segunda-feira, 1 de março de 2021

QUANDO UM CEGO GUIA OUTRO CEGO


Disse Jesus: Quando um cego guia outro cego, ambos cairão na cova (texto 34, do Evangelho de Tomé).

Nos outros evangelhos aparecem as mesmas palavras em conexão com os "guias cegos" da Sinagoga de Israel.

Mas essa palavras valem também num sentido geral para cada homem, e sobretudo para os diretores espirituais.

O ego humano é um cego, não tem a vidência da Verdade libertadora. Se esse cego não se deixar guiar por um vidente, desvia do caminho certo. O guia vidente seria o Cristo Interno, a Alma; mas, se ela mesma não tem a devida experiência do seu Cristo, esse ego cego é guiado por outro ego cego.

Daí a imperiosa necessidade de despertar em si o Eu Vidente. Auto-realização é impossível sem esse auto-conhecimento.

Estamos vivendo na "era dos gurus". Por toda a parte, desde o Oriente até o Ocidente, há homens que se arvoram em mestres e congregam discípulos. Os mestres prometem e conferem "iniciação" a seus discípulos; alguns até oferecem diplomas ou certificados de iniciação. Nesse processo há dois iludidos: o iniciador e o iniciado. Nenhum homem pode iniciar outro homem; não existe alo-iniciação; só existe auto-iniciação. Jesus, o maior dos Mestres espirituais, nunca iniciou nenhum de seus discípulos, durante os três anos de sua atividade pública. Entretanto, no dia de Pentecostes, 120 dos seus discípulos se auto-iniciaram, depois de 9 dias de silêncio e meditação.

O que o Mestre pode fazer é por setas na encruzilhada, indicando o caminho certo aos iniciandos. Mas a iniciação é obra de cada iniciando iniciável. Se o Mestre não é um verdadeiro iniciado na Verdade libertadora, nem sequer pode colocar setas no caminho, porque ele mesmo ignora o caminho certo - é um guia cego guiando outro cego.

Revela grande presunção um homem querer declarar que alguém é iniciado; iniciação é um processo misterioso que ninguém conhece a não ser o próprio iniciado. Dar certificado de iniciação a alguém revela tanta ignorância quanto arrogância. É possível iniciar alguém ritualmente, mas não espiritualmente. Se um ritualmente iniciado se considera realmente iniciado, é um pobre iludido.

Uma das maiores fraudes espirituais da humanidade de hoje se chama iniciação.



Fonte: do livro "O Quinto Evangelho - A Mensagem do Cristo segundo São Tomé", texto 34, tradução e notas de Huberto Rohden, Ed. Alvorada, 5ª ed., São Paulo/SP
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/b%C3%ADblia-igreja-evangelho-lecion%C3%A1rio-810341/

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