento do mental numa síntese, ou senso comum, e o governo do seu emprego em relação ao mundo da vida terrestre, das emoções e do pensamento. Envolve também a sua orientação à vontade para o mundo da alma e a sua capacidade de agir como intermediário entre a alma e o cérebro físico. A primeira relação é desenvolvida e alimentada através de métodos sadios, de treinamento e de educação exotérica; a segunda é tornada possível pela meditação, uma forma superior do processo educativo.



Alice A. Bailey




Fonte: do livro "Do Intelecto à Intuição"
1a. Ed. em português, pp. 61-62.70
Fundação Cultural Avatar - FCA, Niterói/RJ
Fundação Educacional e Editorial Universalista - FEEU, Porto Alegre/RS
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/meditar-lago-humor-4882027/

segunda-feira, 2 de junho de 2025

FÉ - MEDITAÇÃO - TRADIÇÃO


Quando a força da fé é liberada dentro de nós, ela nos leva a vivenciar a realidade além das palavras, além das imagens e dos pensamentos. Descobrimos então que os filtros das metáforas, por mais úteis e necessárias que sejam no nível do conhecimento, também devem ser removidos para que a fé cresça.

Como questão universal do homem, ou crescemos na fé ou ela murcha e morre. A fé contém o anseio eterno que todos temos de ver a realidade como ela é. “Irmãos e irmãs”, disse São João, “não sabemos como somos, mas sabemos que quando Cristo nos aparecer, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos como Ele realmente é. Assim como Ele é puro, todos os que entendem esta esperança serão purificados” (1 João 3:2-3). Ver a Deus é tornar-se semelhante a Ele. A pureza é a condição para alcançar esta visão. Na religião onde a fé se restringe a crenças ou rituais, significa acrescentar mais filtros, interpondo assim um maior número de camadas intermediárias. Porém, no coração de toda religião está o conhecimento místico indestrutível de que na pureza última do espírito se alcança a visão total da realidade, sem filtros ou camadas intermediárias. A maioria de nós não alcançará esta visão completa, mas a intuição de que isso acontece faz parte da natureza profunda da fé.

Ver a realidade como ela é, ou pelo menos libertar-se progressivamente de alguns filtros, é um grande ato de fé. Expressa a verdadeira face da fé porque o nosso apego às crenças e rituais da nossa tradição proporciona-nos uma falsa segurança. E é por isso que muitas pessoas profundamente religiosas são indiferentes à meditação, pois lhes parece que com isto sairão de suas zonas de conforto e segurança e também de suas crenças e visões de mundo, sendo que estas os fazem crer diferentes e superiores aos demais.

No entanto, o caminho da fé não consiste na adesão teimosa a um ponto de vista particular, nem aos sistemas de crenças ou rituais tradicionais que o expressam. Isso seria simplesmente uma ideologia ou um tipo de sectarismo, mas isso não é fé. A fé é uma jornada de transformação que exige que avancemos, atravessemos e transcendamos os nossos quadros de crenças e práticas externas – não traindo-as ou rejeitando-as, mas também não permanecendo presos nas suas formas de expressão. São Paulo falou do caminho da salvação do princípio ao fim, na fé. A fé é, portanto, uma abertura desde o início do caminho humano. Naturalmente, precisamos de um quadro de referência religioso, de uma tradição. Se permanecermos centrados de forma estável, o processo de mudança desenrola-se e a nossa perspectiva sobre a verdade alarga-se continuamente.


Trecho de “Queridos Amigos”, de Fr. Laurence Freeman ,OSB (Boletim da Comunidade Mundial para Meditação Cristã, vol. 32, No. 3, setembro de 2008, p. 4.).


Transcrito por Carla Cooper



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/medita%C3%A7%C3%A3o-zen-natureza-l%C3%B3tus-lago-8314420/



Para mais detalhes sobre a meditação cristã, ver:

* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

DESÂNIMO E CORAGEM


Mesmo nos piores momentos de desânimo, deveis saber que esse desânimo contém os elementos que, se soubésseis aproveitá-los e utilizá-los, serviriam para recuperardes a coragem. O desânimo é um estado no qual existem forças formidáveis. Eis a prova: se ele é capaz de demolir todo um reino – vós mesmos, com todas as riquezas e possibilidades que estão acumuladas em vós, no corpo, no coração, no intelecto, na alma e no espírito –, é porque é verdadeiramente poderoso. Então, porque não experimentais apropriar-vos desse poder para o orientardes num sentido positivo? O homem não está consciente de todas as possibilidades que tem dentro de si. Mesmo quando se julga completamente extenuado, “nas lonas”, na realidade ainda lhe restam recursos formidáveis, capazes de o ajudar a continuar a sua caminhada.


Omraam Mikhaël Aïvanhov


Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/alcan%C3%A7ar-mulher-garota-pulando-1822503/

domingo, 1 de junho de 2025

JEJUM DE PREOCUPAÇÕES


Que bom jejum aquele que ajuda a nos unificar! A moderação corporal sempre é um bem e pode ser uma norma que nos guie a vida toda. Quanta falta nos faz hoje reunir os fragmentos dispersos de nossa atenção. A nossa vontade espalhada nos milhares de interesses... um pouco de atenção aqui, outro pouco ali, talvez surja algo que nos pareça atraente ou talvez algo mais atrativo ainda nos chame a atenção... no final do dia, não sabemos onde estamos ou para onde estamos indo.

Encontrar a nós mesmos, juntar as partes que deixamos ligadas aos vários desejos, voltar o rosto para o sagrado interior é a conversão que se nos apresenta todos os dias, em cada atividade. É espiritualizar as ações, ou melhor, por o espirito naquilo que fazemos. Mas isso requer atenção e presença. E que jejum se faz necessário! Assim como o encher do estômago até que a saciedade nos deixe estufado, a dispersão demasiada da atenção nos deixa adormecidos.

Poucas coisas são necessárias, repetem os santos e sábios através da história, e Jesus disse: "Não vos preocupeis por aquilo que haveis de comer, nem por aquilo que haveis de beber, nem vos atormenteis...". (Lc 12, 29) E o apóstolo recomendava: "Não vos preocupeis com coisa alguma; manifestai, porém, a Deus as vossas necessidades por meio de orações e súplicas com ação de graças. Então a paz de Deus, que supera todo o entendimento, guardará vossos corações e vossos pensamentos em Cristo Jesus." (Fl 4, 6-7)

Jejum de preocupações, abandono do modo de vida apressado que se origina no acreditar que estamos sós, sem o acompanhamento de Deus previdente e nos centrando ou retornando ao nosso centro com persistência silenciosa, é caminhar pelo deserto, convertidos e centralizados, em atenção. E isto nos permite uma oração mais profunda e uma verdadeira caridade. A caridade nascida da empatia, da compaixão, de estarmos unidos e centrados em Deus.


