Na expressão Antiga e Mística Ordem da Rosacruz, existe a palavra “mística”. Esta palavra não designa nada de estranho, de bizarro ou nebuloso. Não designa tampouco um estado de êxtase permanente. Uma pessoa dita mística não vive separada do mundo e de seus problemas e nem se furta as provações e as vicissitudes inerentes á condição humana. No entanto, esta palavra é mui frequentemente empregada de maneira pejorativa, designando, deste jeito, uma pessoa por certo geralmente doce e gentil, mas sobretudo inconsequente, fantasista e desprovida de toda lógica, já que demasiado sonhadora ou utopista.
Na realidade, a palavra “místico” tem um alcance mais amplo. Ela indica que devemos manifestar as duas polaridades do nosso ser de maneira igual. Devemos, pois, ser realistas e idealistas, ou seja, levar em consideração as contingencias materiais sem negligenciar as aspirações profundas e espirituais de nossa alma. Costumamos opor com frequência essas duas noções. Ora, é no entanto essencial que elas estejam em perfeita concordância. Devemos nos esforçar para manter este estado de equilíbrio por meio de um trabalho cotidiano em nós mesmos. Se digo nos “esforçar”, é porque não é fácil e nem tampouco evidente sermos perfeitamente coerentes e justos em nossos hábitos, nossas reações e nossos desejos. Nossas ações diferem constantemente de nossas intenções e o resultado dificilmente é aquele que nós esperávamos, ou mesmo aquele no qual tínhamos nos fixado. Apesar disso, mesmo se nossos esforços não são sempre tão mantidos como deveriam ser, é essencial que tenhamos em nosso espirito que um místico deve ser o reflexo da harmonia e do equilíbrio.
Quando abordamos a vida como místicos, somos mais fortes interiormente e uma serenidade ativa se desprende de nós, sendo sentida por muitos. Em geral, a força da alma que veiculamos então é apreciada, e mesmo admirada. Mas esta força pode também ser invejada ou cobiçada e, desta maneira, desencadear a animosidade de algumas pessoas. Pensamos geralmente que a beleza, a riqueza e a ascensão social são os únicos vetores de sentimentos negativos; isto não é nada. A Paz Profunda, a serenidade e a força y interior de um individuo podem bastar para um incômodo. E assim que uma pessoa dita mística, mesmo se as suas condições de vida forem pouco invejáveis em vários planos, pode ser objeto de ataques infundados. Não se compreende por que, apesar dos problemas e provações, uma tal pessoa pode permanecer positiva. Logo, é invejada, mesmo em seu infortúnio.
Portanto, não é fácil se comportar como um místico, mas o que importa a quantidade de trabalho a fazer e a duração da tarefa para aquele que tem fé, convicções pessoais e uma consciência luminosa? Se os seus pensamentos estão constantemente voltados para o interior, se ele medita cotidianamente e ora por seus semelhantes, não deve excluir de sua vida o contato com a sociedade e seus fatos. Ao contrário, seu espírito esclarecido pode acrescentar mais ao seu entorno, seja ele restrito ou muito amplo. Por menor que seja a chance de ter uma profissão ou um dom que lhe ponha em relação com o grande público, suas palavras trarão frutos promissores. Sua voz e suas palavras serão uma expressão do Divino. Quais sejam seu destino e seu campo de ação, um místico deve alcançar a fusão entre os dois mundos, o temporal e o atemporal, o material e o espiritual, para que possa atingir o milagre da unidade e fazer sua esta célebre injunção: “Tudo o que está em cima é como o que está em baixo”.
Ser místico é ter a percepção de que existe uma meta, que avangamos na direção de um último zênite e que somos guiados na direção dele. Nossos guias são as nossas virtudes, entre elas a coragem e a perseverança. Quando em nosso céu aparecer a nuvem da incompreensão, da angústia, da dúvida e da discórdia ameaçando o nosso avango no caminho, ajamos como místicos. A senda que leva á Iluminação é árdua e a tentação de deter a marcha é grande as vezes. A vertigem pode nos abalar e a bruma se tornar mais densa. Dissipemo-la por meio de nossa vontade interior e mantenhamos nosso olhar na direção do pináculo. Não nos queixemos do que resta por fazer, mas alegremo-nos pelo caminho já percorrido.
Aquilo que é válido para a nossa caminhada interior e para nossa evolução também o é em qualquer outro campo de nossa vida, pois os estudantes do misticismo não são, conforme já havia dito, seres etéreos, cortados do mundo e de suas realidades. Sejamos místicos, afinemo-nos com os outros e sejamos um numa verdadeira fraternidade de coração.
Christian Bernard, FRC
Fonte: do livro "Reflexões Rosacruzes", 1a. ed., 2011
Biblioteca Rosacruz - Ordem Rosacruz (AMORC), Curitiba - PR
Fonte da Gravura: Tumblr.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário