sábado, 13 de junho de 2020

VACUIDADE


"Quando você estuda budismo, deve fazer uma 'faxina geral na casa' de sua mente."

Se você quer compreender o budismo, é necessário que deixe de lado todas as ideias preconcebidas. Para começar, abandone toda ideia de substancialidade ou de existência. A noção comum da vida está firmemente enraizada na ideia de existência. Para a maioria das pessoas, todas as coisas existem; pensam que tudo que vêem e ouvem existe. É claro, o pássaro que vemos e ouvimos existe. Ele existe, mas o que eu quero dizer com isto pode não ser exatamente o que você quer dizer. A compreensão budista da vida inclui tanto a existência como a não-existência. O pássaro existe e não existe ao mesmo tempo. [...] Dizemos que a verdadeira existência emerge da vacuidade e retorna à vacuidade. O que emerge do vazio é verdadeira existência. Devemos atravessar o portal do vazio. Tal ideia de existência é muito difícil de explicar.

[...] Não há trajetória que exista permanentemente. Não há uma trajetória estabelecida para nós. A cada novo momento, temos de encontrar nossa própria trajetória. Qualquer ideia de perfeição, ou de trajetória perfeita estabelecida por outrem, não é o verdadeiro caminho para nós. Cada um de nós deve fazer seu próprio caminho e, quando o fazemos, esse caminho expressa o caminho universal. Eis o mistério. Quando você compreende uma coisa em profundidade, compreende tudo. Mas quando você tenta entender tudo, não entende nada. O melhor é compreender a si mesmo; então você compreenderá tudo. Assim, ao se empenhar em realizar seu próprio caminho, você ajudará outros e será ajudado por outros. Antes de construir seu próprio caminho, você não pode ajudar ninguém e ninguém pode ajudá-lo. Para sermos independentes nesse sentido verdadeiro, temos que deixar de lado tudo o que temos em mente e descobrir algo novo e distinto, momento após momento. É assim que se deve viver neste mundo. Por isto dizemos que a verdadeira compreensão emerge do vazio.

[...] Se você procura liberdade, não pode encontrá-la. A própria liberdade absoluta é necessária para se obter absoluta liberdade. Esta é a nossa prática. Nosso caminho não é ir sempre na mesma direção. Algumas vezes, vamos para o leste, outras para o oeste. Avançar uma milha para o oeste significa retroceder uma milha do leste. Em geral, andar uma milha para o leste é o oposto de andar uma milha para o oeste. Mas, se é possível andar uma milha para o leste, significa que é possível andar uma milha para o oeste. Isso é liberdade. Sem essa liberdade, você não pode se concentrar no que faz. Você pode acreditar que está concentrado em alguma coisa, mas, até que não obtenha tal liberdade, não estará inteiramente à vontade naquilo que faz. É por você estar preso a alguma ideia de ir para o leste ou oeste que sua atividade está em dicotomia ou dualidade. Enquanto estiver sujeito à dualidade, você não pode atingir nem a liberdade absoluta nem se concentrar. [...]


Shunryu Suzuki



Fonte: do livro "Mente Zen, Mente de Principiante", Ed. Palas Athena
Editado por Trudy Dixon - Tradução de Odete Lara
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/budista-monge-budismo-medita%C3%A7%C3%A3o-737275/

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