quinta-feira, 30 de abril de 2020

MEDITAÇÃO NA EXPERIÊNCIA DE THOMAS MERTON

                             O monge trapista Thomas Merton ao lado de Dalai Lama em 1968


Anotações de Martha Pires Ferreira* para palestra ao Grupo da Meditação Cristã
Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2006.


Thomas Merton nasceu em Prades, em 31 de janeiro de 1915, sob o signo de Aquarius, no sul da França e viveu nos EUA. Morreu em Bancoc em 1968 para onde foi em viagem pregar retiro e fazer conferências. Para este monge beneditino, trapista, a meditação é uma profunda integração pessoal em Deus, numa escuta vigilante e cuidadosa “do coração”. É uma entrega total, sem palavras, do coração e em silêncio.

Thomas Merton em sua obra Poesia e Contemplação (1972) deixou-nos muitas páginas dedicadas às questões tão preciosas que são as reflexões sobre a meditação.

Toda a sua obra, em geral, desde a Montanha dos Sete Patamares, nos fala, essencialmente, da vida contemplativa, da vida silenciosa, da vida meditativa intelectualmente e em radical experiência interior. Thomas Merton foi um contemplativo por excelência.

A vida contemplativa é vida de meditação com ou sem palavras. Em comunhão com a vida ativa, a vida de oração passiva, é vida de extrema entrega silenciosa às grandes experiências do amor de Deus.

No final de sua vida, Thomas Merton viveu junto à natureza como eremita numa ermida, no meio do bosque do Mosteiro de Nossa Senhora de Gethsemani.

Merton faz pontuações muito sensíveis; para ele é inseparável a unidade do silêncio e da oração. Merton cita em Poesia e Contemplação como foi bem descrita pelo monge Isaac de Nínive esta visão da unidade: “Muitos procuram avidamente (esta unidade), porém só encontram os que permanecem em contínuo silêncio… Todo homem que se regozija com uma multidão de palavras, mesmo que diga coisas admiráveis, é vazio interiormente. Se amais a verdade, sede amante do silêncio. O silêncio como a luz do sol, vos iluminará em Deus e vos libertará dos fantasmas da ignorância. O silencio vos unirá ao próprio Deus…

“Acima de tudo, amai o silêncio; ele vos traz frutos que a palavra não pode descrever. No início, temos de esforçar-nos a ser silenciosos. Porém, nasce então algo que nos atrai ao silêncio. Possa o Senhor dar-nos uma experiência deste ‘algo’ que brota do silêncio. Se somente praticardes isso, uma luz indizível brilhará sobre vós como consequência (…) depois de algum tempo, certa doçura nasce no coração, deste exercício e o corpo é atraído, quase que à força, a permanecer em silêncio”.

Para Merton sem virtude (fortaleza), não pode haver verdadeira contemplação. Sem o trabalho da disciplina, não pode haver tranquilidade no amor.

E cita Pedro de Celles, beneditino do séc XII:

“Deus opera em nós enquanto repousamos n’Ele. Essa obra do Criador ultrapassa todo entendimento; repouso que é, em si, criativo. Pois, trabalho como esse excede, em sua tranquilidade, todo repouso. Este repouso, em seu efeito, brilha e irradia, sendo mais produtivo do que qualquer trabalho. Assim, deixemos esta ação, ou este repouso de nossa contemplação, ser modelada de maneira a reproduzir, ainda que em linhas apenas esboçadas e apegadas, um modelo (de trabalho e repouso em Deus)… Essas coisas não se realizam na sombra e na noite, mas durante o dia e na luz, do sol da justiça. Pois quem ronca na noite do vício não pode conhecer a luz da contemplação”.

Thomas Merton nos remete, também, a São Gregório Magno sobre a vida contemplativa:

“A vida contemplativa consiste em permanecer com toda a força da mente entregue ao amor de Deus e do próximo; repousando, porém, de todo movimento exterior e unindo-se unicamente ao desejo do Criador”.

Noutra passagem ele se refere ao contemplativo do séc. XIII, XIV, Ruysbroeck:

“O homem interior entra em si de maneira simples, acima de toda atividade e de todos os valores, a fim de aplicar-se a um simples olhar no amor de fruição. Ali, encontra Deus sem intermediário. E, da unidade de Deus, penetra nele o brilho de uma luz simples. Essa luz simples demonstra ser treva, nudez e ‘nada’. Nessa escuridão, o homem é envolvido e mergulha num estado sem categorias, no qual se perde. Assim desnudado, toda consideração e distração em relação às coisas lhe escapam e ele se vê penetrado por uma luz simples. Nesse nada, ele vê todas as obras como inúteis, pois se encontra submerso pela atividade do imenso amor de Deus e, pela sua frutífera inclinação de seu Espírito, torna-se um só espírito com Deus”. 

Poesia e Contemplação é um convite à compreensão da meditação; a oração intelectual e a oração existencial. Nesta mesma obra Merton escreveu:

“A oração contemplativa é, de certo modo, simplesmente, a preferência pelo deserto, pelo vazio, pela pobreza. Alguém começa a conhecer o sentido da contemplação quando, intuitiva e espontaneamente, procura o caminho obscuro e desconhecido da aridez, de preferência a qualquer outro. O contemplativo é alguém que escolhe antes o não saber do que o saber. Antes não fruir do que fruir. Antes não ter provas de que Deus o ama. Aceita o amor de Deus na fé, num desafio a toda evidência aparente. Essa é a condição necessária – e uma condição muito paradoxal – para a experiência mística da realidade de Deus e de seu amor por nós. Somente quando somos capazes de ‘largar’ tudo o que há dentro de nós, todo desejo de ver, de saber, de provar e de experimentar a presença de Deus, é que nos tornamos realmente capazes de ter a experiência dessa presença com a convicção e realidade avassaladoras que revolucionam nossa existência inteira”. 

“A contemplação cristã não é algo de esotérico e perigoso. É simplesmente a experiência de Deus dada a alguém já purificado pela humildade e a fé. É o ‘conhecimento’ de Deus na obscuridade do amor infuso” (…) “A contemplação infusa é um conhecimento quase experimental da bondade de Deus ‘saboreada’ e ‘possuída’ por meio de um contato vital nas profundezas de nosso ser. Por meio do amor infuso, nos é dado apreender, de maneira imediata, a própria substância de Deus”.  Repousamos, então, na percepção obscura e profunda de sua presença e de sua ação transcendentes dentro do mais íntimo do nosso interior. Assim, nos entregamos inteiramente à obra de seu Espírito transcendente”.

Podemos seguir seu pensamento em Direções Espirituais e Meditação, publicado aqui no Brasil em 1962:

“A meditação é para os que não se satisfazem com um conhecimento meramente objetivo e conceitual em relação à vida, em relação a Deus – em relação a realidades de primeira importância. Querem entrar em contato íntimo com a própria verdade, com Deus. Querem experimentar as mais profundas realidades da vida, vivendo-a. (…) Não nos esqueçamos jamais de que o fecundo silêncio em que as palavras perdem seu poder de expansão, e os conceitos nos escapam, é, talvez, a mais perfeita meditação. (…) devemos regozijar-nos e repousar na noite luminosa da fé. Esse é um degrau mais alto de oração. A finalidade última da meditação deve ser uma comunhão mais íntima com Deus, não só no futuro, mas também aqui e agora.

E termina este livro fazendo eco: “Santa Teresa de Ávila acreditava ser impossível a alguém que se mantivesse fiel à prática da meditação vir a perder a sua alma”.

Em 1938, aos 23 anos, Thomas Merton conheceu, através de seu amigo Seymour, o monge Doutor Bramachari, originário da Índia, é o que relata em Montanha dos Sete Patamares (1947), onde faz referências a este monge:

“Eu buscava (…) e procurava um gênero de vida que tivesse Deus como centro, conforme a dele”. “Afinal, não deixava de ser um tanto irônico que eu me houvesse voltado, espontaneamente, para o oriente em minhas leituras e conhecesse um oriental. Ele nunca tentou explicar a crença religiosa da Índia”.

O interesse de Merton pelo misticismo da cultura oriental se deu a partir das leituras de Aldous Huxley, em especial, Meios e Fins. Antes de conhecer o monge Bramachari, Merton tinha particular sede de vida espiritual.  Sua tese de conclusão na Universidade teve como título: A Natureza e a Arte em William Blake, um artista essencialmente místico. Para Merton a experiência artística, a mais alta, era de fato análoga à experiência mística.

Thomas Merton não se restringiu aos textos da Philokalia e às fórmulas hesicastas dos padres do Deserto, assim como a “Oração de Jesus”; procurou conhecer muitas técnicas de meditação das grandes tradições das culturas do Oriente. Em sua obra Reflexiones sobre Oriente – La filosofia oriental a la luz del misticismo occidental (textos de 1965 a 1968), nos relata sobre o taoísmo, o zen, o hinduísmo, o sufismo e as variantes do budismo.

Em 4 de novembro de 1968, em sua viagem à Índia, teve uma audiência com o monge do Budismo Tibetano, Sua Santidade Dalai Lama, e escreveu; “Toda a conversa versou sobre religião, filosofia e, especialmente, sobre os caminhos da meditação”. Dias depois, menos de um mês de sua morte, foi ao eremitério do Rimpoche Chatral:

“O maior Rimpoche que já conheci até hoje”. “Gostaria de estar mais com Chatral” (O Diário de Ásia, 1973). Depois de sua morte, em 10 de dezembro, Bancoc, as questões da meditação aparecem com presença constante em suas obras publicadas.

