domingo, 14 de junho de 2020

A PRECIOSIDADE DA NOSSA VIDA HUMANA


O propósito de compreender a preciosidade da nossa vida humana é encorajarmo-nos a extrair o sentido da nossa vida humana e não desperdiçá-la em atividades sem significado. Nossa vida humana é muito preciosa e significativa, mas somente se a usarmos para obter libertação permanente e a felicidade suprema da iluminação. Devemos nos encorajar a realizar o verdadeiro significado da nossa vida humana por meio de compreender e contemplar a seguinte explicação.

Muitas pessoas acreditam que o desenvolvimento material é o verdadeiro sentido da vida humana, mas podemos ver que não importa quanto desenvolvimento material exista no mundo, ele nunca reduz os sofrimentos e os problemas humanos. Em vez disso, ele frequentemente faz com que os sofrimentos e os problemas aumentem; portanto, ele não é o verdadeiro sentido da vida humana. Devemos saber que, vindos das nossas vidas anteriores, alcançamos agora o mundo humano por apenas um breve instante e que temos a oportunidade de obter a felicidade suprema da iluminação praticando o Dharma. Essa é a nossa extraordinária boa fortuna. Quando alcançarmos a iluminação, teremos satisfeito todos os nossos desejos e poderemos satisfazer os desejos de todos os demais seres vivos; teremos libertado a nós próprios permanentemente dos sofrimentos desta vida e de incontáveis vidas futuras, e poderemos beneficiar diretamente todos e cada um dos seres vivos, todos os dias. A conquista da iluminação é, portanto, o verdadeiro sentido da vida humana.

A iluminação é a luz interior de sabedoria que é permanentemente livre de toda aparência equivocada e que atua concedendo paz mental para todos e cada um dos seres vivos, todos os dias – essa é a função da iluminação. Agora mesmo obtivemos um renascimento humano e temos a oportunidade de alcançar a iluminação pela prática do Dharma; assim sendo, se desperdiçarmos esta preciosa oportunidade em atividades sem significado, não haverá maior perda nem maior insensatez do que essa. [...]

[...] Podemos ver que a grande maioria dos seres humanos no mundo, embora tenham brevemente alcançado o reino superior do samsara como seres humanos, não encontraram o Budadharma. O motivo é que os seus olhos de sabedoria não se abriram.

O que significa “encontrar o Budadharma”? Significa ingressar no Budismo buscando sinceramente refúgio em Buda, Dharma e Sangha e, assim, ter a oportunidade de ingressar e fazer progressos no caminho à iluminação. Se não encontrarmos o Budadharma, não teremos oportunidade para fazer isso e, assim, não teremos oportunidade de obter a felicidade pura e duradoura da iluminação, o verdadeiro sentido da vida humana. [...]

Devemos nos perguntar o que consideramos mais importante – o que desejamos, pelo que nos dedicamos ou com o que sonhamos? Para algumas pessoas são as posses materiais, como uma casa grande com os últimos requintes de conforto, um carro veloz ou um emprego bem remunerado. Para outros é reputação, boa aparência, poder, excitação ou aventura. Muitos tentam encontrar o sentido de suas vidas em relacionamentos familiares e círculo de amigos. Todas essas coisas podem nos fazer superficialmente felizes por pouco tempo, mas elas também causam muita preocupação e sofrimento. Elas nunca irão nos dar a verdadeira felicidade que todos nós, em nossos corações, buscamos. Já que não podemos levá-las conosco quando morrermos, com certeza irão nos decepcionar se tivermos feito delas o principal sentido da nossa vida. As aquisições mundanas, tomadas como um fim em si mesmas, são ocas: elas não são o verdadeiro sentido da vida humana.

Com a nossa vida humana podemos, ao colocar o Dharma em prática, obter a suprema paz mental permanente, conhecida como “nirvana”, e a iluminação. Uma vez que essas aquisições são não enganosas e são estados últimos de felicidade, elas são o verdadeiro sentido da vida humana. No entanto, porque o nosso desejo por prazer mundano é tão forte, temos pouco ou nenhum interesse pela prática de Dharma. Do ponto de vista espiritual, essa ausência de interesse pela prática de Dharma é um tipo de preguiça denominado “preguiça do apego”. A porta da libertação permanecerá fechada para nós enquanto tivermos essa preguiça e, consequentemente, continuaremos a vivenciar infortúnio e sofrimento nesta vida e em incontáveis vidas futuras. [...]


Geshe Kelsang Gyatso



Fonte: do livro "Budismo Moderno - O caminho de compaixão e sabedoria",
3ª. ed., Editora Tharpa Brasil, São Paulo, SP - www.tharpa.com.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/orar-est%C3%A1tua-de-buda-eu-rezo-medida-5183164/

sábado, 13 de junho de 2020

MEDITAÇÃO: NOSSO OFERECIMENTO INCONDICIONAL A DEUS


O desafio da meditação é o de que ela leva cada um de nós a encarar a pergunta redentora fundamental: “Buscamos a Deus, ou, buscamos a nós mesmos?” Outra maneira de formular isso, seria dizer: “Buscamos nosso destino além de nossos próprios limites confinados, estamos em busca de nos definirmos meramente dentro de nossos próprios recursos, ou, buscamos nosso destino além de nós mesmos, em Deus?” É disso que trata nossa meditação: buscar romper os limites que nosso próprio egoísmo nos impõe...

Ora, nosso desafio não é o de rejeitarmos o mundo, nem o de rejeitarmo-nos a nós mesmos. O desafio é o de aprender a sacrificar. Para sacrificarmos, oferecemos algo a Deus e, na lei judaica, tudo era oferecido. Isso era chamado holocausto. Nada era retido. Tudo era dado a Deus. É isso o que a meditação faz à nossa vida.

O mantra, nossa meditação, permite que nos percamos inteiramente, que nos ofereçamos inteiramente, em nossa plenitude, a Deus. Nos ajuda a nos tornarmos um holocausto, em que tudo o que somos é oferecido, incondicionalmente, a Deus. É por isso que mantemos apenas a emissão do mantra. Ao chegar a hora, estaremos preparados para entregar isso também, pois, em nossa meditação estamos à inteira disposição de Deus. Só existimos em sua presença e, nos encontramos em sua presença por sua generosidade.

O aspecto maravilhoso da meditação é o de que nesse auto-sacrifício, e perda de identidade, sua Presença torna-se nossa presença e sua generosidade torna-se nossa generosidade. Ao perseverarmos na meditação, a perda de identidade torna-se cada vez mais completa, o sacrifício torna-se cada vez mais perfeito e, assim, a generosidade aumenta constantemente.

É por isso que, tão frequentemente, procuro ressaltar a todos a importância da repetição do mantra, do início ao fim de seu período de meditação. Sem pensamentos, sem palavras, sem imaginação, sem ideias. Lembrem-se do holocausto, do sacrifício. Ora, isso talvez seja a maior das coisas que podemos fazer como seres humanos conscientes: oferecermos nossa consciência a Deus. Ao oferecê-la, nos tornamos plenamente conscientes.

