domingo, 6 de setembro de 2020

ILUMINAÇÃO PELO CAMINHO DAS TREVAS


[…] Liberto de tudo o que é visto e de tudo o que vê, penetra na treva do não-conhecimento, a treva autenticamente mística e, renunciando às percepções intelectivas, chega à total intangibilidade e invisibilidade; entrega-se inteiramente ao que está acima de tudo e de nada (e não é ele próprio nem outro), unindo-se da forma mais perfeita ao que é completamente incognoscível mediante a total inatividade do conhecimento, conhecendo além do espírito graças ao ato de nada conhecer […] (Areopagita)

Chegar a esta treva mais que luminosa é o que suplicamos e, pela privação da visão e pelo não-conhecimento, ver e conhecer Aquele que está acima da contemplação e do conhecimento, precisamente pelo ato de não ver nem conhecer – nisto consiste, de fato, a verdadeira observação e conhecimento -, e celebrar Aquele que é mais que substancial de um modo mais que substancial, pela aférese* sistemática das coisas existentes; tal o artista que esculpe uma estátua ao natural, desbastando todas as excrescências que entravam a contemplação pura da figura oculta, e apenas mediante essa aférese faz aparecer a formosura escondida tal como ela é em si mesma.

... "treva de silêncio, mais que luminosa... que na maior obscuridade é mais que manifesta, mais que brilhante e completamente intangível e invisível…". A ela se chega – lê-se – pelo distanciamento (ekstasei) ou renúncia "de tudo" e "de todas as coisas" com o auxílio, porém, da Trindade, ela que "guarda a sabedoria divina dos cristãos". A treva é a ocultação dos mistérios da teologia (theologia mysteria) contidos nos escritos místicos (mystikon logion).

Assim ouvimos de São João da Cruz:

Das muitas imperfeições em que vivem os principiantes, o que até aqui referimos é suficiente para mostrar quão grande seja a necessidade de que Deus os ponha em via de progresso. Realiza-se isto na noite escura de que entramos a falar. Aí, desmamando-os Deus de todos os sabores e gostos, por meio de fortes securas e trevas interiores, tira-lhes todas estas impertinências e ninharias; ao mesmo tempo, faz com que ganhem virtudes por meios muito diferentes. Por mais que a alma principiante se exercite na mortificação de todas as suas ações e paixões, jamais chegará a consegui-lo totalmente, por maiores esforços que empregue, até que Deus opere passivamente nela por meio da purificação da noite.

É que na noite escura, — verificando-se a palavra do Profeta: “Luzirá tua luz nas trevas” (Is 63,10), — Deus iluminará a alma, dando-lhe a conhecer, não somente a própria miséria e vileza, mas também Sua divina grandeza e excelência. Uma vez amortecidos os apetites, gostos e apoios sensíveis, fica o entendimento livre para apreender a verdade, pois é certo que esses gostos e apetites do sentido, mesmo sendo em coisas espirituais, sempre ofuscam e embaraçam o espírito. Além disto, aquela angústia e secura da parte sensitiva vem ilustrar e vivificar o entendimento, segundo declara Isaías: “A vexação nos leva a conhecer a Deus” (Is 28,19). Assim vemos que à alma vazia e desembaraçada, bem disposta a receber o influxo divino, o Senhor, por meio desta noite escura e seca de contemplação, vai instruindo sobrenaturalmente em sua divina Sabedoria, como o não fizera até então pelos gostos e sabores sensíveis.

Surge, porém, a dúvida: por que à luz divina (que, conforme dissemos, ilumina e purifica a alma de suas ignorâncias) chama a alma agora “noite escura”? A isto se responde: por dois motivos esta divina Sabedoria é não somente noite e trevas para a alma, mas ainda pena e tormento. Primeiro, por causa da elevação da Sabedoria de Deus, que excede a capacidade da alma, e, portanto, lhe fica sendo treva; segundo, devido à baixeza e impureza da alma, e por isto lhe é penosa e aflitiva, e também obscura.

Para provar a primeira afirmação, convém supor certa doutrina do Filósofo: quanto mais as coisas divinas são em si claras e manifestas, tanto mais são para a alma naturalmente obscuras e escondidas. Assim como a luz, quanto mais clara, tanto mais cega e ofusca a pupila da coruja; e quanto mais se quer fixar os olhos diretamente no sol, mais trevas ele produz na potência visual, paralisando-a, porque lhe excede a fraqueza. Do mesmo modo quando esta divina luz de contemplação investe a alma que ainda não está totalmente iluminada, enche-a de trevas espirituais; porque, não somente a excede, como também paralisa e obscurece a sua ação natural. Por este motivo, São Dionísio e outros místicos teólogos chamam a esta contemplação infusa “raio de treva”. Isto se entende quanto à alma não iluminada e purificada, pois a grande luz sobrenatural desta contemplação vence a força natural da inteligência, privando-a do seu exercício. Por sua vez disse David: “Nuvens e escuridão estão em redor d’Ele” (SI 96,2); não porque isto seja realmente, mas por ser assim para os nossos fracos entendimentos, os quais, em tão imensa luz, cegam-se e se ofuscam, não podendo elevar-se tanto. Esta verdade o mesmo David o declarou em seguida, dizendo: “Pelo grande resplendor de sua presença, as nuvens se interpuseram” (SI 17,13), isto é, entre Deus e nosso entendimento. Daí procede que este resplandecente raio de secreta Sabedoria, derivando de Deus à alma ainda não transformada, produz escuras trevas no entendimento.

A terceira espécie de sofrimento e pena que a alma agora padece provém de outros dois extremos que aqui se encontram: o divino e o humano. O divino é esta contemplação purificadora, e o humano a própria alma que a recebe. O divino a investe a fim de renová-la, para que se torne divina; despoja-a de suas afeições habituais e das propriedades do homem velho, às quais está a mesma alma muito unida, conglutinada e conformada. E de tal maneira é triturada e dissolvida em sua substância espiritual, absorvida numa profunda e penetrante treva, que se sente diluir e derreter na presença e na vista de suas misérias, sofrendo o espírito como uma morte cruel. Parece-lhe estar como tragada por um bicho no seu ventre tenebroso, e ali ser digerida: assim padece as angústias que Jonas sofreu no ventre daquele monstro marinho. De fato, é necessário à alma permanecer neste sepulcro de obscura morte, para chegar à ressurreição espiritual que espera.

Pelo que já foi dito, vemos claramente que esta obscura noite de fogo amoroso, como vai purificando a alma nas trevas, assim também nas trevas a vai inflamando. Observamos igualmente que, assim como se purificam os espíritos na outra vida por meio de um tenebroso fogo material, de maneira semelhante são purificadas e acrisoladas as almas nesta vida presente, por um fogo amoroso, tenebroso e espiritual. E está aí a diferença: lá no outro mundo, a expiação é feita pelo fogo, e aqui na Terra a purificação ilustração se opera tão só mediante o amor. Tal é o amor que pediu David ao dizer: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro” (Sl 50,12): que a pureza de coração não é outra coisa senão o amor e graça de Deus. Nosso Salvador chama bem-aventurados aos puros de coração, o que é tanto como chamá-los enamorados, pois a bem-aventurança não se dá por menos que por amor.