No ocidente a meditação, como experiência pelos cristãos, reiniciou-se, no mundo contemporâneo, provavelmente, através dos monges beneditinos, na França (outros?), com as aplicações práticas das disciplinas da Raja-Yoga à oração e à meditação. Isto se verifica nos textos da obra; O caminho do silêncio ou Yoga para cristãos, de J. M. Déchanet (3ª edição/1957) onde encontramos no capítulo “As fases da meditação silenciosa” a invocação “Veni, Domine. Vem, Senhor”. Obra que provavelmente Merton conheceu, e, o mesmo interesse se dando com as aberturas do Concílio Vaticano II. Verifica-se que somente no início dos anos 60 é que ele começa a escrever a série de trabalhos referentes ao Oriente. Nos anos 50 muitas obras sobre meditação oriental foram publicadas na França. Em 1953, L’hésychasme, Yoga chrétien, em Yoga, science de l’homme integral – Cahiers du Sud, Paris.

Nos anos 60, Merton fez contatos pessoais e profundos com o filósofo e sábio, do Japão, Daisetz Suzuki, mestre do Zen Budismo, e escreveu; Zen e as aves de rapina (1968). Antes, em 1961, escreveu Místicos e Mestres Zen, e, em 1965 A via de Chuang Tzu (o grande filósofo e poeta chinês), e Gandhi, a não violência. Vê-se o grande interesse pela sabedoria oriental.

Para Merton a contemplação passiva não exclui as atenções para com a vida ativa, muito pelo contrário, maior é o amor responsável e profundo para com o seu próximo, onde devem estar presentes as preocupações para com o mundo e suas complexidades. Thomas Merton lutou de forma veemente contra as guerras, a violência, os preconceitos raciais, religiosos e quaisquer outros (desde os finais dos anos 50 passou a ter bons entendimentos com protestantes, anglicanos, judeus e mesmo ateus), e, se indignava diante das injustiças sociais e da vergonhosa exploração e violência para com as classes oprimidas. Sua obra Sementes de Destruição, 1964, é um grito de desespero e de advertência profética diante da alienação e das perversidades do mundo moderno. Em Questões Abertas, 1960, sua expressão de amor ao próximo revela grande sensibilidade: “Onde não existe a possibilidade de um nível de vida decente, quando não há liberdade, justiça, educação na sociedade humana, como pode o Reino do amor ser nela edificado? (…). O Reino de Deus, não se compõe unicamente de grandes homens santos, é um organismo vivo, místico, constituído de homens comuns, com suas fraquezas, suas limitações, sua boa vontade, seus talentos, suas deficiências – tudo isso elevado e divinizado pelo Espírito Santo, de maneira a que o Cristo viva e se manifeste em cada um e em todos”.

Para Thomas Merton, por natureza, o contemplativo colabora efetiva e essencialmente com a humanização e a santificação do mundo, em silenciosa doação afetiva, em comunhão com o Mistério de Deus. Intenso era o seu contato com as manifestações da Natureza, em plena observação amorosa. A experiência da meditação contemplativa, para ele, é um dom de Deus de se estar sendo no mundo. É uma entrega radical em silêncio. Os contemplativos “participam da crise e da tragédia que assola o mundo, mas que eles veem e entendem de maneira inteiramente diferente do resto do mundo”. (…) “suas verdadeiras perspectivas são aquelas do Reino escatológico de Deus”. Merton sentia-se feliz por ser membro da raça humana, de ter no outro a humanidade de Jesus Cristo.

Thomas Merton foi meu mestre maior na compreensão do mistério da encarnação de Jesus Cristo. Merton nasceu na França, 31 de janeiro de 1915, já dito, e morreu, de maneira inusitada, em Bancoc, Índia, em 10 de dezembro de 1968. Descendente de pais anglo americanos escreveu mais de 70 livros sobre espiritualidade, poesia, justiça social, ensaios, religiões comparadas – Zen, Tao, Sufi. Foi ativista social ferrenho. Foi o primeiro monge no ocidente a travar diálogo com asiáticos como DT Suzuki, Dalai Lama e Thich Nhat Hanh.


Martha Pires Ferreira


* Martha é mais Maria, mística de pés descalços, artista plástica de alma irrequieta, contemplativa próxima do povo. Vive sua vocação eremítica nas ladeiras e ateliês do bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Foi uma das precursoras na direção de grupos de leitura de Thomas Merton no Brasil.



Fonte: https://merton.org.br/
Fonte da Gravura: CNS/Thomas Merton Center na Universidade de Bellarmine

AS GRANDES LEIS NATURAIS DA EVOLUÇÃO


Com o auxílio de algumas prováveis noções que sobre o destino do ser adquirimos, podemos elevar-nos à pesquisa de algumas das grandes leis do Universo. Vimos que a evolução é o grande princípio da lei universal. Todas as leis que a regem parecem reduzir-se a três essenciais: a lei do esforço, a lei da solidariedade, a lei do progresso.

1º) A lei do esforço – Segundo essa lei, todo ser chegado a um rudimento de sensibilidade e de consciência deve contribuir ativamente para o progresso evolutivo. Seu desenvolvimento pede esforços perpétuos inumeráveis, os quais constituem o próprio mérito desse desenvolvimento.

A filosofia naturalista por vezes torceu, numa certa medida, o sentido geral dessa lei, reduzindo-a, toda ela, à luta pela vida. Em realidade, a luta pela vida não passa de um modo especial da lei de esforço, de outro modo vasta e geral. Quanto ao resto, os naturalistas modernos de mais a mais se põem de acordo, no sentido de dar à seleção natural não o papel primordial e indispensável na evolução, mas um simples desempenho favorecedor dessa evolução. De um mundo a outro, a lei do esforço é a causa das grandes diferenças de pormenores e, num mesmo mundo, responde por inumeráveis discrepâncias ali verificadas quanto à forma. É ela – a lei do esforço – o fator essencial das numerosas e consideráveis desigualdades das partes evolucionárias. Resulta ela na ativação da evolução, criando as variedades e desigualdades.

2º) Lei de solidariedade – Por si, não é nem menos importante nem menos evidente que a lei de esforço, implicando na solidária evolução de todas as partes constituintes de um universo. Essas partes – as mais diversas, como as mais afastadas – só podem evolver umas com as outras e umas pelas outras.

Os efeitos dessa lei podem ser observados por tudo e em tudo: entre os mundos de um mesmo sistema (e também, provavelmente, entre os sistemas vizinhos), fixados em volta de um ou de muitos astros centrais, e solidários pela atração, bem como por certos fenômenos magnéticos ou elétricos etc.; entre as porções constituintes de um mesmo mundo, forçosamente solidários material, intelectual e moralmente; entre os minerais, os vegetais e os animais, inseparáveis uns dos outros, apesar do grau diferente de evolução, pelo só fato das necessidades orgânicas e funcionais. Entre as porções constituintes de um ser organizado. Com efeito é sabido que, na realidade, um ser é constituído por um agregado de seres elementares e solidários no conjunto. Há, além disso, no ser, matéria, força e inteligência, ou seja – na hipótese de se admitirem as teorias monistas –, aparências diversas do princípio único, mas sempre inseparáveis e solidárias no seu progresso.

Agora se compreende o propósito e a necessidade das encarnações, da associação da alma e do corpo. Ambos não podem evoluir senão correlativa e simultaneamente.

A lei de solidariedade subdivide-se em leis secundárias:

a) lei de atração entre os mundos e os átomos;

b) lei de afinidade ou de simpatia, pela qual a solidariedade entre as partes evolucionárias é tão mais ativa e potente quanto mais aproximadas, por sua fase e seu nível e evolução, o forem essas partes.

Assim, a inteligência é solidária da força, sobretudo, e a força, da matéria, o que faz com que esta seja o intermediário necessário para a ação daquela sobre a matéria. Existe, graças a essa divisão da lei de solidariedade, gradação de solidariedade do animal ao homem; do selvagem ao homem civilizado; deste ao compatriota, aos parentes etc. Tal é a lei de solidariedade plena. E ela apresenta uma consequência capital: atenua os deploráveis efeitos da luta pela vida e restabelece, no conjunto, a igualdade nos pormenores, destruída pela lei do esforço. A solidariedade não é um simples princípio de moral, mas uma necessidade absoluta, a mola real, a engrenagem essencial da evolução.

É por não haver, às claras, colocado a lei de solidariedade ao lado da luta pela vida que o transformismo pode, tão frequentemente, ser mal interpretado; e foi por isso que ele provocou o estonteante julgamento de uma certa escola: “a natureza é imortal!”

Vimos como as noções novas sobre o destino individual fazem antecipadamente surgir a lei de solidariedade, colocando-a no primeiro plano, na evolução progressiva da natureza e dos seres. Todo ser adiantado possui a consciência, ou ao menos a intuição dessa grande lei: “Aquele é o melhor – diz Guyau –, o que mais consciência tem de sua solidariedade com os outros seres e com o todo.”

3º) Lei de desenvolvimento indefinido – Essa lei só pode ser admitida com um caráter de probabilidade e não de certeza.

Parece, de fato, que necessariamente ela resulta das noções que sobre o destino dos mundos e dos seres acabamos de expor. Não se concebe uma possível regressão geral, nem o estancar do processo evolutivo. Se verdadeira é essa lei, o mundo inteiro deve evoluir, quaisquer que sejam as condições físicas ou químicas exteriores, se bem que sempre conforme a essas condições. O mundo inteiro deve originar manifestações vitais e intelectuais.


Dr. Gustav Geley



Fonte: "O Ser Subconsciente" - Dr. Gustav Geley
Texto retirado do site "Vade Mecum Espírita"
http://www.vademecumespirita.com.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

O CENTRO INTERNO DE EQUILÍBRIO


Um Ponto de Vista Correto Para Olhar a Realidade 

Exatamente no centro da Terra há um ponto de perfeito equilíbrio. Vacilar a partir dele em qualquer direção provoca uma perda de equilíbrio e coloca em ação forças instáveis. Este é um fato multidimensional.

Cada esfera, desde um átomo até o sistema solar, tem o seu ponto de equilíbrio. É nele que todas as forças têm igual influência e a harmonia reina suprema.

