quinta-feira, 11 de junho de 2020

INTENÇÃO: A FORÇA ORGANIZADORA


[...] Tudo o que acontece no universo começa com a intenção. Quando decido mover os dedos do meu pé, comprar um presente de aniversário para a minha mulher, tomar uma xícara de café ou escrever este livro, tudo começa com a intenção. Essa intenção sempre surge na mente não-local ou universal, mas se torna localizada através da mente individual e, quando isso acontece, se transforma na realidade física. Na verdade, a realidade física não existiria não fosse a nossa intenção. A intenção ativa a correlação não-local, sincronizada no cérebro.

[...] A sincronização organizada pela intenção converte pontos e nódoas, linhas esparsas, descargas elétricas, padrões de luz e de sombra em uma totalidade, uma gestalt que cria uma imagem do mundo como uma experiência subjetiva. O mundo não existe como imagens, mas apenas como manchas de impulsos liga-desliga, pontos e nódoas, códigos digitais de disparos elétricos aparentemente aleatórios. A sincronização através da intenção os organiza em uma experiência no cérebro - um som, uma textura, uma forma, um sabor e um odor. Você, na condição de inteligência não-local, "rotula" essa experiência e, de repente, tem lugar a criação de um objeto material na consciência subjetiva.

O mundo é como uma mancha de Rorschach que convertemos em um mundo de objetos materiais através da sincronização coordenada pela intenção. Tanto o mundo, antes de ser observado, quanto o sistema nervoso, antes do desejo ou da intenção de observar alguma coisa, existem como um campo de atividades dinâmico (em constante transformação), não-linear, em um estado de não-equilíbrio (atividade instável). A intenção organiza sincronicamente essas atividades altamente variáveis, aparentemente caóticas e não-relacionadas de um universo não-local em um sistema altamente ordenado, dinâmico, que se auto-organiza. Esse sistema se manifesta ao mesmo tempo como um mundo observado e um sistema nervoso, através do qual esse mundo está sendo observado. A intenção em si não surge no sistema nervoso, embora seja coordenada através do sistema nervoso. A intenção, no entanto, é responsável por outras coisas além da cognição e da percepção. Todo aprendizado, lembrança, raciocínio, dedução de inferências e atividade motora são precedidos pela intenção. Ela é a base da criação.

Os antigos textos védicos conhecidos como Upanishads declaram: "Você é o seu desejo mais profundo. Como é o seu desejo, assim é a sua intenção. Como é a sua intenção, assim é a sua vontade. Como é a sua vontade, assim é a sua ação. Como é a sua ação, assim é o seu destino." Nosso destino, em última análise, é proveniente do nível mais profundo do desejo e também do nível mais profundo da intenção. Os dois estão intimamente ligados um ao outro.

O que é intenção? A maioria das pessoas diz que é um pensamento de algo que queremos realizar na vida ou que desejamos para nós mesmos, mas na verdade ela é mais do que isso. A intenção é uma maneira de satisfazer uma necessidade que temos, seja de coisas materiais, de um relacionamento, da realização espiritual ou de amor. A intenção é o pensamento que nos ajudará a satisfazer uma necessidade. E a lógica é que, quando satisfizermos essa necessidade, seremos felizes.

Quando as coisas são vistas dessa maneira, a meta de todas as nossas intenções é sermos felizes ou realizados. Primeiro, se nos perguntarem o que queremos, poderemos dizer: "Quero mais dinheiro", ou "Quero um novo relacionamento". Depois, se nos perguntarem por que queremos isso, poderemos dizer algo como: "Bem, para poder passar mais tempo com os meus filhos." Se nos perguntarem por que queremos passar mais tempo com os filhos, poderíamos responder: "Porque então serei feliz." Poderemos perceber, portanto, que a meta suprema, que se sobrepõe a todas as outras, é uma realização no nível espiritual que chamamos de felicidade, alegria ou amor.

Toda atividade no universo é gerada pela intenção. Segundo a tradição védica: "A intenção é uma força da natureza." A intenção mantém o equilíbrio de todos os elementos e forças universais que possibilitam que o universo continue a evoluir. Até mesmo a criatividade é organizada através da intenção. A criatividade ocorre no nível individual, mas também tem lugar universalmente, possibilitando que o mundo periodicamente dê saltos quânticos na evolução. Em última análise, quando morremos, a alma dá um salto quântico na criatividade. Na verdade ela diz: "Quero agora expressar-me através de um novo sistema corpo-mente ou encarnação." Desse modo, a intenção deriva da alma universal, torna-se localizada em uma alma individual e por fim se expressa através de uma mente individual, local.

A partir da experiência do passado criamos memórias, que são a base da imaginação e do desejo. O desejo, uma vez mais, é a base da ação, e assim o ciclo se perpetua. Na tradição védica e no budismo, esse ciclo é conhecido como a Roda de Samsara, a base da existência terrena. O "eu" não-local torna-se o "eu" local enquanto se introduz através desse processo cármico. Quando a intenção se repete, o hábito é criado. Quanto mais ela se reproduz, mais provável é que a consciência universal crie o mesmo padrão e manifeste a intenção no mundo físico.

[...] A mente não-local que existe em você é igual à mente não-local que existe em mim, ou, para dizer a verdade, em um rinoceronte, em uma girafa, em um pássaro ou em uma minhoca. Até mesmo uma rocha contém inteligência não-local. Essa mente não-local, essa consciência pura, é o que nos confere a sensação do "eu"... Essa consciência universal é o único "eu" que existe. No entanto, esse único "eu" universal se diversifica, se transforma em um número quase infinito de observadores e coisas observadas, dos que vêem e o cenário, de formas orgânicas e formas inorgânicas - todos os seres e objetos que formam o mundo físico. Esse hábito da consciência universal de se diversificar e se transformar em consciências particulares é anterior à interpretação. Desse modo, antes de o "eu sou" dizer: "Eu sou Deepak", uma girafa ou uma minhoca, ele é simplesmente "eu sou". O potencial criativo infinito do "eu" dispõe o "eu" comum no "eu" que é você, ou eu, ou qualquer outra coisa no universo.

Esse conceito é idêntico ao dos dois níveis da alma, a alma universal e a alma individual, porém inserido em um contexto pessoal. Na condição de seres humanos, estamos acostumados a pensar no nosso eu individual como "eu", sem notar ou reconhecer o "eu" maior, universal que também é chamado de alma universal. O uso da palavra "eu" é meramente um ponto de referência engenhoso que usamos para localizar o nosso ponto de vista único dentro da alma universal. Mas, quando nos definimos apenas como um "eu" individual, perdemos a habilidade de levar a imaginação além dos limites do que é tradicionalmente considerado possível. No "eu" universal, todas as coisas não apenas são possíveis, como já existem, exigindo apenas que a intenção as faça sucumbir em uma realidade no mundo físico. [...]


Dr. Deepak Chopra



Fonte: do livro "A Realização Espontânea do Desejo", Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
Tradução de Claudia Gerpe Duarte.
Fonte da Gravura: Tumblr.com

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