Não quero deixar de indicar agora o motivo pelo qual a luz divina, embora sendo sempre luz para a alma, não a ilumina logo que a investe, como fará depois, mas causa primeiramente as trevas e sofrimentos já descritos. As trevas e demais penas que a alma sente quando esta divina luz investe não são trevas e penas provenientes da luz, e sim da própria alma; a luz apenas esclarece para que sejam vistas. Desde o princípio, portanto, esta divina luz ilumina, mas a alma tem de ver primeiro o que lhe está mais próximo, ou por melhor dizer, o que tem em si mesma, isto é, suas trevas e misérias, as quais vê agora pela misericórdia de Deus. Antes não as via, porque não lhe era infundida essa luz sobrenatural. Aqui se mostra a razão de sentir, no princípio, somente trevas e males. Depois, porém, de purificada por este conhecimento e sentimento, então terá olhos para ver, à luz divina, os bens da mesma luz. Expelidas, enfim, todas as trevas e imperfeições da alma, parece que aos poucos se revelam os proveitos e grandes bens que a mesma alma vai conseguindo nesta ditosa noite de contemplação.

Pelo que já dissemos, fica entendido quão grande mercê faz Deus à alma em limpá-la e curá-la com esta forte lixívia e este amargo remédio; purificação essa que se faz na parte sensitiva e espiritual, de todas as afeições e hábitos imperfeitos arraigados na alma, tanto a respeito do temporal e natural, como do sensitivo e espiritual. Para isto, Deus põe a alma na obscuridade, quanto às suas potências interiores, esvaziando-as de tudo que as ocupava; faz passar pela aflição e aridez às afeições sensitivas e espirituais; debilita e afina as forças naturais da alma acerca de todas as coisas que a prendiam, e das quais nunca poderia libertar-se por si mesma, conforme vamos dizer. Deste modo, leva-a Deus a desfalecer para tudo o que naturalmente não é Ele, a fim de revesti-la de novo, depois de a ter despojado e desfeito de sua antiga veste. E assim a alma é renovada, como a águia, em sua juventude, e vestida do homem novo, criado segundo Deus, como diz o Apóstolo (Ef 4,24). Esta transformação nada mais é do que a iluminação de entendimento pela luz sobrenatural, de maneira que ele se una com o divino, tornando-se, por sua vez, divino. É igualmente a penetração da vontade pelo amor divino, de modo a tornar-se nada menos que vontade divina, não amando senão divinamente, transformada e unida com a divina vontade e o divino amor. Enfim, o mesmo se dá com a memória, e também com as afeições e apetites, que são todos transformados e renovados segundo Deus, divinamente. Esta alma será agora, pois, alma do Céu, verdadeiramente celestial, mais divina do que humana. Todas estas transformações até agora referidas, da maneira que havemos descrito, vai Deus realizando e operando na alma por meio desta noite, ilustrando-a e inflamando-a divinamente, com ânsias de Deus só e nada mais.

Quanto mais a alma se aproxima d’Ele, mais profundas são as trevas que sente, e maior a escuridão, por causa de sua própria fraqueza. Assim, quem mais se acercou do sol, haveria de sentir, com o grande resplendor dele, maior obscuridade e sofrimento, em razão da fraqueza e incapacidade de seus olhos. Tão imensa é a luz espiritual de Deus, excedendo tanto ao entendimento natural, que, ao chegar mais perto d’Ele, o obscurece e cega. Esta é a causa por que no Salmo 17 diz David, referindo-se a Deus: “pôs seu esconderijo nas trevas como em seu tabernáculo: águas tenebrosas nas nuvens do ar” (Si 17,12). As “águas tenebrosas nas nuvens do ar” significam a obscura contemplação e divina Sabedoria nas almas, conforme vamos dizendo. Isto, as mesmas almas vão sentindo aos poucos, como algo que está próximo a Deus, e percebem este tabernáculo onde Ele mora, no momento em que Deus as vai unindo a Si mais de perto. E, assim, o que em Deus é luz e claridade mais sublime, é para o homem treva mais escura.

* cortar, separar, retirar


Fraternidade Martinista



Fonte: https://fraternidademartinista.wordpress.com/author/fraternidademartinista/
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SOBRE A GRAÇA


Saudações nas quatro pontas do Sagrado Quaternário!

Muitos buscadores incautos confundem espiritualidade com paranormalidade – não anseiam por uma radical Transformação e Regeneração de suas Vontades, mas por espécies de fantasia onírica, de transes passivos e estimulações hipnagógicas, respirando vapores cadavéricos naquelas regiões em que “cada flor traz uma serpente enrolada” (como disse uma grande Adepta).

Querido Irmão, não se embriague.

Carne sutil ainda é carne, e não confunda os “anjos de luz” que a ti se apresentam – cheios do brilho fascinador da serpente astral – com a luz UNA E PURA do ILIMITADO. Caro buscador, as notas musicais mais altas (como as frequências emitidas pela música das esferas) são perfeitamente inaudíveis, tais como são imperceptíveis as ondas eletromagnéticas elevadíssimas que nos atravessam acima da luz visível. De maneira análoga, a LUZ ILIMITADA do PAI se apresenta a nós como um RAIO DE TREVA*... A Sabedoria do Incriado de tal maneira excede a nossa que, a infinita sabedoria criatural (das criaturas), em comparação com esta, ainda estaria mais próxima da ignorância infinita do que de apreender minimamente algo deste Fogo Eterno Incognoscível.

Com outras palavras, estimado buscador, não tome pelo Reino Celeste aquilo que não passa de uma inebriante sombra espelhada por nosso próprio psiquismo. O que não quer dizer, todavia, que devemos desprezá-lo, mas apenas colocá-lo em seu devido lugar. Se olharmos para estas sombras tais como realmente são, como para o reflexo da lua na água – isto é, sabendo não estar a lua ali submersa – então já não cometeremos o mesmo Erro de Narciso.

Há três séculos atrás, querido Irmão, a Hierarquia legou a Homens de Vontade operações e ritos por meio dos quais poderiam engendrar o Organismo Espiritual em si e receber progressivas confirmações do andamento de sua realização. A princípio, nossos Irmãos Maiores, mui louváveis agentes intermediários, deram-nos o Fenômeno como sinal de êxito, para que seguíssemos de regeneração em regeneração, de glória em glória, com Desejo e Perseverança. Entretanto, encantados como somos pela FORMA, tomamos a IMAGEM DA COISA pela coisa mesma, e o que antes nos instigava a perseverar na Senda tornou-se a própria coisa buscada, e foi quando nossos antigos irmãos prevaricaram e caíram nas garras da SERPENTE SIDERAL.

Acusado de desertor, foi nosso mestre LOUIS-CLAUDE DE SAINT-MARTIN quem tentou avisá-los do perigo das artes supracitadas. Na época, nossos irmãos equivocados continuaram tão afoitos por suas visões e fenômenos que, perdendo contato com o adepto que os havia instruído, entregaram-se desregradamente às mais variadas experimentações com aquelas regiões sobre as quais o inimigo tem pleno domínio, e passaram a respirar os ares nervosos e éteres exaltados de damas histéricas em salas fechadas sob o império do sonho.

