quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

A NECESSIDADE DA PRÁTICA INTUITIVA (SADHANA)

A prática intuitiva (sádhaná) tem de ser aprendida a partir de um grande mestre (sadguru), e a emancipação é obtida pela sua prática sistemática. Nada pode ser conseguido meramente dependendo do mestre sem a realização da prática intuitiva (sádhaná). Todos devem realizar prática intuitiva. A emancipação não é possível sem ela.

Algumas pessoas têm a impressão errada de que não têm de fazer um esforço e que vão atingir a emancipação devido à graça do mestre. É verdade que a libertação não é possível sem a bondade do grande mestre mas estão enganadas se pensam que a libertação pode ser obtida sem esforço. Cada um tem que merecer a bondade e só então a libertação lhe será concedida. Nunca é oferecida a um discípulo que não merece. Para merecer a graça do sadguru cada um tem que seguir o sistema de prática intuitiva com devoção e fé, e não assumir que o grande mestre dará livremente tudo sem qualquer esforço por parte do discípulo.

Outras pessoas pensam que uma vez que são os discípulos de um grande mestre e como o sadguru veio para elevar os “caídos”, o mestre irá levá-los ao longo de todo o percurso da mesma forma como um pastor reúne todo gado que pastoreia antes de deixar o pasto ao entardecer. Esta maneira de pensar não é correta. Um grande mestre não vem a este mundo para pastorear os seus discípulos como gado. O grande mestre vem libertar as pessoas, para elevá-las à divindade. As pessoas devem fazer um esforço sincero para realizar prática intuitiva (sádhaná). Com a dependência ociosa no mestre não é possível obter a emancipação.

Quando cada um inicia a prática intuitiva, surgem problemas que são obstáculos para essa busca. Sádhaná (prática intuitiva) é o esforço para libertar-se das amarras de Prakriti*. Esta submissão é mantida devido às distorções auto-criadas na mente. A fim de obter a libertação a mente tem que ser restaurada ao seu estado natural, removendo essas distorções. Foi mostrado anteriormente que estas são as reações de suas ações e não podem ser removidas sem serem experienciadas. Assim, a emancipação não é possível até que se tenha experienciado todas as reações remanescentes de vidas prévias da pessoa. As pessoas comuns vivenciam estas reações de maneira normal e, se ainda permanecerem quando morrerem, elas renascerão para esgotá-las.

Aqueles que buscam a prática intuitiva não querem nascer de novo para experienciar as suas reações restantes. Na ânsia de obter emancipação rapidamente eles apressam-se a esgotar o saldo das reações nesta vida. Então, eles devem encarar os problemas como um bom sinal, uma vez que aceleram o esgotamento das reações restantes.

Sádhaná é o esforço para libertar-se da influência de qualificação de Prakriti. Avidyámáyá** também é uma qualidade, e que também tem de ser objeto de renúncia. Se um inquilino tem ocupado uma casa por muito tempo, será extremamente difícil de repente expulsá-lo pela força, especialmente se ele tem sido tratado como um inquilino respeitável ao longo desse tempo. Ele nunca vai deixar a casa de boa vontade e vai colocar todos os tipos de obstáculos no caminho de cada um. Cada um terá que lutar contra todas as suas manobras, e somente quando o tiver derrotado completamente é que o valentão irá permitir a entrada na casa.

Do mesmo modo, como cada um esteve à mercê de Avidyámáyá por muitas vidas, não vai libertar-se facilmente quando se começa a prática intuitiva. Como um inquilino intimidador, Avidyámáyá irá lançar todos os obstáculos possíveis ao longo do caminho de cada um que tente destruir a sua influência. Sádhaná ou prática intuitiva ensinada por um grande mestre é a maneira de remover Avidyámáyá. Apenas o sucesso na sádhaná pode fazer Avidyámáyá afrouxar a sua influência. Assim, o início da verdadeira sádhaná é marcado por uma grande resistência por parte de Avidyámáyá, que, através dos obstáculos que cria, tenta obrigar cada um a desistir de sádhaná. Nas suas tentativas de subjugar Avidyámáyá, a sádhaná irá naturalmente encontrar resistências da força maléfica de Avidyámáyá.

Obstáculos na sádhaná (prática intuitiva) devem ser considerados como uma indicação do sucesso de cada um na sua tentativa de remover Avidyámáyá. Os obstáculos não são criados por Deus ou o grande mestre (sadguru), eles desejam que cada um se possa tornar emancipado como eles. Eles são criados por Prakriti, contra quem cada um está a travar uma luta. Se uma pessoa pretender ganhar, Prakriti tem que ser derrotada com a arma da sádhaná, contra a qual Avidyámáyá se defende, colocando obstáculos no caminho de cada um. Obstáculos em sádhaná devem ser considerados como bons sinais, pois indicam que a influência de Avidyámáyá está a começar a diminuir.

*   Prakriti: natureza objetiva/ilusória
** Avidyámáyá: ignorância-ilusão


Shrii Shrii Anandamurti







Fonte: Ananda Marga Pracaraka Samgha Portugal
www.anandamarga.pt
Fonte da Gravura: Tumblr.com

A ÚNICA REALIDADE INACESSÍVEL AO MAL

De onde vem a serenidade que emana do rosto dos grandes sábios? Muito simplesmente do fato de eles terem conseguido vencer o medo de perder o que quer que seja. Eles elevaram-se até ao cume, onde sentem que existe neles algo de indestrutível e que não pode ser-lhes retirado. Aconteça o que acontecer, o verdadeiro sábio sabe que a única realidade, nele mesmo e em todos os seres, está nesse cume inacessível ao mal, acima de todas as atribulações: o espírito, a centelha que Deus inculcou em cada criatura humana. Mas, como podemos chegar até lá? Trabalhando sobre nós mesmos, purificando os nossos pensamentos e os nossos sentimentos, a fim de dissolvermos, pouco a pouco, as camadas opacas que nos separam dessa centelha e nos impedem de sentir que ela é a única realidade. Aquilo a que a religião chama Providência decorre desta certeza, ancorada em certos seres que viveram essa experiência, de que algo neles nunca pode ser atingido e escapa a todas as vicissitudes.




Omraam Mikhaël Aïvanhov





Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

LITERATURA MEDIÚNICA

Comecemos por uma premissa: não devemos aceitar nem rejeitar sistematicamente tudo quanto vem do alto.

A respeito de livros e mensagens do além, há duas posições que nos parecem muito sistemáticas, senão inconvenientes: há os que absolutamente repelem qualquer mensagem, qualquer trabalho mediúnico quando não conhecem o grupo, o ambiente onde a mensagem foi recebida; e há os que aceitam tudo, sem exame, sem crítica, apenas porque vem do alto. De um lado e do outro, há, evidentemente, exagero, porque é sempre necessário que prevaleça, antes de tudo, o bom senso. Não devemos aceitar como verdade tudo quanto nos dizem certos espíritos, ainda que o façam em boa forma literária.

O próprio Allan Kardec rejeitou muitas comunicações que não estavam de acordo com o bom senso e com os conhecimentos universais. Sem prejuízo desta orientação, que é mais lógica, mais aconselhável, não devemos repelir tudo imediatamente, sem exame.

Há ocasiões em que alguns trabalhos mediúnicos nos trazem palavras edificantes, palavras que confortam embora não possamos identificar o espírito comunicante. Tenho, por exemplo, em mãos, um livro mediúnico intitulado “Orai e Vigiai”, publicado há pouco nesta Capital. (...) Nele encontro uma comunicação em que a entidade comunicante, falando sobre a imortalidade da alma, diz: “A alma traz em si paixões e só depois de vencê-las é que começa a sentir a paz da imortalidade." Mais adiante afirma ainda: "Libertai a vossa alma de tudo que possa fazê-la padecer, porque se pensais que com a morte tudo acaba, é porque ainda não chegastes ao conhecimento da verdade."

Não há, evidentemente, originalidade nestes conceitos. Mas ninguém pode negar a exatidão do pensamento que estas palavras encerram para os que aceitam a imortalidade da alma. Não procuramos saber a identidade do espírito, mas concordamos com as ideias que ele defende. 

Queremos dizer com isto que na literatura mediúnica, embora haja muitas ideias que não podemos aceitar imediatamente, há muitos conceitos aceitáveis, muitas páginas que nos dão coragem, que nos reerguem espiritualmente. Não devemos, portanto, condenar tudo, apenas porque não conhecemos a fonte. Devemos ler tudo e raciocinar.




Deolindo Amorim


(Trechos de uma crônica lida no programa Seleções Espiritualistas, dirigido por Nélson Batista de Azevedo, da União dos Discípulos de Jesus, através da Rádio Guanabara, PRC-8, do Rio de Janeiro, nos anos 50.)




Fonte: do livro ANALISES ESPÍRITAS
(Livro compilado por Celso Martins, com plena concordância de Delta dos Santos Amorim e ajuda prestimosa de Enéas Pereira Dourado, Zilda Alvarenga e Yedda Macedo Sampaio)
FEB - FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA - Rio - RJ — Brasil
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

DOS ANTIGOS MISTÉRIOS À MENSAGEM ESOTÉRICA DOS TEMPLÁRIOS


Nada para nós, Senhor, nada para nós, mas para glorificar o teu nome.


Já tendo abordado várias facetas da Milícia de Cristo iremos, neste capítulo, focar um aspecto diferente, mas que é, quanto a nós, talvez o mais importante: refere-se precisamente à Ordem do Templo. Fundada no século XII, teve um papel importantíssimo em toda a Europa, sobretudo no lado ocidental e, muito particularmente, em Portugal.