É nele que podemos encontrar o nosso lugar, num plano que não é demasiado elevado, nem demasiado baixo. Este é o ponto que podemos considerar realmente nosso. Ele não é nosso no sentido de posse pessoal, mas no sentido de que nele encontramos o lugar próprio para aquilo que é Supremo.

Uma vez que encontramos o ponto de equilíbrio em nós próprios, reconhecemos que ele está em toda parte, e o vemos como Aquilo sobre o qual todos os mundos se apoiam. Não chegamos ao ponto de equilíbrio indo para um ou outro lugar, mas simplesmente reconhecendo-o.

Quando isso acontece, podemos observar com clareza a ação das forças que fluem do mundo interno para o mundo externo, e do mundo externo para o interno. Os pares de opostos da vida podem ser vistos então como simples linhas de energia, divergentes, vibrantes, espalhando-se desde o centro para a circunferência ilimitada do círculo, e vindo de volta para o centro, passando pela sombra externa que rodeia o eu superior.

Expressões como “uma meta estável”, ou “meditação de uma vida inteira” [1] só fazem sentido quando  vemos que uma coisa é agir em qualquer direção a partir deste centro, e outra coisa, muito diferente, é deixar que a consciência siga esta ou aquela linha de força, até que a consciência fique identificada com tempo, lugar e condição. A identificação com o que é agradável ou desagradável, com dor e prazer ou esperança e desânimo, é o resultado desta perda de equilíbrio.

Este lugar não é um “lugar” situado no espaço e no tempo. Quando ele é percebido pelo sentimento e pela compreensão, então nós vemos que o nosso dever mais elevado consiste em esforçar-nos com uma firme determinação para permanecer em paz e em contato com o centro de equilíbrio, sem perturbar-nos por coisa alguma que possa acontecer. Nosso dever consiste em agir desde este centro para equilibrar gradualmente todas as causas e efeitos dentro da nossa esfera de ação, mesmo que sejam necessárias várias encarnações para conseguir a meta. O chamado mito da “música das esferas” não é um mito, mas uma realidade transcendental.

Deste ponto de vista, parece simplesmente absurdo que alguma vez tenhamos desejado cumprir um dever que não era o nosso, ou ocupar o lugar de outra pessoa, por mais agradável que ele pudesse parecer quando comparado com a desarmonia e as limitações que nos rodeiam.

Cada ser humano deve fazer os ajustes adequados dentro da sua própria esfera. Ao fazê-los, ele não trabalha apenas para o seu bem individual, mas para o bem de todos, porque percebe que este centro é o único Centro de tudo o que há. [2]

Assim, é inútil arrepender-se ou lamentar-se, ou ter vontade de estar em qualquer outro lugar diferente daquele em que se está. Em algum momento, em algum lugar, cada indivíduo deve realizar esta tarefa. Mantendo uma firmeza de sentimentos, podemos erguer-nos e dedicar-nos, com uma decisão inabalável, ao cumprimento do nosso dever.


John Garrigues


Fonte do Texto e da Gravura: FilosofiaEsoterica
https://www.filosofiaesoterica.com/o-centro-interno-de-equilibrio/


NOTAS:

[1] Em teosofia original, pratica-se meditação ou contemplação durante as 24 horas do dia. Isso pode ser chamado de “meditação da vida inteira”. Veja o texto “A Contemplação”, de Damodar Mavalankar, que pode ser encontrado nos Websites Associados. (CCA)

[2] Segundo a filosofia esotérica, a vida é um círculo cuja circunferência não está em parte alguma, e cujo centro está em toda parte. O chamado “círculo de Pascal” é discutido em “A Doutrina Secreta”, de H. P. Blavatsky. (CCA)


Nota Editorial:

A matemática e a geometria têm dimensões sagradas, e o texto acima estimula uma visão geométrica da vida. A partir de uma percepção da unidade de cada indivíduo com o planeta Terra, o artigo mostra a relação direta inevitável que há entre três fatores: 1) A obtenção de um verdadeiro autoconhecimento; 2) O desenvolvimento de uma visão planetária e impessoal da vida; e 3) O cumprimento individual do dever ético. O texto é um guia para meditação, e está diretamente ligado às primeiras páginas do Proêmio da obra “A Doutrina Secreta”, de Helena P. Blavatsky.

“O Centro Interno de Equilíbrio” foi publicado pela primeira vez, sem nome de autor, na revista “Theosophy”, de Los Angeles, em maio de 1922, p. 221. Uma análise do seu conteúdo e estilo indica que foi escrito por John Garrigues (1868-1944). Título Original: “A View-Point”. 

(Carlos Cardoso Aveline)

REENCARNAÇÃO E GENÉTICA


Como o acaso não existe no vocabulário espírita, tudo na reencarnação acontece sob a égide de Deus, o Senhor da Vida. Sendo esta programada, os Espíritos Superiores atuariam como construtores ou geneticistas, no fluxo da vida, selecionando o óvulo e o espermatozoide, na formação do ovo, que em última análise, originará aproximadamente os 70 trilhões de células do corpo físico; sempre que possível, o Espírito reencarnante colabora em ação conjunta nessa iniciativa.

De "Missionários da Luz" (1), extraímos: "(...) passou a examinar os mapas cromossômicos, com a assistência dos construtores presentes. (...) examinando a geografia dos genes nas estruturas cromossômicas a fim de certificar-me até que ponto poderemos colaborar (...), com recursos magnéticos para organização das propriedades hereditárias. (...)"

Solicitada a natureza das provas pelo reencarnante, ou estabelecidas as expiações, os Espíritos Superiores a tudo estão atentos na execução do projeto de recorporificação. Até mesmo nas reencarnações compulsórias, o Espírito reencarnante, mesmo não colaborando no processo, tem conhecimento do programa estabelecido, por mais relutante que esteja, porque "ninguém penetra num educandário, para estágio mais ou menos longo, sem finalidade específica e sem conhecimento dos estatutos a que deve obedecer.", ainda em "Missionários da Luz" (1). "O grau de comando dos Espíritos Superiores, neste processo reencarnatório, é inversamente proporcional ao estágio evolutivo do Espírito." (1)

Ficará este conhecimento, como outros, de posse do Espírito e arquivado no seu perispírito por ocasião da reencarnação, a ser utilizado como intuição. Estabelecem-se fortíssimos compromissos, talvez os maiores que possam assumir os Espíritos, entre os pais e o Espírito reencarnante e vice-versa, cujo cumprimento é fundamental para que se concretize a reencarnação, revigorando-se assim laços preexistentes, estabelecendo-se novos ou reparando-se outros. A quebra deste protocolo terá repercussões importantíssimas sobre os compromissados Espíritos envolvidos no processo. Colaboram ainda, os Espíritos simpáticos e às vezes procuram interferir negativamente os Espíritos inferiores, de acordo com a possibilidade das sintonias, na reencarnação que se apresenta redentora para o seu desafeto. 

Na realidade nós somos o que fomos, encontrando-se gravados no nosso perispírito todas as vivências e experiências pregressas a se transmitir através do modelo organizador biológico ao novo corpo físico, não como uma fatalidade, mas como um ponto de partida, podendo ser modificada, na decorrência do que realizarmos de positivo ou negativo, na edificação da nossa proposta reencarnatória. 

"(...) Essa Energética Espiritual, resultado de vivências e experiências incontáveis, com suas emissões vibratórias, apresentam zonas intermediárias (perispirituais) até desembocarem nos genes... por onde as sugestões, informações, diretrizes, enfim todo o quadro de nossa herança espiritual tivesse possibilidade de expressões nas regiões cromossômicas da herança física." (2)

Nos genes, estão as moléculas de DNA, situando-se particularmente no núcleo das células(99,5% ) e no citoplasma (DNA mitocondrial - 0,5 %), que comandam a síntese das proteínas e a atividade celular, sem as quais não haveria vida. No DNA está implantado o nosso "relógio biológico" (8), gatilho de todas as doenças genéticas (natureza, tempo de surgimento, duração, gravidade, periodicidade), além dos caracteres e deficiências físicas.

Acrescenta Hermínio Miranda, (3): "O Dr. Jorge Andréa chega a admitir que o espírito possa estar presente e influir na seleção do espermatozoide que vai disparar o mecanismo de fecundação e consequente gestação. Naturalmente que para isso é necessário que o espírito tenha condições evolutivas e de conhecimentos bastante satisfatórias, pois há renascimentos regidos por leis emergenciais, em cujo processo pouco participa conscientemente o reencarnante. É certo, porém, que a presença do espírito ou, pelo menos, sua imantação ao feto é vital ao desenrolar o processo, dado que é seu perispírito que traz as matrizes cármicas que entram como componente decisivo na formação do corpo físico, interagindo com mecanismos puramente genéticos."

Não seríamos coerentes, se admitíssemos que só as células sexuais masculinas fossem selecionáveis, entre os 200 000 000 à 500 000 000 de espermatozoides (por ejaculação), que se propõem a fecundar o óvulo. Entrementes, ao completarem a sua formação os ovários contém de 300.000 à 400.000 folículos, cada um deles contendo um ovócito primário, e durante a vida da mulher, apenas cerca de 300 deles consegue atingir a maturação (4), sendo que os outros vão sofrer involução e regredir, sem progredir para óvulo. Portanto aqueles ovócitos são selecionáveis, no processo de maturação para a ovulação. Aceita a proposição de que os espermatozoides são escolhidos, não há porque negar que os óvulos também o são. Existiria pois um óvulo selecionado que chega, para um espermatozoide também pinçado pela espiritualidade, que irá alcança-lo. Não fora assim, haveria uma seleção para o espermatozoide e um acaso, para o óvulo. Desta maneira se dá a fecundação, formando-se o ovo ou zigoto, e o início da vida física e da ligação espiritual, quando existe um Espírito designado e já fixado por seu cordão fluídico, caminhando o ovo e o Espírito com seu sonho reencarnatório "dolorosamente conquistado e insistentemente solicitado" (5), em busca da nidificação no útero materno, preparado "carinhosamente" para recebe-lo na sua majestade, intensificando-se os laços perispiríticos com o corpo físico, (6) quase completamente ao nascimento e finalizando-se até aos sete anos de idade, aproximadamente. "A união começa na concepção, mas só se completa por ocasião do nascimento." (7). "A diferença é sutil, mas interessante de considerar: ele não está encarnado, mas ligado, da concepção ao nascimento." ( 8)

Concomitantemente, os movimentos vibratórios do perispírito vão diminuindo e restringindo-se, ocasionando a obnubilação da memória e "um véu cada vez mais espesso envolve a alma e apaga-lhe as radiações interiores." (6).