Queridos Irmãos – existe, de fato, o sobrenatural. Do latim SUPER (superior) NATURALIS (natureza), o termo em seu sentido puro refere-se a essa realidade invisível que transcende e engloba nossas existências particulares. Porém, da mesma maneira que precisamos de um organismo NATURAL para experimentar a realidade fenomênica com nossos sentidos, também necessitamos de um ORGANISMO SOBRENATURAL para tornarmo-nos receptivos aos Dons e Inteligências do Espírito, através dos quais algo de divino poderá se fazer ouvir e realizar em nós.

Assim como realizamos atos desta natureza (dormir, comer, andar) com nosso organismo natural, também o exercício de certas faculdades está intrinsecamente relacionado a nosso Organismo Espiritual – podemos citar, dentre estas, a Vontade, a Sabedoria, a Imaginação (Imaginatio), a Vida Moral, entre outras Atividades que abrem as portas superiores para o Invisível em nós. Todavia, da mesma forma que nosso Organismo Natural tem de ser gerado (como o é por nossos progenitores) e alimentado por nutrientes de sua própria natureza (alimentos materiais), esta Nova Alma também necessita de um Engendramento e de uma mui específica Alimentação.

Nosso Coração, de maneira análoga ao Óvulo, deve também estar fertilizado por nosso anseio incessante pela Regeneração, e devemos desejar ardentemente a fecundação pelo Espírito Santo. Uma vez gerado, este recém-nascido em nós necessita de um alimento muito especial, do qual a Hierarquia nos legou como símbolo os Sacramentos. É um processo análogo ao da Eucaristia, e por ela muito bem representado na sombra da matéria, mas que realizar-se-á no Invisível.

Meu Companheiro e Irmão, uma vez nascida em nós esta “Criança do Reino do Céu”, e só finalmente então, poderemos exercer plenamente nossas Faculdades e Potências, Virtudes e Dons Originais livres do brilho fulgurante da joia do príncipe deste mundo. Ao contrário do que esperávamos, quando isso acontecer não necessitaremos mais de buscar ver coisas divinas e astrais com nossos olhos humanos, porque já encontraremos suficiente e infinita Graça e Contemplação em olhar as próprias coisas humanas e mundanas com nossos novos olhos assim divinizados. Sim, pois da mesma forma que um cão vive meio a tantos carros, sons, sinais, gente e palavras que não compreende (e, não obstante o absurdo disto cercá-lo, continua a ocupar-se de farejar e procurar comida), é apenas com o nascimento do Novo Homem que descobrimos, então, quão mortos e adormecidos estávamos espiritualmente. Com a Mente de Compaixão que engendramos em nós, o antigo reino samsárico, dialético e binário, dominado pela divisão e pelas Forças Gêmeas, transfigurar-se-á diante de nós em um verdadeiro Plano Divino, uma Unidade Absoluta onde não há conflitos e nem particulares, senão um único e mesmo Soneto Eterno manifestando-se através de todas as coisas e todos os seres para a Glória da Reintegração Universal.

Estaremos salvos, querido candidato, não por sermos privilegiados, seletos ou muito menos “Cavaleiros Eleitos”, mas por simplesmente termos despertado para este Campo Uno e Oniabarcante, com os olhos do qual podemos nos compadecer profundamente de todos os nossos Irmãos Equivocados que sofrem e causam sofrimento por sua própria ignorância e egoidade. Saibamos ouvir Deus, que nos fala sempre. Nutrindo e defendendo incessantemente nossa Cidade Santa, reconheceremos cada vez melhor as consolações e movimentos deliciosos do Invisível, a graça dosada e santificante que nos será concedida – não para fugirmos do mundo e da vida rumo a um Astral Pseudoceleste – mas para participarmos da Vida Divina aqui e agora, como Agentes, servindo e realizando aquilo que é da Vontade do Espírito em nós. Inferno era apenas estar cego para a Contemplação de Deus. E, assim como o sol doa amorosamente sua luz e calor para todos os planetas que o rodeiam, esperaremos esperançosamente sermos sóis para nós mesmos e para os outros, exemplos vivos da Lei do Amor, aquecidos não pelo Fogo Colérico da Impiedade, mas pela Luz Doce e Amorosa do Espírito Santo que há de fazer morada em nós.

Pelo divino quaternário: Amor-Vontade-Sabedoria-Atividade,
Que as rosas floresçam em vossa cruz!


Fraternidade Martinista


* Vide texto neste blog, do dia 06 de setembro de 2020, supra publicado, com o título: Iluminação Pelo Caminho das Trevas.


Fonte: https://fraternidademartinista.wordpress.com/author/fraternidademartinista/
Fonte da Gravura: https://fraternidademartinista.files.wordpress.com/2019/04/sobre-a-grac387a.jpg?w=660

QUAL O MAIOR OBSTÁCULO AO PROGRESSO (MORAL)?


O Livro dos Espíritos, questão 785: Qual o maior obstáculo ao progresso?

O orgulho e o egoísmo. Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre. À primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual reduplica a atividade daqueles vícios, desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas, que, a seu turno, incitam o homem a empreender pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. Assim é que tudo se prende, no mundo moral, como no mundo físico, e que do próprio mal pode nascer o bem. Curta, porém, é a duração desse estado de coisas, que mudará à proporção que o homem compreender melhor que, além da que o gozo dos bens terrenos proporciona, uma felicidade existe maior e infinitamente mais duradoura.

Comentário de Allan Kardec

Há duas espécies de progresso, que uma a outra se prestam mútuo apoio, mas que, no entanto, não marcham lado a lado: o progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados, o primeiro tem recebido, no correr deste século, todos os incentivos. Por isso mesmo atingiu um grau a que ainda não chegara antes da época atual. Muito falta para que o segundo se ache no mesmo nível. Entretanto, comparando-se os costumes sociais de hoje com os de alguns séculos atrás, só um cego negaria o progresso realizado. Ora, sendo assim, por que haveria essa marcha ascendente de parar, com relação, de preferência, ao moral, do que com relação ao intelectual? Por que será impossível que entre o dezenove e o vigésimo quarto século haja, a esse respeito, tanta diferença quanta entre o décimo quarto século e o século dezenove? Duvidar fora pretender que a Humanidade está no apogeu da perfeição, o que seria absurdo, ou que ela não é perfectível moralmente, o que a experiência desmente.


Allan Kardec



Fonte: O Livro dos Espíritos, 76ª. ed., Rio de Janeiro, RJ, FEB, 1995.
Fonte da Gravura: Acervo de autorial pessoal

A SABEDORIA DO DESENCANTAMENTO


Uma das características mais intrigantes do mundo natural é o mimetismo: insetos inofensivos imitam o desenho de outros insetos mais nocivos para escapar de seus predadores. Os escaravelhos femininos (*) imitam os sinais de acasalamento de outras espécies para atrair machos ansiosos e levá-los a um destino fatídico. O louva-a-deus (mantis religiosa) atrai suas presas imitando as flores, e as plantas de seixos são muito parecidas com as pedras, evitando assim se tornar comida para os animais. E a lista continua. O que muitas vezes não é entendido é que a arte do engano, implícita no desenho da Natureza, também é uma característica dos mundos internos. No caminho em direção à alma, há muitas armadilhas para o investigador incauto.