É esta a experiência de São Paulo, quando ele fala acerca da proximidade de Deus: “Então, a paz de Deus, que excede toda compreensão, guardará os vossos corações e pensamentos, em Cristo-Jesus.” Precisamos aprender a buscar essa paz, de maneira completa.


Dom John Main, OSB


Fonte: "A exatidão do Sacrifício" - Leitura de 27/04/2008
Moment of Christ (New York: Continuum, 1998) pp. 113-114.
Tradução de Roldano Giuntoli
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - www.wccm.com.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/medita%C3%A7%C3%A3o-no-lago-humor-%C3%A1gua-4882027/

VACUIDADE


"Quando você estuda budismo, deve fazer uma 'faxina geral na casa' de sua mente."

Se você quer compreender o budismo, é necessário que deixe de lado todas as ideias preconcebidas. Para começar, abandone toda ideia de substancialidade ou de existência. A noção comum da vida está firmemente enraizada na ideia de existência. Para a maioria das pessoas, todas as coisas existem; pensam que tudo que vêem e ouvem existe. É claro, o pássaro que vemos e ouvimos existe. Ele existe, mas o que eu quero dizer com isto pode não ser exatamente o que você quer dizer. A compreensão budista da vida inclui tanto a existência como a não-existência. O pássaro existe e não existe ao mesmo tempo. [...] Dizemos que a verdadeira existência emerge da vacuidade e retorna à vacuidade. O que emerge do vazio é verdadeira existência. Devemos atravessar o portal do vazio. Tal ideia de existência é muito difícil de explicar.

[...] Não há trajetória que exista permanentemente. Não há uma trajetória estabelecida para nós. A cada novo momento, temos de encontrar nossa própria trajetória. Qualquer ideia de perfeição, ou de trajetória perfeita estabelecida por outrem, não é o verdadeiro caminho para nós. Cada um de nós deve fazer seu próprio caminho e, quando o fazemos, esse caminho expressa o caminho universal. Eis o mistério. Quando você compreende uma coisa em profundidade, compreende tudo. Mas quando você tenta entender tudo, não entende nada. O melhor é compreender a si mesmo; então você compreenderá tudo. Assim, ao se empenhar em realizar seu próprio caminho, você ajudará outros e será ajudado por outros. Antes de construir seu próprio caminho, você não pode ajudar ninguém e ninguém pode ajudá-lo. Para sermos independentes nesse sentido verdadeiro, temos que deixar de lado tudo o que temos em mente e descobrir algo novo e distinto, momento após momento. É assim que se deve viver neste mundo. Por isto dizemos que a verdadeira compreensão emerge do vazio.

[...] Se você procura liberdade, não pode encontrá-la. A própria liberdade absoluta é necessária para se obter absoluta liberdade. Esta é a nossa prática. Nosso caminho não é ir sempre na mesma direção. Algumas vezes, vamos para o leste, outras para o oeste. Avançar uma milha para o oeste significa retroceder uma milha do leste. Em geral, andar uma milha para o leste é o oposto de andar uma milha para o oeste. Mas, se é possível andar uma milha para o leste, significa que é possível andar uma milha para o oeste. Isso é liberdade. Sem essa liberdade, você não pode se concentrar no que faz. Você pode acreditar que está concentrado em alguma coisa, mas, até que não obtenha tal liberdade, não estará inteiramente à vontade naquilo que faz. É por você estar preso a alguma ideia de ir para o leste ou oeste que sua atividade está em dicotomia ou dualidade. Enquanto estiver sujeito à dualidade, você não pode atingir nem a liberdade absoluta nem se concentrar. [...]


Shunryu Suzuki



Fonte: do livro "Mente Zen, Mente de Principiante", Ed. Palas Athena
Editado por Trudy Dixon - Tradução de Odete Lara
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/budista-monge-budismo-medita%C3%A7%C3%A3o-737275/

SER MÍSTICO


Na expressão Antiga e Mística Ordem da Rosacruz, existe a palavra “mística”. Esta palavra não designa nada de estranho, de bizarro ou nebuloso. Não designa tampouco um estado de êxtase permanente. Uma pessoa dita mística não vive separada do mundo e de seus problemas e nem se furta as provações e as vicissitudes inerentes á condição humana. No entanto, esta palavra é mui frequentemente empregada de maneira pejorativa, designando, deste jeito, uma pessoa por certo geralmente doce e gentil, mas sobretudo inconsequente, fantasista e desprovida de toda lógica, já que demasiado sonhadora ou utopista.

Na realidade, a palavra “místico” tem um alcance mais amplo. Ela indica que devemos manifestar as duas polaridades do nosso ser de maneira igual. Devemos, pois, ser realistas e idealistas, ou seja, levar em consideração as contingencias materiais sem negligenciar as aspirações profundas e espirituais de nossa alma. Costumamos opor com frequência essas duas noções. Ora, é no entanto essencial que elas estejam em perfeita concordância. Devemos nos esforçar para manter este estado de equilíbrio por meio de um trabalho cotidiano em nós mesmos. Se digo nos “esforçar”, é porque não é fácil e nem tampouco evidente sermos perfeitamente coerentes e justos em nossos hábitos, nossas reações e nossos desejos. Nossas ações diferem constantemente de nossas intenções e o resultado dificilmente é aquele que nós esperávamos, ou mesmo aquele no qual tínhamos nos fixado. Apesar disso, mesmo se nossos esforços não são sempre tão mantidos como deveriam ser, é essencial que tenhamos em nosso espirito que um místico deve ser o reflexo da harmonia e do equilíbrio.

Quando abordamos a vida como místicos, somos mais fortes interiormente e uma serenidade ativa se desprende de nós, sendo sentida por muitos. Em geral, a força da alma que veiculamos então é apreciada, e mesmo admirada. Mas esta força pode também ser invejada ou cobiçada e, desta maneira, desencadear a animosidade de algumas pessoas. Pensamos geralmente que a beleza, a riqueza e a ascensão social são os únicos vetores de sentimentos negativos; isto não é nada. A Paz Profunda, a serenidade e a força y interior de um individuo podem bastar para um incômodo. E assim que uma pessoa dita mística, mesmo se as suas condições de vida forem pouco invejáveis em vários planos, pode ser objeto de ataques infundados. Não se compreende por que, apesar dos problemas e provações, uma tal pessoa pode permanecer positiva. Logo, é invejada, mesmo em seu infortúnio.