El Santo Nombre



Fonte: Blog El Santo Nome
https://elsantonombre.org
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quinta-feira, 29 de maio de 2025

CONSTRUÇÃO DO CORPO ESPIRITUAL


O trabalho do discípulo é construir em si um corpo espiritual que lhe permita nascer uma segunda vez. Ele possui a ideia: o Reino de Deus e a sua Justiça, a perfeição, a harmonia celeste, e agora falta-lhe acumular os materiais para construir o edifício.

Na realidade, desde que a ideia lá esteja, os materiais virão por si. Quando tendes a ideia, o plano, e o expondes, ele atrai do Cosmos todos os elementos que vêm distribuir-se segundo as linhas diretrizes desse plano. O vosso trabalho deve ser apenas manter firmemente o plano no vosso coração e na vossa alma. É assim que se forma o vosso corpo espiritual, o corpo da glória, o corpo do Cristo. Aquilo a que se chama o segundo nascimento é a formação, pelo homem, desse corpo luminoso, que lhe permite viver e agir no plano espiritual.


Omraam Mikhaël Aïvanhov


Fonte: www.prosveta.com

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ENCONTRO COM DEUS (Temas de Cabala)


Para incitar ao homem a buscar o conhecimento de Deus, a Torá formula um mandamento: conhece a Deus. Mas, para que o homem sinta que é capaz de empreender tal esforço, é necessário que o despertar de seu desejo de empreender a busca venha do Alto. A iniciativa, pois, vem do céu (do Alto): va-yeda Elohim..., "o Senhor conheceu aos filhos de Israel", e teve piedade de seu miserável estado no Egito; lhes enviou a Moisés para dizer-lhes que "Ele é o Eterno", que se interessa pelos assuntos humanos, "que os quer retirar de suas tribulações no Egito, que os adota como seu povo, a fim de que o conheçam". (1)

Em seu amor ao homem, Deus lhe faz saber que o conhece e que o homem pode também conhecê-lo. Uma voz celeste lhe murmura ao ouvido: levanta-te! Pois "não há homem que não tenha sua hora": a hora em que essa chamada se faça perceptível.

O que deve fazer o homem quando é solicitado por Deus? Como pode chegar até seu interlocutor? Acabará por reconhecê-lo se o "busca com todas as suas forças e com toda a sua alma". (2) Mas, acaso haverá algum caminho que conduza até Ele para chegar a conhecê-lo? O profeta o indica assim: "Eleva o olhar e observa: Quem criou estas coisas? Ele é quem fez sair seu exército em ordem e quem chama por seu nome a todas as coisas; é tal a grandeza de seu poder e sua força poderosa que nenhuma delas deixa de obedecer-lhe". (3) Este versículo do profeta que se tornou, por assim dizer, clássico, foi utilizado sobretudo pelos racionalistas judeus da Idade Média, que queriam estabelecer a demonstração naturalista, 'a posteriori', da existência de Deus. A natureza, criada e ordenada, despertou sua intuição de um Deus criador e ordenador. Em sua opinião, esta passagem de Isaías traduz, em linguagem bíblica, o conceito aristotélico do princípio das coisas ou primeiro impulso do cosmos. Os racionalistas judeus reelaboraram e ampliaram esta intuição na ideia de um Deus pessoal que mantém e cultiva sua obra e que se interessa pelas suas criaturas, sobretudo pelo homem. Também a cabala fez uso desse versículo, não para demonstrar a existência de Deus, senão que para indicar ao homem como pode encontrá-lo e vivê-lo. Não deduz a ideia de Deus a partir da obra da natureza, senão que, pelo contrário, deduz a ideia da natureza da obra de Deus. Tal é a interpretação do Zohar: "Está escrito: 'no principio'. Rabi Eleazar abriu uma de suas conferências com o seguinte prólogo: 'Eleva teu olhar e considera quem criou todas as essas coisas'. 'Eleva teu olhar' para o local em que estão fixos todos os olhares... E então compreenderás que o misterioso Ancião, eterno objeto das investigações, 'criou essas coisas'. 'E quem é Ele'. MI? (Quem?), Aquele que foi chamado 'a Eternidade do céu' (4), nas alturas; porque tudo está em seu poder. Acaso se chama MI porque é o objeto eterno de busca e porque está em um caminho misterioso e porque não se deixa ver?... Esta extremidade superior do céu é chamada MI (Quem?). Mas existe também uma extremidade inferior chamada MA? (que?). A primeira, misteriosa, chamada MI, é o eterno objeto de busca. Quando o homem empreende esta busca e quando se esforça por meditar e subir degrau por degrau até o final, acaba por chegar ao MA? O que aprende? O que compreende? O que buscou? De fato: tudo permaneceu tão misterioso como antes."

"E Rabi Shimon, dirigindo-se a seu filho, fala como segue: 'Eleazar, meu filho, continua explicando o versículo para que seja revelado o mistério que os filhos deste mundo ainda não conhecem'. E como Rabi Eleazar guardasse silêncio, Rabi Shimon disse: 'Eleazar, o que significa a palavra ELEH (aquilo, essas coisas)?...' Esse mistério não me foi revelado até o dia em que o profeta Elias me apareceu enquanto eu estava na margem do mar. Disse-me: 'Rabi, tu sabes o que significam as palavras MI BARA ELEH? (Quem criou as essas coisas?)' E eu lhe respondi: ELEH significa os céus e os corpos celestes; a Escritura recomenda ao homem contemplar as obras do Santo, bendito seja, como está escrito: 'Quando considero os céus, obra de tuas mãos...'; e um pouco mais adiante: 'Deus, nosso Senhor, quão admirável é teu Nome em toda a Terra'. (5) Elias me replicou: 'Rabi, essa palavra encerra um segredo; foi pronunciada diante do Santo, bendito seja, e seu sentido foi ocultado na escola celestial; é este o sentido: quando o Mistério de todos os mistérios quiz manifestar-se..., revestiu-se com uma túnica preciosa e resplandecente e criou ELEH (aquilo, todas as coisas), que se agregaram a seu Nome. ELEH somado a MI (invertido = IM) formou ELOHIM'." (6)

A interpretação desse importante versículo de Isaías, tal como nos oferece o Zohar, corresponde ao conceito original que a Bíblia nos dá de Deus. Quando o livro do Gênesis relata a criação do mundo, insiste o mesmo na obra realizada por Deus que nas ordens e exigências formuladas por Ele durante a realização de sua obra criadora. E o relato do Gênesis nem sequer se refere a seu modo de consumação. Desde o princípio nos põe diante do Criador, que não é um poder impessoal: nos incita a estabelecer relações com Ele, relações que Ele já iniciou com nossos pais e nas quais já fomos comprometidos.