Claramente, a discriminação é essencial ao longo do caminho, pois é muito fácil cair presa das visões e dos sons enganosos do mundo astral e dos muitos imitadores que residem lá. Entre esses "encantadores" estão os imitadores dos Mestres de Sabedoria e outros luminares espirituais, imitadores que não são almas propriamente. Muitos desses ensinamentos e comentários triviais sobre os assuntos humanos são realizados com um sentimentalismo que busca ser reconfortante. Essas conchas são animadas por vidas elementais do mundo astral que são energizadas por sua interação com os seres humanos.

Como distrações e enganos são uma característica do plano astral, o caminho de Atma-Vidya, o "conhecimento da alma", tem sido recomendado como a ciência esotérica para nossos tempos. Helena Blavatsky considera que todos os outros Vidyas são "artes baseadas no conhecimento da essência final de todas as coisas nos Reinos da Natureza". Essa essência vincula os fenômenos da natureza física, externa, com a natureza psíquica do mundo astral e é por isso que não é aconselhável entrar em contato com ela. Estes Vidyas menores incluem "o conhecimento dos poderes ocultos despertados na Natureza através de certos ritos e cerimônias religiosas...". (1)

O objetivo recomendado para todos os buscadores hoje é a fusão com a alma através da prática de Atma-Vidya, caso contrário, podemos inconscientemente desviar-nos do caminho direto para a alma e entrar em um reino de "encantamento". 'Encantar' significa enfeitiçar e seduzir. É uma palavra derivada do latim 'incantare', que significa entoar um feitiço mágico e está intimamente relacionada com a palavra 'glamour' que tem raízes escocesas medievais de uma época em que se dizia que os praticantes do lado obscuro das artes ocultas lançavam o glamour. (2)

Alice Bailey explica que o glamour ou miragem é a característica excepcional do plano astral, que "O assim chamado “plano astral” é simplesmente o nome dado à soma total das reações sensoriais à resposta sentimental e à substância emocional que o homem mesmo criou e projetou com tanto êxito, sendo hoje a vítima de sua própria obra." (3) Na era atual, a substância da miragem é generalizada na cultura popular e nas indústrias do entretenimento, e é considerada algo que deve ser ativamente buscada. O glamour é geralmente entendido como a qualidade de ser "mais atraente, emocionante ou interessante do que pessoas ou coisas comuns". (4) Na verdade, é uma aparência que distorce a realidade, a distorção a que as pessoas que estão emocionalmente polarizadas são mais suscetíveis. Em suas formas mais sutis, engana muitas pessoas inteligentes e aspirantes ao longo do caminho, como explicado extensivamente no livro de Alice Bailey, 'Miragem: um Problema Mundial'.

No caminho de Atma-Vidya, o desencantar-se, afastando a miragem, é uma lição difícil, mas constantemente coloca o buscador espiritual sob o controle direto da alma, que é o princípio mediador entre o espírito e a matéria. A alma funde em um relacionamento harmonioso essas duas grandes correntes de energia, os princípios masculino e feminino na vida. Só então pode começar o trabalho mágico de criar "o novo céu e a nova Terra". (...)

Nesta era tecnológica materialista, é apropriado abordar esta questão à medida em que a humanidade experimenta um impulso crescente para se reconectar mais profundamente com a Mãe Terra e o divino feminino. O caminho a seguir é claramente demonstrado por aqueles que expressam a luz e o amor da alma: o grupo de servidores do mundo, muitos dos quais estão trabalhando com os reinos inferiores da natureza. A luz clara da alma flui através deles, revelando leis que operam na natureza e despertando a humanidade para a necessidade de uma nova relação para com o meio ambiente. Da mesma forma, o trabalho que fazemos na meditação... envolve o contato com a alma para ajudar a fazer com que a luz, o amor e o poder desçam à Terra, através da humanidade e dos reinos inferiores da natureza, na grande obra da redenção planetária.

Aqueles que se dedicam a este grande trabalho são integrantes do grupo de servidores do mundo (sejam ou não conscientes disso), e todos estão trabalhando em maior ou menor medida com o conhecimento da alma - Atma-Vidya -, a sabedoria do desencantamento.


Lucis Trust - Escola Arcana - Triângulos - Boa Vontade Mundial



Fonte: https://www.encontroespiritual.org/bartigos/bartigos_desencantamento.html
Fonte da Gravura: Tumblr.com



Notas:

1.Escritos Colecionados, H.P. Blavatsky, Vol IX. pp. 252-252
2.https://www.etymonline.com/word/glamour
3.O Reaparecimento do Cristo, A. A. Bailey, p. 130
4.https://www.collinsdictionarv.com/dictionarv/enelish/elamorous
(*) http://www.nationalgeographic.es/animales/luciernaga-bicho-de-luz - NT

VENCER O MEDO


Diz uma antiga fábula que um camundongo vivia angustiado com medo do gato.

Um mago teve pena dele e o transformou em gato.

Mas aí ele ficou com medo do cão.

Por isso, o mago o transformou em pantera.

Então, ele começou a temer os caçadores.

A esta altura o mago desistiu. Transformou-o em camundongo novamente e disse:

– Nada que eu faça por você vai ajudá-lo, porque você tem apenas a coragem de um camundongo.

*   *   *

É preciso coragem para romper com o projeto que nos é imposto.

Mas saiba que coragem não é a ausência do medo, mas sim a capacidade de avançar, apesar do medo.

Caminhar para frente e enfrentar as adversidades, vencendo os medos...

É isto que devemos fazer.

Não podemos nos derrotar, nos entregar por causa dos medos.

Assim, jamais chegaremos aos lugares que tanto almejamos em nossas vidas...



José Emílio Menegatti



Fonte do texto e da gravura: Grupo Espírita Miguel Arcanjo
http://www.gema-rj.org/

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

RAJA YOGA (CIÊNCIA DA MENTE E DA VONTADE DIRIGIDA PARA A 5ª RAÇA ARIANA)


PATÂNJALI foi um compilador de ensinamentos que, até o seu aparecimento, haviam sido transmitidos oralmente durante muitos séculos. Ele foi o primeiro a fornecer por escrito os ensinamentos para a utilização dos estudantes e, por isto, é considerado como o fundador da ESCOLA DE RAJA YOGA. Os ensinamentos por escrito ficaram conhecidos como OS AFORISMOS SOBRE OS YOGA-SUTRAS DE PATÂNJALI.