Portanto, não é fácil se comportar como um místico, mas o que importa a quantidade de trabalho a fazer e a duração da tarefa para aquele que tem fé, convicções pessoais e uma consciência luminosa? Se os seus pensamentos estão constantemente voltados para o interior, se ele medita cotidianamente e ora por seus semelhantes, não deve excluir de sua vida o contato com a sociedade e seus fatos. Ao contrário, seu espírito esclarecido pode acrescentar mais ao seu entorno, seja ele restrito ou muito amplo. Por menor que seja a chance de ter uma profissão ou um dom que lhe ponha em relação com o grande público, suas palavras trarão frutos promissores. Sua voz e suas palavras serão uma expressão do Divino. Quais sejam seu destino e seu campo de ação, um místico deve alcançar a fusão entre os dois mundos, o temporal e o atemporal, o material e o espiritual, para que possa atingir o milagre da unidade e fazer sua esta célebre injunção: “Tudo o que está em cima é como o que está em baixo”.

Ser místico é ter a percepção de que existe uma meta, que avangamos na direção de um último zênite e que somos guiados na direção dele. Nossos guias são as nossas virtudes, entre elas a coragem e a perseverança. Quando em nosso céu aparecer a nuvem da incompreensão, da angústia, da dúvida e da discórdia ameaçando o nosso avango no caminho, ajamos como místicos. A senda que leva á Iluminação é árdua e a tentação de deter a marcha é grande as vezes. A vertigem pode nos abalar e a bruma se tornar mais densa. Dissipemo-la por meio de nossa vontade interior e mantenhamos nosso olhar na direção do pináculo. Não nos queixemos do que resta por fazer, mas alegremo-nos pelo caminho já percorrido.

Aquilo que é válido para a nossa caminhada interior e para nossa evolução também o é em qualquer outro campo de nossa vida, pois os estudantes do misticismo não são, conforme já havia dito, seres etéreos, cortados do mundo e de suas realidades. Sejamos místicos, afinemo-nos com os outros e sejamos um numa verdadeira fraternidade de coração.


Christian Bernard, FRC



Fonte: do livro "Reflexões Rosacruzes", 1a. ed., 2011
Biblioteca Rosacruz - Ordem Rosacruz (AMORC), Curitiba - PR
Fonte da Gravura: Tumblr.com

MEDITAÇÃO: ALÉM DO CONHECIMENTO HABITUAL


A meditação é para os que não se satisfazem com um conhecimento meramente objetivo e conceitual em relação à vida, em relação a Deus, em relação a realidades de primeira importância.

Querem entrar em contato íntimo com a própria verdade, com Deus.

Querem experimentar as mais profundas realidades da vida, vivendo-a. (…)

Não nos esqueçamos jamais de que o fecundo silêncio em que as palavras perdem seu poder de expansão, e os conceitos nos escapam, é, talvez, a mais perfeita meditação. (…)

Devemos regozijar-nos e repousar na noite luminosa da fé.

Esse é um degrau mais alto de oração. A finalidade última da meditação deve ser uma comunhão mais íntima com Deus, não só no futuro, mas também aqui e agora.


Thomas Merton, OSB



Fonte: do livro "Direções Espirituais e Meditação"
Via Comunidade Monástica Anglicana - Igreja Anglicana Tradicional do Brasil
https://www.mongesanglicanos.org/
Fonte da Gravura: Tumblr.com

A VERDADEIRA EXPERIÊNCIA


A verdadeira experiência consiste em compreender, pela nossa própria vigilância e pelo apercebimento, as causas que condicionam o pensamento.

Para compreender uma experiência no presente, para colher a sua frescura, deveis ter a mente limpa de crenças, de ilusões. A compreensão plena de uma experiência vos libertará de toda experiência, que é o tempo.

A verdade realiza-se por meio da iluminação e a iluminação é a descoberta do verdadeiro mérito da experiência. Para encontrardes este mérito verdadeiro tendes de vos concentrar sobre o que cada experiência tem de essencial, então ficareis libertos da experiência e depois a iluminação será permanente.

Ninguém pode estabelecer uma regra para se saber qual a experiência que conduz à verdade e qual a que não conduz. Cada um tem de discernir, por si mesmo, a essência de todas as experiências, a todos os instantes.

Se tiverdes interesse de ser completos, de ser a própria vida, então não evitareis coisa alguma, por causa do medo. A todo o instante vos esforçais por compreender e assimilar o significado de cada experiência.

O ponto de vista mecânico da vida priva o homem da verdadeira experiência da realidade. Esta não é uma experiência qualquer, fantástica, imaginativa, porém aquela que se manifesta, quando a mente está livre de todos os estorvos do medo, do dogma, da crença e daquelas doenças psicológicas que resultam das restrições e limitações que aceitamos, em nossa busca de própria proteção, segurança e conforto.


J. Krishnamurti



Fonte: do livro "O Medo", 2a. ed., 1948
Instituição Cultural Krishnamurti, RJ
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quinta-feira, 11 de junho de 2020

INTENÇÃO: A FORÇA ORGANIZADORA


[...] Tudo o que acontece no universo começa com a intenção. Quando decido mover os dedos do meu pé, comprar um presente de aniversário para a minha mulher, tomar uma xícara de café ou escrever este livro, tudo começa com a intenção. Essa intenção sempre surge na mente não-local ou universal, mas se torna localizada através da mente individual e, quando isso acontece, se transforma na realidade física. Na verdade, a realidade física não existiria não fosse a nossa intenção. A intenção ativa a correlação não-local, sincronizada no cérebro.

[...] A sincronização organizada pela intenção converte pontos e nódoas, linhas esparsas, descargas elétricas, padrões de luz e de sombra em uma totalidade, uma gestalt que cria uma imagem do mundo como uma experiência subjetiva. O mundo não existe como imagens, mas apenas como manchas de impulsos liga-desliga, pontos e nódoas, códigos digitais de disparos elétricos aparentemente aleatórios. A sincronização através da intenção os organiza em uma experiência no cérebro - um som, uma textura, uma forma, um sabor e um odor. Você, na condição de inteligência não-local, "rotula" essa experiência e, de repente, tem lugar a criação de um objeto material na consciência subjetiva.

O mundo é como uma mancha de Rorschach que convertemos em um mundo de objetos materiais através da sincronização coordenada pela intenção. Tanto o mundo, antes de ser observado, quanto o sistema nervoso, antes do desejo ou da intenção de observar alguma coisa, existem como um campo de atividades dinâmico (em constante transformação), não-linear, em um estado de não-equilíbrio (atividade instável). A intenção organiza sincronicamente essas atividades altamente variáveis, aparentemente caóticas e não-relacionadas de um universo não-local em um sistema altamente ordenado, dinâmico, que se auto-organiza. Esse sistema se manifesta ao mesmo tempo como um mundo observado e um sistema nervoso, através do qual esse mundo está sendo observado. A intenção em si não surge no sistema nervoso, embora seja coordenada através do sistema nervoso. A intenção, no entanto, é responsável por outras coisas além da cognição e da percepção. Todo aprendizado, lembrança, raciocínio, dedução de inferências e atividade motora são precedidos pela intenção. Ela é a base da criação.