Há um fato, um fenômeno que nos suscita uma questão: porque é que no imaginário português está tão presente e tão viva a história dos Templários e o seu ideário? Não é fácil encontrar uma resposta definitiva, pois falta-nos ainda muito para compreender na sua totalidade este fenômeno que foi a Ordem do Templo.

Relativamente ao tema deste capítulo há, por um lado, a mensagem propriamente dita – que nem sempre é abordada e, por outro lado, existe um aspecto mais divulgado e extremamente importante, que é o dos símbolos e da história templária. Porém, este último aspecto sem a mensagem, sem o lado esotérico, equivale a um corpo sem alma, impedindo-nos de entender as causas profundas que moveram a Ordem do Templo. Convém, no entanto, esclarecer que o lado esotérico é muito subjetivo. O verdadeiro esoterismo não pode ser dito; o que se pode é propiciar o caminho para se chegar ao interior das coisas, às realidades que se encontram para além das aparências.

      S. Bernardo de Claraval


Se recuarmos um pouco na história, veremos que os finais de Roma coincidiram com a perda dos Mistérios na Europa, que se trasladaram para o Oriente. Nesse momento aconteceu a queda do Império Romano que originou a Idade Média europeia. Oficialmente, Roma caiu em 453 d.C., mas, na realidade, já tinha caído aquando do assassinato do Imperador Juliano e a consequente perda dos Mistérios e dos valores do mundo clássico. A partir daí assiste-se a um interregno enorme, comumente chamado “Idade Média”, que é na realidade um período intermédio entre duas culturas, duas civilizações. Os Mistérios deslocaram-se, pois, para o Oriente e o pouco que ficou foi canalizado por determinadas personagens, a nível individual, e por algumas organizações. A primeira tentativa de fazer emergir a Humanidade ocidental dessa terrível noite medieval nasceu com a Távola Redonda, o Rei Artur e o mito de Camelot, baseado no antigo esoterismo druídico celta. Cinco ou seis séculos mais tarde nasceu um fenômeno na Europa, uma personagem absolutamente excepcional, tanto sob o ponto de vista político como místico: São Bernardo.


Bernardo de Claraval. Mentor da Ordem do Templo a Ocidente e da Ordem Teutônica a Oriente, foi o precursor do projeto espiritual de uma Europa Unida.


O contexto histórico do século XII proporcionou o advento de São Bernardo. Para além deste vulto de gênio também surgiu a Escola de Chartres que muito contribuiu para o renascimento da antiga maçonaria de tipo egípcio na Europa. Os Templários, cuja Ordem foi fundada nos inícios do século XII, vão-se inserir perfeitamente neste portentoso fluxo de conhecimentos e espiritualidade, ao assimilarem os conhecimentos que a Escola de Chartres lhes propiciou, conhecimentos esses baseados na fusão do que restou dos antigos Mistérios de Roma com os Mistérios druídicos.

Havia a necessidade de uma organização que fosse a catalisadora de todo esse fluxo espiritual. Por um lado apareceu São Bernardo e, por outro, a Escola de Chartres, com a qual se deu início à construção das catedrais góticas, autênticos livros de pedra lavrada repletos de significado simbólico e esotérico. Ali estava todo um manancial de saber que, depois, irradiou um pouco por toda a Europa. Porém, a nível de organização propriamente dita, atuando no campo político e esotérico, surge a Ordem do Templo.

Os Templários apareceram com todo um conjunto de símbolos que tornavam evidente a sua missão para aqueles que os sabiam interpretar. Assim, quem sabia ler esses símbolos entrou imediatamente em contato com a mensagem esotérica e aderiu, de uma forma intelectual ou prática, à obra que os Templários se dispunham fazer. Não foi uma obra dentro de um contexto isolado, já que houve condições para que a realizassem. Se assim não fosse, nunca poderiam ter feito o que fizeram. No entanto, há um dado que importa salientar e que, quanto a nós, é a parte mais interessante desta temática: é que eles não concluíram a obra ou, como diria Fernando Pessoa “há uma missão que falta cumprir”. Nesta base, falar do passado é extremamente importante, mas falar do futuro assente no passado não é menos necessário. O passado, não o podemos modificar; o futuro, ainda o podemos construir.






Reflitamos um pouco sobre o significado da palavra TEMPLÁRIO. Eles pertenciam à Ordem do Templo, queriam construir um templo. A Ordem também tinha um outro nome: MILÍCIA DE CRISTO. Contudo, os Templários não se referiam em sentido estrito ao Cristo da Igreja Católica, mas ao Cristo Cósmico, porque Christos significa o Iluminado, que é o mesmo que Budha ou estado búdhico. Da mesma forma que Budha se chamava Sidharta Gautama antes de alcançar o estado búdhico ou a Iluminação, também Cristo se chamava Jesus antes de alcançar o estado crístico, ou seja, a Iluminação. Cedo os homens alteraram a sua mensagem, temporalizaram-na demasiado, tendo-se criado uma ou várias fraturas no cristianismo, a mais importante das quais no século IV, que deu à Igreja Católica Romana o domínio de todo o Ocidente e à qual todos deviam estar submetidos, sob pena de excomunhão. Ficaram de fora todos aqueles que seguiam a pureza do cristianismo original. Foram vários os movimentos que canalizaram esse espírito, nomeadamente a Gnose e, mais tarde – já que não iremos aqui fazer uma retrospectiva do cristianismo -, os Templários. Relativamente à denominação Ordem do Templo, é claro que, oficialmente, referiam-se ao Templo de Salomão; no entanto, este último só tinha importância para eles no seu aspecto simbólico porque, na realidade, o que eles queriam era construir o templo dentro deles próprios para, depois, se refletir no exterior. Por quê? Porque, para os Templários, como para todos os que seguem a via esotérica, o Homem é o templo de Deus. O Homem é feito à imagem de Deus. Só que a parte feita à imagem de Deus não é o corpo físico, mas o Espírito. Quando se entendeu, erroneamente, que era o corpo físico que estava feito à imagem de Deus, antropomorfizou-se Deus e criou-se Deus à imagem do homem e não o Homem à imagem de Deus. Na verdade, o corpo é o receptáculo-templo que alberga o Espírito, como um templo de pedra também alberga o Espírito. Daí haver toda uma relação entre o templo-universo-macrocosmos e o templo/corpo humano-homem-microcosmos. Assim, verificamos que as igrejas de outrora eram todas construídas na base da relação entre o macrocosmos e o microcosmos. Exemplificando, a planta típica de uma igreja compunha-se da seguinte forma:

a) havia uma nave central (linha vertical);

b) depois o transepto que cortava a nave (linha horizontal);

c) e a ábside (forma redonda)

Este esquema representa o Homem com os braços abertos e com a cabeça virada para o Oriente. O templo tinha determinadas formas, regras e leis, pois interessava que ao entrar aí o Homem sofresse um processo de transmutação. É evidente que tudo isso é simbólico, mas havendo a forma adequada o espírito pode entrar nela. O templo estava sempre orientado, pois se não estivesse no eixo oriente-ocidente estaria desorientado.

Ora, já temos um símbolo bastante indicativo do que pretendiam os Templários. Não iremos aqui analisar o número oito, mas sim o número cinco que tem mais diretamente a ver com o tema que agora nos ocupa e é uma das muitas chaves de acesso ao conhecimento interno da Ordem. Tomar, a segunda província templária no mundo, foi um foco importantíssimo de irradiação mística, espiritual e esotérica. Aí, na rosácea do pórtico principal da Igreja de Santa Maria do Olival – onde está sepultado Gualdim Pais, fundador do castelo e da cidade de Tomar -, está inscrita uma estrela de cinco pontas sobre uma rosa com as pétalas abertas. É clara aqui a relação entre a rosa e a cruz, à semelhança da que foi recentemente descoberta no interior do próprio castelo e que despertou, finalmente, a atenção dos nossos historiadores oficiais, ou seja, exotéricos. Começa-se, assim, a relacionar todo o simbolismo existente entre a Rosa e a Cruz.


A estrela de cinco pontas na Igreja de Santa Maria do Olival, em Tomar. Repare-se na foto de cima, onde a estrela surge de uma flor com as pétalas abertas.


A estrela de cinco pontas representa o microcosmos/homem, o quinto princípio humano – mente superior ou parte espiritual. Representa igualmente aquilo a que Fernando Pessoa chamou o quinto império, porque o quinto elemento é aquele que emerge do quatro, do quadrado. Se tivermos um quadrado e traçarmos duas diagonais, o seu ponto de intersecção é o quinto elemento e, se lhe dermos profundidade ao elevar esse ponto central, obteremos uma pirâmide de base quadrada e quatro lados triangulares que dá o número sete, símbolo da realização humana completa.

A nossa meta é a obtenção do quinto elemento, porque o quatro já nós o conhecemos: os quatro ângulos do espaço, os quatro pontos cardeais, o “quaternário”. O “quadrado” por si vê as coisas de forma quadrada. Necessitamos de uma dimensão metafísica, espiritual. É aí que entra o quinto elemento (o que dá profundidade), que os orientais, os alquimistas chamaram éter. Não interessa tanto o nome, mas sim que esse quinto elemento é o elemento espiritual.