Esta individualidade que é Deus leva um nome, ELOHIM, que indica sua qualidade de Criador. Como interlocutor do homem, levará um segundo nome, inefável, que simboliza o Tetragrama YHVH (YUD, HEI, VAV, HEI). Este Deus age. Cria, BARA, o universo em um momento determinado, que fixou como ponto de partida do tempo: BERESHIT. (7) E neste universo criado atualmente existimos. Encontramo-nos diante do mesmo Deus, com o qual estamos atualmente relacionados.

O acontecimento único da criação "dos céus e da Terra" é designado BARA, "criou", pretérito indefinido. Seguem duas formas verbais cujo alcance é reduzido e cujo significado é secundário: praticamente desaparecem diante do vigor e a grandiosidade do primeiro. ("Então a Terra era informe e vazia... e o espírito de Deus se movia sobre as águas.") Deus trabalha para dar forma a sua criação e proporcionar um objetivo a sua obra produzida no "começo" por uma ação repentina: "Fala", "considera", "distingue" e "chama". A Bíblia nos relata assim todas as sucessivas etapas que, encadeadas, permitiram a este universo apenas "começado" a converter-se em uma obra completa, mas não acabada: Deus "produziu esta obra para ser feita". (8) As ações divinas que nos relata a Bíblia não estão ditas com um pretérito indefinido, senão com um passado orientado ao futuro: VA-YOMER, VA-YAR, VA-YAVDEL, VA-VIKRA... Deus ordenou e continua ordenando; e ordenará sempre que determinadas coisas se façam, com o fim de indicar ao homem o uso que deve fazer delas. (9)


Rabi Alexandre Safran


Notas:

1 - Ex 6, 6-7; cf. Zohar II, 25a-b.

2 - Dt 4, 29; cf. Jr 29, 13; ICr 28, 9; IICr 15, 2.

3 - Is 40, 26.

4 - Dt 4, 32.

5 - Sl 8, 4, 10.

6 - Zohar I, 1a-2, a; cf. Zohar II, 138, a; 197, b; 231, a; Tikunei Zohar, Tikune 49.

7 - Gn 1, 1; cf. Rabi Eliahu de Vilna, Aderet Eliahu, Gn I, 1, p. 9; Maimônides, More Nevuhim II, 30.

8 - Gn 2,3.

9 - Cf. Zohar I, 47, a; Sefer haBahir 57.


Fonte: LA CÁBALA

Ediciones Martínez Roca, S.A., 1976

Barcelona, España

Original: LA CABALE

1972, Payot, Paris, France

Traducción (español): Carlos Ayala

Tradução (português): deste blog

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quarta-feira, 28 de maio de 2025

A FONTE CELESTE


É ligando-nos à Fonte Celeste que fazemos correr a nossa própria fonte.

Primeiro, no nosso coração, pelo amor. Aconteça o que acontecer, sejam quais forem as amarguras, as decepções, as provações, devemos deixar sempre aberta a fonte do amor, pois é assim que o nosso coração se purifica.

Ao intelecto, a Fonte Divina desce como luz. Graças a essa luz, evitamos as ciladas, os obstáculos, discernimos qual a via a seguir e avançamos com segurança nessa via.

Ao penetrar na alma, a Fonte Divina dilata-a até aos confins do Universo; confundimo-nos com a imensidão, contemos dentro de nós todas as criaturas, abraçamos o mundo inteiro.

Quando tivermos conseguido fazer jorrar a fonte no nosso coração, no nosso intelecto e na nossa alma, ela fundir-se-á com a Fonte Primordial, que é o nosso espírito, que é o próprio Deus, e assim nos tornaremos poderosos como Ele.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
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terça-feira, 27 de maio de 2025

A AVENTURA DE DESCOBRIR QUEM SOMOS


Se em vez de nos chamarmos pelo nosso nome, nos chamássemos de outra coisa, ainda seríamos nós? E se morássemos em outro lugar? Se tivéssemos outra profissão?... O que nos faz continuar a ser eu, apesar das possíveis variáveis? O que significa ser eu?

Segundo o psicoterapeuta e ensaísta suíço C. Gustav Jung, o Self é o centro interno do ser humano que inclui o consciente e o inconsciente, e corresponde simplesmente a ser, a ser autenticamente, a estar no centro. Mas o Eu deve coexistir com o ego, o núcleo consciente da pessoa, que é responsável por se apresentar, brilhar, viver as suas próprias necessidades e colocar-se no centro. Não há, portanto, uma pequena diferença entre “ser” e “posicionar-se” no centro.

Do ego vêm os nomes egoísmo, egomania, egocentrismo etc. Uma série de termos que têm muito a ver com mau relacionamento com os outros, arrogância, manipulação, confundir o pensamento com a verdade absoluta, vontade de impor a nossa forma de ver as coisas...

Mas, em si, o ego não é algo repreensível. É, em grande parte, constituído pelo conjunto de papéis que desempenhamos no “grande teatro do mundo”, e que os vestimos com diferentes ‘trajes’ que poderiam ser adaptados a cada um dos papéis.

O ego faz parte de nós, constitui o suporte da nossa personalidade: apresentamos-nos como engenheiros, educadores, médicos etc. Destacamos os nossos méritos acumulados quando vemos o nosso prestígio atacado ou consideramos oportuno reconhecer o nosso valor etc. E, na realidade, tudo isso nos pertence, mas não constitui o nosso verdadeiro ser.

Quando olhamos para o nosso passado, em relação ao presente, percebemos que muitas coisas mudaram em cada um de nós: aparência física, capacidades físicas e intelectuais, interesses, hobbies etc., mas permanece algo que nos torna conscientes de continuar sendo o mesmo.

Eu sou eu e minhas circunstâncias, disse Ortega; e esse Eu, ao contrário das nossas circunstâncias, é o que permanece vivo, enquanto elas mudam ou desaparecem.

Pelo contrário, o ego não tem vida própria. É algo que se 'gruda' no eu para poder participar da sua vida, porque 'sabe' que não vai sobreviver, que vai morrer quando a nossa dimensão humana neste mundo desaparecer, como Teilhard de Chardin o disse. É por isso que precisa alimentar-se continuamente dos subterfúgios do poder, das posses e da fama, para ganhar a ilusão tola de participar da imortalidade do Eu.

Mas não vamos sobrecarregar o ego com culpas que não lhe pertencem. Devemos representar os papéis que nos foram atribuídos nesta vida de forma profissional e honesta. O que nos traz dificuldades, insatisfação e infelicidade é a identificação com o nosso ego que pode ter sido colocado no centro, pois assim teríamos suplantado o nosso Eu pelo papel que estou desempenhando.

