sexta-feira, 28 de março de 2025

DO FAZER A SER


A meditação é um processo de aprendizagem, mas quase todos os processos de aprendizagem envolvem fazer alguma coisa. Com a meditação você não aprende a fazer algo, você aprende a ser. É aprender a ser você mesmo e entrar na dádiva do seu próprio ser. Você entenderá isso de uma forma muito clara e muito segura. Outra forma de dizer isso é que com a meditação você aprende a aceitar a dádiva do seu ser, da sua criação. Estar em harmonia consigo mesmo e com a sua criação contínua é estar em harmonia com toda a criação e com o seu Criador.

Uma das coisas que aprendemos na meditação é priorizar o ser em vez do fazer. Na verdade, nenhuma ação tem sentido, ou significado profundo, se não surgir do nosso ser, da profundidade do nosso ser. Por isso a meditação é um caminho que nos leva à profundidade do nosso ser. Por esta razão a meditação nos leva da superfície para a profundidade. Aprender a ser é aprender a viver plenamente. Este é o nosso convite. Está convidando você a aprender a ser uma pessoa plena. A verdade misteriosa da revelação cristã é que, à medida que vivemos plenamente, vivemos as consequências eternas da nossa criação. Deixamos de viver como se estivéssemos esgotando um recurso vital limitado que recebemos quando nascemos. O que aprendemos com o ensinamento de Jesus é que nos tornamos infinitamente cheios de vida quando estamos com a fonte da vida e quando entramos plenamente em união com nosso Criador, Aquele que É, o Deus que é descrito como 'Aquele que 'Eu Sou'.

A arte de viver, de viver a vida ao máximo, é viver na renovação eterna da nossa origem a partir do nosso centro, o que significa que vivemos a partir do espírito que deriva da mão criativa de Deus. O que é terrível na vida moderna e materialista é que ela é tão superficial que carece do profundo reconhecimento e das possibilidades que cada um de nós tem. Perceberíamos isso se ao menos reservarmos um tempo para realizar a disciplina da meditação. A disciplina consiste em sentar-se para meditar e durante o período de meditação repetir sua palavra (mantra)* do começo ao fim, todas as manhãs e todas as noites.

Na visão da Igreja, somos conduzidos à fonte do nosso ser por um guia, e o nosso guia é Jesus, o homem plenamente realizado, o homem totalmente aberto a Deus. Com a nossa meditação diária reconheceremos o nosso guia. Por isso, este caminho cristão é um caminho de fé. Ao chegarmos ao centro do nosso ser, entrando no nosso coração, descobrimos que o nosso guia nos recebe, quem nos guia nos recebe. Somos acolhidos por aquele que nos chama pessoalmente à nossa plenitude de vida – harmonia, unidade e energia, uma energia divina que encontramos no nosso próprio coração, no nosso próprio espírito. Essa é a energia de toda a criação. Como disse Jesus, é a energia do Amor.

Esta é uma visão determinante e devemos aprender, como vos digo, a ser simples e humildes na nossa maneira de a alcançar. A simplicidade e a humildade que aprendemos repetindo a nossa palavra (mantra)* do princípio ao fim, com paciência e fidelidade, com coragem e com Amor.


Fr. John Main, OSB



Fonte: do livro "Momento de Cristo"
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/yoga-buda-divindade-shiva-agua-386611/

Para mais detalhes ver:

* CAMINHO DO MANTRA: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2022/09/mantra-duas-maneiras-de-ser-particula-e.html

* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

* Mantra, aqui neste contexto, é uma ou mais palavras, numa determinada língua, que tenha algum significado na condução da nossa meditação.

quarta-feira, 26 de março de 2025

FAÇA E SEJA


A história de Marta e Maria no Evangelho de São Lucas (Lc 10, 32-42) ilustra muito bem a importância da integração do fazer e do ser, da relação entre ação e contemplação. Marta representa a vida ativa e ocupada que todos levamos todos os dias com as múltiplas exigências do trabalho, das amizades e das relações sociais.

Quem não se sentiu incomodado em algum momento, quando outros estão servindo convidados ou quando vê que outros podem passar um tempo meditando e, em vez de se juntar a eles, continuar preparando comida para compartilhar mais tarde?

Maria representa a dimensão contemplativa do nosso ser: meditar, ouvir atenta e profundamente o Cristo interior, na oração ou no encontro com Ele numa leitura descontraída das Escrituras (Lectio Divina).

Esta história do evangelho simboliza de certa forma quem somos. Ação e contemplação são duas faces do nosso ser. Somos ambas: Marta e Maria. Quando estamos tão ocupados e reclamamos que não temos tempo para meditar, então Marta assume o controle e se dedica às tarefas e obrigações diárias que temos.

Quando paramos as nossas tarefas para nos dedicarmos integralmente à oração, à meditação, à escuta profunda e atenta do nosso ser interior, então queremos ser apenas Maria. Mas não podemos ser exclusivamente um deles, porque somos os dois ao mesmo tempo. Mesmo quando vivemos em comunidade, ambas as dimensões coexistem, pois rezamos e trabalhamos: “ora et labora” como estabelece a regra da Ordem Beneditina e como realmente deveria ser, a regra da nossa vida.

