quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

UM NÍVEL MAIS PROFUNDO DE CONSCIÊNCIA


O mestre Eckhart vai além dos primeiros cristãos quando diz que podemos acessar o verdadeiro conhecimento de Deus e até mesmo alcançar a união perfeita com Ele nesta vida: "De maneira semelhante costumo dizer que há algo na alma que nos conecta intimamente com Deus, algo que é um com Ele, não apenas unido a Ele. É uma unidade e uma união pura." Santa Teresa de Jesus, em sua obra "El Castillo Interior" fala na Sétima Morada do casamento espiritual como o estado permanente de união, além do arrebatamento. Os místicos modernos chamam isso de consciência da unidade.

Como vimos, a ideia da semelhança com o divino sempre foi aceita dentro do cristianismo - a alma como espelho de Deus. Mas a identidade completa tem sido frequentemente contestada. No entanto, o Evangelho de Tomé nos diz: "Quem beber da minha boca será como Eu; Eu mesmo serei essa pessoa e tudo o que está oculto lhe será revelado." A consciência de uma Realidade subjacente de unidade e a interligação de toda a criação e toda a humanidade com a Energia Divina e Consciência Universal, também está presente para nós na oração de Jesus, em seu último discurso aos discípulos: "Mas eu vos peço não apenas para eles, mas para aqueles que acreditarão em mim por meio de suas palavras; que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, assim também eles estão em nós, eu neles e eles em mim, sendo perfeitamente um". (Jo 17,20)

Quando nos lembramos de nossa verdadeira identidade que conhecemos e vemos em um nível intuitivo, então vemos "olho no olho". "Os olhos com os quais vejo Deus são os mesmos com os quais Ele me vê. Os meus olhos e os de Deus são os mesmos olhos, uma visão única, um conhecimento único e um amor único." (Mestre Eckhart)

Isso é comunhão ou união verdadeira? Bede Griffiths explica muito bem: "Não há dúvida de que o indivíduo perde todo o sentido de separação da Unidade e experimenta a unidade total, mas isso não significa que o indivíduo deixe de existir. Como qualquer elemento da natureza, é apenas um reflexo da Realidade Única. Portanto, o ser humano é um centro único de consciência da Consciência Universal". (Bede Griffiths, "Casamento entre o Oriente e o Ocidente")

Tornamo-nos temporariamente conscientes de momentos de beleza em nossos eus eternos à medida que perdemos a consciência de nossos eus superficiais. Devemos mover o centro de nossa percepção, de nossa consciência: "Não devemos olhar, mas fechar os olhos e trocar nossa capacidade de ver por uma nova. Devemos despertar essa capacidade que todos possuímos, mas que poucos usam". (Plotino)

Não temos consciência de quem realmente somos, de nossa herança universal, a menos que usemos esses dois níveis diferentes de consciência. Esse é o primeiro passo, mas o segundo é saber conciliar esses dois modos de ser. "Então, depois de ter descansado no Divino, quando desço do intelecto para o raciocínio discursivo, fico intrigado sobre como poderia ter descido." (Plotinus "Enneads" 4.8.1)

Podemos nos sentir como estranhos no mundo e, no entanto, temos que integrar essas experiências em nossas vidas diárias. E como fazemos isso? A resposta dada por Plotino - místico e filósofo do século II e uma figura muito influente para os primeiros cristãos - é ​​também assumida por Evagrio no século IV. Plotino propõe a prática das virtudes (abandonar os desejos do ego) e a contemplação. Essas duas disciplinas ajudam a manter a conexão entre as experiências místicas e a vida cotidiana.

No pensamento de Plotino convergem todas as correntes de pensamento de 800 anos de especulação grega. Do seu pensamento emerge uma nova corrente destinada a cultivar as mentes de figuras tão diferentes como Santo Agostinho, Dante, Mestre Eckhart, Henri Bergson e T.S. Eliot.



Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

APEGO ÀQUILO QUE SE VÊ


O observador não deve se apegar àquilo que se vê – esta é a maneira de se obter a libertação. O contato dos sentidos com o objeto faz surgir o desejo e o apego; isso leva ao esforço e/ou à euforia ou ao desespero. Depois vem o medo da perda ou o pesar diante do fracasso, e assim se estende a sequência de reações. Com muitas portas e janelas abertas a todos os ventos que sopram, como poderá sobreviver a chama da lamparina no interior? A lamparina é a mente, que deve queimar continuamente, sem ser afetada pelas exigências duais do mundo exterior. A entrega absoluta ao Senhor é uma forma de cerrar as janelas e as portas, pois, com essa atitude, vocês se despojam do “ego” e, assim, não são atingidos pela alegria nem pela tristeza. A entrega absoluta faz com que recorram à Graça do Senhor para enfrentar todas as crises que venham a surgir no seu caminho, tornando-os heroicos, mais resolutos e mais bem preparados para a batalha.



Sri Sathya Sai Baba




Fonte: Discurso Divino, 13 de janeiro de 1965
www.sathyasay,org.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

TRANSCENDER-SE A SI MESMO


A meditação está ligada ao desapego. E em nosso vocabulário religioso ocidental, não há palavra tão incompreendida quanto desapego. A meditação pode apresentar problemas ou complicações incomuns para as pessoas por causa dessa palavra. Desapego pode geralmente parecer para nós como uma espécie de indiferença platônica gelada, e isso é algo que afastou a maioria de nós quando nos deparamos com a palavra em meio a muito rechaço espiritual do passado ao discutir a vida cristã numa visão de mundo amplamente negativa ou distanciamento repressivo.

No entanto, acredito que o desapego é a lição mais importante que a meditação ensina aos homens e mulheres ocidentais hoje, afetados por essa cultura religiosa frequentemente mal enfatizada.

O desapego não é uma dissociação ou uma evasão de seus problemas ou de suas responsabilidades. Não é uma negação de amizade, afeto ou mesmo paixão. O desapego é, em essência, o desapego da preocupação consigo mesmo, daquela mente muitas vezes inconsciente que me coloca no centro de toda a criação.

O desapego está igualmente relacionado com o compromisso de amizade, com a fraternidade duradoura, com um Amor inalcançável e auto transcendente. O desapego torna possível o Amor porque o Amor só é possível se nos desapegarmos da preocupação consigo mesmo, se sairmos do auto isolamento, se nos libertarmos da auto satisfação. É o desengajamento que nos liberta da complacência... Acima de tudo, e esta é a importante lição que temos que aprender na meditação: o desapego é a liberação da ansiedade que temos sobre nossa própria sobrevivência.

A vida ensina-nos que o Amor é essencialmente nos perder na grande realidade do outro, dos outros e de Deus. Deixar de lado nosso egocentrismo nos liberta pelo Amor para que não sejamos mais dominados pela busca animal pela sobrevivência. O desapego exige plena confiança humana: confiança no outro, também nos outros e em Deus. Requer a disposição de deixar ir, abrir mão do controle e deixar estar.



Fr. John Main, OSB




Fonte: do livro "O Coração da Criação", Canterbury Press, 2007
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

DOIS ASPECTOS DA SENSIBILIDADE


O sofrimento está ligado à sensibilidade. Quanto mais sensível um ser se torna, mais sofre, mas é preferível sofrer e ser sensível a não sofrer e ser como uma pedra. Deve-se ser sensível, mas sem cair na sensibilidade doentia, na pieguice. Muitas pessoas não estão minimamente esclarecidas sobre esta questão; têm medo de ser sensíveis e tornam-se como pedras. Não, é preferível passar pelos sofrimentos e aumentar o seu grau de sensibilidade, porque é o grau de sensibilidade que determina a grandeza, a elevação do ser humano. Segundo os Iniciados, ser sensível é ser capaz de sentir cada vez mais a beleza, o esplendor, a riqueza do Céu, de captar melhor as maravilhas do mundo divino e não continuar a sentir tanto a maldade e a estupidez de certas criaturas. Os grandes Mestres e, acima deles, os Anjos e os Arcanjos, já não sofrem com a fealdade, já nem a veem; só veem a beleza e vivem incessantemente na alegria.



Omraam Mikhaël Aïvanhov




Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

APATHEIA E AGAPE


A virtude do arrependimento nos ajuda a tomar consciência de nossas emoções egocêntricas e nos leva à humildade à medida que nos tornamos cada vez mais conscientes de nossa necessidade de Deus e de que sem Cristo nada podemos fazer.

O reconhecimento de nossas feridas, essa consciência curativa, nos leva a um crescente senso de harmonia e estabilidade em nossa vida emocional. Além disso, sabendo que somos amados apesar de nossas faltas, poderemos aceitar e amar cada vez mais o próximo, pois nos vemos refletidos no outro: "O monge é um homem que se considera um com todos os homens porque constantemente parece ver-se nos outros” (Evagrio Pontico, “Tratado sobre a oração”).

Evagrio chamou esse modo de ser harmonioso para o qual estamos crescendo com a ajuda da graça, uma combinação de "apatheia" (ausência de emoções de acordo com o estoicismo) e "agape" (amor): integração emocional e Amor Divino intimamente ligados: "Agape é a criatura da apatheia." Juan Casiano não usou este termo "apatheia", mas chamou-o de "pureza de coração". Thomas Merton explica que a pureza de coração é “uma total aceitação de nós mesmos e de nossa situação. A renúncia a qualquer imagem ilusória de nós mesmos, a qualquer superestimação de nossas próprias capacidades, para poder obedecer à vontade de Deus tal como ela se apresenta a nós.

Os contemplativos são frequentemente censurados por seu "egoísmo" porque são considerados preocupados apenas com sua própria salvação. Para Evagrio e os Padres e Mães do Deserto, a oração era fundamental. Era o que dava sentido às suas vidas. Mesmo assim, recebemos este ensinamento: “Pode acontecer que, enquanto estamos orando, um irmão venha nos ver. Então, temos que escolher entre interromper nossa oração ou entristecer nosso irmão, recusando-se a respondê-lo. Mas o amor é maior que a oração. A oração é uma virtude entre outras enquanto o amor as contém todas” (São João Clímaco s.VII).

Só depois de ter colocado a nossa própria casa em ordem é que podemos sentir compaixão sincera pelos outros e servir de apoio: "Alcance a paz interior e milhares ao seu redor encontrarão a salvação" (São Serafim de Sarov). Somos exortados a não esquecer que somos um com Cristo e que o que acontece ao próximo é de extrema importância para nós: “A vida e a morte dependem do nosso próximo. Se ganhamos o irmão, ganhamos a Deus. Mas se escandalizarmos nosso irmão, pecamos contra Cristo” (S. Antonio Abad).

O caminho espiritual nos ajuda a estreitar o espaço entre nós e os outros. Nós somos os guardiões de nosso irmão. Como resultado disso, o mundo se tornará um lugar mais pacífico; não mudar o mundo, mas mudar a nossa própria atitude, passando do interesse próprio para a preocupação com os outros, independentemente das relações familiares, do passado, das diferenças culturais ou religiosas. "Seja a mudança que você quer ver no mundo" (Gandhi). Esta é a essência dos ensinamentos de Jesus.


Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

"JOGO" CÓSMICO DIVINO


É necessário enfatizar que, para enfrentar com sucesso os problemas que surgem na vida diária, há que se ter inteligência e habilidade, além de qualidades como a justiça, a virtude e a excelência espiritual. Tanto a inteligência como a habilidade são essenciais para o progresso, tão essenciais como duas asas para uma ave ou duas rodas para uma carroça.

Só experimentando e entendendo o mundo é que se pode perceber a importância do caminho superior que conduz ao Altíssimo. O mundo é fascinante pela sua aparência tentadora, embora seja fundamentalmente irreal. É um fenômeno que está se desvanecendo.

Quando se reconhece essa verdade, tem-se consciência do Jogo Cósmico Divino e do eterno Ser Universal. Não se consegue chegar a esse estado de consciência por meio do acúmulo de riquezas, de poder material ou da aquisição de conhecimento e habilidade. Pode-se atingi-lo pela purificação da própria consciência, em todas as suas facetas, e pela sinceridade com que se realiza a busca.



Sri Sathya Sai Baba



Fonte: Lila Kaivalya Vahini, cap. 1
www.sathyasai.org.br
Fonte da gravura: Acervo de autoria pessoal

domingo, 1 de janeiro de 2023

MEDITAÇÃO - EGO OU VERDADEIRO EU


Se nos sentimos isolados dos que nos rodeiam, é porque estamos isolados de nós mesmos. Somente quando sabemos quem somos, podemos ser quem realmente somos e nos comunicar com os outros. Mas o que realmente nos impede de alcançar nosso verdadeiro eu? A meditação nos dá uma resposta muito simples. Uma resposta que, justamente por ser simples, nos é difícil: nada. Não há nada entre nós e nosso verdadeiro eu. Nada, exceto a falsa ideia de que há algo entre eles. Essa ideia falsa é o que chamamos de ego.

Em nossos momentos de meditação... acessamos outro nível de autoconsciência. Primeiro aprendemos a deixar todas as ideias para trás. Então, no próximo nível de consciência, nos separamos da imaginação e deixamos todas as imagens para trás. Quando conseguimos isso, somos simplesmente nós, sem capas, nus. Isso é o que Jesus chamou de "pobreza de espírito".