Comentando as parábolas do tesouro escondido e da pérola preciosa, como imagens que representam a si mesmo, o beneditino Anselmo Grün vem nos contar algo que pode nos ajudar a compreender a aventura que temos considerado: o tesouro e a pérola são imagens que representam o verdadeiro Eu.

O tesouro está enterrado no campo. Devemos chegar às profundezas da terra, para lá encontrá-lo: cavar no campo das nossas almas, e também no corpo do nosso ser humano porque o nosso Eu se expressa no nosso corpo. Se alguém se tornou ele mesmo, podemos ver isso em seu comportamento e em sua maneira de se comunicar com os outros.

A imagem da pérola preciosa, pela qual um comerciante vende os seus bens para comprá-los, tal como no caso do tesouro, mostra-nos outro caminho para o verdadeiro Eu. A pérola cresce nas feridas da ostra. Trata-se justamente de descobrir as pérolas nas feridas da própria história de vida, porque esse é o nosso verdadeiro Eu, sabendo também que, se descobrimos a pérola, a ferida deixa de doer.

Quão importante deve ser descobrir quem somos, e o comportamento mais inteligente que estas parábolas sugerem é "vender tudo o que temos" para “comprar” o que acabamos de descobrir.

Já no século IV aC. C., Sócrates disse: conheça a si mesmo e conhecerá o universo e os deuses. Uma grande aventura que temos ao nosso alcance.


Ignácio Gallego



Na verdade, toda a nossa peregrinação espiritual se resume em sermos capazes de responder à pergunta: Quem somos nós? (comentário da Comunidade Meditação Cristã)

Artigo publicado em 01/02/2023 no ABC de Sevilha.

Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/budismo-theravada-freiras-medita%C3%A7%C3%A3o-3818886/


Nota:

segunda-feira, 26 de maio de 2025

MI e MA (QUEM e QUE) – TEMAS DE CABALA


O que impressiona o homem e o atormenta, e o deixa ansioso para poder compreender a sua origem e a tudo o que o rodeia e o leva a formular, não sem angústia, esta questão: Quem poderia ter criado o universo que em sua totalidade  e harmonia nos deixa desconcertado? É assim que Rabi Eleazar, filho de Rabi Shimon ben Yochai, esclarece: "Levantai os vossos olhos ao alto e pense em quem criou tudo isso." "Lá", acrescenta ele, "examinando cuidadosamente e profundamente você saberá que 'o misterioso e eterno ANCIÃO', objeto de nossa busca, criou isso, ou seja, o universo. E quem é ELE (MI = QUEM)? É aquele que é chamado de 'Extremidade do Céu nas alturas', porque tudo está em seu poder. Por que é chamado de MI? É porque ele está em um lugar misterioso, e não se revela. Além desta consideração, não podemos abordar."

Note que o termo MI (quem) especifica a misteriosa designação de Deus, e implica, a partir de uma combinação de letras, um senso metafísico que compreende o universo. Na verdade, MI está em estreita ligação com MA (que). Neste caso existem duas extremidades, uma superior, no Céu, chamado MI, a outra, abaixo, chamado MA.

O Zohar explica, em outras palavras, que quando o Mistério de todos os mistérios queria manifestar-se, ele primeiro criou um "ponto", que originou o Pensamento Divino; em seguida ele formou todos os "tipos de imagens", e gravou todos os tipos de imagens e, finalmente, gravou a lâmpada sagrada e misteriosa, uma imagem representando o mistério mais sagrado, obra profunda saída do Pensamento Divino. Porém, isso foi só o começo da criação, que mesmo já então existente sem contudo existir ainda de forma explícita. Permanecia ainda oculta no Nome e chamando-se a si mesmo apenas de MI. Então, querendo manifestar-se e ser chamado pelo seu Nome, Deus "vestiu-se de uma veste" preciosa e resplandecente, e criou ELEH (aquilo, estes), que foi adicionado ao seu Nome.

A palavra ELEH (aquilo, estes), assim como MA (que), não é algo separável daquilo que se constitui a natureza de Deus. Este algo supremo que se originou no todo da magnitude do Pensamento Divino, é apenas a manifestação tangível de Deus, em suas obras. Além disso, por um jogo de palavras muito frequente, o Zohar obtém a palavra ELOHIM, adicionando ao MI, ao reverso (1) (IM), à palavra ELEH (ELEH+IM - ELOH+IM). ELOHIM implica, neste sentido, um símbolo completo; isto é, a entidade do Todo, já que Deus e o Universo são um. Dito de outra forma, com o termo ELOHIM, que é a denominação de Deus em si mesmo, e com o termo ELEH (essas coisas, aquilo, estes), o universo constitui-se da união de Deus e as "coisas". Além do ELEH, a importância de MA é enfatizada nesta declaração de Rabi Shimon: "O céu e todos os corpos celestiais foram criados usando MA."

Esses traços panteístas que destacam as características intrínsecas do todo, são explicadas da seguinte forma: "Uma luz", diz Rabi Shimon, "cria outra; uma encobre outra e se unem ao Nome do Altíssimo. MA, que está abaixo, ainda não existia explicitamente, e só foi explicitado no momento o qual as letras emanaram umas das outras. ELEH, da alturas, derramou ELEH para baixo, qual uma mãe empresta suas roupas à filha e a adorna com suas joias. E quando ela a enfeitará com suas joias convenientemente? Quando todos os homens aparecerem diante do Senhor Todo-Poderoso, como está escrito em Êxodo 34, 23: 'Três vezes ao ano aparecerá todo o varão de teu povo diante do Senhor, o Eterno, Deus de Israel.' É aqui chamado de Senhor, como está escrito em Josué 3, 2: 'A Arca da Aliança, do Senhor de todos na Terra.' Se substituirmos a letra HEI (ה), da palavra MA (מה), que é a imagem do princípio feminino pela letra YUD (י), de MI (מי), que é a imagem do princípio masculino, e se a isso adicionarmos as letras ELEH (אלה) que emanam do alto, através de Israel, formamos ELOHIM (אלהים) que está abaixo" (Zohar 1, 2a).