Meios para atingir a YOGA, ou seja, a UNIÃO OU UNIFICAÇÃO

YAMA – mandamentos (relacionamento do discípulo (chela) para com os demais e para com o mundo exterior)

NIYAMA – regras (relacionadas à vida interior do discípulo e à ligação (sutratma – elo) que o relaciona a Deus)

ASANA – postura (atitude física-astral-mental correta do discípulo)

PRANAYAMA – força vital (controle da vitalidade e organização do corpo vital-etérico)

PRATYAHARA – abstração (dos sentidos e controle do corpo astral)

DHARANA – atenção (concentração e controle do 6º sentido (mente))

DHYANA – meditação (utilização da mente como desejado e transmitir ao cérebro pensamentos elevados e ideais)

SAMADHI – contemplação (êxtase – relaciona-se com o Ego Superior (Self) e sua contemplação, estudo, meditação e visão do mundo das causas)

***

YAMA – MANDAMENTOS

- Natureza Física: inofensividade – verdade – não roubar

- Natureza Astral: abster-se da incontinência

- Natureza Mental: abster-se da avareza


NIYAMA – REGRAS

- Pureza interna e externa (dos três veículos da personalidade: físico/etérico-astral-mental)

- Aspiração ardente (esforço e fidelidade em direção ao ideal)

- Devoção a ISHWARA (Cristo interno)

- Contentamento (estado mental de entendimento dos acontecimentos como corretos)

- Leitura espiritual (análise das causas)


ASANA – POSTURA

- Posição firme, imutável e cômoda fisicamente

- Condição estável, invariável, calma e controlada dos desejos

- Condição firme, equilibrada e controlada da mente


PRANAYAMA – CONTROLE DA FORÇA VITAL

- Controle das forças vitais do corpo

- Ritmo e sincronia com o corpo


PRATYAHARA – ABSTRAÇÃO

- Subjugação dos sentidos pelo princípio pensante e remoção daquilo que até então fora seu objetivo

- Controle psíquico

- Retirada ou abstração da consciência, que tende para o exterior, para o mundo interior

- Centralização da consciência na grande estação central da cabeça e logo após no Ego Superior (o Self - Alma – corpo mental abstrato)


DHARANA – ATENÇÃO/CONCENTRAÇÃO

- Fixação da substância mental (chitta), pelo Ego/Self, sobre um objeto específico (conceito externo-interno – qualidade)

- Manter a mente firme e sem desvios

- Focalização firme da mente


DHYANA – MEDITAÇÃO

- Concentração sustentada (a mente ocupada com o objeto ou pensamento por período prolongado)

- Manter firme a mente (substância mental (chitta)) ocupada com o objeto, por um período prolongado)


SAMADHI – CONTEMPLAÇÃO

- A forma não é mais vista nas coisas

- Conscientização da unidade

- A alma olha para seu próprio mundo (“conhece Deus”)

- Controle da personalidade (ego inferior – eu inferior)

- Consciência das essências

- Atividade da Alma desligada do mental (mental concreto-inferior)


***

A CIÊNCIA DA MENTE – RAJA YOGA

- A meta da meditação é contatar o Eu Interior Divino (Ego/Eu Superior – Alma – Self) e, por este contato, chegar à conscientização da unidade deste Eu com todos os outros Eus e com o TODO-EU. Isto se dá quando um estado chamado SAMADHI é alcançado, onde a consciência do pensador é transferida da consciência do cérebro inferior para a Alma, em seu próprio plano.

- O objetivo da evolução humana é trazer a força CRÍSTICA à plena manifestação no plano físico, através dos corpos inferiores ou envoltórios, subjugando-os, o que levará à TRANSFIGURAÇÃO de cada ser humano, e, passo a passo, à transfiguração da humanidade.

--- Força Crística: Alma – Ishwara – o Filho – Ego/Eu Superior – Self – Manas/Budhi/Atma.

--- Budhi: razão pura, o intelecto separado da mente inferior, a intuição.

--- Corpos inferiores/envoltórios: a personalidade – físico/etérico, astral, mental inferior/concreto, o Santo Graal, a taça receptora e que contém a vida divina.

- O grande objetivo da Raja Yoga é libertar o pensador das modificações do princípio pensante de modo a que ele não mais mergulhe no grande mundo das ilusões (maya) nem se identifique com o que é puramente fenomênico.

- O discípulo ariano tem que aprender a controlar o corpo mental (manas) e a dedicá-lo ao serviço de ISHWARA (Self – Força Crística) pela Raja Yoga.

- A ILUMINAÇÃO é o transporte à consciência cerebral do conhecimento obtido pela meditação/contemplação. A INSPIRAÇÃO é o resultado da iluminação, na medida em que se demonstra na vida de serviço. A UNIÃO (yoga) é o conhecimento direto da Divindade que se chega pela prática da raja yoga.


***


Observações sobre os ESTÁGIOS DA TRANSFERÊNCIA (ABSTRAÇÃO – PRATYAHARA)

- A consciência do corpo (sentidos) para a cabeça.

- A centralização da consciência no lótus de mil pétalas (sahasrara) na região da glândula pineal (entre o meio da fronte e a glândula pineal).

- Da glândula pineal (sahasrara) para o corpo mental através do corpo etérico (controlando o corpo astral), empregando a abertura no cimo da cabeça (brahmarandra).

- Do corpo mental para a Alma, alojada no corpo causal (mental superior – lótus egoico).


Provoca-se, assim, uma condição em que o cérebro, o corpo mental e o corpo egoico formam uma unidade. Pode-se, então, ter acesso ao estado de Samadhi, ou de contemplação espiritual, quando a Alma olha para seu próprio mundo (“conhece Deus”). Seguindo-se, vem um estágio em que o homem espiritual transmite ao cérebro, através da mente, o que é visto, constatado e conhecido. Desta maneira, o conhecimento se torna parte do conteúdo do cérebro e fica disponível para emprego no plano físico.

Em resumo, a ABSTRAÇÃO (PRATYAHARA) causa:

- A síntese dos sentidos pelo sexto sentido (mente).

- O alinhamento da personalidade (unidade coordenada).

- A libertação das limitações da personalidade (corpos).

- Habilitação da Alma (Self) para impressionar e iluminar o cérebro por meio da mente.



Alice A. Bailey




Fonte: do livro “A Luz da Alma – Comentários aos Yoga-Sutras de Patânjali”, de Alice A. Bailey, Lucis Trust (1927), 1ª ed. em português pela Fundação Cultural Avatar (Niterói/RJ) e Fundação Educacional e Editorial Universalista – FEEU (Porto Alegre/RS), 1981
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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

O HOMEM CONTEMPLATIVO


O homem de oração que tanto se familiarizou com as verdades de fé no estudo e na meditação e as pode relembrar numa simples intuição, só por isto não se torna automaticamente contemplativo.

A oração contemplativa não consiste, estritamente, numa seca visão de poucos segundos.

Ela absorve a mente e a vontade num olhar prolongado, frutuoso e amante, em que a intuição da verdade divina não acaba num instante mas permanece em nós e invade o nosso ser com insuspeitadas profundezas de sentido.

Esta intuição cativa por um obscuro e inexplicável encanto.

Ela não nos deixará escapar do oculto poder que trabalha nas profundezas do espírito, embora seja difícil falar do que nos acontece.


Thomas Merton, OSB



Fonte: "Ascensão para a verdade"
Via Comunidade Monástica Anglicana - Igreja Anglicana Tradicional do Brasil
https://www.mongesanglicanos.org/
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JUSTIFICATIVA PELA FÉ: A TRADUÇÃO LITERAL MATOU O SENTIDO ESPIRITUAL


Na epístola aos romanos, encontrou Martinho Lutero a sua teoria da "justificação pela fé" (1).