Os Templários também deixaram outros símbolos que todos nós conhecemos. Um deles é o famoso medalhão com dois cavaleiros numa montada, símbolo da pobreza inicial da Ordem, já que os cavaleiros templários, à semelhança de todos os movimentos espirituais, começaram realmente com muitas dificuldades. Mas há um outro simbolismo por detrás desse, que é a representação de dois mundos, de duas missões; representa a dualidade esotérico/exotérico, espiritual/material. Os Templários tinham uma missão exotérica (exterior), pública, que satisfazia a Igreja e outra, interna, que nós ainda hoje não conseguimos desvendar na sua totalidade. Felizmente deixaram-nos símbolos, marcas, sinais que nos possibilitam avançar na busca.


A dualidade inscrita no medalhão templário e no seu gonfalão representa igualmente a luta do bem contra o mal.


Também utilizaram como símbolo o machado duplo, que vamos encontrar nas mais diversas civilizações do passado. Em Creta, no palácio do rei Minos havia o labirinto (da raiz labris = machado) onde estava encerrado o Minotauro. Teseu, o herói grego, entrou aí munido de duas armas ou instrumentos: um fio e um machado duplo. Foi com este último instrumento que ele matou o Minotauro. Do ponto de vista psicológico, este mito significa que o labirinto está dentro de nós e que, para encontrar o seu centro e matar o monstro, há que estar preparado e ir munido com esse fio para não perder o rumo e com o machado duplo para fazer um trabalho interno e outro externo.

Os Templários trabalhavam a sua natureza interna, tornando-se puros e convictos do Ideal que os habitava: um Ideal profundamente humano, universal, que se insere na atual Era de Aquário. Eles sabiam bem o perigo de cair na especulação intelectual. Atualmente, e para nosso grande mal, intelectualizamos muito e atuamos muito pouco, cristalizamos demasiado o nosso pensamento a ponto de a prática não se conformar com o que pensamos. Os cavaleiros do Templo, ao invés, não separavam o intelecto da prática. Recordemos que a divisa templária é “ORA ET LABORA”, ou seja, orar e trabalhar; cultivar o nosso interior e aplicar os seus frutos em prol da comunidade.

Dinis terá sido, na Europa do século XIV, o rei que melhor entendeu e soube da missão dos Templários. Assumindo a qualidade de Pontifex, assegurou a ponte entre o visível e o invisível, entre o mundo material e o mundo espiritual. Rei, poeta, lavrador, o seu símbolo era, por excelência, o machado duplo, que refletia a sua dupla ação: como poeta, lavrou os campos do espírito e, como lavrador, cultivou os terrenos físicos. D. Dinis lavrou as terras, construiu naus e preparou a epopeia marítima lusa que viria no futuro. Tal como diz Fernando Pessoa, “foi o plantador de naus a haver”. Além disso, protegeu os Templários perseguidos em toda a Europa pela cobiça de Filipe o Belo, criando para o efeito a Ordem de Cristo em substituição da extinta Ordem do Templo. A Ordem mudou de nome, mas os cavaleiros da Milícia de Cristo (nome pelo qual também eram conhecidos os Templários) foram preservados assim como os seus bens. D. Dinis, com este golpe político de génio, permitiu que a missão da Ordem do Templo continuasse na Europa, na sua primeira fase e, posteriormente na sua segunda fase, no mundo, como de facto veio a acontecer com resultados palpáveis na época dos Descobrimentos.

No Convento de Cristo em Tomar podemos observar ainda outros símbolos, criptogramas e criptografados com vários níveis de acesso. É interessante depararmos com uma mão com cinco dedos esculpida na pedra, uma das muitas chaves simbólicas representativas do quinto elemento utilizado tanto pelos Templários como pelas facções esotéricas do Islão. Inclusivamente e o que é interessante para um estudioso, trata-se de um símbolo universal que se encontra desde a América pré-colombiana até às culturas megalíticas. Num dos claustros do mesmo convento vemos também, esculpida na pedra, uma figura enigmática: Hermes Trismegisto. É uma divindade egípcia muito esotérica que simboliza, de entre muitas coisas, o conhecimento interno da natureza. De Hermes provém a palavra hermetismo, o que é hermético, fechado, reservado aos iniciados.

Outra figura que presumivelmente podemos encontrar no Convento de Cristo é o célebre Baphomet. Houve quem erradamente pensasse que se tratava do diabo. Na realidade, a palavra Baphomet provém do grego Bafe e Metis que significa “iniciação na sabedoria”, pelo que a sua presença nesse lugar terá um sentido mais amplo… a fazer fé pela forma como este símbolo é representado.

Um outro aspecto a realçar, e já referenciado, é o de que o Castelo de Tomar configura uma barca e está desenhado à imagem da constelação do Boieiro, da qual faz parte a estrela Arcturo (Arthus/Artur). Este desenho ou representação simbólica, figurada da barca do Castelo com a constelação do Boieiro, tem o seu quid, pois induz a missão a cumprir no tempo terreno. É um dos legados transmitidos e que nos indicia uma relação entre os cavaleiros templários em Portugal e o mito do Rei Artur. Lembremo-nos que o Rei Artur, o Rei Urso, num dos seus aspectos, é aquele que encarna na Terra o poder espiritual.


Arthus/Artur: o mito


Há uma lei na evolução do mito por forma a que as proezas de um herói antigo sejam “reatualizadas” nas de um herói mais recente. Assim, o novo Hércules (ou Arjuna, personagem guerreira do Bhagavad Gîta do pensamento indiano) do século VI d.C. chama-se Arthus e o seu instrutor é Merlin (o Krishna galocelta), o mestre iniciador que se manifesta ao discípulo antes de este dar início ao seu trabalho redentor. Merlin, arquidruida ou pontífice, surge epifanicamente perante o olhar assombrado de Arthus, incumbindo-o de empreender a difícil tarefa da conquista do Santo Graal, ou Monte Santo da iniciação, que não é nenhum cálice, taça, jóia ou pedra física.

Merlin, como mestre-iniciador, guarda relações com todos os heróis das teogonias e, deste modo, assume-se como Hércules ógmico – deus civilizador -, que inspira com seus doze trabalhos solares a demanda de seu discípulo Arthus. Este reúne, então, seus doze cavaleiros/discípulos em redor da mesa ou Távola Redonda, cavaleiros esses que representam os doze meses do ano e os doze trabalhos hercúleos que o Sol realiza na Terra ao longo do ano. Ou ainda, os doze patriarcas antediluvianos, os doze discípulos de Jesus Cristo, os doze deuses maiores, ou signos do Zodíaco…

A tradição cavaleiresca apresenta-nos Merlin encerrado na cidade de Daythia do submundo, transformado em corvo, ou seja, sumido nas trevas deste ciclo humano de queda na matéria, à espera do cisne, o Lohengrin ou cavaleiro andante do ideal, que virá um dia desencantá-lo, isto é, propiciar o ressurgimento da magia branca que trará de novo a Idade de Ouro. A lenda simbólica de Merlin está, pois, relacionada com as grandes lendas iniciáticas, desde o Prometeu agrilhoado, até ao Paraíso Perdido, às duas aves, branca e negra, de Odin (Hugin e Munin), e ao símbolo do corvo-cisne dos cavaleiros Templários.

Assim, o ancião Merlin, o jovem Arthus, os doze cavaleiros da Távola Redonda, mesa eucarística do Santo Graal, conformam todos uma teogonia medieval que, como as antigas, se apresenta no seu séptuplo significado (ou sete chaves de interpretação): astronómico, numérico, geométrico, filológico, biológico, artístico e histórico. E, tal como as demais, tratando-se de uma teogonia secreta, somente por iniciação se poderia alcançá-la.

A Távola Redonda, mesa eucarística do Santo Graal


À sua volta encontram-se os doze cavaleiros, iguais entre iguais. O cadeirão vazio (ou trono) aguarda o momento próprio para ser ocupado pelo Senhor do Mundo.


Por conseguinte, é mais um sinal de algo que os Templários nos quiseram deixar quanto ao sentido da mensagem que pretendiam levar ao mundo e a missão que pretendiam fazer. Não foi por acaso que D. Dinis, conhecedor e sabedor da interpretação iniciática da tradição da Ordem do Templo, os tenha protegido, compreendido e impulsionado na sua missão de levarem o ensinamento do Quinto Império ao mundo através da saga dos Descobrimentos Lusos. Porém, ainda não havia chegado a Hora, como bem entenderam os visionários da nossa história, entre os quais Camões e Fernando Pessoa.

O que é que podemos extrair, no imediato, da mensagem templária? Que não se pode realizar uma obra espiritual se se estiver demasiado apegado às coisas terrenas, dissipando a vida em ódios e intrigas. Há que primeiro realizar um trabalho interno de transmutação; depois, ter a coragem de o levar para a frente e de o concretizar. Neste momento, o que mais se necessita é de homens espirituais, de homens de boa vontade imbuídos do espírito de entrega e serviço a uma causa, a um ideal, com o fito de cumprir a missão pela qual a sua existência se realiza; homens de espírito que saibam a missão para a qual foram designados e tenham a luz, a força e o amor suficientes para canalizar todos os que aspiram, sem reservas, a ter um papel na história para que a missão se cumpra.

Esse sonho, esse Ideal habita de tal modo em nós que ainda hoje andamos massacrados interiormente com o Mito Sebastianista que, sob um determinado ponto de vista, é a consequência negativa desse sonho inacabado.

O que é que pretendiam os Templários? Pretendiam criar dentro do espírito da Nova Era e da Idade de Aquário, uma simbiose entre a Ciência e a Religião, ou seja, religião na ciência e ciência na religião, de modo a desenvolver a capacidade de percepcionar Deus, o Inteligível, a Unidade Cósmica na Ciência e na Religião. A Ordem do Templo, em suma, procurava a Verdade.

