Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais (pontos fundamentais de doutrina), que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm seus artigos de fé. Sob este aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Em assentando no erro, cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro, também o é à luz meridiana. Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade: preconizar alguém a fé cega sobre um ponto de crença é confessar-se impotente para demonstrar que está com a razão.
Estas palavras são de Kardec e encontram-se no item 6 do capítulo XIX de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.
Prossegue o Codificador:
Diz-se vulgarmente que a fé não se prescreve, donde resulta muita gente alegar que não lhe cabe a culpa de não ter fé. Sem dúvida, a fé não se prescreve, nem, o que ainda é mais certo, se impõe. Ela se adquire e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais básicas e não de tal ou qual crença particular. Não é à fé que compete procurá-los; a eles é que cumpre ir-lhe ao encontro e, se a buscarem sinceramente, não deixarão de achá-la.
Em certas pessoas, a fé parece de algum modo inata; uma centelha basta para desenvolvê-la. Essa facilidade de assimilar as verdades espirituais é sinal evidente de anterior progresso. Em outras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram, sinal não menos evidente de naturezas retardarias. As primeiras já creram e compreenderam; trazem, ao renascerem, a intuição do que souberam: estão com a educação feita; as segundas tudo têm que aprender: estão com a educação por fazer. Ela, entretanto, se fará e, se não ficar concluída nesta existência, ficará em outra.
Continua Kardec:
A resistência do incrédulo, devemos convir, muitas vezes provém menos dele, do que da maneira por que lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver, é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega já não é deste século, tanto assim que precisamente o dogma da fé cega é que produz hoje o maior número de incrédulos, porque ela pretende impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre arbítrio. É principalmente contra essa fé que se levanta o incrédulo e dela é que se pode com verdade dizer que não se prescreve. Não admitindo provas, ela deixa no espírito alguma coisa de vago, que dá nascimento à dúvida. A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis porque se dobra. Fé inabalável só é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.
A esse resultado conduz o Espiritismo, pelo que triunfa da incredulidade, sempre que não encontra oposição sistemática e interessada.
Equivocados, alguns intelectuais europeus buscam combater a fé religiosa. Christopher Hitchens, com seu livro “Deus não é grande”, e Richard Dawkins, com seu DVD “Raiz de todo mal?” e seu livro “Deus – um delírio”, com mais de um milhão de cópias vendidas, são os principais, atualmente. O filósofo Anthony Crayling lhes faz companhia nessa cruzada contra a religião.
A missão do homem inteligente na Terra (Eva, VII-08) é desenvolver sua inteligência para o bem de todos, conduzindo a Deus as inteligências retardatárias.
A inteligência é rica de méritos para o futuro, mas, sob a condição de ser bem empregada.
Reflitamos a respeito.
Formatação e pesquisa: MILTER - 09-12-2012
Revista Internacional de Espiritismo – Janeiro 2008.
Fonte: www.adde.com.br
Fonte: www.adde.com.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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