Os antigos textos védicos conhecidos como Upanishads declaram: "Você é o seu desejo mais profundo. Como é o seu desejo, assim é a sua intenção. Como é a sua intenção, assim é a sua vontade. Como é a sua vontade, assim é a sua ação. Como é a sua ação, assim é o seu destino." Nosso destino, em última análise, é proveniente do nível mais profundo do desejo e também do nível mais profundo da intenção. Os dois estão intimamente ligados um ao outro.

O que é intenção? A maioria das pessoas diz que é um pensamento de algo que queremos realizar na vida ou que desejamos para nós mesmos, mas na verdade ela é mais do que isso. A intenção é uma maneira de satisfazer uma necessidade que temos, seja de coisas materiais, de um relacionamento, da realização espiritual ou de amor. A intenção é o pensamento que nos ajudará a satisfazer uma necessidade. E a lógica é que, quando satisfizermos essa necessidade, seremos felizes.

Quando as coisas são vistas dessa maneira, a meta de todas as nossas intenções é sermos felizes ou realizados. Primeiro, se nos perguntarem o que queremos, poderemos dizer: "Quero mais dinheiro", ou "Quero um novo relacionamento". Depois, se nos perguntarem por que queremos isso, poderemos dizer algo como: "Bem, para poder passar mais tempo com os meus filhos." Se nos perguntarem por que queremos passar mais tempo com os filhos, poderíamos responder: "Porque então serei feliz." Poderemos perceber, portanto, que a meta suprema, que se sobrepõe a todas as outras, é uma realização no nível espiritual que chamamos de felicidade, alegria ou amor.

Toda atividade no universo é gerada pela intenção. Segundo a tradição védica: "A intenção é uma força da natureza." A intenção mantém o equilíbrio de todos os elementos e forças universais que possibilitam que o universo continue a evoluir. Até mesmo a criatividade é organizada através da intenção. A criatividade ocorre no nível individual, mas também tem lugar universalmente, possibilitando que o mundo periodicamente dê saltos quânticos na evolução. Em última análise, quando morremos, a alma dá um salto quântico na criatividade. Na verdade ela diz: "Quero agora expressar-me através de um novo sistema corpo-mente ou encarnação." Desse modo, a intenção deriva da alma universal, torna-se localizada em uma alma individual e por fim se expressa através de uma mente individual, local.

A partir da experiência do passado criamos memórias, que são a base da imaginação e do desejo. O desejo, uma vez mais, é a base da ação, e assim o ciclo se perpetua. Na tradição védica e no budismo, esse ciclo é conhecido como a Roda de Samsara, a base da existência terrena. O "eu" não-local torna-se o "eu" local enquanto se introduz através desse processo cármico. Quando a intenção se repete, o hábito é criado. Quanto mais ela se reproduz, mais provável é que a consciência universal crie o mesmo padrão e manifeste a intenção no mundo físico.

[...] A mente não-local que existe em você é igual à mente não-local que existe em mim, ou, para dizer a verdade, em um rinoceronte, em uma girafa, em um pássaro ou em uma minhoca. Até mesmo uma rocha contém inteligência não-local. Essa mente não-local, essa consciência pura, é o que nos confere a sensação do "eu"... Essa consciência universal é o único "eu" que existe. No entanto, esse único "eu" universal se diversifica, se transforma em um número quase infinito de observadores e coisas observadas, dos que vêem e o cenário, de formas orgânicas e formas inorgânicas - todos os seres e objetos que formam o mundo físico. Esse hábito da consciência universal de se diversificar e se transformar em consciências particulares é anterior à interpretação. Desse modo, antes de o "eu sou" dizer: "Eu sou Deepak", uma girafa ou uma minhoca, ele é simplesmente "eu sou". O potencial criativo infinito do "eu" dispõe o "eu" comum no "eu" que é você, ou eu, ou qualquer outra coisa no universo.

Esse conceito é idêntico ao dos dois níveis da alma, a alma universal e a alma individual, porém inserido em um contexto pessoal. Na condição de seres humanos, estamos acostumados a pensar no nosso eu individual como "eu", sem notar ou reconhecer o "eu" maior, universal que também é chamado de alma universal. O uso da palavra "eu" é meramente um ponto de referência engenhoso que usamos para localizar o nosso ponto de vista único dentro da alma universal. Mas, quando nos definimos apenas como um "eu" individual, perdemos a habilidade de levar a imaginação além dos limites do que é tradicionalmente considerado possível. No "eu" universal, todas as coisas não apenas são possíveis, como já existem, exigindo apenas que a intenção as faça sucumbir em uma realidade no mundo físico. [...]


Dr. Deepak Chopra



Fonte: do livro "A Realização Espontânea do Desejo", Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
Tradução de Claudia Gerpe Duarte.
Fonte da Gravura: Tumblr.com

NASCER DE NOVO: UM TIPO DE NASCIMENTO INTEIRAMENTE NOVO


Quando no Evangelho de São João o Cristo diz ao doutor da Lei, Nicodemos: 'Você precisa nascer de novo', não estava apenas lhe dizendo claramente algo que ele poderia ouvir, se prestasse atenção, no silêncio e na meditação de seu próprio coração. Estava também lhe dizendo que as respostas comuns não bastam para satisfazer sua necessidade. 'Nascer de novo' é mais do que uma questão de boas resoluções morais, de autodisciplina, de ajustamento a requisitos e exigências sociais, de encontrar para si mesmo um papel de valor e respeito na sociedade. O apelo para 'renascer de novo' de fato se faz ouvir em nossos corações, mas nem sempre tem o mesmo sentido porque não somos sempre capazes de interpretá-lo na sua verdadeira profundidade. (...)

Jesus está falando de um tipo inteiramente novo de nascimento. É um nascimento que dá um sentido definitivo à vida, (...) é o despertar espiritual da mente e do coração. (...) É nascer para além do egotismo, para além do egoísmo, para além da individualidade, (...) Nascer do espírito é nascer em Deus para além do ódio, para além da luta, na paz, na alegria, na modéstia, no serviço, na mansidão, na humildade, na força.


Thomas Merton, OSB



Fonte: do livro "Amor e Vida"
Comunidade Monástica Anglicana - Igreja Anglicana Tradicional do Brasil
https://www.mongesanglicanos.org/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

O QUE É A IMPERMANÊNCIA NOS PLANOS ILUSÓRIOS ?


Encare sua vida como se fosse um banco no parque, em uma tarde de clima ameno. Você vai até lá passar algumas horas, sentado, aproveitando tudo ao máximo: a brisa fresca, os pássaros cantando, as borboletas, o sol batendo no rosto.

Tudo aquilo dura pouco tempo e vai chegar ao fim. Por isso, você deve aproveitar o momento e criar boas condições. Você não deve se apegar ao banco. Não tente colocar uma etiqueta nele com o seu nome, querendo mantê-lo para você! Isso vai impedi-lo de sentir o prazer e a liberdade de estar lá, simplesmente sentado. E se alguém se sentar com você, seja gentil, tratando-a com amor e compaixão. Não brigue com esta pessoa. Seu tempo é muito curto. Vocês estão ali apenas de passagem. Ao lembrarmos de que tudo na vida é impermanente e chega ao fim, podemos ser generosos com ela, sabendo que provavelmente ela nunca pensa no fato de que terá que deixar o banco em breve, assim como você.