O apóstolo Paulo faz ver que o homem, desajustado de Deus pelas obras legais ou rituais (2), só pode reajustar-se pela fé.

Sendo que todas as epístolas de Paulo foram escritas em língua grega, a palavra "fé" ("fides", em latim) aparece como "pistis", cujo verbo é "pisteuein". Infelizmente, não existe em latim um verbo derivado do substantivo "fides"; e assim, os tradutores latinos se viram obrigados a recorrer a um verbo de outro radical para designar o ato de "ter fé". Este verbo latino é "credere" que em português deu "crer".

Mas o sentido de "crer" não coincide com o de "ter fé". "Crer" designa algo vago, incerto, nebuloso, ao passo que ter fé, "fides", é ter fidelidade, estar harmonizado, sintonizado. "Pisteuein", ter fé, designa um estado de alta fidelidade ou harmonização entre a alma humana e o espírito de Deus - que é a ideia do ajustamento.

Neste sentido, é exato a expressão "o justo vive da fé", mas não no sentido de "crer".

"Quem crer será salvo, quem não crer será condenado", isto é absurdo e blasmo (injusto), se traduzirmos "pisteuein" por "crer", como é de praxe; mas é razoável se dissermos "quem tem fé", ou fidelidade, porque o ajustamento é a salvação.

Além disto, a palavra grega "dikaiosyne", em latim "justiça", não coincide com a nossa palavra justiça, nem a palavra "justificatio" equivale a "justificação", que, em nossa língua, representam um processo meramente legal ou social. "Justificatio" é o ato de estabelecer uma atitude de justeza ou correto ajustamento entre o homem e Deus.

O equívoco sobre "ter fé" e "crer", a confusão entre "justificação" e "ajustamento" originaram uma verdadeira tragédia espiritual através dos séculos. A tradução literal matou o sentido espiritual.


Prof. Huberto Rohden



Fonte: do livro "Paulo de Tarso - O Maior Bandeirante do Evangelho", 2ª ed., Rio de Janeiro, 1941
Fonte da Gravura: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ec/File%22-Saint_Paul_Writing_His_Epistles%22_by_Valentin_de_Boulogne.jpg


Notas:

(1) Na "justificação pela fé". base do luteranismo, há uma incompreensão do que é a verdadeira lei. Talvez uma necessidade na época do reformador por causa do abuso e sentido das "obras" pelo catolicismo romano ou talvez por uma má interpretação de Lutero quanto à bíblia.

(2) É claro que as "obras" a que Paulo se refere em Gálatas são as obras dos ritos judaicos, prescritos em Levítico e outros livros do Antigo Testamento. Provavelmente, Lutero tenha sabido disto, mas deve ter achado perigoso admitir qualquer "obra", mesmo as da vida da fé.

Toda a controvérsia gira em torno da questão do cumprimento da Lei Divina: Paulo reafirma aos cristãos a nova dispensação religiosa que abolia as práticas ritualísticas judaicas mas não combate a necessidade do cumprimento da Lei Divina nos Dez Mandamentos. Isso estava dividindo os cristãos. Não estava havendo um entendimento a respeito do que realmente era a natureza das obras que Paulo dizia estar abolidas. Paulo prega a fé e as obras cristãs e não as obras oriundas do rito judaico.

Paulo fala da inutilidade das obras da Lei sem a Fé Cristã. Tiago dá um enfoque sobre as obras da fé, que constituem a Lei Perfeita (fé e obras). Este enfatiza mais sobre as obras que nascem da fé (lei perfeita).

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

MEDITAÇÃO NÃO É TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO


Em face de nossas crises contemporâneas precisamos nos perguntar: por que meditamos? Perguntamos não para debilitar nosso comprometimento, mas para refiná-lo e aprofundá-lo. Nós não estamos em busca de experiências interessantes. Meditação não é tecnologia da informação. Ela trata do conhecimento que redime, a pura consciência, o conhecer, e não meramente estar informado a respeito. A meditação não aumenta nossa base de dados. Na verdade, nos afastamos daquela nossa maneira usual de obtenção de informações na medida em que nos voltamos para um conhecimento que não é quantificável, um conhecimento que unifica em vez de analisar.

A sensação de estarmos sendo tolos ou improdutivos é um sinal positivo de que estamos sendo conduzidos pelo “espírito de sabedoria e de revelação, para poderdes realmente conhecer (a Deus)” (Ef. 1,17). Este conhecimento redentor e re-criativo é a sabedoria que falta ao nosso tempo. Nós podemos reconhecê-lo, e discernir entre ele e suas falsificações, porque ele não reivindica nem ostenta quaisquer pronomes possessivos. Ninguém o reivindica como sendo seu.

Ele é a consciência do Espírito Santo e, portanto, é o útero de toda ação verdadeiramente amorosa. Em face da mais desanimadora tragédia, ele está tão perto de nós quanto nós estamos de nosso verdadeiro eu.


Dom Laurence Freeman, OSB




Fonte: Leitura de Domingo, 30 Agosto 2020
“Letter Four” in THE WEB OF SILENCE (London: DLT, 1996), pp. 42,44-45.
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - www.wccm.com.br
Fonte da Gravura: Instagram

ALGUNS TEMAS E REFLEXÕES SOBRE A EPOPEIA DE GILGAMESH


Considerada a primeira obra literária da História, a Epopeia de Gilgamesh mostra que as questões fundamentais da existência humana – felicidade, amor, sexo, amizade, poder, o sentido da vida, a certeza da morte e as incertezas do destino – acompanham o homem há milhares de anos.

Gilgamesh é o modelo de herói, com virtudes e defeitos humanos, que se arrisca ao novo, desconhecido e extraordinário e, com isso provoca profundas mudanças. A jornada do herói é a da transformação interior.

No início do poema, a exaltação a Gilgamesh diz respeito à pessoa que ele se tornou ao final de sua jornada – “o sábio que viu os mistérios e conheceu coisas secretas”. A arrogância, truculência e luxúria de Gilgamesh são contestadas pelo seu povo. O governante pode tudo? Não, e os habitante de Uruk reclamam aos deuses. Entendem que o líder deveria trabalhar pela harmonia da sociedade (“ser um pastor para seu povo”) e não provocar a discórdia. Clamam por justiça e fim da opressão. Um interessante ponto de partida para refletir sobre a diferença de autocracia e tirania.