O todo parece, assim, emergir de uma aparente dualidade, simbolizada pela dissociação de dois elementos: MI e MA. Diz-se aparente porque de fato o Zohar declara formalmente que o MI do alto e o MA de baixo são, na realidade, uma e a mesma coisa. Além disso, quando dizemos que MA vem de MI, não devemos tomar as palavras ao pé da letra (Zohar 1, 2a). Da mesma forma, os termos MI e ELEH, símbolos da dualidade 'de cima' e 'de baixo', são a mesma coisa. O Santo, bendito seja Ele, diz o Zohar, criou as formas das "grandes letras" às quais correspondem às letras pequenas daqui de baixo. Isto é porque as duas primeiras palavras das Escrituras têm duas letras BEIT (ב) como iniciais (BERESHIT e BARA (בראשית ברא)), e as duas palavras seguintes duas letras ALEF (א) (ELOHIM e ET (אלהים את)) para indicar as letras celestes, de cima, e as deste mundo, de baixo. Não são, na realidade, mais que as únicas e mesmas letras com as quais é tudo operado no mundo celestial, de cima, e no mundo de baixo (Aqui novamente a dualidade desaparece para resultar em uma única substância).

A dualidade não reside na distinção, tão frequentemente cogitada, entre ELOHIM e IAVEH (אלהים יהוה). Eles são um, apesar de certas nuances particulares e específicas para cada um deles (2). Aqui está como o Zohar resolve essa distinção: "Este mistério está resumido nas palavras das Escrituras: 'Que as luzes (MEOROTH (מארת)) sejam feitas no firmamento dos céus...'" (Zohar 1, 12a). A palavra “luzes” (MEOROTH) é escrita sem a letra VAV (ו), o que indica um singular para nos dizer que as duas luzes não são mais do que uma unidade indivisível. Do mesmo modo que a luz, vista através de um prisma, parece ser composta de cores brancas e escuras, embora na realidade seja uma só cor, da mesma forma as essências divinas formam uma só unidade. Também isso nos remete ao verdadeiro significado da coluna de fumaça branca durante o dia e a de fogo durante a noite indo diante de Israel na travessia do deserto. Essas duas colunas eram o símbolo das duas essências divinas que correspondem ao dia e à noite; e uma se funde com a outra para iluminar o mundo. (3)

A essência divina, portanto, não implica nenhum somatório (4), nenhum número. "O Senhor é único e não há um segundo e, antes do Uno, que se poderia contar?" (Sefer Yetzira 1, 6).

Se o Zohar se preocupa em insistir no caráter da dualidade (fictícia), é com vistas a identificar mais a estrutura íntima do universo, para nos levar a compreender adequadamente sua essência. Na essência do misticismo judaico, existe apenas um Ser Supremo, Deus, que envolve absolutamente tudo. Tudo está nele, tudo é rigorosamente determinado por ele.


HENRI SÉROUYA


Notas:

1- Metátese: troca de lugar de fonemas ou sílabas dentro de uma palavra.

2- Esta distinção entre ELOHIM e IAVEH é explicada da seguinte maneira pelo Zohar: ELOHIM, como Criador, expressa a Presença de Deus no universo. IAVEH expressa a manutenção, a duração desta Presença. No primeiro capítulo do relato do Gênesis, ELOHIM aparece sozinho, IAVEH só é acrescentado a ele no segundo capítulo. No Deuteronômio 4, 35, as palavras IAVEH é ELOHIM significam que ELOHIM se funde em IAVEH. O Zohar acrescenta que desde o exílio de Israel (a maldade que oprime a justiça), o poder divino aparenta ser invisível, MI parece separado de ELEH, como se toda a economia cósmica estivesse perturbada. Mas, nos tempos messiânicos, os dois termos aparentemente separados se unirão numa harmonia indissolúvel.

3- Esta aparente dualidade de IAVEH e ELOHIM é reduzida de acordo com a explicação do Zohar (III, 61) à Lei escrita, que é a imagem de IAVEH e à lei oral (palavra) que é a de ELOHIM. E como a lei escrita generaliza e a lei oral analisa, resulta que um não pode existir sem o outro, assim como o mundo de cima e o mundo de baixo (o nosso) dependem um do outro.

4- A associação, segundo o Zohar (1, 22b), que existe na essência divina é comparável com aquilo que existe entre o macho e a fêmea que não são mais do que um. Da mesma forma, pensamento e palavra (verbo) formam um.


Fonte: do livro LA KABBALE

Éditions Bernard Grasset

Paris, France – 1947

Tradução (português): deste blog

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A PALAVRA É O RECEPTÁCULO DE ENERGIAS


O poder de um Iniciado está em que ele sabe impregnar as palavras que pronuncia com a matéria da sua aura, que é abundante, intensa e pura. A palavra é o receptáculo de uma força e produz efeitos tanto mais poderosos quanto mais impregnada estiver desse elemento criador que é a luz.

Não é dado a qualquer pessoa pronunciar as palavras mágicas capazes de produzir grandes efeitos. Mas um Iniciado que pronuncie essas mesmas palavras, sem forçar a voz, sem fazer gestos, pode comandar as forças da Natureza e atrair os seres superiores. Não foi a palavra que criou o mundo, foi o Verbo. A palavra é o meio de que o Verbo se serve para realizar o trabalho de criação. O Verbo é o primeiro elemento que Deus pôs em ação; a palavra é o meio que permite ao Verbo manifestar-se.


Omraam Mikhaël Aïvanhov


Fonte: www.prosveta.com

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sexta-feira, 28 de março de 2025

DO FAZER A SER


A meditação é um processo de aprendizagem, mas quase todos os processos de aprendizagem envolvem fazer alguma coisa. Com a meditação você não aprende a fazer algo, você aprende a ser. É aprender a ser você mesmo e entrar na dádiva do seu próprio ser. Você entenderá isso de uma forma muito clara e muito segura. Outra forma de dizer isso é que com a meditação você aprende a aceitar a dádiva do seu ser, da sua criação. Estar em harmonia consigo mesmo e com a sua criação contínua é estar em harmonia com toda a criação e com o seu Criador.

Uma das coisas que aprendemos na meditação é priorizar o ser em vez do fazer. Na verdade, nenhuma ação tem sentido, ou significado profundo, se não surgir do nosso ser, da profundidade do nosso ser. Por isso a meditação é um caminho que nos leva à profundidade do nosso ser. Por esta razão a meditação nos leva da superfície para a profundidade. Aprender a ser é aprender a viver plenamente. Este é o nosso convite. Está convidando você a aprender a ser uma pessoa plena. A verdade misteriosa da revelação cristã é que, à medida que vivemos plenamente, vivemos as consequências eternas da nossa criação. Deixamos de viver como se estivéssemos esgotando um recurso vital limitado que recebemos quando nascemos. O que aprendemos com o ensinamento de Jesus é que nos tornamos infinitamente cheios de vida quando estamos com a fonte da vida e quando entramos plenamente em união com nosso Criador, Aquele que É, o Deus que é descrito como 'Aquele que 'Eu Sou'.