Todos nós queremos manter as coisas e não conseguimos. Temos que ter compaixão por elas, e por nós mesmos. Compreender a impermanência nos faz ricos: temos tudo neste momento e podemos ser generosos, abertos, decididos a fazer o que pudermos para beneficiar a todos com o nosso amor, sem medo de perder.


Lama Tsering

Entrevista de Lama Tsering concedida ao site Vya Estelar.


Fonte: Chagdud Gonpa - Odsal Ling
Centro de budismo tibetano vajraiana
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/c%C3%A9u-nuvem-c%C3%BAmulo-azul-branco-3238050/

quarta-feira, 10 de junho de 2020

CONFLITOS INTERPESSOAIS



Vivêssemos nós numa ilha absolutamente deserta, não teríamos com que nos comparar e nem noção da posição que ocupamos. Há quem diga então que isso seria benéfico pelo fato de não nos inquietarmos com o que nos falta. Além disso, não experimentaríamos as inconveniências que os relacionamentos nos impõem dia a dia. Aliás, diz-se que o sofrimento neste mundo tem origem justamente no confronto com as pessoas e é comum ouvirmos — e talvez dizermos — “eu não dou trabalho a ninguém”, “as minhas coisas são todas certinhas”, “se eu vivesse sozinho eu não passaria raiva com ninguém”...

Sendo uma lei inexorável o convívio social (ninguém nasce sozinho), é imperativo percebermos a que estamos submetidos e quais os propósitos da Natureza que nos impôs essa vida carnal — se bem é improvável supormos que a vida espiritual seja de isolamento.

Os contratempos entre as pessoas ocorrem primeiramente em razão do livre arbítrio de cada um. A liberdade de pensamento e de ação aliada à inteligência particular de cada indivíduo estabelece o encontro de consciências independentes. Logicamente, por que nem todos pensam sob os mesmos valores, vez ou outra, as opiniões se contradizem e até podem ser tão extremas a ponto de gerar sérios conflitos. Pelo fato de compartilharem um mesmo plano e por muitas vezes a caminhada exigir uma única escolha dentre as variadas proposições, aqueles que foram preteridos podem conservar sentimentos negativos.

A concorrência natural da vida nos convida a uma competição social. Ora, sendo tripulantes de um mesmo navio, obrigatoriamente todos viajamos sob um itinerário único, ainda que dentre nós haja quem deseje mudar a rota. Em algumas situações, podemos descer desse navio e, tomando de um barquinho particular, seguir um rumo diferente. Entretanto, em geral, ou estamos sob o leme de alguém ou em nosso barco conduzimos outras pessoas.

Somos tendenciosos a culpar os outros pelos contratempos sociais a partir de quando não temos domínio sobre as consciências, porque não conseguimos influenciar a todos exatamente segundo os moldes que julgamos acertados para a organização das coisas. Essa injustiça para com os semelhantes se dá pela ignorância de nossa parte em percebermos que a ordem da natureza terrena não pertence a nenhum dos que nela habitam, quer dizer, ninguém dentre nós é o responsável absoluto pelas leis que aqui imperam. Se tivéssemos que culpar alguém este seria a Consciência superior criadora deste mundo — que seria Deus. Mas como não nos sentimos à vontade para condenar a Divindade, somos convidados a pensar sobre o que enxergamos como imperfeição no mundo. Será que ele não é perfeito e que a imperfeição esteja justamente em nós, que não enxergamos a perfeição das coisas?

No jogo de opiniões diversas e a precisão de decisões, somos compelidos a buscar o equilíbrio social, ou seja, o acordo mútuo entre as opiniões — que os gregos intitularam democracia. Mas como os ideais pessoais são por vezes tão discordantes — porque cada qual prejulga possuir a razão das coisas —, cremos viver num plano de ideias incompatíveis, e, por conseguinte, de plena infelicidade, já que não há acordo total. Isto se dá em decorrência de fixarmos nossa vida exclusivamente pelos valores humanos a que estamos submetidos neste orbe. Despertando nossa consciência para a essência superior — da vida espiritual —, teremos alargado o pensamento, potencializando nossa capacidade de melhor elaborar nossas ideias — seja para vivermos melhor o hoje, seja para o amanhã, no plano dos Espíritos.


Louis Neilmoris



Fonte: do livro "O Grande Encontro Filosófico - Autodescobrimento Aplicado"
Ed. Luz Espírita, abril de 2014, digital - www.luzespirita.org.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/c%C3%A9rebro-acho-que-pensamentos-4065092/

CONTATO COM O NOSSO VERDADEIRO SER


Uma das maiores causas de tristeza e de sofrimento é a inabilidade em se comunicar. Muito frequentemente aquilo que tentamos dizer, ou o meio de expressão, distorce o que sentimos e o que queremos significar. O repetido fracasso em comunicar-se pode acumular um terrível sentimento de que não conseguiremos comunicar o que verdadeiramente sentimos e o que queremos dizer. Se sentirmos que o nosso eu verdadeiro está permanentemente isolado dos outros e que nossos mais profundos sentimentos estão impossibilitados de comunicação para além de nós mesmos, então estamos naquele isolamento onde reside toda solidão e medo. Um dos efeitos mais poderosos da meditação é que ela confronta, diretamente, esta amarga sensação de isolamento...

Pela meditação nós a realçamos... não há lugar onde se esconder. Não haverá como nos distrairmos, se estamos meditando. A meditação expõe, como uma dura e essencial verdade, que se você quer ser completamente humano você precisa encarar o fato de que se não podemos comunicar nosso verdadeiro eu aos outros é porque nós mesmos não entramos em contato com o nosso ser. Se nos sentimos isolados daqueles que nos cercam é porque estamos isolados de nós mesmos. Apenas quando soubermos quem somos é que poderemos ser quem somos e poderemos nos comunicar com os outros. À medida que você medita, você entra em contato com o seu verdadeiro e comunicativo ser.

Fazer isto requer uma grande quantidade de trabalho real de perseverança na meditação. A perseverança nos fará perguntar, "O que de fato nos isola do nosso verdadeiro ser?" A meditação nos dá uma resposta simples. Não uma resposta fácil, mas simples: "Nada". Nada nos separa de nosso verdadeiro eu. Nada, exceto a falsa ideia de que alguma coisa se interpõe entre eles. Esta falsa ideia é o que chamamos de ego. [...]

A cada meditação, pela manhã e à tarde, nós nos livramos de outra camada de auto-consciência. Primeiro deixamos para trás todas as ideias. Então, na próxima camada de consciência nos desprendemos da imaginação e deixamos todas as imagens para trás. Quando tivermos feito isto seremos simplesmente nós mesmos, sem camadas e nus. A isto, Jesus chamou de "pobreza de espírito." [...]

