Krishnamurti: Como vou pôr um fim ao conflito na ação?
Interrogante: Não agir.
Krishnamurti: Minha vida é ação. Falar é ação; respirar é ação; ver alguma coisa é uma ação; entrar em um carro, ir para minha casa é ação. Tudo que faço é ação. Você me diz: “Não aja!” Isso significa, simplesmente, parar onde estou, não pensar, não sentir; ficar paralisado, estar morto? Interrogante: A ideia, que é irreal, e a realidade não podem andar juntas.
Krishnamurti: Eu percebo que ação é vida. A menos que eu esteja totalmente paralisado, morto ou insensível, tenho que agir. Vejo que toda ação traz mais dor, mais conflito, mais esforço. Eu vou descobrir se existe uma ação onde não há conflito. (Collected Works, Vol. XVI, Action)
Para nós, a ideia se torna extremamente importante, não a ação, e ação é meramente uma aproximação da ideia. É possível agir sem ideia e, portanto, sem qualquer aproximação em nenhum tempo? Isto significa, realmente, que a pessoa tem que entrar na questão de por que a ideia tomou o lugar da ação. As pessoas falam de ação: Qual é a coisa certa a fazer? A coisa certa a fazer não é uma ideia divorciada da ação, porque, então, a ação se torna uma aproximação com a ideia, e a ideia é ainda importante, mas não a ação. Então, como você vai agir tão completamente, tão totalmente, que não existe aproximação, que você viva todo tempo completamente? Tal pessoa não tem necessidade de uma ideia, de conceitos, fórmulas, métodos. Então, não há tempo, mas só ação; o tempo surge apenas quando há aproximação entre ação e ideia. Isto pode parecer extravagante e absurdo. Mas se você investigou a questão do pensamento, a questão da ideia, e como você não pode viver sem ação, você pergunta: “É possível viver sem ideia, sem palavra, mas apenas com ação?” Só quando o mecanismo do pensamento é compreendido existe ação que não é aproximação. Certamente, se você reflete sobre isto por você mesmo, verá que coisa extraordinária é. (Collected Works, Vol. XIII, Action)
Vida é existência, é um movimento, e este movimento é ação. Vida, a totalidade da vida, não partes dela, o estado total da existência, é ação. Mas quando meramente existimos, como faz a maioria de nós, então o problema da ação se torna complexo. A existência não tem divisão. Ela não é um estado fragmentado da mente ou ser; nesse [estado] uma totalidade de ação é possível. Mas quando dividimos a existência em diferentes segmentos, fragmentos, então a ação se torna contraditória. (Collected Works, Vol. XV, Action)
Relação é nosso problema, e sem compreender a relação, simplesmente ser ativo é produzir mais confusão, mais infelicidade. Ação é relação: ser é estar em relação. Faça o que fizer, retiro – nas montanhas, sentar na floresta – você não pode viver em isolamento. Você só pode viver em relação, e enquanto a relação não for compreendida, não pode haver ação correta. A ação correta vem na compreensão da relação, que revela o processo da própria pessoa. O autoconhecimento é o início da sabedoria; é um campo de afeição, calor e amor, portanto, um campo rico com flores. (Collected Works, Vol. V, Action)
Quando minha ação se baseia em um ideal que é uma ideia, tal como “Eu devo ser corajoso”, “Devo seguir o exemplo”, “Devo ser caridoso”, “Devo ser socialmente consciente” e assim por diante, essa ideia molda minha ação, dirige minha ação. Todos nós dizemos: “Há um exemplo de virtude que devo seguir”, o que quer dizer, “Devo viver de acordo com isso”. Assim, a ação é baseada nessa ideia. Entre ação e ideia, há um abismo, uma divisão, há um processo de tempo. É isso, não é? Em outras palavras, eu não sou caridoso, não sou amoroso, não existe perdão em meu coração, mas eu sinto que devo ser caridoso. Então, há uma lacuna entre o que eu sou e o que devo ser; nós ficamos o tempo todo tentando transpor essa lacuna. Essa é nossa atividade, não é? Ora, o que aconteceria se a ideia não existisse? De um golpe, você teria removido a lacuna, não teria? Você seria o que você é. Você diz: “Eu sou feio, devo me tornar belo; o que faço?” o que é ação baseada em ideia. Você diz: “Eu não sou compassivo, devo me tornar compassivo”. Assim, você introduz a ideia separada da ação. Por isso, nunca existe ação verdadeira do que você é, mas sempre ação baseada no ideal do que você será. O homem estúpido sempre diz que vai se tornar esperto. Ele senta trabalhando, lutando para se tornar; ele nunca para, nunca diz: “Eu sou estúpido”. Então a ação dele, que se baseia na ideia, não é ação de fato. (The First and Last Freedom)