Esta maravilhosa construção encarnatória, realizada pelos Espíritos Superiores, é uma concessão da bondade, da misericórdia e da justiça divina, "demonstrando que a vida é uma realidade, antes da nossa organização biológica." (9)

Albert Einstein, ao analisar que a fecundação e o desenvolvimento do ovo violavam todas as regras da Termodinâmica, assim se pronunciou: "Posso afirmar que o Universo não explica o Universo e a matéria não se explica a si mesma. Fora do Universo e independente dele existe um poder pensante e atuante, que é responsável pela aglutinação das moléculas, no campo da energia material." , e conclui: "A ciência sem religião é capenga e a religião sem ciência é cega." (9)

O Espiritismo nos mostra a grandeza desse elo entre a genética e a reencarnação, entre a Ciência e a Religião.



Fonte do Texto: Revista Internacional de Espiritismo - Março/2000
https://www.oclarim.com.br/link/revista+internacional+de+espiritismo+rie
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal



Bibliografia:
(1) XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito André Luiz. Missionários da Luz. FEB 28ª edição; pp. 187 à 189 e 208.
(2)  KÜHL, Eurípides. Genética e Espiritismo, FEB 1 ª edição, 1996; p. 40.
(3) MIRANDA, Hermínio P. Nossos filhos são Espíritos. Publ. Lachâtre, 1995; p. 47.
(4) SOARES, José Luis. Biologia. Ed. Scipione, 1997; p. 195.
(5) GANDRES, Doris Madeira. Tesouro maior, Revista Internacional do Espiritismo, Jan. 1999, p. 219.
(6) DÊNIS, Leon, O Problema do Ser, do Destino e da Dor. Ed. FEB, 1936, 4ª ed., p. 193.
(7) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Ed. FEB, 1987: perg.199, 344 358 e 359.
(8) ROCHA, Alberto de Souza. Além da matéria densa. Ed. Correio Fraterno, 1997, p. 153.
(9) FRANCO, Divaldo Ferreira. Encontro com médicos. S. José do Rio Preto, S.Paulo. 1992. Studio Alvorada.




domingo, 19 de abril de 2020

OS TEXTOS BÍBLICOS E A REVELAÇÃO ESPÍRITA


Entrevista que a Eliana Haddad fez com o professor Severino Celestino da Silva, sobre os textos bíblicos e a revelação espírita.

Professor, pesquisador e escritor, Severino Celestino da Silva é estudioso de línguas antigas e profundo conhecedor da Bíblia. Doutor em odontologia pela Fundação de Ensino Superior de Pernambuco, é professor-titular no curso de odontologia da Universidade Federal da Paraíba e espírita há mais de 40 anos. Tem pós-doutorado em ciências das religiões pela Pontifícia Universidade Católica de Goiânia-GO, e é fundador e professor do curso de ciências das religiões da Universidade Federal da Paraíba, onde lecionou judaísmo e cristianismo primitivo por 15 anos. Durante este período, Severino se debruçou intensamente sobre as obras de Kardec, relacionando o espiritismo com a Bíblia, em hebraico, sua língua original. Sobre o tema, o professor possui diversas obras publicadas, dentre elas: Analisando as traduções bíblicas, O sermão do monte e Analisando as traduções bíblicas. Leia a esclarecedora entrevista que Severino concedeu ao Correio Fraterno.

Por que a mensagem de Jesus tem tantas versões?

Em princípio, a mensagem de Jesus é universal. Ela veio para todos, religiosos e não religiosos. O objetivo foi sempre nos assistir, através do seu amor. No entanto, os homens sempre tiveram dificuldade de entendê-la por vários motivos. Inicialmente, pelo fato de que Jesus falava hebraico e aramaico e sua mensagem foi escrita pelos discípulos em grego. Nem todos entendem estes idiomas e ficam na dependência de tradutores, às vezes não confiáveis e fiéis ao que está escrito nos textos originais. Também, as religiões cristãs traduziram e têm traduzido a mensagem de Jesus com intenções de atender, às vezes, a sua visão religiosa. 

Que importância tem o estudo da Bíblia para o espiritismo?

Tem grande importância. A doutrina espírita tem bases e um grande suporte nos textos bíblicos. Não existe espiritismo sem Evangelho. A Bíblia, em seus textos originais, representa um repositório de fenômenos e registros de histórias mediúnicas de todos os tipos. Em O livro dos médiuns, vamos encontrar explicações científicas para estes fenômenos produzidos pelos profetas que, na verdade, foram grandes médiuns. A Bíblia também apresenta ensinamentos que foram adotados na codificação da doutrina espírita, como a reencarnação (as vidas sucessivas) que se encontra em muitas passagens do Velho Testamento e Evangelhos. 

A que o senhor atribui as guerras religiosas?

A guerra, de qualquer natureza, está sempre relacionada com interesses pessoais e materiais, além do egoísmo e do orgulho que estão sempre presentes nestes casos. As religiosas são ainda muito mais surpreendentes, porque não se consegue entender como alguém ligado à espiritualidade e ao amor pode promover uma guerra. A guerra religiosa é um contrassenso, e maior ainda, quando religiosos de qualquer corrente procuram justificá-la como se fosse uma vontade do ser superior espiritual a quem eles seguem. Como entender que Alá, Buda, Krishna e Jesus possam concordar com as guerras que seus seguidores têm feito em nome de Deus?

Como melhor compreender os Evangelhos? Como estudá-los?

Os Evangelhos são as melhores mensagens sobre os ensinamentos de Jesus. Eles contêm o seu ensino moral, seus atos, parábolas e predições. Podem ser estudados partindo-se do conhecimento de que Jesus era um judeu, que teve sua história escrita por judeus e para os judeus. E devem ser estudados seguindo-se a ordem dos ministérios de Jesus, sem esquecer a importância de conhecermos o idioma em que foram escritos. Também seguir sua sequência, separando-se os itens: o ensino moral de Jesus, depois os seus atos, suas parábolas e, por último, suas predições.

O apego à letra não prejudica a compreensão da essência da mensagem? 

Claro! Prejudica não só a mensagem de Jesus como também toda a mensagem bíblica. Os estudiosos orientais afirmam que quem utiliza o sentido interpretativo literal da Bíblia se perde no entendimento de sua compreensão. Por isso, devemos buscar estudar a Bíblia didaticamente, separando a mensagem da Primeira Revelação e Segunda ou Novo Testamento, até chegar a mensagem de Jesus, analisando e procurando conhecer todos os fatores que envolveram a sua origem. A Bíblia é uma biblioteca com 73 livros com autores diferentes e escritos em épocas diferentes. Por isso, necessitamos conhecer a origem de cada livro, sua história e suas mensagens. Separar cada livro pelo nome e, antes de explorá-lo, ter respostas para as questões: Quando ele foi escrito? Por quem foi escrito? Para quem foi escrito? Qual o objetivo do livro?

O nosso canal com Deus é feito pela mente e pelo coração. Por isso, aconselhamos o estudo do livro A gênese, de Alan Kardec. E, depois de cada leitura, criar o hábito de reflexão, procurando sintonia espiritual e um coração voltado para o Cristo. Ele irá nos assistir sempre.

Como o senhor vê as interpretações dos castigos nos textos sagrados?

Deus é infinitamente misericordioso, justo e bom. Ele não premia nem castiga. Nós somos submetidos à lei de “causa e efeito” que a tudo rege. Jesus nos fala em Mateus 16:27 “que o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará, a cada um, segundo as suas obras”. 

Existem inúmeras passagens bíblicas que se referem à colheita daquilo que plantamos, desde o Levítico 5:17: “E, se alguma pessoa pecar e fizer contra algum de todos os mandamentos do Senhor o que se não deve fazer, ainda que o não soubesse, contudo, será ela culpada e levará a sua iniquidade”. No Deuteronômio 8:5, que fala: “Confessa, pois, no teu coração que, como um homem castiga a seu filho, assim te castiga o Senhor, teu Deus”. Passando pelo livro de Jó 5:17: “Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus castiga; não desprezes, pois, o castigo do Todo-Poderoso”. Estes princípios de causa e efeito se encontram em muitas passagens da Bíblia. Considerar e entender estas passagens dos textos bíblicos como castigos de Deus são interpretações dos que não entenderam ainda, a lei de causa e efeito, de que todos nós colhemos o que plantamos.

Podemos dizer que as verdades trazidas, por exemplo, no Velho Testamento já estariam superadas com o advento do espiritismo?

Nunca. As verdades trazidas pela Primeira Aliança ou Velho Testamento ainda estão perfeitamente vigentes, aplicáveis à realidade de hoje. Acrescente-se que os Dez Mandamentos são ensinos morais e não religiosos, são ensinos universais. Se a humanidade houvesse praticado e ainda praticasse os ensinamentos de Moisés, contidos nos Dez Mandamentos, provavelmente não teria havido necessidade da vinda de Jesus entre nós, pois já estaríamos redimidos.