É uma bela pobreza de espírito. É uma maneira emocionante de ir. Embora haja momentos em que é árduo, não deixa de ser um caminho bonito e sereno. É uma grande pobreza porque nos liberta do ego e nos permite ver a luz do nosso ser real e saber que fazemos parte dessa mesma luz. O mantra* nos leva através das camadas de pensamento, linguagem e imaginação para a pura luz da atenção plena. O mantra é simplesmente o foco que nos leva ao centro onde brilha a luz do eu real.

É possível que você esteja meditando há muito tempo e não sinta que isso está acontecendo. Mas não se preocupe. Não espere que nada aconteça. Se você perseverar, com fé, sua própria vida brilhará lenta mas profundamente graças a essa luz interior e você saberá que essa luz está aí, em tudo.

Nota: Para mais detalhes ver:
*
CAMINHO DO MANTRA: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2022/09/mantra-duas-maneiras-de-ser-particula-e.html
* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html



Carla Cooper




Fonte: “The Light of Being”, trecho de LIGHT WITHIN de Laurence Freeman OSB, (Londres: Canterbury, 2008), pp. 85-87.
WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

VIVA EM GRATIDÃO


Em ação de graças pela vida, prometo vencer a minha ganância, que disfarça a ambição em necessidade, confiando que nos foi dado tudo o que precisamos, pelo que prometo repartir generosamente o que tão generosamente recebi.

Em agradecimento pela vida, prometo vencer a apatia, estando atento às oportunidades que cada momento me oferece, e assim responder criativamente a cada situação.

Em ação de graças pela vida, comprometo-me a vencer a violência, sabendo que combater a violência com violência leva a mais violência e morte, por isso comprometo-me a defender a vida através da não-violência.

Em agradecimento à vida, comprometo-me a superar o medo, que é a raiz de toda violência, aproveitando o que temo como uma oportunidade e, assim, prometo corajosamente lançar as bases para um futuro pacífico.



El Santo Nombre



Fonte: Blog El Santo Nome
https://elsantonombre.org
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/manh%c3%a3-nascer-do-sol-mulher-silhueta-2243465/

sábado, 31 de dezembro de 2022

DIÁLOGO SOBRE A MÍSTICA E O SILÊNCIO


Como podemos encontrar o silêncio no nosso dia-a-dia?

O dia-a-dia moderno tem cada vez menos momentos de silêncio e de paz, o que causa inegavelmente problemas psicossomáticos, mal solucionados depois com alimentos, consumismo e o uso e abuso de medicação. A falta de respeito da dignidade humana, a superficialidade de visão da vida e seus objetivos, o baixo nível de linguagem e ideação que tanto caracterizam a vida moderna e os seus meios de comunicação social, tal como os noticiários, programas e séries televisivas, internet – da alienação anglo-americana à portuguesa... –, têm efeitos deletérios sobretudo na juventude a qual, numa fase de aprendizagem de valores e de comportamentos, gasta e deforma aí parte da sua energia psíquica e tempo, e encontra nos topos das cadeias de sucesso exemplos (logo imitados, porque sedutoramente apresentados e facilmente absorvidos) constantes de comportamentos e verbalismos falaciosos, inconsequentes e até burlões e violentos, derivados do egoísmo insensível e das ausências de compaixão, inteligência justa e cosmovisão holística. Quem valoriza mais o silêncio não consegue suportar as vozes da maior parte dos apresentadores televisivos ou dos políticos, tão falsas ou manipuladoras, pois a sua consciência não está já insensibilizada como sucede a quem se vicia ou se habitua a noticiários e programas alienantes das televisões.

Numa sociedade cada vez mais caracterizada pelas quase infinitas trocas rápidas de informações, o discernimento diminuiu, tal como a qualidade do que se comunica, e tanto os engarrafamentos de trânsito seja na web, seja nas ruas, como os choques, quer de viaturas, opiniões, artigos, grupos e partidos conflituosos ou contraditórios, atestam o desequilíbrio da era global sem grande discernimento e assunção dos valores, e em muitos aspectos longe do salutar e do essencial e distorcendo-o, sepultando-o sob as avalanches de informações até incorretas e constantemente manipuladoras, controladoras…

A tudo isto há que contrapor e oferecer uma vida mais atenta e consciente das harmonias e desarmonias nossas e do que nos rodeia, com certas renúncias e abstenções, bem como práticas de leitura e reflexão, oração e meditação ou contemplação, e os tais momentos místicos de unidade, seja pela arte, a natureza, a árvore, a montanha, o sol, o oceano, o outro, o amado ou a amada, e ainda o Mestre, o Anjo e Deus, valorizando-se o silêncio amoroso como um dos melhores meios de realizarmos tudo isso, e de permitirmos a expansão da alma espiritual, a revelação da verdade e da vontade e essência divina, “o Reino dos Céus dentro de vós”, como Jesus dizia.

Considera que fugimos do silêncio?

Sim, tanto por hábito, como por receio e por falta de educação e de conhecimento, já que a sociedade moderna é causadora dum certo embrutecimento e insensibilidade, e é adepta da barulheira, tanto a dos tubos de escape dos aceleras como a do manuseio insensível de máquinas e objetos, tanto a da música aos altos berros, seja a dos carros que vão pela rua ou a que sai de algumas janelas, como a que na noite dos bares vai destruindo insidiosamente neurônios, canais auditivos e insensibilizando as pessoas.

O silêncio deixa de ser percebido e acolhido ainda pelo ruído do filme de pensamentos quase incessante na cabeça das pessoas, alimentado pela falta de autoconsciência, os slogans políticos e publicitários, os problemas da sobrevivência e os projetos e receios do futuro. Ou as muitas conversas, livros, revistas e sites fúteis, superficiais ou de campeonatos esportivos, inúteis.

Um momento importante de recarregarmos energias, as refeições, pautadas outrora pelo dar graças ao princípio e ao fim, o que é sempre de se fazer, e com o silêncio ou o diálogo sereno, foi substituído pela audição das notícias televisivas, em geral manipuladas ou tendenciosas, quase sempre com carácter sensacionalista e não informativo-formativo, perturbadoras do ser psicossomático e ético. Neste sentido mesmo, na linha dum texto do Novo Testamento, de profecias e visões, o Apocalipse, atribuído infundadamente a S. João, poderíamos interpretar a televisão, e a ingestão de informação negativa pela mente e o 3.º olho, como o sinal da Besta na testa. Daqui que, regressar, ao fechar dos olhos, aos "misté" ou místicos primordiais, ou aos "rishis" védicos, aos poetas videntes, seja essencial para quem quer manter a sua essência espiritual mais limpa do lixo e logo despertante e ativante da nossa consciência.

