terça-feira, 30 de abril de 2013

DESENVOLVER A SENSIBILIDADE AO MUNDO DIVINO


Diz‑se muitas vezes que as pessoas simples, primitivas, pouco instruídas, são, por natureza, mais facilmente felizes do que as pessoas cultas. E é verdade que, ao desenvolver‑se a inteligência e o gosto, se fica mais sensível e, portanto, mais vulnerável aos acontecimentos, às variações das condições materiais ou psicológicas em que se vive. Então, que conclusão há a tirar disto? Que, para se ser feliz, se deve ficar num estado primitivo, selvagem?... Nesse caso, por que não ir ainda mais longe e descer até ao reino animal? Os animais são felizes... E pode ser que as plantas sejam ainda mais felizes pelo facto de não sofrerem... E as pedras? Elas não sentem nada; portanto, é ainda melhor... É uma lógica! 

O que gera a principal diferença entre os diversos reinos da Natureza – as pedras, as plantas, os animais, os homens – é a sensibilidade, porque a evolução é proporcional à sensibilidade. As plantas são mais sensíveis do que as pedras, os animais mais sensíveis do que as plantas e os homens mais sensíveis do que os animais. Mas a cadeia dos seres não fica por aqui: para além dos homens, há os anjos, os arcanjos, as divindades... Sim, toda uma gradação de criaturas cada vez mais sensíveis... até ao próprio Deus. O Senhor é omnisciente, Ele sente tudo, vê tudo, sabe tudo, precisamente porque só Ele é verdadeiramente sensível. São estas as verdadeiras dimensões da sensibilidade. O único ser verdadeiramente sensível é o Senhor. Quanto ao homem, é verdade que, tornando‑se mais sensível, ele fica mais vulnerável e sofre mais. Mas é preferível ele desenvolver a sensibilidade, porque é ela que o faz evoluir.

Para ver claro neste assunto, é preciso voltar à questão das duas naturezas em nós: a natureza inferior e a natureza superior. Enquanto o homem não tiver empreendido um trabalho sobre si mesmo, para dominar as tendências egocêntricas da sua natureza inferior, é evidente que o desenvolvimento da sensibilidade é acompanhado por dificuldades e sofrimentos de toda a espécie. E a instrução que é dada nas escolas e nas universidades só agrava esta tendência: pondo a tônica na aquisição de conhecimentos e não na formação do caráter, continua‑se a fornecer aos jovens pretextos para eles se tornarem cada vez mais egoístas, difíceis e exigentes. Não se faz nada para ensinar os estudantes a usarem os conhecimentos que recebem com um propósito mais nobre, mais generoso. Pelo contrário: em todos os domínios, cada um aprende a servir‑se dos seus conhecimentos para a sua elevação social, para o seu prestígio, para o seu bem‑estar material. E, quando se tornam adultos responsáveis na sociedade, todos pensam só em retirar o melhor para si próprios, o que gera, por toda a parte, descontentamento, agressividade, querelas, porque cada um sente‑se atacado e lesado pelo comportamento egocêntrico dos outros. 

Esta sensibilidade doentia que é alimentada pela natureza inferior, a personalidade, torna a vida impossível e foi por isso que se concluiu que, para se ser feliz, mais vale não se ser sensível. 

Na realidade, é preciso estabelecer uma diferença entre a verdadeira sensibilidade e a sensibilidade doentia à qual deveríamos chamar, mais propriamente, suscetibilidade ou pieguice. A verdadeira sensibilidade é uma faculdade que nos torna capazes de nos elevarmos muito alto, muito longe, e de ter acesso a um mundo cada vez mais subtil para captar as suas realidades. A suscetibilidade, essa, é uma manifestação da natureza inferior, que se toma pelo centro do mundo, que acha sempre que não lhe manifestam a suficiente consideração, que se sente frustrada, ferida e se torna agressiva. Quando se percebe esta distinção, compreende‑se que há todo um trabalho a fazer sobre a natureza inferior para a dominar, para a subjugar: é a única maneira de permitir que a verdadeira sensibilidade se desenvolva e se enriqueça. 

A sensibilidade não é somente a faculdade que nos faz emocionarmo‑nos e maravilharmo‑nos perante os seres que amamos, perante a beleza da natureza ou das obras de arte. Ela abre‑nos também as portas da vastidão, da luz, dá‑nos a compreensão da ordem divina das coisas, permite‑nos vibrar em uníssono com as regiões, as entidades e as correntes do Céu. 