É uma bela pobreza de espírito. É um revitalizante caminho a seguir. Se há momentos difíceis, eles não impedem que seja feliz, belo e pacífico. É uma pobreza grandiosa porque nos liberta para vermos a luz de nosso verdadeiro ser e sabermos que somos aquela luz. O mantra nos faz atravessar as camadas do pensamento, da linguagem e da imaginação, até a luminosidade pura da plena consciência. O mantra é muito simples, é como o 'bip' que guia um avião para aterrissar em meio à névoa, pois ao seguir o 'bip' o avião mantém o rumo. É como o cursor na tela do computador que ao mesmo tempo segue e guia a mente. Onde está o cursor também está o operador. O mantra é simplesmente o ponto focal onde brilha a luz do verdadeiro eu.

Ao seguir meditando, podemos não sentir que isto ocorre durante os momentos da meditação, mas não se preocupe e não espere que algo aconteça... Mas, se perseverar, então sua própria vida brilhará, lenta, mas profundamente, com essa luminosidade interior... e saberá que a luz está ali, em tudo.


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: "A Luz do Ser" - Leitura de 01/06/2008
Light Within: The Inner Path Of Meditation (New York: Crossroad, 1989) pp. 85-87.
Tradução de Roldano Giuntoli
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - http://www.wccm.com.br/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/buda-medita%C3%A7%C3%A3o-est%C3%A1tua-religi%C3%A3o-1281249/

É POSSÍVEL REDUZIR O CARMA ?


[...] O carma é purificável através da educação e da meditação. O carma é algo criado por nós, e tudo o que é criado pode ser alterado. Só o que está além da criação - como a natureza absoluta da nossa mente - não pode ser alterado.

Há duas formas de eliminar o carma negativo: uma delas é experienciar as situações da vida sem rejeitá-las, e recebê-las com amor e compaixão, transformando carma negativo em positivo; a outra forma é purificar o carma negativo antes de vivenciá-lo, e ir além do carma, não importando se ele é positivo ou negativo. Esta segunda maneira de abordar a questão é crucial, mas só pode acontecer depois de treinarmos nossa mente através de avançadas técnicas de meditação.

De maneira mais imediata, a melhor coisa a ser feita é transformar carma negativo em carma positivo. Mas precisamos ter em mente que produzir carma positivo não é uma solução absoluta para nosso sofrimento. Porque todo carma, positivo ou negativo, é impermanente. Isso significa que, seja qual for o resultado positivo que você crie, ele também vai mudar, mais cedo ou mais tarde. É um ciclo: o que é positivo se transforma em negativo e o que é negativo, em positivo. A única saída é obter a realização da iluminação e tirar você e sua mente deste sistema cíclico de existência.

Enquanto isso não ocorre, faça seu melhor e crie condições positivas para suas experiências futuras, aceitando o seu carma, vivendo-o da melhor forma possível e o purificando.


Lama Tsering

Entrevista de Lama Tsering concedida ao site Vya Estelar.


Fonte: Chagdud Gonpa - Odsal Ling
Centro de budismo tibetano vajraiana
Fonte da Gravura: Tumblr.com

terça-feira, 9 de junho de 2020

AUTOCRUELDADE


A autocrueldade é, sem dúvida, a mais dissimulada de todas as opressões.

De todas as violências que padecemos, as que fazemos contra nós mesmos são as que mais nos fazem sofrer. Nessa crueldade, não se derrama sangue, somente se constroem cercas e cercas, que passam a nos sufocar e a nos afligir por dentro.

Montaigne, célebre filósofo francês do século XVI, escreveu: “A covardia é mãe da crueldade”. Realmente, é assim que se inicia nossa autoagressão. Em razão de nossa fragilidade interior e de nossos sentimentos de inferioridade, aparece o temor, que nos impede de expressar nossas mais íntimas convicções, dificultando-nos falar, pensar e agir com espontaneidade ou descontração.

A autocrueldade é, sem dúvida, a mais dissimulada de todas as opressões. Além de vir adornada de fictícias virtudes, recebe também os aplausos e as considerações de muitas pessoas, mas, mesmo assim, continua delimitando e esmagando brutalmente. Essa atmosfera virtuosa que envolve os que buscam ser sempre admirados e aceitos deve-se ao papel que representam incessantemente de satisfazer e de contentar a todos, em quaisquer circunstâncias. Buscam contínuos elogios, colecionando reverências e sorrisos forçados, mas pagam por isso um preço muito alto: vivem distantes de si mesmos.

A causa básica do “autotormento” consiste em algo muito simples: viver a própria vida nos termos estabelecidos pela aprovação alheia.

A timidez pode ser considerada uma autocrueldade. O acanhado vigia-se e, ao mesmo tempo, vigia os outros, vivendo numa autoprisão. Em razão de ser aceito por todos, ele não defende sua vontade, mas sim a vontade das pessoas. Pensa que há algo de errado com ele, não desenvolve a autoconfiança e, continuamente, se esconde por inibição.

Pensar e agir, defendendo nosso íntimo e nossos direitos inatos e, definindo nossas perspectivas pessoais, sem subtrair os direitos dos outros, é a imunização contra a autocrueldade.

Para vivermos bem com nós mesmos, é preciso estabelecermos padrões de autorrespeito, aprendendo a dizer “não sei”, “não compreendo”, “não concordo” e “não me importo”.

As criaturas que procuram bajulação e exaltação martirizam-se para não cometer erros, pois a censura, a depreciação e a desestima é o que mais as atemorizam. Esquecem-se de que os erros são significativas formas de aprendizagem das coisas. É muito compreensível faltarmos à lógica numa tomada de decisão, ou mudamos de ideia no meio do caminho; no entanto, quando errarmos, será preciso que assumamos a responsabilidade pelos nossos desencontros e desacertos e apreendamos o ensinamento da lição vivenciada.

Quem busca consenso, crédito e popularidade não julga seus comportamentos por si mesmo, mas procura, ansiosamente, as palmas dos outros, oferecendo inúmeras razões para que suas atitudes sejam totalmente consideradas.

Vivendo e seguindo seus próprios passos, poderá inicialmente encontrar dificuldades momentâneas, mas, com o tempo, será recompensado com um enorme bem-estar e uma integral segurança de alma.

Estar alheio ou sair de si mesmo, na ânsia de ser amado por todos aqueles que considera modelos importantes, será uma meta alienada e inatingível. O único modo de alcançar a felicidade é viver, particularmente, a própria vida.

A fixação que temos de olhar o que os outros acham ou acreditam, sem possuirmos a real consciência do que queremos, podemos, sentimos, pensamos e almejamos, é o que promove a destruição em nossa vida interior, ou seja, o esfacelamento da própria unidade como seres humanos e, por consequência, nossa unidade com a vida que está em tudo e em todos.