Por outro lado, como há tanto barulho à volta das pessoas, acontece o “ligar a música”, que se em certos casos e aspectos é harmonizador, noutros impede a percepção do silêncio e a fruição dos seus efeitos regeneradores e benéficos no corpo e na alma. A fácil e quase automática combinação computador-música-internet, nomeadamente enquanto se trabalha, merece uma discriminação apurada quanto ao seu uso...

O silêncio deve ser, pois, escutado e cultivado conscientemente com perseverança, desde o acordar ao adormecer, como um depósito sagrado, um Graal luminoso e amoroso que levamos no nosso coração e consciência, onde quer que estejamos ou caminhemos. Então estaremos mais na oração sem cessar, capazes de pronunciar a palavra inspirada, justa e mágica, misticamente vivendo-se mesmo os momentos de maior esforço e criatividade, amor e adoração, contemplação ou expansão de consciência, na Unidade Divina que nos contém e banha, inflama ou entusiasma…



Pedro Teixeira da Motta




Fonte do texto e gravura: Diálogo sobre a Mística e o Silêncio, parte do cap. 19, pp.108-11, do livro «DA ALMA AO ESPÍRITO», de Pedro Teixeira da Motta, inserido na Colecção "Saberes".
Publicações Maitreya, Porto, Portugal
https://publicacoesmaitreya.pt

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

ESTAMOS PREPARADOS PARA VIVENCIAR O DESAPEGO?


Estamos preparados para vivenciar o desapego daquilo que instintivamente sentimos ser nosso bem mais precioso: nosso ego, nossa identidade individual?

A relação que mantemos com Jesus, nosso mestre, é da maior importância aqui. Permite-nos arriscar a nossa “própria morte”. Até agora, a disciplina do mantra nos levou a um aprendizado fortalecedor que nos torna mais fácil abandonar nosso ego. Podemos deixar o eu para trás precisamente porque nos sentimos em união; sabemos que não estamos sozinhos. As palavras de Jesus tornam-se realidade em nossa própria experiência:

"Da mesma forma, nenhum de vocês pode ser meu discípulo se não se separar de suas posses" (Lc. 14,33).

Se desejamos abraçar a eternidade da plenitude do ser (o "Eu Sou" de Deus), devemos primeiro enfrentar a dura realidade da impermanência e do vazio. A tentação que podemos ter durante a meditação é reduzir a intensidade, a atenção, afundar em um grau inferior de consciência e até adormecer. Buda advertiu sobre os perigos de obscurecer a mente com substâncias tóxicas, neste ou em qualquer estágio da jornada. Jesus encorajou todos nós a permanecermos atentos:

“Fique alerta, desperte. Você não sabe quando chegará a hora. Fica acordado porque não sabe quando vai chegar o dono da casa. Você não sabe se ele chegará à tarde ou à meia-noite, quando o galo cantar, ou de madrugada. Se ele vier de repente, não deve encontrá-lo dormindo. E o que vos digo, digo a todos: vigiai” (Mc. 13,33-37).

Na Carta aos Efésios, Paulo diz que esse estado de vigília leva aos "poderes espirituais da sabedoria e da visão" e à gnose ou conhecimento espiritual. Mas mesmo com a fé mais profunda, o doloroso sentimento de separação não desaparece imediatamente, mesmo quando a sabedoria começa a brilhar. A parede do ego pode parecer um obstáculo intransponível, um beco sem saída que nos impede de escapar. No entanto, como nos lembra a Ressurreição, o que se sente e parece ser o fim não é. Ao confrontar nosso egoísmo arraigado e reconhecer sua morte lenta e silenciosa, a meditação nos ajuda a ver nossa ressurreição em nossa própria experiência.


Trecho de “The Labyrinth”, do livro “Jesus the Inner Master”, de Pe. Laurence Freeman, OSB, (New York: Continuum, 2000, pp. 230-231).



Carla Cooper



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

ENQUANTO AS MENTALIDADES NÃO MELHORAREM, NADA MELHORARÁ VERDADEIRAMENTE


Já houve tantas revoluções na História!

Quantas vezes os humanos fizeram a experiência de provocar mudanças!

Mas a situação nunca teve melhorias muito profundas.

Por quê? Porque, apesar dessas mudanças, os humanos não saíram do círculo vicioso das suas cobiças e dos seus instintos mal dominados.

Enquanto as mentalidades não melhorarem, nada melhorará verdadeiramente.

É preciso sair da região dos apetites inferiores; então, sim, as mudanças serão verdadeiras melhorias. Mas com os mesmos materiais, com os mesmos elementos, sejam quais forem as combinações, continuareis a viver as mesmas desordens e as mesmas tribulações.



Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

O FOGO PRIMORDIAL - SERES ESPELHO: QUANDO O CÉU DESCE À TERRA


A Luz Primordial, que nos chega desde os confins do universo, é transmitida à superfície terrestre através dos Espelhos dos Centros Planetários.

Quando é emanado desde a Fonte Primordial, o elemento Luz é puro e imaculado. Ao desdobrar-se e expressar-se nos diferentes planos, assume a cor característica que a Lei em cada plano tem de expressar.

Os diferentes receptores de Luz, que se encontram estabilizados como potentes centrais de Fogo em toda a criação, são chamados Espelhos.

No Cosmos, a rede que interconecta e transmite a Vontade Maior a todas as esferas que o compõem é chamada Sistema de Espelhos. Esta rede de Espelhos custodia o fluir do Propósito Maior, conservando-o imaculado e inalterável. Expressa o mais perfeito equilíbrio e mantém assim unida toda a Vida manifestada no Cosmos: galáxias, sistemas solares, planetas, mundos manifestados e imanifestados. Este sistema de comunicação cósmica guarda os mistérios do Verbo. Em essência, os Espelhos são a Voz do Pai. É através dos Espelhos do Cosmos que os homens podem conhecer a Vontade Divina, as Leis que os reintegrarão ao seio do seu Criador. O Cosmos, como um todo, é o grande Espelho onde o mesmo Cosmos expressa a sua ideia prima, o seu Meta Arquétipo. Em síntese, a Vida é um Espelho e todos, como essências, somos Espelhos refletores da Luz do Criador.

