Você nunca fica com nenhum sentimento, puro e simples, mas sempre o rodeia com a parafernália das palavras. A palavra o distorce. O pensamento, rodopiando em torno dele, joga-o na sombra, domina-o com imensos medos e anseios. Você nunca fica com um sentimento e nada mais, com ódio, ou com esse estranho sentimento da beleza. Quando o sentimento de ódio surge, você diz como ele é ruim, há a compulsão, o esforço para superá-lo, a confusão do pensamento a respeito dele.Tente ficar com o sentimento de ódio, com o sentimento de inveja, ciúme, com o veneno da ambição; pois afinal, é isso que você tem na vida cotidiana, embora você possa querer viver com amor, ou com a palavra amor. Desde que você tem o sentimento de ódio, de querer ferir alguém com uma atitude ou com uma palavra veemente, veja se você pode ficar com esse sentimento, Pode? Já tentou? Tente ficar com um sentimento e veja o que acontece. Você achará tremendamente difícil. Sua mente não deixará o sentimento sozinho, ela chega correndo com suas lembranças, suas associações, seu fazer e não fazer, seu eterno tagarelar. Pegue um pedaço de concha. Você pode olhar para ele, se maravilhar com sua delicada beleza, sem dizer como ele é belo, ou qual animal o fez? Você pode olhar sem o movimento da mente? Pode você viver com o sentimento por trás da palavra, sem o sentimento que a palavra construiu? Se puder, você descobrirá uma coisa extraordinária, um movimento fora da medida do tempo, uma primavera que não conhece verão.
J. Krishnamurti
Fonte: The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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