Existem registros que existiram organizações de pedreiros desde tempos imemoriais, inclusive especulações que tenha existido uma no Jardim do Éden, mas associar isto com Maçonaria não passa de fantasia de escritores de ficção bem criativos.
Sem fatos e dados documentais não se valida a história do homem, mesmo que esta sempre sofra um pouco da influência do historiador, por mais técnico que seja. Por conta de historiadores, técnicos sérios, chegaram até nossos dias informações e fatos, devidamente comprovados, que a ordem maçônica vem se desenvolvendo a partir de grupos profissionais que trabalhavam com a pedra, pedreiros, organizados em entidades semelhantes aos atuais sindicatos. Estes grupos de trabalhadores da pedra constituíram sociedades fechadas e ligadas a construção de grandes obras em pedra lavrada que existiram na Europa, confrarias de ofícios, depois denominadas comunidades de ofício e por último, corporações de ofício. Temos notícia deste tipo de organização profissional advindo da Inglaterra na Idade Média, onde era denominada Gild, traduzido para guilda. Estas se transformaram depois em company, e posteriormente em fraternity. Assim como nas atuais agremiações e agrupamentos de profissionais, aqueles compartilhavam os segredos da profissão, à semelhança de todo grupo profissional que tem segredos guardados mediante um linguajar próprio e até esotérico. Para entrar numa agremiação profissional é necessário obter treinamento, estar devidamente regulamentado e registrado no órgão representativo da classe. Aqueles profissionais da Idade Média, com o objetivo de manter o segredo dos métodos de trabalho exigiam segredo de todas as técnicas da construção e as velavam por promessas, juramentos, senhas, palavras de passe para acessar o canteiro de obras e outros artifícios. A guilda foi consequência de antigos canteiros de obras administrados pela Igreja Católica Apostólica Romana, mediante a atuação de monges arquitetos na construção de igrejas e palácios. Quando os profissionais desta área se afastaram da liderança dos monges, seus antigos mestres e arquitetos, surgiram as guildas. Os monges, de sua parte, obtiveram o conhecimento da antiga civilização grega, as adaptaram e aplicaram na construção de sua época. As guildas eram formadas de aprendizes e companheiros, submetidos a rígida disciplina, funcionando os monges como mestres de obra.
Desde o século quatorze existe na Inglaterra registro público de companhias de pedreiros ou maçons e maçons livres. Inglaterra e França são berços da Maçonaria especulativa hodierna. Seus criadores aproveitaram-se da estrutura de funcionamento disciplinada, ordeira e fechada das antigas guildas para estabelecer o ambiente próprio ao debate de temas profundos das ciências e da sociedade. Foi no século das luzes que grandes pensadores reuniram-se para planejar a transição ao mundo moderno, sendo-lhes creditada a filosofia e a construção da modernidade. Eram homens, em sua maioria radicais e corajosos, opunham-se a mesmice liderada por ignorantes e extremistas religiosos que vedavam e dificultavam o desenvolvimento das ciências e do livre comércio. Estes grandes pensadores extirparam as raízes da cultura europeia principalmente com relação ao que na época era considerado sagrado, mágico. Aqueles cientistas e filósofos criaram a Maçonaria para obter um fórum de debate para suas ideias e as foram registrando numa grande obra literária, por isso ficaram conhecidos como os enciclopedistas. Seus escritos foram distribuídos pela Europa e Américas, muitos adquiriram assinatura para receber estas publicações as quais eram devoradas avidamente e influenciaram a sociedade, dando-lhe o contorno que hoje se vê. Absolutismo, monarquia e hierarquia foram secularizados, aflorou uma sociedade laica. Com os debates protegidos da perseguição religiosa e velados por juramentos, seus registros cifrados em linguagem simbólica e outros métodos de criptografia, os fóruns de debate da sociedade foram se desenvolvendo até adquirir sua forma na Maçonaria especulativa que herdamos.
O século das luzes, 1650-1750, foi o berço da Maçonaria - o resto é lenda, meras conjecturas ou considerações românticas. O Egito possuía cabedal na construção da pedra, haja vista as grandes obras que chegaram até nossos dias, mas de forma alguma é origem da Maçonaria. Outras civilizações antigas também nos apresentam os resultados de suas técnicas do trabalho na pedra e tijolo e igualmente nada contribuíram para a formação das agremiações de pedreiros. Nada tem que as relacione com a Maçonaria, seja ela operativa ou especulativa. A ordem maçônica é resultado da ansiedade de evolução que era tolhida em seu desenvolvimento pelos radicais religiosos e baseadas exclusivamente nas guildas da idade média. Lojas especulativas foram se organizando desde 1600, na Escócia, e atingiram o auge no final daquele século. No início do século dezoito a fase especulativa da Maçonaria aumentou, foram estabelecidas lojas em York, mas foi em Londres que o movimento explodiu, surgindo diversas lojas. Naquela ocasião, Anderson e Payne, apresentaram estudos sobre a primeira constituição que constitui o ponto de partida do direito maçônico moderno, em uso até hoje.