Enkidu surge para desafiar Gilgamesh. A criação de Enkidu traz elementos intrigantes. Ele é criado pela deusa Aruru a partir do barro – diferente da tradição hebraico-judaica que se refere a um deus criador masculino. Enkidu, como Adão, vive entre os animais e em harmonia com eles. Quem vai mudar esse cenário é uma mulher, a cortesã sagrada Shamhat. O papel de Shamhat é crucial: ela usa sua beleza e sedução para atrair o selvagem Enkidu e, através de relações sexuais contínuas, ensinar-lhe os fundamentos da vida civilizada, a comer alimentos elaborados, beber vinho, vestir-se e se expressar através da música e do canto. Shamhat cujo nome significa “a alegre”, é quem introduz Enkidu à vida em sociedade. As habilidades sexuais de Shamhat estabelecem a diferença entre o sexo para procriação – impulso próprio dos animais – e a sensualidade artística e sofisticada própria da civilização. Os mesopotâmicos entendiam a prostituição como uma das características básicas da vida urbana e civilizada. Daí entender o papel de Shamhat: apresentar para Enkidu o mundo sedutor mas complexo da cultura humana. Quando Enkidu está morrendo, ele expressa sua raiva contra Shamhat por tê-lo tornado civilizado, culpando-a por trazê-lo para o novo mundo de experiências que o levou à morte. Ele a amaldiçoa. O deus Shamash, o Sol, intervém e lembra a Enkidu que Shamhat o alimentou e o vestiu. Enkidu cede e abençoa-a dizendo que todos os homens a desejarão e lhe oferecerão joias de presente. Depois de deitar-se com Shamhat seis dias e sete noites, Enkidu tentou voltar à sua vida selvagem, mas os animais fugiram dele. Assim como Adão ao provar o fruto do conhecimento oferecido por Eva foi expulso do paraíso, Enkidu não é mais o mesmo depois do aprendizado dado pela mulher. Rompeu-se a conexão do homem selvagem com o mundo natural. Os animais o rejeitaram e ele, então, deve ir para o lugar onde esse conhecimento pode ser usado, a cidade.

O encontro de Enkidu e Gilgamesh é outro momento chave da epopeia. Enkidu é o reflexo do rei: são iguais mas não idênticos. Têm a mesma força física e arrogância, mas diferentes experiências humanas. Enkidu não tem família, afinado com o mundo natural e selvagem. Gilgamesh tem pai e mãe (o poema faz constante menção a Ninsun, mãe do rei e a intérprete de seus sonhos), vive e governa uma grande cidade. Ambos heróis representam a polaridade entre natureza e cultura. Enkidu será o agente das mudanças de Gilgamesh. Inclusive na morte, Enkidu é um ponto de virada na jornada no rei. Enkidu, o selvagem, trará a Gilgamseh a oportunidade de se perceber humano, como todos os outros, e deixar de lado sua arrogância e sua recusa em aceitar o destino humano. A relação fraternal entre eles nasce de suas diferenças sobre as quais se equilibram, complementando-se e compensando que falta ao outro. Talvez esse seja o sentido mais profundo da luta inconclusa entre eles, sem vencedor e  vencido. Eles foram criados para equilibrar um ao outro, compensando o que falta no outro. A amizade de Gilgamesh e Enkidu se constrói na disputa, na escuta, na perda, no ganho, na cooperação, no ciúmes, na vaidade, na lealdade, na coragem, na agressividade e na amorosidade.

A psicologia analítica ou junguiana (iniciada por Carl Gustav Jung) vê Enkidu o irmão-sombra de Gilgamesh, sua “criança interior”, frágil e vulnerável (ou mesmo desprezada e humilhada). Para silenciá-la, o indivíduo desafia-se continuamente a provar sua grandeza, poder e força. Por trás desse comportamento está a sociedade patriarcal, com suas imposições de sucesso e desempenho, seu desprezo pelos semelhantes, pela mulher, pelos animais e pelo meio ambiente. Daí a arrogância, a intolerância, a vaidade desmedida e a intransigência. Há quem veja a relação fraternal entre Enkidu e Gilgamesh similar a de Aquiles e Pátroclo, na Ilíada de Homero, sugerindo um relacionamento romântico, homoafetivo. Não há na epopeia nada evidente que possa sustentar essa hipótese e, talvez, essas análises estejam dizendo mais de nossos parâmetros morais contemporâneos do que sobre os valores e mentalidade da História Antiga do Oriente Próximo.

Após aventuras e perigos, a epopeia aproxima-se de seu grande tema final: a busca da imortalidade. Cabe a uma mulher fornecer a chave do segredo a Gilgamesh: ela fala sobre a planta capaz de dar a eterna juventude a quem a comesse. De posse da planta, Gilgamesh tomado de compaixão (já não é mais o rei arrogante) decide levá-la a Uruk e dividi-la com os anciãos da cidade. Porém, uma serpente come a planta roubando a imortalidade do homem. Impossível não fazer uma analogia com a serpente do Gênesis que tirou a vida eterna de Adão e Eva e levou-os à expulsão do Éden. Chegando a Uruk, Gilgamesh comenta com o barqueiro que o acompanha sobre a beleza e imponência da cidade, feita de tijolos cozidos, com suas muralhas, templos e jardins. Os versos anunciam: “Tudo isso era obra de Gilgamesh, o rei que conheceu os países do mundo. Ele era o sábio, viu os mistérios e conheceu  as coisas secretas. Transmitiu-nos uma história dos dias antes do dilúvio. Fez uma longa jornada, conheceu o cansaço, esgotou-se em trabalhos e, ao regressar, gravou numa pedra toda a história.”

Essa era a imortalidade tão desejada por Gilgamesh: suas obras, a sabedoria alcançada e sua história transmitida às gerações futuras  – enfim, tudo o que realmente fica para a eternidade.


Profa. Joelza Ester Domingues



Fonte: Blog "Ensinar História"
https://ensinarhistoriajoelza.com.br/gilgamesh-a-historia-mais-antiga-do-mundo/



O SURGIMENTO DO HERÓI PESSOAL
Em síntese: Acredita-se que a mais antiga obra da grande literatura que sobreviveu até os dias de hoje é a Epopeia de Gilgamesh. Evoluiu a partir de uma série de poemas sumérios escritos há uns quatro mil anos, e é a história de um rei semidivino mas impiedoso que fica traumatizado pela morte de seu amigo guerreiro e se lança numa busca para descobrir a chave da vida eterna. Matando monstros, encontrando-se com deidades e consultando aos sábios do caminho, Gilgamesh finalmente experimenta uma redenção pessoal que o reconcilia com sua própria mortalidade e volta a seu povo como um rei mais sábio e mais benéfico.

Fonte: Escola Arcana



Fonte da Gravura: https://apaixonadosporhistoria.com.br/img/foto/galeria_1_1126168892.jpg

A EPOPEIA DE GILGAMESH - A PRIMEIRA VERSÃO DO GÊNESIS?


As milhares de placas encontradas nas escavações em Nínive, em 1849, foram levadas para o Museu Britânico, em Londres e ficaram sob a responsabilidade de Henry Rawlinson. Havia pouco tempo que ele decifrara o cuneiforme. Coube a George Smith, auxiliar de Rawlinson no museu e perito na decifração do cuneiforme, fazer a segunda grande descoberta: em 1872, diante de uma plateia de especialistas, ele leu a 11ª. tabuinha que narrava sobre um dilúvio devastador do qual somente um homem sobreviveu. A revelação causou impacto entre especialistas, teólogos e o público leigo. Mais surpresas vieram com a decifração de outras tabuinhas: Araru, a deusa criadora do homem, o mito Enuma elish, o poema da criação, e o mito de Adapa, o homem que recusou a imortalidade – personagem que, para alguns estudiosos, seria o Adão bíblico.