A mensagem que os Templários têm para nós é a de criar esse Quinto Império – o Império do Espírito na Terra, onde os valores espirituais predominam sobre os valores materiais. Isso não impede que haja concretização. Os frades do Templo sabiam muito bem que, para realizar a missão, era necessária uma sólida estrutura material, embora submetida aos valores do espírito. É esse o conceito de Quinto Império: o império do espírito sobre a matéria, o império do entendimento e da concórdia. No ideal templário todos tinham o seu lugar, porque haviam superado as diferenças de raças, credos, nacionalidades.

Nos séculos XII, XIII, embora fossem obrigados pelas circunstâncias a assumir uma posição oficial de acordo com as diretrizes da Igreja de Roma, mantiveram ocultamente ligações muito estreitas com as elites intelectuais do Oriente. Pretendiam preparar o terreno para que houvesse um entendimento entre os povos, baseado naquilo a que podemos chamar uma religião universal, respeitadora das diferenças de culto. Entendiam que Deus é Uno, que há um Caminho, uma Unidade, um Objetivo Último, um Destino Comum para toda a Humanidade.

Se aceitarmos que somos diferentes e que, apesar ou graças a essas diferenças, podemos conviver uns com os outros, porque sabemos que há algo de superior que nos une, começaremos a realizar no presente a anunciada Confederação de Estados regidos por um princípio unitário.

A obra que os Templários deixaram nas Índias e na América foi significativa; porém, ainda não tinha chegado o momento histórico para implantar um Império espiritual. Na realidade, tal como sucedeu na Grécia clássica com os pré-socráticos, houve naquela época um movimento esotérico que serviu de laboratório de ensaio para o futuro.

Os Templários constituíram um foco de luz de tal modo potente que ainda hoje ilumina o inconsciente coletivo do povo português. É uma força que não conseguimos controlar, pois ultrapassa a nossa razão. Daí querermos entender a mensagem que eles nos deixaram, descobrir verdadeiramente por que é que existiram, já que pressentimos que há algo que ficou inacabado. Há que procurar inteligir os símbolos, procurar compreender a missão templária e depois fazer a ligação com o futuro, com a Nova Era.

Portugal tem um papel importante no mundo. Teve no passado quando desbravou as trevas da Idade Média e terá no futuro dando o exemplo de como se pode conviver com os outros povos, independentemente de credos ou raças. Essa inspiradora luz podemos nós encontrá-la na Ordem do Templo (ou de Cristo) que é parte integrante da nossa história e é essa mesma história que agora nos chama para a missão do futuro. Chegou a Hora.





Eduardo Amarante






Fonte do Texto e das Gravuras: Cerberus Magazine
http://www.cerberusmagazine.com/dos-antigos-misterios-a-mensagem-esoterica-dos-templarios/

MÚSICA, NEUROCIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Na última década, houve uma grande expansão nos conhecimentos das bases neurobiológicas do processamento da música devido, em parte, às novas tecnologias de neuroimagem. Tais técnicas permitem revelar em tempo real como o cérebro processa, dá sentido e emoção à impalpabilidade de sons organizados e silêncios articulados.

O processamento musical envolve uma ampla gama de áreas cerebrais relacionadas à percepção de alturas, timbres, ritmos, à decodificação métrica, melódico-harmônica, à gestualidade implícita e modulação do sistema de prazer e recompensa que acompanham nossas reações psíquicas e corporais à música. De que maneira o cérebro sincroniza durações, agrupa e cria distinções entre sons e timbres, reconhece consonância e dissonâncias, programa movimentos precisos na execução instrumental e leitura, armazena e evoca melodias familiares e ritmos?

Como tais processos modulares integram percepções múltiplas em uma experiência singular, essencialmente emocional que seduz e direciona ao mesmo tempo nossos sentidos, nosso corpo e cognição. Entender o cérebro musical pode elucidar aspectos fundamentais da mente humana, da emergência da consciência a partir da emoção, da percepção implícita à consciência autorreflexiva. Se por um lado, a neurociência tradicionalmente lida com a objetividade dos dados e sinais que cartografam o funcionamento cerebral, por outro, a música não pode ser entendida sem levarmos em conta a subjetividade, o envolvimento lúdico e a transitividade que caracterizam a arte.

Ciência e arte compartilham o dinamismo do desenvolvimento, que não é um estado, mas um processo permanente de aprendizagem e busca de equilíbrio e abrange a capacidade de conhecer, conviver, crescer e humanizar-se com as várias dimensões da vida.


Processamento Musical

A atividade musical mobiliza amplas áreas cerebrais, tanto as filogeneticamente mais novas (neocórtex) como os sistemas mais antigos e primitivos como o chamado cérebro reptiliano que envolve o cerebelo, áreas do tronco cerebral e a amígdala cerebral. As vibrações sonoras, resultantes do deslocamento de moléculas de ar, provocam distintos movimentos nas células ciliares (receptoras) localizadas no ouvido interno e são transmitidas para centros do tronco cerebral.

A frequência de vibração dos sons tem uma correspondência com a localização das células ciliadas do ouvido interno e a intensidade dos sons está diretamente relacionada ao número de fibras que entram em ação. Quanto mais intenso o som, mais fibras entram em ação.

Existe uma relação entre a localização da célula sensorial na cóclea e a frequência de vibração dos sons. A frequência que mais excita uma célula sensorial muda sistematicamente de alta (sons agudos) para baixa frequência (sons graves). Assim, os estímulos sonoros nas chamadas células ciliares são levados pelo nervo auditivo de maneira organizada ao córtex auditivo (lobo temporal).

O primeiro estágio, a senso-percepção musical, se dá nas áreas de projeção localizadas no lobo temporal no chamado córtex auditivo ou área auditiva primária responsável pela decodificação da altura, timbre, contorno e ritmo. Tal área conecta-se com o restante do cérebro em circuitos de ida e volta, com áreas da memória como o hipocampo que reconhece a familiaridade dos elementos temáticos e rítmicos, bem como com as áreas de regulação motora e emocional como o cerebelo e a amígdala (que atribuem um valor emocional à experiência sonora) e um pequeno núcleo de substância cinzenta (núcleo acumbens) relacionado ao sentido de prazer e recompensa. Enquanto as áreas temporais do cérebro são aquelas que recebem e processam os sons, algumas áreas específicas do lobo frontal são responsáveis pela decodificação da estrutura e ordem temporal, isto é, do comportamento musical mais planejado.

Há uma especialização hemisférica para a música no sentido do predomínio do lado direito para a discriminação da direção das alturas (contorno melódico), do conteúdo emocional da música e dos timbres (nas áreas temporais e frontais) enquanto o ritmo e duração e a métrica, a discriminação da tonalidade se dá predominantemente no lado esquerdo do cérebro. O hemisfério cerebral esquerdo também analisa os parâmetros de ritmo e altura interagindo diretamente com as áreas da linguagem, que identificam a sintaxe musical.

A música não apenas é processada no cérebro, mas afeta seu funcionamento. As alterações fisiológicas com a exposição à música são múltiplas e vão desde a modulação neurovegetativa dos padrões de variabilidade dos ritmos endógenos da frequência cardíaca, dos ritmos respiratórios, dos ritmos elétricos cerebrais, dos ciclos circadianos de sono-vigília, até a produção de vários neurotransmissores ligados à recompensa e ao prazer e ao sistema de neuromodulação da dor.

Treinamento musical e exposição prolongada à música considerada prazerosa aumentam a produção de neurotrofinas produzidas em nosso cérebro em situações de desafio, podendo determinar não só aumento da sobrevivência de neurônios como mudanças de padrões de conectividade na chamada plasticidade cerebral.


Música e Plasticidade Cerebral

A experiência musical modifica estruturalmente o cérebro. Pessoas sem treino musical processam melodias preferencialmente no hemisfério cerebral direito, enquanto nos músicos, há uma transferência para o hemisfério cerebral esquerdo.

O treino musical também aumenta o tamanho, a conectividade (maior número de sinapses-contatos entre os neurônios) de várias áreas cerebrais como o corpo caloso (que une um lado a outro do cérebro), o cerebelo e o córtex motor (envolvido com a execução de instrumentos). Ativação maior de áreas do hemisfério cerebral esquerdo pode potencializar não só as funções musicais, mas também as funções linguísticas, que são sediadas neste mesmo lado do cérebro.

Vários circuitos neuronais são ativados pela música, uma vez que o aprendizado musical requer habilidades multimodais que envolvem a percepção de estímulos simultâneos e a integração de varias funções cognitivas como a atenção, a memória e das áreas de associação sensorial e corporal, envolvidas tanto na linguagem corporal quanto simbólica.

As crianças, de maneira geral, expressam as emoções mais facilmente pela música do que pelas palavras. Neste sentido, o estudo da música pode ser uma ferramenta única para ampliação do desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças, incluindo aquelas com transtornos ou disfunções do neurodesenvolvimento como o déficit de atenção e a dislexia.


Estimulando o Cérebro Musical

O uso da música para fins terapêuticos data de tempos ancestrais e apoia-se na capacidade da música de evocar e estimular uma série de reações fisiológicas que fazem a ligação direta entre o cérebro emocional e o cérebro executivo.

A música estimula a flexibilidade mental, a coesão social fortalecendo vínculos e compartilhamento de emoções que nos fazem perceber que o outro faz parte do nosso sistema de referência.

