A visão do invisível e a confiança que advém da absorção no imortal é a essência da meditação. Sabemos com plena convicção que quando morremos para nós mesmos, permanecemos no eterno. Isto nos permite saber que nosso ser pode passar por etapa após etapa da vida, por muitas mortes, mas não podemos escapar do ser. Deus nunca tira o dom que nos deu e nos deu o nosso ser que é imortal. Esta é a preparação essencial que precisamos experimentar para enfrentar a nossa morte sem medo, sem falsas desculpas, com mente e coração abertos.
Ao longo dos anos em que ensinamos meditação nesta tradição, conhecemos pessoas que começaram a meditar justamente quando já estavam enfrentando a morte e puderam ver que estavam se aproximando do horizonte de suas vidas. A sua atitude em relação à morte foi transformada à medida que se preparavam para morrer para si próprios, dia após dia, em preparação para a morte do corpo. Foi inspirador e uma revelação para nós ver o crescimento da sua fé e esperança à medida que aprenderam a meditar, mesmo na fase final da sua vida. Da mesma forma, foi inspirador ver como esta mudança profunda funcionou neles e na sua atitude perante a morte e como influenciou as suas famílias e amigos, que também percorreram o caminho, em parte, com eles.
São Bento tem um capítulo na Regra para os Monges chamado “Ferramentas das Boas Obras”, que é uma lista das atitudes básicas que os monges devem desenvolver em sua vida de caridade e disciplina para se prepararem para o que São Bento chama de “luz da divinização” no Reino dos Céus. Uma dessas ferramentas ou atitudes é manter sempre a morte à nossa vista. Há, acredito, uma sabedoria extraordinária nessa frase. Simplesmente mantendo a morte em mente, à vista, podemos realmente aprender a ser infantis em nosso relacionamento com o significado último da vida. Aprender a recitar o mantra* em nosso compromisso diário com a meditação é a entrada para sermos como crianças. É esta pequena palavra que nos enraizará no fundamento eterno do nosso ser e nos ensinará que a morte é um ato de transcendência.
Repetir o mantra é aprender a morrer e aprender a aceitar o presente eterno do nosso ser – ambos no mesmo ato. É aprender que toda morte é uma morte para as nossas limitações e que se pudermos morrer para nós mesmos seremos ressuscitados para a liberdade infinita do Amor, porque o Amor é a energia criativa do universo e também o centro criativo do nosso ser. Para encontrar esse centro devemos ir além do nosso egocentrismo, devemos morrer para tudo o que acontece. Ao percorrer este caminho e partilhá-lo com os outros, entramos na verdade de que a realidade não é uma conquista final, mas uma experiência dinâmica de passagem de nós mesmos para os outros. Somente quando tivermos desistido de nossa vida, poderemos encontrá-la.
Fr. John Main, OSB
Fonte: do livro "Morte, Caminho da Interioridade"
Obra original em inglês publicada pelo Priorado Beneditino de Montreal
1475 Pine Avenue West, Montreal, H3G 1B3, Canadá
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/medita%C3%A7%C3%A3o-mandala-transcendental-6808541/
Para mais detalhes ver:
* CAMINHO DO MANTRA: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2022/09/mantra-duas-maneiras-de-ser-particula-e.html
* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html
Nota:
* Mantra, aqui neste contexto, é uma ou mais palavras, numa determinada língua, que tenha algum significado na condução da nossa meditação.
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