Existe evidência que são alicerces dos fundamentos filosóficos da Maçonaria especulativa:
- Bíblia judaico-cristã;
- Registros egípcios dos mortos; e
- Rudimentos filosóficos creditados aos vetustos essênios.
O Rito Escocês Antigo e Aceito usa como principal referência os livros da bíblia judaico-cristã.
O principal movimento filosófico que fez surgir a Maçonaria ficou registrado na história como Iluminismo, mas em sua existência a ordem maçônica, como entidade moral e evolutiva, vem se alimentando de todas as linhas de pensamento moralmente aceitáveis e que proporcionem o progresso, união e igualdade dos homens. É a razão de existência do imenso número de ritos e obediências. Não poderia ser diferente e vai continuar se fragmentando enquanto houver futuro para a espécie. Felizmente é devido a esta diversificação que a Maçonaria ainda cumpre com seu papel de desenvolver o homem, alicerçada em forte moralidade e voltada sempre para a evolução e melhoria humana quando combate absolutismo e obscurantismo.
Luz é o que se busca na Maçonaria, luz é o que se recebe quando se caminha na direção definida pela ordem. É a luz do conhecimento, da verdade. - Sapere aude! - Bradou Horácio, - ouse saber! - Diz a Maçonaria. A iluminação já está latente dentro do maçom quando este é escolhido e retirado como pedra bruta da pedreira da sociedade. A Maçonaria apenas revela o caminho para a luz, mostra caminhos.
O maçom é provocado em deixar de lado a indolência e passa a ser motivado em caminhar com o esforço de suas próprias pernas, discernimento, razão, emoção e espiritualidade. Não existe varinha de condão ou mágica! É muito suor, persistência e trabalho em si mesmo. O primeiro exemplo é dado por ocasião da iniciação, aonde o cidadão precisa de quem o guie, é introdução para muitas experiências, lendas e exemplos do sistema maçônico de educação natural. Apontam-se apenas direções e rompem-se os grilhões dos pensamentos e emoções, sempre alicerçadas em sólida espiritualidade. O desenvolvimento é racional, mas o uso da razão está sempre acompanhado da crença que existe uma mente orientadora por detrás de toda a maravilhosa natureza de que cada ser vivente é parte. A suprema liberdade aflora quando o maçom deduz que:
Todo aquele que se submete ao pensamento de outros, por preguiça de pensar, é escravo; um homem domina o outro através da força do pensamento, da capacidade de realização do pensamento; todo desenvolvimento humano surgiu primeiro na mente.
A caminhada é realizada individualmente pelas sendas da autoeducação natural, do conhece-te a ti mesmo socrático, pedra angular da filosofia da Maçonaria. Este conhecimento dos rumos para a iluminação é a responsável por mudar o homem, e este, por sua ação modificadora, influi na sociedade. E assim, caminhando para o futuro, em direção a luz, apoiado em forte espiritualidade e vontade evolutiva, com amor, o maçom dá honra e glória ao Grande Arquiteto do Universo.
Charles Evaldo Boller
Fonte do Texto e da Gravura: do Blog "O MALHETE"
http://omalhete.blogspot.com.br
Editor do Blog: Luiz Sergio Castro
Bibliografia:
1. ISRAEL, Jonathan I., Iluminismo Radical a Filosofia e a Construção da Modernidade 1650-1750, Radical Enlighttenment; Philosofy, Making of Modernity, 1650-1750, tradução: Cláudio Blanc, ISBN 978-85-370-0432-6, primeira edição, Madras Editora Ltda., 878 páginas, São Paulo, 2009;
2. MONDIN, B., Introdução à Filosofia, Problemas, Sistemas, Autores e Obras, título original: Introdizione Alla Filosofia, Problemi, Sistemi, Autori, Opere, tradução: J. Renard, ISBN 85-349-0631-9, segunda edição, Paulus, 392 páginas, São Paulo, 1974;
3. PORTO, A. Campos, A Igreja Católica e a Maçonaria, terceira edição, Editora Aurora Ltda., 320 páginas, Rio de Janeiro;
4. Revista Filosofia Especial, Ciência&Vida, Editora Escala, Ano i, número 5.
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