Vários estudos revelam efeitos clínicos da música na precisão dos movimentos da marcha, no controle postural, facilitando a expressão de estados afetivos e comportamentais em indivíduos com depressão e ansiedade. Tais efeitos positivos da música têm sido observados em transtornos do desenvolvimento como o déficit de atenção, a dislexia, na doença de Parkinson, na doença de Alzheimer ou em doentes com espasticidade, nos quais a reabilitação com música ou estímulos a ela relacionados como dança, ritmos ou jogos musicais potencializam as técnicas de reabilitação física e cognitiva.

A inteligência musical é um traço compartilhado e mutável que pode estar presente em grau até acentuado mesmo em crianças com deficiência intelectual. Crianças com síndrome de Willians, um tipo de doença genética, apresentam deficiência intelectual e habilidades de percepção, de identificação, classificação de diferentes sons e de nuances de andamento, mudança de tonalidade, muitas vezes, extraordinárias.

O período do neurodesenvolvimento mais sensível para o desenvolvimento de habilidades musicais se dá nos primeiros 8 anos de vida. Estudos com potenciais evocados mostram que bebês já nos primeiros 3 meses de vida apresentam várias competências musicais para reconhecer o contorno melódico, diferenciam consonâncias e dissonâncias e mudanças rítmicas. A exposição precoce à música além de facilitar a emergência de talentos ocultos, contribui para a construção de um cérebro biologicamente mais conectado, fluido, emocionalmente competente e criativo.

Crianças em ambientes sensorialmente enriquecedores apresentam respostas fisiológicas mais amplas, maior atividade das áreas associativas cerebrais, maior grau de neurogênese (formação de novos neurônios em área importante para a memória como o hipocampo) e diminuição da perda neuronal (apoptose funcional).

A educação musical favorece a ativação dos chamados neurônios em espelho, localizados em áreas frontais e parietais do cérebro, e essenciais para a chamada cognição social humana, um conjunto de processos cognitivos e emocionais responsáveis pelas funções de empatia, ressonância afetiva e compreensão de ambiguidades na linguagem verbal e não verbal.

O avanço das correlações da música com a função cerebral exige cada vez mais, um trabalho multidisciplinar (músicos, neurologistas, educadores musicais) que dê acesso à multiplicidade de experiências musicais, lúdicas, criativas, prazerosas, na análise do impacto da música no neurodesenvolvimento. Este alcance poderá significar um resgate do sentido integrado da arte, educação e ciência e um novo status para invenção e criatividade, pois nas palavras de Drummond, o problema não é inventar, é ser inventado, hora após hora e nunca ficar pronta nossa edição convincente.






Mauro Muszkat





Fonte: A Música na Escola
http://www.amusicanaescola.com.br

Via Biblioteca Virtual da Antroposofia (Texto e Gravura)
http://www.antroposofy.com.br

CONFLITO DE OPOSTOS E LIBERDADE

A maioria de nós abre mão do esforço de estar livre do conflito e se permite ser levado, assim tornando a mente embotada; e se a dor do conflito se torna muito grande, recorremos a uma crença em Deus, esperando deste modo encontrar paz, porém mais cedo ou mais tarde, isso também se torna uma fonte de conflito. Ou, receando que se não tivermos conflito vegetaríamos, ficaríamos estúpidos, satisfeitos, mantemos a aspereza do conflito discutindo intelectualmente com outros, lendo e nos informando sobre todo assunto da Terra. Mas existe uma abordagem deste problema que requer a mais alta forma de inteligência, a mais alta sensibilidade, e é observar, estar cônscio de todo este processo de conflito, sem escolha. Se você entra nisto, descobrirá que neste estado de consciência, sua mente compreende imediatamente cada problema quando ele surge de modo que o conflito não tem solo onde se enraizar. Talks by Krishnamurti in Saanen, 1963

Por favor, observe seu próprio estado. Agora, como você observa a si mesmo? Você observa como quem olha para alguma coisa apartada de si mesmo, o que significa que existe uma divisão, uma contradição entre o observador e o observado? Ou você observa sem o observador? Por favor, acompanhe isto, é importante. Quando nós estamos olhando para o enormemente complexo processo de nossas próprias consciências, cuja essência é conflito, devemos compreender o que queremos dizer com olhar, observar. Estou certo que a maioria de nós observa como alguém do lado de fora olhando para dentro. Você está cônscio de seus conflitos, e os está olhando como um censor, como um juiz, como um observador apartado do observado. É isso que a maioria de nós faz, e isso nos impede de compreender esta coisa muito complexa chamada conflito – o enorme peso, o conteúdo, suas variedades. Quando você observa como um intruso olhando para dentro, de fato você cria conflito, não cria? Você não está compreendendo o conflito, mas apenas o reforçando. Estando consciente do conflito dentro de si mesmo, o observador diz, “Eu devo mudar isso; eu não gosto de conflito, gosto de prazer”. Então o observador sempre tem esta atitude de julgar, censurar, e quando você observa assim, não está compreendendo o conflito; ao contrário, está multiplicando-o. Eu me fiz claro sobre esse ponto? Talks by Krishnamurti in Saanen, 1963

Existe dois tipos de liberdade, não existe? Existe a liberdade de alguma coisa. Eu estou livre da raiva, vamos supor, mas a liberdade de alguma coisa é uma reação; obviamente isso não é liberdade. Estar livre da própria nacionalidade não significa absolutamente nada; um homem muito inteligente está livre desse particular veneno; mas isso não constitui de fato liberdade. E existe um tipo diferente de liberdade, um estado da mente em que não existe esforço de fato. Tal liberdade é amor; não é como quando você diz, “Eu devo aprender a amar, praticar o amor”, “Eu odeio as pessoas, mas vou lutar, fazer uma tentativa para amar”, isso não é amor. A liberdade é um estado da mente onde o amor existe e não é o oposto do ódio, ou ciúme, ou agressão. Quando estamos lidando com opostos e tentando nos livrar de um para conseguir o outro, então o outro tem em sua origem seu próprio oposto, certo? Através do conflito a liberdade não pode possivelmente ser compreendida. Talks and Dialogues Saanen 1968 1st Public Talk 7th July 1968





J. Krishnamurti






Fonte: J. Krishnamurti Online
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: http://orihinaleskrima.com/krishnamurti-imagenes-eskrima-views/

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

VIVER INTENSAMENTE PARA APERFEIÇOAR-SE

Não basta que uma atividade satisfaça o vosso desejo de conhecimento, que ela vos traga a alegria, o apaziguamento ou a descontração. Em cada atividade, deveis procurar uma ocasião de aperfeiçoamento, de libertação interior. Ora, mesmo a maneira como os humanos praticam a arte, a ciência e também a religião revela que eles não procuram nelas, verdadeiramente, meios para se aperfeiçoarem. Perguntareis vós: «Então, o que significa aperfeiçoar-se?... E o que devemos nós fazer para o conseguir?» Aperfeiçoar-se é mudar a qualidade das suas vibrações, a fim de as tornar mais intensas, isto é, mais espirituais. Tudo reside na intensidade do pensamento, do sentimento e da vida; é isso que a Ciência Iniciática nos revela. Quando o ser humano conseguir viver essa vida intensa, todas as suas atividades, tanto as físicas como as espirituais, contribuirão para o seu aperfeiçoamento.





Omraam Mikhaël Aïvanhov






Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Tumblr.com

DESIGUALDADE SOCIAL E REENCARNAÇÃO

Auroville é uma pequena cidade localizada na Índia. Foi fundada em 1968 pelo casal Sri Aurobindo e Mirra Alfassa. Ali, todos os moradores recebem um salário mínimo e podem trabalhar com o que se adaptem. É uma urbe que não tem políticos ou classes sociais. Não há religião oficial e o dinheiro é de somenos importância. Atualmente, cerca de duas mil pessoas moram na cidade, que tem capacidade de acolher até 50 mil habitantes.

É uma cidade autossustentável, tem campos cultiváveis, pequenas fábricas, restaurantes, padarias, hospitais, escolas e cinemas, além de um pequeno jornal local, tudo alimentado por energia solar. Não existem prefeito, governador ou secretários. Sempre que surge um problema, uma assembleia é convocada e os cidadãos da comunidade elegem um conselho para solucioná-lo.

Os habitantes de Auroville são livres para exercer seus rituais e acreditar no que quiserem, desde que não incomodem ou tentem pregar suas crenças aos concidadãos. Para residir na cidade, o interessado precisa comprar uma casa, que custa em média 3 mil dólares. No primeiro ano que passa na cidade, o novato é observado e avaliado pela comunidade. Depois de um ano, período que eles chamam de “estágio”, os cidadãos de Auroville decidem se a pessoa pode ou não permanecer entre eles.

Observamos ser um lugar apinhado de utopias e talvez não muito encantador, pois com meio século de existência e com capacidade para receber até 50 mil moradores, hoje só habitam cerca de duas mil pessoas. Como disse, deve ser um lugar pouco atraente, ou os cidadãos de Auroville devem ser intransigentes (pouco democráticos, diria!). Pode ser que o processo de seleção pela comunidade sobre os que podem ou não residir na cidade (após um ano de “estágio” no local) seja muito rígido ou discriminatório, sabe-se lá!...

Talvez tenham conquistado em Auroville a virtual igualdade dos “bens”, mas convidamos os leitores a meditarem aqui acerca da teoria da desigualdade das riquezas conforme ensinou Kardec, demonstrando que o princípio da pluralidade das existências pode oferecer a real explicação sobre as dessemelhanças dos “bens” na Terra.

