terça-feira, 6 de novembro de 2012

A LEI DE AÇÃO E REAÇÃO (KARMA)

Estudemos o caso de uma pessoa que comete uma falta, com boa intenção. Esta ação manifesta-se em três planos: físico, astral e mental. Portanto vão se manifestar três reações correspondentes.

A reação mental agirá sobre o seu corpo mental, sobre o seu caráter, que progride graças à boa impulsão recebida. A reação astral despertará uma boa emoção e sentimentos que lhe fornecerão ocasião de exercer mais tarde o desejo de fazer o bem. A reação física será dolorosa, e despertará um sofrimento que o corrigirá da inadvertência cometida. É assim que o karma age, cada reação seguindo invariavelmente sua respectiva ação em cada plano correspondente.

Não há, pois, nem castigo, nem recompensa, vindos de qualquer poder exterior; há apenas o resultado lógico daquilo que o homem fez, disse e pensou na vida terrena.

O conhecimento do modo pelo qual o karma age no homem, arma-o de poderes que vão auxiliar a nossa evolução. Se para descer de uma altura nos jogarmos inconscientemente, o nosso corpo despedaçar-se-á no solo, mostrando a ignorância de uma lei natural. Mas se nos munirmos de uma pára-quedas, saberemos evitar a ação da gravidade.

Assim também podemos neutralizar a ação do karma com o conhecimento de que a Sabedoria Divina nos arma.

Considera-se o karma como uma coisa que reage sobre nós, e isto é verdade; mas, é preciso compreender que se não trata de uma massa inerte que vem cegamente chocar-se contra o homem, esmagando-o, paralisando-o, aniquilando-o. Não. O homem pode modificar esta ação kármica porque o esforço vale mais do que o destino, como disse Bhisma no Bhagavad Gita.

Examinemos, pois, os três poderes da consciência humana que vão pouco a pouco criando o karma individual.

Diziam os Gregos que três fadas misteriosas fiavam o cordão da vida, o cordão do destino de cada homem.

O simbolismo admirável da mitologia grega assim representa os três poderes da consciência humana: o pensamento, o desejo e a ação.

É muito comum ouvir-se falar na Parca quando nos referimos à morte.

As três fadas são as três Parcas que, inexoráveis na sua faina, não poupavam a ninguém. As Parcas, eram, segundo a Mitologia, as divindades dos infernos, senhoras da vida do homem do qual elas teciam sinistramente a trama. Chamavam-se Clothos, Lachesis e Atropos. Clothos, que presidia ao nascimento, trazia na mão uma roca, Lachesis que trazia o fuso distribuía o destino e Atropos, a tenebrosa, que cortava, o fio da vida. Uma fiava, outra distribuía e a última cortava o fio do destino humano.

São estas as filhas da Noite, as filhas do Destino, as três irmãs fiandeiras, como as denominou poeticamente La Fontaine.

Estas três fadas representam, simbolicamente, os três poderes da consciência: o pensamento, o desejo e ação.

A mais importante, a primeira das fadas, a fiandeira sutil que vai girando a roca do nosso destino, a mente, esta criadora do mal, tecedeira das ilusões, matriz da separatividade, a mente que, não sendo dirigida pelo discernimento nos conduz ao precipício, eis a primeira fonte do karma. Por isso a Teosofia nos ensina “O pensamento cria o caráter.”

O homem é criação do seu pensamento; converte-se naquilo em que pensa. Por que? Porque quando a mente é dirigida continuamente para o mesmo objeto ou pensamento e com ele se identifica, uma determinada vibração de matéria mental se agrega formando certa forma mental; e, quanto mais reproduzirmos este pensamento, mais vibrante e mais nítida esta forma se torna, acabando por formar o hábito e tornar-se automática, isto é, independente da nossa vontade.

Por isso se diz “no que o homem pensa, nisto se torna”. Nascemos com o caráter que edificamos pelo pensamento em nossas vidas anteriores. É uma limitação. Admitamos que tenhamos nascido sem gosto pela matemática, mas com grande propensão para a música. Isto quer dizer que em vidas anteriores, formamos o nosso gosto musical, educamos a mente no estudo dos sons e da harmonia, mas que o raciocínio lógico, o hábito de deduzir e calcular, que a matemática desenvolve, ainda não conseguimos despertar. Eis o karma. Enquanto certa pessoa, com a simples leitura de um teorema de Geometria, acha-se disposta a reproduzir a demonstração, outra só depois de um aturado labor de muitas horas, consegue reproduzir a dedução.

Para compensar essa falta de aptidão devemos procurar fazer tudo sempre da melhor maneira possível, vencendo as resistências criadas pelo karma.

O Gênio é a Paciência dizia Buffon.

Alguém perguntou a Newton como foi que ele conseguiu descobrir a grande lei da gravidade universal. “Pensando sempre”, respondeu o filósofo.

Assim o pensamento é o mais importante fator na criação do Karma. O que pensamos, o que sentimos vive dentro de nós, é o substractum da nossa mente. Eis porque lemos nos Upanishads: “O homem é uma criatura de reflexão; naquilo em que medita ou pensa nesta vida, ele se torna nas vidas seguintes”.

Pascal, o grande pensador francês, em seus conhecidos “Pensamentos” nos diz que “a grandeza do Universo e todos os seus esplendores nada valem em comparação com as maravilhas da mente humana e sua capacidade para compreender as coisas admiráveis que contêm os espaços siderais. Mas, acrescenta o pensador, apesar de seu significado e valor evolutivo, a mente humana, com todas as suas perfeições, é de pouca importância comparada com a beleza espiritual de um coração que verdadeiramente ama”. Assim, a mais importante das fadas é a mente, é o pensamento. E o primeiro passo para vencermos o karma do passado, é o domínio da mente, a fiandeira da ilusão.

Todo pensamento que emitimos, qualquer ato nosso, altera de certo modo e equilíbrio do Universo e esta perturbação se restabelece pelas reações que o homem recebe conto recompensa.

Ninguém pode avaliar com precisão, as consequências, que resultam dos seus menores atos e desejos, dos seus pensamento mais íntimos. São energias que a nossa vontade põe em movimento, e que vão despertar repercussões salutares ou não no meio ambiente.

Não pagamos o mal praticado por outrem; mas sofremos as consequências dos atos por nós mesmos exercidos em vidas há longos anos decorridas.

Devemos pois, guardar esta profunda verdade que “toda causa tem seu efeito; todo o efeito teve sua causa; tudo acontece de acordo com a Lei”. O acaso não existe. Acaso é o nome com que a presunção encobre a sua ignorância.

Somente nós lançamos a semente do bem ou do mal. Somente nós forjamos, no passado, os grilhões que agora nos oprimem. Somente nós fomos os criadores de toda a beleza, de toda a nobreza que atualmente florescem em nossos corações.

E quando, nos momentos sombrios da existência, sentirmos a mão da adversidade pesar fortemente sobre nossos ombros, não injuriemos a Divindade, não condenemos a ninguém, senão a nós mesmos, nos lembrando que uma lei de inalterável justiça governa o mundo, dando a cada um segundo as suas obras.

E. Nicoll

Fonte: do livro "A LEI DE AÇÃO E REAÇÃO (KARMA)"
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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