O impacto dessas descobertas desafiavam a erudição literária e bíblica e lançavam para tempos mais longínquos a história da humanidade. A Epopeia de Gilgamesh já circulava por volta de 2.100 a.C., mas era muito anterior a essa data. Diante dessa datação, todas as literaturas ditas, então, como as primeiras da história, mostravam-se bem mais recentes. As narrativas do Pentateuco ou Torá, a parte mais antiga do Velho Testamento, são do I Milênio, e a versão hebraica da Bíblia teria sido redigida entre os séculos VIII e V a.C., principalmente no tempo do rei Josias (640-609 a.C.). Por sua vez, os poemas épicos Ilíada e Odisseia, atribuídos a Homero, remontam aos séculos IX e VIII a.C. Muito já se pesquisou e escreveu sobre a influência da Epopeia de Gilgamesh sobre a escrita do Gênesis chegando a se questionar a veracidade dos textos bíblicos.

Por outro lado, a epopeia que chegou a nós também não é original, mas um compilado de lendas e poemas onde se misturaram  tradições culturais de sumérios, acádios, assírios e babilônicos. Foram encontradas cópias do poema em regiões diversas da antiga Mesopotâmia, da Palestina e da Turquia, e nem todas as versões coincidem. Enfim, tanto a epopeia de Gilgamesh quanto o livro do Gênesis poderiam ter sido influenciados por histórias ainda mais antigas e difundidas no Oriente.

Como lembra Fernand Braudel: “O passado das civilizações nada mais é que a história dos empréstimos que elas fizeram uma às outras ao longo dos séculos…”


Profa. Joelza Ester Domingues



Fonte: Blog "Ensinar"
https://ensinarhistoriajoelza.com.br/gilgamesh-a-historia-mais-antiga-do-mundo/
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A EPOPEIA DE GILGAMESH E A LENDA DO DILÚVIO BÍBLICO


Uma das lendas mais fantásticas dos povos sumérios e que mostram a riqueza de sua literatura foi a Epopeia de Gilgamesh. Possivelmente a obra literária mais antiga já produzida pelos seres humanos, ela é composta por doze cantos com cerca de 300 versos cada um. A lenda conta a história de Gilgamesh, rei sumério e fundador da cidade de Uruk que governou a região por volta do ano 2.700 a.C. Esta epopeia é conhecida graças à descoberta de uma placa de argila escrita em caracteres cuneiformes em ruínas da região mesopotâmica, sendo traduzida por volta de 1890 d.C.

A trajetória de Gilgamesh o mostra como um grande conhecedor das coisas do mundo, inclusive de sua origem e de coisas existentes nas profundezas dos mares. Mas o rei Gilgamesh era despótico e dentre as várias obrigações que impunha a seu povo encontrava-se a construção de uma gigantesca muralha fortificada ao longo da cidade de Uruk. O povo amedrontado com o trabalho imensamente fatigante clamou pela ajuda da deusa Ishtar, que os ouviu e enviou Enkidu. Este, que era protegido da deusa e vivia nas florestas de cedros, deveria desafiar e vencer Gilgamesh em um duelo, matando-o em seguida. Ao chegar ao palácio do rei, iniciou o combate. Entretanto, não houve vitoriosos, sendo que Gilgamesh e Enkidu se tornaram amigos. A amizade os levou a diversas aventuras, destruindo monstros e harmonizando o mundo.

Porém, Ishtar sentiu ciúmes da amizade e tentou seduzir Gilgamesh que, sabendo que aquele que amasse a deusa morreria, não aceitou ser seu amante. A deusa com muita ira pela recusa decidiu matar o amigo de Gilgamesh, Enkidu, infligindo a ele uma doença que o deixou agonizando por doze dias antes de morrer. Com a perda do amigo, Gilgamesh resolveu ir atrás de novas aventuras, o que o levou a encontrar Utnapishtim, um homem imortal que revelou um triste mistério dos deuses: em tempos remotos os deuses haviam decidido submergir a terra de Shuruppak, mas que ele, pela sua devoção, havia recebido ordens de construir uma arca no meio do deserto e abrigar seus familiares, amigos e os quadrúpedes e aves de sua escolha. Utnapishtim assim o fez e, depois de seis dias e seis noites, salvou as pessoas e os animais, conseguindo em troca a imortalidade.

Esse trecho da Epopeia de Gilgamesh é um dos mais conhecidos e influenciou várias lendas na Antiguidade oriental, inclusive a lenda bíblica do dilúvio hebreu, famosa pela arca de Noé. Sendo a produção da Epopeia de Gilgamesh anterior à história bíblica, pode-se perceber a influência que a cultura suméria exerceu sobre os povos da Mesopotâmia e do Oriente Médio.

Gilgamesh ainda tentou conseguir a imortalidade, chegando inclusive a descer ao fundo do mar em busca de uma planta que seria capaz de evitar sua morte. Mas o rei perdeu a planta no caminho e, com medo da morte, já em sua cidade Uruk, evocou seu amigo Enkidu, que lhe contou sobre a vida no mundo das trevas.

A epopeia se tornou famosa no mundo pela sua antiguidade e pela semelhança com a lenda do dilúvio bíblico hebreu.



Fonte: Publicado por Tales dos Santos Pinto em "Mundo Educação"
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/a-epopeia-gilgamesh-diluvio.htm
Fonte da Gravura: https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/as-tabuas-epopeia-gilgamesh-foram-encontradas-na-biblioteca-ninive-construida-mando-assurbanipal-5a211e2b343ae.jpg

REFORMA ÍNTIMA - UMA REFORMA NA NATUREZA HUMANA


[...] Tentar reformas políticas antes de concluir uma reforma na natureza humana é o mesmo que botar vinho novo em odres velhos.

Conseguir que os homens sintam e reconheçam do fundo de seu coração seu real e verdadeiro dever para com todos os seus semelhantes, fará desaparecer, naturalmente, todo o antigo abuso do poder, toda lei iníqua da política nacional, fundamentada no egoísmo humano, social ou político.

Louco é um jardineiro que, desejando extirpar as plantas venenosas de seu canteiro de flores, as corta em vez de arrancá-las pela raiz.

Jamais se pode alcançar uma reforma política duradoura com os mesmos homens egoístas à frente dos assuntos.


Helena Petrovna Blavatsky



Fonte: "La Clave de la Teosofia", Editorial Saros, Buenos Aires, 1954
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/escala-de-peso-igual-bra%C3%A7o-equil%C3%ADbrio-2402966/

domingo, 30 de agosto de 2020

A REALIDADE CRUA DAS COISAS


A vida solitária, sendo silenciosa, varre a cortina de fumaça composta de palavras que o homem estabeleceu entre sua mente e as coisas.

Na solidão, permanecemos diante da realidade crua das coisas.

E, no entanto, descobrimos que a crueza da realidade que nos inspirou temor não é a causa nem de temor nem de vergonha.

Está revestida da amável comunhão do silêncio, e esse silêncio está relacionado com o amor.

O mundo, que nossas palavras tentaram classificar, controlar e até mesmo desprezar (porque não podiam contê-lo), se aproxima de nós, pois o silêncio nos ensina a conhecer a realidade respeitando-a lá onde as palavras a profanaram.


Thomas Merton, OSB



Fonte: "Na liberdade da solidão", Ed.Vozes, 2001, p. 68
Via Associação Thomas Merton - https://merton.org.br/
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