Sabemos que há “espíritas progressistas”, que apontam Kardec como um ingênuo por ter explanado sobre a desigualdade das riquezas explicando-a sob a lei da reencarnação. Evocam tais “espíritas progressistas” que o proprietário dos meios de produção gera riquezas só para si, enquanto aos que trabalham resta o salário, representando apenas uma parte da riqueza gerada. Creem no lema “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades", por isso os “espíritas progressistas” divergem de Kardec, dizendo que o Codificador se equivocou quando afirmou que é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna igualmente repartida daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente.

Kardec assegurou também que se houvesse a repartição dos bens materiais (riqueza), o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo, pela diversidade dos caracteres e das aptidões. Tal verdade espírita é intolerável para os “espíritas progressistas”, pois estes defendem a distribuição irrestrita dos bens produzidos pelas empresas a fim de que os proletários possam viver na prerrogativa e violência ideológica do infausto igualitarismo; os “espíritas progressistas” idealizam uma sociedade altruísta (à moda deles), sem valorizar as legítimas conquistas individuais para a boa performance das estruturas sociais.

Quando Kardec afirmou que se a repartição da riqueza fosse possível e durável, cada um tendo apenas do que viver, e que seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem-estar da Humanidade, os “espíritas progressistas” blasonaram que isso representa uma blasfêmia, pois as tecnologias produzidas têm atendido fundamentalmente às necessidades supérfluas da grande massa de consumidores – portanto, pessoas que já possuem o necessário podem utilizar a sua riqueza para o consumo do supérfluo.

Gritam furiosamente os tais “espíritas progressistas”, levantando por que supor que Deus é o agente da concentração de riquezas? Bradam, então, que a riqueza concentra-se pelo simples fato de que quem já possui fortuna tem mais chances de vencer num mercado competitivo, e assim acumular mais riqueza num movimento crescente de concentração de capital. Como se observa uma, dedução horizontalizada, superficial, mecanicista e nada razoável dos “insurgentes progressistas”, que insistem em dizer que isso não significa que devamos “ler a realidade” como um “plano de Deus”.

Creem os “progressistas” que a riqueza pode e deve ser concentrada sob a propriedade coletiva (sic), visando exclusivamente o benefício geral da humanidade, não permitindo a desigualdade de riqueza, pois assim toda a sociedade acaba “refém” da decisão do endinheirado de bem ou mal utilizar a riqueza. Além do quê, a sua apropriação fica sendo necessariamente injusta, já que os trabalhadores que recebem salário como remuneração pela venda de sua força de trabalho não ganham integralmente por toda a riqueza por eles produzida.

Expõem ainda os “progressistas” que em dez anos, no Brasil, as desordens distributivas estão na ordem do dia, pois os ricos se tornaram mais ricos, os pobres se tornaram menos pobres e uma certa classe média tradicional viu sua posição relativa em relação a essas duas outras camadas prejudicada. A classe média perdeu status. Os ricos se distanciaram e os pobres se aproximaram, daí o conflito atual. Que saibam utilizar a inteligência a fim de entenderem que “as classes [sociais] existiram e existirão sempre, o que porém deve preocupar, e é racional estabelecer a solidariedade entre elas, a conciliação de seus interesses, a multiplicação urgente das leis de assistência social, únicas alavancas mantenedoras da ordem.'' [1]

É bem verdade que a desigualdade social ou econômica é um problema presente em todos os países (ricos ou pobres), decorrente da má distribuição de renda e, ademais, pela falta de investimento na área social. Compreendemos que uma repartição mais equitativa dos “bens” é imprescindível. Há “trocentas” teorias sociológicas, mil sistemas diferentes, tendendo a reformar a situação das classes desprovidas, a assegurar a cada um, pelo menos, o estritamente necessário. Ótimo!

Mas, infelizmente, noutro cenário, ao invés da recíproca tolerância que deveria aproximar os homens, a fim de lhes permitir estudar em conjunto e resolver os mais graves problemas sociais, tem sido com violência e atualmente no Brasil com ameaça na boca (verbal e saliva hostil ou “cuspidela”) que o militante reivindica seu lugar na ágape social. Outrossim, é uma lástima ver o endinheirado aguilhoado no seu egoísmo e recusando a ofertar aos famintos as menores migalhas da sua fortuna. Dessa forma, um muro tem separado ambos, e os quiproquós, as selvagerias, as cupidezes, as animosidades, os desrespeitos acumulam-se dia a dia.

Politicamente sabemos que as leis elaboradas pelos legisladores podem, de momento, modificar o exterior, mas não logram mudar a intimidade do coração humano; daí vem serem os decretos de duração efêmera e quase sempre seguidos de uma reação mais depravada. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade.

Para confirmar as magníficas teses de Kardec sobre o assunto, reflitamos com Emmanuel: “A desigualdade social é o mais elevado testemunho da verdade da reencarnação, mediante a qual cada espírito tem sua posição definida de regeneração e resgate. Nesse caso, consideramos que a pobreza, a miséria, a guerra, a ignorância, como outras calamidades coletivas, são enfermidades do organismo social, devido à situação de prova da quase generalidade dos seus membros. Cessada a causa patogênica com a iluminação espiritual de todos em Jesus-Cristo, a moléstia coletiva estará eliminada dos ambientes humanos”. [2]




Jorge Hessen






Fonte do Texto e da Gravura: "Artigos Espíritas"
https://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com.br






Referências bibliográficas:

[1] Xavier Francisco Cândido. Palavras do infinito, III parte, ditado pelo Espírito Emmanuel, SP: Ed. LAKE, 1936


[2] Xavier , Francisco Cândido. O Consolador, pergunta 55, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 1978

A PSICANÁLISE DAS RELIGIÕES

Freud e os Mestres de Sabedoria Veem a Religiosidade Dogmática de Modo Semelhante


O caminho da independência e da investigação pessoal exige do buscador a coragem de enfrentar a solidão. Ele se liberta em grande parte da preguiça mental e do dogmatismo, mas tem que pagar um preço por isso, como todo aquele que abre seu próprio caminho. Quando aprofunda a sua visão crítica sobre as tentativas de viajar de carona pelo caminho espiritual, o estudante encontra um ponto de apoio e um reforço desafiador na obra de Sigmund Freud e na análise que ele faz sobre as formas convencionais de religião.

A análise crítica das religiões é inevitável: se mesmo depois de vários milênios de civilizações tão religiosas ainda existe tamanha dor no mundo, é porque há algo profundamente errado nas nossas religiões.

De fato, uma coisa é o mundo divino, e outra - bem diferente - é a ideia imperfeita que fazemos dele. Tudo o que pensamos de Deus foi feito à imagem do homem. A divindade é um espelho em que projetamos não só nossas esperanças e sentimentos nobres, mas também nossa ignorância - e isso tanto individual como coletivamente.

Basta olhar a história humana dos últimos 2000 anos para reconhecer uma quantidade imensa de crueldades, loucuras, guerras e massacres que foram abençoados e incentivados por altos sacerdotes em nome de Deus, Allah, Jeová, dos deuses do hinduísmo e assim por diante. A fé em Deus tem servido de álibi e justificativa para alguns dos piores crimes da história da humanidade. Diante disso, é recomendável observar nossas religiões do ponto de vista daquele velho cientista e sábio que inventou a psicanálise na primeira metade do século 20, com o objetivo de compreender o sofrimento humano.

A boa psicologia, como a boa tradição esotérica, nos convida a assumir nossa responsabilidade diante da vida, abandonando o mau hábito de atribuir nossos erros à “vontade de Deus”. Se quisermos abrir espaço para a religiosidade dos novos tempos, que se apoia na liberdade de pensamento, devemos reexaminar o lado difícil e sombrio da religiosidade autoritária herdada por nós dos tempos antigos. Uma relação diferente com o mundo divino - livre de dogmas e aberta para a mudança - poderá conduzir-nos sem perda de tempo a uma nova era de solidariedade entre todos os seres. No entanto, será preciso uma certa dose de persistência. Porque a verdade incomoda, subverte. Ela questiona nossas rotinas mentais e mostra coisas que preferiríamos ignorar.

Todos sabem, por exemplo, que o povo brasileiro é profundamente místico e cristão. Já em 1500 os portugueses chegaram aqui precisamente em nome da salvação dos indígenas para o reino de Deus. Pero Vaz de Caminha escreveu, em sua famosa “Carta do Achamento”, que o melhor proveito a ser tirado destas terras da “Vera Cruz” seria a salvação das almas dos seus primeiros habitantes. Mas essa bela piedade cristã era usada para encobrir com palavras generosas - como um verniz - as verdadeiras finalidades geopolíticas, estratégicas e econômicas do reino lusitano. Na prática, a teoria era outra. Pouco depois da posse portuguesa, teve começo um longo e impiedoso massacre dos povos nativos. Ainda hoje cabe perguntar por que há tamanha injustiça na sociedade brasileira depois de 500 anos de intensa evangelização, e tanta mentira, corrupção e violência em meio ao nosso povo bom e cristão.

Nenhuma religião pode atirar a primeira pedra. O povo da Índia milenar tem, certamente, uma das tradições religiosas mais ricas e inspiradoras do planeta. Mas a população do país vive na miséria, a classe política é corrupta, e o grande líder da independência do país, Mohandas Gandhi, foi assassinado a sangue frio na metade do século 20 por fanáticos cheios de sentimento religioso, simplesmente porque queria a tolerância mútua e a convivência pacífica entre pessoas de fés diferentes. A Índia milenar investe hoje em armas atômicas uma fortuna que poderia alimentar melhor seu povo. O único objetivo é sustentar uma corrida armamentista contra outro país bastante religioso, o Paquistão. Aliás, também o Paquistão desenvolveu armas atômicas em meio à pobreza da sua própria população.