É esta sensibilidade que todos devem cultivar, senão a humanidade irá regredir. Veem‑se tantas pessoas que dão a impressão de estarem a regressar ao estádio do animal, do vegetal ou mesmo da pedra! Sim, elas não fazem qualquer esforço para educar a sua sensibilidade, deixam‑se levar por ela, e quando alguém se deixa levar assim anda necessariamente para trás. Pelo contrário, graças ao trabalho para desenvolvermos a verdadeira sensibilidade, a nossa matéria torna‑se mais fina, mais leve, mais pura, vibra de outro modo e, ao mesmo tempo que nos torna mais capazes de perceber o mundo divino, fecha‑nos à tolice, à maldade, aos ultrajes; já nem sequer lhes damos atenção. Antes de se ter desenvolvido essa sensibilidade elevada, reage‑se à menor agressão, ao passo que depois já não se sofre. É a verdadeira sensibilidade, a da alma e do espírito, que nos protege da suscetibilidade, essa sensibilidade ridícula que é própria da nossa natureza inferior. Então, há duas vantagens: abrimo‑nos à luz, à beleza, à felicidade do mundo divino, e escapamos às trevas, às baixezas, aos sofrimentos da terra. Eis, pois, um assunto que merece reflexão. 

Mas, para desenvolverdes essa sensibilidade ao mundo divino, é também muito importante que, cada vez mais, tomeis consciência do valor de certos momentos que viveis, esses momentos em que, no silêncio, no recolhimento, recebeis uma luz, uma graça do Céu. Muitos dos vossos sofrimentos vêm justamente do facto de não terdes consciência disso. Vós recebeis bênçãos, mas isso não dura, depressa acabais por perdê‑las, muito simplesmente porque ignorais o valor daquilo que recebestes. Há sempre qualquer outra preocupação que vos parece mais importante: alguma coisa para resolver, alguma discussão a propósito de questões insignificantes. Vós imaginais que o Céu deve estar sempre a derramar as suas bênçãos e que vós, quando vos apetecer, quando não tiverdes nada mais interessante para fazer, aceitareis parar alguns minutos para as receber. Não, não é assim que as coisas devem passar‑se. O Céu não está à disposição das pessoas fúteis e descuidadas. Num determinado momento, em certas condições, ele derrama as suas bênçãos, e se vós não estiverdes suficientemente conscientes para as receber ou não souberdes conservá‑las, paciência!, elas deixar‑vos‑ão. 

Por isso, estais atentos! Nos dias em que sentirdes que recebeis uma revelação, uma graça do Céu, procurai conservá‑la preciosamente. Eu dei‑vos mesmo um método. Experimentai lembrar‑vos dos momentos mais luminosos da vossa existência, estudai por que é que eles aconteceram e como, trazei‑os muitas vezes à vossa memória, exatamente como repetis muitas vezes uma música de que gostais, e revivereis novamente as mesmas sensações de pureza, de liberdade, de luz. 

Infelizmente, a maior parte das pessoas fazem mais o contrário, lembram‑se precisamente daquilo que as fez sofrer, transportam isso consigo, olham para isso, ruminam isso. Esta atitude é muito perigosa; não se deve voltar àquilo que foi mau. Há que retirar daí uma conclusão, de uma vez por todas, e não pensar mais nisso. Faz‑nos mal relembrar continuamente estados ou acontecimentos negativos. 

Então, de hoje em diante, quando Deus vos der as suas bênçãos, conservai‑as preciosamente, porque a felicidade está numa atenção constante às coisas belas, numa sensibilidade a tudo o que é divino. Quando sentirdes que o espírito, a luz, veio visitar‑vos, não deixeis apagar essas impressões, pensando logo noutra coisa; procurai deter‑vos nelas durante muito tempo, para que penetrem profundamente em vós e produzam resultados. Assim, elas deixarão registos que perdurarão para sempre. É um hábito que é preciso adquirir: em vez de insistirdes sempre nos estados negativos – as decepções, as animosidades –, alimentando‑os, reforçando‑os, deixai‑os de lado, desembaraçai‑vos deles e concentrai‑vos em tudo aquilo que aconteceu de bom, de puro, de luminoso. 


Omraam Mikhaël Aïvanhov




Fonte: do livro «SEMENTES DE FELICIDADE», cap. 10
www.publicacoesmaitreya.pt 
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

Nenhum comentário:

Postar um comentário