Lamentamos quando ouvimos alguns irmãos da doutrina espírita afirmarem que da Bíblia só devemos considerar o Novo Testamento. Esta afirmativa nega o que afirmam Jesus, Kardec e o Espírito da Verdade. Jesus jurou fidelidade à Torá e aos profetas (Mateus 5:17-19), afirmando que não passará nada da Torá sem que tudo seja cumprido, e ainda lamenta os que alteram o seu significado. Allan Kardec fala nos comentários da questão 59 de O livro dos espíritos que a Bíblia não contém erros, nós que nos equivocamos ao interpretá-la. No primeiro capítulo de O evangelho segundo o espiritismo, “Eu não vim destruir a Lei”, enumera todo o conteúdo dos Dez Mandamentos e acrescenta que eles representam a lei de todos os tempos e de todos os países e que têm por isso mesmo um caráter divino. Também dedica ainda o capítulo 14 ao tema “Honrai vosso pai e vossa mãe”, que é uma recomendação que se encontra no Êxodo 20:12. E, no capítulo 6, item 12, ainda recorre ao ensino do profeta Isaías e do Livro de Jó. O Espírito da Verdade, na questão 275 de O livro dos espíritos, nos aconselha a ler os Salmos e, na questão 560, se refere ao Eclesiastes. São livros do Velho Testamento. 

Como o senhor concilia em seus estudos: a mística dos textos bíblicos e a razão enaltecida na obra de Kardec?

O Espírito da Verdade nos traz uma informação que auxilia a entender tudo isso. Na questão 627 de O livro dos espíritos, Kardec solicita ao Espírito da Verdade esclarecimentos sobre a necessidade da Revelação Espírita, uma vez que já existia as revelações de Moisés e de Jesus. O Espírito da Verdade esclarece que as revelações anteriores possuíam sentido figurado e parabólico, enquanto a doutrina espírita vinha levantar o véu e tornar compreensível o que até então possuía caráter obscuro e figurado.

Acho perfeitamente conciliáveis os textos bíblicos e a razão que envolve a revelação espírita. As três revelações enviadas por Deus representam etapas distintas da mensagem do Cristo. Cada uma delas tem seu conteúdo específico e compatível com a evolução dos povos da época para quem elas vieram. Elas se completam e não apresentam antagonismos entre si como pensam alguns estudiosos.

Esta conciliação está perfeitamente evidenciada na mensagem do espírito Israelita encerrando o item 9 do primeiro capítulo de O evangelho segundo o espiritismo, quando afirma: “Foi Moisés quem abriu o caminho; Jesus continuou a obra, e o espiritismo a arrematará”.

O que nós, espíritas, podemos fazer para que essa fonte não se esgote e continue na sua pureza inicial?

Devemos procurar reviver os ensinamentos do Evangelho de Jesus em sua cristalinidade e pureza inicial, como eram vividos pelos apóstolos e seguidores cristãos dos primeiros três séculos. Temos uma responsabilidade muito grande de fazer reviver, com gestos e atitudes, o verdadeiro significado do grande legado que existe nos Evangelhos de Jesus. 

Analisando racionalmente seus postulados, podemos afirmar que a doutrina espírita nos torna próximos da realidade espiritual dos Evangelhos do Cristo, como a caridade, a fraternidade, as curas, o perdão e demais princípios e ensinamentos do Cristo. Em nossos ombros, repousa a responsabilidade de praticá-los.

O que o senhor gostaria de ver no movimento espírita com relação a esse aspecto?

A reflexão é sempre muito necessária, diante da história que conhecemos, sobre as traduções da Bíblia, para não nos deixarmos levar por princípios e ensinamentos bíblicos sem base e sem racionalidade. Não acreditem em tudo que lhes disserem. Existem muitos falsos líderes que se colocam na condição de donos da verdade e arrastam muitos. Jesus nos adverte no capítulo 24 do Evangelho de Mateus quando afirma: “Atenção para que ninguém vos engane. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘O Cristo sou eu’, e enganarão a muitos”. Isso está em Mateus 24:4 e 5. Façamos como nos aconselha Paulo aos Tessalonicenses 5:21: “Discerni tudo e ficai com o que é bom”.

E pra finalizar: em que esse discernimento pode nos auxiliar na evolução espiritual?

O discernimento passa por uma série de fatores que necessitam de algumas análises e reflexões. Não importa a religião. Todas elas possuem um código moral que orienta os seus seguidores para a transformação e para serem melhores. A prática do bem está acima da questão religiosa, é algo que está no interior do campo espiritual de cada ser humano. Todo ser humano tem dentro de si a semente do bem. A religião pode ser um grande auxiliar, mas não é o único. Os não religiosos também praticam o bem, a caridade e o amor. O religioso limita e o espiritual liberta. Assim, o amar, o servir e o perdoar fazem mais parte do ser humano do que da religião. Independentemente de qual seja a sua religião, busque sempre a sua transformação moral. 


Eliana Haddad



Fonte:Editora Correio Fraterno
https://correio.news/entrevista/os-textos-biblicos-e-a-revelacao-espirita
Fonte da Gravura: Pixabay

A IMITAÇÃO DE CRISTO (UM ESTUDO TEOSÓFICO)

  Estátua de Tomás de Kempis (1380-1471), situada na cidade em que nasceu.



Um Estudo Teosófico Sobre Obra Clássica

A Teosofia tem as suas maneiras próprias de identificar a sabedoria eterna presente nos ensinamentos cristãos, resgatando-a da letra morta do ritualismo e da crença cega. 

Como um pequeno exemplo prático desse fato, apresentamos a seguir 34 fragmentos do livro clássico “Imitação de Cristo” [1].  Os Comentários visam decodificar estas passagens, liberando-as da forma exterior e revelando suas ideias internas, que fazem parte da visão teosófica da vida.

O autor de “Imitação de Cristo”, Tomás de Kempis (1380-1471), foi educado pela Irmandade da Vida em Comum e mais tarde se tornou membro dela. A esta Irmandade pertenceu também o cardeal e filósofo Nicolau de Cusa (1400-1464). [2]  De acordo com Helena Blavatsky, Cusa foi um adepto e um precursor do movimento teosófico moderno. [3]

Os três primeiros Livros de “Imitação de Cristo” equivalem a um tratado de filosofia estoica, colocado sob uma roupagem cristã: daí a sua importância em teosofia. O quarto Livro ou quarta parte da obra, porém, não se harmoniza com o resto do conteúdo. Parece algo alheio. Poderia ter sido escrito para escapar da perseguição do Vaticano.

Há algumas “chaves de leitura” para o texto de “Imitação”.  Em geral é correto ler a palavra “Deus” como significando “Lei Universal”. Em alguns casos, porém – como no caso da relação pessoal com Deus – o termo designa o próprio eu superior ou alma eterna do ser humano, cuja substância é universal.

O termo “cruz” significa “Carma”.

As palavras “Cristo” e “Jesus” são termos lendários que designam o sexto princípio da consciência humana, também conhecido como “eu superior” e “alma espiritual”.

Os 34 fragmentos são apresentados em itálico, em negrito. Ao final de cada um deles são indicados o Livro (ou Parte), o capítulo e o parágrafo a que pertencem.

Um: a Fonte Mais Alta

“A doutrina de Cristo é mais excelente que a de todos os santos (…).” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 2.)

Comentário:

A primeira frase selecionada de “Imitação” significa que devemos ir à fonte mais elevada possível.

Os Evangelhos constituem uma autêntica luz inspiradora, quando lidos adequadamente. Eles contêm um grande número de ensinamentos pitagóricos, judaicos, confucionistas e budistas, e muitos princípios retirados de outras religiões.

No entanto, os ensinamentos de “Cristo” também estão além da literatura. Eles correspondem simbolicamente à “voz do silêncio”, o mantra sem palavras emitido pela própria alma de cada buscador da verdade, em seu aspecto universal e divino.

Dois: um Maná Invisível

“… E quem tiver seu espírito encontrará nela [na doutrina de Cristo] um maná escondido.”  (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 2.)

Comentário:

Nenhuma leitura da letra morta pode ser eficiente em filosofia ou religião. O real significado está oculto, do ponto de vista do mundo das aparências. Portanto o estudo filosófico deve combinar vários níveis de consciência. É necessário decodificar as palavras para ver o ensinamento como um processo vivo e criativo.

Três: a Visão Correta

“Quem quiser compreender e saborear plenamente as palavras de Cristo, é-lhe preciso que procure conformar à dele toda a sua vida.” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 2.)

Comentário:

Para realmente entender a teosofia, devemos testar e aplicar o seu ensinamento na vida diária. O mundo sagrado está potencialmente presente em cada situação. A vida de H.P. Blavatsky – assim como a de outros sábios de diferentes épocas – constitui  uma fonte autorrenovada de orientação e nos inspira.

Quatro: Além das Palavras

“Que te aproveita discutires sabiamente sobre a Santíssima Trindade, se não és humilde, desagradando, assim, a essa mesma Trindade? Na verdade, não são palavras elevadas que fazem o homem justo; mas é a vida virtuosa que o torna agradável a Deus. Prefiro sentir a contrição [arrependimento] dentro de minha alma, a saber defini-la.” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 3.)

Comentário:

“Deus” é a  lei universal, e é a Natureza  em sua totalidade e diversidade absolutas. A Trindade simboliza o mistério da unidade interior que convive com o contraste e diferença externos.  

Nenhuma fala pode ser mais valiosa que a intenção que está na sua origem. Tampouco pode ser muito mais forte que a prática diária da qual emerge.  

Cinco: a Caridade e a Graça

“Se soubesses de cor toda a Bíblia e as sentenças de todos os filósofos, de que te serviria tudo isso sem a caridade e a graça de Deus?” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 3.)

Comentário:

Ainda que você saiba recitar de memória as escrituras religiosas de todos os povos e os ensinamentos de cada filósofo clássico, oriental e ocidental, o fato será inútil se você não perceber a unidade de todos os seres, e não enxergar o seu próprio dever para com a Vida Una da qual você faz parte.

