quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A NOÇÃO DE DEUS E DO ESPÍRITO


Desde os tempos mais remotos o homem tem noção da Unidade de Deus e da existência da Imortalidade da Alma, ou melhor, do Espírito.

Quando adorou o sol ou a lua, o trovão ou o raio, o tronco ou o penhasco, a árvore ou a serpente, a ave ou a flor, adorou o Deus Único, objetivado na materialização destes símbolos. 

Quando, porém colocou armas e utensílios, manjares e bebidas junto aos túmulos dos seus mortos, demonstrou a percepção de que o Sopro Divino, o Espírito que animara o corpo inerte, ali depositado, continuava a sua peregrinação no Mundo Invisível.

As Revelações, os Mistérios, os Cultos, os Conhecimentos mais antigos confirmam estas verdades, de modo insofismável.

O pressentimento de que a existência do Universo e dos fenômenos que o revelam, são inexplicáveis sem uma causa primaria, levou-o à concepção de Deus, o Espírito Supremo, a Realidade Infinita, e a intuição de que o Espírito era independente da matéria, permitiu-lhe a certeza de que não se poderia extinguir com o corpo físico e daí a sua Imortalidade. 

Os selvagens de todos os continentes, herdeiros direto do homem primitivo, manifestam idênticas convicções, reconhecidas por uma infinidade de etnólogos, entre os quais Eduardo Clodd, materialista intransigente e, só por este motivo uma testemunha de muito valor. 

Os malaios, diz o conhecido etnólogo inglês, e bem assim, os groelandeses afirmam que o Espírito deixa o corpo durante o sono e durante a morte, um sono ainda maior. Os melanésios partilham da mesma crença e acrescentam que, quando um homem perde os sentidos, o seu Espírito parte para o outro mundo, onde “vive quando morre “.

Os ameríndios do Brasil tinham as mesmas ideias. Os xavantes comiam os filhos mortos, na esperança de unirem o seu Espírito ao Espírito da criança. 

Muitas tribos do baixo Tocantins, narra Couto de Magalhães, enterram os seus mortos dentro da própria vivenda, afim de não se apartarem os Espíritos desses mortos. Muitos povos procediam o embalsamamento, a mumificação. 

Os tupis-guaranis acreditavam em Espíritos sofredores, Espíritos perseguidores, Espíritos protetores, que os pajés evocavam antes dos grandes acontecimentos que pudessem influir nos destinos da tribo.

Mas, não acreditavam, somente na Unidade de Deus, - Tupã - e na Imortalidade do Espírito – Angá - estavam certos da possibilidade de comunicarem-se com ele, mesmo depois de partir para essa região das montanhas azuis. 

A cerimônia ritualística, que denominavam guayú, referida pelos próprios jesuítas, não permite a menor dúvida sobre o assunto. 

As tradições toltecas, astecas, maias, incaicas, indianas, egípcias, gregas e romanas, os monumentos, ídolos, livros sagrados, todos os elementos, em suma, que podem ressuscitar as crenças do homem, desde a aurora da Terra, falam da Unidade de Deus da Existência e da Imortalidade do Espírito e suas comunicações. 

Em Anahuac, no Yucatan, em Cusco, no Himalaia, Tebas, em Elêusis, em Delfos ou em Roma as sombras falam pela boca dos sacerdotes, em êxtase, ou das pitonisas, em transe. 

Pitágoras colhe dos lábios da sua discípula Theocléa, sonâmbula, os ensinamentos que os gênios invisíveis lhe comunicam. Saul dialoga com o Espirito de Samuel. César recebe a visita de um demônio que lhe profetisa o assassinato, em pleno Senado, Apolônio de Tiana anuncia a morte de Domiciano, que lhe fora predita por uma entidade teúrgica. As sibilas das criptas romanas não só falam aos Espíritos desencarnados, como fazem aparecer os seus fantasmas. Porfiro e Proclo referem que as almas dos defuntos tornam-se visíveis nos Mistérios Órficos. Jesus invoca o Espírito Supremo e escreve na areia as suas respostas. 

Por meio de cantos, pancadas e danças rítmicas, conforme Hans Staden, “os pajés transformavam as mulheres em profetisas, que vaticinavam o futuro e o destino das respectivas tribos.“

Qual foi o primeiro nome dessa Arte ou dessa Ciência? Qual foi o primeiro nome dessa Religião-Sabedoria que permitiu ao pré-humano o intercâmbio com os planos invisíveis do Universo? 

Revelação? Mistério? Taumaturgia? Esoterismo? Teurgia? Ocultismo? Magia? Hermetismo? Infelizmente, não nos foram transmitidos os grunhidos, os gritos-sinais, as onomatopéias, as expressões primárias e rudimentares da linguagem humana. 

Cada povo, cada geração, cada época, cada civilização, através o escoar dos séculos, deu-lhe o nome que o progresso, a sua mentalidade, a sua evolução o permitiu. 

Mas, não façamos questão de nome. O nome é secundário. O nome é absolutamente supérfluo, porque essa Arte, essa Ciência, essa Religião-Sabedoria, apesar das suas várias denominações, dos seus vários aspectos, dos seus vários processos, foi sempre idêntica, foi sempre semelhante, visou pelo menos, à mesma finalidade, isto é, a cultura física e mental da espécie humana e o intercâmbio voluntário e consciente com os seres dos Mundos Hiperfísicos.

Aproximemo-nos o mais possível da Verdade, mas, sejamos tolerantes, indulgentes e fraternos, só há um Deus. O Espírito existe e é imortal. Sobre estes dois pontos, pelo menos, estamos de pleno acordo. 

Pois bem, sem sairmos da órbita desta intuição divina, desta percepção espiritual, cumpramos o nosso dever, sigamos as pegadas dos que transcendem os conhecimentos comuns da humanidade e desta maneira, conseguem, voluntariamente e conscientemente, escalar as muralhas que nos separam desses Mundos Hiperfísicos. 


D M R - Gnose novembro 1937



Fonte: Fraternitas Rosicruciana Antiqua
http://www.famafra.com
Fonte da Gravura:Acervo de autoria pessoal

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