Consulta Kardec os Obreiros do Bem: “A obrigação de respeitar os direitos alheios tira ao homem o de pertencer-se a si mesmo?” E eles responderam: “De modo algum, porquanto este é um direito que lhe vem da Natureza.” (Questão 827 de O Livro dos Espíritos)

“Pertencer-se a si mesmo”, conforme nos asseveram os Espíritos, é exercer a liberdade de não precisar conciliar as opiniões dos homens e de livrar-se das amarras da tirania social, da escravidão do convencionalismo religioso, das vulgaridades do consumismo, da constrição de ser dependente, enfim, do medo do que dirão os outros.

A solução para a autocrueldade será a nossa tomada de consciência de que temos a liberdade por “direito que vem da Natureza”. Contudo, de quase nada nos servirá a liberdade exterior, se não cultivarmos uma autonomia interior, porque quem está internamente entre grilhões e amarras jamais poderá pensar e agir livremente.


Francisco do Espírito Santo / Hammed



Fonte: do livro (digital) "As Dores da Alma"
8ª ed., agosto/2000, Boa Nova - Editora e Distribuidora de livros espíritas
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/imagina%C3%A7%C3%A3o-conto-de-fadas-5153678/

segunda-feira, 8 de junho de 2020

CELEBRANDO UM NOVO DIA


Tomar decisões simples e conscientes sobre a sua vida do dia-a-dia pode influenciar o bem estar físico e mental. Seguir resoluções corretas com relação à sua saúde e estilo de vida não é tão difícil, especialmente se você tiver uma ideia clara das áreas que deseja melhorar, compreendendo que passos pequenos e graduais normalmente produzem melhores resultados do que medidas do tipo “tudo ou nada”.

Tire um tempo no dia de hoje para analisar as áreas da vida que deseja melhorar. Você pode estar querendo se tornar mais saudável, mais generoso, menos estressado ou simplesmente mais otimista. Quando determinar um objetivo, crie um ritmo e siga alguns passos simples. Pense em seus pontos fortes e o quanto podem ajudar em seu caminho, assim como nas suas fraquezas e a melhor forma de lidar com elas. Caso você tenha uma recaída durante o processo, continue a olhar para frente. Muitos objetivos são alcançados apesar dos dias bons e ruins.

A transformação é um processo misterioso que inclui em si muitas mudanças: a lagarta que se transforma em borboleta, o creme em manteiga, o chumbo em ouro. De um nível para o outro uma alquimia interior se processa e, num instante inesperado, somos borboleta, manteiga ou ouro transformados numa nova dimensão. A transformação acontece naturalmente à medida que nos entregamos ao fluxo da energia divina que tudo permeia e vivifica.


Fonte: Sociedade das Ciências Antigas
https://sca.org.br/
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

domingo, 7 de junho de 2020

ESPERANÇA - ORIENTAÇÃO FUNDAMENTAL DA CONSCIÊNCIA


Esperança não é o mesmo que desejar alguma coisa. Não se trata de sonhar acordado com alguma coisa. Trata-se do oposto da fantasia. Trata-se de uma atitude ou orientação fundamental da consciência. Trata-se de nos voltarmos para fora. Ser esperançoso é descobrir que somos parte integrante de algo maior do que nós mesmos, e que vivemos com a energia dessa realidade completa. A esperança é a auto disposição para o exterior, qualquer que seja a dificuldade de se manter disposto ao exterior. Desespero é a rendição da consciência à energia da introversão. . . A esperança é uma virtude absoluta, constante e não condicionada. Você não pode ser esperançoso apenas quando as coisas correm bem. Você precisa ser esperançoso e, num certo sentido, escolher ser esperançoso, em qualquer circunstância, qualquer que seja a tendência a mergulhar de volta na consciência de si mesmo, no seguro invólucro do ego. A esperança é uma das virtudes que resultam da prece profunda, onde nos voltamos de nós para Deus. . . Esperança é aspirar ao conforto de estar completamente em seu lar. Trata-se da mais forte aspiração de nosso ser.


Dom Laurence Freeman, OSB



Leitura de Domingo, 07 Junho 2020
Fonte: do livro "Perder para Encontrar", de Dom Laurence Freeman, OSB (Petrópolis, Ed. Vozes, 2009)
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
http://www.wccm.com.br/leitura-laurence-freeman-osb/957-esperanca
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

O GRANDE AGORA


[...] Deverá dar a máxima atenção ao seu pensamento, principalmente ao pensamento plástico. A capacidade de concentração... evoca imagens penetrantes do Akasha, através do pensamento plástico; elas são fortemente vitalizadas a tentam se concretizar. Por isso só devemos ter pensamentos nobres e puros, e devemos tentar transformar nossas eventuais paixões em qualidades positivas.

A alma do mago já deverá ser tão nobre que ele nem mesmo conseguirá ter pensamentos negativos ou desejar o mal a alguém. Um mago deve agir de modo amável, prestativo a solidário, generoso e respeitoso, discreto e silencioso. Deve estar livre de egoísmo, orgulho e ganância. Essas paixões se refletiriam no Akasha, e como o princípio do Akasha contém a analogia da harmonia, o próprio Akasha colocaria obstáculos no caminho do mago impedindo a sua evolução, ou o que é pior, tornando-a impossível. Um Progresso posterior estaria então totalmente descartado.

É só nos lembrarmos do livro de Bulwer, "Zanoni", no qual a guardiã da fonte nada mais é do que o Akasha, que impede o acesso dos grandes mistérios aos impuros a imaturos. Mesmo se eles o conseguirem, então o Akasha tentará transformar tal pessoa, deixá-la ser dominada pela dúvida, ou prendê-la a um golpe do destino, para proteger os mistérios de todas as formas possíveis. A um imaturo os mistérios permanecerão sempre ocultos, mesmo se forem divulgados em centenas de livros.

Um mago verdadeiro desconhece o ódio religioso ou sectário; ele sabe que toda religião possui seu sistema específico que levará seus devotos a Deus, por isso ele a respeita. Ele sabe que toda religião tem erros, mas ele não a julga, pois cada dogma serve ao estágio de maturidade espiritual de seu adepto.

Através da sua evolução o mago passará a ser suficientemente maduro a ponto de enxergar com sua visão espiritual todos os pensamentos, todas as ações, todas as atitudes, relativas ao passado, ao presente ou ao futuro.

Ele sempre será tentado a julgar o seu semelhante mas com isso ele poderia contrariar as leis e provocar uma desarmonia. Um mago desse tipo não possui maturidade suficiente e perceberá que o Akasha anuviará a sua clarividência e o Maya o atormentará com ilusões. Ele precisa saber que o bem e o mal têm direito à existência a que cada um tem uma missão a cumprir. Um mago só poderá chamar a atenção de uma pessoa ou julgar seus defeitos e fraquezas quando convocado diretamente para tal, a deverá fazê-lo sem colocar nisso uma crítica.

