[...] Erich Fromm..., em seu conhecido livro "Avere o Essere?" (Ter ou Ser?), faz uma distinção entre "ter conhecimento" e "conhecer".
Ele diz que o verdadeiro conhecer baseia-se na modalidade do ser, pois não é um acúmulo de ideias nem de teorias, mas uma capacidade da mente de ir além da aparência das coisas, de ir além da lógica comum, de ir além dos esquemas, das etiquetas, dos condicionamentos culturais e sociais e colher a verdadeira essência e o real significado daquilo que queremos conhecer.
Ele escreve: "O verdadeiro conhecimento tem início com a demolição das ilusões, com a ‘desilusão’. Conhecer significa penetrar sob a superfície, com a finalidade de alcançar as raízes e, portanto, as causas; conhecer significa ver a realidade tal como ela é."
Essa "demolição" ou "desilusão", a que se refere Erich Fromm, corresponde à purificação da mente de que fala o esoterismo e à libertação dos condicionamentos que ocorre com o despertar da verdadeira consciência que começa a iluminar o intelecto.
De fato, quando as duas modalidades, a do conhecer e a do ser, se aproximam, o homem passa por uma fase evolutiva em que começa a sentir a necessidade de fazer uma tabula rasa, de negar tudo aquilo em que acreditava antes, todas as convicções e teorias às quais estava apegado e que agora parecem falsas, ilusórias e insatisfatórias. Na realidade, não são as teorias e as convicções que são ilusórias e erradas, mas a nossa maneira de abordá-las é que é limitada e condicionada pelo nosso estado de inconsciência e de identificação.
Essa fase de negação é indispensável porque nos despede todos os "véus" (para usar a expressão de Fromm) e nos leva depois a redescobrir as mesmas verdades com uma modalidade diferente, nova, autêntica, criativa.
Descrevia um mestre zen a um dos seus discípulos o estado de iluminação: "Antes de ser iluminado, as montanhas eram montanhas, os rios eram rios e as árvores eram árvores. Quis saber e vi que as montanhas não eram montanhas, os rios não eram rios e as árvores não eram árvores. Mas, então, fui iluminado e vi de novo que as montanhas eram montanhas, os rios eram rios e as árvores eram árvores."
Nesse conto, como sempre acontece no zen, por trás da aparente lógica paradoxal, é apresentada de forma simbólica a verdade das duas maneiras de conhecer: a puramente racional, que se detém nas aparências; e a da consciência e da intuição, que se revela depois da negação e redescobre as mesmas realidades mas de uma maneira diversa, total, profunda, criativa, que se apresenta como novas a nós que as vemos com olhos inocentes e puros, livres dos véus da ilusão.
Dra. Angela Maria La Sala Batà
Fonte: do livro "Conhecer para Ser"
Ed. Pensamento, São Paulo/SP
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/fantasia-ilus%c3%a3o-mentira-3054850/
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