Os povos árabes são igualmente místicos e tementes a Deus, mas por que têm odiado tanto os judeus e, em alguns casos, toda a sociedade ocidental? A religião de Gautama não está livre do pecado. Há casos de grandes líderes e famosos monges budistas vindos para o ocidente que se transformaram em bêbados incuráveis e completos fracassos morais, enquanto procuravam manter o discurso e a pose de “grandes sábios” diante do assombro dos seus seguidores e discípulos. [1]

Pessoa alguma poderia duvidar: o cristianismo é uma das melhores religiões do mundo. Mas será que as autoridades religiosas precisavam matar tantos milhares de pessoas em nome de Jesus, humilhando, torturando e queimando na fogueira, durante os longos tempos da Inquisição, todo aquele que parecesse discordar de alguns dos seus dogmas, entre os quais não faltavam superstições absurdas? O padre Antônio Vieira, por exemplo, foi um dos criadores do que há de melhor na alma do povo brasileiro. Pioneiro da luta pela ética na política e pelo respeito aos indígenas, pensador independente e de ideias messiânicas, ele passou vários anos da sua vida nos cárceres da “Santa” Inquisição em Portugal. Teve sorte de não ser morto.

No começo do século 19, o grande místico e maçom Hipólito da Costa fugiu dos cárceres da Inquisição portuguesa para ir viver em Londres e fundar no exílio o primeiro jornal brasileiro, Correio Braziliense. Mas milhares de pessoas não puderam sobreviver à perseguição do fanatismo religioso. Centenas de milhões viveram aterrorizados e sem liberdade de pensamento. Quando é que o Vaticano fará, finalmente, uma autocrítica mais ampla e corajosa em relação aos desatinos da Inquisição? Como foi possível que uma “Igreja de Deus” fizesse tais coisas?

Como? Bem, Freud explica isso. Apesar de todos os belos rituais, das promessas de céu, ameaças de inferno e da sincera adoração de Deus, grande parte da casta sacerdotal das diferentes religiões transmite há milênios aos seus seguidores, nas entrelinhas, pelos seus atos e não por suas palavras, uma mensagem moralmente perigosa: “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Essa moral de cara dupla da velha religiosidade dogmática, que vive das aparências, não é mais capaz de manter-se de pé no século 21. As condições cármicas e históricas atuais já não admitem um divórcio hipócrita entre teoria e prática, ideal e vida, palavra e gesto. Se o ceticismo materialista e a falta de valores éticos ameaçam a convivência social, é porque as religiões têm falhas importantes.

A solução é o autoexame individual e coletivo. Cada um deve cuidar prioritariamente da sua própria purificação, porque ninguém está isento de erros. As organizações espiritualistas enfrentam os mesmos perigos da hipocrisia e da ilusão que corroem as religiões dogmáticas. Em certos meios “esotéricos”, por exemplo, encontra-se em cada esquina um “avatar”, um “alto iniciado” ou alguém que “canaliza” grandes seres e mestres divinos, ou conversa com eles. Há profetas ingênuos que aparentam uma santidade pessoal construída artificialmente. Na grande maioria dos casos, acreditam com sinceridade em suas próprias fantasias. A escritora Helena Blavatsky estava dolorosamente certa ao afirmar que, no caminho espiritual, é preciso manter sobretudo o bom senso.

Para Sigmund Freud, criador da psicanálise, o surgimento das religiões na história humana ocorreu de modo paralelo com a construção das sociedades organizadas. Deus surge na mente do homem como uma projeção cósmica da figura do pai. Exatamente como um pai, Deus castiga, impõe limites e - na medida do nosso bom comportamento e submissão filial - nos protege do mal e da destruição. Ao longo da história humana, quanto mais surgia a necessidade de organizar a sociedade, mais era necessário reprimir os instintos.

Freud escreveu em O Futuro de Uma Ilusão que a figura de Deus surge na mente humana como um modo de impor ordem no mundo psicológico do homem primitivo: “Por pouco que os homens sejam capazes de existir isoladamente, eles sentem, não obstante, como um pesado fardo os sacrifícios que a civilização espera deles para tornar possível a vida comunitária. A civilização, portanto, tem que ser defendida contra o indivíduo, e seus regulamentos, ordens e instituições visam a esta tarefa.”

Para Freud, os homens “não são espontaneamente amantes do trabalho” e os argumentos racionais “não têm valia alguma contra suas paixões”. Assim, “toda civilização repousa sobre uma compulsão a trabalhar e uma renúncia ao instinto”. Entre os impulsos reprimidos estão o incesto, o canibalismo e a “ânsia de matar”. [2]

O psicanalista observa “com surpresa e preocupação” que “a maioria das pessoas obedece às proibições culturais nestes aspectos apenas sob pressão externa”. O mesmo ocorre com relação à conduta moral no sentido mais amplo: “a maioria das experiências que se tem da indignidade moral do homem ocorre nesta categoria (da ausência de repressão externa). Há incontáveis pessoas civilizadas que se recusam a cometer assassinato ou a cometer incesto, mas que não se negam a satisfazer sua avareza, seus impulsos agressivos ou desejos sexuais, e que não hesitam em prejudicar outras pessoas por meio da mentira e da calúnia, desde que possam permanecer impunes; isso, indubitavelmente, foi sempre assim através de muitas épocas da civilização.” [3]

Contemporâneo da ascensão do nazismo, Freud não alimenta ilusões em relação ao ser humano e olha com lucidez implacável os dramas neuróticos da nossa alma coletiva. Ele descreve o processo pelo qual uma cultura idealiza a si mesma, estimulando o orgulho narcisístico em seus integrantes como uma compensação pela repressão dos seus instintos animais elementares. Em casos extremos, o orgulho nacionalista ou racista pode levar à guerra e ao crime. E há casos brandos. Dizer que Deus é brasileiro ou que o futebol brasileiro deve ser sempre o melhor do mundo são manifestações simples e relativamente inofensivas desse tipo de narcisismo de grupo.

Vejamos alguns exemplos simples, que constatei no movimento espiritualista das últimas décadas. Em Porto Alegre muitos pensam que a capital gaúcha, por estar situada no paralelo trinta, será a capital espiritual do planeta, no futuro; em Curitiba, acredita-se que Curitiba, naturalmente, é uma cidade mágica, com um astral especial, e que comandará a passagem para a próxima civilização. Alguns habitantes da capital paulista tendem a pensar que sua cidade, por ser a maior do país, terá um papel fundamental nesse processo. Os espiritualistas cariocas, por sua vez, estão cientes da sua própria importância. Alguns habitantes da região de Brasília garantem que a região Centro Oeste, especialmente em torno da capital federal, será o berço da nova civilização. Em Nova Iorque, os habitantes daquela cidade alegam que ela é o verdadeiro centro do mundo, um tubo de ensaio para a formação da sociedade futura. Quem duvida que a Califórnia é o centro e berço do movimento da nova era? Os tibetanos, modestamente, creem que seu país é o mais sagrado e divino do planeta. Mas se você for à Índia, perceberá que os indianos têm uma serena consciência de que seu país é a origem e o criadouro de algumas das principais religiões humanas. Os espiritualistas ingleses levam muito a sério a importância dos seus próprios pontos de vista, e assim sucessivamente.

O fato central, esquecido por alguns, é que todos os lugares - e não apenas este ou aquele em especial - são, hoje, laboratórios e portais de transição para uma nova maneira de viver, mais solidária. A capital da nova era global - a “nova Jerusalém” - está em todas as partes, porque é na verdade uma nova dimensão da mente humana, uma nova maneira de funcionar, e não um lugar físico. A aurora da nova civilização ilumina a todos - mas o narcisismo compensatório encontra motivos para pensar que a nossa própria cidade é a melhor; nossa agrupação espiritualista é a grande portadora da verdade; nosso time de futebol tem que ser o campeão; nosso partido político é o único bom; nossas próprias opiniões e os livros que lemos são os mais importantes do mundo. Assim se fragmenta a verdade e se bloqueia a energia da fraternidade universal. Especialmente quando há nisso um sutil desprezo pelo ponto de vista dos outros.

Esse fenômeno narcisístico está ancorado em lugares profundos da alma humana. A civilização reprime os instintos do indivíduo usando como figura de poder um Deus paternal e autoritário que dita as regras. Aos seres humanos só resta obedecer. Fora daquela “verdade” oficial específica, única legítima, está o gigantesco e ameaçador “caos” que todos devem ignorar ou combater. O indivíduo se submete cegamente sem direito a questionar, mas, em troca, ganha o “direito” de considerar seu povo superior a todos os demais, sua religião a única verdadeira, e assim por diante. Disso têm surgido conflitos e sofrimentos inenarráveis, em quantidades indescritíveis.

Quando é visto ilusoriamente, o caminho espiritual oferece garantias tão sublimes quanto neuróticas. Só o discernimento permite perceber que na verdade a espiritualidade é o caminho da paz interior incondicional, e não do poder ou do prestígio externos; é o caminho do Ser, e não do ter; e no qual se procura o poder que nos faz parecer nada aos olhos dos outros.

