Faculdades psíquicas não atestam espiritualidade. Isto é óbvio, e qualquer um pode comprovar tal fato, bastando observar os temperamentos e atitudes dos canalizadores psíquico-mediúnicos através dos tempos; mas, como toda a regra, há exceções, e muitas.
Mas, o que é psiquismo ou poderes psíquicos? Em síntese, são faculdades de percepção além dos cinco sentidos objetivos do ser humano. Uma percepção e intercâmbio com o subjetivo, com o abstrato ou com outros planos de existência, de realidade e energias.
Sabe-se que a personalidade humana é ilusória. Os veículos que a constituem (os corpos físico-etérico, astral e mental inferior) são perecíveis e com eles desaparecem suas faculdades e atributos. Assim, as faculdades inerentes a estes veículos não são permanentes e não se transmitem de uma vida para outra, a não ser como reminiscências, tendências ou possibilidades. O psiquismo da personalidade é, portanto, transitório.
Por outro lado, podemos perceber que há faculdades psíquicas ou mediúnicas superiores, ligadas à espiritualidade, à realização da vida espiritual, à consciência da unidade da vida. São as faculdades ligadas ao que é permanente no ser humano; ao que não é tocado pela “morte”.
Segundo São Paulo, onde há dons sem altruísmo não existe espiritualidade. Mas, mesmo assim, não devemos condenar ou menosprezar o psiquismo “inferior”, porém dar-lhe um controle a partir do psiquismo “superior” e espiritualidade autêntica.
Não há indivíduo que não possua “poderes ocultos” latentes. “Todos somos médiuns”, como preconiza o espiritismo clássico. Todavia, esse poder possui duas origens: normais e anormais. E o segredo nesse processo é que quando desenvolvidas as faculdades psíquicas superiores, as inferiores podem ser utilizadas positivamente e construtivamente porque não engendrarão correntes inferiores de prepotência, egoísmo, lucro e interesses diversos, correntes estas tão apreciadas pela personalidade (máscara). Ou seja, não cairá nas garras da ilusão.
Muito importante é que saibamos que pode-se ser psíquico sem espiritualidade, ser espiritual sem ser psíquico e ainda ser psíquico e espiritual ao mesmo tempo. Mas nunca deve ser esquecido que a espiritualidade e o psiquismo superior não podem ser confundidos com o psiquismo comum e inferior, superstição, ignorância, mistificação e credulidade que tanto abundam em nosso meio "espiritualista".
O psiquismo quando bem aplicado transforma-se em serviço legítimo, operando em favor do progresso humano em todos os campos e níveis. É superior quando houver, no coração, o senso de liberdade, de responsabilidade, de altruísmo, de boa vontade e de cooperação. E isto nos leva a refletir que quanto mais nossa consciência se eleva, tanto mais os sentidos psíquicos superiores (e também os inferiores, em muitos casos) evoluem e desabrocham.
Quando refinamos a personalidade (nossos corpos físico-etérico, astral e mental) também refinamos o psiquismo que lhe é inerente, o que vale dizer que um psíquico ou médium de qualidade superior está relacionado com a pureza, desenvolvimento e equilíbrio físico, energético, emocional e mental; é um ser intuitivo, onde a alma (Eu Superior) coordena a personalidade (eu inferior) e a intui.
É importante ainda destacar que os homens progridem não pelo psiquismo, que não possui, na verdade, um valor por si mesmo, mas por sua aplicação benéfica, altruísta e cooperativa, a partir da alma, do Ser Interior, do Eu Sou. O que importa é a espiritualidade, o crescimento espiritual, a evolução e a capacidade de serviço amoroso e desinteressado à humanidade. O título de médium ou psíquico não é algo a ser ostentado como um indicador de espiritualidade, de ser superior ou de uma conquista, pois é totalmente transitório.
Correlacionando o que estamos tratando com o treinamento (aperfeiçoamento, educação) esotérico, podemos obter muita luz. Pois se admitirmos que a finalidade do desenvolvimento humano é o despertar da intuição profunda e visão espiritual, entraremos numa fase de progresso muito prático, pois sendo o esoterismo corretamente definido como “a ciência da alma das coisas”, ou “a ciência das essências”, ou ainda “a ciência do significado mais profundo das coisas”, faz-nos ver que no âmago de todos os acontecimentos do mundo fenomênico e dos seres existe o mundo das causas, das energias e das essências, e o psíquico superior percebe mais claramente essa essência ou a “ciência do mundo das energias” e tem, assim, uma oportunidade muito grande, como esoterista ou espiritualista, de ser responsável pela ciência da redenção. Muitas oportunidades de serviço ao Plano Divino se lhe apresentam. Isto implica em viver harmonicamente com as realidades internas e externas e não se deixar levar pelo mundo fenomênico, transitório, pelos fenômenos psíquicos vulgares, ilusórios e pela fascinação.
Podemos ser esoteristas em nosso cotidiano se em todos os momentos procurarmos entender e sentir a vida que se oculta nas formas e situações que nos rodeiam.
Ser esoterista ou autêntico espiritualista é viver de coração a coração; perceber o lado real e oculto da existência em tudo: universo, religião, filosofia, arte, sociedade e política. É perceber que a vida se reveste de uma forma transitória para crescer, manisfestar-se e evoluir. É entrar no coração da vida e não embrenhar-se na ilusão. É “ser” acima de “ter”.
Psiquismo, pois, por si mesmo não leva à verdadeira finalidade da vida. O valor está na espiritualidade, que pode estar acompanhada ou não, neste plano, do psiquismo ou mediunidade superior que vem da alma, sem a ilusão da personalidade (da máscara).
Prof. Hermes Edgar Machado Junior (Issarrar Ben Kanaan)
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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