Ação significa fazer, movimentar. Mas quando você tem ideia, é meramente ideia seguindo, processo de pensamento seguindo em relação com ação. Se não houvesse ideia, o que aconteceria? Você é o que você é. Você é não caridoso, você não perdoa, é cruel, estúpido, negligente. Você pode ficar com isso? Se puder, então veja o que acontece. Quando eu reconheço que sou não-caridoso, estúpido, o que acontece quando estou consciente disso? Não há caridade, não há inteligência? Quando reconheço a falta de caridade completamente, não verbalmente, não artificialmente, quando eu percebo que sou não caridoso e não amoroso, nesse próprio ver, não existe amor? Eu não me torno, imediatamente, caridoso? Se vejo a necessidade de estar limpo, é muito simples: vou me lavar. Mas se for um ideal que eu deveria ficar limpo, então o que acontece? A limpeza é adiada ou é superficial. A ação baseada em ideia é muito superficial, não é ação de fato, é só ideação, que é meramente o processo de pensamento prosseguindo. (The First and Last Freedom)
Quando você está consciente desta divisão entre ideia e ação, o que ela envolve, ou seja, suprimir, aproximar, constantemente tentar e ajustar a ação a um padrão, você vê que nunca há um momento em que a ação existe por si mesma. Para mim, essa é uma das razões fundamentais para esta desintegração, a degeneração da mente que está em conflito, que está constantemente em atrito com ela mesma. (Collected Works, Vol. XIV, Action)
Sem entender compreensivamente o completo significado de ação, estar meramente interessado com uma forma particular de ação me parece muito destrutivo. Certamente, se estamos interessados só com a parte e não com o todo, então toda ação é destrutiva. Mas se podemos compreender ação como uma coisa total, se podemos sentir nosso caminho por ela e captar sua significação, então essa compreensão da ação total vai gerar ação correta no particular. É como olhar para uma árvore; a árvore não é apenas a folha, o galho, a flor, o fruto, o tronco, ou a raiz, ela é uma coisa total. Sentir a beleza de uma árvore é estar cônscio de sua totalidade, sua extraordinária forma, a profundeza de sua sombra, a vibração de suas folhas no vento. A menos que você tenha o sentimento da árvore toda, simplesmente olhar para uma única folha significará muito pouco. Mas se temos o sentimento da árvore toda, então cada folha, cada raminho tem significado, e somos sensíveis a isto. Afinal, ser sensível à beleza de alguma coisa é perceber a totalidade dela. A mente que fica pensando em termos de uma parte nunca pode perceber o todo. No todo a parte está contida, mas a parte nunca formará o todo, o total. (Collected Works, Vol. XII, 341, Action)
Não pode haver uma transformação mundial, uma revolução, enquanto a ação for baseada em ideias; porque ação, então, é mera reação; por isso as ideias se tornam muito mais importantes do que a ação, e é isso, precisamente, que está acontecendo no mundo, não é? Para agir, precisamos descobrir o impedimento que evita a ação. Mas a maioria de nós não quer agir, essa é nossa dificuldade. Preferimos discutir, preferimos substituir uma ideologia por outra, e assim fugimos da ação por meio da ideologia. (Collected Works, Vol. VI, 54, Action)
J. Krishnamurti
Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura:
http://www.taringa.net/posts/ciencia-educacion/16865761/Jiddu-Krishnamurti.html
http://fightlosofia.com/krishnamurti-en-imagenes-krishnamurti-in-pictures/