O mago autêntico aceita a vida como ela é, o bem lhe traz alegria e o mal lhe traz o aprendizado, mas ele nunca se deixa abater. Ele conhece as próprias fraquezas e se esforça em dominá-las. Jamais cultivará o arrependimento ou a culpa, pois estes são pensamentos negativos e portanto devem ser evitados. É suficiente que ele reconheça seus erros e não os repita novamente.

É basicamente errôneo prender-se ao passado e lamentar as coisas desagradáveis que o destino lhe impôs. Só os fracos queixam-se constantemente para despertar a piedade dos outros. O verdadeiro mago sabe que através da evocação de imagens do passado elas podem voltar à vida, desencadeando novas causas e criando novos obstáculos no seu caminho. É por isso que o mago vive exclusivamente o presente e olha para trás só em caso de necessidade. Para o futuro ele fará só o planejamento do que for estritamente necessário e deixará de lado todas as ilusões a fantasias, para não gastar com elas as energias tão arduamente conquistadas, e para não dar ao subconsciente a possibilidade de criar obstáculos em seu caminho.

O mago trabalha objetivamente na sua evolução sem esquecer seus deveres materiais, que deverão ser cumpridos com tanta conscienciosidade quanto as tarefas de sua evolução espiritual. Portanto, ele deverá ser muito severo consigo mesmo. Deverá sempre ser muito prudente, e no que se refere à sua evolução, discreto.

O princípio do Akasha não conhece o tempo nem o espaço, ele age, portanto, sempre no presente, pois os conceitos temporais dependem dos nossos sentidos. É por isso que recomendamos ao mago adaptar-se o máximo possível ao Akasha, reconhecendo-o como o grande AGORA, pensando e agindo em função dele. [...]


Franz Bardon



Fonte: do livro "Iniciação ao Hermetismo"
Edição digital de Comunidade PGEM
Via http://br.groups.yahoo.com/group/haon
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A TRANSFORMAÇÃO COMEÇA DENTRO CADA PESSOA


O progresso da pessoa e o progresso da sociedade caminham juntos. Nosso mundo moderno não pode alcançar a paz e uma ordem social plenamente justa, apenas pela aplicação de leis que atuam sobre o homem, por assim dizer, vindas de fora dele. A transformação da sociedade começa dentro da pessoa. Começa com o amadurecimento e a abertura da liberdade pessoal em relação a outras liberdades - em relação ao resto da sociedade. A 'doação' cristã que é exigida de nós é uma participação inteligente e plena da vida de nosso mundo, não somente com base na lei natural, mas também na comunhão e reconciliação do amor interpessoal. Isso significa uma capacidade de estar aberto para os outros como pessoas, de desejar para os outros tudo o que sabemos ser necessário para nós mesmos, tudo o que é exigido para o pleno crescimento e até para a felicidade temporal de uma existência plenamente pessoal.


Thomas Merton, OSB



Fonte: do livro "Amor e vida"
Comunidade Monástica Anglicana - Igreja Anglicana Tradicional do Brasil
https://www.mongesanglicanos.org/
Fonte da Gravura: Tumblr.com

AS SETE LEIS ESPIRITUAIS DO SUCESSO


Para praticar estas leis, e gradualmente ir-se habituando a elas e aos seus efeitos, aplique uma em cada dia da semana, começando no Domingo:

Lei da Potencialidade Pura
Crie tempo para estar só, em silêncio, e simplesmente Ser.
Comungue com a natureza, observando algum dos seus elementos ou manifestações.
Pratique o não-julgamento, tanto em relação a situações como a pessoas.

Lei do Dar e do Receber
Ofereça algo (por ex. um sorriso, um cumprimento, ou um desejo) a todas as pessoas que vir.
Receba e agradeça tudo o que a vida lhe oferece.
Dê e receba carinho, afeição, apreço, amor.

Lei do “Karma” ou da Causa e Efeito
Pense, fale e aja sempre de modo positivo - útil, amável e verdadeiro.
Esteja consciente do presente e das consequências (p/ si e p/ os outros) de cada escolha que faz.
Peça orientação para elas, escutando a sua intuição e as mensagens do seu corpo.

Lei do Mínimo Esforço
Pratique a aceitação de pessoas, situações, circunstâncias e eventos tal como são e ocorrem.
Tome responsabilidade por tudo o que lhe acontece e não atribua culpas a nada nem a ninguém.
Liberte-se da necessidade de defender o seu ponto de vista, e de querer convencer ou persuadir os outros.

Lei da Intenção e do Desejo
Liste todos os seus desejos, guarde a lista consigo, e leia-a de manhã e à noite.
Confie, quer se realizem, quer não, lembrando-se que “nada acontece por acaso”.
Aceite o presente tal como ele é, libertando-se da necessidade de saber os resultados.

Lei do Desapego
Dê a si próprio e aos outros a liberdade de serem quem são.
Não force soluções para os problemas.
Aceite a incerteza e entre no campo de todas as possibilidades.
Antecipe a excitação que pode ocorrer a partir da sua abertura a uma infinidade de escolhas.

Lei do “Dharma” ou do Propósito da Vida
Procure conhecer e contactar o seu Eu superior.
Abra-se a descobrir as suas qualidades e os seus talentos únicos.
Pergunte como pode melhor servir e ajudar.


Dra. Lígia Maria Carvalho de Noronha



Adaptação de “As Sete Leis Espirituais do Sucesso”,
do médico holístico indiano, Dr. Deepak Chopra
Fonte da Gravura: Tumblr.com

sábado, 6 de junho de 2020

MATURIDADE


Ninguém pode despertar para a percepção da Realidade Absoluta, da harmonia do cosmos, antes que seu tempo tenha chegado. É, por isto, supérfluo, e, por vezes, prejudicial, querermos impor certas ideias a certas pessoas ainda não suficientemente evolvidas; não as podem receber, assim como uma fêmea imatura não pode conceber um filho. Não podemos fazer desabrochar um botão de rosa antes do tempo marcado pela natureza da planta; podemos sacudir o botão, comprimi-lo, abri-lo a força, e, possivelmente, estragá-lo – mas não o podemos fazer florescer. Um raio solar, porém, fará a seu tempo, suavemente, com um beijo cálido, o que nenhuma violência inoportuna consegue realizar.

Podemos, todavia, preparar os caminhos a nossos semelhantes para que, a seu tempo, recebam e assimilem certas ideias – embora não lhes possamos dar essas ideias. Todo enriquecimento interior vem, por assim dizer, em sentido vertical, ao passo que todo nosso trabalho preliminar, de mestres, guias e educadores, é meramente horizontal. Entretanto, no ponto de intersecção entre o vertical e a horizontal está a grande experiência e o segredo último de todo progresso. Da combinação da vertical e da horizontal resulta uma cruz, símbolo da redenção; este mesmo símbolo é chamado na matemática mais, na física positivo, e nas religiões esotéricas o mesmo sinal significa infinito ou universal.


Huberto Rohden



Fonte: do livro "Profanos e Iniciados", Ed. Alvorada, 1990
Fonte da Gravura: Tumblr.com