Seis: a Suprema Sabedoria

“Vaidade das vaidades, e tudo é vaidade (Eclesiastes, 1, 2), senão amar a Deus e só a ele servir. A suprema sabedoria é esta: pelo desprezo do mundo tender ao reino dos céus.” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 3.)

Comentário:

Tudo é vaidade, exceto a tarefa de cumprir nosso dever para com nosso eu superior e para com a lei do equilíbrio universal.

Sete: uma Felicidade que Dura Sempre

“Vaidade é, pois, buscar riquezas perecedoras e confiar nelas. Vaidade é também ambicionar honras e desejar posição elevada. Vaidade, seguir os apetites da carne e desejar aquilo pelo que, depois, serás gravemente castigado. Vaidade, desejar longa vida e, entretanto, descuidar-se de que seja boa. Vaidade, só atender à vida presente sem providenciar para a futura. Vaidade, amar o que passa tão rapidamente, e não buscar, pressuroso, a felicidade que sempre dura.” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 4.)

Comentário:

Estar preocupado sobretudo com coisas de curto prazo, e desprezar o futuro de longo prazo – que eu mesmo estou, em grande parte, preparando durante minha encarnação atual -;  isso também é vaidade.

Oito: Buscar o Invisível

“Lembra-te a miúdo do provérbio: ‘Os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir’ (Eclesiastes 1, 8). Portanto, procura desapegar teu coração do amor às coisas visíveis e afeiçoá-lo às invisíveis: pois aqueles que satisfazem seus apetites sensuais mancham a consciência e perdem a graça de Deus.” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 5.)

Comentário:

A verdadeira consciência é a voz sem palavras do nosso eu superior ou alma espiritual.

As palavras “graça de Deus” designam a energia sutil e impessoal do amor cósmico e indicam o sexto princípio da consciência humana. A expressão revela a unidade transcendente dos seres ao mesmo tempo que respeita a sua aparente diversidade. A graça superior está em  todas as partes. Não pertence a alguma divindade específica, muito menos a um deus “pessoal”.

Nove: o Valor do Conhecimento

“Todo homem tem desejo natural de saber; mas que aproveitará a ciência, sem o temor de Deus? Melhor é, por certo, o humilde camponês que serve a Deus, do que o filósofo soberbo que observa o curso dos astros mas se descuida de si mesmo.” (Livro Primeiro, capítulo 2, parág. 1.)

Comentário:

Nosso Criador é o nosso eu superior, que fez com que nascêssemos na presente encarnação, mas também pode ser descrito como a Lei Universal.

Aquele que “teme a Deus”, ou “reverencia o mundo divino”, é quem vive em harmonia com sua própria alma espiritual.

Em teosofia, o astrônomo e o  humilde camponês devem ser a mesma pessoa. Não há oposição entre os dois: o real conhecimento é inseparável da pureza de coração.

Dez: Autoconhecimento

“Aquele que se conhece bem despreza-se e não se compraz em humanos louvores. Se eu soubesse quanto há no mundo, porém me faltasse a caridade, de que me serviria isso perante Deus, que me há de julgar segundo minhas obras?” (Livro Primeiro, capítulo 2, mesmo parág. 1.)

Comentário:

“Desprezar-se” aqui significa desprezar o caminho falso do egoísmo e admitir sinceramente seus erros perante o tribunal da sua própria consciência.

Neste trecho temos um princípio teosófico central. O “deus” que me irá julgar é o meu eu superior. Ao final da minha encarnação atual, ele revisará cada ação feita, estabelecendo as linhas cármicas não só dos meus estados pós-morte, mas do meu próximo nascimento.

Onze: Evitar Distrações

“Renuncia ao desordenado desejo de saber, porque nele há muita distração e ilusão. Os letrados gostam de ser vistos e tidos como sábios. Muitas coisas há cujo conhecimento pouco ou nada aproveita à alma. E muito insensato é quem de outras coisas se ocupa e não das que tocam à sua salvação. As muitas palavras não satisfazem à alma, mas uma palavra boa refrigera [renova] o espírito e uma consciência pura inspira grande confiança em Deus.” (Livro Primeiro, capítulo 2, parág. 2.)

Comentário:

A demonstração externa de santidade ou de erudição não satisfaz à alma. Conforme diz outra versão desta obra (“The Imitation of Christ”, translated by P.G. Zomberg, Dunstan Press), “é a bondade das nossas vidas que traz conforto às nossas mentes”.  E Helena Blavatsky escreveu:

“…A Ética da Teosofia é ainda mais necessária à humanidade do que os aspectos científicos dos fatos psíquicos da natureza e do homem.” [4]

Doze: uma Vida Sagrada

“Quanto mais e melhor souberes, tanto mais rigorosamente serás julgado, se com isso não viveres mais santamente. Não te desvaneças, pois, com qualquer arte ou conhecimento que recebeste.” (Livro Primeiro, capítulo 2, parág. 3.)

Comentário:

O “Dia do Julgamento” é também individual e não necessariamente coletivo,  conforme o pensador português Antônio Vieira explicou no ano de 1652 em um dos seus sermões.[5]

O “julgamento” individual é feito pelo nosso próprio eu superior de acordo com a Lei do Carma e acontece ao final de cada encarnação. Os “julgamentos” coletivos são pontos cármicos de não-retorno na evolução humana e planetária. Eles são examinados no livro “A Doutrina Secreta”, de Helena Blavatsky.

O que fazemos com o nosso suposto conhecimento é a questão-chave para a teosofia autêntica. O conhecimento precisa ser confirmado e validado pela ação correspondente, e esta será necessariamente imperfeita. A ação correta consiste na tentativa sincera de fazer o melhor que podemos. Nossos esforços nesse sentido devem ser corrigidos e renovados periodicamente, à medida que as circunstâncias se alteram. Gradualmente aprendemos a aprender com os erros, e a concentrar a mente e o coração na meta nobre livremente escolhida por nós. 

Treze: Para Aprender o que é Útil

“Se te parece que sabes e entendes bem muitas coisas, lembra-te que é muito mais o que ignoras. ‘Não presumas de alta sabedoria’ (Romanos, 11, 20), antes confessa a tua ignorância. Como tu queres a alguém preferir-te, quando se acham muitos mais doutos do que tu e mais versados na lei? Se queres saber e aprender coisa útil, deseja ser desconhecido e tido por nada.” (Livro Primeiro, capítulo 2, mesmo parág. 3.)

Comentário:

Nossos pensamentos devem ser  honestos e verdadeiros. Seja o que for que disserem os que nem sequer tentam agir com ética e com respeito pela verdade, eles são seres infelizes e estão muito longe do caminho correto. No entanto, merecem nosso respeito impessoal. Colherão o que plantaram, e no futuro terão uma chance de corrigir seus erros.

Devemos ter como objetivo aprender com quem é mais sábio que nós. Não importa se o nosso contato com eles é interno ou externo e se ocorre através de palavras escritas ou sem o uso de palavras. [6] Para viver esta aprendizagem superior, é preciso tratar de ajudar o trabalho das Almas que guiam a humanidade pelo caminho da luz.  

Catorze: Permaneça Vigilante

“Ainda quando vejas alguém pecar publicamente ou cometer faltas graves, nem por isso te deves julgar melhor, pois não sabes quanto tempo poderás perseverar no bem.” (Livro Primeiro, capítulo 2, parág. 4.)

Comentário:

Combata o crime e o egoísmo. Lute ainda mais contra as sementes deles e as suas fontes. Não lave as mãos diante da injustiça de qualquer tipo. Encare a injustiça contra qualquer um como uma injustiça contra o seu pai, a sua mãe ou seu mestre espiritual. Tenha piedade e compaixão diante das pessoas egoístas, mas não aceite as suas ações daninhas. Os desinformados são parte da família humana, assim como você.

Quinze: Não Compare

“Nós todos somos fracos mas a ninguém deves considerar mais fraco que a ti mesmo.” (Livro Primeiro, capítulo 2, mesmo parág. 4.)

Comentário:

Cabe seguir o exemplo dos sábios,  e manter à nossa frente o ideal de progresso e perfeição humanos.

Se parecemos mais fortes do que alguém, isso não tem importância. E se pensarmos que o fato é importante, este pensamento vaidoso mostra fraqueza e ilusão.

Dezesseis:  Ignorando Questões Obscuras

“Bem-aventurado aquele a quem a verdade por si mesma ensina, não por figuras e vozes que passam, mas como em si é. Nossa opinião e nossos juízos muitas vezes nos enganam e pouco alcançam. De que serve a sutil especulação sobre questões misteriosas e obscuras [7], por cuja ignorância não seremos julgados?” (Livro Primeiro, capítulo 3, parág. 1.)

Comentário:

Agir de acordo com a Lei do Equilíbrio é melhor que estar limitado a explicações teóricas. No entanto, combinar as duas coisas é necessário. O lema do movimento teosófico é “Não há religião mais elevada que a verdade”. A Verdade transcende todas as suas descrições verbais, mas os enfoques limitados dela são úteis, quando examinados de modo inteligente.

Dezessete:  Olhar e Não Ver

“Grande loucura é descurarmos as coisas úteis e necessárias, entregando-nos, com avidez, às curiosas e nocivas. Temos olhos para não ver. (Salmo 113, 13)” (Livro Primeiro, capítulo 3, mesmo parág. 1.)

Comentário:

A melhor defesa do peregrino é o cumprimento do seu dever maior.

A compreensão saudável da vida depende de olhar para ela desde um ponto de vista correto, e é a prática do altruísmo que garante isso. As mentes egoístas distorcem tudo o que olham: a verdadeira inteligência é universal.   