Assim como existe em todo o universo, também existe nos planos internos do planeta um sistema de comunicação, um Sistema de Espelhos, que se encontra polarizado nos centros internos da vida planetária. A sua amplitude cósmica outorga dignidade a toda a vida manifestada na esfera planetária. No ciclo anterior, foi-nos revelado que existiam três Centros Maiores tradutores da Vontade do Logos. Não nos corresponde abordar aqui a função que estes três Centros cumprem para a vida-humanidade como um todo, já que sobre estes, existem instruções estabilizadas pelos seus respectivos prolongamentos, servidores do bem geral. (1)

Nos planos suprafísicos da Terra, encontra-se um Espelho de grande amplitude cósmica que guarda a matriz programática, não só para este planeta, como também para toda a galáxia. Este Espelho de insondável amplitude coordena a Luz Primordial, a Luz Feminina que se expressa em toda a Criação e guarda as chaves que levarão à realização de cada Raça-Raiz disseminada nesta Galáxia Consciencial. Nos tempos de hoje, este Espelho revela-se como o Espelho de Espelhos, aquele que levará a humanidade para a sua sacralização.

LYS, é o refletor da Luz Feminina, o Som do qual tudo emanou.

[...] O Espelho de LYS irradia para a superfície terrestre «o Arquétipo» emanado pela Mente Universal. Como Fogo Síntese, guarda o modelo para cada um dos diferentes corpos que compõem tanto o homem interno como o homem externo. É o Arquétipo que os diferentes corpos deverão expressar nas diferentes raças e as suas respetivas sub-raças.

«A Luz do Oriente brilha no Ocidente» – estas foram as palavras pronunciadas pelo ancião Lama, porta-voz do Aspecto Masculino do planeta, «Shambhala» –. América do Sul é um potente ponto de ancoragem da Luz Feminina, a Luz Primordial. Como um estado de consciência, assinala à humanidade o caminho para a transcendência e estimula, no interior dos homens, o emergir da Vida Espiritual e da Vida Divina. América do Sul, como estado de consciência, guarda as chaves que revelarão o Rosto da Mãe do Mundo. A grande época dourada que é esperada por todos os povos da Terra, época intimamente conectada com a constante e crescente influência da Luz Feminina, já está presente no interior de cada homem e mulher. A sua exteriorização só será possível através da vivência da Lei do Silêncio.

O Silêncio como o Grande Instrutor, é a Grande Corrente Omnisciente que conduz cada partícula à Origem, ao encontro com a Fonte Inesgotável de Vida. Recebei o mensageiro, ele os batizará. Recebei o Lírio de Fogo.

Os Espelhos na América do Sul, em sintonia com o sistema de Espelhos estabilizados nos planos internos da sagrada cordilheira do Himalaia, estão inaugurando o emergir de um «novo homem». O Feminino e o Masculino, aspectos complementares em toda a criação, estão introduzindo a humanidade às novas Leis que se anunciam, conduzindo assim os homens à integração com as Esferas Ardentes. (2)

A função que LYS cumpre como Espelho, é a de custodiar o Arquétipo Primordial, que levará a humanidade, em ciclos futuros, a expressar os diferentes aspectos da Vida Logóica. Como refletor da Luz Primordial, ou Luz Feminina, LYS é o Coração-Graal, de onde ancora o Fogo da Trindade em todo o seu esplendor e verte a sua Luz sobre toda a vida manifestada neste planeta e sobre toda a Galáxia.

Para que a Luz Feminina, Luz Primordial, possa atrair para a superfície terrestre o Fogo da Trindade, e para que este cerimonial se possa estabilizar em cada coração, os Espelhos Maiores (os Espelhos que refletem a Luz Feminina de LYS) contam também com uma rede de Espelhos menores, expressada como função através de seres encarnados que servem como fio de ligação entre os planos internos e os planos externos.

Existem seres Espelho que operam entre Andrômeda, Orión e Sírius; entre Sírius, Orión e o Sol; entre o Sol, LYS e Shambhala. Outros operam entre LYS, Shambhala, Miz Tli Tlan, Erks e Ibez etc.

Um ser Espelho tem a função de inter-relacionar os diferentes planos entre si, traduzir e decodificar os mistérios do Verbo. O seu eixo é refletir a Luz do Único para toda a criação. O seu propósito como ser Espelho é trazer a vibração de um plano mais alto para um plano mais denso.

Um ser Espelho é um intercomunicador entre o Cosmos e a Terra. A sua vida, a sua existência, é a mais pura expressão do cântico do silêncio. Refletor do Fogo de seu Espírito, tecedor de mundos, é um servidor em ação.

Onde haja um ser Espelho ativado, existe comunicação cósmica, uma ligação entre os diferentes Conselhos do Cosmos. Um ser Espelho é um cálice da Vontade Maior, a sua presença revela o Fogo em cada coração. É a função-Espelho a que tem a capacidade de aproximação à vibração de outras linhagens. A sua qualidade vibratória permite introduzir no éter planetário uma vibração transcendente, transubstanciando e elevando tudo. A radiação é seu instrumento de trabalho.

Um ser Espelho ativo na superfície terrestre é um bálsamo de cura e redenção. Morando entre os homens, é sinal de que o Cosmos desceu à Terra.

A vossa função como ser Espelho é refletir a luz dos universos, para a vida planetária.

O silêncio é o vosso instrumento mais apreciado. O silêncio é o cântico que todo o Espelho no Cosmos emite. Portanto, tornai-vos silêncio, comungai com o Fogo dos Espelhos através da Lei do Silêncio. Traduzi sem palavras a Vontade da Fonte Maior.

Dirigi a vossa atenção ao mais profundo de vosso Ser, ali encontrareis a melodia dos Espelhos, encontrareis que não existe distância alguma para aquele que contacta a essência da Vida.

A vossa função, como ser Espelho, é refletir, através da vossa essência, a Luz imaculada que vos chega do Grande Espelho Central, o Coração do Cosmos.

Permiti que a Luz Primordial se expresse através do vosso templo-coração, permiti que seja ela quem construa as bases-cimento que revelarão aos homens novas moradas.

[...] A vossa existência será ígneo testemunho de que o Cosmos caminha entre os homens. Então a humanidade escutará no seu interior o cântico dos Espelhos, revelando o Rosto de LYS em cada coração.


Andrés Rios




Fonte: do livro «O FOGO PRIMORDIAL», inserido na coleção "Luz do Ocidente"
Publicações Maitreya, Porto, Portugal
https://publicacoesmaitreya.pt
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/inc%c3%aandio-fa%c3%adscas-roud-pirotecnia-1905608/





Notas:

(1) Ver: "A Chave de Andrômeda", de Pedro Elias, Ed. Caminhos de Pax

(2) Mundo Ardente: denominação dos planos que transcendem a vida físico-etérica, emocional e mental: os planos espirituais, divinos e cósmicos, mundos de pura Glória, constituídos de Fogo Cósmico.

