sexta-feira, 19 de outubro de 2012

ATORES PRINCIPAIS NO CENÁRIO DA VIDA

Em algumas exposições e palestras, uso, constantemente este conceito: cada um de nós somos os atores principais no cenário de nossas vidas. A expressão, por si só bastante representativa, que remonta à atividade artística de representação, ganha outro contorno quando aplicada à existência espiritual, ou, à vida real. O palco é cada uma das encarnações e as cenas ocorrem em distintos locais, em que nosso concurso seja necessário: família, trabalho, estudo, vizinhança, lazer, ambientes públicos ou privados, veículos de transporte, ruas...

Digo isto porque, em verdade, percebo uma relativa aura de pessimismo ou de “conformismo” em grande parte do público que acorre às instituições espíritas, seja pelas questões inerentes ao cotidiano, seja pelos problemas ou dificuldades existenciais que todos (repito, todos) temos. Em parte, vejo responsabilidade dos espíritas (dirigentes e divulgadores) que, em sua maioria, tecem a pedagogia da dor, que é cunhada como “uma das formas de evolução”, e, na crônica espírita, associa-se ao amor como opções possíveis para o desenvolvimento espiritual. Creio, particularmente, que a “apologia” do sofrimento como “caminho” é resultante, tanto de nossas peregrinações espirituais sob a tutela de outras filosofias ou religiões, que atemorizam ou apregoam castigos e penas (presentes e/ou futuros), quanto da própria circunstância da ambiência brasileira, resultado de uma colorida miscigenação e pluralidade sócio-étnico-religiosa, que abre espaço para a adoção de conceitos e crenças particulares, que se somam aos fundamentos espiritistas. Há, inclusive, muita discussão, no meio e nos veículos de divulgação espíritas, sobre as chamadas “correntes” de pensamento, mais ou menos influentes e com quantitativo variável de adesões e seguidores.

Assim sendo, muitos frequentadores de centros já “entram” na reunião com aquele aspecto sofrido (e sofrível), cabisbaixos, semblante sisudo, como se carregassem em seus ombros “todos os problemas do mundo”. Sentam e permanecem, quase sempre, em silêncio (medidativo?), na espera no início dos trabalhos. Quando principia a exposição, em numerosas vezes, o tom de advertência ou de “recomendação” de algumas abordagens continua a sobrecarregar nossos companheiros ouvintes, que lamentam sua (ainda) atrasada condição, sonhando pelos dias futuros de mundos mais adiantados – a visão do “paraíso”, naquele momento. São convidados, assim, a “amar” (tolerar, ter paciência, perseverança, confiança no porvir, etc.) os sofrimentos, ou a sua própria condição existencial.

Muitos adeptos do espiritismo, assim, assumem “confortavelmente” a posição de “coitadinhos”, de alguém que está aqui, neste mundo (o “vale de lágrimas”) quase totalmente vinculado à reparação dos erros “passados”, os débitos que programou, antes de reencarnar, para saldar. Esquecemo-nos, em verdade, da própria dinâmica da vida, com seus contornos peculiares e progressivos, que altera (em função de nossa liberdade de escolha, e a atitude que dela deriva) substancialmente os meandros e as contingências de nossa atual peregrinação corporal. Nada, absolutamente, está tão predeterminado que não seja, por nós, consciencial e voluntariamente, modificado (principalmente, para melhor).

Devolver às criaturas esta maravilhosa “ferramenta” que é a disposição para a mudança, alinhavada ao direito (inalienável, inafastável e insubstituível) de escolha é o grande diferencial da Doutrina Espírita em relação às demais interpretações filosófico-morais disponíveis. A ciência espírita aplicada, por sua vez, consegue decifrar os principais enigmas de nossa existência, colocando-nos, deste modo, no devido lugar que temos, cada um, indistintamente e, como somatório, o conjunto social, que é o de contribuir decisivamente, primeiro em nossa própria superação e adiantamento espiritual, e, na sequência, como somatório das individualidades despertas e conscientes, a progressão da coletividade planetária.

O que sobressai, em mais esta temporada, no palco da matéria, é que está em cartaz a vivência oportuna dos Josés, das Marias, dos Marcelos, em novos figurinos, mas fazendo transparecer nas performances do dia-a-dia, os caracteres verdadeiros que marcam aqueles que encenam suas próprias histórias, em cenários distintos: o Espírito, individualidade inteligente, o filho pródigo da Criação.

Dr. Marcelo Henrique Pereira

Mestre e Doutor em Direito e Assessor Administrativo da Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo - ABRADE.

Fonte: http://www.aeradoespirito.net
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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