Dezoito: o Coração Firme na Paz

“Aquele a quem fala o Verbo eterno se desembaraça de muitas questões. Desse Verbo único procedem todas as coisas e todas o proclamam e esse é o princípio que também nos fala (João 8, 25). Sem ele não há entendimento nem reto juízo. Quem acha tudo neste Único, e tudo a ele refere e tudo nele vê, poderá ter o coração firme e permanecer em paz com Deus.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parág. 2.)

Comentário:

O trecho inteiro ressoa em harmonia com os escritos de H. P. Blavatsky. 

O Verbo é o “Som” primordial, o Mantra da manifestação universal, a Música das Esferas.

Dezenove:  Silêncio e Verdade

“Ó Deus de verdade, fazei-me um convosco na eterna caridade! Enfastia-me, muita vez, ler e ouvir tantas coisas; pois em vós acho tudo quanto quero e desejo. Calem-se todos os doutores, emudeçam todas as criaturas em vossa presença; falai-me vós só.” (Livro Primeiro, capítulo 3, mesmo parág. 2.)

Comentário:

A personalização simbólica do universo e de suas leis deve ser aceita como um processo cultural que ocorre em todas as nações ao redor do mundo, e como uma forma de codificar e registrar o  Mistério inefável. A tradição esotérica ensina como interpretar as lendas relacionadas a Zeus e Saturno, ao deus cristão, ao Brahman e ao Parabrahman hindus, aos Imortais taoistas, e assim por diante.

Quando a crença cega predomina, algo é considerado verdade porque “deus”,  ou o Cristo, ou algum profeta ou guru diz que é verdade. Em filosofia, ocorre o contrário. Algo não é verdade porque um sábio afirma que é,  mas o sábio diz que algo é verdadeiro porque essa é a verdade.

O verdadeiro Mestre nunca se coloca acima da lei ou da verdade, mas trabalha humildemente a serviço delas.  

Vinte: Recolhimento Traz Compreensão

“Quanto mais recolhido for cada um e mais simples de coração, tanto mais sublimes coisas entenderá sem esforço, porque do alto recebe a luz da inteligência.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parág. 3.)

Comentário:

Este ensinamento é parte da teosofia original de Helena Blavatsky e dos Mestres de Sabedoria.

Vinte e Um: o Espírito Puro

“O espírito puro, singelo e constante não se distrai no meio de múltiplas ocupações porque faz tudo para honra de Deus, sem buscar em coisa alguma o seu próprio interesse. O que mais te impede e perturba do que os afetos imortificados do teu coração? O homem bom e piedoso ordena primeiro no seu interior as obras exteriores; nem estas o arrasam aos impulsos de alguma inclinação viciosa, senão que as submete ao arbítrio da reta razão.” (Livro Primeiro, capítulo 3, mesmo parág. 3.)

Comentário:

Nosso “Deus” ou “Senhor” é anônimo: é o nosso eu superior, e a ele devemos lealdade.  

Vinte e Dois: Enxergando as Nossas Fraquezas

“Que mais rude combate haverá do que procurar vencer-se a si mesmo? E este deveria ser nosso empenho: vencermo-nos a nós mesmos, tornarmo-nos cada dia mais fortes e progredirmos no bem.”

“Toda a perfeição, nesta vida, é mesclada de alguma imperfeição, e todas as nossas luzes são misturadas de sombras. O humilde conhecimento de ti mesmo é caminho mais certo para Deus que as profundas pesquisas da ciência.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parágrafos 3 e 4.)

Comentário:

O cristianismo que gira em torno de rituais não oferece um caminho para o esclarecimento e a iluminação. O estudo da letra morta das escrituras é inútil, e a advertência inclui os escritos teosóficos. Para trilhar o caminho que leva à Verdade é necessário fazer pesquisas independentes, com um coração humilde e observando calmamente nossas próprias fraquezas.   

Vinte e Três: a Vida Virtuosa

“Não é reprovável a ciência ou qualquer outro conhecimento das coisas, pois é boa em si e ordenada por Deus; sempre, porém, devemos preferir-lhe a boa consciência e a vida virtuosa. Muitos, porém, estudam mais para saber, que para bem viver; por isso erram a miúdo e pouco ou nenhum fruto colhem.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parág. 4.)

Comentário:

O propósito da vida é aprender. No entanto cada porção de conhecimento que obtemos vem até nós com uma inevitável quota de  deveres éticos.

Cabe examinar cuidadosamente para que usamos o conhecimento. Porque só um coração honesto, ao buscar metas nobres, sabe usar o conhecimento de maneira correta e está à altura das informações mais amplas sobre a vida.  

Vinte e Quatro: a Pergunta Que Será Feita

“Ah! se se empregasse tanta diligência em extirpar vícios e implantar virtudes como em ventilar questões, não haveria tantos males e escândalos no povo, nem tanta relaxação nos claustros. De certo, no dia do juízo não se nos perguntará o que lemos, mas o que fizemos; nem quão bem temos falado, mas quão honestamente temos vivido.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parág. 5.)

Comentário:

O cristianismo místico sempre teve uma relação difícil com as igrejas autoritárias.

Um exemplo disso, entre milhares, é o fato de que Geert de Groote – o fundador da Irmandade da Vida em Comum da qual fazia parte Tomás de Kempis -, denunciou e combateu os abusos sacerdotais. [8]

Vinte e Cinco: o Verdadeiro Sábio

“Dize-me: onde estão agora todos aqueles senhores e mestres que bem conheceste, quando viviam e floresciam nas escolas? Já outros possuem suas prebendas [posições de prestígio], e nem sei se porventura deles se lembram. Em vida pareciam valer alguma coisa, e hoje ninguém deles fala.”

“Oh! como passa depressa a glória do mundo! Oxalá a sua vida tenha correspondido à sua ciência; porque, destarte, terão lido e estudado com fruto. Quantos, neste mundo, descuidados do serviço de Deus, se perdem por uma ciência vã! E porque antes querem ser grandes que humildes, se esvaecem em seus pensamentos (Romanos 1, 21). Verdadeiramente grande é aquele que tem grande caridade. Verdadeiramente grande é aquele que a seus olhos é pequeno e avalia em nada as maiores honras. Verdadeiramente prudente é quem considera como lodo tudo o que é terreno, para ganhar a Cristo (Filipenses 3, 8). E verdadeiramente sábio é aquele que faz a vontade de Deus e renuncia à própria vontade.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parágrafos 5 e 6.)

Comentário:

A “vontade de Deus” é o propósito da nossa alma espiritual; “Cristo” simboliza a consciência cósmica.

Vinte e Seis: Independência e Autorresponsabilidade

“Não se há de dar crédito a toda palavra nem a qualquer impressão, mas cautelosa e naturalmente se deve, diante de Deus, ponderar as coisas.”  (Livro Primeiro, capítulo 4, parág. 1.)

Comentário:

Com a exceção da palavra “Deus”,  esta ideia pertence literalmente às filosofias de todos os povos, incluindo o budismo, o pitagorismo e a teosofia.

Vinte e Sete:  Evite Falar Mal dos Outros

“Mas ai! que mais facilmente acreditamos e dizemos dos outros o mal que o bem, tal é a nossa fraqueza. As almas perfeitas, porém, não creem levianamente em qualquer coisa que se lhes conta, pois conhecem a fraqueza humana inclinada ao mal e fácil de pecar por palavras.”

“Grande sabedoria  é não ser precipitado nas ações, nem aferrado obstinadamente à sua própria opinião; sabedoria é também não acreditar em tudo que nos dizem, nem comunicar logo a outros o que ouvimos ou suspeitamos.” (Livro Primeiro, capítulo 4, parágrafos 1 e 2.)

Comentário:

Este ensinamento é teosófico e H. P. Blavatsky fez afirmações semelhantes.

Vinte e Oito: Prudência e Humildade

“Toma conselho com um varão sábio e consciencioso, e procura antes ser instruído por outrem, melhor que tu, que seguir teu próprio parecer. A vida virtuosa faz o homem sábio diante de Deus e entendido em muitas coisas. Quanto mais humilde for cada um em si e mais sujeito a Deus, tanto mais prudente será e calmo em tudo.” (Livro Primeiro, capítulo 4, parágrafo 2.)

Comentário:

Entre  os degraus da Escada de Ouro dos ensinamentos teosóficos, podemos ver  os seguintes:

“Afeto fraternal para com seu codiscípulo; presteza para dar e receber conselho e instrução; leal senso de dever para com o Instrutor…”. [9]

Os sábios ensinam que a ajuda mútua  é essencial na busca da verdade.

Vinte e Nove:  o Amor à Verdade

“Nas Sagradas Escrituras devemos buscar a verdade, e não a eloquência. Todo livro sagrado deve ser lido com o mesmo espírito que o ditou. Nas Escrituras devemos antes buscar nosso proveito que a sutileza de linguagem. Tão grata nos deve ser a leitura dos livros simples e piedosos, como a dos sublimes e profundos. Não te mova a autoridade do escritor, se é ou não de grandes conhecimentos literários; ao contrário, lê com puro amor a  verdade. Não procures saber quem o disse;  mas considera o que se diz.” (Livro Primeiro, capítulo 5, parág. 1.)

Comentário:

A ideia de Sagradas Escrituras inclui os livros clássicos que pertencem às  religiões e filosofias de todos os povos e todos os tempos, desde o Manuscrito Huarochirí,  dos Andes, até o “Popol Vuh” da América Central e “A Doutrina Secreta”, publicada no século 19. 

Deve-se ler os livros sobre sabedoria divina desde  o ponto de vista do coração e de acordo com a afinidade interior.

Trinta: a Verdade Fala de Muitos Modos

“Os homens passam, mas a verdade do Senhor permanece eternamente (Salmo 116, 2). De vários modos nos fala Deus, sem acepção de pessoas.” (Livro Primeiro, capítulo 5, parág. 2.)

Comentário:

A anônima Lei Universal fala para nós de muitas maneiras.