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

MEDITAÇÃO: IMOBILIDADE ALERTA - CONCENTRAÇÃO DESPERTA


O místico hindu Sri Ramakrishna, que viveu em Bengala no século 19, costumava descrever a mente como uma enorme árvore cheia de macacos pulando de galho em galho em uma confusão incessante de barulho e movimento. Quando se começa a meditar, verifica-se que esta é uma descrição perfeita do que se passa em nossa mente com seu turbilhão constante de pensamentos e imagens. A frase não pretende cobrir essa confusão com mais uma palestra. A tarefa da meditação é trazer essa mente distraída e agitada para a quietude, silêncio e concentração, para trazê-la à sua verdadeira função. Este é o objetivo que nos oferece o seguinte salmo: "Aquietai-vos e sabereis que eu sou Deus" (Sl 46,10).

Para atingir esse objetivo utilizamos um recurso muito simples. São Bento incentivou seus monges, já no século VI, a lerem as Conferências de João Cassiano. Casiano recomendava a todos que quisessem aprender a orar e desejassem orar continuamente, que repetissem uma oração ou frase curta várias vezes. Na Décima Palestra, ele exorta a praticar este método simples de repetir constantemente um versículo como a melhor maneira de remover as distrações e toda a tagarelice de macacos de nossas mentes e, assim, poder descansar em Deus.

A imobilidade alerta não é um estado de consciência familiar para a maioria de nós no Ocidente. Tendemos a estar relaxados ou alertas. Ambos os estados raramente estão presentes ao mesmo tempo na maioria de nós. No entanto, na meditação, experimentamos que podemos nos sentir totalmente relaxados e totalmente conscientes ao mesmo tempo.

Essa quietude não é a quietude do sono, mas sim uma concentração desperta.

Se observarmos o trabalho de um relojoeiro no momento em que vai fazer um movimento preciso com suas finas pinças, veremos como ele permanece quieto e atento ao examinar o interior do relógio com suas lentes. Sua quietude é uma manifestação de intensa concentração, de estar absorto em sua tarefa. Da mesma forma, na meditação, nossa quietude não é um estado de mera passividade, mas um estado de total abertura à maravilha de Deus, em quem repousa nosso ser, e de plena consciência de que somos um com Ele.

“The Way of Stillness”, trecho do livro “Hunger for Depth and Meaning” de Fr. John Main, OSB



Carla Cooper



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

TUDO É VIVO E INTELIGENTE


Para a maioria dos humanos, tudo o que existe no Universo está privado de inteligência e de vida verdadeira, exceto eles. O homem, esse pequeno ser, é o único que vive e que pensa!... Não, é falso, e foi por causa desta ideia errada que, há séculos, a morte se instalou na cultura, nas mentalidades. Por isso, se quiserdes ser verdadeiramente vivos e inteligentes, vivificai tudo à vossa volta: as pedras, as árvores, as montanhas, o céu, o Sol... Pensai que tudo é vivo, que tudo é inteligente e até mais inteligente do que vós. Então, finalmente, progredireis. É esta a psicologia dos Iniciados. Enquanto os humanos imaginarem que são as únicas criaturas pensantes e que todo o resto no Universo não pensa, não compreende, não é sensível, não poderão fazer progresso algum. Pensai que o Sol é um ser inteligente e vivo, e ele instruir-vos-á. É esta a verdade que, um dia, o mundo inteiro será obrigado a reconhecer.



Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

sábado, 3 de dezembro de 2022

QUE O HOMEM SEJA LIVRE DE SI MESMO E DE TODAS AS COISAS


"A mente livre é capaz de fazer todas as coisas." Mas o que é uma mente livre e como você consegue possuí-la? Eckhart responde que tal processo - e ele sabe que é um processo que nesta vida nunca termina - precisa de completo desapego. Implica uma determinada renúncia a si mesmo onde quer que o homem a descubra em seus pensamentos e ações. E a ênfase recai, necessariamente, na atividade interior, no ser antes do fazer. "As pessoas nunca devem pensar tanto no que têm de fazer; teriam que meditar antes sobre o que são." O progresso espiritual não depende de procedimentos externos, como vigilância, jejum etc. Se eles ajudarem, bom momento; se eles atrapalharem, você tem que deixá-los. Não importa o "modo" de avançar - e pode ser diferente para cada um - mas sim, a integridade da vontade que decide o valor do desapego.

Em um de seus sermões, Eckhart resume seus principais temas, dizendo: Quando prego, costumo falar sobre o desapego e o fato de o homem se livrar de si mesmo e de todas as coisas. Em segundo lugar [costumo dizer] que é preciso se informar novamente na simplicidade que é Deus. Em terceiro lugar, recordar-se da grande nobreza que Deus colocou na alma para que o homem, graças a ela, chegue a Deus de maneira milagrosa. Em quarto lugar, [refiro-me] à pureza da natureza divina... o esplendor que existe na natureza divina é algo inefável. Deus é um Verbo, um Verbo não dito.

"Quem renuncia à sua vontade e a si mesmo renunciou a todas as coisas tão eficazmente como se fossem de sua livre propriedade e ele as possuísse com pleno poder."



El Santo Nombre



Fonte: Blog El Santo Nome
https://elsantonombre.org
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

ACASO E INJUSTIÇA CONSTITUEM UM ABSURDO NAS LEIS DIVINAS


Não maldigas a dor. Não conheces suas longínquas raízes; não sabes qual foi a última onda, impulsionada por uma infinita cadeia de ondas, que constituiu o teu presente. Num universo tão complexo, no seio de um organismo de forças regido por uma lei tão sábia, que nunca falhou definitivamente, como podes acreditar que teu destino esteja abandonado ao acaso, e o desequilíbrio momentâneo, que te aflige e te parece injustiça, não seja condição de mais alto e mais perfeito equilíbrio? Deus é tudo: não apenas o bem. Não pode ter rivais nem inimigos: é um bem maior que o mal, que ele compreende e constrange a alcançar seus objetivos. Como podes acreditar, mesmo ignorando as forças que agem em ti, que estejas abandonado ao acaso? Não! Seja que o chames Pai, com a palavra da fé; ou cálculo de forças, com a palavra da ciência; a substância é a mesma: estais vigiado por uma vontade e uma sabedoria superiores; um equilíbrio profundo te dirige. Lembra-te de que, no organismo universal, as palavras “acaso” e “injustiça” constituem um absurdo. Não pode haver erro nem imperfeição, senão como fase de transição, como meio de criação. A lei da vida é alegria e o bem, mesmo que para realizar-se integralmente seja necessário atravessar a dor e o mal. Repito: “Felizes os que sofrem. Os últimos serão os primeiros”.



Pietro Ubaldi




Fonte: do livro "A Grande Síntese"
18ª Edição — 1997 - Revista pela Fraternidade Francisco de Assis
Tradução de Carlos Torres Pastorino e Paulo Vieira da Silva
Instituto Pietro Ubaldi, Campos/RJ
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/estresse-homem-m%c3%a3o-chamas-queimar-543658/

A EXPERIÊNCIA SENSORIAL


Você parece denegrir a parte sensorial da existência humana. Qual é o papel dos sentidos?