O trabalho da Marta é muito valioso porque ela se esforça para ter tudo preparado, a comida pronta para compartilhar e tudo limpo e arrumado. Mas, ao abordá-lo a partir do ressentimento, perde de vista o direito de existir da outra metade da sua alma: a escuta atenta e profunda de Maria. E Jesus a lembra, dizendo: “Marta, Marta, você se preocupa e se preocupa com tantas coisas”.

E nos perguntamos: não é exatamente isso que fazemos em muitas ocasiões? É nesses momentos que devemos nos lembrar da nossa dimensão contemplativa e cumprir as nossas obrigações com toda a atenção e dedicação, em vez de reclamar e cumpri-las com relutância.

Se pudéssemos fazer o que temos que fazer a partir da consciência do centro mais profundo do nosso ser, onde residem a compaixão e o amor pelos outros, estaríamos integrando os dois lados do nosso ser: ação e contemplação, Marta e Maria.

Quem reclama é o nosso ego com sua necessidade excessiva de estima, com seu desejo constante de receber elogios e culpar os outros. Porém, o que precisamos é conseguir a aceitação e a integração de ambos os lados do nosso ser: às vezes temos que ser Marta, mas também podemos ser Maria noutros momentos. Ambas as dimensões são essenciais e se complementam. Na vida de Jesus, vemos esse maravilhoso equilíbrio entre ação e contemplação. Jesus percorria as aldeias pregando o evangelho e curando os enfermos, e também muitas vezes retirava-se para um lugar tranquilo para orar em silêncio: “Naquele tempo, Jesus subiu ao monte para orar e passou a noite orando a Deus”.

Atualmente, grande parte da vida da Igreja centra-se na dimensão de Marta e muitos até se esquecem da obra pela qual Maria é elogiada por Jesus. É muito importante “fazer”, cuidar dos outros, orar através de orações de louvor, petição, intercessão, ação de graças, todos os tipos de oração são valiosos e importantes. Contudo, o trabalho de Maria, a oração silenciosa, a escuta profunda, a contemplação, parece ter sido relegado aos poucos monges e monjas atraídos por esta forma de ser.

Esta foi a grande missão de John Main e que Laurence Freeman continua a difundir: fazer com que o cristão comum se reconecte com a antiga tradição da oração contemplativa que remonta aos ensinamentos de Jesus.

Em 2007, a Comunidade Mundial para a Meditação Cristã recebeu o reconhecimento canônico do Vaticano como Comunidade Ecumênica Contemplativa, reconhecendo assim a importância e o valor da obra de Maria, da nossa dimensão contemplativa.


Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/ai-gerado-monge-t%C3%AAmpora-brilho-8621901/

Para mais detalhes ver:

* CAMINHO DO MANTRA: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2022/09/mantra-duas-maneiras-de-ser-particula-e.html

* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

INFLUÊNCIA DOS PENSAMENTOS E EMOÇÕES NOS NOSSOS CORPOS


Muitas pessoas já se aperceberam da influência dos seus pensamentos e dos seus sentimentos no funcionamento do seu organismo. Mas, na maioria das vezes, só a observaram nos casos de pensamentos e sentimentos negativos, como o ódio, a cólera, o medo, a angústia ou as emoções causadas por uma má notícia: as secreções glandulares ficam perturbadas e elas sentem-se envenenadas. As pessoas sabem que as emoções negativas deterioram a saúde, mas quantas se esforçam por evitá-las, para melhorarem o seu estado psíquico? E quantas decidem manter conscientemente estados de consciência positivos? No entanto, é muito fácil compreender que, na mesma medida em que se foi envenenado por pensamentos ou sentimentos inferiores, se será libertado, reforçado, vivificado e ressuscitado quando se trabalha com pensamentos e sentimentos luminosos, divinos.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/emoticons-emo%C3%A7%C3%B5es-smilies-rostos-154050/

terça-feira, 25 de março de 2025

O DESERTO DA QUARESMA


Que jejum melhor do que permanecer contigo, Senhor, no presente? Fazendo o que se deve fazer conforme o dever, em cada momento, a vida se torna simples e perde pretensões. Paramos de ser atraídos por algo diferente do que existe. Este é um deserto exemplar. É suave, plano, sóbrio como água pura que é bebida por necessidade.

Que coisa maravilhosa será atravessar o deserto quaresmal, esse lugar físico e ao mesmo tempo simbólico onde tantas batalhas foram travadas. Ali Jesus, o Cristo, transcendeu as tentações arquetípicas do homem. Lá, milhares de monges e eremitas fortaleciam seus espíritos por meio da vigilância, da sobriedade e da oração persistente que se tornava incessante. Foi lá que Charles de Foucauld dedicou sua vida à busca de viver em coerência radical com o mestre de Nazaré.

É possível atravessar o deserto quaresmal em meio a cidades tumultuadas, miragens vãs mas sedutoras, para ir além das promessas de papelão, dos desejos adquiridos e superficiais? O deserto está aqui agora se eu ficar onde estou, fazendo o que tenho que fazer, deixando as divagações e colocando nesse deserto minhas invocações. Persistirei no que me deres, sem colori-lo com fantasia, com projetos distantes, com imagens de mim mesmo. Descartando o passado, certamente ignorando o futuro, render-me-ei ao presente, que é o outro nome da tua vontade.


El Santo Nombre



Fonte: Blog El Santo Nome
https://elsantonombre.org
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/photos/tree-nature-cross-crucifix-faith-7038021/