Um Mestre de Sabedoria escreveu para uma discípula leiga: “Trate, filha, de aprender uma lição através de quem quer que seja que ela estiver sendo dada. ‘Até mesmo as pedras podem pregar sermões’.” [10]

A independência é fundamental, e o Buddha ensinou:

“Não se deixem desorientar por relatos, por tradição ou por ouvir dizer. Não se deixem desorientar pelo conhecimento das Coleções (de Escrituras), nem por mera lógica e inferência, nem pela consideração de razões, nem pela reflexão sobre algum ponto de vista e pela aprovação dele, nem pela conveniência, nem pelo fato de o recluso (que defende o ponto de vista) ser o seu instrutor. Mas quando vocês souberem por si mesmos: ‘Estas coisas não são boas, estas coisas são erradas, estas coisas são censuradas pelos inteligentes, estas coisas, quando realizadas e colocadas em prática, conduzem à perda e ao sofrimento’ – então as rejeitem.” [11]

Trinta e Um: Lê com Humildade

“A nossa curiosidade nos embaraça, muitas vezes, na leitura das Escrituras; porque queremos compreender e discutir o que se devia passar singelamente. Se queres tirar proveito, lê com humildade, simplicidade e fé, sem cuidar jamais do renome do letrado.”

“Pergunta de boa vontade e ouve calado as palavras dos santos; nem te desagradem as sentenças dos velhos, porque eles não falam sem razão.” (Livro Primeiro, capítulo 5, mesmo parág. 2.)

Comentário:

Lê os escritos dos homens e mulheres sábios de todos os tempos.

Escuta os teus codiscípulos, porque eles são corresponsáveis pelo teu bem-estar espiritual,  e a responsabilidade é mútua. Podes aprender com as ações corretas deles, e também podes aprender com os erros deles, assim como eles aprendem com os teus erros e teus acertos.

Trinta e Dois: Aceita a Paz

“Todas as vezes que o homem deseja alguma coisa desordenadamente, torna-se logo inquieto. O soberbo e o avarento nunca sossegam; entretanto, o pobre e o humilde de espírito vivem em muita paz. O homem que não é perfeitamente mortificado facilmente é tentado e vencido, até em coisas pequenas e insignificantes. O homem espiritual, ainda um tanto carnal e propenso à sensualidade, só a muito custo poderá desprender-se de todos os desejos terrenos. Daí a sua frequente tristeza, quando deles se abstém, e fácil irritação, quando alguém o contraria.”

“Se, porém, alcança o que desejava, sente logo o remorso da consciência, porque obedeceu à sua paixão, que nada vale para alcançar a paz que almejava. Em resistir, pois, às paixões, se acha a verdadeira paz do coração, e não em segui-las. Não há portanto, paz no coração do homem carnal, nem no do homem entregue às coisas externas, mas somente no daquele que é fervoroso e espiritual.” (Livro Primeiro, capítulo 6, parágrafos 1 e 2.)

Comentário:

O estudante bem informado mantém uma busca constante do ideal de progresso e perfeição  humanos, e faz experiências práticas de desapego em relação às coisas terrenas.

O peregrino evita dois extremos.

Ele não deve obedecer cegamente aos apetites inferiores; de outro lado, é inútil seguir um tipo de disciplina que gera um excesso de conflitos neuróticos. O equilíbrio é essencial. O esforço é de longo prazo, e cada um deve ser o seu próprio mestre e discípulo.

Há também marés cármicas, que devem ser observadas e compreendidas nesse esforço de uma vida inteira.

Uma vez que o peregrino compreende verdades universais, os desejos do eu inferior perdem força  gradualmente. A disciplina diária, o estudo e a contemplação da lei universal destroem pouco a pouco as raízes do egocentrismo no eu inferior do estudante.  

O alicerce da autodisciplina vitoriosa está na compreensão da nossa interconexão pessoal com o Cosmo inteiro. Quando o horizonte individual inclui  o horizonte da galáxia, fica mais fácil aceitar a paz e a vida humilde no plano físico.

Trinta e Três: Vive Como um Pobre

“Insensato é quem põe sua esperança nos homens ou nas criaturas. Não te envergonhes de servir a outrem por Jesus Cristo, e ser tido como pobre neste mundo.” (Livro Primeiro, capítulo 7, parág. 1.)

Comentário:

A ideia de que alguém não deve ter vergonha de servir a outrem pelo bem da sua própria alma espiritual  está presente em religiões mais antigas que o cristianismo.

Nos Vedas, por exemplo, o Brhad-aranyaka Upanixade afirma:

“Não é pelo marido em si que o marido é amado, mas é pela presença do Ser [a inteligência universal] no marido, que o marido é amado. Não é pela esposa em si que a esposa é amada, mas é pela presença do Ser [a inteligência universal]  na esposa, que a esposa é amada. Não é pelos filhos em si mesmos que os filhos são amados, mas é pela presença do Ser [a inteligência universal] nos filhos, que os filhos são amados.” [12]

Há uma dimensão impessoal e divina nos afetos humanos,  da qual podemos tornar-nos plenamente conscientes.

Trinta e Quatro: Faze o que Está a Teu Alcance

“Não confies em ti mesmo, mas põe em Deus [a Lei] tua esperança. Faze de tua parte o que puderes, e Deus [a Lei] ajudará tua boa vontade. Não confies em tua ciência, nem na sagacidade de qualquer vivente, mas antes na graça de Deus [a Lei], que ajuda os humildes e abate os presunçosos.”  (Livro Primeiro, capítulo 7, mesmo parág. 1.)

Comentário:

A renúncia ao desejo pessoal conduz a uma vida de simplicidade voluntária, na qual a ética e a sabedoria são possíveis.

A justiça é imparcial, e um dos Mahatmas dos Himalaias escreveu que, para os raja-iogues, “um lustrador de botas honesto é tão bom quanto um rei honesto, e […] um varredor de ruas imoral é muito melhor e mais desculpável do que um imperador imoral.” [13]

A recomendação “faze de tua parte o que puderes…” expressa a principal ideia dos ensinamentos de Epicteto. Ao cumprir o seu dever espiritual interno, o peregrino  evita desperdiçar energias com o que não depende dele. Focando a atenção no que lhe diz respeito, ele aprende a cooperar não só com o seu próprio eu superior, mas com outros seres, mais experientes e mais avançados.




Carlos Cardoso Aveline


Fonte do Texto e da Gravura: FilosofiaEsotérica
https://www.filosofiaesoterica.com/a-imitacao-de-cristo/



NOTAS:

[1] “Imitação de Cristo”, Tomás de Kempis, Ed. Vozes, Petrópolis, vigésima-oitava edição, 1993, 277 pp.  O livro tem numerosas edições em português, inclusive da editora Ediouro (1968), em que o nome de autor aparece como Thomas A. Kempis; da Editora Ave-Maria Ltda. (SP, 1928), em que não há nome de autor; e da Livraria Editora Francisco Alves, RJ, 1898, traduzido em versos por Affonso Celso e com 620 páginas. O livro, o capítulo e o parágrafo de cada citação são mencionados entre parênteses no seu final.  Edições em inglês da obra incluem: “The Imitation of Christ”, translated by P.G. Zomber, Dunstan Press, Maine, USA, copyright 1984, 250 pp.;  “Of the Imitation of Christ”, by Thomas à Kempis, Whitaker House, USA, 1981, 256 pp.; “The Inner Life”, Penguin Books, 2004, translated by Leo Sherley-Price, 108 pp.; e “The Imitation of Christ”, Thomas A. Kempis, translated by George F. Maine, published by Collins Sons, 1957, London and Glasgow, 1957, 280 pp.

[2] “A Concise Encyclopedia of Christianity”, Geoffrey Parrinder, itens “Brethren of the Common Life”, “Kempis, Thomas à”,  e “Nicholas of Cusa”.

[3] Sobre Nicolau de Cusa, veja em nossos websites o artigo “Reencarnação Consciente e Imediata”.  Examine também “Collected Writings”, H. P. Blavatsky, TPH, vol. XIV, pp. 377-378. Leia os itens “Nicholas of Cusa” e “Brethren of the Common Life”, conforme as indicações dadas na Nota 2, acima.  Cabe ter presente o fato de que H.P. Blavatsky escreve, em “Ísis Sem Véu”, Ed. Pensamento, volume III, p. 29:   “A Magia, em todos os seus aspectos, foi amplamente e quase abertamente praticada pelo clero até a Reforma.” De posse destas informações, fica mais fácil compreender por que a mística cristã, incluindo o franciscanismo, tem até hoje elementos teosóficos importantes.

[4] “Five Messages”, H. P. Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles, 1922, Second message, p. 12. O livreto está disponível  em nossos websites. Para vê-lo, basta clicar aqui.  

[5] Padre Antônio Vieira, “Sermões”, Editora das Américas, SP, volume IV, 1957, 441 pp., ver por exemplo pp. 28-40.

[6] Um tal contato frequentemente inclui as palavras escritas de ensinamentos clássicos  e uma inspiração silenciosa em níveis superiores de percepção.

[7] Uma das melhores edições em inglês desta obra, preparada por P.G. Zomber (ver nota 1, acima), usa a expressão “coisas esotéricas”, “esoteric things” (p. 6).

[8] Veja “A Concise Encyclopedia of Christianity”, Geoffrey Parrinder, item “Brethren of the Common Life”, p. 48.

[9] Examine o artigo “Comentários à Escada de Ouro”.

[10]  “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília, 1996, ver p. 147, segunda carta para Laura C. Holloway.

[11] “The Wisdom of Buddhism”, Edited by Christmas Humphreys, Curzon-Humanities, London, UK, 1987, 280 pp., p. 71. 

[12] “The Principal Upanisads”, Edited with Notes by S. Radhakrishnan, London: George Allen & Unwin Ltd; New York: Humanities Press Inc., 1974, 958 pp., ver p. 197.

[13] “Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, Brasília, volume I, Carta 29, p. 158.