Não acho que estamos denegrindo a parte sensorial humana. Na verdade, acredito que a meditação é uma experiência de integração total do corpo e do espírito. Esta é a razão, por exemplo, que enfatizo fortemente a importância de ficar sentado fisicamente quieto. Sua postura física é de grande importância. O que você descobrirá em sua vida diária é que o que flui de sua meditação é que toda a sua consciência sensorial, corporal e vital está integrada ao seu espírito.

Mas se houvesse algum descrédito, por assim dizer, seria exaltar as sensações ou vê-las como o sentido último da vida apenas do ponto de vista sensorial.

A meditação envolve um compromisso mais profundo com nosso ser, incluindo sua percepção sensorial. Então, acho que você descobrirá que, por meio da meditação, poderá ver, ouvir, tocar e cheirar como nunca antes.

Acredito que, como resultado da meditação, você notará a profundidade e o refinamento que estão ocorrendo em suas percepções sensoriais e mentais. Então eu não acho que haja uma difamação do corpo de forma alguma. A menos que você queira dizer isso no exato momento da meditação. Porque no momento da meditação, é claro, a pessoa está totalmente imóvel, tanto no corpo quanto na mente. Mas na sua vida em geral – e a meditação não é vista como algo separado da sua vida em geral, mas totalmente integrada. Gradualmente, você perceberá que sua percepção sensorial está se aprofundando e refinando. Não pense que a quietude é estática. Não pense que resignação é rejeição.



Fr. John Main, OSB




Fonte: do livro "O Coração da Criação", Canterbury Press, 2007
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A FILOSOFIA PERENE


A possibilidade de integração do "eu" com a Realidade última está claramente expressa na "Filosofia Perene", que descreve a essência compartilhada pelas grandes religiões e pelas diferentes filosofias. É importante lembrar que o vínculo comum que essa filosofia enfatiza é baseado em uma experiência espiritual real e prática que ocorre longe do tempo e do espaço em que nossa realidade material usual ocorre, e não em dogmas teológicos ou religiosos.

Assim, Bede Griffiths diz: "Quando a mente humana atinge um certo nível de experiência, esse mesmo entendimento é alcançado, o que constitui a Filosofia Perene". É uma capacidade humana que não é determinada pela cultura.

A "Filosofia Perene" afirma que existe uma Realidade Única que é imanente em toda a criação e que a transcende. A realidade que podemos apreender com os sentidos é incorporada e sustentada por esta Realidade Onipresente. A qualidade essencial desta Realidade Superior é que ela não pode ser alcançada pelos sentidos e pela mente racional: ela não pode ser expressa por meio de pensamentos ou imagens; é incompreensível e inefável. No entanto, há algo, no "ser" essencial, no ser mais profundo do homem, além do ego pessoal, que tem algo em comum com esta Realidade Suprema e, portanto, está verdadeiramente relacionado com ela: é a base de nosso ser individual que compartilhamos com os outros e com toda a criação; é aí que somos todos Um.

Todos nós possuímos essa “essência”, o “eu”. A "Filosofia Perene" tem a firme convicção de que todas as pessoas, não apenas os místicos, podem alcançar a união com o Inconsciente Absoluto, independentemente de como se expresse verbalmente: nirvana, não-mente, iluminação, união com o Divino.

A prática da meditação, como uma disciplina espiritual contemplativa profunda, leva-nos a reconhecer pessoalmente este potencial inato que temos para experimentar a unidade abrangente e para sermos gradualmente transformados pela graça que nos leva a viver mais sintonizados com este nível superior de consciência. A energia do "ser em si" ressoará com uma energia semelhante na Realidade Divina.


Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/psicologia-c%c3%a9rebro-pensar-cabe%c3%a7a-6852458/

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

O VERDADEIRO CONHECIMENTO INICIA COM A DEMOLIÇÃO DAS ILUSÕES


[...] Erich Fromm..., em seu conhecido livro "Avere o Essere?" (Ter ou Ser?), faz uma distinção entre "ter conhecimento" e "conhecer".

Ele diz que o verdadeiro conhecer baseia-se na modalidade do ser, pois não é um acúmulo de ideias nem de teorias, mas uma capacidade da mente de ir além da aparência das coisas, de ir além da lógica comum, de ir além dos esquemas, das etiquetas, dos condicionamentos culturais e sociais e colher a verdadeira essência e o real significado daquilo que queremos conhecer.

Ele escreve: "O verdadeiro conhecimento tem início com a demolição das ilusões, com a ‘desilusão’. Conhecer significa penetrar sob a superfície, com a finalidade de alcançar as raízes e, portanto, as causas; conhecer significa ver a realidade tal como ela é."

Essa "demolição" ou "desilusão", a que se refere Erich Fromm, corresponde à purificação da mente de que fala o esoterismo e à libertação dos condicionamentos que ocorre com o despertar da verdadeira consciência que começa a iluminar o intelecto.

De fato, quando as duas modalidades, a do conhecer e a do ser, se aproximam, o homem passa por uma fase evolutiva em que começa a sentir a necessidade de fazer uma tabula rasa, de negar tudo aquilo em que acreditava antes, todas as convicções e teorias às quais estava apegado e que agora parecem falsas, ilusórias e insatisfatórias. Na realidade, não são as teorias e as convicções que são ilusórias e erradas, mas a nossa maneira de abordá-las é que é limitada e condicionada pelo nosso estado de inconsciência e de identificação.

Essa fase de negação é indispensável porque nos despede todos os "véus" (para usar a expressão de Fromm) e nos leva depois a redescobrir as mesmas verdades com uma modalidade diferente, nova, autêntica, criativa.

Descrevia um mestre zen a um dos seus discípulos o estado de iluminação: "Antes de ser iluminado, as montanhas eram montanhas, os rios eram rios e as árvores eram árvores. Quis saber e vi que as montanhas não eram montanhas, os rios não eram rios e as árvores não eram árvores. Mas, então, fui iluminado e vi de novo que as montanhas eram montanhas, os rios eram rios e as árvores eram árvores."

Nesse conto, como sempre acontece no zen, por trás da aparente lógica paradoxal, é apresentada de forma simbólica a verdade das duas maneiras de conhecer: a puramente racional, que se detém nas aparências; e a da consciência e da intuição, que se revela depois da negação e redescobre as mesmas realidades mas de uma maneira diversa, total, profunda, criativa, que se apresenta como novas a nós que as vemos com olhos inocentes e puros, livres dos véus da ilusão.