Sem medo da verdade, o polêmico Freud qualifica as grandes religiões dominantes no século 20 como velhas ilusões - “relíquias neuróticas” - pelas quais o ser humano criou uma figura divina nacionalista, que o protege do desconhecido legitimando a guerra, o egoísmo dos mais fortes e o sacrifício dos mais fracos. Assim, apesar da mensagem libertária de Jesus no Novo Testamento, na prática o cristianismo passou a ser uma religião imperial e dominadora - para citar um exemplo ocidental. A religião dogmática, para Freud, é uma maneira de externalizar a divindade, ou seja, de afirmar que ela não está dentro de nós, e que, sendo assim, podemos continuar agindo com maldade e irresponsavelmente, já que algo externo nos defenderá das consequências dos nossos próprios atos. “Compraremos” esse direito de proteção externa através da nossa submissão ao clero e da participação passiva nos rituais recomendados. Um exemplo claro desse lamentável equívoco é o caso do cristão desinformado que pensa que o sacrifício de Jesus na cruz é suficiente para salvá-lo, e que portanto ele não precisa, ou não pode (já que é um “mero pecador”), aplicar na prática da sua vida concreta o ensinamento do mestre Jesus.

Freud escreve: “É duvidoso pensar que os homens em geral tenham sido mais felizes na época em que as doutrinas religiosas dispunham de uma influência irrestrita; mais morais, certamente eles não foram. Os sacerdotes, cujo dever era assegurar a obediência à religião, foram ao seu encontro neste aspecto. A bondade de Deus coloca freio em Sua própria Justiça. Alguém peca; faz depois um sacrifício ou se penitencia e fica livre para pecar de novo. (...) Assim concluíram: só Deus é forte e bom; o homem é fraco e pecador.” [4] Ao ler este parágrafo, anotei à margem com uma caneta: “Os rituais religiosos são, muitas vezes, uma exteriorização dos preceitos da sabedoria com o objetivo subconsciente de não ter de vivenciá-los na prática diária”.

Após uma longa reflexão, o psicanalista anuncia seu diagnóstico em relação às religiões convencionais e autoritárias: “Assim, a religião seria a neurose obsessiva universal da humanidade; tal como a neurose obsessiva das crianças, ela surgiu do complexo de Édipo, do relacionamento com o pai. Se for correta esta conceituação, o afastamento da religião está fadado a ocorrer com a fatal inevitabilidade de um processo de crescimento; e nos encontramos exatamente nesta junção, no meio desta fase de desenvolvimento.” [5] Isto é, o Deus-pai-autoritário corresponde à infância humana. Com nosso crescimento, nos afastamos dele e descobrimos maneiras adultas de ter acesso ao mundo divino.

Freud escreveu que o Deus em que ele próprio acreditava, o Logos, a Razão, podia parecer pouco poderoso em meados do século 20, mas que desempenharia um papel preponderante no futuro. Ele escreveu, falando do verdadeiro intelecto ou inteligência espiritual: “A voz do intelecto é suave, mas não descansa enquanto não encontra uma audiência. Finalmente, após uma incontável sucessão de reveses, obtém êxito. Este é um dos poucos pontos sobre os quais se pode ser otimista a respeito do futuro da humanidade e, em si mesmo, não é de pequena importância. E dele se podem derivar outras esperanças ainda. A primazia do intelecto jaz, é verdade, num futuro distante, mas é provável que ele não seja  infinitamente distante.” [6]

Consciente ou inconscientemente, Freud parece mencionar aqui as futuras raças humanas de que fala a filosofia esotérica, e que deverão ser guiadas por uma forte inteligência espiritual, ao invés da inteligência mental que caracterizava a humanidade do século 20. As humanidades futuras são descritas na obra “A Doutrina Secreta”, de H. P. Blavatsky. Em seguida, Sigmund Freud confessa que sua divindade preferida é a Razão, o Logos: “O nosso deus, o Logos, talvez não seja um deus muito poderoso, e poderá ser capaz de efetuar apenas uma pequena parte do que seus predecessores prometeram. Se tivermos de reconhecer isto, aceitá-lo-emos com resignação.” [7]

É no mínimo significativo o fato de que Freud, considerado ateu, adota com seu enfoque psicanalítico o mesmo ponto de vista defendido por um grande mestre de sabedoria, o Mahatma Koothoomi, em uma carta escrita em 1882 para o jornalista inglês Alfred Sinnett, na época seu discípulo leigo. A carta - que causa polêmica até hoje nos meios teosóficos e espiritualistas - foi mandada para a Índia desde os Himalaias por processos físicos desconhecidos da ciência atual. Nela o instrutor afirma, com relação à religiosidade convencional e autoritária:

“Direi a você qual é a maior, a principal causa de cerca de dois terços dos males que perseguem a humanidade desde que esta causa entrou em ação. É a casta sacerdotal, o clero e as igrejas; é nestas ilusões que o homem vê como sagradas que ele deve procurar a fonte daquele sem-número de males, a grande maldição da humanidade que domina quase totalmente o gênero humano. A ignorância criou os deuses e a astúcia aproveitou a oportunidade. Veja a Índia, veja a cristandade, o islamismo, o judaísmo e o fetichismo. Foi a impostura dos cleros que fez com que estes Deuses passassem a ser tão terríveis para o homem; é a religião que o transforma no beato egoísta, no fanático que odeia toda a humanidade fora da sua própria seita, sem torná-lo em nada melhor ou mais moral por isso. É a crença em Deus e nos Deuses que faz de dois terços da humanidade escravos de um punhado daqueles que os enganam com o falso pretexto de salvá-los. O homem não está sempre pronto a cometer qualquer tipo de maldade se lhe disserem que seu Deus ou Deuses exigem o crime? O homem não é vítima voluntária de um Deus ilusório, escravo abjeto de seus ministros astuciosos?” [8]

Convém lembrar que em 1882 as religiões eram ainda piores do que são hoje. Uma boa parte do dogmatismo autoritário já é coisa do passado, embora haja muito por fazer. O instrutor prossegue na carta:

“Durante dois mil anos a Índia gemeu sob o peso das castas, com os brâmanes engordando só a si mesmos com o melhor da terra, e hoje os seguidores de Cristo e Maomé estão cortando as gargantas uns dos outros em nome - e para maior glória - dos seus respectivos mitos. Lembre que a soma da miséria humana nunca será diminuída até aquele dia em que a parte melhor da humanidade destruir em nome da verdade, da moralidade e da caridade universal, os altares dos seus falsos deuses.”

A semelhança com o ponto de vista freudiano é forte, e mostra que o fundador da psicanálise não só deu uma grande contribuição para libertar a alma humana dos seus condicionamentos, mas que sua visão do ser humano é semelhante, em muitos aspectos, à filosofia esotérica que inspira o movimento teosófico e grande parte do espiritualismo moderno. Assim como os raja-iogues inspiradores do movimento teosófico, Freud confiava no desenvolvimento da ciência e no alargamento dos seus horizontes, como meio para eliminar as causas do sofrimento humano.

A religião do futuro está nascendo hoje livre de dogmas e de obediência cega, porque se apoia no surgimento de um novo cidadão capaz de confiar na verdade, mesmo quando ela parece desagradável ou é “politicamente incômoda”. Esse cidadão possui uma dose suficiente de bom senso para viver na prática os antigos preceitos que recomendam ter uma “vida limpa, uma mente aberta e um coração puro”. Esse ser humano solidário, base de uma civilização mais durável, estabelece em seu mundo interno uma ligação consciente e crescente com a sabedoria imortal.




Carlos Cardoso Aveline





Fonte do Texto e da Gravura: do Blog "Vislumbres da Outra Margem"
http://www.vislumbresdaoutramargem.com/2015/06/a-psicanalise-das-religioes.html

O texto “A Psicanálise das Religiões” reproduz o capítulo 11 da obra “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline; Editora Teosófica, Brasília, DF, 2002, 191 páginas.

Foi feita em 2015 a atualização a que se refere a nota [6].




NOTAS:

[1] Veja, entre outros, o relato impressionante do caso de um famoso “Rinpoche” tibetano na Califórnia, totalmente destruído pelo alcoolismo e pela hipocrisia, no sério e bem documentado livro “Ao Encontro da Sombra”, compilado por Connie Zweig e Jeremiah Abrams, Ed. Cultrix, S. Paulo, capítulo 29. O livro traz uma reflexão indispensável para os espiritualistas do século 21.

[2] “O Futuro de Uma Ilusão”, Sigmund Freud, Ed. Imago, RJ, 1997, 87 pp. Ver pp. 11-18. Para conhecer melhor a visão freudiana sobre as religiões, leia também “Moisés e o Monoteísmo”, de Sigmund Freud, Imago Editora, 1997, RJ, 119 pp.

[3] “O Futuro de Uma Ilusão”, obra citada, pp.19-20.

[4] “O Futuro de Uma Ilusão”, obra citada, p. 60.

[5]  “O Futuro de Uma Ilusão”, obra citada, p. 69.

[6] “O Futuro de Uma Ilusão”, obra citada, p. 83. Faço aqui uma pequena correção à edição brasileira da obra, seguindo a edição norte-americana com tradução de James Strachey. A edição brasileira afirma que o futuro é “infinitamente distante”, o que não faz sentido.

[7] “O Futuro de Uma Ilusão”, obra citada, p. 85.

[8] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, editadas por A. Trevor Barker, Editora Teosófica, Brasília, 2001. Ver carta número 88, vol. II, pp. 61-62. A respeito, veja também a Carta 30 no volume I, e a carta 90, no volume II.