A arte de viver, de viver a vida ao máximo, é viver na renovação eterna da nossa origem a partir do nosso centro, o que significa que vivemos a partir do espírito que deriva da mão criativa de Deus. O que é terrível na vida moderna e materialista é que ela é tão superficial que carece do profundo reconhecimento e das possibilidades que cada um de nós tem. Perceberíamos isso se ao menos reservarmos um tempo para realizar a disciplina da meditação. A disciplina consiste em sentar-se para meditar e durante o período de meditação repetir sua palavra (mantra)* do começo ao fim, todas as manhãs e todas as noites.

Na visão da Igreja, somos conduzidos à fonte do nosso ser por um guia, e o nosso guia é Jesus, o homem plenamente realizado, o homem totalmente aberto a Deus. Com a nossa meditação diária reconheceremos o nosso guia. Por isso, este caminho cristão é um caminho de fé. Ao chegarmos ao centro do nosso ser, entrando no nosso coração, descobrimos que o nosso guia nos recebe, quem nos guia nos recebe. Somos acolhidos por aquele que nos chama pessoalmente à nossa plenitude de vida – harmonia, unidade e energia, uma energia divina que encontramos no nosso próprio coração, no nosso próprio espírito. Essa é a energia de toda a criação. Como disse Jesus, é a energia do Amor.

Esta é uma visão determinante e devemos aprender, como vos digo, a ser simples e humildes na nossa maneira de a alcançar. A simplicidade e a humildade que aprendemos repetindo a nossa palavra (mantra)* do princípio ao fim, com paciência e fidelidade, com coragem e com Amor.


Fr. John Main, OSB



Fonte: do livro "Momento de Cristo"
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/yoga-buda-divindade-shiva-agua-386611/

Para mais detalhes ver:

* CAMINHO DO MANTRA: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2022/09/mantra-duas-maneiras-de-ser-particula-e.html

* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

* Mantra, aqui neste contexto, é uma ou mais palavras, numa determinada língua, que tenha algum significado na condução da nossa meditação.

quarta-feira, 26 de março de 2025

FAÇA E SEJA


A história de Marta e Maria no Evangelho de São Lucas (Lc 10, 32-42) ilustra muito bem a importância da integração do fazer e do ser, da relação entre ação e contemplação. Marta representa a vida ativa e ocupada que todos levamos todos os dias com as múltiplas exigências do trabalho, das amizades e das relações sociais.

Quem não se sentiu incomodado em algum momento, quando outros estão servindo convidados ou quando vê que outros podem passar um tempo meditando e, em vez de se juntar a eles, continuar preparando comida para compartilhar mais tarde?

Maria representa a dimensão contemplativa do nosso ser: meditar, ouvir atenta e profundamente o Cristo interior, na oração ou no encontro com Ele numa leitura descontraída das Escrituras (Lectio Divina).

Esta história do evangelho simboliza de certa forma quem somos. Ação e contemplação são duas faces do nosso ser. Somos ambas: Marta e Maria. Quando estamos tão ocupados e reclamamos que não temos tempo para meditar, então Marta assume o controle e se dedica às tarefas e obrigações diárias que temos.

Quando paramos as nossas tarefas para nos dedicarmos integralmente à oração, à meditação, à escuta profunda e atenta do nosso ser interior, então queremos ser apenas Maria. Mas não podemos ser exclusivamente um deles, porque somos os dois ao mesmo tempo. Mesmo quando vivemos em comunidade, ambas as dimensões coexistem, pois rezamos e trabalhamos: “ora et labora” como estabelece a regra da Ordem Beneditina e como realmente deveria ser, a regra da nossa vida.

O trabalho da Marta é muito valioso porque ela se esforça para ter tudo preparado, a comida pronta para compartilhar e tudo limpo e arrumado. Mas, ao abordá-lo a partir do ressentimento, perde de vista o direito de existir da outra metade da sua alma: a escuta atenta e profunda de Maria. E Jesus a lembra, dizendo: “Marta, Marta, você se preocupa e se preocupa com tantas coisas”.

E nos perguntamos: não é exatamente isso que fazemos em muitas ocasiões? É nesses momentos que devemos nos lembrar da nossa dimensão contemplativa e cumprir as nossas obrigações com toda a atenção e dedicação, em vez de reclamar e cumpri-las com relutância.

Se pudéssemos fazer o que temos que fazer a partir da consciência do centro mais profundo do nosso ser, onde residem a compaixão e o amor pelos outros, estaríamos integrando os dois lados do nosso ser: ação e contemplação, Marta e Maria.

Quem reclama é o nosso ego com sua necessidade excessiva de estima, com seu desejo constante de receber elogios e culpar os outros. Porém, o que precisamos é conseguir a aceitação e a integração de ambos os lados do nosso ser: às vezes temos que ser Marta, mas também podemos ser Maria noutros momentos. Ambas as dimensões são essenciais e se complementam. Na vida de Jesus, vemos esse maravilhoso equilíbrio entre ação e contemplação. Jesus percorria as aldeias pregando o evangelho e curando os enfermos, e também muitas vezes retirava-se para um lugar tranquilo para orar em silêncio: “Naquele tempo, Jesus subiu ao monte para orar e passou a noite orando a Deus”.

Atualmente, grande parte da vida da Igreja centra-se na dimensão de Marta e muitos até se esquecem da obra pela qual Maria é elogiada por Jesus. É muito importante “fazer”, cuidar dos outros, orar através de orações de louvor, petição, intercessão, ação de graças, todos os tipos de oração são valiosos e importantes. Contudo, o trabalho de Maria, a oração silenciosa, a escuta profunda, a contemplação, parece ter sido relegado aos poucos monges e monjas atraídos por esta forma de ser.

Esta foi a grande missão de John Main e que Laurence Freeman continua a difundir: fazer com que o cristão comum se reconecte com a antiga tradição da oração contemplativa que remonta aos ensinamentos de Jesus.

Em 2007, a Comunidade Mundial para a Meditação Cristã recebeu o reconhecimento canônico do Vaticano como Comunidade Ecumênica Contemplativa, reconhecendo assim a importância e o valor da obra de Maria, da nossa dimensão contemplativa.


Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/ai-gerado-monge-t%C3%AAmpora-brilho-8621901/

Para mais detalhes ver:

* CAMINHO DO MANTRA: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2022/09/mantra-duas-maneiras-de-ser-particula-e.html

* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

INFLUÊNCIA DOS PENSAMENTOS E EMOÇÕES NOS NOSSOS CORPOS


Muitas pessoas já se aperceberam da influência dos seus pensamentos e dos seus sentimentos no funcionamento do seu organismo. Mas, na maioria das vezes, só a observaram nos casos de pensamentos e sentimentos negativos, como o ódio, a cólera, o medo, a angústia ou as emoções causadas por uma má notícia: as secreções glandulares ficam perturbadas e elas sentem-se envenenadas. As pessoas sabem que as emoções negativas deterioram a saúde, mas quantas se esforçam por evitá-las, para melhorarem o seu estado psíquico? E quantas decidem manter conscientemente estados de consciência positivos? No entanto, é muito fácil compreender que, na mesma medida em que se foi envenenado por pensamentos ou sentimentos inferiores, se será libertado, reforçado, vivificado e ressuscitado quando se trabalha com pensamentos e sentimentos luminosos, divinos.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
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terça-feira, 25 de março de 2025

O DESERTO DA QUARESMA


Que jejum melhor do que permanecer contigo, Senhor, no presente? Fazendo o que se deve fazer conforme o dever, em cada momento, a vida se torna simples e perde pretensões. Paramos de ser atraídos por algo diferente do que existe. Este é um deserto exemplar. É suave, plano, sóbrio como água pura que é bebida por necessidade.

Que coisa maravilhosa será atravessar o deserto quaresmal, esse lugar físico e ao mesmo tempo simbólico onde tantas batalhas foram travadas. Ali Jesus, o Cristo, transcendeu as tentações arquetípicas do homem. Lá, milhares de monges e eremitas fortaleciam seus espíritos por meio da vigilância, da sobriedade e da oração persistente que se tornava incessante. Foi lá que Charles de Foucauld dedicou sua vida à busca de viver em coerência radical com o mestre de Nazaré.

É possível atravessar o deserto quaresmal em meio a cidades tumultuadas, miragens vãs mas sedutoras, para ir além das promessas de papelão, dos desejos adquiridos e superficiais? O deserto está aqui agora se eu ficar onde estou, fazendo o que tenho que fazer, deixando as divagações e colocando nesse deserto minhas invocações. Persistirei no que me deres, sem colori-lo com fantasia, com projetos distantes, com imagens de mim mesmo. Descartando o passado, certamente ignorando o futuro, render-me-ei ao presente, que é o outro nome da tua vontade.


El Santo Nombre



Fonte: Blog El Santo Nome
https://elsantonombre.org
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sábado, 7 de dezembro de 2024

ELEVADOS PELA HUMILDADE


Quanto mais queremos aproximar-nos de Deus, mais precisamos de nos ancorar na humildade.

Santo Agostinho mostra-nos muito bem que assim é através de uma comparação conhecida: «A meta que visamos é muito alta, pois é a Deus que procuramos, que queremos alcançar, já que só nele está a nossa bem-aventurança eterna. Ora, só podemos atingir esta meta tão elevada através da humildade. Queres subir? Começa por te rebaixar. Sonhas em construir um edifício que se eleve até aos céus? Cuida primeiro de lançar os alicerces com humildade». E quanto mais elevado for o edifício, acrescenta o Santo Doutor, mais fundos devem ser os fundamentos. Tanto mais que o solo da nossa pobre natureza é singularmente movediço e instável. Ora, a que altura aspira este edifício espiritual? À visão de Deus. Vede, pois, exclama ele, «a que grau de sublimidade se há de elevar este edifício, que meta sublime devemos alcançar; mas não esqueçais que só lá chegareis através da humildade» (Sermão 10, Verbis Domini).

É fácil compreender, pois, por que razão São Bento, que não nos dá outro objetivo que não seja «encontrar a Deus», funda a vida espiritual na humildade.



Beato Columba Marmion (Abade)



Fonte: Evangelho Quotidiano - Evangelizo
www.evangelhoquotidiano.org
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SENTIDO DA PALAVRA CARMA


Sempre que agimos, desencadeamos inevitavelmente certas forças que, também inevitavelmente, produzirão determinados efeitos. É esta ideia de uma relação de causa e consequência que está contida, originalmente, na palavra “carma”. Depois é que o termo foi tomando o sentido de pagamento por uma transgressão cometida.

Na realidade, podemos dizer que o “carma” (no segundo sentido do termo) se manifesta sempre que um ato não é executado na perfeição – o que acontece quase sempre! Mas o homem deve fazer tentativas, exercitar-se, para atingir a perfeição. Enquanto for desajeitado e cometer erros, terá de corrigir-se, reparar os erros; para isso, evidentemente, terá de penar, de sofrer.

Perguntar-me-eis: «Mas então, se ao agirmos nós cometemos obrigatoriamente erros, mais vale não fazermos nada.» Alguns apresentaram esta filosofia, mas ela não é uma boa solução, porque, se nada se fizer, nada se aprenderá. É preferível agir, enganar-se e sofrer, esforçando-se por imprimir diariamente aos seus atos, às suas palavras, aos seus sentimentos e aos seus pensamentos, cada vez mais bondade, pureza e desapego. Pouco a pouco, deixareis de sofrer consequências dolorosas, já não tereis carma. Vivereis cada vez mais com alegria, na plenitude, e a isto chama-se “dharma.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

TEMPO DO ADVENTO - REFLEXÃO E PREPARAÇÃO ESPIRITUAL


Tempo do Advento

O tempo do Advento começa quatro domingos antes do Natal.

Os paramentos roxos anunciam que é tempo de preparação.

No coração do silêncio é onde se experimentam as trevas, para preparar a luz que vai chegar.

Buscamos o nascimento de Deus na alma, aguardando os tesouros na pureza e na devoção.

Sem esta preparação interior não estamos em condições de receber o glorioso Filho da Luz, muito menos de compreender a sua mensagem.


Leituras

Romanos 13,11
Irmãos, tenham consciência do tempo em que vivemos e que é hora de acordarmos do sono. Pois a nossa salvação está mais perto de nós agora do que quando cremos.

Marcos 13,33-37
Portanto, procure estar acordado, pois você não sabe quando chegará a hora. É como quem, quando ausente de sua casa, confia a administração dela aos seus servos, indicando a cada um o seu trabalho, e instrui o porteiro a manter uma boa vigilância. Portanto, vigiai porque você não sabe quando o dono da casa chegará: se ao anoitecer, à meia-noite, ao cantar do galo, ou ao amanhecer. Não deixe que ele te encontre dormindo, mesmo que chegue inesperadamente! E o que digo a vocês, digo a todos: Estejam vigilantes!

Tomás 2
Jesus disse: «Quem procura não deve parar de procurar até encontrar. E quando ele descobrir, ele tremerá, e depois do tremor ele se encherá de admiração e reinará sobre o universo.


Comentário

Advento: um tempo de observação e preparação. O Advento não é apenas um tempo de espera passiva, mas um convite ativo para nos prepararmos para receber a Luz do Menino Divino. Quatro semanas antes do Natal, iniciamos este período de recolhimento interior que nos lembra que, para compreender e receber a mensagem de Deus, devemos primeiro estar preparados.


Ciclos Universais e Observação Espiritual

As épocas da Igreja, como o Advento, conectam-nos com os ciclos universais que estão presentes em toda a criação. Quem está habituado a observar reconhece que estes ciclos se repetem em todos os aspectos da vida, desde as estações até aos ritmos da alma. Para quem ainda não desenvolveu este hábito de atenção é convidado a fazê-lo, como diz São Paulo na sua carta aos Romanos: “Tenhamos consciência do tempo em que vivemos”. O Advento chama-nos precisamente a esta observação espiritual, convidando-nos a despertar da nossa letargia, a olhar para dentro e a preparar-nos para o renascimento da Luz de Deus.


Traduções e o significado do Advento

Ao meditarmos nas Escrituras, é importante lembrar que as traduções podem nos oferecer diferentes nuances que enriquecem a nossa compreensão. No Evangelho de Marcos, Jesus nos chama à "vigilância", mas algumas versões traduzem esta palavra como “alerta” ou mesmo “desperto”. Cada tradução acrescenta uma nova dimensão: estar vigilante implica "espera ativa", estar alerta sugere "cautela" e estar acordado convida-nos a "estar atentos". O Advento exige de nós este estado de atenção constante. Quer estejamos iniciando esta busca espiritual, quer a renovemos todos os anos, a chave é estar presentes, abrir-nos aos sinais do caminho que Deus nos mostra.


A busca que choca

A busca de Deus não é algo que se faz pela metade. O Evangelho de Tomé recorda-nos que “quem procura não deve parar de procurar até encontrar. E quando ele encontrar, ele estremecerá.” A verdadeira busca pelo divino nos sacode, nos desafia e nos transforma. Neste sentido, um dos professores que marcou a minha vida – um padre católico romano – disse-me: “Se a Igreja não te faz sentir livre, sai da Igreja”. O verdadeiro Cristianismo não nos acomoda, mas antes nos deixa desconfortáveis ​​em nossa vida mundana. Se o caminho que percorremos não nos abala, não nos liberta e não nos desafia a sermos melhores, talvez devêssemos repensar se estamos no lugar certo.


Preparação e Purificação Interior

O Advento nos lembra que não podemos receber a Luz do Divino Menino sem antes passar por um processo de purificação interior. O manto púrpura que caracteriza este tempo simboliza a preparação e a penitência, convidando-nos a trabalhar a alma e o coração. É no silêncio, na meditação e na busca ativa que nos preparamos para o renascimento espiritual que nos espera no Natal.


O Caminho da Libertação Espiritual

Queridos irmãos, o verdadeiro caminho espiritual deve nos abalar, deve nos tirar da nossa zona de conforto e nos guiar para uma vida mais plena e livre. Este tempo do Advento convida-nos a observar, a procurar e a permanecer vigilantes. Não pare de buscar até encontrar liberdade interior e conexão profunda com Deus. Que este período seja para todos nós uma oportunidade de despertar, de nos preparar e de permitir que a Luz Divina nasça no profundo do nosso ser.


Tau Genesius
Capilla de la Magdalena




Fonte: Iglesia Gnóstica Universal
https://capillamagdalena.org/category/almanaque-gnostico/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/%C3%A1rvore-de-natal-luzes-estrelas-2928142/

domingo, 1 de dezembro de 2024

ADVENTO - A CONTAGEM REGRESSIVA PARA O NATAL


A contagem regressiva para o Natal começa… agora.

Se não apreciássemos que o tempo sagrado existe, a vida seria uma paisagem sombria para navegar. Tornar-se-ia um ciclo tedioso de trabalho-férias-compras-lazer-solução de problemas que geraria um sentimento contínuo de vazio e insatisfação. O tempo sagrado inunda de cor este mundo monocromático; roxo para o Advento. Produz um sentimento de expectativa, uma certeza dentro da incerteza. Gera um entusiasmo pela revelação iminente da realidade que não nos decepcionará.

O tempo sagrado do Advento nos desperta para o fato de que algo ou alguém real está chegando até nós, através da nossa vida terrena. Ao participar do tempo sagrado, aprendemos diretamente todas as coisas valiosas que ele pode nos trazer. Se esperarmos com a dúvida persistente de que talvez nada aconteça, nada poderá impedir que a nossa espera vazia se torne, na verdade, ainda mais solitária. E assim, nos sentiremos sozinhos novamente. Mas se nos sentirmos cada vez menos angustiados pelas posses e apegos, então a espera será recíproca. Quem ou o que quer que esteja caminhando no tempo em nossa direção também aguarda o encontro, o reconhecimento e o abraço que acolherá esse novo que chega. E o evento será maravilhoso.

O Advento nos oferece um tempo sagrado para refletir sobre o quão conscientes estamos vivendo. Em nossa agitada vida diária, mal conseguimos reservar alguns minutos para refletir sobre aspectos mais profundos de nossas vidas. A reflexão começa com o autoquestionamento. Aceitamos plenamente o momento em que nos encontramos? Perdemo-nos fantasiando sobre o passado ou o futuro? Estamos realmente esperando? Estar verdadeiramente no presente significa ser real e saber, com a sabedoria que surge na quietude, que aquilo que esperamos já chegou, já está aqui.

Este tipo de espera é a verdadeira esperança, não aquela que costumamos ter cheia de sonhos e desejos. A verdadeira esperança é a certeza de que o acontecimento final já aconteceu e espera renascer a cada momento, em cada circunstância da nossa vida. Para alcançar este estado, é necessária a repetida – e por vezes insuportável – renúncia às ilusões e a todos os devaneios egoístas. A ilusão constantemente se transforma e reaparece. Portanto, precisamos de uma prática regular e comprometida com a meditação. Se perseverarmos fielmente em nosso compromisso de silêncio duas vezes ao dia durante as próximas semanas, teremos um tempo de Advento bem aproveitado.

Perguntemo-nos: estamos realmente esperando? Ou estamos fugindo da dúvida sobre se algo acontecerá na quietude e no silêncio? Esperar não é pensar em nosso sentimento de separação ou de sermos incompletos. Nem significa acalmar o medo de que nunca seremos inteiros. Esperar significa abandonar todos esses pensamentos e sentimentos obsessivos e sair da órbita do ego medroso. Significa render-se à emoção da plenitude e da beleza emocionante de Cristo que agora se desenvolve em nós e que certamente nascerá no tempo.

O Advento, portanto, é a espera do Amor. Mas, como disse Rumi, “os amantes não se encontram finalmente em algum lugar. Eles estão um no outro, o tempo todo”.



Fr. Laurence Freeman, OSB




Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/velas-natal-advento-luz-1891197/



Para mais detalhes ver:

* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html




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