Dra. Angela Maria La Sala Batà




Fonte: do livro "Conhecer para Ser"
Ed. Pensamento, São Paulo/SP
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segunda-feira, 24 de outubro de 2022

O CONHECIMENTO DA INDEPENDÊNCIA DO "EU" EM RELAÇÃO AO CORPO


Alguns aspirantes encontram obstáculos à plena realização do «Eu» (ainda que já tenham começado a compreendê-la), porque confundem a realidade do «Eu» com o sentido do corpo físico. Este obstáculo pode ser removido facilmente por meio da meditação e concentração, e a independência do «Eu» manifesta-se ao Aspirante, num momento de lucidez, refletida sobre o próprio pensamento que lhe serve como objeto de meditação.

O exercício que se dá para este fim é o seguinte: Ponde-vos no estado de meditação e pensai em vós mesmo — no «Eu» real — como sendo independente do corpo e usando o corpo como vossas vestes e vosso instrumento.

Pensai no corpo como sendo uma muda de roupa. Reconhecei que podeis deixar o corpo e, contudo, ser sempre o mesmo «Eu». Imaginai que o estais fazendo, colocando-vos acima do vosso corpo e olhando para ele, que está debaixo. Pensai que o corpo é como uma casca de que podeis sair sem mudança da vossa identidade. Pensai que estais governando e controlando o corpo que ocupais e que dele fazeis o melhor uso possível, tornando-o sadio, forte e vigoroso, mas que ele não passa, entretanto, de uma casca ou um invólucro do vosso verdadeiro «Eu». Pensai no corpo, como sendo composto de átomos e células que se transformam incessantemente, mas que são conservados em união com os outros pela força do vosso Ego, e que podeis aperfeiçoá-los por meio da vontade. Realizai o conhecimento que só habitais o corpo e que o usais para vossa conveniência, da mesma forma como usais uma casa.

Continuando a meditar, ignorai o corpo totalmente e fixai o vosso pensamento no «Eu» real que começais a sentir que sois «vós», e achareis que a vossa identidade — o vosso «Eu» — é algo totalmente distinto do corpo.

Podereis agora dizer «meu corpo» com um novo significado. Bani a ideia de que sois um ser físico e reconhecei que sois superior ao corpo. Esta concepção e este reconhecimento, porém, não vos deverão seduzir a negligenciardes o corpo. Deveis considerar o corpo como um templo do espírito, e cuidar dele, para que seja uma boa morada para o «Eu».

Não vos assusteis se, durante esta meditação, vos sobreviver a sensação de estardes, por alguns instantes, fora do corpo e que a ele voltais depois de concluído o exercício. O Ego* é capaz (no caso do iniciado adiantado) de elevar-se acima dos limites do corpo, mas nunca dissolve a sua conexão em tais ocasiões. O Ego estando assim parcialmente fora do corpo, pode ser comparado a quem abre a janela de um quarto e dela observa o que se passa fora, colocando a cabeça no espaço exterior e retirando-a para o interior quando quer.

Assim como este observador não sai do quarto, — embora sua cabeça se ache fora dele, — também o Ego não saiu, no caso acima mencionado, do corpo, apesar de ter-se elevado parcialmente acima dele. Não aconselhamos ao Aspirante cultivar esta sensação; porém, quando ela vem por si mesma durante a meditação, não vos assusteis.

* O termo "Ego", aqui, neste contexto do autor, significa um "Eu espiritual" que transcende o físico. Também não possui exatamente um significado no contexto da psicologia. (Nota deste blog)



Yogue Ramacharaca




Fonte: do livro "Raja Yoga" - Desenvolvimento Mental pela Força do Pensamento
Brasilia Editora - Porto/Portugal
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/dan%c3%a7a-yoga-medita%c3%a7%c3%a3o-mulher-4052847/

O SENTIDO DE IMORTALIDADE E A SERENIDADE


Um meio de conquistar a serenidade nos é dado no período em que nos encontramos desencarnados. Entre uma encarnação e outra, desenvolvemos o sentido de imortalidade, porque só então nos percebemos no eterno presente e nos reconhecemos como seres imortais. Sem estar no efêmero corpo físico, mas sim em outra realidade temporal e espacial, experimentamos uma vida que nos parece mais ampla e plena.

Nesse período compreendemos também que a transição chamada "morte" é apenas o despojamento dos corpos materiais que usamos em nossa passagem pelo mundo físico. Assim, cientes de que não há morte, o medo vai desaparecendo e a serenidade se instalando.

Quanto mais longo for o intervalo entre as encarnações, mais profundamente se consolida essa nossa percepção da imortalidade. Embora a maior parte dessa percepção vá para o nosso inconsciente quando encarnamos de novo, ela nos dá possibilidade de reingressar na vida material serenos.

Ultimamente o intervalo entre as encarnações não tem sido longo o bastante. Muitas almas imaturas, que seriam beneficiadas por períodos mais longos fora do mundo físico, não usufruem esse tipo de repouso e de restauro por serem logo atraídas de volta ao plano terrestre pela grande densidade energética em que hoje se acha o planeta e muitos dos seus seres. Isso agrava a falta de serenidade que costuma reinar neste mundo. Mas há também as almas evoluídas que renunciam a ficar desencarnadas, na situação privilegiada de níveis de existência harmoniosos, para retornar à Terra e prestar auxílio nesta época de tantas necessidades. Essas almas, entretanto, já se tornaram mais serenas pela vivência do altruísmo e são de grande ajuda para as demais.



Trigueirinho (José Trigueirinho Netto)




Fonte: "A busca da Serenidade"
Com base em palestra de Trigueirinho realizada em junho de 1986.
Associação Irdin Editora - Carmo da Cachoeira/MG
www.irdin.org.br | info@irdin.org.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A RELATIVIDADE DA FELICIDADE E INFELICIDADE


É preciso compreender, de uma vez por todas, que as condições nunca são determinantes. Quando a coletividade é tocada por certos acontecimentos, por exemplo, as mesmas provações não afetam os humanos da mesma maneira. Por quê? Porque eles não as enfrentam com o mesmo estado de consciência. Enquanto uns, que não têm uma compreensão correta, pouco a pouco se tornam azedos, vingativos, ou se deixam esmagar completamente e envenenam a vida das pessoas à sua volta, outros, pelo contrário, reforçam-se, enriquecem-se e, graças às suas experiências, depois podem ajudar os que os cercam com os seus conselhos, a sua atitude, a sua irradiação, as forças que deles emanam. Isto prova bem que as condições não são tudo. Claro que não se pode ignorá-las ou negligenciá-las completamente, mas, para progredirmos, precisamos de saber que muitas coisas na vida só dependem de nós, da nossa maneira de as considerar, e que a felicidade e a infelicidade são estados completamente relativos.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal